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LINGUAGEM & CULTURA Thos em cattoge Golria om Code, Jrusa Pees Fert Mercsm © Flats ds" Tinguogom, Misa Babin {ingae m; Progmaics« leolep Cates Vor rig" Fido om Sic Pao Produsco © Comune tmpisa, Teesnha bo Vampire ao Cale: Una Leura da Obra de Dation Trevis, Beta mae ” wi Past, Aeauinade: Une Letra da Obra Petia de Mio de Andrade Fata” Modenio, Maca Céba de Mores Leo Princ Joma Inpeinente « Obscene Paes Feria ¢ Lala Wa tha de Merapad: Marlo de Andrade 14 oF Hipanvdmercenoy, Rabi ideoorata em Videos, aio Plaza Podicar em Confronto: "Nove Nevers” ¢ @ Novo Romane, Saaiea Nica A CULTURA POPULAR NA IDADE MEDIA E NO RENASCIMENTO: (© CONTEXTO DE FRANCOIS RABELAIS DO MESMO AUTOR, NA EDITORA HUCITEC Marsismo ¢ Filosofia da Linguagem Quesbes de Lisrarua e Esttica (10 pelo) MIKHAIL BAKHTIN A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de Frangois Rabelais ‘Teadugto do Yara Frateschi Vieira EDITORA HUCITEC i: ered Bras So Paulo, 1987 ge te a SANZ er th fo i pe en Fes i cas ae Yang ey ee ee Be Base Girma, ae EEA Ss lee a 9) Brasil. Telefone: 11) 61-6519. Sot 2it Oia |ato ets (Copa: Lats Dias, EDITORA OhivERSIDADE DE BRASILIA 6 DE ‘Camus Universo — asa Nore ‘310 Bla, ise Feder Dados de Caalopasta na Publagto (Ctr) Tnermsonal ‘Ciara Brass do Lio, SP, acl) ee ire ee ander | ung tte Mina sbi, 1981978 [ees ae lt Hee, ey setae Fm Ranta and "Babues Wao ae Ya intact Vitra ~ Si ane | HUCHTEC ; eda ‘Editors da Universidade de Brasilia, 1987. a (Cneuagem © etn) |, Qilura — Hila — Sécula 16 2. Rabelais gots) "Catan eeepc 8. ‘Sita = ats Wo ser. Tito it Sére. Indices para extogo semi ultra Séeuo 16+ Ms 809 ge Mise 909 5 e Ismy 8527100193 Hciee Foto o dept eg SUMARIO. Introdupso APRESENTACAO DO PROBLEMA 1 Capito Primeiro RABELAIS E A HISTORIA DO RISO 31 Capito Segundo 0 VOCARULARIO DA PRAGA PUBLICA NA OBRA DE RABELAIS 1s Capitulo Tercera AS FORMAS E IMAGENS DA FESTA POPULAR NA OBRA. DE RABELAIS im Capitulo Quarto © BANQUETE EM RABELAIS 2 Capitulo Quinto A IMAGEM GROTESCA DO CORPO EM RABELAIS £ SUAS FONTES 268 Capitulo Sexto O“BAIXO” MATERIAL E CORPORAL EM RABELAIS . 323 Captito Seino AS IMAGENS DE RABELAIS E A, REALIDADE DO SEU "TEMPO 385 vin ine ace amen hr ae Tama i Insroducao APRESENTACAO DO PROBLEMA No nosso pais, Rabelais & 0 menos popular, © menos estudado, rnenos compresndido.e esimado dos grandes escuores da hteratura mundial NNo entanto, Rabelais oeups um dos primeios lusares entre os autores europeus, Beliaki" qualicouo de génio, de "Voltaie” do Sculo XVI, ba sua obra como uma das mlhores de todos os tempos. Os especalises europeus costumam colocar Rabelais — pela forca de st sia ede ua are, e por su importinca hisxica — edie tamente depois de Shakespeare, por vezes mesmo 30 seu lad. OS romantieos tranceses, peieipalmente Chateaubsiand Hugo, classi feuramno ene os mais eminentes génios da bumanidade de todos ‘0s tempos e de todos os povos. Ele foi considerado,e nda o &, nfo ‘penss como umn eseitor de primexo plano, no setide prdprio do termo, mas tembém como um sabi © um profes, Eis um julgamento ‘Spnifiativo de Michelet: "Rabelais ecoliea sabedoria na correne popular dos antigos dial ‘os, dos refroes, dos. grovérbios, das farsas dos estudantes, na boca dos simpler dos loueos "hanes aes lio spaccem com fod» grandee o ia do sézulo e sua forga proftea, Oude cle nbo chega a descobrir, cle entree, promete, diige. Na floresta dos sonhos, véemse sob cada fotka os trutos que cofheri 0 futuro. Este livio todo & 0 ramo de TEvidentemente, todos os julsamentos ¢ apreciagies desse tipo so ‘muito relatvos, No pretendemos decidir se & justo colocar Rabelais 30 Tado de Shakespeare, acima cu abaixo de Cervantes, ete. N3O sang Vion (IBUIBA Sera ron de Alte rosa de Mice: Mute ae Fron, Ed Flammarion,» 1X, 86, 0 rao de ‘ura praca ue » Sia cofau » Encas Nat chats, os hie 20 00 1 sta dvi de gue o ugar hisrio qu ele ocupa ene o evadores ova fteatraearopeie ets ndseueinens elds 8s Boe Hoccacio Shakespeare e Cervantes. Rabelas af poserourenne ao 6 aos destined Inert de lingua Hela Peek tamém ea liertura muna (provaveltete no meses pay ae Cervenes). E'tambenindubiivar que for @ mast dene srodernot meses da literatura, Para 0s, enicano, ns tocol uae de ear tgide mat profane extant! qt Sion as fonts populares, foteserpecion (a0 ge Mek, so com cetera hastante crate, ma exo long e sere ec ‘vas: ese Fontes determinant o vonunto Ue se titra 8s Uh 4s, asim como a coneepto arisicn Ee hse Jasin ese cater popular pulac ¢, poderiamos dizer, ‘ata, de todas as imagens de Raa que expeg que 8 os foes ia do Uo exespctnsinent rc, cots & abso seams ich E lamb es carter pope que eagea "9 spe eae Ineraa de Rebels, sto, sua reenis & sisarse toe chaoeee ¢ fart de ace Trae vigenes desde 0 seule XVI ae ats meee dias, ndependentemente das varaden que o sen cons ene sod Kabel reason exes modes mito mas categorcamene do gos Staeipeare ou Carve, os gust iam & chiar eo sseoee, ¢lisscos mae ou menos eset de sua epoca, AS imagens te Ree tates apres Sram ghee cs elect nae sees ical nett eM Smt, or ‘sane se Teele ta ae fe dere fet Pid panar aban ee Sees mn sie ea a en pe reat ined Rig ce Se ‘Target mamene eb oe bre sso Sp eon inn te total de sua obra. = | Gx ronlogeezeaeiam Rabis da pesos come arnt Seti Babs arte oem di fret, Ma Rael Ie itn eu a ome ge ‘in in ce aaa se gion ene noses Foe a ate a ee ae rec Ras so ee Sir gue Sc Sn Gm we rs dx 2 do ri aero sila Mera poplt, io pesamene tes qua tule de evelgio Iierra gue se fos apreenaar ia. Indes & nents de afniades,enquano que ar mayen de Rabelas tao perfeimente poionadas lor da evlupae milena da el ‘era popir Se Rabults € 0 msc dos autores clissics,€ porge eng, ya ser comprendido a teormilagao radical de foe at coneep- Ses atcat e ieolies, 8 capacicade de deface de ruts SXfetuas do gon rans proftadamente antiga, Tein Go ‘ne inidad® de noyoeec,sobretudo, una investigogfo profunda rns dicta Sn ropa ue om mo po © lo spericalmente explora 7 ‘iat, Rabelais & dill, Em compessagéo, «S00 be, st conver sientemone deciads, permite mina a calor chien poplar iris mignios, da gual Rabelais foo emioens pot-voz na Hert tun Astin, o fone de Rabel dove ara cave don eoplndios Sanfurioe da obra mica poplar, que permanceeram quase incom fresno © pouco explorade, Ass &e aborios, fundamental st eta cave : ‘A presente introducao propée-st colocar o problems da cultura amish popslr na Tdade Mia © no Reasciment, scr sue Sinesdeve in ravanent sine cacti ig ‘Como ji observazon © #80 populate Sua fois contiuen © camo mats exbdado da crisp populer. A coneepdo eset do Sarde popular ¢ do foldore,nisede na epoca prezomatie ¢ conchida tsencsimente por Herder e os romintis, exc quate totalmente cullra expctca da praga pablca também 0 humor Fe em toda» rigucta dab suns manifsagde. Nem mesmo pos Kelomente os especie do folltee da histria Iria consid ‘ara o hurr do povo na praga publica como um obj dign {Studo uo ponto de vse curl, worn, flee ou lero Entre as vumersas invesigagbes lees consaradhs 208s, Into ete obras poplars lines o cies, o tuo Seupa ape Um Tiga modesto. Mesto newas coded, a naurea expetica do £30 Youar aparece ealmente deforma, porque one spcade is ErnogSes qe Ines alean uma vee Ques formaram 1b o domino ext de wc utr tmpon mech 0 fee Permit alimar, sm exgery que a profende oiiealigne da ania fultre comics popular nso faint revelada No nant, sur ampliude e inportinca bi Tade Mésia © no Renascinent' ram conldeavee, © mundo ifn ds [ormas mmanfestagdes do so opunhase & cltra fil a0 tom serio, rl fos e feudal da Epo, Deira tna vraag, ett formas € taienagoes —~ ap fein pleas crnavalena, os ts € clon ‘icon tsps os bude tals, gates, andes € Ronson, 3 ‘pathagos de diversonestils ¢ categoria, a Teratura parédica, vasta mullforme, ete. — possuem uma unidade de estilo e constituem partes eparcelas da cultura cdmica popular, principalmente da eultra ‘amavalesca, una c indivsie. ‘As miltplas manifesagses dessa eultura podem sabdividiese em née grandes catogorias: 1s formar dorritose espetdculos (stejos carnavalescos, obcas micas Fepresentadas nas prages pleas, et); 2. Obrat cdmicas verbas (inclusive as parbdicas) de diversa natu se ols escitas, em lati ov em lingus vulgar; 3. Divers fornas e gerevos do vocabuldro Jamar e grosseiro Cinsutiog,jramentos,blasdes populares, et.) TBssas (és calegoras que, na sua Reterogenédade, refletem um mesmo aipecto cdmico do mundo, eka extltamente interzlacio- fnadas e combinam-se de diferentes maneiras. ‘Vamos defini previameate cada uma das its formas. 0s fevejor do cateaval, com todos of ator © tos chiens que ‘les igam,onapavam Un ugar muito importante ne vida do bomem Inedival Alem Jo camavals proptiamente dion gu era acomps- Ihados de atos« procistdescomplicadas que eacam as pragese Tuas dacane das ltrs, elebegvam-se tambem a "sta dos tlos" (Gestastutorum) ta. esa 00.2800" extn fambem Um "80 pascal” (ris paschlls) muito especa ive, consagrado pela trae Eo Atcn dco, quae todas a» fevas religions posta um axpecto ‘Sonco popular pblico,consaprado também pela wadigao. Era © ‘ai, por exemploy das “isk gmplo", habiualmente acompa- shades de fas com s0u ico -corijo de fetejos publics, Gurante ‘or quan se enbiam gigantes, andes, monsos, e animals “sibios") ‘A rspreventagio dos mitris esr dava-se um ambiente de cat= fatal 'O mesmo ocoria com as fexas agricola, como a vindina, ue Se celebravam igualmente nas cides. 180 acompanhava. asim [ccrimbnias eos tos civs da vgs cofane: astm, os bufles © os “Sobos" asisdam smpre fs fanger do cerimonial série, parodaedo seus sos (proctamagao dos nomes dot vencedores de tones, cer Ininiae de eatega do dteto. de varalagem, hniisglo Jos novos Caaleros, cic). Nenbuma fest se reaizave soma ttervensHo. dos tlemertos de uma organiagdo cdmica, com, poe exemple, eleigio Ge rains eres “pare rt” ara 0 perfoco da Testivicade ‘eso tees onto manta sie an sentavam ma diereng aotvel uma derenga Ge prieipio, poder tow cee, en regio" i foray docile © ts eetmonss fidae ‘cas da igeja ou do Estado feudal Oferecam tna visio do mundo, dio homem « da flocs homanas foaimente eiereme, deiverada” ‘ inene nG0-ofiial, exterior &uteja © 20 Estado: parecam ter cons truido a lado domundo ofl, um sepuido rand w ‘ida quas-OF Tomens-aa ade Meds parenam e tenor proporglo, eos qs eles vivian em ocaies determinadas iso eva uma spice de dualdade do mundo e cems qu, sem levila em considera, nip se pod comprecner nem s cons Ciénia ultra 62 Idade, Medi nem a civiiaglo rence Jgporar ou sbestimaro so populrnaTdade Mécia derma tame ‘uadrocveativo sic da cultura europa nos szuos segues. "A dualidade na percepeto do mundo eda vida humana je exisia 10 esis anteroe dx ilzagiopriniva, No folclore dos povos Primitives enconr-se,praelamente ao clos seas (por sua org Sizagto e seu tom, wcxiscacin de cull cbmicon, que convert as ‘Sivindades em objtos de bara blasfEmia (iso etal"), pall: spel aos mos séros mits cicoselajuoos;praelamente 003 hea, seus stsiaspaicos. Hi pouta tempo que os especial do fokorecomegram intrest pelos rts emits cdmicos? etn, ay caps riavvay, demo do um reine social qoe ado. conbecie sina nem classe em Estado, 08 aspeton séton € cos da dvindade, do nusdo ¢ do homem eram, segundo toss ‘@ inlcos,jgualmente sagrades e igualmente, poderiamos dizer, “oi. iss, Essa caraccrisoa persste as vezes em alguns rigs de Spocas posterior. Assim, por erp, no primi ixado romano, durante {Deniménis do tunfo,celebravisee escunetin-se 0. vencedor em {ial proporco: do mesmo modo dcante es Toneais choraa-e (ou felebravarse) eridiculrizavate 0 defnto, Mas quando se etabelece ‘regime de dasses o de Estado, tornace imposivel outrgar diets faa © ombor ov aipecoe, de modo que ne formas comics — ‘gues mai cedo oatas mais tae —adgizem um carder aio- ‘fil, su semido'mocifcars, els complicam-se e aprofindamse, para tansformarenvse finaimats nas formas fundamentas de expres: Ho a sesagto populat do mundo, da culls popula. £0 cso dot fess eamnsvaieces no mundo rligo.sobretedo as salusas roma as, sim como os carnavais ca Idade Meda que etd evidentenente Inula dsantes do rsa ival que a comumidade primis cone Ova sho as carat Seas dat formas dos Hose tseloeehmicos da ade Média e antes Ge mas nada, ql € 3 fue turers, if 6, qual €0 seu modo de exstenca? Nio se teas atwramente de itn regieos, no. gino, por sxemplo, a itugia city 8 qual les e elaciontn po lage sen * Veamt a ierentsins aie don win sos « a rete seen sca oben de Es Maen 4 orig da pop bare, SoBe nen) cl ios dstanes. 