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Administração Financeira de Curto Prazo

1. A natureza das decisões financeiras

1.2. A natureza das decisões financeiras

A tarefa da Administração Financeira é tomar decisões financeiras. Tais decisões podem ser
divididas em dois tipos:
• Decisões de captação de recursos - financiamento
• Decisões de aplicação dos valores levantados - investimento

Alguns autores identificam um terceiro tipo de decisão que seriam as decisões operacionais,
ou aquelas relacionadas com as transações (compra e venda, pagamentos e recebimentos) do
dia-a-dia da empresa. Entendemos que tais decisões nada mais são do que formas específicas
de decidir onde aplicar e onde obter os recursos, daí porque optamos por considerar apenas as
duas categorias gerais.

Tais decisões são tomadas a fim de que seja alcançado o objetivo da função Financeira.

Quando da tomada de decisões financeiras, não podem ser ignorados alguns aspectos
subjacentes a essas decisões:

• Retorno gerado pelos ativos e o custo dos recursos obtidos. A diferença define o
resultado da empresa.

• Risco: embora o conceito de risco em finanças se refira à variabilidade dos resultados


esperados, ele pode ser estendido para cobrir a probabilidade da empresa se tornar
insolvente, isto é, incapaz de pagar seus compromissos. O risco total de uma empresa
pode ser associado às decisões financeiras tomadas pela empresa. Assim, o risco se
compõe de duas parcelas:
• Operacional: derivado dos ativos, da natureza da atividade, ou seja, decorre das
decisões de investimento;
• Financeiro: determinado pelo endividamento. O risco financeiro da empresa se
encontra relacionado às suas decisões de financiamento e está associado à
intensidade de utilização dos capitais de terceiros e da estrutura de capital
empregada no financiamento das atividades.

• A relação risco x retorno: supõe-se que as pessoas - e os gestores em particular - sejam


aversos ao risco. Isso significa que somente estarão dispostos a correr maiores riscos
se receberem uma recompensa adequada, na forma de um retorno maior.

1.2. Objetivo da Administração Financeira

Na breve discussão acima foi afirmado que as decisões financeiras são tomadas a fim de que
seja alcançado o objetivo da função Financeira. Mas qual é esse objetivo? Ou, colocado de
outra forma, do ponto de vista do(s) proprietário(s), o que é uma boa decisão de administração
financeira?

Considere os textos a seguir:

Apesar da cara de garoto e do jeito tímido ao falar em público ou dar entrevistas, Edgard Nogueira, 17
anos, é hoje uma das estrelas da nova economia (como são chamados os negócios envolvendo as
empresas de tecnologia da informação). Ele é o "pai" do site de busca Aonde, um dos maiores do País,
com cerca de 170 mil visitações diárias e um banco de dados que abriga aproximadamente 200 mil
home pages, totalmente idealizado e planejado pelo garoto quando tinha apenas 13 anos.

"Geniozinho da Internet"? Nogueira garante que não. "Sou um garoto normal, que gosta de sair com os
amigos, ir à praia e namorar". A diferença, segundo o próprio, é que ele acreditou na sua idéia e hoje
colhe os frutos de um projeto que teve investimento inicial de R$ 150,00 e que hoje vale, segundo
analistas do mercado de Internet, US$ 10 milhões.

Fonte: http://www.empregos.com.br/ - Entrevistas: Minha experiência: Campus. s/data (estimativa: 2000)

Uma das grandes inquietações da maioria dos empresários brasileiros bem-sucedidos diz respeito ao
futuro profissional de seus filhos. A história dos negócios no país e no mundo está repleta de casos de
herdeiros cuja principal ocupação foi aproveitar o que a fortuna familiar poderia comprar. Em meio a
esse cenário, o paulistano Marcos de Moraes surge como um exemplo na contramão. Aos 38 anos, filho
de Olacyr de Moraes, ele não se acomodou à sombra do pai. Em vez disso, transformou-se num
empreendedor dos mais agitados. Com uma ajuda inicial do pai, Moraes construiu a fortuna fazendo o
que todo empresário mais gosta de fazer - enfrentar desafios novos e correr riscos.

O maior e melhor negócio de sua vida é aquele que o tornou famoso nacionalmente, a venda do portal
Zip.Net para a Portugal Telecom, em fevereiro de 2000. Apenas para quem não se recorda dos números
envolvidos na transação, Moraes auferiu com o negócio 365 milhões de dólares e uma alcunha própria.
Em razão da operação, deixou de ser apenas o primogênito do eterno rei da soja e tornou-se ele próprio
o rei da internet no Brasil.

Fonte: EXAME 822 - 15.07.2004 - Gestão

Se supusermos que as pessoas investem suas poupanças em uma sociedade porque buscam
ganhos financeiros, a resposta é óbvia: boas decisões aumentam o valor de mercado da
sociedade e decisões ruins o diminuem. Como o Administrador Financeiro de uma sociedade
toma decisões em nome dos proprietários da empresa, segue-se que tais administradores
estarão agindo de acordo com os melhores interesses dos proprietários ao tomarem decisões
que aumentam o valor da empresa.

Assim, o objetivo apropriado para o administrador financeiro em uma empresa pode ser
enunciado como:

Maximizar o valor de mercado do capital dos proprietários existentes

Este objetivo não significa que o administrador financeiro deva agir de maneira ilegal ou
antiética na esperança de aumentar o valor do capital próprio da empresa. O que se quer dizer
é que os administradores financeiros servem melhor aos donos da empresa identificando
produtos e serviços que agregam valor à empresa, porque eles são desejados e valorizados no
mercado.
2
2. DETERMINAÇÃO E ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO

2.1. Conceitos introdutórios

Para a determinação e análise do capital de giro é necessário o entendimento de algumas


definições básicas de operações da empresa, contabilidade e finanças.

