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José Maria Mendes ~ Tew Sees O fim de uma era dourada O contributo de um Arcebispo polémico v CHIADO PREFACIO IL Em nome de Deus Teot6nio R. de Souza Professor Catedritico da Universidade Luséfona E com grande prazer e até orgulho que escrevo estas piginas em jeito de um Preficio para a publicagao da tese doutoral do meu amigo excaluno Doutor José Maria Mendes. Acompanhei as suas caminha- das acedémicas desde hé uma década, quando era aluno de licenciatura no Departamento de Histéria, que eu dirigia na Universidade Lus6fona, de Lisboa. Acompanhei também como co-orientador a sua investigagao como mestrando e doutorando na Faculdade de Letras, na Universidade de Lisboa. Deixo aqui um desafio ao Doutor José Maria Mendes para caminhar mais além. Para isso deixo nestas piiginas umas sugestdes para um pés-doutoramento, em que poderd expandir uma ideia que ficou mui- to resumida no capitulo 3 da sua tese de doutoramento. 0 confito do arcebispo com os religiosos, e em particular com 0 Jesuitas, deu ao clero natural uma excelente oportunidade para con- seguirem os seus fins. O Pe. Francisco Rego de Telaulim (Goa) este- ve envolvido na questio como escrivdo que acompanhou o capitular da Sé para tomar conta das igrejas da Companhia de Jesus em Salcete. O pponto-chave desta minha proposta de investigagao que o clero natural procurou fugir a vigilincia do Estado sobre os fundos das comunidades das aldeias e suas fabricas, que 0 estado queria subtrarir para a defesa do estado para fazer face as ameagas dos Maratas, ¢ apropriou-se destes ‘fundos em nome de Deus. arece muito natural nesse contexto que o clero local © 0s seus ‘paroquianos preferiam que 0 seu dinheiro ficasse com eles. Deu-lbes também oportunidade para meterem parte destes fundos no bolso «m nome de Deus. Nao seria uma situagdo muito diferente daquela que cb- servamos nos nossos dias com os truques financeiros, ¢ a recente crise financeira mundial esteve ligada com os empréstimos subprime relacio- nados com projetos de construgao civil [Em resposta a ordem régia ao governo do Estado da india pera rever a situagio e respeitar a ordem anterior de 1707, citada pelo ar- cebispo, que defendia no ser necesséria uma licenga do Estado para despesas do culto religioso, o vice-rei marqués de Alora acusa 0 ar- cebispo na sua longs carta de 18 de Janeiro de 1750 de ele sair muito ingénuo, e ignorar toda a correspondéncia anterior. Diz também que 0s naturais, incluindo 0 clero e parocos, retiram muito dinheiro com o pretexto de utilizé-lo para o culto, mas na verdade utilizam-no para ‘gastos pessoais (“alguns parochos mancomunados com os gancazes da sua facgao valem-se do pretext do culto divino para @ sombra dele Cconverterem as mesmas fintas para os seus usos particulares”). O vi- ce-tei defende as regras existentes sobre a necessidade de licenga do Estado em cada caso de despesas. Avisa 0 rei que a intengo do arce~ bispo é de alargar a sua jurisdigao, limitando a autoridade do rei como Griio Mestre do Pad-oado Real ‘© governador José Ferreira Pestana (184-51, 1864-70) ) auto- rizou 0 historiador-administrador gots, Felippe Nery Xavier, em 1847 1 consultar qualquer documentago nfo-confidencial que ele precisasse para estudar a historia das comunidades das aldeias. ‘Devemos estar gratas aos esforeos deste estudioso que nos lexou varias obras muito bem documentadas sobre 0 assunto. Obviamente, como funcionério do Estado, FN. Xavier ndo se sentia com coragem para tirar conclusdes que parecessem criticas do Estado, mas a docu- ‘mentago que publisow permite-nos hoje avaliar 0 que se passava na ‘administragdo em Goa. FIN. Xavier merece ser considerado o precursor da historiografia modema de Goa rural, antecipando a contribuigdo de JH. da Cunha Rivaca, cujo cargo como Secretério Geral do Estado da {ndia dava-lhe acesso privilegiado e poder administrativo para deixar a sua marca na historiagrafia politica e cultural de Goa. No seu Bosquejo Histérico das Communidades (Nova Goa, Im- prensa Nacional, 1852) , F. N. Xavier conseguit quantificar os dados que nos permitem apreciar e dar valor aos seus esforgos como his- toriador de Goa rural. A segunda parte do Bosequejo inclui quadros organizados pelas