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Trajetórias juvenis: desigualdades

sociais frente aos dilemas de uma geração1

Regina Novaes2

1. Juventude: definições, mitos e projeções.

Infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice: cada uma destas palavras designa
um período diferente da vida. São palavras que nasceram no campo das ciências –
sobretudo da biologia, medicina e psicologia – que na atualidade habitam o vocabulário da
vida cotidiana. Hoje a distinção entre cada uma destas fases passou a ser vista como
natural, como se houvesse uma cronologia geral, oficial, definidora da “natureza humana”.
Entendida como fase natural da vida, a “juventude” é tratada como um segmento
populacional bem definido, suposto como universal. No entanto, os limites etários e as
características de cada uma das “idades da vida” são produtos históricos, resultados de
dinâmicas sociais mutantes e de constantes (re) invenções culturais. Em cada tempo e lugar,
diferentes grupos e sociedades definem o que é “ser jovem” e o que esperar de suas
juventudes.
Na concepção das sociedades clássicas greco-romanas, por exemplo, a juventude se referia
a uma idade entre os 22 e os 40 anos. Juvenis vem de aeoum, cujo significado etimológico
é “aquele que está em plena força da idade”. Naquela cultura, a deusa grega Juventa era
evocada justamente nas cerimônias do dia em que os mancebos (adolescentes) trocavam a
roupa simples pela toga, tornando-se cidadãos de pleno direito. Na sociedade moderna, não
há consenso em torno dos exatos limites de idade que devem vigorar para definir quem é
jovem3, mas a juventude é compreendida como um tempo de construção de identidades e de
definição de projetos de futuro. É vista como tempo de “moratória social”, “etapa de
transição”, em que os indivíduos processam sua inserção nas diversas dimensões da vida
social: responsabilidade com família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício de
direitos e deveres de cidadania.
Estudos históricos demonstram que em cada tempo e lugar são muitas as juventudes e
que entre elas sempre existem adesões ao estabelecido e territórios de resistências e de
criatividade. Ainda assim, no cotidiano a tendência que prevalece é buscar generalizações
fazendo desaparecer diferenciações internas na juventude. Tais generalizações revelam
projeções pessimistas ou otimistas em relação o futuro da sociedade. A partir daí,
constroem-se os estereótipos. Nos anos de 1980, Cecília Braslavsky – estudiosa sobre as

