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Eles estão por em todos os lugares. Percorrendo as ruas com suas guias ou com
suas barracas fixas em um local, vendem os mais diversos produtos. Sob chuva e sob sol
SESP (Secretaria dos Serviços Públicos) estima que existam cerca de 10600 ambulantes
São Joaquim são os locais que concentram a maior parcela dos trabalhadores informais
busca pela legalização e uma rotina desgastante; barreiras que tornam o trabalho deles
um desafio diário.
A Avenida Sete de Setembro, uma das maiores da cidade, liga o Largo de São
entre as Mercês e o Largo de São Bento. Fundada em 1915 pelo governador J.J. Seabra,
a avenida deixa de ser, nos anos 60, a avenida dos clubes sociais, residências, igrejas e
palacetes, passando a abrigar os lojistas Hoje, a arquitetura elaborada dos prédios mal
O trecho das Mercês até o Largo de São Bento tem características sonoras e
visuais únicas. O barulho das buzinas e motores dos automóveis, as vozes dos
transeuntes conversando entre si, os gritos dos vendedores e o som emitido pelos
aparelhos de rádio ou TV, que estão ali para que os consumidores de CDs e DVDs
falsificados possam testar a mercadoria antes de comprá-la, ecoam por entre os vários
salgados, entre outros produtos. Enquanto isso, timidamente, outros camelôs estão
esteiras de CDs e DVDs começam a cobrir parte da calçada para que as vendas se
iniciem.
Aos poucos as calçadas vão ficando mais estreitas e é como se a Avenida Sete
local.
Nilza (cujo sobrenome e idade não quis revelar), que vende produtos como brinquedos,
rádios portáteis e acessórios, produtos eletrônicos, entre outros; e está satisfeita com a
sua profissão. A vendedora, que trabalha há 25 anos como camelô legalizada junto à
“Tem se tornado cada vez mais raras aquelas grandes apreensões e denúncias de
violência dos fiscais,” afirma o coordenador da SESP, Paulo Viana, que trabalha há 10
anos no órgão, que fica situado na Baixa dos Sapateiros, em uma rua deserta ao lado da
qualquer repartição pública com seus longos corredores e sofás para espera;
funcionários transitando entre as várias salas e poucos ambulantes aguardando a sua vez
de serem atendidos.
A camelô não reclama da taxa que paga anualmente; ela tem consciência que os
ambulantes estão ocupando um solo público. Nilza acha que o “papel” da licença dá
mercadorias dos ambulantes e esses não tinham como recorrer. A fiscalização mais
branda prejudica trabalhadores como Dona Nilza, pois os custos com a taxa anual
precisam ser repassados no preço final dos produtos. As pessoas que não pagam essa
taxa podem vender suas mercadorias mais baratas e ter um maior lucro.
para reforçar ainda mais esse contraste, os idosos aproveitam o clima agradável para
jogar umas partidas de dama ou baralho; pessoas passam com muita pressa vinda de
mulher tímida e com receio em falar, que monta sua barraca de lanches e bebidas todos
os dias no mesmo local desde 2004. A vendedora tenta adquirir seu alvará, mas o fato
Enquanto isso não acontece, ela segue vendendo seus lanches na Praça da Piedade e fica
apreensiva todas as vezes que passa um fiscal da prefeitura. Ela sabe que geralmente nas
épocas em que a Praça está muito cheia de ambulantes, a fiscalização fica mais intensa,
a saída da Rua Junqueira Aires. O local ainda não está bem organizado, barracas, carros
carros na rua.
do Shopping Lapa, quase no início da ladeira, até depois da porta do Shopping Piedade,
localizado em um ponto menos inclinado. Nessa parte mais plana, há 12 anos, o artesão
Ivoney dos Santos produz brincos, pulseiras, colares, anéis e outros acessórios. Durante
todo esse tempo ele já presenciou diversas ações da fiscalização naquele local.