0 principio ctmico que preside aos tos do camara, Iberia totalmente de qualquer dopmasnn celgioes cu ccleaner, > misticlsmo, da picdad,c cs io alem dase ampere ee ‘ovidos de eater mdglco ou encanto (ato peleer new aig ada), Alnda mas, extas formas earmvaleces tho una werdasen Paria’ do cat religoso, Todas sus formas tke desdeneee SXtorire 8 Igejae relgo. Eas petencom besera puter da ‘ida coin Por seu carter concito semivel¢ saga a um podereso elemento sory eho a rn fe rr ¢ sae ‘ages, ou tj 4 formas 00 expetdeno fatal E¢ werdode {ve a lormss do opel taal ne hae Cherny cece 1s casincia don carnavais populace, dov oui sous ae co onto uma pare. No eatano,o ici des eultrn ato, cone ‘al, nio ¢ de mania alguma ‘a fona purses srtsios ot, culo tetra, de forma geal, nto eta no domini da aes Ei os sua as rons ene & are ea vd. Na realdsde,€'s prom ‘is apresenada com os elementcecaracivsices de ropesesene Ne'verdade, o carnal ignor tds dotingio ote tees eee, tadores. Tembiém ignoa o ple, mesmo na sa forma cmbsoukia, Pais pao tera desta 0 eatnaval Ce nvramnt, 2 deargs ‘palo teria destldo 0 epetsclo teat) Or capone See ‘gem ao carava les viventma ver ie 6 Stent aa ‘ropes natoreza ext para todo 0 ovo, Enquamo dure Ceca ‘ao te somos outa vida seano a do Cina Imposed ceca eis piso carnaval no tom aeakuma tone emer: Dene relat da fst, 563 pode ier Ge acordo Sos Goa Loe a 1 leis da berdade, O earaval poss ums caries ake oe «stad peeliar do mundo 0 seu nsscineate esas ane a uss paripa cada inivdoo, Essa €s propia eucoce Wo eee os gue pasa dos este sentemsto tensa ‘Ahi do carnaval fei peecbia emanifevouse de snc muito Sa te Sie espns re feo e completo (embora proviso) a0 pals deine ce on ‘ates ds suvae priunermy ro ns coe tis Media, que representou, com maior plenudee pussa Jo ae ate feast mesion cpa, 0 Hla do tenvatio waivenal Be ca Vida ordindria (isto 6, oficial). reaaioaray@erl oe uma oa tities 3 spainio ra. mas vr forma concreta (embora provisévia) da propria vids, {que ndo era simplesmenterepresentads no paleo, antes, pelo contraio, Wivida enquanto durava carnaval. Ito pode expressare da tegulng mancira: durante o camaval é a prdpria vida que representa ¢ inter Beta (sem cendio, sem pale, sm atore, sem especadores ue, som os alribtos especiticns de todo espetculo teataly ns coe forma livie ds sua realizagdo, isto é, 0 seu proono remsomecte s ‘enovagéo sobre methores pricipios. Aqui a forma eetva da vide £ 40 mesino tempo sua Term ide! rssuscitada, (s bulées © bobos sto as personagens carecterstices da cultura ‘imica di Idade Média, De cert0 modo, 0s veiculos permancates consagrados do principio carnavaleco na vida sotdiane Caquels que se desenrolava fora do carnaval). Os bufSes e hobos, come for ‘xemplo 0 bobo Tiboulet que atava na corte de Francie! (e fe figuee também no romance de Rabelais) nig sram stores que deste, ‘enhavam seu papel no palco (2 semelhanca dos comedianes que inaisntdeinterpretariam Arlequrs, Hats Wars, et). Peo conurato, «les continuavam sendo bufdese babos em todss as ciranstancias de vide, Como tis, encamavam uma forma especial da vida, 40 mesmo tempo real ¢ ideal. Siuavam-se na troniera. ene x aida e 4 ene {numa esferaintermedidris, nem personagens excéatrcos ou extige, dos nem atores cBeioos Em resamo, durante 0 carnaval é » prépria vida que repesents, € ot um cere tempo o jogo se transforma em vida red. Esa € nal, ‘ze especfica do carnaval, seu modo particlar de existencia. © carnaval ¢ a segunda vida do povo, baseada no principio do iso, & a sua vido fesiva. A Testa é'a propriedade tanameset ss ‘odes as formas de ritos © cspetéculos cameos da Ieeae Media, {Todas essas formas apreseniavam um clo exterior com #4 estas religisas. Mesmo 0 camaval, que nio enic'dia com nenhum falo da. ‘nstéca sugrada, com nenhma festa de Sent, realizava-e nos iltnos tas que precediam a grande quaresma (dios nomes frances de Mardi gras ou Caréme-prenant e, nos palses germinicos Ge Past, nacht) 0, elo genético que une exsas formas aos, testo pagios ‘agricolas da Amtgiidade, ¢ que incluem no seu rival 0 elemento cmioo, € mais essencal ainda As festividades (qualquer que seja 0 sex tipo) sio uma forma primordial, mascante,éa civiliz0 bumats, Néo ¢ preciso conde. ‘as neni explicétas como um produto das condigics« finlidades bréteas do trabalho coletivo nem, interpretacio mais vulgar ainda, a neccisidade bioloxica (Kisioligica) de descanso petibdieo. As fen vidades tiveram sempre um conteddo essencial, Unt senido prefab, xprimiram sempre uma ccncep¢d0 do. mundo. ‘Os “exerlcioe” de regulameniagio e apeifeignamento do processo do irabalko soletive, © “Jogo no “rabaibo", 0 deseanso ou’ « tregua no trabalho: muvee 1 Feral oe Few ea o bebo de cote de Fasico¥¢ de Is Xt "le parse repaidamete cot Rabat om © eine Je rbot (WT 7 hegaram a sr verdaeias fear. Para que © stim, € pecso um CClassicismo). Vamos dar a essa concopeio o nome convandional reali, grotesc. Noel no (onsen images de altura -cbimsa populas), © principe ‘sempacsspareve soba forma ‘niversa, festival ‘ami. » sal £0 compl 70 ligados indissoluvelmente numa totaidode viva ¢ indvishel. Eun oajuni alegre «-benazeo. ‘No realsmo grotesco,ocmento material e corporal é um principio profunsamentépostve, que nem aparece sob uma forma epota, ‘ew teparado' doe deme aspoaes da wdn. O principio mati ¢ ‘corporal pereebido como universe popular.© como tal opto ‘toda separapdo das rizes materials « corporis do mundo, a todo iolamento econfinamer. em si mesmo, 4 to cater eal abso, a toda pretensio desis cugdo devtacada e independente da terra ¢ ‘emtdo res fesido_ompletamente singularizados nem separados do resto do rina aits-ror do pencpio matcsial ¢ corporal nd € aqui nem o ser vio USS fn Cepia nde tga, at poey a pove. die na aun svolueio-cresce «renova coestantemente, Por Seo.6 lemenio corporal € tio magrific, exageado Snliito. Esse fxages tem, un eater poo e afmatin, © centro capital de ‘odes imagens da vida corporal e material sio a fetlldade, 0 crecineio¢snapeabuncincl. As maf via patel alo S40 atebuias «um sex iokgio ilado ot UM kao. “economieo", partgisr-e egnsta, mas a wma espécie de cleo. © geevan (eclarecremes mais trde 0 se0- ido desis aitmagées), A sbundincia ea universalidade determina por sua vez 0 carter wiegre e festive (nfo cotidano) das imagens ‘eféfentes& vida matesiae corpora. © principio mats ¢ corporal EDprincipo de fests, do banquet, da sles, da “Testanca". Esse aspeco subsiste conideravelmente na Ieratura ena arte do Renasc- mento, e sobretudo em Rabelais. ‘ trago marcante do teal sotesco ¢ 0 rehaiament, ie. Sener ee aeanne sits tnobsolivel unkiade, de tudo que < elevade, espstual, Weal ¢ © iso, por exemple, da Coena Cyprian (A Cela de Ciprsy que je menconamon ede vias ous paris ‘ainas 42 Tdade Média cuos autores em grande pate extraram da Bila, 7 doe Brangthos © de outros txos sagraos todos os deales mate- Tae conporas degratantse errata, Em cots dialog comi- or mato popuarcs 1 tends Media come, or empleo us tmantém Sulomio © Marc, hé tm conapouto ene a maxis Stlomdaicas, expresas em tom gre ¢ evade, 38 mune jocoss epedestes do butte Maral queso steems oes premedie. dine at mando mara ed, omit wal) Precuo scarce, tambéch ue tn dos prosedingate tos £ omicidade medieval consna em transfert cecmsti Hen tlevado a plano materia corporal asi faam or bute Guanie ‘os tomeio, 2 cedndnias de nicagio dos eatlchor'e en outa Sea es, Names dies do do on nvlecenco que aparecom 0 Dom Qultor, so. sptaday pelt traded do rains groeso. To 'A:Brundica josh ava muito em voga no ambiente escolar & cath Tdade Mia Essa tradelo, que remonta 0 Pergl:ream ‘mats, jt menconado, exendee a long> da Wade Média do Renascinento «subi anda bojeortmente as eect sclegin © seminiios religoses dx Europe Octleatal. Nes pramfica lege, todas as calegoriasgramatcay cass, fms Yel ley 880 tts fetidas an plano uteri ¢ corporal, obretudo etic, ‘Nao Sio apenas at pardlae no snigo estilo do term, mas tandem todas a eutas formas do renisme gotsco que résiam brorimam da teva e corporis Esa € ¢ qualidade eencal dese realm, que © separa dos demels formes “sobre” e Hteraurae tee eT Ge gna au az oe eas ee iso. grotesco, fo szmpreligado 20 balzo mate © corporal ‘io degrada e mata, Queer nen fot, an deradaes pics do ei smo grooves? Pra ee pegunta datos tgre apes oma scopes prelimina, uma ver que o ests ds obra de Rabcios nos permis, fox présine cpt, prec, amples ¢aprotandars none eo Cepgho dest formas, No realismo grou, a degradaglo do slime no tem um carter formal ou estiva ©. “alec 6 “bal” posse al vay Seals rola e rigootamentetopogéico, O"alo™ € 0 eb: 6 "bala™ ¢ a tra; a ura £ aging de absorg (0 tml, 0 ene), to Ines tempo, de ateinenio e resuregto (o se matrne). Este fo valor tpoprtica do aloe do bai no seu aspect cosmic. No Seu aspecto corpora, que nfo ests mea separade com sigur do tee aipecte comizn, 0 alto tepesentado pelo Tono (a ce), 60 4. dllogs de Silo « Mara, dgratanes ¢pedete, sho muito se ncn ar ogee gue wt B. Gants Sane a. 8 baixo pelos degios penta, 0 seni ep asin. © reaismo grotexo ‘2a pada medieval basclan-se ness signicagdesabsoluss. Ke- falar coosiie em apyouimar da tena, anlar em comunhlo com 2 tera cmb coo um pnp de sbordo & ao memo ier. Se nascmerto: quando se degrada, amaralhacse semeisesiul- tapramenis, mate se © dese a vida cm squida, mas c melhorl Depradar significa entrar em comunhio com a vida de parte inferor de corps a co veil & dds Orgion Bema, © poraao com atos ciid'9 oid, a concepe, a gravides, 0 pao. a absorcio de slimen- tore a saagio dat necceiades natura A depadasje para © ‘Gj cecpora pare dar gpa ¢ tn novo nascioone Tacs temsomente um valor dsstatvo, negative, mas também um posi, fegazeradge'€ amblaleni,so-besmp tpo iezsia 2 trans. eee eeepc @ su 3 er ‘So ton pe uae roduivo, no gels rete 2 mepeio eens, © onde fl fees oft © tian puso al on ob, ano an Senet Sos erent a to fsompee acne Pr sn parietal spre cm nd om pa veda pune otal ta ose eos 1 nae mr tam eae es om um cae exh vice sep cae anole, enero puro, coho pny © as agdaes em eel io psa coe Sreoa spe mndsna vienemene tn iment Sicgso ora "As dlpradagtes (paréices © de outos tips) sto também carse- teen da eas Go Remsen, ue ppt deta