1
Texto extraído do material “Textos complementares para formação de gestores”, Brasília: Programa
Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem Urbano, 2008.
2
Antropóloga, pesquisadora do CNPq, consultora PNUD/Nações Unidas para o informe sobre Juventude e
Desenvolvimento Humano nos países do Mercosul.
3
O parâmetro mais usado é a faixa de 15 a 24 anos, definição da Organização Internacional da Juventude,
mas no conjunto há países que antecipam ou prolongam esta faixa etária. No Brasil a Lei Nº 11.129 de
30/06/2005 – que cria a Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e o ProJovem –,
estabelece a faixa etária de 15 a 29 anos. No Brasil, atualmente, há pesquisas que consideram de 15 a 24 anos
e outras de 15 até 29 anos.
questões juvenis na Argentina – identificou os três mitos 4 mais comuns que são acionados
para definir a juventude.
Atualizando esta contribuição, podemos dizer que nos dias de hoje convivem:
“o mito da juventude dourada” – Este mito identifica todos os jovens de hoje com a
parcela dos jovens socialmente privilegiados. “Ser jovem” é ter tempo livre para lazer,
gozar o ócio, cultivar o corpo, ser beneficiário de um período de “moratória social” sem
angústia ou responsabilidades. Esta visão é alimentada pelos meios de comunicação que
inculcam padrões estéticos e comercializam a “juvenização”. Mas, o mito também é
acionado para lamentar criticamente o fato de que todos os jovens seriam despreocupados
com questões sociais, alienados ou só se mobilizariam em defesa de seus próprios
privilégios.
“o mito da juventude branca” – Este mito é otimista em relação à juventude atual e,
certamente, é bem menos acionado do que os outros dois. Nele, os jovens aparecem como
personagens maravilhosos e puros que podem salvar a humanidade superando visões
limitadas de outras gerações. Observados deste prisma, os jovens farão o que seus pais não
quiseram ou não puderam fazer. Pertencendo a uma geração menos iluminista/racionalista,
demonstram maior capacidade de articular a indignação frente às injustiças sociais e a
valorização a diversidade cultural. Assim como – em contraposição com os vícios políticos
das gerações anteriores – teriam a chance histórica de aliar ética com estética. Menos
antropocêntricos, compreenderiam a importância de buscar a sustentabilidade sócio-
ambiental não só para seu país, mas para todo o planeta. Outra versão do mesmo mito,
bastante acionada por alguns estudiosos do tema, focaliza a juventude que se reúne em
grupos culturais onde estaria toda a criatividade, inventividade e energia da sociedade.
“o mito da juventude cinza” – Neste prisma prevalece o pessimismo. Os jovens
aparecem como “a desgraça e a ressaca da sociedade”. São desocupados, delinqüentes,
apáticos. Depositários de todos os males da sociedade. No conjunto, seriam a mais perfeita
expressão das leis da competitividade, da lógica do lucro, do cinismo que caracteriza a
sociedade do espetáculo. Apáticos, seriam o mais evidente reflexo da crise da representação
política. Conectados, seriam “virtuais” e, cada vez mais, descolados do mundo real, alheios
a seus problemas e injustiças. Carentes de valores morais, seriam sexualmente promíscuos.
Vindos das classes populares, de “famílias estruturadas”, seriam responsáveis pelo
fenômeno social denominado “gravidez na adolescência”. Sempre “suspeitos”. Pobres e
moradores de periferias violentas, são vistos como criminosos em potencial. Esta última
versão pesa, muitas vezes, sobre os jovens de 18 a 29 anos que não terminaram o ensino
fundamental. A rigor, estas representações e estereótipos estão disponíveis na sociedade e
em nosso repertório cultural. O tema da juventude mobiliza emoções e desafia a razão.
Sempre, ou circunstancialmente, qualquer um de nós pode surpreender a si mesmo
acionando um ou outro destes mitos para falar da juventude em geral ou dos jovens com
quem convivemos.
Até mesmo porque na descrição de cada um destes mitos aparecem aspectos que encontram
eco nas experiências de vida dos jovens de hoje. Na verdade, imagens contraditórias de
juventude convivem na sociedade atual. Sobretudo porque na qual também convivem
4
Na perspectiva antropológica, mito não quer dizer mentira. No mito estão representações sociais que
informam e são informadas por práticas socialmente produzidas. Em nosso caso, o que faz um mito é uma
determinada reunião seletiva e “lógica” que desconsidera outras representações e práticas também
socialmente disponíveis.
juventudes douradas, cinzas, brancas e de outras tantas cores. Nos meios de comunicação,
como sabemos, estão principalmente as juventudes dourada e cinza. Via de regra, em
lugares diferentes da grade de programação. Na publicidade e nas novelas estão os belos e
saudáveis, os alegres e despreocupados que oferecem um modelo de vida ao qual, na
realidade, poucos têm acesso. Nos noticiários os jovens (principalmente das classes
populares) aparecem sempre como desordeiros e violentos, envolvidos com
comportamentos de riscos.
De fato, a palavra “juventude” é propícia para a explicitação de contradições e
ambigüidades da sociedade. Por um lado, não é exagero afirmar que a sociedade
contemporânea é “juventudocêntrica”. O valor simbólico positivo da juventude se expressa
por meio da valorização da beleza e da saúde. Todos querem permanecer jovens.
Fisicamente, procurasse adiar o envelhecimento. Mentalmente, busca-se permanecer
“jovem de espírito”. Mas, por outro lado, a “juventude” também é vista como o lugar
privilegiado para a expressão de todo mal estar social. Provoca inquietações e evoca
“problemas sociais” tais como violência, ócio, desperdício e irresponsabilidade.
Assim sendo, conceitos e preconceitos são sempre acionados – consciente ou
inconscientemente – para se falar sobre a juventude. Quando se fala em “juventude” todos
se sentem na obrigação de emitir opiniões, tomar posições, generalizar, oferecer veredictos.
Porém, se nosso objetivo é compreender a juventude em sua diversidade é preciso
ultrapassar tanto o entendimento de compreende-la como uma faixa-etária problemática
(onde só se destacam aos “problemas da juventude de hoje”, enunciados em termos de
gravidez precoce, as drogas e a violência) quanto, também, evitar a sua idealização como a
única protagonista de mudanças sociais, em uma nova interpretação heróica de seu papel
mítico. No que diz respeito ao ProJovem Urbano, trata-se subverter estereótipos e não
aceitar a lógica que preside o mito da “juventude cinza”, que “sequer completou o ensino
fundamental”.

