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O autor como predutor Conferéncia pronunciada no Instituto para o Estudo do Fascismo, em 27 de abril de 1934 slot cde pogner tes ntlectucs dla clase rire, en leur fist prendre conscience de Fidenié de fours dé- marches spirtuelles et de leurs conditions de producteur. Ramon Fernandez, pon ant 9, tatament reservado por Platio aos Poetas em sue Repdbiza. No interesse da comunidad, ele os exclu do Estado, Platio tna um alto conceito do poder da boss, Porém julgava-a prejudicial, supéflva numa comin ade perfeita, bem entendido. Desde entio, a questao do di- reito@ existéncia do pocta raramente tem sido ealocada com cssaEnfase; mas ela se coloes hoje. Nao se cola, em gera nessaforma, Mass questfo vos & mais ou menos familiar sob ¢ forma do problema da sutonomia do autor: su iberdade de cectever o que quiser. Em vossa opnido, a situagdo social centemporaneao ores a decidir favor de que causa colocard maa iidade 0 sxeitor ureués, ae produz obras destin: das versio, ihece essa alternative. Vés the de- monstrais que, sem o admit ele trabalha a servico de certs interesses de classe, O escritor progresssta conhece ess ater- nativa, Sua decisd se dé no campo da iota de classes, na qual Sei do proletariado. E 0 fim de sua autonomia. ividade ¢ orientada em fungio do que for itil ao prole- ‘ariado, na luta de classes. Costuma-se dizer que ele obedece a oI ] MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA m Eis a palavra de ordem. Em torno dela, hi muito se trava ‘um debate, que vos é familiar. Como ele vos ¢ familiar, sabeis também que esse debate tem sido estéril. Ele nfo conseguiu libertar-se da enfadonha dicotomia por um lado-por outro lado: por um lado devemos exigir que o autor siga a tendéncia correta, e por outro lado temos direito de exigit que sua pro- Gucao seja de boa qualidade. Essa formula é atualmente insu- fickente, na medida em que nao conhecemos a verdadeira re- lato existente entre os dois fatores: tendéncia e qualidade. Obviamente, podemos postular, por decreto, a natureza dessa relagio. Podemos dizer que uma obra caracterizada pela ten- Geneia justa nfo precisa ter qualquer outra qualidade. Pode- mos também decretar que uma obra caracterizada pela ten- Géncia justa deve ter necessariamente todas as outras quali- dades. ‘A segunda formulagio nfo é desinteressante. Mais do que isso: ela é verdadeira. Nao hesito em aderir a ela. Mas, 20 fazé-lo, recuso-me a aceiti-la como decreto. A afirmagio deve ser provada. E para essa prova que rogo vossa atenao. Obje- tarels talvez que se trata de um tema excessivamente especiali- zado, ¢ mesmo académico. Como promover, com essa Prova, © conhecimento do fascismo? E, no entanto, é exatamente 0 {que me proponho a fazer. Pois espero mostrar-vos que © con- ceito de tendéncia, na forma rudimentar em que ele aparece naquele debate, é um instrumento inteiramente inadequado para a critica literéria politicamente orientada, Pretendo mos- frar-vos que a tendéncia de uma obra literaria s6 pode ser cor- eta do ponto de vista politico quando for também correta do ponto de vista literdrio, sso significa que a tondéncia politica- Tnente correta inclui uma tendéncia literdria. Acrescento ime~ diatamente que é essa tendéncia literdria, e nenhuma outra, contida implicita ou explicitamente em toda tendéncia poli- tica correta, que determina a qualidade da obra, Portanto, a tendéneia politica correta de uma obra inelui sua qualidade literdria, porque inclui sua tendéneia litera. Creio poder prometer-vos que essa afirmagio se tornaré mais clara a seguir. No momento, reconheco que poderia ter escolhido outro ponto de partida, Parti do debate estéril sobre fa relagdo entre a tendéncia e a qualidade de uma obra lite- raria, Poderia ter partido do debate ainda mais antigo e nfo menos estéril sobre a relagao entre forma e contetido, sobre- im WALTER BENJAMIN tudo na literatura politica. Essa problemética nio tem hoje oa reputagio, e com toda justica. Ela é considerada o caso exemplar da tentativa de abordar fendmenos literarios de modo antidialético, através de esterestipos. Bem. Mas qual seria otratamento dialético da mesma questio? © tratamento dialético dessa questo, e com isso entro em meu tema, nao pode de maneira alguma operar com essa coisa tigida ¢ isolada: obra, romance, livro. Ele deve situ esse objeto nos contextos sociais vivos. Direls, com raza, que nnoss0s companheiros ofizeram repetidamente. E verdade. So, mente, muitas dessas tentativas partiram diretamente par urandesperspetivas com iso permaneceram vag. sabe. Iue as relacdes sociais sio condicionadas pelas relagd de produgto, Quando a cxlica materialista sbordave sana obra, costumava perguntar como ela se vinculava is relagées sociais de producao da época. E uma pergunta importante Mas é também uma pergunta dificil. Sua resposta no € sem. pre