forma tctores ties cola tes pula: (oe node pare Sent compl profund car Rabo), Mes enclose 9 (Minne patch Sry aca de sna mb ela as Beto seu urine ese cae fest stenense No can, Sepsis Ee apna conegando nt, como o denon Slate v exempt D: Ouro "A Tak pened ap doiadapbesparicascondur em Cais an eapoicays dates on conuno coma farsa rods ion rerterador da eae do cmp. pongacto daha ‘pascr iss, a0 exo Temp, pepo aera © corporal SXtepsbrces¢ se dis uh paca Ea nur ex Ge cla sivas eat nes da mal © See ‘etayer sgn im i pi 1 and ee do Sinn Pay seu apt cu sde so snda aap © potandannte ewatvlecon cn aaa pa 3 ‘htc «neh em ch caters po, Sin propento pasta aondinea pr Senco € a dscdete dito don stig domévioe purged da fsonddade qh podesot 19 1% por expo, nos debs vases corns. Nas imagens da bein comin esto ainda vs a8 as do bangute © ds fsa 0 ‘merino de Sancho, vou ven, tu peti sus abundastes Pela tur nn “fi cbs” dy ea {Goteo, alegre timolo corporal (a baniga © vente ¢ Sea) ero pas acter a ieatsne de Don Ovi, a elie Foe lado, nbtsto ec iscsive; alo “cavavo da tise figura” pace eer mores pra renscer nov, mtr © nai Saeko €or tivo natura, compra ener daspeensbes dts ban ¢ pls an dio, Sanco sgpsena ben © Serv popular da graviade eaters! eis pretenses epi (G'baixo sotto sem cemar, norte rae que See ila) O pape! de Soneno Pangs em ago.» D. Ounote pode st Soniprado ao das paréias mesons Gnte das ase clos sl ina eto essa eon eo Cha fm relcte 4 Quaresm, ces © siete pozipo gencador ese fad, eiore numa forme stemaad, nes images erv-atta dos Snow de vento (ignites) lbergcs (cals). ebanos de Sot dos oven (ston de cra), sje (cae) prosaas (aas ds nobreza), ce urn pon ars eee, {ee convene ocombatem cor ¢ banquet amas cateadass Sv tense de conse vss de bafvesr, 0 ange em Yabo (Grist do combate coor os ods Ge whe) Ge Est senio primordial ecaravalesco da vida due aparece nas images trins ¢ corporis romance de Cerentes © precer, renfe ese sentido que eevao eto do se resume, seu unone smo ese profenc> wopamo popular, or oro lado, encanto, 0 cores e objeos coms a ada, x Cervarts, un carier povado‘epesoa, por cama to st Spequenam e's domestcam sin dipatadcs so'niel Go asses itd iy co nada 0 de brn tee edo oe egos. 14 nto o lnferior psi, capa de eager ida ETrenorr as um obsicl.estupio © moribundo ques evana Senta as ampieges do tel Na vida coven dos vidos bala, dons mans co “ine” coral conservam apent se alr etn. cen gue anc fr fost ten 2 tera €o gounos rmpore eso mages do “neon” espera tenn rds as inagnn atures do roti Val No eta, ese proceso ex apts cmopando em Cavan. Esse segndo aapecto da via dis imagens mattis e corporis combina com 0 primcito aura wnidae complena¢ Contant, 1 Peiodo em que ex perme comer cane, 2 6 a vide dupla, intense contracitria dessa imagens que conti sua lores € 0 Sigil do principio material e corporal na ‘nto: o eat es CGY Slo steal Unidad da tere geradora € separados do corpe universal, que cree ¢ se fenova som cesar, Soe quis estavaneunidos na culture popular / Nea consi are ESTE do Rensscimento, ess coptara ‘lo seconsumare ainda por completo; 9 "baxo” matetale corporal do reaisno grotsco cumpte ainda sus fungoes unificadocss, deere- dant, destronadoras, mas 20 mesmo teinpo regentradaras_Ndo im porta “guao. disperse, desu ualzados etessen. 0s sl prec au fr si a cn eek aetna vidualismo; o particular ¢ 0 universal esto ainda ee oa alee coma oan Se eee * Smits io nna 90 Resse a ft sna suficlentemente esclarecida. Séo duas as concepgSes do mundo que ‘eatrecruzam no realismo rénascentista: a primeira deriva da cultura ee ae mee. pees a ta i Gea aha eaanine hs shcacs dene dos eerie omen, sent Se Tcl ene gaia cent nel seen cea ht aout sao no ee ene en a SEy gamed ts ds ae des, iE opeeel ease alma gr pare cnprecdet ee eo Sarr ace Sareea Se satan Pern Senne O tapos ent ra ee Se ee gta AG go ants a wa pcr isos oe ep do So a deans ae ae ate ee cee ae Be dines on nce Epa eens eet os ome mrs em eve, pm rt comp ‘kts ‘ou dessas formas mais ov menos vivas. nem noscrcevcta un fenme eet vane ee oe, Sa cionae Beene’ deers. 8. cts on eee SGonsS Tica tap sins (ices) ne a pensivl do imagem grtesca. Seu segundo tago inispensivel, que ‘ecare do primera, € sux ambivalénci af dots poor da madara antigo e o.nove, 0 que morre eo gue nas, © prnapioe © ft fern scent ee) tno Ja attude em relagdo 20 tempo que esti na base desses formas, si erecta toada de consitcn, duane wu deservlvnents no urna dos mlens,tofrem, como € satura ua evteyaoe tansto. imaydes subaancals, Now prods ial Ou arcalcos Wo ots, © “emmpo apace como uma simples jutepsiio (pretcameate sina. tinea) das dss fases do deenvovimento: co e fim: Inverno- Deimavera, morte asceato. Ess imagens ands piitvas move {to ical boodamico do cio Vial proutor da matte do homem. A ices das ennges, a semeadure, «concep, a mote € 0 crecineno so os componcais dena vida produor. A noglo ‘note do ego conga nesss antiguas agers € nog do {empo cicleo da vida aatzal etolégca, | Mis, evdentememe, as imagens gotecas néo permanecem nese estiio primi, O seatimento do trpo e Ur steed ds eaghes gueihe nc, amps sof ¢ tara os fees soci ¢ histnos; seu carter Clon superado'e loves 4 some peo histcca do tempor4 ero ae imagens protean, com set Stade fundameotal dart de sucesso das ete, coms 20. ‘alinca, convetemse no frincpal mob. de expresto.ariicy ¢ \deolgica do poderso Sentmeno da bila © da aleranea is ‘Grice surge com exepcona! gor no Renasimento, Xo ena, mesmo nese esi, © sobretudo om Rabel, as Imagens poeics conserva una ratureea, original ferencarse slarameate ca ge dk vida clang, peciabelesiess pecan, Sto imagens ambivaests © coeraarias que parecem afore, ‘monsrioss ¢ horendss, se consideraéas Ho. ponto de. vita dt ssid “lisa” to da exten Ga vide coin preevobteide Ecanpleie. A nova perceppio tnca due s trespase, contests tm Sno aie ens casera sco ata teniconal: 0 coil, a graven, 0 puto, © cescinento corporal a velic, x desgrepagio eo dspecaramento corpora es om da & {us mer met, cobnam yenoc leer andamen is do sstena de imagens otescas Sap imagens que Se optem is Imagens clésieas do corpo humane sealade® pero © car lens maturidade, depurid dt ec do nacineno o'dsea¥ol Ent as oflebres figuras de trracota de Kectch, que se conservars ‘no Museu IErmitage de Leningrado, desacantse Velhas grévidas cua velhice ¢ gravidec sio grotescamente sublnhadas. Lembremos ainda 2 ce, so to, es wos vis rim’ Tatas um po temas coscteaice & eyes om, pote anos Elite premio; a more uc da 8h: Nao nada pret, ada sire oa sna corpo sae vets Comba a 9 cope Scconpase eons da velice€ 9 cone tn ost 6a SaeMEe's din ream seu poco toate nerarmone ‘Stato. ao bs nade proto nem compo. 2 em “vida inferior”. As imagens do groteico romintco sfo geralmente x expresso do temor gue mspra 0 mundo @ procuram comunicar ese temor aos letores ("aterror-los"). AS ‘imagens grotescas dn cultura popular ndo procuram essista 9 leon, caraclerstica que compartiham com as obras primes literéras do Renascimento. Neste seaido, 0 romance de Rabelais & a expressio sais tiica, nfo hi vestigio de medo, a aleria percorre-o integral mente, Mak do que qualquer ou no und, o omance de Rabelais ” tio ce gouucr grote, ‘a perme Sxemple, ¢carcerit gue grossa, uma es ‘Shurlr'o mando com um oltar diferente nt petréndo peo pote SE vou “anal” ou se, peas lias jlzos comune. Many to {ote popular, 2 loons & uma alegre pai do eptito oficial, {tr pavdedeuniateral, da ~verdade” ofl. © uma loacaa jes. No fpotesco ronnie, orem, lowara adr os tons Sombeios {rigor co bolamento do indo. ‘ ‘Sintve de macwa & mais importante sind £ 0 motivo mais ompleno, mals caregaco de seta dacalor popular. A méscaa sndura arin dav stern das encores; a alegre ela Ads, 2 aloe vegagdo a ldedade eGo seo eo, = megngo fn ceincdencia ep congo mesmo; a mascara € a expreso das ‘asfrencia, das telamocones, as lags des (rntias nae (av, da racularzagio, dos apelidos; a meara ecarne © piacpo A ned ia, xt basada mma pectieinter-clogo ca eaiade f dvtimagen, coracterisica das formas mais anigas Gos tion © espe- eto © compe smoluno da macnn nel, Baa ismbrar que mrifetagocr como parka, a earctura, 2 cae, a ‘Sntogh eas mucoguce sho Gatvada da miseara, Ba mlscara Se reve ny cnet profnda So gto No rotero rominco, 2 misery armancada da unidade da vs porta arnavalesca do mundo, empobeces aguire vis ‘os sigaiicagoes aeins 4 sun natret original: 2 ascarn dist irlae encoder eng, ec. Num cuir, popular orpanicamoate Tnegadn,« mésears no pod cesempenbar eos fangs. No Ro- mane ¢ méscara ere quase completamente seu espero regene- {aor e renovadr, © adgure um tom. igor. Mas ves la ‘Gssinda' um vano honor, "nada" (ema que se desaca nas Rendas noeuncs Ge Bonaweatrs). Pei contdro, no protsce popu Tarra mapcarareobre a atrena acgotvel david ess mls soso No eiano, mesmo no grotesco romiato, 2 méseare conserva tea da su indertrel saree popular e' cmevaenca, Meso fn vida coidana conterporicea, # mascara cra una. aumosera Special, como se penencesee a outro mundo. El nao poderd jamais tormarse um objeto ene outes ‘No grosco rominico, as maronetes desempecham um_pspel ait fnporate, Bie motivo aio ¢ alco, evsentemen, 80 Bo" (ico popula. Mas o Romana coloea em primaio piano s iia 1 Retermo-a aguas miscars ex sgiiado oa cles poplar dt ‘Aoigainde © de Made My semexamgar te sag novels Sgt 35 corps, «strum dh mexa mater, como foes aesnray, wo Sonn vo dW ( sea tadaogr en tera renovate, To € mullo Heo da comensso 4 snd de Gove 0 sundo wade te opto twa e's mote © ae ‘ieale Uerete do mundo onde nainenia ¢ mp se couroniam Este ‘hin petente & altura opus também ea sade pute o do posta “ Kayser concebe 0 sso grotesco da mesma forma que o vigia de Bonawetra ¢ a tia do "rso gesatvo” de Jean-Paul Bo 6 dentro do explo do groteco roméitico. O riso nla tem 0 aspecto alegre, Iiberador ¢ regenerador, ov sea, criador., Por oats. ado, ‘Kayser compreende mato bem a importancis do problema do rio 10 ‘grotesco ¢ evita resalvé-fo de manera usilateral (ef. op city p. 139). ‘Com jf dsiomos, 0 groteso € 2 forma predominante que adotam as diversas correntes moderisas atuis, A concepyto de Keyser no ‘essencal pode servir-hes de fendamento tesco e, embora com algu- ima reserves egelarocecaftos atpectos do grotesco romlntico. Mas ppaece-nos fhadmissvel estendéla as outras fses da evolugio da Imagem rotesca ‘© problema do grotesco © Jo sua essinsia estética 56 pode ser corretamente colocado ¢ reolvido dentro do ambito da caltura popu: Tar da Tdade Média e da literatura do Renascimento, © nese sentido Rabelais € partcularmenteesclarecedor. Para compreender a protun. didade, ab alplassgnficagdese a fosja dos cversos tgmnas gretes- “Gos, € predsoTaxblo do posto de vista da unidade da cultura popolar da visio camavalesea do mundo; fora desses elementos, o8 temas frotesens tomnam-se unlaterals, dels € anddinos. io resta diva guano & adoqecio do vocbalo “aztec” apt ‘ao sam tipo apecal de engens da care poplar da Taade Miia et nerturn do Renscinem. Mas até que posts justfca 2 nossa denominagio 2 “reatimo gro‘eco"? ‘Nesta ntodago, x6 podemos dar ua rspota prlninar a esa coat, ‘Ae carcteicar que diermcim de mantic tio marine 0 arctexco medieval ¢remscentna do oes rominio ¢ medemsta wimindjaieals 4 compeensig topotancancote wate € inden ds cxatncia — podem ser detindas da mana ais ade- Senda como relay, Nostos ands uterioes certs ak