2. Juventude brasileira: um jogo de espelhos

De maneira geral, ser jovem é residir em um incômodo estado de devir. Mas, com todas as
diferenciações internas, o que haveria de comum entre os jovens de um mesmo tempo
histórico? A metáfora do jogo de espelhos já foi utilizada por Foracchi (1972) em um livro
que trata especificamente do movimento estudantil. Podemos retomá-la hoje para
compreender o jogo dinâmico entre um espelho agigantador (que evidencia as marcas
geracionais que incidem sobre as trajetórias de vida dos jovens do Século XXI) e um
espelho retrovisor (no qual diferentes segmentos juvenis espelham a sociedade brasileira
com todas suas características).

2.1. Espelho agigantador: “ser jovem”, medos comuns e múltiplas trajetórias


Certamente, a dimensão biológica (os hormônios, a adrenalina, o corpo jovem) favorece a
predisposição para a aventura e as representações de força e vitalidade motivando a ousadia
e arriscadas práticas juvenis. Mas, para além do aspecto biológico, e apesar dos abismos
sociais existentes, “ser jovem” em um mesmo tempo histórico é viver uma experiência
geracional comum. O conceito de geração remete às marcas históricas e ao imaginário
social dominante no momento em que se vive a juventude. Neste sentido, toda experiência
geracional é inédita e se ancora em condições objetivas e subjetivas, a partir das quais se
constroem padrões de
passagem da juventude para a vida adulta. Vejamos, agora, qual era o padrão dominante de
passagem para a vida adulta e que mudou para a atual geração juvenil.
É bom lembrar que na concepção moderna de juventude, a escolaridade tornou-se uma
etapa fundamental para a passagem para a maturidade. A partir das transformações do
Século XVIII e, sobretudo, após a segunda guerra mundial, “estar na escola” passou a
definir a condição juvenil. Idealmente, o retardamento da entrada dos jovens no mundo do
trabalho, garantiria melhor passagem para a vida adulta. Na prática, esta “passagem” não
aconteceu no mesmo ritmo em diferentes países e no interior de distintas classes sociais de
um mesmo país. Amplos contingentes juvenis de famílias pobres deixam a escola para se
incorporar precariamente no mercado de trabalho. Em outras palavras, enquanto pequenas
minorias de jovens vivenciam a desejada “moratória social”, a grande maioria deles encurta
a infância e, ao começar a trabalhar prematuramente, antecipa a idade adulta.
Ainda assim, prevalece um padrão idealizado de passagem para a vida adulta que pressupõe
uma seqüência linear e previsível de eventos: saída da escola > entrada no mercado de
trabalho > casamento > filhos. Contudo, podemos dizer que este padrão – cada vez mais –
tem sido questionado pela realidade dos jovens de hoje fazendo com que se reconheçam
outras fronteiras nesta passagem.
Com efeito, esta geração convive com a imprevisibilidade, com situações intermediárias,
reversíveis e coincidentes. Se no padrão anterior os jovens dos setores populares
interrompiam os estudos e entravam “para sempre” no mercado de trabalho, hoje na
trajetória de jovens de todas as classes sociais podem estar presentes várias “entradas e
saídas” tanto no sistema educativo quanto no mercado de trabalho.
Os jovens sabem que os certificados escolares são imprescindíveis. Mas sabem também que
o diploma não é garantia de inserção produtiva condizente aos diferentes níveis de
escolaridade atingida. Está colocada a constante necessidade de qualificação e atualização
profissional. Neste sentido, a necessidade de novos aprendizados motiva “voltas” ao
sistema educativo. Registram-se múltiplas trajetórias: os jovens não só param de estudar
para trabalhar como trabalham para estudar; não só param de trabalhar quando encontram
chances de voltar a estudar como param de estudar para aproveitar uma chance de trabalho
temporário ou sazonal etc.
Ao mesmo tempo, o padrão que vincula início da vida sexual/casamento/nascimento
de filhos convive hoje com outras possibilidades nas quais estes mesmos eventos estão
desassociados resultando em novos padrões de sexualidade e novos arranjos familiares.
O exercício da sexualidade não se restringe ao casamento e ter filhos não significa entrar
definitivamente na vida adulta. Em resumo. Quando se focaliza a juventude como um todo
evidenciam-se múltiplas entradas e saídas na escola e no mundo do trabalho, e em termos
de sexualidade e parentabilidade já não se pode falar em um único padrão e sim na
convivência de várias modalidades de transição para a vida adulta (Camarano, 2006).
Porém, muitas vezes educadores e gestores retiram este “público-alvo” do contexto
histórico e social de sua geração e os caracterizam por meio de categorias que apenas
denotam “faltas” ou “desvios” do padrão ideal, tais como: “família desestruturada”,
“evasão escolar”, “gravidez precoce” etc. Vivendo neste contexto histórico e social, os
jovens de 18 a 29 anos, que não completaram o ensino fundamental, também vivenciam
seqüências não lineares, diferentes maneiras de entrar na vida adulta.
Em tempos de exacerbada tensão entre o local e o global, aprofunda-se a necessidade
de aproximar o que se aprende nos bancos escolares das transformações no mercado de
trabalho e a urgência de compreender os fenômenos relacionados com a violência que
atingem de maneira particular os jovens. Se isto é verdade, é preciso considerar também
que os jovens brasileiros de 18 a 29 anos que não terminaram o ensino fundamental
partilham inseguranças e medos de sua geração. Que medos são estes?