inequivoca. Gostaria, por isso, de propor uma pergunta mais imediata. Uma pergunta mais modesta, de vo mais curto, mas que em minha opinio oferece melhores perspec: tivas de sor respondida. Em vez de perguntar: como se vincula uma obra com as relagdes de produgdo da época? E compati- vel com elas, e portanto reacionétia, ou visa sua transforma. si0, e portanto é revoluciondria? — em vex. dessa pergunta ou pelo menos antes dela, gostaria de sugerir-vos outra. An- tes, pois, de perguntar como uma obra literiria se situa no to- cante as relacdes de produgio da época, gostaria de pergun- far: como ela se situa dentro dessas relacdes? Essa pergunta visa imediatamente a fungo exercida pela obra no interior das relagbes lierrias de produgio de uma época. Em otras Paleoras, ela visa de modo imediato técnica literdria das Designei com o conceito de técnica torna os prodotosteracos acess ana anne medina, ‘mente social, e portanto a uma andlise materialista, Ao mes- zo tempo, o conceito de tésnica representa o ponto de partida fialético para uma superaco do contraste infecundo entre forma. contetido. Além disso, o conceito de téenica pode aju- dar-nos a definir correlamente a relagto entre tendéncia ¢ qualidade, mencionada no inicio, Se em nossa primeira for- mulagdo dissemos que a tendéneia politica correta de uma MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA Fea} obra inclui sua qualidade literdria, porque inclui sua tendén- cia literaria, & possivel agora dizer, mais precisamente, que ‘essa tendéncia literaria pode consistir num progresso ou num retrocesso da técnica literaria. Certamente terei vossa aprovago se passar agora, de modo s6 aparentemente abrupto, para condigées literdrias muito coneretas: as russas, Gostaria de pedir vossa atencio para Sergei Tretiakov, e para o tipo do escritor “operative”, por ele definido e personificado. Esse escritor operative pro- porciona o exempio mais tangivei da interdependéncia fun- cional que existe sempre entre a tendéncia politica correta ea técnica literaria progressista. E apenas um exemplo: reservo- me o direito de mencionar outros. Tretiakov distingue entre 0 escritor operative € 0 informativo. A miso do primeiro no 6 relatar, mas combater, nfo set espectador, mas participante ativo. Tretiakoy ilustra essa missiio com episédios autobiogré- ficos, Quando na época da coletivizacao total da agricultura, em 1928, foi anunciada a palavra de ordem: “‘Escritores aos colcoses!”, ele viajou para a comuna Farol Comunista ¢ em duas longas estadias realizou os seguintes trabalhos: convoca- 80 de comicios populares, coleta de fundos para a aquisiciio de tratores, tentativas de convencer os camponeses individuais a aderirem aos colcoses, inspecdo de salas de leituras, criagHo de jornais murais e diregio do jornal do coleés, reportagens em jornais de Moscou, introdugo de radios ¢ de cinemas iti nerantes, etc. Nao é surpreendente que o livro Os generais, redigido por Tretiakov depois dessas atividades, tenha exer- cido uma forte influéncia sobre 0 desenvolvimento posterior da economia coletivizada. Podeis admirar Tretiakoy ¢, no entanto, julgar que seu ‘exemplo nao é muito significative em nosso contexto atual. Os trabalhos que ele realizou, direis, so os de um jornalista ou de um propagandist, ¢ pouco tém a ver com a literatura. Ora, escolhi o exemplo de Tretiakov deliveradamente para mostrar-vos como é vasto 0 horizonte a partir do qual temos que repensar a idéia de formas ou géneros literdrios em fungio dos fatos técnicos de nossa situagtio atual, se quisermos al- cangar as formas de expresso adequadas as energias literé- rias do nosso tempo. Nem sempre houve romances no pas- sado, e eles nao precisarao existir sempre, o mesmo ocorrendo com as tragédias e as grandes epopéias. Nem sempre as for m4 WALTER BENIAMIN mas do comentario, da tradugo e mesmo da chamada falsi- ficagao tiveram um carater literério marginal: elas ocuparam um lugar importante na Arabia ¢ na China, niio somente nos textos filos6ficos como literarios. Nem sempre a retorica foi uma forma insignificante: ela imprimiu sew selo em grandes provincias da literatura antiga. Lembro tudo isso para trans- mitir-vos a idéia de que estamos no centro de um grande pro- cesso de fusdo de formas literrias, no qual muitas oposi¢ées habituais poderiam perder sua forca. Darei um exemplo para ilustrar a esterilidade dessas oposigdes ¢ a possibilidade de sua superacdo dialética. Nossa fonte continuaré sendo Tretiakov. Oexemplo 60 jornal, : “Varias oposigées, na literatura, que em épocas mais afortunadas se fertilizavam reciprocamente, transformaram- seem antinomias insoliveis”, escreve um autor de esquerda. ‘Assim hé uma disjungao desordenada entre a ciéncia ¢ as bolas letras, entre a critica e a produgao, entre a cultura ea politica. O jornal 60 cenério dessa confusio literdria. Seu con- tetido & a matéria, alheia