2.1.1 Operações da Empresa

Uma empresa só pode desempenhar satisfatoriamente seu papel se:


- obtiver resultados suficientes para garantir as adaptações e o crescimento
necessários;
- buscar um equilíbrio financeiro.

As operações de uma empresa podem ser enquadradas em uma das categorias abaixo:
- produção e venda: diretamente relacionada à atividade cíclica da firma, determinando
seu resultado;
- repartição: distribuição e recebimento de rendas independentes do ciclo de produção
e venda (I.R, dividendos, despesas e receitas financeiras);
- investimento e desinvestimento: aquisição e venda dos ativos por meio dos quais a
empresa obtém o seu produto ou presta seu serviço;
- financeiras: obtenção dos meios de financiamento.

Esquema do relacionamento entre as operações:

Vendas Despesas Financeiras


Resultado
Econômico Imposto de Renda
Produção
Compras Dividendos

Autofinanciamento
Investimento

Operações Financeiras

Autofinanciamento = Lucro retido pela empresa (Lucro líquido - dividendos) +


depreciações

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Operações financeiras + Autofinanciamento = Investimento líquido + Reembolso de
empréstimos de longo prazo + Variação do Capital de Giro (CDG).

2.1.2 Os Fluxos de Caixa da Empresa

A figura abaixo ilustra os fluxos de caixa de uma empresa. Observe que o caixa pode ser
considerado um “reservatório” de liquidez, que é aumentado pelas entradas de caixa e
diminuído pelas saídas de caixa. Os fluxos de caixa podem ser classificados em fluxos
operacionais (à esquerda da figura), fluxos de investimento (à direita em cima) e fluxos de
financiamento. Os fluxos operacionais são os fluxos diretamente relacionados à produção e
venda dos produtos e serviços da empresa. Os fluxos de investimento são os fluxos associados
com a compra e venda de ativos imobilizados e participações societárias. Os fluxos de
financiamento resultam de operações de empréstimo e capital próprio. O saldo de caixa ao
final de um dado período é o resultado da ação combinada dos três fluxos.

Os Fluxos de Caixa da Empresa

Matéria Duplicatas Ativos


Prima a Pagar Imobilizados

Mão de Salários
Obra a pagar Ativos
Diferidos
Produtos
em Despesas
Processo Indiretas Participações
Societárias

CAIXA
Produtos
Prontos
Despesas
Operacionais
Dívidas de Curto
e
Vendas Longo Prazo

Imposto
de Patrimônio
Renda Líquido
Duplicatas
a Receber

Na consecução de seus negócios, a empresa busca sistematicamente a produção e venda de


bens e serviços de maneira a produzir determinados resultados para satisfazer às expectativas
de retorno de suas várias fontes de financiamento.

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2.1.3 Instrumentos para acompanhamento das operações da empresa: a
Contabilidade

O exercício da função financeira implica na avaliação de grande número de informações


relacionadas com os fluxos de fundos. Uma fonte básica de informações para a tomada de
decisões financeiras são as demonstrações financeiras. Assim, uma das preocupações
fundamentais de um texto de finanças deve ser o entendimento da informação real contida
nessas demonstrações.

A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover


seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de
produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização (IBRACON - Estrutura
Conceitual Básica da Contabilidade, aprovada e referendada pela Deliberação CVM 029).

Do ponto de vista dos profissionais da Contabilidade, a Contabilidade é uma ciência social


que busca apreender, no sentido mais amplo possível, e entender as mutações sofridas pelo
Patrimônio de uma entidade (Apêndice à Res. CFC 750/93). Patrimônio é definido como
sendo o conjunto de bens, direitos e obrigações para com terceiros, pertencente a uma pessoa
física, a um conjunto de pessoas, como ocorre nas sociedades informais, ou a uma sociedade
ou instituição de qualquer natureza, independentemente da sua finalidade, que pode, ou não,
incluir o lucro.

As demonstrações financeiras tradicionais de um empreendimento consistem do balanço e da


demonstração de resultado. Estas demonstrações se relacionam a partir da aplicação das
partidas dobradas (registro em Ativo e Passivo), e o resultado de um período apurado na
demonstração de resultado, representa a alteração no patrimônio líquido registrado no balanço
relativo ao mesmo período, na ausência de aumentos de capital e distribuições aos
proprietários.

O balanço demonstra o patrimônio da entidade, isto é, os bens e direitos (Ativo, A) e as


obrigações (Passivo, P) relacionados à entidade. Considerando-se a participação do
proprietário (PL) como uma exigibilidade residual sobre os ativos da empresa, tem-se que, em
um determinado período t,
PLt = At - Pt

o que leva à identidade encontrada no balanço, a qual assegura a igualdade (balanceamento)


da demonstração:

At = Pt + PLt

cuja apresentação gráfica obedece a seguinte estrutura:

5
Passivo

Ativo

Patrimônio
Líquido

A identidade relativa ao balanço se mantém em qualquer momento, de tal maneira que:

At+1 = Pt+1 + PLt+1

da qual se deduz:

(At+1 - At) = (Pt+1 - Pt) + (PLt+1 - PLt)

que é a base da demonstração do fluxo de fundos e, também, da demonstração de resultados.