mapens {Toveeas Ito confimar exe hits. “As images groesas do Renascinen',dretamest gas cul ‘ura popular eafoaaiaca (em Rabin, Cervantes «Sted, infu Tame teda'alteaur Teale Gos téclos segues, O ressmo fm grande elo (Sendhal, alae, Hag, Disks et) eve sempre fend (arta on inetarente) 4 rico remeron ‘dese ago conduzs ftaente a0 abastrdamento o reais, & 508 egenertgi om empiramo naturalists ‘A parr do silo XVM, cers formas do grotsco comesam a degentrar em “caacionzario™ aia «essa pina de costes como coneiace da ima erecta da concep buroess de ‘minds, Pelo conto, 0 verdadero grotico nia’ de mancia Blpuina estes vor, sie, por primi ae sas imagens © “6 devs, 0 crescents, o inscabamento perpévo da exitacin: & 0 ‘motivo pelo qua led nas sus imagens os dat los do devin, 20 teumo tempo o que pare 0 que et chepando, 0 que moe'e © due nase: mostra dos eorpes no ine de im teas germinagbo a diviso da cella viva, Nas formas mais alas do realism rotesco & flelérico, como aos organo unless, no esta Jaan mt ‘adver amore do organo tnzeiat coli com o proceso ‘Se mulipleags, 62 cvs em Gust clus, dls crganemon, com “stamens, a vice eta grvic, « mote exh. rene, 00 ue £ limita, cracteristico, fio, acaba, recite para 0 “ite "or" carpal para af set relondio e nase do nov, Man, darante © proceso de degeneagdo © desapeggio do realso gioco, 20 Peo peiivo doaparece, Sto € 2 mathajovem oo devi (cubuia Bela sentega moral ¢ pea concepeso absrta), cesta apenas Um ‘dover, uma vlhice ‘sem preaher, pura, igual si mexos, bolas, artancada do conjuto em feno cesineno no seo do ial sas igava 4 maa jovem segue, na sadea Gaica da evligio © do ® Nao resta mutilado, efigie do deminio Nto feta mais que um grotsco muiado, elie do a focandidade com o flo catado © 0 venue enclhio, Bo que dt ‘eigen todos o» tps ees o Serectersce", 2 todon & pot “profsionas” de advogudon, meeadoresalovtkas, velbose vslan, iss simples miscaras de um realime fasifeadoe depeerago, Eset {ios extiam também no realismo gotec, mas no coosiulam 0 «dro de foda a vida, cram apeaas 4 pace agorzante és vide spss ea nov comand ean fara oat is etre ‘os cotpos ¢ as cols Sepia os Corpor dopo © fda do realism groteso ¢ folrico at cosas que rotara onto fom 0 corpo, procira apereioar cada indvialidade, foando-a {a otldade fl que Je petra antgn imagem, sen ter aida ‘etcontrado uma nova. A compreansf do temp, ‘amen, mosificon- Comdev iterate chanade de “reaiemo borg” do séevlo XVII (Sore, Sarton ¢ Puree), ao Tago de lente puramene cara: alec, contém i megens grote extn Io @, quae Soba das &prseagem do temp, 8 covrente da evolio, portato, oa fined a sun dupin natura cu cvidida em dois, Alguns autores, Como por exemplo Régirinclinan-se a ieterpretar estes Pamelor pesos Samo o Some do elmo. vedas so apens apmete sori, te ves quae desprovion de sega, 6 Pune pot do realismo grotesco. . ah ae No inicio da nossa introdusio, asinslames que certas maifesagses a cultura cdmica popular, da mesma forma que os génerostpicos do ealismo grotesco, foram estudadas de mancka bastaate completa € “6 fundamental, se & sire que sob 0 tno de modo tsco- fats hire ert que-pedolosvam no seo XDC ¢ Sor pimtxos Jctios do feo XX. Eatuaramac go apenas st cheat enn evdetemene, mat tab ceios inden epe ‘ics, como “fsias dor over” (Bougus, Drews Vesa), ‘hus pac” (Sch, Reach, ce), "ara saprada” (Nova Toon, Lehmans) e ou enénaor ge, a ead, exaparam fo domi dr ant ca Herses. Estuarine iene ou ‘anieages da clica cia de Ante (A, Dserich, Rech, Cenfrd ee) Os flea, poe ua ee. Szram tao pare ccc o cider oa tate de feente motvn esmbole gue ‘Strum as cltracOniea polar (€ iene menconar © ce ‘pelo ochre meoumeatl 3 Fass, O ame de ouo). Exe a5 ‘edo un nimero conde! de ote cette dedicat cra CSch popular Na segienca do tone bain, volaremos a not ‘eer es, Tifelomenie, toda esa iment erature, com raat excess, & staid Se cp tance, la no wns alee guerln- dee valor de pinpi: Dal que S22 documensgio quae iii minslnamene soo a “ts ecpuluncte nn, ho eo uname Pwcuda, que pu noe é 0 mundo unto. da calura coma opulit, aparece nesas obras come um aglomerado de curiosidades Felco, pase! de lnc uma Rta "ca du clr dn era etropas,apsn ds suas gandn. proprcde. se cojulg de earondades © obcniader ea ora da Shia dos proba “sston" Ga eas errs gue te color oa Ei tepe' entender acini qe, da mes, podeoes ine Cir exis pela ctr comix poplar sabre a era, ae 0 Sfeoruneato cat ian de hauls, pemeseie qua comple eat esta. Txporenos gota brevemete dois etdot quo term 0 miso du eooear ox problemas tins © que alm bor bos eo ben de da perpecvas dierent, an 190, ttt publi um gro volume initladoO mimo. Enito de tando irico de evolgio teria (V- nO 3, a Inadseo ‘objet do to 6a readade a cur cia dn Antidade 1 Ene as obras sovdeas deracese uchra de O. Frenne, A police © da Kdade Média. Proporciona ums imensa documeatasio, muito interesante e precisa, O autor demonstra muito justamente a unidade dds tradiggo cOmica cissca que passa pela Antighidade © pela Tdade Média. Ele comproende também a ‘antiga e fundamental do so com as imagens do “baixo” corporal. Tudo isso he permite adotar uma posigho justa eTrutifera dante do problema, ‘Mas Reich, em dima instincia,néo colocou verdadeiramente esse problema, Paiece-nos que dois mtivas 0 impediram de fazt-lo. ‘Em primero lngar, Reich tenta reduc toca a histria da cultara cémica a do mimo, ou seja, de um inico género cémico, ainda que muito caraterisico dos fins da Andglidade, Para o auter, 0 mimo € 0 ceairo e quase que o dnico velealo da cultura edmiea, E 6 por Isso que ele reduz @ infuéneia do mimo antigo todas as formas do festas populares assim como a literatura cémica da Ydade Méde Pariindo em busca da influéncia do mimo antigo, Reich ulwrapassa limites da cultura europe. Tudo isso leva falaimente 2 exageron, & jmorknca de doo que nfo quer ena no eto de Procto ‘mimo. & preciso esclarecer que Bs vezes Reich escapa Bs suas propeas concepsbes, pois @ sia documentaeio é de tal forma abundante que o ‘obriga a evade do quadro estreto do mimo, Em segundo ver, Reich moderniza ¢ empobrece um pouco no ‘6 0 riso mis também ¢ principio material e corporal que Ihe esté indssoluvelmenteligado, Na sua concepet, os aspectos positives do Principio do rso— sua forca liberadora e regeneradora — s8o abafa~ ‘dos. (embora 0 aulor conkera pertetamente a {osofa do r80 antiga). O universalsmo do iso popula, seu carSter ut6pico, eeu valor de concepio do mundo tampoueo foram compreendidos apreciados na sua jsta medida. Mas € sobreudo 0 principio material corporal que parece especialmente empabrecido: Reich © considera através do peistea do pensamento dos tempos moderaos, absrato © diferenciador, logo compreende-o de ‘uma mancira estrella © qUase naturalist, ‘So exses dois aspectos qui, na nossa opin, entraquecem a coa- cepgio de Reich. No eatanio, podese afimar que ele contribuia ‘uilo para preparer uma justa‘colocaséo do problema da cultura cémica popalsr. E lameatavel que feu lr, enviguecido com uma ocamentacio nove, orginal e audacioso no pensamento, no tena ‘xercido no seu tempo a in luna desea, Na seqhtncia do noso tba, referi-nos-emos vias vues a segundo estudo que ctaremot aqui € 0 liro de Konrad Burdach, Reforma, Renascimenio, Humanismo (Reformation, Renalwance, ‘Humans, Berlin, 1918). Esse breve estudo aproxima-se também e uma colaeagio do problema da cultura popula, mes de manera ‘completamente ciferente da de Reich. Ele neo fala jamais do princh “a pio materite corporal. Scu dnico hers ¢ a idétrimagem do “renas- Eimento", da “enovacéo", da “reforma’ Burdach quer demonsrar como essa idiaimagem do renatcmento ‘nas as dveras variates), que se orinou na antiquésima mito. logia dos povos ovientais e antigs,contizuou a viver © 2 deseavl- ‘rae igualmente no culto religoso (ltwgia, to do batsmo, ct), ‘dese izcu pelo dogma, Na epoca do rellorescimetto rligiso do féenlo XII Joaquim de Firs, Franctco de Ass, os espiualistes), fla revive, penetra em camadas populares mais amples, tinge-ae de ‘emogées puramente humanas, despera a imaginapto podtica arti ‘ica, toracse a expressio da sade crescent de Tenacimentd © de renovagio na eseraexclsivamente teres, ist 6, no dominio pol tic, sociale arco ¢V. p. 57) ‘Burdach segue © processo lento e progressvo da secularizacéo da idéiasimagem do terascimenio em Dane, nas idias aividades e Rien, em Petraca, Boceacco, ec ‘Burdach considera justamente que um fendmeno hiséric tal como © Renascimento no podia sr o fesultedo de pesqusas que visssem fxclsivamente 0 conhecimento gem do esforgo intelectal dle ind idvosisolados. Ele explica ofalo da sequinte mancia "0 Humanismo e o Renascimento ndo s80.08 produtos do conke- cimento (Produkte des Wiens). NEo spaesem porque 0s 380s ‘escobrem os monumentes perdos da arc e da callus aolgas & sspiram a ressuscitsies. © Humaniano e o Renascinento nasceran ‘de uma expectatva e de uma axpirasao apsixonedas¢ ismtadss da época envethecda, cuja alma, profundamente abaleda, ansiava por ‘uma nova javentude” (p. 138) “Caro, Burdach est itirameate coms razko quando se recusa a cxgina eexplica o Renascimeaio a pari de fones eruditas ¢ lies- as, de investigagoes ideologies indiviguais e “esforgos intelectual Fle est cero também em afrmar que o Renascimento foi preparado durante toda a Tdade Médie,(sobretodo a partir do século X11), © {que a palavea “renascimento” nfo sgificave absolutemente “renas Clmento das cidaciase artes da Antiguidade”, ras tnha uma signif ‘cagio mais ampla e preahe de seatdo, mergulhando suas raizes nes profundidades do pensamento ritual e'espetacular, metafic, inte Fectual e igelégico da humanidade. ‘No entanto, Burdach no viv nem compreendu a exter predomi- nante onde exis a idéainagem do Renascimento, isto €, a cultura ‘Bmica popafar da Idade Médle.O dese de ronovegio de renase- Imeato, 8 éasia por uma nova juventude™ impregnacam a. sensagio ernavalesca do nndo,encraa do vert mands nas formas onerets esensves da cultura popular (espetéculs, rites « formes ‘etbais). Era sso. que consul a “segunda vida” festive da Tdade Mita 7 4” ‘Vitios dos fentmenos que Burdach analisa como precursores do ‘Renascimento refletiam por sua vez ainfuéncia da cultura popular e, nessa medida, anteiparamn o espnto do Renascimento, H0 eas0 de Joaquim de Flore, prncipalmente, de Sio Francisca de Aris © 0 movimento por ele funda, Nio ea por aca que Sip Franco lesigmava nas suas obras a sie aos seus compasheiros pelo nome de “jograis do Senhor" (ioculatores Domin’). Sta eoncepgso original Jo smndo, com sun “ales epi” (i sprain, sn Deo ‘principio material corporal, © suas depradagdes © profanagéee caracerstias, pode set qualifcada (ato sem certo exagero) de cato- licsmo cumavaicado. Os elementos da visdo exmavalesea do mundo ‘ram igualmente muito fores em toda a atvidade de Rienzi Todos ‘esses fendmenos qu, segundo Burdach, preparavam o Renascimento, tstio marcados pelo principio cémico lberador e renovedor, embors se afime por vezes auma forma exoestivamente Emitade, De qualquer forms, Buidach ndo leva em conta de manera alguma exe princpio. ‘Apenas 0 tom séro possuiexistéaca aos eeus oes. ‘Enfim, Burdach, no seu dessjo de compreender melhor as relagbes do Renascimento com a Idade Média, prepara A sua mancica a ade- ‘quada colocasio do problema, B assim que «2 apresenta o nosto problema, No entatto, 0 objeto ‘expectico do nosso trabalho ndo & 2 cultura cBmica popular, mas ‘obra. de Fransois Rabelais. Na reaidade, a cltura edenica popular € infinite ©, como jé vimos, extemanente heterogénes nat suet maai- festagies. Em relagéo a ela, nosso objetivo & puramente teirico © ‘consis em revelar a unidade, 0 sentido © a natureza ideologica rofunda dessa cultura, isto &, 0 seu valor como eancepedo do mondo ‘© 0 seu valor esftico. A melhor maneira de resolver 0 problema lwansportarse a0 préprio terreno onde foi recothida essa culture, ‘nde ela foi concentrads ¢interpretadalterariamente, na etapa spe: ‘or do Renascimento; em outras palavras, wanspertr-nos A obra de. ‘Rabelais. Ela € sem davida insubstafve, quando ve trata de penetrar ra esefncia mais profunda da cultura cSaiea popular, No'tmundo ctiado por ele, a unidade interna de todos oF elementos heterogtacos revelase com excepcional clareza, de tal forma que sua obra const uma encclopéaia da cultura popula, Podeios ierminar agua nose inode, Acesentenossimples- sevens oro ain «roa Iagdes" ai expresos de ua forma algo abate ¢ por vere tegen, vamos eoncretzaios itl, Yasandorncs Cato at ‘las de Rabelis como em cures mafehagtes de Tse Meda {4 Aatigiitade que Ihe Seviran, rela ov mcamerte, Ge one 4 inspragto. 