a qualquer forma de organizacio que nao seja 2 que Jhe é imposta pela impaciéncia do leitor. Essa impuciéncia nao é s6 a do politico, que espera uma infor. mac&o, ou a do especulador, que espera uma indicac&o, mas, atras delas, a impaciéncia dos exclu{des, que julgam ter di- reito a manifestar-se em defesa dos seus interesses. O fato de que nada prende tanto o leitor a seu jornal como essa impa- ciéncia, que exige uma alimentacao didria, foi ha muito utili- zado pelos redatores, que abrem continuamente novas secdes, para satisfazer suas perguntas, opinides e protestos. Com a assimilagao indiscriminada dos fatos cresce também a assimi- lagao indiscriminada dos leitores, que se véem instantanea- mente elevados & categoria de colaboradores. Mas hé um ele- mento dialético nesse fenémeno: o declinio da dimensio lite- aria na imprensa burguesa revela-se a formula de sua reno- vacao na imprensa soviética, Na medida em que essa dimen- sto ganha em extensfio o que perde em profundidade, a dis- tingdo convencional entre o autor ¢ o piiblico, que a imprensa burguesa preserva artificialmente, comeca a desaparecer na imprensa soviética. Nela, o leitor esta sempre pronto, igual- mente, a escrever, descrever e prescrever. Como especialista — se no numa area de saber, pelo menos no cargo em que exerce suas fungbes —, ele tem acesso a condigio de autor. O MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA 125 proprio mundo do trabalho toma a palavra. A capacidade de Hescrever esse mundo passa a fazer parte das qualificagées exigidas para a execucio do trabalho, O direito de exercer a profissio literdria no mais se funda numa formagao especia- fizada, ¢ sim numa formagio politécnica, e com isso trans- forma-se em direito de todos. Em suma, é a literalizagaio das condiges de vida que resolve as antinomias, de outra forma insuperdveis, ¢ é no cenario em que se da a humilhagio mais extrema da palavra — o jornal — que se prepara a sua re- dengao.” Espero ter demonstrado que a tesc do intelectual como produtor precisa recorrer ao exemplo da imprensa. Porque é nela, pelo menos na soviética, que se percebs que o processo de fusio, {4 mencionado, néo somente ultrapassa as distingdes convencionais entre os géneros, entre ensaistas ¢ ficcionistas, entre investigadores e vulgarizadores, mas questiona a propria distingdo entre autor ¢ leitor. Nesse proceso, a imprensa é @ instancia decisiva, e por isso é dela que tem que partir qual- quer anilise do intelectual come produtor. Mas néo podemos domorar-nos excessivamente nessa instancia. Porque na Eu- ropa Ocidental a imprensa no constitui um instramento de produgio valido nas mios do escritor. Ela pertence ainda a0 capital, Mas, como por um lado o jornal representa, do ponto de vista técnico, a posigao mais importante a ser ocupada pelo escritor, e por outro lado ela é controlada pelo inimigo, nao é de admirar que 0 escritor encontre as maiores dificuldades para compreender seu condicionamento social, seu arsenal técnico e suas tarefas politicas. Um dos fenémenos mais de sivos dos iltimos dez. anos foi o fato de que um segmento con- siderdvel da inteligéncia alem®, sob a prossio das circunstin- cias econ6micas, experimentow, ao nivel das opinides, um de~ senvolvimento revolucionario sem, no entanto, poder pensar de um ponto de vista realmente revoluciondrio seu proprio tra- balho, sua relagdo com os meios de produgdo e sua técnica. Estou me referindo, € ébvio, 4 chamada inteligéncia de es- quorda, e limito-me aqui 4 fracdo que podemos designar como inteligéncia burguesa de esquerda, Os movimentos politico literérios mais importantes surgidos na Alemanha no iltimo decénio partiram dessa fragio. Seleciono dois desses movi- mentos, 0 “Ativismo” e a “Nova Objetividade”, para mostrar que a tendéncia politica, por mais revolucionfiria que pareca, 26 WALTER BENJAMIN esti condenada a funcionar de modo contra-revolucionéti enquanto o escritr permanscersolidério com o proleatiade somente ao nivel de suas conics, © mo na qualidade de A palavra de ordem que resume as exigéncias do “‘Ati- vismo” € logocracia, ou reinado da inteligéncia. A expressix pode ser facilmente traduzida por “reinado dos intelectuais”™ (Geistige). Com efeito, o conceito de intelectual ganhou ter- Teno no campo da inteligéncia de esquerda e domina sous ma> nifestos politicos, de Heinrich Mann a Dablin. Podemos ob- servar imediatamente que esse conceito foi cunhado sem levar em conta a posicdo da inteligncia no processo produtive, O tebrico do ativismo, Hiller, néo concebe os intelectuais como ‘membros de certos ramos profissionais”, mas como “repre- sentantes de um certo tipo caracteriolégico”. Esse tipo carac- teriol6gico se situa naturalmente, enquanto tal, entre as clas- ses, Abrange um némero arbitrario de existéncias privadas sem oferecer a minima base para sua organizagdo. Quando 7 ler repudia a