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SOU CAMELÔ, SOU DO MERCADO INFORMAL.

Adalton dos Anjos, Rafael Santana, Tiago Lemos

Eles estão por em todos os lugares. Percorrendo as ruas com suas guias ou com

suas barracas fixas em um local, vendem os mais diversos produtos. Sob chuva e sob sol

os ambulantes e feirantes movimentam diariamente o mercado informal de Salvador. A

SESP (Secretaria dos Serviços Públicos) estima que existam cerca de 10600 ambulantes

licenciados na capital baiana, mas essa quantidade pode triplicar se considerarmos os

vendedores não-legalizados. O número elevado desses profissionais pode ser explicado

pelo alto índice de desemprego na cidade, que segundo a Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais da Bahia chegou a 19% da população em fevereiro.

Liberdade, Iguatemi, Avenida Sete de Setembro, Baixa dos Sapateiros e Feira de

São Joaquim são os locais que concentram a maior parcela dos trabalhadores informais

da cidade. Esses profissionais enfrentam o preconceito da população, a burocracia na

busca pela legalização e uma rotina desgastante; barreiras que tornam o trabalho deles

um desafio diário.

A Avenida Sete de Setembro, uma das maiores da cidade, liga o Largo de São

Bento ao Farol da Barra. No entanto, a maior concentração de comércio encontra-se

entre as Mercês e o Largo de São Bento. Fundada em 1915 pelo governador J.J. Seabra,

a avenida deixa de ser, nos anos 60, a avenida dos clubes sociais, residências, igrejas e

palacetes, passando a abrigar os lojistas Hoje, a arquitetura elaborada dos prédios mal

conservados divide espaço com os camelôs, que trabalham diariamente buscando

sustentar suas famílias.

O trecho das Mercês até o Largo de São Bento tem características sonoras e

visuais únicas. O barulho das buzinas e motores dos automóveis, as vozes dos

transeuntes conversando entre si, os gritos dos vendedores e o som emitido pelos
aparelhos de rádio ou TV, que estão ali para que os consumidores de CDs e DVDs

falsificados possam testar a mercadoria antes de comprá-la, ecoam por entre os vários

prédios e dão vida ao local.

Antes das 6h da manhã, as pessoas já começam a circular na Avenida Sete a

procura de consultórios médicos localizados em edifícios como o Fernandez e a

Fundação Politécnica, por exemplo, ou buscando a realização de algum outro serviço.

Desde que as filas começam a se formar na frente dos prédios, os ambulantes

comercializam alimentos para o café da manhã como mingau, mungunzá, café,

salgados, entre outros produtos. Enquanto isso, timidamente, outros camelôs estão

montando suas bancas e barracas, algumas delas padronizadas pela prefeitura; e as

esteiras de CDs e DVDs começam a cobrir parte da calçada para que as vendas se

iniciem.

Aos poucos as calçadas vão ficando mais estreitas e é como se a Avenida Sete

encolhesse à medida que os vendedores, transeuntes e consumidores vão chegando. O

pico é atingido às 10 horas da manhã, quando as barracas amarelas de aproximadamente

2 metros de altura se misturam à multidão, que anda como se estivesse no meio de um

desfile da Independência, ou até mesmo no Carnaval, manifestações comuns naquele

local.

Em meio às centenas de barracas montadas na Avenida Sete está a de Dona

Nilza (cujo sobrenome e idade não quis revelar), que vende produtos como brinquedos,

rádios portáteis e acessórios, produtos eletrônicos, entre outros; e está satisfeita com a

sua profissão. A vendedora, que trabalha há 25 anos como camelô legalizada junto à

prefeitura, compara a gestão da atual do prefeito João Henrique com a anterior, de

Antonio Imbassay, no que diz respeito à fiscalização dos trabalhadores ambulantes; e


afirma que “A gestão atual é relapsa, é terrível. É melhor para quem está na ilegalidade

do que para nós que pagamos”.

“Tem se tornado cada vez mais raras aquelas grandes apreensões e denúncias de

violência dos fiscais,” afirma o coordenador da SESP, Paulo Viana, que trabalha há 10

anos no órgão, que fica situado na Baixa dos Sapateiros, em uma rua deserta ao lado da

antiga agência da Caixa Econômica Federal. Internamente o local se assemelha a

qualquer repartição pública com seus longos corredores e sofás para espera;

funcionários transitando entre as várias salas e poucos ambulantes aguardando a sua vez

de serem atendidos.