0 Capftulo Primeiro RABELAIS E A HISTORIA DO RISO ‘Sela quremument neresmnte erever to (Os quatro sfoulor de hitria da compreensio, nflugacia e iaterpre- tagio de Rabelais s$o muito insirutivos, na medida em que esta Histria se imbrica na do rso, suas fungbes © sua comprecnsio esse mesmo perfodo. (s.contemporineos de Rabelais (¢ quase todo 0 século XVD, ‘que viviam 20 melo das tradigdes populares, Iiterriese ideolbgicat, hs condigdes © acontecimentos da epoca, chegavam » compreender ‘0 nowso autor e sobiam aprecilo. Assim o testemunham as opi- ‘ides de seus contemporineos ¢ das geragies imediatamenteseguitest {que chegaram até nés, bom como as varias reedigbes da sua obra n0 ‘iculo XVI e primeio terga do XVIL- Além disso, Rabelais nfo era Aapreciado apenas pelos humanists, na corte nos esrator mas altos, de burguess urbana, mas também ene as grandes massas populares. CCtarei uma opiido intereteante de um contemporineo de Rabelais, (© notdvel histoiador (¢ escrtor) Estienne Pasquier, que escreve uma carta a Ronse: “Entre nos nfo hi ninguém que no stiba ‘quanta simpatia o douto Rabelais, pitheriando sabiamente sabre 0 ‘hu Gergana ¢ Pantagrel, ganhou entre © povo".* TA Nita pistme de Rabel, to 6, Nitra do sn comreenio, lnseeapso tials srvee dot hen eth bastaate eta noe 6 ‘Ste ace fa, Al de uma Jong scr de peblcaiee de yor sa Revue ‘Ee des rbelationes (903191) ene Reoue du sensi esta ate fa const objeto de dos obras especies: Dace Boulenge, Rabla & Irons ager [Rebess rove dor tompon, Para. Le Dian 528: azure ‘StitenCinance ctl réputaion de Roel (rps, feces of iar {tur (4 inflatnes «+ vena de Rabelais Untrpreas, toe rite test), Pat, J Caer, 1990, Ean brs contr atralmente oper ‘lemporinens sobre Rabe. Le letney Eee Pareer (As cartes de Estenne Pager Jan Veg ipsa ttt,» st Outros fatos provam de forma cabal que Rabelais era compreen- ido’ emado por seus contemporineos: refiro-me as aumeroras profundas marcas de sua ifluénci, © a0 grande ndmero de ita ores seus. Quase todos os prosadores do século XVI que o suce- sderam (mais exatamente, que escreveram depois da publicagio dos dois primeiros livros), como por exomplo Bonaventure des Périers, Noel du Fail, Guillsime Bouchet, Jacques Tahurean, Nicolas de Cholites, et, inspiraram-se em maior ou metor gral na vela ra- bela iadores da época: Pasquier, BrantOme, Pitre de 'Estile, Oe assim como om polsmias panletares protsnte: Pare Vat, Henri Esteon, cey tambéor nfo escaparam a sun inl. A erature do ola XVI temioos, ports at, 4b 0 sigan de Ribs; o domiio Gaara pol, por example, pocemoy iar rival Siva menipla da vrude &0Cotlcn de Espana. 1594), dgda conte Ingo, ona dae melhores stra pol fzas da Mernara mundi € 90 Gomino des telaruee 0 noel Come ser bem sucedido.* de Beads de Vaile (1613), at dh bres quence co, ko micas poo slo dae sie flagane de Tabela epesr da un eteoqeaiade, 3 pero tens vie ums exis ioteicaguas excusvament abana Aig ves rans sare do elo XVI qu saber 900 ‘elar 1 infléaca de Rabslais meamo conservando # a mdepen- inci numa mull de lniadores cious qe so dea aah vega erst do seu tn. importante lembrar anda que Rabcis toe wm sien ine ino, que le songusoninedatmste ope, fgo om pines snes ue ce team apaigi de Panto. ‘Asse deve esa vga to rpida, a opis entlatat (em tora ‘nfo ssonbrida) der eootemporsor einer iafuaca ays ft es ge eu de oblate o> Stbis humans, horace, puneiin patios e rian cali ines aldo de intadorst 7 ‘Os contenporineos de Rabelais scalheramno sobre o paso de fund de ne trio viva e ainda punt. Fodian erate sur eens com a force» realvarto de Rabi, mas nfo com 0 Efriter de ses imcgors © seu elo: Ees sibiam ver unilae 0 3 Saire de 1 verte Ctholion Espo. Reediada a rks Opp 0, de and cat tells erie ie Senet 4 Thulo compli: Bétoalde de Verile, Le moyen de paren, ovr seen era et ne ee re ue conti expapéodeque que fo fe ur) Eas cle, cs Va SEs Chae Nope, Pat, 18, ot volute peers 2 mundo rbvasiao,stbam sen 0 pareateco profundo ¢ cle thas redprosas ss on seis Semeion comsiulvor or qi Sd sealo XVI js parece tervemente europe, © no Menlo XVI totimentslncompatves debates sobre os grandes froblean, aswuntos flosticor Govt em bangles, gress Penden omlda verbal de bata cog, earl eraio $ fsa, Os conemporioos cram capers de capar a loge une Sue poor tenbmencs pra 86s th. Ssparaos na puta Tes Seam ce manera epudn 9 rengio des imagens & Rabelais om as formas dos eopotcaos popolres, cardia fesiv esecco Asta inapens prottadamenteImpregdas pelo ambiente do ca ara Em oi pla, cnr pan «me lan lntepidae ea liga do viva aratco esto fabvaiaso enideds de efla e's comoniaca de toloh ox us ‘Heosnos, erodes por sma socepeto ulin d mundo por Sim gamle € nto slo pingpaimente io que dengue ere Dee ddh Rasa oes XVI du he ra on ‘biogbentes Os nss compreendia como mans {oer actos de un tno loo que or meas co tne XVIT ETSvin inert como una icossinerasia ida © basa ‘do aut, ou Gono ua epee de eldg, de ciplogaa que eee {tte ue tema de loser deteminadon scontsinenon 0 pe. SSnsge pce No entntoy essa compressio dos contemporneos era ingtaua ce cpoinen, © que parte scelo XVI ow elon Smuts $e Corre um ena eu ara ks ago pefetamente eval POr iio t compressto ate conesporiete no pode forme? una espa a0 mosor pleat, led Qu, para ee, eS PO- Ticmes no exam 7 ‘Ao mesho tonpo, Hse vilumbra. nos princi intadores, © omoso dn esaovGte do exo rbiaion. Por eco, em des ‘ne paincysnete om Noe ds Fla ingens rbuistnas {eget se atsunn, comeych a taneformarte em pitrn de boro ed costumes Seu uavenalimo te elraquece talent. A ‘tafe dae proton ve manesin quando as Enageo beasts So emmregndas com fav sro, isto cons, nse cao, A deb itaio do polo posvo das images anbivaleies. Quando © g10- Fer oe roe eon de ae en yt ee ay fas Ha: Sane arn eae Se ea ee ded Sede TE co nn er We ieee es eS 5 3 eco se 8 a serigo de uma tndiacia sbarata, desoatralizas2 iain Sia edad batzen 64 expres da plate com. dria ¢ da da va, gue coséa) a nego "a detuglo Cine ogo) comida como aa at indipenste, ae. Iardvel dh firma, do nsciento de algo novo © melhor, Nese fenio,o substrata material compra da igen tees (tine, pot. © peacoat ¢ pel le aloe Sane pov, © peboio marta ¢ . tok ‘ppeat ite wea ee Cendant dxlora esa crmcersica dim teen, pondo tine oat conto, chet de sen “mot” Mai an, ela sabortinao subsaio nara da ‘bogo deste processo na stim protestants don primeiros tempos, depois ‘a Sétra menipti, da qual 6 falamos. Mas isso 6 apenas um comes. ‘As imagers grotecas atilizadas como instrumento da tendéacia abt. rua esti ainda muito vigorosas, elas conservam, portanto, sua nat. ‘ee propria, continuam 2 deseovolver sua propria lice, independen- femeote, a tndéac do ator e mult Yess meno apear dee ~A tradugto alem lie de Gargantua tit por Fschart com o ttlo otesco de Affenteuriche und Ungeheurlicke. Geschichilinerung (1575) constitu nese sentido um exemplo muito tipo Fischar € protetante © moralista; sua obra lteréria coloca-te sob ‘9 signo do “grobianisma”. Pela sua origem, o “grobianismo” alemto € aparentado so fendmeno Rabelsis: os grobianistas herdaram do ealismo groteco as inagens da vida materiale corpora, soferam, 2 influéacia direta das formas earnavalescas da festa popular. Daf ‘© marcado hiperbolismo das imagexs materisis e corpoais,sobretado 8 referentes & comida e A bebida, No realiamo groteso, sim como nas festas populares, os exageros eram postivos, como por exemple esas salschas gigantescas que dezenas de pessoas carregavam u- ante of camivais de Nuremberg no século XVI ¢ XVII. Mas 4 Scaosi morizadors polica dos robin (Dedekind, Sebi, i) confere 8 esas Imagens um sentido reprovader. No pre ficio 20 seu Grobianas® Dedekind fala dos lacedeménios que mor lravam aos seus filhos oF escravos embriagados para torna-thes codioas embriaguez. As personagens de Sho Groblanis ¢ 08 gro- ‘ianstas que aparecem em cena, sio consagrados & mesma fnalidade, ‘Acnatureza posliva da imagem &, portaato, subordioada a0 fm nega 4 Dedekind: Grab ot pobioah we (pie ssn 438) Tino pr eat poe Sa, Stes gas Ss au vo de sidiulaszar, sav do ponto de vist dstorsido ds shin da conlenacio tora Esta akira ¢ feta a part da perspec do Gonguts eGo proretnt, se vse © brea Teudel (m laser) toad ns esos nu gtooaria na embragur ¢ oa iberiagen. Tose memo pono de vata robusta (sob a infuéaca de Senet) ttn ra fra eo et Cea? "octane, ape dn onenagso print de Puch, s faa gem rabelatants da son tndgao cominusm sia vida vededea, Sera aa th cn ee hire as imogensmaterns compose (pricipamenteo comer eo bebe) Eshus as ascomads, en cperego. com Rabelais A légicn ‘ater de ndon ees engeros 6 como em Rabelais a hc do eres. ‘Sento, co esmnaidade Ca superabondnca, Toda as images Sto ¢ mean “bax” gos devre «preci. Da meuma forma, carter fev epetico do principe mata « corpora tame preservado. A tendencin sonata ao penetra a inagem aléo fund, Pio‘ tora seu principio orgaizadoreftvo, Oppo 10 "80 Se tasfonma anda completamente em uma rideuariasto pra € Spies eeu carter ett aids suleentomente itegr, de diz 7 pele votalidade do proceso vita, ox dis pos 2s tonldaes, ‘Tntancs do ascimento «de enovedo al resoam. Em esumo, a8 Talus de Fichar, a tndlnsia Asta oso dominou comple teats todas a ieges. No elantoy en's infrara na obra sé um cero pot, teansformara as imapent em umn espéie de apendice ero 05 Sermbes aborate e morlzantr, © pocso de renerretato do tao abee completa posisiomeate, tomo coneditnca dicta dh insavapé da hiererguin doe genres © do lgar que 010 ocvpard dentro deta ieragu Ronsrd € a Pind stam 4 convencidon de que ela mw ‘esr pes Ean en oma scanned Ae och npads as ani exer on Fre, no 3 ps inutcanene. A Pde wr ainda to Ite senor {et neoe auto Sve meron Siam sina © mor resp por obco sam asco nt ta tu media, sobretuo 6 Bly ‘ul Ganado lganet coin co aos aver Ce pdeost 7 Diy i en fp sr ne Fi 7 it Se tet ea me pathomicam mates Memon e eke tena Biches Sel ar ase ek, Sb UR, ss ae Ps 55 inécin das ngage soe de Pade) punta te cteori camente ao lugar que Ibe estava desigeado na hierarguia dos g2aeros, Soo gat toan tix, que nase Mensa ha ‘quia era ainda na época apenas uma iia puremente abstata © bas: ante imprecisa, Antes que ele