Conforme mencionado anteriormente, na inexistência de transações envolvendo o proprietário
(aumento de capital ou distribuição de resultados), as alterações ocorridas em PL são
conseqüência exclusiva do resultado (R) do período decorrido entre t e t+1, ou seja, o
resultado do período pode ser expresso como:

(PLt+1 - PLt) = (At+1 - At) - (Pt+1 - Pt)

isto é,

R = PLt+1 - PLt

Onde: R = Resultado (lucro ou prejuízo)


PLt+1 = Patrimônio Líquido no momento t + 1
PLt = Patrimônio Líquido no momento t

Esta definição de resultado implica que a sua mensuração depende dos critérios usados para
valorizar os ativos e os passivos em ambos os balanços (t e t + 1), bem como da
homogeneidade da unidade de medida. Dessa maneira, pode-se afirmar que a valorização de
ativos e passivos de um lado, e a determinação do lucro de outro, são simplesmente os dois
lados da mesma moeda. Dependendo do critério de avaliação utilizado, o valor do Patrimônio
Líquido será diferente. Neste caso, estamos utilizando o critério do custo baseado em valor,
mas poderíamos utilizar, por exemplo, o critério do valor de mercado.

Pode-se razoavelmente supor que a Contabilidade nasceu como resposta à necessidade do


empresário de conhecer quantitativamente seu patrimônio e sua evolução no tempo. O gestor
patrimonial, enquanto contabilizando para os seus próprios fins, tinha total independência e
condição de adaptar as regras a situações específicas e de alterá-las sempre que preciso.
Entretanto, a informação contábil foi sofrendo um desvio e começou a ser empregada como
informação não “para” o empresário, mas sim “do” empresário “para” terceiros que
estabeleciam relações com ele: fornecedores, investidores, Estado. O surgimento dos usuários
externos tornou necessário que regras básicas e homogêneas fossem consistentemente
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adotadas ao longo do tempo, a fim de que as demonstrações das diversas entidades pudessem
ser comparadas entre si, bem como através do tempo. Tais regras, conhecidas como Princípios
de Contabilidade Geralmente Aceitos (no Brasil, Princípios Fundamentais de Contabilidade,
conforme Resolução CFC nº 750/93), orientam e/ou regulam os procedimentos a serem
adotados na execução da Contabilidade.

Os Princípios Fundamentais de Contabilidade são os seguintes:


I. da ENTIDADE;
II. da CONTINUIDADE;
III. da OPORTUNIDADE;
IV. do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL;
V. da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA;
VI. da COMPETÊNCIA e
VII. da PRUDÊNCIA.

É necessária a compreensão de tais Princípios para que se possa interpretar corretamente a


informação gerada pela Contabilidade através de suas demonstrações. Em virtude de seu
reflexo nos procedimentos contábeis, nesse momento, serão enfatizados três desses Princípios
e seus significados de acordo com a citada Resolução 750/93:

- Registro pelo valor original: os ativos são incorporados pelo preço pago para adquiri-los ou
fabricá-los, somados os gastos necessários para colocá-los em condições de gerar benefícios
para a empresa;
- Competência: as receitas e despesas devem ser reconhecidas na apuração do resultado do
período a que pertencerem e de forma simultânea, quando se correlacionarem. As despesas
devem ser reconhecidas independentemente do seu pagamento, e as receitas somente quando
da sua realização, como por exemplo, a venda efetiva de produtos ou serviços.
- Entidade: o patrimônio da entidade não se confunde com o(s) de seu(s) proprietário(s).

Conforme se depreende da breve discussão anterior, é improvável que se encontre um único


valor de lucro que sirva para todos os propósitos, nas condições existentes no mundo real no
qual a Contabilidade deve atuar. Como conseqüência, existe a necessidade de gerar
informação destinada ao público interno (administração da empresa) e informação destinada
ao público externo (acionistas, investidores, credores, Estado, etc.). A primeira é, comumente,
referida como Contabilidade Gerencial (gera informações para público interno), enquanto a
segunda, Contabilidade Financeira (gera informações para público externo).

2.1.4 Objetivos das informações contábeis e financeiras

A Contabilidade nasceu como instrumento de controle e de auxílio ao processo de decisão,


para suprir as necessidades de informação do seu usuário primeiro: o responsável pela gestão
patrimonial, em geral, o proprietário do patrimônio. Desta maneira, pode-se supor que os
objetivos das informações contábeis e financeiras são os seguintes:

• Permitir a apuração do resultado das atividades empresariais


• Subsidiar o processo de planejamento e controle das atividades/operações, através do:
• Estabelecimento de padrões e orçamentos

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• Controle orçamentário
• Análise de desvios
• Fornecer informações para a tomada de decisões não rotineiras

Estrutura do Balanço Patrimonial segundo a prática brasileira (Resolução CFC 686/99 e


alterações)1:

+ +
Ativo Circulante Passivo Circulante
Capital Circulante
Líquido
Passivo Exigível a LP
Ativo Realizável a LP
Patrimônio Líquido
Ativo Permanente Capital Social
Investimentos Reservas de Capital
Imobilizado Res . de Reavaliação
Diferido Reservas de Lucros
- Lucros Acumulados -

2.2 Análise financeira básica


A fim de se ter uma visão global da empresa, sua evolução, a estrutura de financiamento e
política de investimento pode-se aplicar a análise horizontal/vertical às suas demonstrações.
Tal análise permite avaliar como a empresa está evoluindo - análise horizontal - e como estão
distribuídos os seus investimentos, assim como suas fontes de financiamento - análise
vertical. Ressalta-se que, como toda análise, ela não fornece respostas sobre a situação
econômico-financeira da empresa; antes, indica quais as perguntas que deverão ser
formuladas. Além disso, deve ser feita em conjunto com outras ferramentas, as quais serão
apresentadas no decorrer desta apostila.

