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Velho, Gilberto (org.). Antropologia Urbana. Cultura e sociedade no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999. olhar antropolégico sobre o Rio de Janeiro e Lisboa Alessandra El Far Doutoranda em Antropologia Social - USP Bolsista Fapesp Desde que os antropélogos passaram a olhar a vida urbana como um es- pago privilegiado de reflexo, uma fonte variada e inesgotivel de objetos de estudos tem indo tona. Apropriando-se de um olhar distanciado, 0 cientista social comegou apercorrer sua propria cidade procurando entender o que até ento parecia cotidiano e trivial. Assim andar pelo bairro, escutar a apresentagdo um conjunto de miisica, ob- servar os grupos locais ou mesmo ler um texto deixou de ser um exercicio desinteres- sado constituindo-se em um detalhado e complexo trabalho de campo. Antropologia Urbana, organizada pelo professor Gilberto Velho, nasceu do objetivo de divulgar algumas destas andlises urbanas realizadas nas cidades do Rio de Janeiro e de Lisboa. Ollivro, que retine ensaios de cientistas sociais brasileiros e portugueses, ex- prime a estreita relagiio de convivéncia que vem sendo cultivada entre o Programa de Pés-Graduagao em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro ¢ 0 ISCTE (Instituto Superior das Ciéncias do Trabalho e da Empresa), em Portugal. Nesta obra conjunta, os autores, que desenvolveram seus tra- balhos de pés-graduagaio em uma dessas respectivas instituigdes, encararam as duas metrépoles como palco de uma fecunda investigagiio antropolégica. Assim, acompanhando entrevistas, estudos de caso, dados estatfsticos, pes- quisas histéricas, andlises de textos literdrios, o leitor mergulha em incursées etnograficas que discutem, por exemplo, as dintimicas sociais dos conhecidos bairros de Copacabana, no Rio, de Alfama e da Bica, em Lisboa, as representagdes da popu- lado idosa sobre o espaco urbano, as condutas sexuais nas diferentes localidades da cidade, a pritica politica em um subtirbio carioca, ea génese de uma realidade turistica no Rio de Janeiro. Ainda nesse trajeto, dois estilos musicais sao estudadas, 0 fado visto como uma forma de expresso popular, urbana, plural e fragmentada, e o rap portugués que ao mobilizar um determinado ptiblico cria novas linguagens e identidades. A coletinea inclui também um ensaio que revela em Fernando Pessoa de Livro do desassossego 0 antropélogo que discorre sobre as principais caracteristicas da vida mental metropoli- tana, Tendo em vista os grupos sociais e suas representagdes sobre uma determi- 167 Alessandra El Far RESENHAS CADERNOS DE CAMPO nada realidade urbana, esses artigos buscam responder a questées que, por estarem to arraigadas no dia-a-dia da cidade, passam desapercebidas pelos cidadaos locais. Por que a misica rap, produzida em Portugal, ao contrério de outros pafses, aborda um discurso politicamente correto, fala da tolerncia, da luta contra as drogas e 0 ra- cismo? Por que os primeiros guias turfsticos do Rio de Janeiro colocam o centro da cidade como marco referencial de atragdes? Ou ainda como a publicagdo de uma pesquisa nos jornais a respeito da opinidio de candidatos a Prefeitura sobre a legaliza- gio do aborto e do casamento homossexual abala as relagdes de uma vereadora de subtirbio com seus eleitores? Da mesma forma, pode-se indagar sobre 0 crescimento vertiginoso de Copacabana nos anos 50 e 60, a sedugiio e os arranjos conjugais nos bairros de clas- se média, as apropriagdes das cantigas de fado pelas diferentes camadas sociais ao longo do tempo, bem como uma infinidade de outras situagdes presentes no contexto dessas duas grandes metrépoles de lingua portuguesa. Em todos os textos, 0 espaco urbano encontra-se relacionado aos uni- versos culturais em questo. O bairro, o subtirbio, a praia acabam por mediar padroes especfficos de comportamento e de insergfio social. A heterogeneidade dos varios ‘mundos sociais’, seja da zona sul ou zona norte do Rio de Janeiro, do centro ou da periferia de Lisboa, com seus sujeitos desempenhando papéis e fungGes em constante transformagao, estiio aqui esmiugados pelos autores na tentativa de formularem uma argumentagdo que abarque a multiplicidade dos fenémenos arraigados na paisagem cosmopolita. Ou seja, para além da diversidade tematica e do didlogo com diferentes disciplinas académicas, j4 que muitos autores usufruem conceitos caros a ciéncia pol- tica, histéria, geografia, entre outras, esses artigos apresentam uma mesma preocupa- do tebrica: discutir os dilemas, os significados e as particularidades da insergaio do individuo no seio da sociedade contemporanea. ‘Mesmo retratando caracteristicas especfficas das sociedades brasileira e portuguesa, a coleténea procura fornecer subsidios para discusses bem mais amplas acerca do fenémeno urbano, que atualmente abrange dimensées histéricas e culturais consideraveis. O desenvolvimento das cidades em to¢o 0 mundo, com seus sujeitos incégnitos e novos ritmos de vida, inaugurou padrées de sociabilidade diferenciados que, ao serem mapeados e estudados, evidenciaram a existéncia de c6digos e valores reafirmados por grupos distintos, até entéio desconhecidos pelas normas usuais. Dafo esforgo de conhecer as minticias de um cotidiano particular a fim de chegar a uma com- pressio mais abrangente sobre desta recente realidade. Por seu pioneirismo em analisar, sob 0 viés socioldgico, as grandes con- centragdes urbanas, seus estilos de vida e visdes de mundo, Georg Simmel é usado neste livro como uma via primordial de interpretagao. Ao longo dos ensaios, os con- ceitos e textos do filésofo e sociélogo alemio sfio tomados de empréstimo na tentativa de melhor elucidar os tipos de individualismo e a natureza das interagées sociais na cidade. 168 Oolho, como ensina Simmel, por estar entre os érgaos especiais do sen- tido, realiza uma ago sociolégica particular, é através dele que se pode desvendar as miiltiplas relagdes do individuo com a sua cidade e as demais pessoas com as quais estabelece algum tipo de convivéncia. Ora atentando para as estratégias politicas e sociais de segmentos particulares, ora tendo por desafio a compreensio de espacos delimita- dos geograficamente, dentre outros aspectos possiveis, os autores de Antropologia Urbana assinalam realidades distintas de um mesmo cenério urbano. Em outras palavras, por meio de um olhar que procura suprimir 0 senso co- mum, esses antropélogos evidenciam o que hé de original e singular no cotidiano da cidade. Semelhante ao olhar estrangeiro de Fernando Pessoa - para lembrar mais uma vez 0 poeta portugués -, que ao se aproximar da janela de sua casa, observa o estra- nho movimento de todos os dias. Diz ele: “Chego 2 janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta,/ Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,/ Vejo os entes vivos, vestidos que se cruzam,/ Vejo os ces que também existem,/E tudo isso me pesa como uma condenagao ao degredo, E tudo isso € estrangeiro, como tudo”. NOTAS 1 Fernando Pessoa, “Tabacaria”. In: Obra poética, Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, p.364. 169 Alessandra El Far RESENHAS

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