pudesse expressr n interelagio dos sineros ese convertesse. numa forca verdadeizamente.regulsdora determinsate fol precso que ve produsissem eertas mudangas soiss, politics © ideoopicas © que o circulo de leitoes e conhecedores dt srande literatura oficial se dierencaste se resting. Sabe-e que esse proceso devia completar-e no século XVI, em ‘ora tenia ‘comecado a se fazer sentir desde 0 fir do séulo XVI, nesta gpoea que se comess a cree que Rabelais aio passava do em autor dvertido, um eseritorextravagane. Bsa foi wmbem, como ‘st sabe, a sorte que teve © Dom Quixote, por muito tempo mantido na categoria das letras fGceis ¢ agradivei. O mesmo ocorrey com Rabelais que, a pati do fiz do século XVI, comesou 2 perder cada ez mais a un reputasio, eaindo até os umbrais da grande iteraura, depois quase para além, e finalmeate para fora del. Montaigne, que tins quareata anos menos que Rabelais, escreve os seus Essa “Entre os livros simplesmeate divertides, enconiro entre of mo- ernes o Decameron, de Boccaccio, Rabelais e os Beijor de Jean Sczond, se podem ser colocados nessa categoria, de boas para diver: tir". (Livro H, cap. Xz essa passagem data de 1580) Esse “simplesmente diveridos” de Montaigne esté ainda no limite golce antiga © a nove comprecnsio ¢ apreciagao do "diverido”, do “alegre”, do “recteativo” e outros epfiztos semelhantes atzibuidos livros e que figuram freqientemente, 20s séculos XVI © XVI, nos répriosttulos das obras Para Montaigne, a nogio de divertdo © alegre ndo se resrngira sinda definitvamente, no agua ainda (© matiz de coisa infeior e irrelevante, Numa outta passsgem dot Ensaio, ele dit: “No. prociro 0s livros sealo o prazer de um honesto divert ‘mento; of, s© estou estudando, procuro aeles apenas a cifncia que trata do conhscimento de mim mesmo, e que me ensina s mocrer © vive bem”. (Livro I, cap. X). Portanto, de toda a Hterature propriemente dita, Montaigne pre- fere o& livros agradéveis eféces, uma ver que cle eatende por oxtzos * For expo lo de um dot nti ioe do elo XVI, de Bons ear Seti 2 Nowe ton poe ee eres rece Pre comers). 56 lors aguees cue provém consolagto ¢ consehot, as obras de filpso- fin, de teoiogia, sebretado os do gener dos seus Ennatoy (Marco ‘Alilo, Séneca, Moralla de Pltaeo, et.) Do seu ponto de visa, a Treratra deve sor antes de tuo vertda, alegre roars essa perspectva, cle € ainda bomem do sézulo XVI. B signif cativ, contodo, que s manera de regular a vida ¢'2 more eiteja {etntvamente fora do. demiio do sso jublaso. Com ‘Boceaclo «Jean Second, Rabelais € "bom para diver’, mas nfo perence fo ‘mero dos consoladores t consents qu esipam "a bem Imomrer€ bem viver" No entano, para ox seus contomporinec, Rav ‘elas cumpria muito bem o papel de conslader © come, les subiam ainda, portato, ecurr fbfosment, 0 plana do rs, 2 Tmuncirade regular a vida c 8 mote ‘A Gpoce de Rabelais, Cervantes e Shakespeare marca uma mudanga capil ua hiséria do "so. Em neahum ouvo aseco, = no tet na tad eo telagdo ao iso, as Honea que separam 0 séulo XVI 6 seguintes da época do Renascimento, #80 180 bem marcades, to fstegoicas © tds, ‘A altude do Renseimeato em relaglo 20 rso pode ser caecte~ ‘aad, da maneta eral © prclinoay, da Segute macro so tem ue profuado valor de concepgo do mundo, € una das fomax capita plas quis se exprime yeréade sobre o mundo na sua Toaldade, sobe = bsiria, sobre 0 homens € ua ponto de vista Particular © universal ecbre © mundo, que peresbe deforma dierent, ‘bora no menos imporaate(aliz2 malt) do que o strio por iso 8 grande iteraura (que colo por auto lado problemas univers) {ive admilo da mesma forma que ao séio: somente © 10, com fet, pode ter acess certos sspectos etremamente imporisates do mince. {A attude do sfulo XVIT e punts em rego 20 sto pode ser ‘aracterizads da segunte mania: 0 sho ao pode ser uma forma Universe de concepo do mundo; ele pode eferr-se apenas a cetos feedmenos paris epatcaiment tics da vida socal, 9 fendmenos de carter nepativ; 0 que € essencal ¢.imporante ni pode set foes 8 Nusa «os homens ue a coearam (ri, chefs deen iD, herds) nfo podem ser ebmcos, © dominio do comic € resto 2 Nossa XV, pa dri aiid a od sree eet soja, qualquer qe foe © gener. ohen do psod) el pe {de ines posto V1 ere 0 Soman del rave BT Cleat Maro pubic credo peramenteTosraizad (G0 Po ing) dee cbeprine nao eextecs peace pin Se Tcomede: eo ears lime oo Ramm dele expecifico (vcios dos individuos « da sociedade); no te pode ex: primir na linguagem do riso a verdade primordial sobre o mundo € } homem, apeaas 9 tom sério & adequido; € por Iso que na lite: Tatura se’stribui a0 ris um Topar entre os géneros menores, que escrevem 2 vida de individaos isolados ou dos estratos mais bsixos e socedade: 0 rto € ou um divertimeato ligeire, ou uma cspécie 4e castigo tl que 2 sociedade usa para os sere inferiores corzom. pidos. De uma mateira um pouco exquemtiea,naturalmente, esa € 4 defnigao da atitude dos séeulos XVI @ XVTIT em eelagio to ito © Renaseimento expresava sua opiniéo sobre o viso através da sua pritica Ierdria e das suas apreciagbes iterias. Mas fzia-0 também noe julgamentos terieos, que justiicavam o rio enquanto forma universal da concepcio do’ mundo. Essa teoria se fundamen- tava quase exclusivamente sobre fentes ang, © préprio Rabelais ‘desenvolveu-a no antige ¢ novo Prélogo ao Quarto Livee, fundamen: tando-se essencialmente em Hipscrates, HipGerates, te6ico so 1 fem seu gener, tinka um papel muito importante nesa époce. No 26 Se comentavam as suas observagbes sobre a importincia da alegia «© do entusiasmo do mésicoe dos pacientes no trataaento das doeneas, lbservagées esses que apareceram disteminadas nos seus tratadoe de indin# mas tabi conenaveo Romance de Mideast 4, sua correspondéncia (apécrife,¢ cla) que tratava a “loucura” e Demécrto manifestada atravis'do ris, Esse texto fiurava como fanexo d Antologia de Hipéerates, No Romance de Plipdcrate, 0 ts0 de Deméerto exprime ama concepeio filossfiea do mundo, ele tem ‘como objetivo a vida humana e todos os vies terrores, as vis espe- rangas do homem em relagio 20s deuses © & vida além-témulo. De- iécrto defini 0 riso como wma visfo wnitéria do mundo, uma espécie de insituigio espintual do homem que adgure sua mati- ridade © desperta; em Ghia andlse, Hipéerates est perfetamente e acordo com ele ‘A doutrina da virtude curatva do tiso ¢ a filosofia do riso do Romance de Hipécrates ezam especatnente exiroadas ¢ diundidas na Faculésde de Medicina de Montpelier onde Rabelais fez seus ‘estudos, primeito,e depois exsinou. O e6lebre médica Laurens Joubert, ‘membro dessa faculdade, publicou em 1560 um tratado tobre 0 rs0, om o titulo sigifiealivo de Treiado do rso, contendo sua essénci, Sinas causas € seus maraithosos elias, curisamente inveslgados, iscutidos ¢ observados por M. Laur. Joubert...» Em 1579, aparecia Sobreind o tomo VI des Epidemia, que Raa eta em seus pepo. 4 Trae deo, contenant 90 euonce, se caus ef ses merehess fies curesement techchs, ress of bse par Laur, Toor 58 om Peris um segundo tratado do mesmo autor: causa moral do Riso, do excelente « muito famoso Demdcrto, explicada ¢ testom. ‘nhada pelo divino Hipdcraies nas suas Epistolas® que era a verdade 4 versio fancesa da ulima parte do Romance de Hipdcrates sas obras relatives &filosofia do riso, aparecidas depois da morte de Rabelais, eram apenas um eco tardio das disteracSes e discusses {que se haviam realizado em Montpelie durante a esti de Ra bela, gue estavam na origem da sua teoris da vide curative do rixo © do “médica alegre” ‘A segunda fonte da filesoia do viso na Sposa do Rebels era 0 -dlebre formula de Aristeles: “O homem ¢ 0 unico ser vivente que ia" A essa formula, que gozava de imensa popularidade aribue-se 4am sentimeato ampliado: 9 iso era considerado como o privlgio ssprital supremo do homem, iracesivel ds outras erature. A décima que precede Gargantua, termina com estes dois verso Methor € de rsos que de tgrimas escrever porque o nso €-4 marea do homem.* Ronsard emprega essa (érmula dando-the um sentido ainda mais amplo, Podemos. destacar os seguintes versos na sua poesia. dedi ada a Belleau (Oewres, Ed, Lemere,¥. V, 10) Deas, que 40 homem submeteu © mundo, ‘a0 homer apenas concedew 9 iso para que se diverse, © nfo as bests ‘que ndo tém roxio nem espiito nas eabecas © so, dom de Deas, usicamente 20 homem concedido, é aproxi- ‘mado do poder do homem sobre a terra, da razio ¢ do espirito que apenas ele poss Segundo Aristéeles, a crianca s6 comeca 2 rir no quadsagésimo ‘depos do naseimento, momento em que se tora pela primeira lum ser humana. Rabelais e seus contamporineos no deseo nheciam 0 dito de Plisi, que afirmava gue um nico homem 10 ‘undo, Zoroasiro, comegara a rit assim que nascera, 0 que perm tin augurae a respeito da'sua sabedoria divine 3 Le cone morale de Ri, de Percale otis venom Dimocr,exl- ‘ude tmelgne pr x in ipocat on ter Eppes Aros, Sobe a sine We paribus animation, eo TI, ea. X * Ofras, Pine, ceca Ace lores, p. 2; Lito ée bolo, vl. I, B25 39 afi, 4 tevin fonte da flola do rso no Reeaseinenio £ Luciano, sobretado a personagem Menipo, que se tio Tei. de Mémtimul, Menlo ou a neciomana, de Tucan, evra ebea tepecamente tn Yaga a €P0=y © pore afm ta eteee ta poderoa insect em Rabelasy mas eratamente sobre 0 ep sétio de Epatimon nos infemoe (Panag) 05 didlos dos More {ox tame exereram Inlet umes ap igen enen ears tetsioor: Diogenes recomenda a Poux gu dig: “Menipo, Digenes te exorta, se jd rite bastante de tudo que se pats na fot, qe vechas aqui rm belo pores sida mas. fem cina, ota red tem apenas um chjeto ago © como se diz vljamente, quem sabe 40 oo © que Acontece depos da monte? Enquanto que aul vendo cessards de ir, darmetma forma ie el. ."