Ivoney conta que já viu vários vendedores de CDs e DVDs piratas perderem
tudo nas ações dos agentes da SESP. Em casos de pirataria o prejuízo é grande, pois os
fiscais da prefeitura não devolvem os produtos nem mediante o pagamento de uma taxa,
como acontece com outros tipos de mercadorias. Ivoney já viu suas mercadorias serem
recolhidas por esses fiscais na época que não tinha alvará, mas como era artesão, só
precisou pagar uma taxa e deu entrada ao processo de licenciamento para ter de volta os
comprovante de residência, pelo fato de ele vender apenas produtos não perecíveis.
anterior ele deveria levar um atestado de saúde, para comprovar que é saudável, e o
que é errado permanecer na ilegalidade, segundo Paulo Viana. Isso funcionou com
profissionais. Ele explica que esse nome significa ave de rapina e caracteriza os fiscais
coordenador.
Júnior já teve suas mercadorias apreendidas algumas vezes. O rapaz vende CDs
e DVDs piratas na descida da Estação da Lapa, outra área daquela região com grande
concentração de camelôs. Na última vez que os fiscais levaram seus produtos, há dois
meses, ele perdeu R$900. “Eles aparecem a qualquer momento e se a gente não fugir
rápido é certeza de que as mercadorias vão ser apreendidas,” relata Júnior, que diz estar
Descendo a ladeira onde Júnior se encontrava, outros vendedores, cada vez mais
respeito desses camelôs, especialmente na descida da Estação da Lapa, pois eles exibem
filmes pornográficos a qualquer hora, sem se preocupar com idosos, crianças e até
as pessoas que procuram o Shopping estão mais dispostas a comprar. Seguindo essa
teoria e buscando fugir da região central da cidade como a Lapa, Avenida Sete e a Baixa
ser pontos alternativos de concentração de camelôs. Gilson (cujo nome completo ele
não quis revelar), vendedor de CDs e DVDs piratas, diz que a abertura do Salvador
R$400 por mês com seu comércio; que fica no final da passarela que liga a Estação
opinião de dona Nilza e de outros vendedores que acreditam que a SESP não age como
antigamente. Um fiscal do órgão, que trabalha todos os dias na passarela que liga o
SESP estão mais tranqüilas e menos desorganizadas. Por conta dessa organização não é
necessário que haja aquelas grandes apreensões que aconteciam antigamente e eram
noticiados na mídia.
ilegal e primeiramente comunicá-lo para não permanecer no local até que ele adquira
exceções ocorrem quando o ambulante está num local oferecendo riscos a ele e/ou a
com que as pessoas busquem no comércio informal a saída para sustentar suas famílias.
Segundo ele, muitos vendedores vêm do interior e não têm formação escolar; por isso
apenas apreender as suas mercadorias não é a melhor solução. O fiscal diz que procura
Os baleiros também fazem parte do setor informal. Além das balas, eles vendem
Fonseca circula pela cidade inteira com uma cesta verde contendo os mais variados
produtos. Ele trabalha como ambulante há 30 anos e percebe que a concorrência está
cada vez maior por causa do desemprego. Para conseguir vender mais é necessário ser
diferente, e ter uma “guia” variada pode ajudar muito. José diz estar satisfeito com sua
profissão, que o ajuda a sustentar sua família e custear a Faculdade de Direito da filha
estiverem usando um colete verde. Essa peça é adquirida pelo vendedor na UNIVAL,
uma associação onde as pessoas pagam uma quantia de R$5 por mês para terem direito
verdade somos pessoas que lutamos para sobreviver trabalhando como qualquer outra
pessoa de carteira assinada,” afirma dona Nilza, que já sofreu preconceito e se revolta
com isso. Um pouco mais calmo do que ela, Ivoney também faz menção a uma idéia
comum a população, que acha que quem vende mercadoria na rua não tem cultura,
capacidade ou estudo.