A camelô não reclama da taxa que paga anualmente; ela tem consciência que os

ambulantes estão ocupando um solo público. Nilza acha que o “papel” da licença dá

maior segurança ao camelô no trabalho, já que antes os fiscais poderiam tomar

mercadorias dos ambulantes e esses não tinham como recorrer. A fiscalização mais

branda prejudica trabalhadores como Dona Nilza, pois os custos com a taxa anual

precisam ser repassados no preço final dos produtos. As pessoas que não pagam essa

taxa podem vender suas mercadorias mais baratas e ter um maior lucro.

A região da Praça da Piedade concentra características arquitetônicas antigas – o

prédio da Faculdade de Economia da UFBA, a fachada do curso Grandes Mestres e a

Igreja da Piedade – e um elemento que representa a modernidade inerente às grandes

cidades, o Shopping Center, provocando um contraste visual interessante. Como que

para reforçar ainda mais esse contraste, os idosos aproveitam o clima agradável para

jogar umas partidas de dama ou baralho; pessoas passam com muita pressa vinda de

todas as direções, e os mendigos que sobrevivem com a solidariedade da população

também fazem parte daquele ambiente.


Do lado direito do ponto de ônibus da Praça da Piedade está Roseneide, uma

mulher tímida e com receio em falar, que monta sua barraca de lanches e bebidas todos

os dias no mesmo local desde 2004. A vendedora tenta adquirir seu alvará, mas o fato

de ela vender lanches - salgados e cachorros-quentes - acabou obrigando-a a comprar

um carrinho para conservar os alimentos. Roseneide deu entrada no carrinho, que

custou R$1900, e ainda paga as últimas prestações na esperança de conseguir a licença.

Enquanto isso não acontece, ela segue vendendo seus lanches na Praça da Piedade e fica

apreensiva todas as vezes que passa um fiscal da prefeitura. Ela sabe que geralmente nas

épocas em que a Praça está muito cheia de ambulantes, a fiscalização fica mais intensa,

mas até hoje Roseneide nunca teve suas mercadorias apreendidas.

Em frente à Praça da Piedade e do lado direito do Shopping Lapa fica localizada

a saída da Rua Junqueira Aires. O local ainda não está bem organizado, barracas, carros

e pessoas se misturam na ladeira inclinada. O tráfego de pessoas é intenso naquela rua

por conta da presença de dois Shoppings Centers, além da existência de vários

estabelecimentos comerciais em toda sua extensão. As calçadas são estreitíssimas, e

encostadas ao meio-fio estão as barracas dos vendedores disputando espaço com os

carros na rua.

Uma fila de barracas amarelas com a logomarca da prefeitura se forma da porta

do Shopping Lapa, quase no início da ladeira, até depois da porta do Shopping Piedade,

localizado em um ponto menos inclinado. Nessa parte mais plana, há 12 anos, o artesão

Ivoney dos Santos produz brincos, pulseiras, colares, anéis e outros acessórios. Durante

todo esse tempo ele já presenciou diversas ações da fiscalização naquele local.

Ivoney conta que já viu vários vendedores de CDs e DVDs piratas perderem

tudo nas ações dos agentes da SESP. Em casos de pirataria o prejuízo é grande, pois os

fiscais da prefeitura não devolvem os produtos nem mediante o pagamento de uma taxa,
como acontece com outros tipos de mercadorias. Ivoney já viu suas mercadorias serem

recolhidas por esses fiscais na época que não tinha alvará, mas como era artesão, só

precisou pagar uma taxa e deu entrada ao processo de licenciamento para ter de volta os

itens de sua barraca.

Quando Ivoney se licenciou, precisou levar apenas o RG, o CPF e o

comprovante de residência, pelo fato de ele vender apenas produtos não perecíveis.

Entretanto, se a mercadoria fosse de produtos perecíveis, além da documentação

anterior ele deveria levar um atestado de saúde, para comprovar que é saudável, e o

equipamento usado na conservação dos produtos esteja em boas condições de higiene.