aldeias, com informacdes acerca das igrejas, in- cluindo os custos e quando foram construfdas, reparadas e alargadas. £ importante lembrar que o arcebispo Fr. Aat6nio Brandio ten- tou excluir os Jesuitas da jurisdigfo das igrejas de Saleete na segunda metade do século XVII (1676), mas os padres da Companhia apela- ram ao rei para intervir em seu favor como Grao-Mestre da Ordem de Cristo, com privilégios que the eram dados pelos Papas de cuidar das igrejas na metrépole e no ultramar sob 0 seu dominio. Os reis aproveitaram da situago de conflito entre o arcebispo © a Companhia de Jesus, ¢ a intervengdo culmincu numa supervisdo apertada das confrarias e fabricas no decorrer do século XVII. A cri- se repetiu-se em 1720 e anos seguintes, quando o arcebispo Fr. Inéeio de S. Teresa deu-se mal com os Jesuitas em Salcete. O arcebispo tam- bbém ndo se dava bem com as autoridades do Estado, O regime pom- balino deu cabo dos Jesuitas, mas o arcebispo nio beneficiou muito ‘com isso. E ainda ficou com os seus poderes limitados. Esta situago 86 piorou apés 1834, e mais ainda com a politica republicana. Sé em 1940, com 0 Acordo Missiondrio de Salazar com 0 Vaticano, a Igreja recuperou o seu poder de administra as confrarias e os seus fundos. Em 1738 os Maratas montaram uma ofensiva military de gran- de escala contra Goa, ¢ muitas igrejas foram assaltadas e queimadas nesta altura. Soube-se mais tarde que o ataque ere uma estratégia di- versionéria do chefé maratd Chimaji Appa, que acabaria por conquis- tar a provincia do Norte. As autoridades portuguesas estavam numa corrida para arranjar dinheiros para responder campanha inimiga. Exigiram que as comunidades das aldeias contribuissem somas defi- idas e em duas prestacdes. Foi ainda exigido das confrarias que pe- nhorassem as pratas e jdias para serem amoedadasna Casa da Moeda. Curiosamente, o Conselho do Estado decidin que todos os cria- dos / escravos deveriam ser recrutados para servigo militar, e cada ‘uma das cinco maiores Ordens Religiosas deveriam fornecer com- panhias de 50 religiosos cada, para assistir nas trincheiras e fortfi- ‘cages indicadas na acta do mesmo Conselho. As companhias teriam que estar operacionais em turnos de dia e de noite. E os naturais se- a iam vigiados para controlar a sua tendéneia natural de fugir as obriga- gGes de defesa. ‘Multiplicavam-setais situagdes de crises enovas exigéncia iscais dirigidas as comunidades das aldeias, que se tinham tomado verdadeiras aces leiteras do Estado. FN. Xavier apresenta quadros com prestagOes feitas por cada aldeia das Vehas Conquistas durante os anos 1780-1839. ‘As prestagdes eram designadas eufemisticamente «donativos, sugerin- do assim que eram prestagdes voluntarias. ‘As trés provincias de Salcete, Bardeze Ihas pagavam em proporeao de 3:2:1 1 posstvel ter ideia de quanto cada aldeia gastava para as despesas de culto, ¢ outras despesas, incluindo as contribuigdes exigidas para a onstrugdo da nova capital em Mormugio em 1776, um plano que foi Shandonado apés despesas avultadas. E essencial notar que havia uma cexcepsdo na legislagdo eclesidstica, que o Estado tentou coibir, ¢ os na- Tale Souberam aproveitar, independentemente das suas rivalidades das castas. ‘Esta faceta nfo tem sido analisada até agora por qualquer investi- gador deste perfodo da historia ‘colonial de Goa. Isso poderé explicar 0 aparecimento de novos ‘modelos de arquitectura ¢ construges de tama- hos mais imponentes do que aqueles que prevaleciam nas zonas rurais durante os primeiros séculos da ocupagao portuguesa. Reflectiam prova- \Velmente 0 novo espirito de autonomia transmitido pela legislagio pom patina apés a extingao da Companhia de Jesus, ¢ mais tarde, de todas as ‘outras Ordens Religiosas. ‘Os dinheiros eram obviamente aproveitados pelos naturais para criar empregos para os artesfos locas, mas também poderiam ter sido dlesviados para aproveitamento prdprio pelos poderosos familiares dos iganvzares da aldias,srrepiando-os desta forma ao Estado que 08 re- ‘queria para a defesa do Estado contra as pressoes militares dos Maratas, ‘Eserevendo em Ler Historia (n. 58 - 2010, pp. 47-60) Paulo Varela Gomes, o historiador portugués, cita dois casos das igrejas de ‘Telaulim (http:/wwv-hpip.org/Default/p/Homepage/Obra?a~644]€ Divar [http://www-hpip.or t/p/Homepage/Obra’a=1493], na provincia de Tiswadi, em Goa, ambas com ligaglo ao Pe, Antonio Frias, ¢ estende os argumentos ao territério inteiro de Goa e outras regides do Padroado na india. Dizenos nesse texto que 0s padres goeses assumiram response bilidade pelas pardquias e nfo se sentiam obrigados a negociar com os ‘zovernantes acerca das regras para planeamento ¢ construgio das igrejas. CConsidero ser uma explicagdo boa mas insuficiente, para um perfodo em. ue os padres goeses eram acusados de sedicio e deportados para a me~ {répole em 1787, no incidente estudado a sue maneira por JH. da Cunha. Rivara como “Conjuragio dos Pintos. Paulo Varela Gomes contradiz-se ao efirmar que os historiadores da arte nao enfatizaram suficientemente a especificidade da arquitectura, goesa, nem apontaram para a importincia indispensével de consultar os historiadores da sociedade e da cultura para entender um problema rela~ cionado com a cultura material dos catélicos goeses. Tinha toda a razo no que dizia, mas falhou em seguir 0 seu priprio consetho, ¢ limitou-se aos seus conhecimentos da histéria da arte (p. 53). Apontava bem a0 conflito entre 0 Padroado e a Propaganda como fonte provavel da ex- plicagao da arquitetura goesa (p.54). Mas nfo esclarece como tudo isso estava ligado ao papel do clero natural nas pardquias de Tisvadi. Nao basta referir ao intresse do arcebispo Fr. Aleixo de Menezes, porque as grandes mudangas na arquitectura s6 se manifestaram quase século € meio mais tarde. Um artigo meu “Divine Cult or Divire Solution” (=Culto divino ou solugdo divina) no didtio Herald de Goa, 3 de Julho 2010 — http:// bity/29huVDh , € um outro anterior de 19 de Junho, “Of Portuguese Colonial Hangovers” (As ressacas coloniais portuguesas) ~ http:/bit. |y/292kwsf provocaram uma resposta de Paulo Varela Gomes no mesmo didrio, em 7 de Julho. Intitulava o’seu texto, na p. 9 “Hangovers and di- ‘vine solutions” (ressacas ¢ solugdes divinas}. Teve a minha resposta no mesmo dirio, em 17 do mesmo més (Cf. “Colonial Church Architecture of Goa” ~ hitp:/bitly/29huyZx ). Ele manifestava a sua irvtagao por eu ter referido a alguns historiadores portugueses da arte ( “some Portu- ‘2uese art historians”), o que ele achava ser referéncias veladas para si, © vvia-as como “acusagies”. ‘Achei catranho que ele insistisse na personalizagSo de critica, en {quanto 0 meu protocolo académico sempre se interessou pelos méritos ‘ou deméritos de um assunto em debate, evitando “personalizar” uma dis- cass, procurando assim afastar motivos para argumentos ad hominem. ‘Vejo como narcissismo académico ou forma de procurar atengt0, quando alguém prefere o contriro. Acredito que qualquer académico ou investigador tem direito de apresentar 05 resultados da sua investigagao e estudo, mas depende sem- B pre dos leitores informados apreci-los, aceti-los ou rejeité-los, em par- te ou totalmente. Paulo Varela Gomes acabava a sua resposta recusando ter qualquer debate comigo sobre o assunto,Felizmente, wn par de anos antes de sucumbir a sua doenga, admitiu numa mersagem pessoal que teu poderia ter razio pelos conhecimentos que eu tina da tera e do seu passado. ‘Apreciel a preferéucia de Paulo Varela Gomes pela designacto de arte gocsa, em vez. da tradicional arte Indo-Portuguesa, na sua obra recente Goan Churches (Delhi: Yoda Press, 2009). Todavia, nfo trazia novidades, porque jé ha mais de trés decadas, 0 historiador gots José Pereira apresentou em Lisboa por ocasiso do 2° seminério internacional de historia indo-portuguesa (1982) uma comunicapio inttulada “Bar- toco Europeu, Barroco Indiano”, identifiando as raizes da arquitectura ‘goesa, distinguindo-a da arquitectura indo-portuguesa. "Resumindo e concluindo, entretenho a esperanga de que um co- nhecedor de forcas ¢ fraquezas do arcebispo Fr. Inicio de Santa Teresa hnos possa ajudar a aprofundar a sua influéncia numa devolugdo volunté- fia ou involuntéria de poder ao clero local no ambiente politico, militar ‘cultural existente, ea sua contribuigo ao enriquecimento material dos goeses em nome de Deus. A arquitectura monumental da capital colonial sobrevive assim em Goa rural. Lisboa, 30 de Junho de 2016

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