* © ldscjo: “Eto, Mecipo, abandons tanblen tua Hberdade, te rangueza, in cre sm poosupases, te poe cusadia © 1 iso Sten, ts aqul o alco que nao chor" ‘Carte: "De onde nos touneste ele cio, Meresio? Darans a raven ‘bo fez als due importaartodce ‘ot pessagaros © Tse tier c caquino todoe‘on ousoe choravam, te ert'e Geo Que ‘Merci: Ta abo sabes, Caronte, quem & ete que sabas de vets Bum homem verladeramene lve, ue a80 5 HeOeupa com nada Menipa, enfin” Subfaemos, na peronagen Metipo que i, o elo do riso com os Infercs (e a more), com tUberdade 60 expo eda pala. "Acabames de enumerar as tis fntes antiga malt populares a festa dorso do Renascnento. Elas eto a ergem no apenas Go uatado de Touber, mat também des epaies sobre © to, a impornea e seu valor, que corram este os humanias © 0s ho- toe de kas A ui fet defipea 0 reo como wm principio tavern do concopcto do mundo, que ategura cura ¢ fet ‘ines, esteiameetelaconado ts problemas fosleos mas im. Dorit, io 8 mancra de “apender a bom mover e bem ver {us jf Montaigne 2 consequia ver como algo so, Naturalnents, Rabel e seus cot da Anighidase sobre o ro araves de cues foes; Ateea, Mae cxébio, Au Gélo, ee, da mesma forma que Av cfebes palsies [eciana de Sameata, Obras compa, Paris, Gone, 1886, Or dogar «ds pony Dgees # Pr, Dae tp 1 Cerone, Manip, dveroe motor. (Diino X), p49, ss tt Carone Meine Merci (Didoeo XX, i. © de Homers whee 0 rise Inde, io & etme doe dees Seems vot, (lade, ly 599°¢ Odin, Vill, 337), Conecase tembom petelamente a teaciges romain da libroade Goa ae ssteruin 9 papel doco dante ov unis, ©'m cena doe finer dss Sas personaers'© Tabs far reprde ves sto a its ones, da mesma forma ue it manfigtes sorespondents tho Toman Subinhemos una ver masque, part a feo do rio do Renes cinento (como pata a sat fons aig), 0 qe &sarcatics jostamere © fat de reconhecer qe ors tn une siaeagan posi rgencrador, criaore, 0 que 8 Oerenca icament das Mears Rca a coe ee ate 2, erecnaltamenie dat een de pecan sat fungi degra" 1 ratio enga que deta, tm te npoctaia come rivel para rola dovrso no Renascinenty ue fer wapoioga da itnilo ier cimica, wedndon nn enrec das bas heme slat praca sri’ do rao Ranasioeno € anes td dtominad pels trig da cla cfc popla dade Mea 1 Reich frmae uma ampla documenta sobre 4 anigh Hedi tr cial trae Word 8 htm, ha par [ee ivocands tiherlode radon! der snimor« won isco soiada Ri nr nape, lo ey do dors oles mitre: Reich apalia una apologin treme do mio fh to ealo VI palo searze Clr, gue con memeroor spear parse gatos de so no Rensucimer, tenon or mano, ee itor devin am ‘etd als ade toa © pao do Ele eaming a asngio doy reo ‘Seando'n gue 9 me eortede palo imo sa de iaprnsa tate De ‘tei bomeey se dntnewe Je ania rary wot opin pela © et dee de Hemero tam, Aire the oss scr Oates {aig Tse et up est do 780. O'rso €um prsene doe Sse Corso cio um cto decir der dame po meio do mime el rn gue Drovocta Esa spc lembra mune delete do iso no wea XVI. ee ‘hime que lor Rabel, Sebinkonor por sen pate nis Soir. iter onerpeo doo: isting © omer do arial egers € ding fin tm reaps com e fratanio mic, «ern do Goete (Ver eh, ‘Der Minus, p3258 5, 207 5) 1A ida da fora criadora do Ws pertenca tenbn acs pints tenpot 4 Anipidae, Nor pap slemen cerrado em Layee ¢ an da do ‘etl de news er, ae uma surive gc ego © 6 propo meen Sunn so autos so snndnno: "Quan Bete sia moeram oF oe oper 0 ms Tn concjo 3 e & ee let prca wn "5 Reins: “0 toe ra Cte, 6 No enim, esa poe, esas rigs ni se initaram a 8 ei ner a fa ot sua ttaca, A tigi utara vino oa dade Média teu f dexenvotverse fra da exer ofcal a ieologia© dn ineraars Slovade. E fol gages & ca estan exe-ofal que ¢cltre Se ie tpi ops wn ier esos, ‘imple! luce. Ao proibir Ue o fs tess ceo ¢ QDasguer ominial swe e ds Tne Mea te Sorisie em compensagio peivilgis excepconns de Tease © in puniade fora dees Tinie a page plc, darate a8 Teas, na Eteratura ereadva, E'o tho medieval benetinwse com 0 a pla e profundsnente. Mat durante o Rensimento os, a frp mas ed, rivera lee, pele pine er pons cinenta 08 svete anos (em diferentes das em cada pl), sepaouse das profndezs populares eco Tingun “vaya?” peoetou Secavaente no sio da funds catra da idcloga"seperer,contsbuindo asen ora 4 ergo de obras db arte mands, como o Decameron de Bosra, © lo de Raby, o romance de Cervnte or dames comedy de Shazespeare, 8 As fronts ene as terres oficial ¢ nisl éeviam ftel- ante cir ns epoca em pre porgue es frie, dling oy ssiereschave da ieologe, atavsvem 2 nha de diviio dae lingua lnm e lingua vulgare A adoyao das linge volgres ela Iara «certs stores da iesiogi Sova temporaramente desir 0 pelo menos sminr es fonts Toda waa série de outs ators, renames da decomp do regime feual ¢tcovsico da dade Medi, contoui pnimente tn esa fio, xn mitra do ofl com 0 slot. A clara Snes popular qe, durnt sEcalos,fomarese eceleadea wa vida tat formes ngvicals dactago ppaler —~ expteculares © ve Terma vide coments ofl, tous aos cigos da erate a enon fim de fecadéas em Ppa, medida que se Scabilewe'o sbeolieno e sv inssrive um nove Tepe oi, tomou a descr acs lugares inerires Ga herarquia dos gene dzcanondose,separando se em grande pate das raze populates testigindosee,Hinalment,degenerand, Mil anos de io pops extaaical foram asim icorporatos tm Tesatura do Renasemento. Exe iso milenar 130 36 8 fesun, tt fo por so ver por ea fecandado, He seals tx das mat naan da poe, a0 bor human, & aa tenia eri Nu peson de Rabe para ea moscirs do butto medieval, a3 fons do foledos populates earnaason, » ouaia do cero de 2 ‘tas democrvcas, que transformava eparodava abioltamente todas 2 paves goston dos salimbuncos de fea, tudo iso sb aston fo aaber humans, 4 cgncla © 2 pric médica, 2 experiencia Dulles esos conbeeimentos de um hotsem qb, como concent dot Ffmice du Bey, coneciaintmamente todos os problonss © seg ‘ox ll pln intracional do se tempo. “Como infuxo desea nova combinagio, o 30 da Iéade Média devia solr mudangat totes etn gra neta de progreso. Seu univer: {slim seu radcalismo, sua ousadia, sua Incide © seu motetalimo Geviam pasar do estilo de tistcia quse esponnen para um tstado de comsidaiaartitca, de aypogso 2 um fim precio. Em Datos lermos, rao da Idade Média durante 0 Renascimest, or ee ene comin nove sein rice da poce Iso foi posivel apenas porgue, aps mil anos de 20 lo da Idade Media, os bot ¢euibioes dese carder strico © Sco potencial extavam prontor part ecloir. Examinaremos agora ‘somo se formaram e desenvolverim as formas medievas de ciltura Popular ‘Como jé mencionamos, 0 rso na Idede Média estava relegado para fora de todas as esfeas oficais da ideologa e de todas 2s formas oflell,rigorosss, da vida e do comércio Inmeno. O riso Unha sido ‘expurzedo do cult religioso, do cerimonial feudal ¢ esata, da eti- ‘queta sociale de todos os gBaeros da ‘levada. O tom sérlo ‘xclusvo earacteriza a cultura medieval offal. O prépeio cooteido ‘dese ideologi: ascetismo, crenga numa sinistra providéncia, pape! ominante desempenhdo por ealegorias como o pecado, a redencéo, © sofrimento, e 0 proprio cardter do regime feudal consagrado por ‘essa ideologia: suas formas de opressio e de extrema intimidacso, ‘determinaram esse tom exclusivo, esa seiedade eongelada e petrea. ‘© tom sério afirmou-te como a tice forma que permitia expresar 2 verdade, o bem, e de manera ‘© cristinismo primitive (na época antiga) jf condenava o riso. sacl nips, pncpimeni mio, o evo minicar {yer sage, cheat one oro mies Slo oto Cebénomo dadra de tid gts abuso fo ao ov de Deas, ho uns ema do dao io dove Srnserver umm sede consone, © arependimeato © 8 dor eo ‘pia dos seas peendon’® Comtndo ee aimee, epror-ot Dot Ver Reich, Der Minus,» 16 2 texem intodido no ofc divino elementos de mimo: canto, gest culagio e ro, ‘No extn, es sritde exclusiva da idoloia defence pe Taye ictal tara « ecesade de lgalzar, for daira, ho 6, 4p cal, do oe do como ofc carbtcos. ae, o 20 1 bri qu dete havi do exclido Tuo de orien Toma purameate cia, 20 lado das formas canvas 'Nas formas © 90 proprio cto religono hedadoe da Anigttade, penetrador el fafa do Orient, nflvencador em prt por Eeviosrtes pags loeais sobretudo ot da fecunidade), obtervan-se rise alegriae de tno 3 vzes dssaulaos a urgi,no tho do faneras, do btsmo os do casement, o mean em vais ous Cerimdnas. as news casos ce embrites certo so slim, desruids © aifiaiados™ Em compersagio, so sutorsados ou vit coats que ravi em torn da ge ¢ da fos, toler mesmo ¢ {pact cei cao pal, ee fogs ioe spesemente “Trate-sesobretudo das “fstas dos lowes” (esa sutra, famo- tu, floram) que estwantse igs caleravam mo da de Samo Eno, Ano Novo, no dia dos Incest a Trindade, ee Sto ola. No iio, erin tinds cetbradas na igs © ‘erctamente legis tomaanese am segue semifcpas fial Imene Hogs ns fine du Toade Metin; continvavam comodo a ser celebradas nas ris © tavernas, ¢incorporevame aot foguedos Se ard Gr, Na rae so ene mnfero com ras fora e perrverana verso patie do cao ofa eccmpankado de asasis,ssceraday o danyasobncenas, No ADo-Novo Ti fade, os reroaioe do lero era paricolamente desefeade. Dor anepasiados que sib muta bem o-que fazam, Sublahres tems seu carter nfo sero, de rincadea Couto) Ese folgae- fos sto indspensives “fim de qe tole (a bulosaa), que € {azn epunde mare epee ata m0 homer, pose 9 enos lima ver por ono manifestarselremente. Os toads de vo exlor diam sede ver am quando nfo fosem desapedce, 20 080 s¢ conectcin Asin ue febre de crodadscomeyu a dntove, as Papas ‘= pusean de novo as. Sera extomamententrante scrose Fiseae so rio, Ningse rt iran ro plicio rea, tu gutta, Gane do chefe do ‘Seti, o tomo de police, © tmeniente sata Os sence dono ‘lo tt o eto descr piseogn do senor 86m tga ra mires Sem pessoas ines lorem mitriadne sf dane‘te Sat ieee 1 oo pure reer o rs, pee diner adevs 8 todos on vxps Govkice iru, a es ran dK € ara» ta ‘rad eau vulgar Ouro” (A Herc, Sobre @ te, ed skonse™ Mew 1938, 233) cet ch Neto: Slr de rigs, Cosiadst,Laisgrid, 193, p. 30, Vesseloviki dé uma definigio extremamente justa da verdade feudal Ele também tem razio ao afirmar que o bulto foi o porta-voz a outra verdade, nfo feudal, no oficial. No entaato, ese Ghia verdadedifelimente podera ser defnida como una “verdade sbstata © abjetiva”. Vesslovski considera 0 buo fora da poderosa cultura ‘cémica da idade Média, e 6 por isso que concebe 6 30 apenas eco ‘uma forma defensive exeror para “a verdade abstatae cbjetva, "a verdade universal", que © bufio proclamava através dessa forma ‘exterior, 0 iso. Se ndo tivesse havido as perseguigdes internas ¢ as {ogaeiras, esas verdades teriam flto desaparscer 0 buflo, pata expri= riyemse em tom sério, Tulgemos erada essa concepeso. Sem nenhuma dévida, oso foi uma forma defensva exterior. Fok tegalzado, gozow de privilégios, foi eximido (€ daro que apenas até ert ponto) da censura exttior, das persuigdes exteriores, da fogucia. Nao se deve subestimar ese fator. Mas é totalmente toad rmlsivel redusira ete © sentido do risa, O riso ndo é forma exterior, ‘mas ume forma interid essencil a qual nlo pode ser subetuida pelo Serio, sob pena de destrir ¢ cesnaturalizar 0 proprio conteido da verdade revelada por meio do rs. Esse liberta nfo apenas da cen so exer, mas ans de mat naa do grande censor nero, do redo do sugrado, da inerdipho autortri, do pasado, do poder, solo anerado no epito humano Bd mies 0 anc, O tu ee tou 0 principio material e corporal sob a sua verdadcira acepcio, Abrin Os olhos para o novo e 0 futuro. Contequentemente, el apenas permiiy exprimir a veréade popular antfeudal, ras também sjudou a descobr-l, a formolé-a iteriormente, Durante milbares de ‘0 riso revelou de mancira nov 3 ‘mundo, no seu aspecto mais alegre e mais licido, Seus prvlegice ‘exteriors estio indssohuvelmente ligados 8 suas formas interires, consttuem de alguma mane o reconhecimentO exterior dees lretos interiors. . Por essa raz3o 0 iso, menos do que qualquer outra cosa, jamais poderia ser um instrumento de opressdo e embrutecinento do povo [inguém consepuiu jamais torn-lo interamente oficial, Ble perma- neeeu sempre wina arma de liberagio nat mos do pove. ‘Ao conteéro do ris, a seredade medieval estava ionpregnada iate- rioemente por elementos de medo, de fraquezs, de docidade, de resignagéo, de mena, de hipocisia ou entdo de viclénci, inimida- lo, ameacas interdicies. Na boca do pode, a seriodade visava a inimidar, exiga e probs; na dos siditos, pelo contréro, tem, submeti-se, Towvava, abengoava, Por essa razdo ela suscitava a des estan do ovo, Ero tom of ¢ ea tratdo como tad gue forse oficial, A seriedede oprimia, aterorizava, acorrentave; meal ce distorcia; era avara e magra. Nes praqas pablcas, durante as festa, a dianfe de uma mesa abundante, tsgavase rbaizo 0 tom sro como ‘uma mascara, ¢ouvie-sd entdo uma outa verdade que se exprimia de {forma comic, azavés de brincadcras,cbscenidades, grosseries,paré- dias, pastiches, ete Todos os terrores, todas as meatiras se disp vam, diane de triunfo do principio material e corporal. ‘Seria erréneo, contudo, eer que a seiedide aio exercia nenhama infludncia sobre 0 povo. Bequanto houvesse razio para ter medo, n& ‘medida em que 0 homem se sentiaalnca fraco diate das forgas da natareza © de sociedade, @ seiedade do medo e do sofrimento em ‘suas formas rligisas, socas,estatise ideol6gicas, fatalmentetinha ‘que se impor. A consciénca’ da liberdado 36. pod ver Tiitada ‘wipica, Por iso, seria inexato crex que a desconfianga que 0 Povo ‘utria pela seria seu amor pelo rio, considerado como a outa verdade, se revestizam sempre de um cardter conicente, eioo € ‘deiberadamenteoposicionista. Sebemos que os autores das par6dias ‘mais desenfreadas dos textos sagrados © do culto reigoso cram Dessous que acetavam sinceramente esse cullo e 0 serviam com 40 menor sinceridade. Possulmos testemunhos de homens da Idade Média, ‘que atrbufam is paras fins didtcos e odiicantes. Assim 0 atesta ua tonge da abadia de Sain-Gall, ao afirmar que a8 misas dos beberties e des jogadores tinkam como Gnica finalidade afastar as pessoas da bebida ¢ do jogo e leiam efetivamente conduzido nume- ‘ososestudantes a0 camino do arrependimeato e da corregso.