“Medo de sobrar”: como assegurar um lugar em um mercado de trabalho


restritivo e mutante?
Sem desconhecer as diferenças em termos de econômicos, podemos dizer que uma das
características deste nosso tempo é que os jovens de diferentes classes sociais partilhem
alguns sentimentos e temores comuns em relação ao seu futuro profissional. Vivemos em
um tempo de grandes mudanças tecnológicas. Frente à globalização dos mercados,
redesenha-se o mundo do trabalho. Rápidas transformações econômicas e tecnológicas se
refletem no mercado de trabalho precarizando relações, provocando mutações, modificando
especializações. A cada dia se sepultam velhas profissões e inventam novas. Frente a um
mundo do trabalho restritivo e mutante, o desemprego, às rápidas mudanças tecnológicas
dissemina-se o “medo de sobrar”.

“Medo de morrer”: a realidade do narcotráfico, das armas de fogo e das polícias.


As taxas de mortalidade da população brasileira – como um todo – vêm progressivamente
decrescendo. Porém, entre os jovens não se observa o mesmo4. Segundo o Sistema de
Informações de Mortalidade (SIM) do Sistema único de Saúde (SUS), as mortes por
homicídio entre brasileiros de 15 a 29 anos passaram da média anual de 27.496 no período
de 1999-2001 para 28.273 no período de 2003-2005. Estas mortes vitimam mais homens
(cerca de 93% das vítimas de homicídio), sobretudo concentrando-se no grupo de 18 a 24
anos5.
Outras informações demonstram que os jovens não figuram apenas como vítimas, mas
também com autores da violência. Vários autores têm se dedicado a pensar a equação
juventude e criminalidade. Algumas respostas se explicam por meio da crescente exclusão
social em uma sociedade de apelo consumista; outras enfatizam a busca de visibilidade e
reconhecimento frente processos de segregação social. Questões de afirmação de poder e da
masculinidade guerreira também aparecem como pistas para a compreensão do uso de
armas, sobretudo pelos jovens moradores das periferias urbanas, ou das violências
provocadas pelas torcidas organizadas de futebol. Nestas perspectivas, a violência juvenil
deve ser vista em suas relações com a estrutura e os valores dominantes na sociedade em
que vivem os jovens.
Do nosso ponto de vista, a explicação deve ser buscada também na inédita conjugação
entre três fatores: a) a proliferação de armas de fogo que obedece aos interesses da indústria
bélica nacional e internacional; b) a existência de territórios dominados por traficantes de
drogas locais que devem ser entendidos como meros nós de uma rede bem mais complexa
que constitui hoje o narcotráfico internacional e; c) a violência e corrupção das policias,
despreparadas para lidar com a juventude. Os jovens sempre manifestam suas contradições
com a polícia: sempre suspeitos, se são de classe média reclamam que são “achacados”, isto
é deles se exige dinheiro, se são pobres se dizem sujeitos a vários tipos de humilhações e
agressões. É na conjugação destes três fatores que os jovens convivem com a morte

5
Segundo o DENATRAN, em 2006, os jovens entre 18 e 29 anos representaram 26,5% das vítimas fatais no
transito (contra 40,9% para o grupo de 30 a 59 anos).
prematura de pares (irmãos, primos, vizinhos e amigos). Entre eles se espalha o “medo de
morrer” prematuramente e de forma violenta.

Inseguranças compartilhadas: sentimento de desconexão em um mundo conectado.