2.2.1 Análise Horizontal/Vertical

Para fins didáticos, cada parte da análise será apresentada separadamente, conforme segue:

1
Em 03/10/05 a CVM emitiu a Deliberação n. 488, a qual aprova e torna obrigatório, para as companhias
abertas, o Pronunciamento NPC 27 “Demonstrações Contábeis – Apresentação e Divulgações” emitido pelo
IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - que estabelece uma apresentação diferente da
prevista pela Resolução CFC 686/99.
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Análise Horizontal: é a comparação entre os valores de uma conta ou grupo de contas, em
diferentes exercícios sociais. É uma análise de evolução temporal desenvolvida por meio de
números índices, apurados de acordo com a seguinte expressão:

V
Indice = d x100
Vb

Onde Vd é o valor da conta (ou grupo) em determinada data e Vb é o seu valor obtido na data-
base

A análise horizontal pode ser feita através do cálculo das variações em relação ao um ano-
base (análise encadeada), ou em relação ao ano anterior (análise anual), embora a análise
encadeada seja a mais recomendada.

Ilustração:

19x5 19x6 19x7 19x8


$mil AH $mil AH $mil AH $mil AH
Vendas 1.049 100 1.004 1.030 1.139
Lucro 32 100 24 49 54

Situações especiais:

Quando for efetuada a análise anual, alguns cuidados devem ser tomados a fim de evitar
possíveis confusões na interpretação das variações. Considere a situação a seguir:

19x5 19x6 19x7 19x8


$mil AH $mil AH $mil AH $mil AH
Vendas 1.049 100 787 983 1.050

Conforme se percebe, existe uma variação negativa de 25% do primeiro para o segundo ano
em análise; do segundo para o terceiro ano, ocorre uma variação positiva de 25%. Chama-se a
atenção para o fato de que, pela base usada em cada ano ser diferente, as variações de 25%
não se compensam. Isso fica evidente quando se faz a análise encadeada, visto que as vendas
do terceiro ano ainda se encontram em um patamar inferior ao primeiro ano da série.

Outra situação que requer algum cuidado na interpretação ocorre com as contas de resultado
(lucro ou prejuízo). Considere a situação a seguir:

19x5 19x6 19x7 19x8


$mil AH $mil AH $mil AH $mil AH
Lucro 32 100 (16) 0 16

Como você interpretaria tais índices?

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2.2 Análise Vertical: é também um processo comparativo, expresso em porcentagem, que se
aplica ao relacionar uma conta ou grupo de contas com um valor afim ou relacionável,
identificado na mesma demonstração.

Exemplo:

19x1 19x2
$ AV% $ AV%
Ativo Circulante 185.000 215.000
Realizável a LP 5.000 10.000
Permanente 360.000 435.000
TOTAL 550.000 100,0 660.000 100,0
Passivo Circulante 70.000 120.000
Exigível a LP 120.000 100.000
Patrimônio Líquido 360.000 440.000

Na análise vertical da Demonstração do Resultado atribui-se 100% à Receita Operacional


Líquida. Na Demonstração das Origens e Aplicações, considera-se 100% o total das Origens.

Considerando as demonstrações a seguir, proceda a uma análise horizontal/vertical da


empresa, apontando as contas que demandam maior atenção do analista:

Balanços encerrados em 31 de março


1992 AH AV 1993 AH AV 1994 AH AV
Caixa 22.000 100 14.000 12.000
Clientes 90.000 100 100.000 130.000
Estoques 105.000 100 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 100 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 100 40.000 70.000


Máquinas 54.000 100 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 100 800 100
Total Permanente 79.500 100 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 100 100 393.800 100 589.100 100

Fornecedores 60.000 100 90.000 185.000


Empréstimos - 39.000 100 98.000
Provisões 18.000 100 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 100 151.300 314.600

Financiamento 17.000 100 16.000 15.000

Capital social 75.000 100 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 100 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 100 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 100 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 100 100 393.800 100 589.100 100

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Demonstrações de resultados - exercícios encerrados em 31 de março
1992 AH AV 1993 AH AV 1994 AH AV
Vendas Líquidas 975.000 100 100 1.013.000 1.020.000
Custo do Produto Vendido 794.000 100 815.000 824.000
Lucro Bruto 181.000 100 198.000 197.000
Despesas:
Gerais e de vendas 75.000 100 80.000 83.000
Depreciações 8.000 100 9.000 13.000
Financeiras 8.000 100 8.000 9.000
Outras 15.000 100 20.000 24.000
Lucro antes do IR 75.000 100 81.000 67.000
Imposto de Renda 37.500 100 40.500 33.500
Lucro Líquido 37.500 100 40.500 33.500
Obs.: Esta demonstração não está de acordo com a legislação brasileira, servindo apenas para ilustração dos
procedimentos de análise.