figura do lider partidario, ele admite que esse der tem muitas qualidades; ele pode "ser mais bem infor. mado em temas importantes... falar uma linguagem mais pro- xima do poyo... combater mais corajosamente” que o intelec- tual, mas uma coisa é certa: “ele pensa deficitariamente”. rovivel, porém de que serve isso, se do ponto de vista politico © que conta nio é 0 pensamento individual, mas a arte de pensar na cabega dos outros, como disse Brecht? ativismo tontou substituir a dialética materialista pela categoria, inde. terminavel em termos de classe, de senso comum. Seus inte- lectuais tepresentam, na melhor das hipéteses, um estamento. Em outras palavras: o principio utilizado para definir essa coletividade € reaciondrio; nao € de admirar, portanto, que ela nfo aia nea exereido uma ifluéncia revolucionéria, las o principio desastrosa que a coletividade continua vivo. Pademos datrnos ‘conta disse quando apareceu, ha trés anos, Wissen und Veriindern (Saber e mudar), de Déblin, Esse texto surgiu, como se sabe, a titulo de resposta 4 pergunta de um jovem — Doblin 0 chama S Hocke ~ que se dirigiu ao oélebre autor com a pergunta: “O ue fazer?". Doblin o convida a aderir & causa socialista, mes sob condigdes problemiticas. O socialismo, segundo Deblin, significa “liberdade, unio espontanea dos homens, recusa de MAGIA E-TECNICA, ARTE E POLITICA ar toda coagio, indignagdo contra a injustiga ¢ a violéncia, hu- manidade, tolerfncia, opindes pacificas”. Qualquer que seja ‘a validade dessa definigio, Déblin faz de tal socialismo uma arma contra 0 movimento operario radical. Segundo Déblin, ‘do se pode extrair de uma coisa nada que jé nao esteja nela; de uma luta de classes homicida pode sair justia, mas nao socialismo”. Déblin formula do seguinte modo a recomenda- ‘io feita a Hocke, por essas razies e outras semelhantes: “Seu sim de principio ao combate (do proletariado) s6 tera validade se, meu caro Senhor, se 0 Senhor nao se alistar em suas filei ras. O Senhor deve contentar-se em aprovar esse combate, ‘com emogdo e tristeza, mas se fizesse mais do que isso, deixa- ia vaga uma posicdo de enorme importancia...: a posigao do comunismo primitive, que se resume na liberdade individual do homem, na solidariedade espontanea, na fraternidade dos homens... Essa posigdo, prezado Senhor, é a dnica que lhe compete”. Venos aqui aonde conduz a concepgio do “‘inte- Iectual” como um tipo definido por suas opinides, conviegdes e disposigies, e nao por sua posigtio no processo produtivo. Com diz Dablin, ele deve encontrar seu lugar ao lado do prole- tariado. Que lugar é esse? O lugar de um protetor, de um mecenas ideolégico. Um lugar impossivel. E assim voltamos & tese inicial: o lugar do intelectual na luta de classes s6 pode ser determinado, ou escolhido, em fungio de sus posictio no pro- cesso produtivo. Brecht eriow 0 conceito de “refuncionaliza¢do" para ca- racterizar a transformaco de formas ¢ instramentos de pro- dugdo por uma inteligéncia progressista e, portanto, interes- sada na liberagao dos meios de produgio, a servico da luta de classes. Brecht foi o primeiro a confrontar o intelectual com a exigéncia fundamental: nio abastecer 0 aparetho de produ- cdo, sem o modificar, na medida do possivel, num sentido Socialista. No prefacio de Versuche (Ensaios), esclarece Brecht: “a publicacdo deste texto ocorre num momento em que certos trabalhos néo devem mais corresponder a experiéncias indivi- duais, com o carter de obras, e sim visar a utilizacdo (rees- truturagao) de certos institutos ¢ instituigées”. O que se pro- pie so inovagbes técnicas, e no uma renovagio espiritual, como proclamam os fascistas. Voltarei mais adiante a essas inovagdes téenicas. Limito-me aqui a aludir a diferenca essen cial que existe entre abastecer um aparelho produtivo e modi 1B WALTER BENIAMIN ficé-lo. B gostaria, ao iniciar minhas reflexes sobre a “ Sa ee ren en tivo sem ao mesino fempo modificé-lo, na medida do possivel, seria um procedimento altamente questiondvel mesmo que os ‘aterias lomecids tvessem uma eparGncia revolucionéria: 05, ¢ isso foi abundantemente demonstrado nos dltimos dez anos, na Alemanha, que o aparelho burgué: - ieeee ¢ publicagio pode assimilar uma surprecndente auectane aut ot ia om eure ure tema a los, sem colo- car seriamente em riso sua prépriaexistncia e « existncla classes que 0 controlam. Isso continuara sendo verdade enquanto esse aparelho for abastecido por escritores rotinei- Has ainda que socialistas. Defino o escritor rotineiro como o each que renuncia por principio a modifiear 0 aparelho produtivo a fim de romper sua ligacio com a classe domi- nante, em beneficio do socialismo. Afirmo ainda que uma bates substancial da chamada literatura de esquerda nao ca novos cut, pare enuses orpdbtn wea 05 , Para ro lico. Is Saracen ew Be ep ere ae serviu essa técnica? ‘0 em primeiro plano a fotogréfica dessa