Sem qualquer paralelo em relação a outras gerações, em um mundo sem fortes ideologias,
os jovens de hoje se deparam com múltiplas evidências da degradação socioambiental e
com o aumento dos abismos sociais. A tensão local-global se manifesta hoje de maneira
contundente: nunca houve tanta integração globalizada e, ao mesmo tempo, nunca foram
tão profundos os sentimentos de isolamento social. Como projetar o futuro tendo à frente a
um elevado grau de incertezas? Medos (de sobrar e de morrer) somados a inseguranças
advindas de processos de desterritorialização e novos fluxos migratórios e, ainda, às
inseguranças advindas das questões ecológicas (traduzidas na expressão “aquecimento
global”) produzem também entre os jovens desta geração um inédito sentimento de
desconexão em um mundo tecnologicamente conectado.
No entanto, se é verdade que estes medos fazem parte da sociedade contemporânea e
se agigantam no imaginário de toda uma geração de jovens brasileiros, certamente eles têm
pesos e medidas diferentes na vida de jovens de diferentes classes sociais; entre moradores
do campo e das cidades; jovens dos condomínios fechados e das favelas; entre jovens
mulheres, negros e negras... É o que veremos a seguir.

2.2. Espelho retrovisor: nossas juventudes refletem desigualdades e diferenças da


sociedade brasileira
Segundo projeções do IBGE, em 2006, os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos somavam
51,1 milhões de pessoas, ou seja, 27,4% da população total. Tomando este conjunto, é lugar
comum falar em “juventudes”, no plural. A condição juvenil é vivida de forma desigual e
diversa em função da origem social; dos níveis de renda; das disparidades socioeconômicas
entre campo e cidade, entre regiões do mesmo país.
Segundo recente Relatório – 2008 – da Organização Internacional do Trabalho (OIT)6:
A juventude brasileira está concentrada, predominantemente, em áreas urbanas.
Em 2006, do total de 34,7 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, 28,9 milhões (83,3%)
moravam em áreas urbanas e 5,8 milhões (16,7%) encontravam-se no campo.
A desigualdade educacional também persiste entre esses jovens: apenas 1,4% dos jovens
rurais tinha 12 anos de estudo ou mais. Esse percentual atingia 9,8 dos jovens das cidades.
As desigualdades regionais também pesam. A taxa de analfabetismo entre os jovens era, em
2006, de 0,9% na região Sul e 5,3% no Nordeste. Além disto, a vivência da condição
juvenil é também diferenciada em função de desigualdades de gênero, de preconceitos e
discriminações que atingem diversas etnias. Vejamos dados do mesmo Relatório da OIT
acima citado. Enquanto 39,7% dos jovens negros tinham de cinco a oito anos de estudo, o
número cai para 29,5% quando se trata de brancos com mesmo período de escolaridade.
Mais de 13% dos brancos tinham 12 anos ou mais de estudo. Esse número cai para 3,7%
entre os negros. O estudo considerou como população negra o total de pessoas pardas e
pretas.
O desemprego de jovens tem maior incidência para o sexo feminino, para a etnia negra a
população urbana. Embora as mulheres apresentem informalidade superior à dos homens, a
maior desigualdade prevalece em termos de cor, raça e etnia e local de moradia. Do total

6
Ver http://www.oit.org.pe/prejal
das jovens ocupadas entre 15 e 24 anos, 14,8% eram trabalhadoras domésticas sem carteira
assinada. Mas isto ainda não é tudo. Os jovens de hoje também se diferenciam em termos
de orientação sexual, gosto musical, pertencimentos associativos, religiosos, políticos, de
galeras, de turmas, de grupos e de torcidas organizadas. Estes últimos demarcadores de
identidades podem aproximar jovens socialmente separados ou separar jovens socialmente
próximos. Mas há ainda outras desigualdades que se expressam particularmente na vida
urbana. No Brasil, e pelo mundo afora, existem hoje jovens que são vistos com preconceito
por morarem em áreas pobres classificadas como violentas. Com diversos nomes,
topografias e histórias, as periferias são – via de regra – marcadas pela presença das armas
de fogo.
São elas que sustentam tanto a tirania do narcotráfico quanto a truculência policial. A
resposta à pergunta “onde você mora?” pode ser decisiva na trajetória de vida de um jovem.
A “discriminação por endereço” restringe o acesso à educação, ao trabalho e ao lazer dos
jovens que vivem nas favelas e comunidades caracterizadas pela precária presença (ou
ausência) do poder público. Em resumo, podemos dizer que diferentes segmentos juvenis
formam um complexo caleidoscópio no qual se entrelaçam indicadores sociais reveladores.
Desigualdades sociais, retro alimentadas por determinados preconceitos e discriminações,
produzem distintos graus de vulnerabilidade juvenil.
Portanto, ser jovem hoje no Brasil é estar imerso em uma multiplicidade de desvantagens,
discriminações e vivências. Neste cenário, para além das desigualdades e diferenças
presentes entre os/as jovens, que nos obrigam a reconhecer contradições entre as juventudes
brasileiras, no plural (espelho retrovisor), não podemos abrir mão de reconhecer
sentimentos geracionais comuns e, assim, buscar a singularidade nesta geração no presente
momento histórico (espelho agigantador). É neste jogo de espelhos que se revelam não só
as vulnerabilidades, mas também o que há de promissor entre os jovens de hoje.