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2.3 OS CICLOS DA EMPRESA
De maneira geral, pode-se representar a atividade produtiva de uma empresa de forma linear.
Essa atividade se inicia pela aquisição de matérias-primas e se conclui na venda do produto ou
serviço feito com aquelas matérias-primas. Este período, na qual a matéria-prima é
transformada em um produto ou serviço e vendido, é chamado de ciclo econômico e pode ser
determinado através do Prazo de Estocagem praticado pela empresa. Ocorre que os
pagamentos e recebimentos relacionados a essa atividade raramente acontecem nos momentos
de compra e venda. Surge, então, um outro ciclo referente à efetiva movimentação de recursos
na empresa, o qual se denomina ciclo financeiro ou ciclo de caixa. Este ciclo mede o período
no qual a empresa necessita obter financiamento para a sua atividade operacional. Pode ser
definido como sendo o Prazo de Estocagem (ciclo econômico) mais o Prazo de Cobrança (ou
Recebimento) concedido aos clientes, deduzido do Prazo de Pagamento recebido dos diversos
fornecedores da empresa. Por fim, o período que engloba os dois ciclos, isto é, do momento
da aquisição da matéria-prima até o recebimento pela venda do produto final é definido como
o ciclo operacional da empresa. A figura abaixo apresenta a relação entre os três ciclos.

Compra de Recebimento
Matéria Prima Venda
CICLO OPERACIONAL

Venda
Prazo Médio de Estoques Prazo Médio de Cobrança

Prazo Médio
de Pagamento

Pagamento de Duplicatas

CICLO FINACEIRO

CICLO ECONÔMICO

Exemplo para ilustração e reflexão

O Sr. Sujeito Engenhoso, competente engenheiro, descobriu um novo processo para produzir
parafusetas, produto com mercado em franca expansão. Em vista disso, no final do ano 0, ele
decidiu montar uma empresa - a Cia. Industrial de Parafusetas (CIP) - destinada à fabricação
de parafusetas. Estudos preliminares demonstram ser possível vender em torno de 1.000
unidades por mês. O preço da matéria-prima usada na fabricação de parafusetas (cada unidade
de produto consome uma unidade de matéria-prima) é de $ 50/unidade, sendo que a mão-de-
obra direta necessária para tal volume de produção custa $ 30.000. Além desses custos, a
empresa incorre em $ 10.000 por mês, referentes aos salários administrativos, honorários do
diretor e demais despesas administrativas. O preço de venda é de $ 100/unidade. A fim de
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atingir as vendas previstas a empresa deverá oferecer aos seus clientes um prazo de
pagamento de 60 dias, recebendo de seu fornecedor um prazo de 30 dias para o pagamento
das compras (as compras de matérias-primas são feitas no mês anterior à produção e venda).
As demais despesas são pagas à vista.

O equipamento necessário para fabricar a quantidade de produto prevista custa $ 350.000.


Qual o montante de recursos que o Sr. Engenhoso necessitará para iniciar a CIP e “tocar” o
negócio? Qual o resultado projetado para os três primeiros meses do ano? Suponha que seja
dezembro do ano 0 e que o Sr. Engenhoso pretenda iniciar as vendas no início do ano 1.

Fluxo de Caixa Projetado


Inicial Janeiro Fevereiro Março
Ingressos
- vendas
- outros
Desembolsos
- matéria-prima
- mão-de-obra
- administrativas
- outros
Saldo período
Saldo anterior
Saldo atual

Para o prosseguimento do exercício considere que o Sr. Engenhoso possui os recursos


estimados acima e fará um aporte na empresa:

Balanço Projetado
Inicial Janeiro Fevereiro Março
Disponível
Clientes
Estoques
Equipamento
Total do Ativo
Fornecedores
P.L.
- Capital Social
- Lucro acumulado
Total do Passivo

Demonstração do Resultado Projetado


Janeiro Fevereiro Março
Receita de vendas
Custos e despesas
- Matéria-prima
- Mão-de-obra
- Administrativa
Resultado do mês

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2.4 GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO
O objetivo primordial da gestão do capital de giro é a sustentação da atividade operacional da
empresa e a manutenção da liquidez.

O conceito de Capital de Giro, porém, costuma apresentar diferentes interpretações, que são
aplicadas segundo os critérios e a natureza do estudo desenvolvido. No entanto, qualquer que
seja a definição adotada, o conceito de capital de giro (ou capital circulante) identifica os
recursos que giram (ou circulam) várias vezes em determinado período. Ou seja, corresponde
a uma parcela de capital aplicada pela empresa em seu ciclo operacional, a qual assume
diferentes formas ao longo de seu processo produtivo e de venda.

Uma abordagem tradicional considera o Capital de Giro o valor total dos recursos
demandados pela empresa, para financiar seu ciclo operacional, o qual engloba as
necessidades circulantes identificadas desde a aquisição de matérias-primas até a venda e o
recebimento dos produtos elaborados. Dessa forma, corresponderia ao valor do ativo
circulante de uma empresa.

Outra abordagem considera o valor líquido das aplicações (isto é, deduzidas as dívidas de
curto prazo) processadas no ativo circulante da empresa, ou seja:

Capital Circulante Líquido (CCL) = Ativo Circulante - Passivo Circulante

Conforme a estrutura do balanço patrimonial usada no Brasil tem-se:

Ativo Circulante Passivo Circulante

Capital Circulante Líquido

Passivo Exigível a LP
Ativo Realizável a LP
Patrimônio Líquido
Ativo Permanente

Entretanto, conforme pode ser percebido na figura acima, o Capital Circulante Líquido
também representa a parcela do financiamento total de longo prazo que excede as aplicações
de longo prazo. Assim, a fim de se efetuar uma análise mais rigorosa da gestão do capital de
giro de uma empresa, será utilizada uma outra classificação das aplicações e fontes de
recursos da empresa. Para tanto, será adotada uma nova classificação das contas do Balanço
Patrimonial, de acordo com seu comportamento/relação com o ciclo operacional da empresa a
qual é apresentada na Figura que se segue.
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ATIVO CIRCULANTE FINANCEIRO PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO

Disponibilidades Empréstimos e Financiamentos


Caixa
Depósitos bancários à vista PASSIVO CIRCULANTE OPERACIONAL
Aplicações de liquidez imediata
Fornecedores
ATIVO CIRCULANTE OPERACIONAL
Impostos a Recolher (*)
Clientes
Salários a Pagar
Estoques
PASSIVO PERMANENTE
ATIVO PERMANENTE
Itens classificados no Passivo Exigível a
Itens classificados no Ativo Realizável a Longo Prazo e no Patrimônio Líquido da
Longo Prazo e Ativo Permanente da demonstração legal
demonstração legal

(*) Os impostos aqui incluídos são aqueles calculados sobre o faturamento (vendas) da
empresa. O imposto de renda, em princípio, não está incluído pois é calculado sobre o
resultado da empresa.

É importante notar que como esta classificação não é uma classificação legal (isto é, com base
em uma lei), as denominações aqui adotadas não têm caráter universal. Assim, é comum se
encontrar as seguintes denominações:

Ativo (Passivo) Circulante Financeiro => Ativo (Passivo) Errático


Ativo (Passivo) Circulante Operacional => Ativo (Passivo) Cíclico
Necessidade de Capital de Giro => Necessidade de Investimento em Giro
Tesouraria => Saldo de Disponível

A partir desta nova distribuição, pode-se definir algumas grandezas importantes para a análise
da gestão financeira da empresa. A primeira grandeza é:

Necessidade de Capital de Giro (NCG) = Ativo circulante operacional - Passivo circulante


operacional

Ativo Passivo
operacional operacional

NCG

15
Quando as saídas de caixa ocorrem antes das entradas, a operação da empresa cria uma
necessidade de aplicação permanente de fundos (mobilização de recursos), que se evidencia
por uma diferença positiva entre o valor das contas operacionais ou cíclicas de ativo e de
passivo. Apresenta como características:
- as contas cíclicas são contas ligadas às operações da empresa;
- é sensível a modificações que ocorrem no ambiente em que opera. Depende da
natureza do negócio (que determina o Ciclo Financeiro) e do nível de atividade;
- pode ser negativa, quando as entradas ocorrem antes que as saídas. Neste caso, o
passivo circulante operacional constitui-se em fonte de fundos;
- se a empresa suspender as operações (parcial ou total), a NCG, que se constituía uma
aplicação, torna-se uma fonte de fundos.

Assim, pode-se definir a Necessidade de Capital de Giro como sendo os recursos necessários
a um determinado ciclo financeiro e volume de atividades.

Preencha o quadro a seguir, determinando o efeito esperado sobre a NCG como conseqüência
dos seguintes eventos:

EVENTO EFEITO
Aumento do volume das vendas
Aumento no prazo concedido aos clientes
Aumento no prazo recebido dos fornecedores
Aumento no giro do estoque

Capital de Giro (CDG) = Passivo permanente - Ativo permanente

CDG
Ativo Passivo
permanente permanente

Pode ser definido como a parcela de recursos de longo prazo aplicada no ciclo operacional,
caracteristicamente de curto prazo, o qual assume diferentes formas ao longo de seu processo
produtivo e de vendas.

Tem as seguintes características:


- apresenta o mesmo valor do CCL clássico (Ativo circulante - Passivo circulante) -
ver esquema do Balanço Patrimonial acima. Neste, o CCL é uma aplicação de fundos;
o CDG é uma fonte de fundos permanente, usada para financiar a NCG;
- apresenta-se razoavelmente estável ao longo do tempo;
- pode ser negativo. Embora isto aumente seu risco, a empresa pode se desenvolver
desde que sua NCG seja, também, negativa.

16
Tendo em vista a definição acima, relacione abaixo os fatores que afetam o Capital de Giro de
uma empresa:

a) Fatores que afetam POSITIVAMENTE o CDG:

-
-
-
-

b) Fatores que afetam NEGATIVAMENTE o CDG

-
-
-
-
-
-

Conforme se pode perceber, as variações do CDG são explicitadas através da Demonstração


das Origens e Aplicações de Recursos, conforme modelo abaixo.

ORIGENS:

Lucro líquido do exercício, ajustado pelas despesas e receitas que não afetam o Capital
Circulante Líquido2
Aumento de capital
Contribuições para reservas de capital
Recursos de terceiros provenientes de:
Aumento no exigível a longo prazo
Redução no realizável a longo prazo
Alienação de ativo permanente

APLICAÇÕES

Dividendos/Distribuição de lucros
Aquisição de imobilizado
Aquisição de investimentos e diferido
Aumento no realizável a longo prazo
Redução no exigível a longo prazo

VARIAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

2
Contas que não representam movimentos de caixa e que não afetam o Ativo Circulante e o Passivo Circulante.
17
Ativo Circulante inicial Ativo Circulante final Variação Ativo Circulante
Passivo Circulante inicial Passivo Circulante final Variação Passivo Circulante
CCL inicial CCL final Variação no CCL

Tesouraria (T) = Ativo circulante financeiro - Passivo circulante financeiro


ou,
CDG - NCG

Ativo financeiro Passivo


financeiro
T

É a diferença entre CDG e NCG. Sempre que CDG > NCG o saldo de Tesouraria será
positivo (T>0). Por outro lado, T<0, indica que a empresa financia parte da NCG e/ou Ativo
permanente com recursos de curto prazo, aumentando o risco de insolvência. Isto não quer
dizer que um T elevado seja necessariamente condição desejável: pode indicar falta de uma
estratégia de investimentos. Elementos para a análise da situação de Tesouraria podem ser
obtidos da Demonstração do Fluxo de Caixa cujo modelo no Anexo.