Certa vez, uma “madame branca” consumiu e não quis pagar pelo lanche. A moça, que
aparentava ter boas condições financeiras já que estava muito bem vestida, discutiu com
praça, sempre movimentada, olhavam para Roseneide, que não conseguiu agüentar a
vergonha e chorou muito durante toda aquela tarde. O fato atingiu a vendedora de tal
maneira que hoje, meses depois da humilhação, ela ainda se emociona; sua voz e suas
Ana Rita, 49 anos, não se lembra de ter sofrido qualquer tipo de preconceito. Ela
já vendeu cocos e caldo de cana com seu marido, e hoje comercializa bolsas em uma
barraca na Rua Lima e Silva, a maior do bairro da Liberdade. O bairro é um dos mais
populosos de Salvador, e por isso carrega a característica de ser um dos pontos fortes do
comércio informal na cidade. A Lima e Silva é uma rua larga e extensa, mas como o
principal Rua da Liberdade. Isso porque, ao longo das calçadas, encontram-se diversas
barracas lado a lado contendo os mais variados produtos, desde apetrechos femininos
até jogos de Playstation. Essa aglomeração e conseqüente lentidão fazem com que os
transeuntes se desloquem para o meio da pista, onde disputam espaço com os carros em
iluminação. É grande, com inúmeras bolsas penduradas. Modelos para todos os gostos,
formas de trabalho, que “tudo tem seus prós e contras (...) com carteira assinada você
tem férias, salário em dia, 13º. No trabalho informal se você não trabalhar, você não tem
o pão de cada dia para comer”. Citou também que a renda é inconstante e lucro grande
mesmo, só nas épocas festivas. Mesmo demonstrando um maior interesse pelo trabalho
formal, ela possui as qualidades necessárias para um bom vendedor ambulante: é gentil,
A barraca de bolsas é legalizada pelo sindicato. “O prefeito disse que ainda vai
liberar a licença,” Ana Rita continua tendo problemas para obtê-la. Por enquanto, o
locomoção dos transeuntes, mas segundo Ana, “isso foi antes de organizar, porque
estava muito bagunçado, melhorou o comércio e a condição das pessoas passarem nas
calçadas” A moça diz que ela nunca teve suas mercadorias apreendidas; diferentemente
do seu marido, que na gestão anterior teve sua barraca de chapa, do modelo azul, tirada
do local.
O casal trabalha próximos um ao outro, as barracas têm uma distância máxima
composta por seus dois filhos, um é estudante enquanto o outro trabalha de carteira
Diferente de Ana Rita que trabalha há 22 anos como camelô, Iraci Ferreira, 36
anos, ainda está com o empreendimento ainda em fase de investimentos. Ela vende
roupas para todas as idades em uma barraca montada na frente do muro do Colégio
Duque de Caxias.
Iraci não demonstra satisfação quando fala da sua renda. A dificuldade dela em
obter lucros pode ser explicada pelo fato de sua barraca se localizar no lado da rua que
não possui tanto movimento. Percebe-se que do lado oposto ao Colégio Duque de
licença para o melhor ponto da Lima e Silva, mas não obteve êxito. Para conseguir a
licença, ela pagou uma quantia de R$6,80, essa taxa é referente à vistoria que tinha sido
feita no local. Segundo Paulo Viana, todo esse processo de um ambulante obter a
legalidade pode durar até 30 dias. Iraci terá que pagar anualmente R$127, divididos em
duas parcelas.
haver muitas reclamações dos transeuntes no que diz respeito à dificuldade em se andar
pela rua principal. Como explicou Ana Rita, essa organização implicou na retirada de
maior concentração.
legalmente. As melhorias são visíveis, aquela agonia causada pelas barracas montadas
desordenadamente diminuiu bastante. Ana Rita, Iraci e Wilson seguem suas vidas
lutando pelo “pão de cada dia,” assim como os outros ambulantes dessa região e das
outras regiões da cidade; inclusive das feiras que também movimentam o comércio
informal.
