50%(6)50% au considerat acest document util (6 voturi)
2K vizualizări4 pagini
O documento discute como a memória coletiva é constituída por diferentes memórias individuais e grupais, e como o Estado pode silenciar certas memórias enquanto privilegia outras de acordo com interesses políticos, criando uma "memória oficial". Essas memórias silenciadas tendem a sobreviver de forma "subterrânea" e podem emergir para contestar a narrativa dominante em momentos de mudança política.
O documento discute como a memória coletiva é constituída por diferentes memórias individuais e grupais, e como o Estado pode silenciar certas memórias enquanto privilegia outras de acordo com interesses políticos, criando uma "memória oficial". Essas memórias silenciadas tendem a sobreviver de forma "subterrânea" e podem emergir para contestar a narrativa dominante em momentos de mudança política.
O documento discute como a memória coletiva é constituída por diferentes memórias individuais e grupais, e como o Estado pode silenciar certas memórias enquanto privilegia outras de acordo com interesses políticos, criando uma "memória oficial". Essas memórias silenciadas tendem a sobreviver de forma "subterrânea" e podem emergir para contestar a narrativa dominante em momentos de mudança política.
Partindo das concepes de Halbwachs, Pierre Nora e Durkhein, Pollak
analisa a conceituao da memria coletiva, observando em que medida a relao entre indivduo e memria coletiva considerada positiva ou negativa por tais estudiosos. Em seguida, Pollak remete sua ateno ao estudo de base construtivista da memria, que se voltaria para a anlise do processo e dos atores que participam da constituio da memria coletiva. O autor destaca que a histria oral permitiu perceber a existncia de memrias subterrneas ou perifricas, e que estas memrias seriam, de certo modo, subjugadas pela memria nacional, observando-se a um conflito. A partir de ento, as pesquisas sobre memria e histria privilegiaram as anlises acerca desses locais de disputa da memria. Pollak traz o exemplo de como, na antiga Unio Sovitica, aos poucos, a imagem do governante Stalin mudou, deixando de ser o pai do povo, na medida em que seus atos de perseguio poltica e autoritarismo ganharam visibilidade. Assim, a memria nacional foi alterada por memrias antes silenciadas pelo Estado, memrias que o autor chama de memrias subterrneas: Essa memria "proibida" e, portanto, "clandestina" ocupa toda a cena cultural, o setor editorial, os meios de comunicao, o cinema e a pintura, comprovando, caso seja necessrio, o fosso que separa de fato a sociedade civil e a ideologia oficial de um partido e de um Estado que pretende a dominao hegemnica. Uma vez rompido o tabu, uma vez que as memrias subterrneas conseguem invadir o espao pblico, reivindicaes mltiplas e dificilmente previsveis se acoplam a essa disputa da memria(p.5). Pollak ressalta o quanto esta reconfigurao da memria oficial relaciona-se com mudanas polticas, considerando que estas memrias so silenciadas por questes polticas, mas em geral sobrevivem, no meio familiar, a este silenciamento por parte do Estado: A despeito da importante doutrinao ideolgica, essas lembranas durante tanto tempo confinadas ao silncio e transmitidas de uma gerao a outra oralmente, e no atravs de publicaes, permanecem vivas. O longo silncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, a resistncia que uma sociedade civil impotente ope ao excesso de discursos oficiais. Ao mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranas dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da verdade e da redistribuio das cartas polticas e ideolgicas. (p.5) Pollak se volta ento para o tipo de silenciamento que no ocorre por simples opresso do Estado, mas por conta do sentimento de culpa e vergonha, tanto dos algozes ou seus descendentes, como das prprias vtimas. O autor, utilizando como exemplo o quanto o sofrimento dos judeus nos campos de concentrao nazistas foi, de certo modo, apagado das memrias individuais e tambm nacionais. Isso ocorreu pela busca por adaptao por parte dos judeus, que procurariam assim, no lembrar aos antigos algozes de sua culpa. Tambm pelo sentimento de culpa que os prprios judeus carregariam em relao postura de complacncia de algumas autoridades judias no perodo da guerra. Alm disso, h as questes no mbito individual, em que aqueles que sofreram no querem criar seus filhos e descendentes com esse espectro de sofrimento, acreditando que o melhor ocultar os horrores da guerra. Pollak destaca que estas situaes conflituosas so ambguas, bastante problemticas e podem levar ao silncio antes de produzir