- desde o seu incio, a clnica freudiana se props de ir alm
da subjetividade, compreendendo tambm as produes culturais (economia libidinal do vnculos sciopoliticos da modernidade)
- a anlise freudiana das disposies individuais se inicia a
partir daqueles que portavam as marcas do fracasso da razo
- O que Freud procura transformar o patolgico em chave
compreensiva do saldo necessrio da ontognese das capacidades prtico-cognitivas de sujeitos socializados. O que no poderia ser diferente para algum que acre- dita que a conduta patolgica expe, de maneira ampliada (Freud fala de Vergrsserung e Vergrberung), o que est realmente em jogo no processo de formao das condutas sociais gerais. - Se atiramos ao cho um cristal, ele se parte, mas no arbitrariamente. Ele se parte, segundo suas linhas de clivagem, em pedaos cujos limites, embora fossem invisveis, estavam determinados pela estrutura do cristal (FREUD, 1999c, p. 64). O patolgico este cristal partido que, graas sua quebra, fornece a inteligibilidade do comporta- mento definido como normal. - Do ponto de vista qualitativo, o patolgico mostra aquele ponto de quebra que no comportamento normal foi cindido, dissociado.
*Modernizao e maturao
- Freud utiliza pra sua noo de patologia a ideia de
regresso, no qual o indivduo portador de transtorno mental vai no sentido inverso da maturao psquica normal, substituindo funes complexas e superiores, por funes mais simples e restritas.
- Freud tambm se utilizou da ideia de que o
desenvolvimento ontogentico repetia em uma velocidade infinitamente maior o desenvolvimento filogentico. - Para Foucault, a teoria freudiana era assentada em cima de dois mitos: mito de uma substncia psicolgica que progrediria no desenvolvimento individual e social; e o mito da similitude entre ontognese e filognese.
- Freud observava a vida social pautada pelo
desenvolvimento de trs grandes blocos: animista, religiosa e cientfica.
- O animismo seria a crena que as percepes carregam
consigo a alucinao de pr-lgica humana. Essa maneira de vida social estaria relacionada, para Freud, a viso narcsica do indivduo, ou seja, que tudo que existe ao redor s pode ser explicado a partir do prprio indivduo.
O problema do Supereu
- a religio aparece quando o indivduo se depara com o
desamparo, compreendido enquanto conscincia da impossibilidade de apreenso de sentido de todas relaes. Esse desamparo embasado por um angstia existencial advinda de trs fatores: antropologia da finitude (assuno da morte); diferena sexual; ou da contingncia absoluta do objeto de desejo. apreenso fenomenolgica da ruptura homem/natureza
- podemos compreender que, pautado nessa noo de
desamparo humano, em um momento histrico em que se notava a impossibilidade da compreenso do sentido como totalidade de relaes e de participao entre home e natureza; para poder abstrair concepes sociais a partir do ponto de vista subjetivo.
- A internalizao da lei parental atravs do supereu , para
Freud, signo sempre legvel de uma demanda de amor, e saber-se objeto amado por um Outro (que representante da Lei simblica), saber-se potencialmente protegido por algum a quem reconheo certa fora tem, para o sujeito, o valor da anulao de uma posio existencial de pura contingncia. Isso explicaria, por exemplo, por que, para Freud, as representaes tico-religiosas da divindade sero assim necessariamente portadoras de traos superegicos. (p. 10)
- Freud sempre parte do pressuposto entre a organizao
familiar para explicar a estruturao de instituies sociais. Como por exemplo, toma a relao de cada homem com deus como estruturada atravs de sua relao com seu pai carnal.
- Aquele que carrega a funo de autoridade na famlia seria
representante da Lei que determina o princpio de estruturao do universo simblico das massas.
- Isto talvez se explique pelo fato de o supereu no ser
exatamente a internalizao de um conjunto de regras e normas que visam orientar a conduta e o desejo. Antes, ele indica a constituio e internalizao de uma representao fantasmtica de autoridade que sempre acompanhar o sujeito. Ele o complemento fantasmtico necessrio para minha aquiescncia regra e norma. Tal representao , ao mesmo tempo, objeto de amor (por ocupar o lugar para o qual minhas demandas de amparo se dirigem, por alimentar minhas expectativas de gratificao, por aparecer como promessa de segu- rana e proteo) e de dio (por suas injunes serem vivenciadas de maneira restritiva). (p. 11)
- as injunes feitas pelo supereu so, necessariamente,
desprovidas de sentido, pois visam manter o sujeito em seu sentiment de inadequao frente a uma representao fantasmagrica de autoridade. Para evitar o contato direto do sujeito com seu desamparo existencial, as leis impostas pelo supereu so necessariamente superlativas, nunca podendo ser realizadas pelo indivduo. Ou seja, substitui-se o sentiment de impotncia frente a realiadade existencial pela impotncia frente a uma autoridade fantasmagrica.