3. Juventudes: territórios de resistência e criatividade

Um lado da medalha. De maneira geral podemos dizer que os jovens de hoje enfrentam
enormes dificuldades de ingresso e permanência no mercado de trabalho; representam
o contingente populacional mais atingido pelas distintas formas de violência; têm acesso
restrito aos bens culturais; não têm assegurado o direito a uma educação de qualidade e não
recebem tratamento adequado no tocante às políticas públicas de saúde e lazer.

Outro lado da medalha. Há um processo de criação de coletivos juvenis que não pode
ser ignorado por quem pesquisa ou trabalha diretamente com a juventude. Com efeito,
como lembra Helena Abramo (1997), é muito mais diversificada a face social dos jovens
que se mobilizam. Se até os anos de 1970 os atores juvenis estavam restritos aos jovens
estudantes de classes médias, hoje, várias dessas formas de movimentação que vemos
surgir se fazem entre jovens dos mais distintos setores sociais.
A pesquisa do IBASE em parceria com o Instituto Pólis (Juventude Brasileira e
Democracia, 2005) mostra que a participação em grupos é uma experiência vivida por
28,1% dos jovens entrevistados. Ainda segundo a pesquisa, os jovens de maior poder
aquisitivo (classes A/B) participam mais de grupos (33,5%), seguidos pelos jovens da
classe C (28,2%) e D/E (24,0%) das quais, via de regra, vem público potencial do
ProJovem Urbano. Vejamos quais são os temas mobilizadores e as formas de organizações
juvenis.
Nos setores populares urbanos e rurais, proliferam hoje grupos ecológicos6. Neste cenário,
antigas questões relacionadas ao lixo urbano ganham outra conotação por meio da chave de
leitura ecológica que introduz a “reciclagem” no vocabulário político. Assim como,
clássicas questões sobre os impasses da pequena produção agrícola frente a processos de
concentração de terras ganham novas conotações frente a grupos de jovens em defesa da
“sustentabilidade sócio-ambiental”.
Nos grupos religiosos também há novidades. As igrejas cristãs, principalmente a Igreja
Católica e as evangélicas classificadas como progressistas, sempre foram no Brasil e em
alguns outros países da América do Sul, um celeiro de quadros políticos. Ao lado deste
fenômeno, registram-se hoje outras possibilidades. No Brasil do Século XXI encontramse
jovens de diferentes pertencimentos religiosos (cristãos, espíritas, das religiões
afrobrasileiras e orientais) e “jovens religiosos sem religião”, isto é que tem afirmam
crenças e valores religiosos, mesmo sem ter pertencimento institucional. A própria causa
ecológica é produtora de uma peculiar espiritualidade que motiva a militância social entre
jovens. Cabe ainda destacar o crescimento pentecostal entre jovens das classes populares
jovens, moradores de áreas pobres e violentas. Este crescimento precisa ser compreendido
tanto como escolha individual, quanto no quadro da busca de pertencimento em situações
exclusão social e violência. No contexto de um campo religioso cada vez mais plural e
competitivo, são cada vez mais comuns as famílias e as salas de aula plurirreligiosas. No
entanto, temos pouca reflexão sobre o peso da cultura brasileira católica nos espaços de
ensino público e o quanto este peso dificulta o diálogo inter-religioso e embota iniciativas
de comunicação e ação conjunta entre os jovens e entre jovens e adultos.
Também vale a pena falar dos grupos de afirmação de identidades. Devedores de lutas
sociais de outras gerações, grupos de jovens mulheres; de jovens indígenas; de jovens
negros;de jovens com deficiência, de jovens que se reúnem e torno da livre orientação
sexual trazem suas demandas geracionais para dentro de seus próprios movimentos e para a
sociedade. Jovens mulheres, por exemplo, falam em tripla jornada (trabalho fora/trabalho
doméstico e estudo). Jovens indígenas demandam novas tecnologias de informação. Jovens
de distintas orientações sexuais denunciam tratamento desigual no sistema preventivo de
saúde.
Em uma outra vertente, podemos destacar os grupos culturais. São grupos que, por meio
de ritmos, gestos, rituais e palavras, instituem sentidos, negociam significados, buscam
visibilidade pública, disputam adesões de jovens. No Brasil, a literatura tem registrado
grupos de jovens voltados para esportes, para rádios comunitárias, para o teatro, a dança e
variados estilos musicais (rock, punk, heavy metal, reggae, hip hop, funk, entre outros). As
práticas de lazer e de ocupação do tempo livre vêm ocupando um lugar cada vez maior
entre jovens.
Atitudes e escolhas em termos de gênero de música que preferem ouvir, do tipo de