• Uma conseqüência desta linha de raciocínio é que o saldo de Tesouraria reflete


decisões estratégicas (conseqüência do dimensionamento do CDG) e as oscilações da
parte variável da NCG (sazonalidades). Dessa maneira, pode-se perceber que a
situação financeira de uma empresa em determinado momento (refletida no saldo de
Tesouraria) é conseqüência da maior ou menor habilidade e/ou capacidade da
administração da empresa em prover financiamento adequado para os investimentos
de longo prazo e para as suas operações. Essa constatação permite concluir que, de
maneira geral, problemas crônicos de liquidez estão associados a deficiências na
estrutura de financiamento da empresa, não podendo ser sanados com captações de
curto prazo, ao contrário do que leva a crer a análise clássica de liquidez. Maiores
considerações a respeito do financiamento das necessidades de recursos de uma
empresa são feitas mais adiante.

Assim, a gestão de T deve se apoiar em previsões de fluxo de caixa que antecipem a


necessidade de captações ou aplicações de excedentes.

18
Abaixo são apresentadas algumas possíveis estruturas patrimoniais. Com base nos conceitos
apresentados acima faça um breve comentário sobre a situação financeira representada:

Estrutura 1 Estrutura 2
A. C. F. = 20 P. C. F. = 30 A. C. F. = 30 P. C. F. = 20

P. C. O. = 30 P. C. O. = 30
A. C. O. = 50 A. C. O. = 40

A. P. = 30 P. P. = 40 A. P. = 30 P. P. = 50

Estrutura 3 Estrutura 4

A. C. F. = 30 P. C. F. = 20 A. C. F. = 20 P. C. F. = 30

P. C. O. = 50 A. C. O. = 30
A. C. O. = 30 P. C. O. = 40

P. P. = 30 A. P. = 50 P. P. = 30
A. P. = 40

Estrutura 5 Estrutura 6

A. C. F. = 40 P. C. F. = 20 A. C. F. = 10 P. C. F. = 30

P. C. O. =40 A. C. O. = 50
A. C. O. = 30 P. C. O. = 40

A. P. = 40 P. P. = 30
A. P. = 30 P. P. = 40

19
Classifique as estruturas apresentadas em função do risco percebido (ordenar do maior para o
menor risco). Lembre-se de que consideramos risco a probabilidade da empresa se tornar
insolvente:

Empresa CDG NCG T Situação

20
ANÁLISE DE CASOS

Avalie a evolução das medidas financeiras nos gráficos a seguir. Considere a evolução das
vendas e seu reflexo na NCG, a evolução do CDG e, por fim, a evolução do Saldo de
Tesouraria. Em uma primeira abordagem, considere que as variações do CDG são causadas
apenas pelo resultado obtido; posteriormente considere outras alternativas:

C ASO 1

3000

2500 Vendas

2000 CDG

1500 T
NCG
1000

500

0
t1 t2 t3 t4

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

CASO 2

3000

2500 Ve ndas

2000 NC G

1500

1000
T

500 CD G

0
t1 t2 t3 t4

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21
CASO 3

3000
Vendas
2500

2000

1500

1000
NC G
500
T
0
t1 t2 t3 t4 CDG
-500

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

C A SO 4

3000
Vendas
2500

2000

1500

1000
CD G
500
T
0
t1 t2 t3 t4 NC G
-500

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

22
2.5 AVALIAÇÃO DA GESTÃO FINANCEIRA

Considerando a formulação usada para expressar os ciclos da empresa, percebe-se a


importância da determinação dos diversos prazos praticados:

Ciclo Operacional: CO = PMR + PME

Onde: PMR= prazo médio de recebimento e PME= prazo médio de estoques

Ciclo Financeiro: CF = CO - PMP

Onde: PMP= prazo médio de pagamentos

Os diferentes prazos praticados por uma empresa podem ser estimados através dos índices de
prazo médio ou de rotação.

2.5.1 Índices de Rotação:

São utilizados para uma melhor interpretação da liquidez e da rentabilidade da empresa à


medida que servem de indicadores dos prazos médios de rotação dos estoques, recebimento
de vendas e pagamento das compras. Portanto, estes prazos constituem-se no alicerce básico
para determinação do ciclo financeiro.

Prazo médio de rotação dos estoques: PME = (EST / CMV) x P

Onde: EST = estoque; CMV = custo da mercadoria (ou produto vendido); P = período
considerado (nº de dias ou meses).

Prazo médio de recebimento das vendas: PMR = [Clientes / (VL + IMP)] x P

Onde: VL = vendas líquidas; IMP = impostos sobre as vendas; P = período considerado.

Prazo médio de pagamento das compras: PMP = (FORN / C) x P

Onde: FORN = fornecedores; C = compras; P = período considerado

É importante observar, nas formulações acima, a coerência entre os denominadores e os


períodos considerados. Em geral, análises externas são efetuadas a partir de demonstrações
anuais. Desta maneira, os denominadores referem-se a valores (de vendas, de custo, de
compras) anuais devendo-se utilizar, então o período “ano”, 360 ou 12, conforme se deseje o
prazo em número de dias ou de meses, respectivamente. Na hipótese de serem utilizadas
demonstrações intermediárias - semestrais ou trimestrais, por exemplo -, o período
considerado será 180 ou 90, respectivamente.