A meta principal das apreensões, atualmente, é fazer os ambulantes entenderem

que é errado permanecer na ilegalidade, segundo Paulo Viana. Isso funcionou com

Ivoney. O diálogo e o respeito ao camelô foram essenciais nesse trabalho. Contudo,

segundo o coordenador da SESP, a mídia utilizou por muito tempo a expressão

pejorativa “RAPA” para designar os agentes da prefeitura, desrespeitando esses

profissionais. Ele explica que esse nome significa ave de rapina e caracteriza os fiscais

como ladrões. “Na verdade o trabalho da fiscalização é cumprir a lei,” declarou o

coordenador.

Júnior já teve suas mercadorias apreendidas algumas vezes. O rapaz vende CDs

e DVDs piratas na descida da Estação da Lapa, outra área daquela região com grande

concentração de camelôs. Na última vez que os fiscais levaram seus produtos, há dois

meses, ele perdeu R$900. “Eles aparecem a qualquer momento e se a gente não fugir

rápido é certeza de que as mercadorias vão ser apreendidas,” relata Júnior, que diz estar

tentando conseguir o alvará, mas para isso precisará trocar de mercadoria.

Descendo a ladeira onde Júnior se encontrava, outros vendedores, cada vez mais

criativos, levam o aparelho de DVD e a TV para que o consumidor possa testar o


produto antes de comprar. Mas, muitos transeuntes têm feito reclamações na SESP a

respeito desses camelôs, especialmente na descida da Estação da Lapa, pois eles exibem

filmes pornográficos a qualquer hora, sem se preocupar com idosos, crianças e até

mesmo adultos que passam a todo o momento pela região.

O grande problema nesses casos é o baixo número de fiscais da prefeitura para

apreender produtos falsificados. A rigor, esse é um trabalho da Polícia Civil e da Polícia

Federal, mas como essas mercadorias são vendidas em logradouros públicos a

fiscalização acaba recolhendo o material falso e os destrói posteriormente.

As saídas dos Shoppings Centers parecem atrair bastante os camelôs. Ivoney,

que já trabalhou na Avenida Sete de Setembro, conhece as diferenças desses públicos;

as pessoas que procuram o Shopping estão mais dispostas a comprar. Seguindo essa

teoria e buscando fugir da região central da cidade como a Lapa, Avenida Sete e a Baixa

dos Sapateiros, que já estão saturadas, o Iguatemi e a saída da Rodoviária passaram a

ser pontos alternativos de concentração de camelôs. Gilson (cujo nome completo ele

não quis revelar), vendedor de CDs e DVDs piratas, diz que a abertura do Salvador

Shopping melhorou a situação de vendas no lugar. Ele consegue ganhar de R$350 a

R$400 por mês com seu comércio; que fica no final da passarela que liga a Estação

Iguatemi ao Centro Empresarial Iguatemi.

Gilson já teve suas mercadorias apreendidas 3 vezes, e afirmou que

independentemente da gestão municipal a fiscalização continua rigorosa, contrariando a

opinião de dona Nilza e de outros vendedores que acreditam que a SESP não age como

antigamente. Um fiscal do órgão, que trabalha todos os dias na passarela que liga o

Shopping Iguatemi à Rodoviária, chamado Dilson explica que realmente as ações da

SESP estão mais tranqüilas e menos desorganizadas. Por conta dessa organização não é
necessário que haja aquelas grandes apreensões que aconteciam antigamente e eram

noticiados na mídia.

O trabalho atual das ações de fiscalização consiste em localizar o ambulante

ilegal e primeiramente comunicá-lo para não permanecer no local até que ele adquira

uma licença da prefeitura. Em casos de reincidência, a mercadoria é apreendida. As

exceções ocorrem quando o ambulante está num local oferecendo riscos a ele e/ou a

outros; quando a mercadoria oferece risco à saúde do consumidor ou quando os

produtos são falsificados. Nestes casos não existe a etapa da notificação.

Dilson tem noção de que a questão do desemprego em Salvador é grave e faz

com que as pessoas busquem no comércio informal a saída para sustentar suas famílias.

Segundo ele, muitos vendedores vêm do interior e não têm formação escolar; por isso

apenas apreender as suas mercadorias não é a melhor solução. O fiscal diz que procura

orientar as pessoas a procurar a SESP e fazerem o cadastramento.

Os baleiros também fazem parte do setor informal. Além das balas, eles vendem

chicletes, chocolates e outras diversas guloseimas nos ônibus soteropolitanos. José

Fonseca circula pela cidade inteira com uma cesta verde contendo os mais variados

produtos. Ele trabalha como ambulante há 30 anos e percebe que a concorrência está

cada vez maior por causa do desemprego. Para conseguir vender mais é necessário ser

diferente, e ter uma “guia” variada pode ajudar muito. José diz estar satisfeito com sua

profissão, que o ajuda a sustentar sua família e custear a Faculdade de Direito da filha

em uma instituição particular.