“O que vocês vão querer? Veneno pra matar rato, Viagra bebida? Eu tenho
tudo,” diz um homem empurrando um carro de mão na entrada da feira mais famosa de
Comércio, e lá está desde 1964, quando um incêndio destruiu sua antecessora localizada
em Água de Meninos. O local está sobre domínio da União, e segundo Joel Anunciação,
feira para justificar a saída desse lugar. Uma área valorizada pela sua proximidade com
o mar, pela sua localização com confluência de mais de uma centena de linhas de
ônibus, passam mais ônibus ali do que na própria Estação da Lapa e tem ligação com
todas as áreas da Cidade,” A Feira de São Joaquim também tem uma relação com a Ilha
cantos. Homens com caixas nos ombros ou manuseando carrinhos fazem verdadeiras
mais diversos produtos. Alheio a todo esse ritmo frenético, num corredor estreito e
agradável. Maria Ramos, 38, e Valdice Telles, 37, trabalham lado a lado, ambas
comercializando comidas e bebidas. Mas as semelhanças não param por aí. “Vem gente
de todo lugar. O público não é restrito à feira. As pessoas ligam, pedem almoço,” conta
Maria. Assim como sua colega, Valdice também afirma ter clientes fixos: “Vem gente
de fora. Quer um uísque?” Maria Ramos e Valdice Telles trabalham na Feira de São
anos, esbanja simpatia e bom humor. Entre o atendimento a um freguês e uma rápida
conversa com um colega, ele lembra com saudade da época que vendia 300 caixas de
cebola. Hoje só vende de 30 a 40. Para ele, essa queda nas vendas “se deve ao grande
número de mercados espalhados pela cidade, que, inclusive, vendem mais barato que a
acredita que a feira, num primeiro momento, perdeu espaço para os grandes
sustentou a família durante todos esses anos com as vendas na feira. Ele afirma que já
teve épocas que tinha dois carros, mas hoje a aposentadoria, junto com a ajuda do filho
na feira. Segundo a moça trabalhar na feira não faz ninguém ficar rico, mas dá para
mau cheiro proveniente das carnes que ficam expostas em locais abertos e sem proteção
afugenta a clientela. Valdice Telles diz que “a imagem da Feira é prejudicada pelas
explica que não há uma fiscalização na Feira devido a problemas judiciais. “Toda vez
que tentávamos realizar uma fiscalização, eles entravam com uma ação judicial”. Edson
também relata que a prefeitura e o SINDFEIRA iniciaram uma parceria, sendo que a
não adianta somente punir. “Eles só vêm fazer o trabalho de punição, de apreensão, e eu
acho isso errado. Anterior a esse trabalho é necessário ser feito uma trabalho de
cobra uma taxa de dez reais mensais. Isso é resultado de uma divulgação além das
fronteiras da Feira de São Joaquim (Rua Lima e Silva, Cosme de Farias, Abaeté, etc.);
mas também uma divulgação dentro da própria Feira, informando aos comerciantes das
vantagens obtidas com essa filiação: convênio com a SESC, serviço médico,
comprovante de renda, dentre outros serviços. Joel calcula que existam cerca de 7500
sindicato acredita que esse número seja maior. O SINDFEIRA e a prefeitura estão
trabalhando num projeto de requalificação da Feira de São Joaquim que visa melhorar
sua parte física, dar qualidade aos estabelecimentos e também educar os comerciantes.
não se pode esquecer que muitos desses trabalhadores gostam e se orgulham do que
fazem. É o caso de Ivoney dos Santos. “As pessoas acham que estamos aqui obrigados.
todas as vantagens como a estabilidade da renda, 13º salário e férias anuais, ainda
prefere trabalhar na Feira de São Joaquim, pois tem liberdade para fazer o quiser sem