téeniea. O que for vilido para ela pode vr transposto para a forma literaria. Ambas devem seu impet excencional a téenie da publicagio: o radio ea impronsa ilas. trad Pense-se no dadatsmo. A forga revolucionaria do da- laismo estava em sua capacidade de submeter a arte A pr da autenticidade. Os autores compunham naturezas-mo rias com 0 auxilio de bilhetes, carretéis, pontas de clears aos uais se associavam elementos pietéricos. O conjunto ers pos. ae moldura. O objeto era entio mostrado ao public telam, a moldura fax explodir o tempo; 0 menor fragmento ut 0 da vida didria diz mais que a pintura 1 modo, a impressto digital ensangtlentada de Saacaaie a pagina de um livro, diz mais que o texto, A fotomontagem Preservou muitos desses contetidos revolucionirios, Basta Pensa nos trabalhos de John Heartfield, cujatéenica trans- formou as capas de livros em instruments politicos, Mas oe Pouco mais longe a trajetéria da fotogra- ia. Que verios? Ela se toma cada vez mais matizada, cada vez mais moderna, ¢ 0 resultado é que ela no pode mais foto- = MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA 29 grafar cortigos ou monies de lixo sem transfiguri-los. Ela nao pode dizer, de uma barragem ou de uma fabrica de cabos, Sutra coisa seniio: o mundo € belo, Este € 0 titulo do conhe- tido livro de imagens de Renger-Patsch, que representa a fotografia da “Nova Objetividade” em seu apogeu. Em outras palavras, ela conseguiu transformar @ prépri miséria em ob- jeto de fruigio, ao capté-la segundo os modismos mais aper- feigoados. Porque, se uma das funcdes econdmicas da foto- grafia é alimentar as massas com certos contedidos que antes ela estava proibida de consumir — a primavera, personalida- des eminentes, paises estrangeiros — através de uma elabo- ragdo baseada na moda, uma de suas fungées politicas ¢ a de renovar, de dentro, o mundo como ele é — em outras pala- vras, segundo os critérios da moda. ‘Temos aqui um exemplo extremo do gue significa abas- tecer um aparelho produtivo setn modificé-1o. Moditicé-lo sig- nificaria derrubar uma daquelas barreiras, superar uma da~ ‘quelas contradigées que acorrentam o trabalho produtivo da inteligéneia, Nesse caso, trata-se da barreira entre a escritae a imagem. Temos que exigir dos fotdgrafos a capacidade de co- ocar em suas imagens legendas explicativas que as liberem da moda e thes confiram um valor de uso revolucionério. Mas s6 poderemos formular convincentemente essa exigéncia quando és, esctitores, comegarmos a fotografar. Também aqui, para ‘ autor como produtor o progresso téenico é um fundamento do seu progresso politico. Em outros termos: somente a supe- ago daquelas esferas compartimentalizadas de competéncia no processo da produgio intelectual, que a concepgio bur- guesa considera fundamentais, transforma essa produgao em algo de politicamente vAlido; além disso, as barreiras de com- peténcia entre as duas forcas produtivas — arnaterial e a inte- lectual —, erigidas para separé-las, precisam ser derrubadas conjuntamente. O autor como produtor, ao mesmo tempo que se sente solidério com o proletariado, sente-se solidario, igual- mente, com certos outros produtores, com os quais antes niio parecia ter grande coisa em comum. Mencionei a fotografia; acrescentarei agora uma palavra sobre a misica, baseada num depoimento de Eisler. “"Também na evolugio musical, tanto na esfera da produgdio como da reprodugio, temos que reconhecer um processo de racionalizacio cada vez mais ré- pido... O disco, o cinema sonoro, o automatico musical, po- 130 WALTER BENIAMIN dem... fazer circular obras-primas da miisica em conserva, como mercadorias. Esse proceso de racionalizagio tem como conseqiiéncia que a producao musical se limita a grupos cada vez menores, mas também cada vez mais qualificados. A crise da musica de concerto ¢ a crise de uma forma produtiva obso- leta, superada por novas invengdes técnicas.” A tarefa consis- tia, portanto, em refuncionalizar a forma-concerto, mediante duas condigées: primeiro, eliminar a oposicao entre intérprete c ouvinte, ¢ segundo, eliminar a oposigsio entre técnica e con- teddo. A esse respeito, Eisler faz a instrutiva observagao: “Devemos guardar-nos de sobrevalorizar a musica orques- tral, considerando-a a tinica arte elevada. Somente no capi- talismo a misica sem palavras teve tanta significagio e co- nheceu uma difusio tio ampla’. Ou seja, a tarefa de trans- formar o concerto no é possivel sem a cooperacao da pala. vra. Somente ela, como diz Bisler, pode transformar um con- certo num comicio politico. Brecht e Eisler provaram, com a peca didatica Die Massnahme (As medidas), que essa trans- formagdo pressupée um altissimo nivel da técnica musical eliteraria. __Se voltarmos agora ao processo de fusio das formas lite- Farias, moncionado no inicio, veremos como a fotografia, a misiea e outros elementos, que nao conhecemos ainda, mer- guiham