O acesso dos baleiros aos ônibus urbanos em Salvador é permitido se esses

estiverem usando um colete verde. Essa peça é adquirida pelo vendedor na UNIVAL,

uma associação onde as pessoas pagam uma quantia de R$5 por mês para terem direito

a usar o colete e vender seus produtos.


O preconceito também é um elemento que faz parte do dia-a-dia do trabalhador

ambulante. “Criou-se um histórico que o vendedor ambulante era ladrão, mas na

verdade somos pessoas que lutamos para sobreviver trabalhando como qualquer outra

pessoa de carteira assinada,” afirma dona Nilza, que já sofreu preconceito e se revolta

com isso. Um pouco mais calmo do que ela, Ivoney também faz menção a uma idéia

comum a população, que acha que quem vende mercadoria na rua não tem cultura,

capacidade ou estudo.

A humilhação e o desrespeito já fizeram Roseneide chorar na Praça da Piedade.

Certa vez, uma “madame branca” consumiu e não quis pagar pelo lanche. A moça, que

aparentava ter boas condições financeiras já que estava muito bem vestida, discutiu com

a ambulante, agredindo-a verbalmente antes de pagar pelo produto. Todos ao redor da

praça, sempre movimentada, olhavam para Roseneide, que não conseguiu agüentar a

vergonha e chorou muito durante toda aquela tarde. O fato atingiu a vendedora de tal

maneira que hoje, meses depois da humilhação, ela ainda se emociona; sua voz e suas

mãos ficam trêmulas e os olhos enchem de lágrimas ao se lembrar desta história.

Ana Rita, 49 anos, não se lembra de ter sofrido qualquer tipo de preconceito. Ela

já vendeu cocos e caldo de cana com seu marido, e hoje comercializa bolsas em uma

barraca na Rua Lima e Silva, a maior do bairro da Liberdade. O bairro é um dos mais

populosos de Salvador, e por isso carrega a característica de ser um dos pontos fortes do

comércio informal na cidade. A Lima e Silva é uma rua larga e extensa, mas como o

fluxo de veículos é intenso, o trânsito fica constantemente lento.

Assim como os automóveis, as pessoas também trafegam lentamente nessa

principal Rua da Liberdade. Isso porque, ao longo das calçadas, encontram-se diversas

barracas lado a lado contendo os mais variados produtos, desde apetrechos femininos

até jogos de Playstation. Essa aglomeração e conseqüente lentidão fazem com que os
transeuntes se desloquem para o meio da pista, onde disputam espaço com os carros em

movimento ou estacionados de maneira irregular junto à calçada.

A barraca de Ana Rita fica situada em frente a um banco, perto de um poste de

iluminação. É grande, com inúmeras bolsas penduradas. Modelos para todos os gostos,

de várias formas e cores.Ela já trabalhou de carteira assinada, e comenta, sobre as duas

formas de trabalho, que “tudo tem seus prós e contras (...) com carteira assinada você

tem férias, salário em dia, 13º. No trabalho informal se você não trabalhar, você não tem

o pão de cada dia para comer”. Citou também que a renda é inconstante e lucro grande

mesmo, só nas épocas festivas. Mesmo demonstrando um maior interesse pelo trabalho

formal, ela possui as qualidades necessárias para um bom vendedor ambulante: é gentil,

comunicativa, simpática e sabe tratar bem o cliente.

A barraca de bolsas é legalizada pelo sindicato. “O prefeito disse que ainda vai

liberar a licença,” Ana Rita continua tendo problemas para obtê-la. Por enquanto, o

processo para conquistar o licenciamento definitivo está em andamento e ela atualmente

paga o sindicato, mas a licença, só no mês de Junho.