programa televisivo que preferem assistir, dos locais em que costumam ser reunir com os
amigos também definem maneiras de ser jovem. Tais escolhas e atividades tornam-se
agencias de socialização convivendo com instituições sociais clássicas, como a família e a
escola, no processo de formação das identidades juvenis (com suas aspirações, angustias e
dilemas). A propagação veloz de símbolos e valores – via novas tecnologias – permite que
jovens, de diferentes locais do mundo, tenham um mesmo universo de referência.
Diversidades e identidades se manifestam em um mesmo país, entre países, regiões e
continentes. Não há hoje participação social que não tenha algum grau de dependência das
novas tecnologias de informação e comunicação. Em tempos de Internet, as “redes juvenis”
são meios para dinamizar o que já está constituído e, também, têm funcionado como ponto
de partida para a construção de novos espaços de comunicação, identificação e ação. Um
bom exemplo são os sites de hip hop que atravessam o mundo. Além de divulgar seus
respectivos trabalhos artísticos (de rap, break e grafite), este expediente é visto como uma
forma de afirmar a “cultura hip hop”, com seus símbolos, convicções e causas. Existem
portais mais abrangentes nos quais a mensagem da primeira página sempre relacionada à
origem urbana e periférica do hip hop e seu poder de transformação social. Outros sites
votados para grupos específicos que destacam sua origem e idéias “combativas”, com
“atitude”, em geral, críticas à sociedade branca e excludente. Encontramos também sites de
projetos sociais voltados para jovens que utilizam o hip hop como metodologia de trabalho
para intervir na sociedade. Em todos os casos, o meio digital é fundamental para a relação
entre a experiência local e a identidade que a ultrapassa.
Enfim, novas combinações temáticas e de formas organizacionais têm se traduzido em
disposições éticas e ações concretas em diferentes espaços dos quais participam jovens.
Lançando mão de recursos materiais e simbólicos próprios ou incentivados por mediadores
(das igrejas, agências internacionais ou organizações não governamentais e fundações
locais) muitas vezes, as ações imediatas dos chamados “grupos culturais” visam
transformar as chamadas “comunidades locais”. Se é verdade que na década de 1960 uma
espécie de “arte engajada” se colocava à disposição das causas do movimento estudantil,
das lutas sindicais e políticas, hoje “grupos culturais” levam suas expressões artísticas
diretamente ao espaço público provocando repercussões políticas.
Movimentam-se no espaço público, lugar onde se explicitam disputas e negociações
de pontos de vista e posicionamentos políticos, buscando incidir sobre a sociedade e
os governos. No espaço público compartem (ou disputam)787 reconhecimento social com
movimento estudantil, com juventudes partidárias e com os departamentos juvenis das
organizações sindicais desafiando os estudiosos a compreender a atual configuração de
atores juvenis. No atual momento histórico – em que não há mais monopólio da
representação juvenil – jovens estudantes, sindicalistas e de partidos políticos se engajam
em campanhas temáticas, na formação de conselhos de juventude e em outros espaços de
expressão de interesses de jovens convivendo com grupos culturais, religiosos, esportivos,
ambientalistas, de direitos humanos, de voluntariado etc.
Mesmo sabendo que os jovens que fazem parte deste conjunto diversificado de coletivos
são minorias (em torno de 30%), isto é, são numericamente bem inferiores aos jovens
segmentos que afirmam deles não participar (em torno de 70%), é preciso contribuir para
dar visibilidade para estes grupos e para suas experiências. Trata-se de reconhecer que está
em curso um processo que vem provocando questionamentos e modulações nas imagens
dominantes que a sociedade constrói sobre os sujeitos jovens. E como a linguagem não é
apenas um veículo, mas é também construtora da realidade social, podemos apostar no
nascimento de novas percepções e experimentações sociais que jogarão um papel ativo na
escolha de caminhos que respondam às necessidades e anseios dos jovens de hoje.
7

6. Conferir Nações Unidas (2003) e Carvalho (2004).


8
A “convivência” nem sempre é pacífica. Em muitos momentos, há concorrências (não só ideológicas, mas
também de finalidade e estilo) e desqualificações mútuas. No momento das disputas, os
organizados podem ser chamados de “manipuladores”, os jovens de grupos religiosos de
“assistencialistas”, e os das ONGs ou grupos culturais são chamados de “despolitizados”.
Nota final. Na perspectiva geracional: combinar emergência com experimentação