naquela massa liquida incandescente com a qual se- rao fundidas as novas formas. Somente a literalizago de to- das as relagdes vitais permite dar uma idéia exata do aleance desse processo de fusio, do mesmo modo que é o nivel da luta de classes que determina a temperatura na qual se da a fusto, de modo mais ou menos completo. Aludi ao procedimento de um certo modismo fotografico, que faz. da miséria um objeto de consumo. Comentando agora a “Nova Objetividade” como movimento literdrio, darei um novo passo, dizendo que ela transformou em objeto de con- sumo a luta contra a miséria. De fato, em muitos casos sua significagao politica esgotou-se na transformacio de reflexos revoluciondrios, assim que eles afloravam na burguesia, em Objetos de diversio, de distragdo, facilmente absorviveis pelos cabarés das grandes cidades. O que caracteriza essa literatura é a metamorfose da Iuta politica, de vontade de decidir em objeto de prazer contemplativo, de meio de produgao em ar- tigo de consumo. Um critico perspicaz ilustrou esse fenémeno MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA 1 tomando como exemplo Erich Kastner: “Essa inteligéncia ra- dical de esquerda nada tem a ver com 0 movimento operario. ‘Como sintoma de desagregacao burguesa, ela é a contrapar- ida da mimica feudal, que o Império admirou no tenente de reserva. Os publicistas radicais de esquerda, do género de um Kastner, Mehting ou Tucholsky, séo a mimica proletéria da ‘purguesia decadente. Sua funcao politica € gerar cliques, © nao partidos, sua fungao literaria € gerar modas, ¢ no esco- Jas, sua fungio econdmica é gerar intermedidrios, e nao pro- dutores. Intermediarios ou profissionais da rotina, fazendo despesas extravagantes com sua pobreza e transformando numa festa sua vacuidade abissal. Nunca ninguém se acomo- dou to confortavelmente numa situagdo tio inconfortévei”. Essa escola, como disse, fez. despesas extravagantes com sua pobreza. Ela se esquivou, com isso, a tarefa mais urgente do escritor moderno: chegar & consciéncia de quo pobre ele € fe de quanto precisa ser pobre pata poder comecar de novo. Porque é disso que se trata. O Estado sovitico nao expulsaré os poetas, como o platdnico, mas thes atribuiré tarefas — ¢ por isso mencionei no inicio a RepUblica de Platio — incom- pativeis com o projeto de ostentar em novas “obras-primas” a pseudo-riqueza da personalidade criadora. Esperar uma re- novacdo no sentido de tais personalidades ¢ tais obras é um privilégio do fascismo, capaz. de formulagées estipidas como aquelas com que Giinther Grindel conclui sua rubrica literé- ria, em Missao das jovens geragdes: “Podemos terminar.. essa vistdo panoramica com a observagdo de que o Wilhelm Meister e 0 Griine Heinrich de nossa geragio até hoje nko foram eseritos", O autor consciente das condigées da produ- ‘io intelectual contempordnea est muito longe de esperar 0 advento de tais obras, ou de desejé-lo. Seu trabalho nao visa nunca a fabricagao exclusiva de produtos, mas sempre, 20 mesmo tempo, a dos meios de produgio. Ex: outras palavras seus produtos, lado a lado com seu carter de obras, devem ter antes de mais nada uma funcio organizadora. Sua utili- dade organizacional nao precisa de modo aigum limitar-se & propaganda. A tendéncia, em si, néo basta. O excelente Lich- tenberg jé o disse: nao importam as opinides que temos, ¢ sim que essas opinives fazem de nés. B verdade que as opinises s40 importantes, mas as melhores nao tém nenhuma utili- dade quando nao tornam diteis aqueles que as defendem. A im WALTER BENIAMIN melhor tendéncia 6 falsa quando nio prescreve a atitude que 0 eseritor deve adotar para concretizar essa tendéncia. E 0 es. critor s6 pode prescrever essa atitude em seu préprio trabalho eszrevendo. A tendéncia uma conde necesséra, mas nao suficient, para o desempenko da funeio onganzatira. da .. Esta exige, além disso, um comportament: ih ; , jo preseri pedaaseic, Por parte do escritor. Essa exigéncia 2 hoje mais imperiosa que nunca. Um escritor que ndo ir mperisa die 2 " jue ndo ensina outros es- : anagind cae uinguém. O caréter modelar da produgio » », decisivo: em primeiro lugar, ela deve oriet ; ntar ou- oe em sua produgio ¢, em segundo lugar, precisa tein 7 ante see a ee eee mais perfcito. Esse - quanto mais conduz consumidores a oe producio, ou seja, quanto maior for sua capacidade eae formar em colaboradores os leitores ou espectadores. possuimos um modelo desse género, do qual s6 posso falar Se ate Eo teatro épico de Brecht. 