™ (© homem da Tdade Média ea perfetamente capez de conciliar @ assstncia piedose 8 missa oficial e a par6dia do culo oficial na raga pobiica. A’ confianca de que gozava a verdade burlsca, a “do ‘mundo as avessas", era compativel com uma sincera Jealdade. A alegre verdade profrida sobre o mundo, e baseada sobre a confianga ‘ha maria e nas forgas niaterais ¢ exptituais do. homem que 0 Renassimento devia proclamar, afimmave-se de maacira espontines na Tdade Média nas inagens materisi, corporal ¢ topicas da cultura popular, embora a conscléncia dot individvosesiveste Tonge de poder Uibertarse da seriedade que engendrava medo e debilidade, A Tber- dade fereida pelo riso era irequentemente apenas um luxo, permtido somente em perfodo de fest ‘Assim, a desconfianga diante do sério ¢ a f€ na verdade do riso ‘ram espontineos. Compresndia-se que o rto nfo disimmlave jamais a violinca, que eie nfo levantava nenhuma fogurrs, que hipoctsia ©. engano oo riam nunca, mas pelo contréio revesuam a mascara 4a seiedade, que o iso nao ferjava dopmas e ao podia ser autor tétio, que ele era sina! ndo de medo, mat de conseiéncia da forgs, ae His Rlgmena mrs» tenn morn ent (co futuro robin), 40 mesmo tes” que un esjo de neal a perio 2 1c estava ligado 20. sto de amor, ao natimento, A renovecio, & {SEsudidede, &sbundinca, 20 comer e ao biber mortgage ter reste 60 povo, eof gus ele etavsligndo a0 faut 20 novo, 00 Gui ele aba o camino. E por essa razio que, espootaeament, se Eeconfava da seredadee se puna f6 10 no Testo. ‘Os homens de Idade Média paricipavam igualmente de dua vides a oft es cernvaltcn, G2 dois aspctos do mundo: um picdose sii outo, cbmc, Encs dois apestos cocisiam nan con ‘Slace, iso se zefleteclaramente nas pigins dos manaseos dos Séealos Xl e XIV, poc etempio nit lendas qe natram a via dos Sinton Na mesma. ppna,encontrm se Tado ado llamiaraspic- ‘dona e astra, strando 0 texto, ¢ toda uma sie de deenhos dQumécooe (eaturafactescn de fecias humanas,animais eee tah) do lnspirado lve, ito &, sem relagHo com 0 texto, dabretes mins, jogrus executando acrobacs, Nights mascaraes, sates fic, sno 6, imagens parameate gotesces. E todo, iso, ‘Feptimos, numa ica & mesma pagina. A supetce da pigina, asi ‘como 1 consizncia do homem Ja Idade Media, englbava os dols SSpoctes da vide e do mundo. Encontamos «mesma cocxstéocia Go sco edo grotesco nas pniras muras 6s igeas (como js. en: fcenames antesonmente) nas suas estar. O papel da quer, Guitesénca do grotesco, qe se insinua por ta pate, ¢ paricusr Tene signticatvo, No entato, mesmo tas ares decraivas da Tdade ‘Média, ona front interna cara delimit ee dois aspetoe: mesmo ‘exiting lad lado, cles no se confendemy, nao se misturam ‘Assim a cultura oBmica da Idade Média estava essencialmente isolada ‘nat pequenas has que consitulam as fesas ¢ recreagbes. Paralela- rene, exisia a cultura oficial séria, rigorosamente’separada da ‘cultura popular da paga publica. Or embrides de uma nova concep- ‘eho do mando comegavam a aparecer por toda a parte ms, fechados tas formas especfias da cultara cémica, dispersos nas dhots isola das wtdpicas da alegria que presi & festa popular, ds recreagbes, |S conversas de banquetes, od ainda no elemeato mével da lingua {alada falar, eram incapazes de crescere deseavolver-. Para che~ ur a so, ham que penetrar obrigatoriamente na grande literatura 7 Aimalo spaifo recente de ume obra do. mais so, interne: Do- ‘umanta amnion a are dolor. Teta de resauops dm Tro de Fenda races ose XI Baie ee Academia de Cac do URSS, Messeateningade, 15, publado 1» dheeso de V_ Lula. que ae fe ecole xen in dun ro de endo ole ‘Tits Saar paviar poveram seer deutagla clara ¢ completa 10 QUE ‘ebamor dealer (er ® ndmivel nibs de Lublin, 8973 60 cee 3s vom B Fn fim da Tdade Média goes nin 0 process de efraueci- amesto mb das ontias etre a eatue comica e a grande tere tea ornare omega cadavers lalla es leminiostperores da ieratra, © rs popular peneta a epopea sumentam a sas proporges nos miss, Genres como a mora iades, voriey, faman comegam dereneiverse, Or saioe XIV «XV sto marcas pelo aparecneatoe flrescment de socedades {fo tpo do "Reino o Cleo” dor “Carols dspreocpados" eee ‘Acaliracficacomecs ultapasar os limes ston des Uta, ‘slorgase por pendrar em tode i exeas Ga vida Holgi. Esse proce compl-ioae no Renaximsnto, £ on obra ce Rabe- las que oto da ade Média eaconroa a tua expresfo supra. Ele sfondi pa now comcast, ie © erie, Ese exdgio supremo do rit nia so prepara no lange da dade Média, 7 a "No que concerns 8 adic ante, podese der que ela desem- pea um papel importante apenas so‘rocesto de tomada de cons Bin e de cicleeteentotcoco ds Rereng lgade pelo tho do Tendo Métin.J6 vimor que a flonia do oo 60 Rensocinento se refera As font anne” Devenos dexacar que, 10 Renasciaeo irants do seculo KVL, o que fgua em prime plano aio € de Iman agua wast “cline 6a Andade nem a cpp, ‘hem a vageda, nem of géecronrgorosimene ress, ito & pels trncigbo que tre papel preponderance no casino do seule XVI, mas Lacan, Ateneo, Aulo Galo, Paro, Macobo outros cud {os rtbeose Saow do im da Anigiiade™ Para empregat & Seelrion en sbvepuon do Prarie» ose Jerse sia seein do nents 0. cyesiern de Plipe oflo ee ineton peviegon, Na praia, or tenho down stele Svea te Touma putea de jogos Fara (Parade gos sprowtavam ample sete hens [Essie one cron a err oe sot ger ov bsochont (Cig) cumpuaca paris de extn esq 1 Sembe tegra Foe caste i, fo esp ‘ncdor «protic. tim 14, a welinde fo! deneivanente tusivda, A Sede dn Enfant interpreta sir Su Cele ta © tale apie tn ta Oe mires de cmd: Atm, Po, Tetai,ofo vem male inte Tezaro Raa Adley, i mien © produto de oma face fsa, Rasa ona Ate te indag inten de'Atsiines Ye tae, Soatae poses eps ais op le te one nee (Soe ‘epi mo exgcra) ‘expcase pelo pucnieco das font fokgies © Stee: Rainy eps peters ns stn ton de Eat em commu (0. Chop ca tins ena BO eu Tomunce © ‘oto qe execs iguanas tbi Cle a terminologis de Reich, pode-te dizer que o que se encontrava em prieito plano no scald XVI era 2 tradigzo "mimica™ da. Antighi- Sade, 2 antiga imagem “bioldgiea" © “etiolégica", 0 disogo, os Uidloges A mesa, o stnete, a anedota, a sentenca. Mis todo isto std ‘aparentado a radigdo ebmica da. Mdade Média, tem tragor comuns com ela Tudo iso, traderido na nosea terminologia, consti a “Astighidade eamnavalizads. ‘A flosofia do riso do Renascimento, baseada em fontes antigas, do era ce maneira algoma Wntiea 2 sun prética cOmica seal. A {losis do riso no refletiao que elatinka de primordial: a tendéacia istlea do rise do Renascimento. ‘A literature, assim como os outros documentos do Renascimesto, atetam a sensagdo excepcionaimente tara e nitida que tinham os ‘ontemporéneor‘da exitencin Je uma grande fontera hstrie, da modanga radial de época, da allemancia das fasts hisricas, Na range, durante ot anos vinle ¢ 20 comego da década de trinta do sécilo XV, essa seneagio er pardcularmente aguda e tradunase Freqentemente por declaragées conscientes. Os homens davam adeus ‘as revas do teeulo gorico” © avancavam para o $01 da nova época. Basta menclonar os Versoe a André Tirapeau ¢ a eélebre carla de (Gargantua « Pantagrue ‘A altura c6mics da Tdade Média preparou as formas nas quals se cexprestaria casa sensagio Wistéica. De fato esas formas tinkam uma Felagio capital com o tempo, # mudanga, 0 devi. Elas destronavam f renovavam © poder digest e 2 verdade oficial. Faziam trunfar 0 ‘etoro de tempos melhores, da abundineia universal e da jusiga. A ‘nova conscinca histrica se preparava nels também, Por esse mo- tiv, eSsa conscéncia encontron sua expressio mas radial no riso. 'B, Krjvaki disse-o muito bem no seu artigo sobre Cervantes: “A gargalhada ensurdecedora que ressoou nos ambientes europeus de vanguard, que precipitou na sepultura os fundamentes eters do feudalismo, foi uma prova alege e concreta ds sua sensbilidade és smudangas do ambiente histérico, Os ec dessa gargalhads de tooall- ade “histérica” sscudiam nao apenes a luis, a Alemanka ou a Franga (firme antes de mais nada a Rabelais, com Gaganiua © Nout iro Lene de Rael (sources, mention e composition (A bm de kab ote mento « comport) (910, 3. Pltrd teen Som Pfaihoo arter dn ero ain Je Rabens« de fun Eyed, ce sae go {one peertncins nu soln dar foster antiga Abie de F Vly. Souter lon de te Mame (se tls de ht om ‘Hes moans pr ect Su Derg stg, peprmdo ke © to XVIT fue ne bate daramente se Antgaidce "cdc 85 Pantegrue!), mas também suscitaram wm eco gealal para aléen dos Prins. .° ‘Todas @s imagens da festa popular estavam a servigo du nova sensacio histrica, desde os simples disfarces e mistificagdes Ceujo papel na literatura do Renascimento, em Cervantes por exemplo, & onsidervel) até as formas camavalescas mais complenss, Assiste se uma mobilizagio de todas as formas elaboradas a0 longo dos steulos: adeusesalegres a0 inverno, a0 jeum, a0 ano velho, & more, acothimento alegre da primavera, ds dias de sbundincia, de matan as reses, das mupeas, do ano-n0Vo, ec, isto 6, todas as imagens da alternincia e da renovagao, do crescimenta e da abundincla, que ‘esis aos seus, Essas imagens, jf curregadas com a sensagio do tempo, de um futuro uldpico, com ss experangas e aspiragoes populares, server ‘agora para exprimir a5 despedidas alegre feites pelo conjusto do Povo a épocs sgonizante, 20 velho poder e a velha verdade. ‘As formas cbmicas néo predominam apenas na ieratura. A fim de ganharem a popularidade, de serem acessiveis 20 povo e de con {uisfarem sua contiansa, os chefes protestants recoreram a elas nos Seas panflatos © mesmo 0s tatados teoldgios. A adogto da lingua francesa teve esse procesio um papel importante, Henri Estienne pablicou em 1566 0 panflea sarica: Apologia de Herédoto, qu Ine vale o cognome de "Pantagruel de Genebra”, e Calvino disse a res peito dele que torsava “rabelaisians” a religito. Essa obra etd fet ‘amente esrita no estilo rabelasiano e regurgita de elementos do chmmico popular. Pierre Viret, 0 eflebre teslogo protetante, df nas suas Discusses eristés (1544) uma justfieagao interesante tipca o elemento cbmico na trata religion: "Se Ihes parece que é preciso tratar tas esuntos com malar gravi- dade e modésta, eu ndo nego que nenbuma honra e reveréncia seria

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