Como se sabe, a juventude é a fase da vida mais marcada por ambivalências provocadas
pela convivência contraditória entre a subordinação à família e à sociedade e as
expectativas de emancipação, sempre em choque e negociação. Assim, a questão da
juventude não pode ser resolvida apenas pela juventude.
Frente a esta definição, podemos nos indagar hoje se o recorte “juventude” pode vir a
produzir um espaço específico de demandas e políticas públicas específicas como
aconteceu com os recortes de gênero e etnia/raça? Mesmo não sendo possível profetizar
hoje se ocorrerá com a questão da juventude algo similar com o que aconteceu com a
questão da equidade racial e gênero, em décadas precedentes, podemos falar na busca de
uma “perspectiva geracional”. Neste âmbito, assim como a questão feminista tem que ser
pensada a partir da perspectiva de gênero – que envolve homens e mulheres – a questão da
juventude deve ser pensada a partir da perspectiva geracional. Ou seja, deve envolver
jovens e adultos, pressupondo escutas e aprendizados mútuos. O que torna imprescindíveis
duas frentes de diálogo: um diálogo intrageracional e um diálogo intergeracional.
O diálogo intrageracional implica tanto em valorização da diversidade juvenil quanto na
busca de adesão de diferentes segmentos a valores democráticos e universais. Se é verdade
que os jovens de hoje encontram diferentes caminhos para construir passagens para a vida
adulta e, também, para instituir espaços coletivos (bastante mais diversificados do que na
geração anterior), é importante que possam negociar entre si para fazer face à sociedade do
espetáculo, consumista e injusta. Trata-se de um diálogo no interior de uma faixa etária sem
pretender construir uma identidade “jovem” essencialista, única.
Neste sentido, é fundamental que os jovens de 18 a 29 anos, que não completaram o
ensino fundamental, sejam vistos a partir da ótica da geração a que pertencem.
Concretamente, no caso dos jovens que são (e/ou serão) o público potencial do ProJovem
Urbano, trata-se de não ratificar ou promover seu isolamento de outros jovens de sua
geração.
Olhando-os somente como “público-alvo”, como “aqueles que necessitam ser incluídos”,
muitas vezes opta-se por mantê-los longe da “turbulência” dos jovens organizados. Mas é
necessário aproximá-los do diálogo intrageracional. Isto se faz ampliando suas
possibilidades de se aproximar de coletivos juvenis e de participar de embates que levam os
jovens de hoje ao espaço público. Isto é, é preciso vê-los como parte integrante de uma
geração que está sendo desafiada a reinventar as formas e os sentidos de “estar no mundo”.
Neste desafio também devem estar os adultos. Portanto, a dimensão intergeracional é
fundamental. O diálogo intergeracional pressupõe que os jovens escutem os adultos com
objetivo de obter conhecimento, revalidar valores e retomar os fios históricos das
conquistas sociais. Pressupõe também que os adultos escutem os jovens porque,
considerando que toda a experiência geracional é inédita, só sabe o que é ser jovem hoje,
quem é jovem hoje. No âmbito do ProJovem Urbano, é preciso pensar em um processo de
formação de adultos que trabalham com jovens que também pressuponha experimentação,
escutas e aprendizados mútuos. Nos dois diálogos há que se combinar a dimensão
emergencial com uma dimensão experimental.
Esta constatação coloca novas exigências para as políticas públicas voltadas para esta
juventude. Mesmo reconhecendo o caráter emergencial dos Programas que se dirigem
ao segmento mais vulnerável da juventude atual, é preciso que eles sejam “de ponta”,
experimentais em termos de forma e de conteúdo. Afinal, nos dias de hoje não se pode
pensar em “inclusão social” de jovens como se houvesse apenas um tipo de família; como
se houvesse um sistema de ensino apropriado aos tempos atuais; como se falássemos de
estratégias frente a um mercado de trabalho estável e previsível. Como se houvessem
espaços e instituições adequadas onde este segmento juvenil vulnerável devesse ser
incluído... De fato, o desafio atual é encontrar caminhos que resultem tanto em
modificações urgentes em trajetórias de vida deste segmento juvenil, quanto resultem em
novos experimentos sociais geradores de transformações mais profundas na relação
escolaridade/mundo do trabalho, nas instituições e na sociedade onde vivem todos os
jovens desta geração.

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