5 tragédias e 6peras continu 0 escri t bp am sendo escritas ¢ > ae rae a aparelho teatral de efickela com. ', quando na verdade essas obras nada mais 7 is fazer maaan um aparelho que se torna cada dia mais vulnerdvel. ge eae, de clareza sobre sua situag&o", diz Brecht, “que lomina entre misicos, escritores ¢ criti c hole predom 208, riticos, acarreta etic — que nao sio suficientemente considera- dss, Acredtando posvir um aparelho que na realidade os ossui, eles defendem esse aparelho, sobre o : . qual nto dis- cane qualquer controle € que nao é mais, como asec, tm instrument a servic do produtor, ¢ sim um instrumento Ta o pr '."" Esse teatro de maquinas ic com intimeros figurantes, com efeit fainteree ni a tos refinados, transformou- seem nstumena conta orate, entoouasrarn por tent 05 produtores a empenhar- n ae fente indi os p snpenhar-se numa concor- x 0 cinema e o radio. Esse teatro, seja es fi zi ee ont servigo da cultura, seja 0 que est servig da ‘iverséo entares — é o de uma camada soci: tada, que transforma er tags Toisas Sea d m excitagées tudo o que toca. S seen causa perdida. Nao assim um teatro que, em ver de competi com esses noves instrument de difust, procura splicé-los e aprender com eles, em suma, confronta-se com od ee oO teatro épico transformou esse confronto em . B 0 verdadeiro teatro do nosso tempo, pois esté 4 MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA 13 altura do nivel de desenvolvimento hoje alcangado pelo ci- nema e pelo ridio. Para os fins desse confronto, Brecht limitou-se aos ele- mentos mais primitivos do teatro. Num certo sentido, conten- tou-se com uma tribuna. Renunciou a agbes complexas. Con- ssim, modifica a relaco funcional entre o paleo ¢ 0 piiblico, entre o texto e a representagio, entre o diretor © os atores. O teatro épico, disse ele, nao se prope desenvolver agées. Mas represontar condigées. Ele atinge essas condigoes, como veremos mais tarde, na medida em que interrompe @ agi, Recordem-se as cangées, cuja principal tarefa é inter- romper a ago. Com o principio da interrup¢ao, 0 teatro épico adota um procedimento que se tornou familiar para nés, nos {iltimos anos, com o desenvolvimento do cinema e do radio, da jimprensa e da fotografia. Refiro-me ao procedimento da mon- tagem: pois 0 material montado interrompe o contexto no qual & montado. Peco-vos licenga para mostrar que esse Pro- cedimento tem aqui uma justificativa especial, ¢ mesmo uma justificativa perfeita. ‘A interrupgaio da ago, que levou Brecht a earacterizar seu teatro como épico, combate sistematicamente qualquer ilusio por parte do piblico, Essa iusto ¢ inutilizavel para um teatro que se propée tratar os elementos da realidade no sen- tido de um ordenamento experimental. Porém as condigdes surgem no fim dessa experiéncia, e no no comego. De uma ou de outra forma, tais condigdes sfio sempre as nossas. Blas no sao trazidas para perto do espectador, mas afastadas dele. Ele as reconhece como condigées reais, nfo com arrogancia, como no teatro naturalista, mas com assombro. O teatro Epico, portanto, nZo reproduz as condigdes, ele as descobre. A descoberta das condigées se efetua por meio da interrup¢ao das seqiéncias, Mas a interrupeao nao se destina a provocar uma excitacdo, e sim a exercer uma fungfo organizadora, Ela imobiliza os acontecimentos ¢ com isso obriga 0 espectador a tomar uma posigéo quanto 4 ago, e 0 ator, a tomar uma posi¢do quanto ao seu papel. Mostrarei, com um exemplo, como em sua selec e tratamento dos gestos Brecht limita-se 1a transpor os métodos da montagem, decisivos para o radio para o cinema, transformando um artificio freqitentemente ‘condicionado pela moda em um processo puramente humano. Imaginemos uma cena de familia: a mulher esté segurando seguiu, a Ls WALTER BENJAMIN um objeto de bronze, para jogé-lo em sua filha: | : 3 0 pai abrindo a jancla, para pedir socorro, Nesse momento, estes um estranho. A seqtiéncia ¢ interrompida; o que aparece em a lugar € a situagao com que se depara o olhar do estranho: fsionomias transtornadas, janela aberta, mobilidrio destrui- fered existe um olhar diante do qual mesmo as cenas mais ituais da vida contempordnea tém esse aspecto. Eo olhi do dramaturgo épico, tee Ele ope ao drama bas it 0 eado no conceito da obra de ar pogal feerlor de eres: Recorte, de uma nova iansiea! 0 privilégio do teatro — o privilégio d sentes. O homem esta no centro de sexperiéncias, Oho. suas experiéncias. O ho- mem contemporaneo: reduzido, conservad ‘ , jo em gelo num am- ea oar Porém como é 0 tinico A nossa disposi¢ao, te Ios interesseem conhecé-lo, Ele 6 sujeito a provas e a exames Dericiais. O resultado € o seguiate: 0 acontecimento ndo € ‘ransformavel em seus momentos ates, pela virtude ¢ pela isto, mas unicamente em seu fluxo ti em igorosamente i tual, pela raz&o e pela pritica. O sentido do teatro toe uae que a dramaturgia aristotélica chama de “‘agao” a Parti dos elementos mais minisculos do. comportament. fmuneenal § oe s€o mais modestos que os do teatro i |. Seu objetivo nao é tanto alimentar 0 publico (eget ainda que sejam de revolta, quanto Mliendlosie Ona pelo pensamento, das situacdes em que vive. -se de passagem que nio hé melhor ponto de a al u ii partida Barao pensamento que oso. As vibragies fies