Essa vendedora não deixa de elogiar a organização do mercado informal, que

antigamente era muito desorganizado, com barracas atrapalhando as pessoas que

passavam. A imprensa criticava constantemente esses problemas. Agora melhorou

consideravelmente. A imprensa sempre fazia matérias denunciando a dificuldade de

locomoção dos transeuntes, mas segundo Ana, “isso foi antes de organizar, porque

agora a prefeitura fez um trabalho, diminuiu as barracas, padronizou, porque antes

estava muito bagunçado, melhorou o comércio e a condição das pessoas passarem nas

calçadas” A moça diz que ela nunca teve suas mercadorias apreendidas; diferentemente

do seu marido, que na gestão anterior teve sua barraca de chapa, do modelo azul, tirada

do local.
O casal trabalha próximos um ao outro, as barracas têm uma distância máxima

de 2 metros. O rendimento proveniente das vendas de cocos e bolsas sustenta a família

composta por seus dois filhos, um é estudante enquanto o outro trabalha de carteira

assinada e também ajuda em casa.

Diferente de Ana Rita que trabalha há 22 anos como camelô, Iraci Ferreira, 36

anos, ainda está com o empreendimento ainda em fase de investimentos. Ela vende

roupas para todas as idades em uma barraca montada na frente do muro do Colégio

Duque de Caxias.

Iraci não demonstra satisfação quando fala da sua renda. A dificuldade dela em

obter lucros pode ser explicada pelo fato de sua barraca se localizar no lado da rua que

não possui tanto movimento. Percebe-se que do lado oposto ao Colégio Duque de

Caxias o movimento de pessoas e o comércio é mais ativo. A vendedora tentou pedir a

licença para o melhor ponto da Lima e Silva, mas não obteve êxito. Para conseguir a

licença, ela pagou uma quantia de R$6,80, essa taxa é referente à vistoria que tinha sido

feita no local. Segundo Paulo Viana, todo esse processo de um ambulante obter a

legalidade pode durar até 30 dias. Iraci terá que pagar anualmente R$127, divididos em

duas parcelas.

Segundo o coordenador da SESP, a Liberdade está sendo organizada pelo fato de

haver muitas reclamações dos transeuntes no que diz respeito à dificuldade em se andar

pela rua principal. Como explicou Ana Rita, essa organização implicou na retirada de

alguns ambulantes do local e da proibição da instalação de novas barracas nos pontos de

maior concentração.

Com isso, a Liberdade vai tendo seu comércio informal estabelecendo-se

legalmente. As melhorias são visíveis, aquela agonia causada pelas barracas montadas

desordenadamente diminuiu bastante. Ana Rita, Iraci e Wilson seguem suas vidas
lutando pelo “pão de cada dia,” assim como os outros ambulantes dessa região e das

outras regiões da cidade; inclusive das feiras que também movimentam o comércio

informal.

A MAIOR FEIRA DO ESTADO

“O que vocês vão querer? Veneno pra matar rato, Viagra bebida? Eu tenho

tudo,” diz um homem empurrando um carro de mão na entrada da feira mais famosa de

Salvador, a de São Joaquim. A Feira de São Joaquim fica localizada no bairro do

Comércio, e lá está desde 1964, quando um incêndio destruiu sua antecessora localizada

em Água de Meninos. O local está sobre domínio da União, e segundo Joel Anunciação,

presidente do SINDFEIRA (Sindicato do Comércio Varejista e Ambulante da Cidade do

Salvador) há um ano e meio: “existiu todo um trabalho no sentido de desqualificar a

feira para justificar a saída desse lugar. Uma área valorizada pela sua proximidade com

o mar, pela sua localização com confluência de mais de uma centena de linhas de

ônibus, passam mais ônibus ali do que na própria Estação da Lapa e tem ligação com

todas as áreas da Cidade,” A Feira de São Joaquim também tem uma relação com a Ilha

de Itaparica, facilitada pela sua proximidade com o Ferry-Boat.

A Feira vive em uma agitação constante. Consumidores circulam por todos os

cantos. Homens com caixas nos ombros ou manuseando carrinhos fazem verdadeiras

manobras para se esquivar da multidão. Comerciantes se esforçam para vender seus

mais diversos produtos. Alheio a todo esse ritmo frenético, num corredor estreito e

apertado, estão localizados os boxes de duas mulheres simpáticas e de conversa

agradável. Maria Ramos, 38, e Valdice Telles, 37, trabalham lado a lado, ambas

comercializando comidas e bebidas. Mas as semelhanças não param por aí. “Vem gente
de todo lugar. O público não é restrito à feira. As pessoas ligam, pedem almoço,” conta

Maria. Assim como sua colega, Valdice também afirma ter clientes fixos: “Vem gente

de fora. Quer um uísque?” Maria Ramos e Valdice Telles trabalham na Feira de São

Joaquim há seis e oito anos, respectivamente.