- Para Freud, o real progresso cientfico viria de um
abandono libidinal de representaes superegicas e assuno do desamparo existencial de cada indivduo. Essa mudana de posio no ocorrer sem uma renovao da modernidade sociocultural pautada pela sada neurtica ao complexo de dipo investimento libidinal de figuras superegoicas.
- Vivemos em uma modernidade bloqueada porque os
campos da poltica, da organizao familiar, dos processos de constituio da subjetividade e da reproduo da vida material ainda se organizariam a partir de noes de autoridade, de culpabilidade, de providncia, de soberania e de necessidade claramente geradas no interior de prticas e instituies prprias a uma viso religiosa de mundo. Esse ncleo teolgico- poltico seria facilmente encontrvel na maneira com que constitumos representa- es de autoridade a partir de expectativas de segurana e proteo cuja matriz viria de experincias infantis. Ao falar, por exemplo, que a autoridade paterna na famlia burguesa fornece o quadro explicativo para a compreenso das disposies de conduta presentes em prticas religiosas, Freud no quer simplesmente dizer que a religio no passa de projeo de conflitos familiares. Ele quer dizer que a famlia burguesa, pilar dos processos de socializao de sujeitos modernos desencantados, estruturalmente dependente de configuraes tico-religiosas. Ou seja, Freud quer insistir que nossas sociedades no so desencantadas, mas fundamentadas em uma estrutura teolgico- poltica peculiar. (p. 14)
Poltica Freudiana
- O mito do pai primevo assim a represen- tao
imaginria prpria a um tempo que v a essncia de todo poder como regulao e administrao biopoltica da satisfao subjetiva. Se o mito aquilo que fornece uma matriz explicativa capaz de guiar a conduta dos sujeitos diante de certos conflitos socialmente vivenciados, ento podemos dizer que, atravs do mito do pai primevo, Freud acaba por nos dizer que o sujeitos modernos agem como quem v instituies e figuras reconhecidas de autoridade como instauradoras e responsveis por uma distri- buio desigual das possibilidades de satisfao subjetiva. Como tais instituies e figuras no so vistas simplesmente como repressivas, mas tambm como constitutivas (j que atravs da minha identificao a elas que me constituo como sujeito), ento minhas exigncias de redistribuio so, no fundo, demandas de reconhecimento que perpetuam tais instituies e figuras enquanto acolhedoras de minhas demandas e exigncias. daquele contra o qual me bato que espero meu reconhecimento. O que nos explica por que, no mito freudiano, a morte do pai seguida da conservao de seu lugar atravs de representaes sociais. (p. 16)
- A autoridade que garante a fora da lei (e aqui
poderamos fornecer uma espcie de base psicanaltica para a temtica do respeito como sentimento moral), ou antes, a conscincia da autoridade da lei no autnoma em relao produo social de representaes imaginrias da fora presente em instituies sociais, em especial, na famlia. Essa fundao fantasmtica faz com que a vida social no seja estruturada atravs de regras potencialmente enunciadas pelo ordenamento jurdico, mas por fantasias que determinam a significao e os modos de aplicao de injunes que tm fora de lei. Esse seria o resultado de admitir que aquilo que procura ter validade categria e incondicional para ns indissocivel de sua gnese emprica ou, se quisermos, de sua gnese psicolgica. (p. 18)
CARBONARI, Paulo C. Sujeito de direitos humanos: questões abertas e em construção. In: SILVEIRA, Rosa M. et.al. Educação em direitos humanos:fundamentos teórico-metolológicos. João Pessoa: Universitária, 2007.
A Relação Entre A Política No Estado Moderno e o Processo de Constituição Da Consciência: Análise Das Contribuições Do Marxismo e Da Psicologia Histórico-Cultural