produzidas Belo ris oferecem melhores ocasites para o pensamento que as Ima. O teatro épico s6 é luxuri Sides que ofereceparaorisos nn Smaniante Bas cca: Talvez tenha chamad ac lo vossa atencdo o fato de hservasies que esiou 2 ponto de concur 35 imponham 20 scr exigéncia, que é a reflexdo: refletir : sobre sua po- eae oe Produtivo. Podemos ter certeza de que a vara os escritores importante rllexdo lear os esr es, isto & os melhores » lo ou tarde, a manifest: idari dade com o proletariad jo mais sObro postive, Gog d lo do modo mais sébrio possi ; ivel. = tala de documenta esta afrmocto com um exempo afl extraldo de wma peauena passagem do jornal francés Com: ope Jornal organizou um inquérito em torno do tema: quem V. escreve?”, Cito a resposta de René Maublane, MAGIA E TECNICA, ARTE E POLITICA 135 assim como o comentario de Aragon, a seguir. “Sem divida”, diz Maublane, ‘“escrevo quase exclusivamente para o piiblico burgués. Em primeiro lugar, porque tenlio que fazé-lo (aqui Maublane se refere a suas obrigacées como professor de gind- sio) e, em segundo lugar, porque sou de origem burguesa, de educagio burguesa e venho de um meio burgués, ¢, por isso, tenho uma tendSncia natural a dirigir-me a classe a que per- tengo, que conheco melhor e que posso entender melhor. Mas isso nao significa que escrevo para agradar a essa classe, ou para apoié-la. Estou convencido, por um lado, de que a revo jucio proletéria € necessiria e desejével, ¢ por outro lado de que cla sera tanto mais ffcil, bem-sucedida ¢ incruenta quan- to mais fraca for a resisténcia da burguesia... O proletariado precisa hoje de aliados no campo da burguesia do mesmo modo que no século XVIII a burguesia precisava de aliados no campo feudal. Gostaria de estar entre esses aliados."” "Aragon comenta esse trecho: “Nosso camarada alude aqui a um fato que diz respeito a grande némero de escritores contempordineos. Nem todos (m a mesma coragem de olhar de frente esse fato... So raros os que tém tanta clareza sobre ‘sua situago como René Maublanc. Mas é justamente dosses escritores que devemos exigir mais... Nao basta enfraquecer @ burguesia de dentro, é necessdrio combaté-Ia junto com 0 pro- Ietariado... René Maublanc e muitos dos nossos amigos escri- tores, que ainda hesitam, (@m & sua frente o exemplo dos es- critotes soviéticos, que se originaram da burguesia russa € que, no entanto, se tornaram pioneiros da construgao socia- lista”. Sao as palavras de Aragon. Mas como esses escritores se tornaram pioneiros? Nao sem lutas amargas, ndo sem confli- tos extremamente dificeis. As reflexdes que vos apresentel ten- tam tirar uma ligdo dessa experiéncia, Elas se baseiam no con- ceito que contribuiu decisivamente para esclarecer 0 debate em torno da atitude dos intelectuais russos: oconceito do espe- cialista. A solidariedade do especialista com o proletariado — e é aqui que deve comecar esse processo de esclarecimento — nao pode deixar de ser altamente mediatizada. Os ativistas ¢ 0s partidarios da “Nova Objetividade” podem dizer o que qui serem: no podem ignorar 0 fato de que mesmo a proletari- zagio do intelectual quase nunca faz dele um proletario. Por qué? Porque a classe burguesa pés 2 sua disposigio, sob 16 WALTER BENIAMIN forma da educacio, um meio de produgio que o torna soli- diario com essa classe e, mais ainda, que torna essa classe soli- daria com ele devido ao privilégio educacional. Por isso, Ara- gon tem razSo quando afirma, em outro contexto: “o intelee- ‘ual revoluciondrio aparece antes de mais nada como um trai- dor a sua classe de origem'’. No escritor, essa traicao consiste num comportamento que o transforma de fornecedor do apa- telho de produgio intelectual em engenheiro que vé sua tarefa na adaptacio desse aparetho aos fins da revolugao proletaria, Sua aco é assim de caréter mediador, mas ela libera o inte- Jectual daquela tarefa puramente destrutiva a que Maublane ¢ muitos dos seus companheiros acham necessirio confiné-lo, Consegue promover a socializagio dos meios de producdo inte- lectual? Vislumbra caminhos para organizar os trabalhadores no préprio processo produtivo? Tem propostas para a refun- clonalizacao do romance, do drama, da poesia? Quanto mais completamente o intelectual orientar sua atividade em fungio dessas tarefas, mais correta serd a tendéncia, e mais elevada, hecessariamente, seré a qualidade técnica do seu trabalho. Por outro lado, quanto mais exatamente conhecer sua posi¢ao no processo produtivo, menos se sentira tentado a apresentar- se como intelectual puro (Geistiger). A inteligéncia que fala em nome do fascismo deve desaparecer. A inteligéncia que 0 enfrenta, confiante em suas préprias forgas miraculosas, Ad de desaparecer. Porque a uta revoluciondria nfo se trava entre 0 capitalismo e a inteligéncia, mas entre o capitalismo o proletariado. 1934

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