o ressentimento que est na origem das reivindicaes e contestaes inesperadas(p.7). O autor d nfase ao fator de resistncia de tais memrias, que por anos, dcadas, sobrevivem nos crculos familiares, em grupos menores, trazendo vises que se enquadram com a memria oficial. Essas memrias mantem- se subterrneas at o momento em que surge uma brecha na memria oficial, a qual procuraro alterar aproveitando-se de tal oportunidade. existem nas lembranas de uns e de outros zonas de sombra, silncios, "no-ditos". As fronteiras desses silncios e "no-ditos" com o esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente no so evidentemente estanques e esto em perptuo deslocamento. Essa tipologia de discursos, de silncios, e tambm de aluses e metforas, moldada pela angstia de no encontrar uma escuta, de ser punido por aquilo que se diz, ou, ao menos, de se expor a mal-entendidos.(p.8) H uma permanente interao entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido. E essas constataes se aplicam a toda forma de memria, individual e coletiva, familiar, nacional e de pequenos grupos. O problema que se coloca a longo prazo para as memrias clandestinas e inaudveis o de sua transmisso intacta at o dia em que elas possam aproveitar uma ocasio para invadir o espao pblico e passar do "no-dito" contestao e reivindicao; o problema de toda memria oficial o de sua credibilidade, de sua aceitao e tambm de sua organizao. (p. 9) Pollak define assim o conceito de memria: operao coletiva dos acontecimentos e das interpretaes do passado que se quer salvaguardar, se integra como vimos, em tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas. Aldeias, regies, cls, famlias, naes etc. (p.9) Por conta da flexibilidade da memria de um grupo, em que dependendo do momento poltico um fato pode ganhar visibilidade ou ser ocultado, Pollak, ancorando-se em Henry Rousso, prefere o termo memria enquadrada ao termo memria coletiva, de Halbwachs: Manter a coeso interna e defender as fronteiras daquilo que um grupo territrio (no caso de Estados), eis as duas funes essenciais da memria comum. Isso significa fornecer um quadro de referncias e de pontos de referncia e, portanto, absolutamente adequado falar, como faz Henry Rousso, em memria enquadrada, um termo mais especfico do que memria coletiva. (p.9) Pollak ressalta que h um trabalho de enquadramento da memria, ou seja, a escolha de quais informaes merecem espao na memria do coletivo justificadas por interesses de partes desse grupo. O trabalho de enquadramento nutre-se da histria, selecionando os fatos que compem a memria nacional conforme os embates do presente. Nesse processo de enquadramento nada feito arbitrariamente, sendo que as memrias subterrneas em algum momento vm tona, ainda que sejam oprimidas pelo Estado. Os atores desse trabalho so profissionais, historiadores e sujeitos representativos de grupos civis dentro da sociedade. Tais atores selecionam os testemunhos que tm valor para ser ouvido e representativo da coletividade. Assim, o denominador comum de todas essas memrias, mas tambm as tenses entre elas, intervm na definio do consenso social e dos conflitos num determinado momento conjuntural. Mas nenhum grupo social, nenhuma instituio, por mais estveis e slidos que possam parecer, tm sua perenidade assegurada. Sua memria, contudo, pode sobreviver a seu desaparecimento, assumindo em geral a forma de um mito que, por no poder se ancorar na realidade poltica do momento, alimenta- se de referncias culturais, literrias ou religiosas. O passado longnquo pode ento se tornar promessa de futuro e, s vezes, desafio lanado ordem estabelecida. P.11 Para Pollak, a memria nacional constituda por diferentes memrias, conforme os grupos que a sociedade nacional tenha em si. Por vezes essas diferentes memrias so conflitantes, sendo que uma ou outra ficam - dependendo da conjuntura e do enquadramento escolhido - margem da memria nacional. Assim, sob uma perspectiva construtivista, pode-se observar o trabalho de enquadramento a partir da histria dos livros, da escrita, chegando-se at as memrias subterrneas. Por outro lado, pode-se tambm fazer o caminho inverso, a partir da histria oral, que privilegia as memrias individuais e faz aparecerem os limites desse trabalho de enquadramento e, ao mesmo tempo, revela um trabalho psicolgico do indivduo que tende a controlar as feridas, as tenses e contradies entre a imagem oficial do passado e suas lembranas pessoais. P.12
como se esse sofrimento extremo exigisse uma ancoragem numa
memria muito geral, a da humanidade, uma memria que no dispe nem de porta-voz nem de pessoal de enquadramento adequado. .