Há vinte e seis anos vendendo frutas e verduras na Feira, Miguel Cosme, 71

anos, esbanja simpatia e bom humor. Entre o atendimento a um freguês e uma rápida

conversa com um colega, ele lembra com saudade da época que vendia 300 caixas de

cebola. Hoje só vende de 30 a 40. Para ele, essa queda nas vendas “se deve ao grande

número de mercados espalhados pela cidade, que, inclusive, vendem mais barato que a

Feira.” Opinião compartilhada pelo presidente do SINDFEIRA, Joel Anunciação. Ele

acredita que a feira, num primeiro momento, perdeu espaço para os grandes

supermercados, e agora vem perdendo para os pequenos e mini-mercados. Miguel

sustentou a família durante todos esses anos com as vendas na feira. Ele afirma que já

teve épocas que tinha dois carros, mas hoje a aposentadoria, junto com a ajuda do filho

e seu trabalho na feira, quase não compõe a renda mensal da família.

A família de Valdice também é ajudada com o dinheiro proveniente das vendas

na feira. Segundo a moça trabalhar na feira não faz ninguém ficar rico, mas dá para

sobreviver e pagar as contas. Miguel tem a mesma opinião da vendedora a respeito do

dinheiro conseguido no local.

Uma questão problemática na Feira de São Joaquim diz respeito à higiene.

Muitos comerciantes reclamam da presença de ratos e baratas no local. Além disso, o

mau cheiro proveniente das carnes que ficam expostas em locais abertos e sem proteção

afugenta a clientela. Valdice Telles diz que “a imagem da Feira é prejudicada pelas

pessoas que vendem carne estragada,” e acrescenta: “existem açougues organizados e

outros não. A fiscalização raramente aparece”.


Edson dos Santos, funcionário da SESP do setor de feiras e mercados livres,

explica que não há uma fiscalização na Feira devido a problemas judiciais. “Toda vez

que tentávamos realizar uma fiscalização, eles entravam com uma ação judicial”. Edson

também relata que a prefeitura e o SINDFEIRA iniciaram uma parceria, sendo que a

prefeitura é a responsável pela iluminação, pavimentação e limpeza do local. Joel

Anunciação critica as ações da prefeitura com a vigilância sanitária. Em sua opinião,

não adianta somente punir. “Eles só vêm fazer o trabalho de punição, de apreensão, e eu

acho isso errado. Anterior a esse trabalho é necessário ser feito uma trabalho de

educação, de informação (...) agora quando o trabalho é apenas punitivo, nós do

sindicato nos colocamos na defesa dos nossos companheiros”.

Em pouco mais de um ano, 600 novas pessoas se filiaram ao sindicato, que

cobra uma taxa de dez reais mensais. Isso é resultado de uma divulgação além das

fronteiras da Feira de São Joaquim (Rua Lima e Silva, Cosme de Farias, Abaeté, etc.);

mas também uma divulgação dentro da própria Feira, informando aos comerciantes das

vantagens obtidas com essa filiação: convênio com a SESC, serviço médico,

comprovante de renda, dentre outros serviços. Joel calcula que existam cerca de 7500

trabalhadores na feira e a informação sobre o número de visitantes é que

aproximadamente 10 mil pessoas passem por lá todos os dias, mas o presidente do

sindicato acredita que esse número seja maior. O SINDFEIRA e a prefeitura estão

trabalhando num projeto de requalificação da Feira de São Joaquim que visa melhorar

sua parte física, dar qualidade aos estabelecimentos e também educar os comerciantes.

Existem muitos camelôs e feirantes na cidade de Salvador e, sem dúvida, o

principal motivo é o grande número de desempregados que aqui se encontram. Porém,

não se pode esquecer que muitos desses trabalhadores gostam e se orgulham do que
fazem. É o caso de Ivoney dos Santos. “As pessoas acham que estamos aqui obrigados.

Mas muitos, como eu, têm orgulho de trabalhar como camelô”.

Valdice Telles, apesar de já ter trabalhado de carteira assinada e ter conhecido

todas as vantagens como a estabilidade da renda, 13º salário e férias anuais, ainda

prefere trabalhar na Feira de São Joaquim, pois tem liberdade para fazer o quiser sem

precisar cumprir horários de chegada ou saída nem dar satisfações a ninguém.

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