23
Os prazos médios podem ser convertidos em “Giro”, dividindo-se o período considerado (360
dias ou 12 meses) pelo prazo médio.

Ilustração:

Calcule o montante de duplicatas a receber em atraso, de uma empresa com um total de


duplicatas de R$ 4.000 e vendas totais de R$ 36.000 no ano distribuídas da seguinte forma:

20% das Vendas em 30 dias


40% das Vendas em 60 dias
40% das vendas à vista

É importante notar que as fórmulas apresentadas partem da premissa de que as atividades da


empresa se desenvolvem de maneira uniforme ao longo do ano. Caso essa premissa não possa
ser usada pelo fato da atividade apresentar fortes oscilações (sazonalidades), outras técnicas
de análise terão que ser empregadas.

Ilustrações:

a. Qual o PMR de uma empresa que tenha vendas anuais de $72.000, apresentando um saldo
de $ 44.000 de duplicatas a receber?

Suponha, então, que a empresa tenha vendido $ 8.000 em novembro e $ 36.000 em dezembro.

b. Qual o PMR de uma empresa com o mesmo volume de vendas ($ 72.000) mas com um
saldo de $ 2.500 de duplicatas a receber?

Suponha, então, que a empresa tenha vendido $ 1.500 em novembro e $ 1.000 em dezembro.

Observação muito importante: A formulação apresentada para o prazo médio de estocagem,


na realidade está simplificada. Tal fórmula é aplicável apenas para empresas comerciais. No
caso de empresas industriais deve-se levar em conta que a empresa industrial adiciona valor
às matérias-primas adquiridas ao transformá-las em produtos, conforme o esquema a seguir:

1°estágio 2°estágio 3°estágio


matéria-
prima e Custo de
Estoque de materiais Estoque de Produção Estoque de
Compras matérias- produtos em produtos C.P.V.
primas elaboração Acabada acabados
aplicados à
produção

Os elementos envolvidos na movimentação de estoques de uma indústria começam com as


entradas de matérias-primas e outros materiais utilizados na produção, que devem ser
contabilizados pelo valor das compras líquidas dos impostos.
24
O consumo das matérias-primas e dos materiais corresponde às saídas nesse 1° estágio,
valorizadas pelo preço médio.

Consumo de = Est. inicial + Compras - Est. final


matérias-primas mat. primas mat. primas mat. primas

O Custo de Produção no Período é igual à soma do consumo de matérias-primas, mão de obra


direta e os custos indiretos de fabricação.

Custo de Produção = consumo de mat-primas + depreciação + mão de obra + manutenção +


seguros + energia + outros

O Custo de Produção Acabada é então transferida para o estoque de produtos acabados. As


saídas, nesse 3° estágio, correspondem ao C.P.V., sendo:

Custo de Produção = Est. inicial + Custo de Produção - Estoque final


Acabada prod. em elabor. prod. em elabor.

C.P.V. = Estoque inicial + Custo de produção - Estoque final


prod. acabados Acabada prod. acabados

Um dos problemas do dia à dia das empresas industriais consiste na harmonização entre as
vendas e a produção. Estoques excessivos de produtos obsoletos ou de lenta rotação podem
elevar substancialmente o fator risco. A falta de estoques também pode gerar problemas como
o não-cumprimento de prazos de entrega junto aos clientes.

2.5.2 Avaliação do Ciclo Financeiro (ou demonstrando a relação entre


NCG e a atividade)

O Ciclo Financeiro, conforme descrito anteriormente (CF = PME + PMR - PMP), não é
rigorosamente correto, tendo em vista que em cada segmento do ciclo a empresa apresenta
valores de necessidades de financiamento (Ciclo Operacional) e de financiamentos (PMP)
diferenciados. Assim, durante o Prazo Médio de Estoques a empresa inicialmente necessita
financiar o valor da matéria-prima adquirida. Durante a fase de produção, os custos incorridos
ao longo do processo produtivo (mão-de-obra e gastos indiretos de fabricação) também
precisam ser financiados, além da própria matéria-prima. Por fim, com o produto pronto,
todos os custos incorridos na produção precisam ser financiados. A partir da venda do produto
até o recebimento (PMR), a empresa necessita financiar o custo do produto, os tributos
incidentes sobre a venda, além do próprio lucro. O financiamento proveniente do passivo
circulante operacional, entretanto, é fixo, não incorporando os acréscimos verificados nas
várias fases operacionais.

25
Assim, para uma análise mais rigorosa, é necessário proceder alguns ajustes nos prazos do
ciclo financeiro, relacionando-os mais diretamente com as vendas de forma a se apurar um
valor mais preciso para a necessidade de capital de giro. Acompanhe a demonstração a seguir:

NCG = Ativo circulante operacional - Passivo circulante operacional


ou

NCG = Estoques + Clientes - Contas a pagar,

dividindo-se ambos os lados por vendas, tem-se:

NCG = Estoques + Clientes - Contas a pagar


Vendas Vendas Vendas Vendas .

multiplicando-se ambos os lados por 360. tem-se:

NCG x 360 = Estoques x 360 + Clientes x 360 - Contas a pagar x 360


Vendas Vendas Vendas Vendas .

finalmente, introduzindo-se dois termos que não afetam a igualdade acima:

NCG x 360 = Estoques x 360 x CPV + Clientes x 360 - Contas a pagar x 360 x Compras
Vendas CPV Vendas Vendas Compras Vendas

conforme visto
anteriormente: PME PMR PMP

logo:

NCG x 360 = PME x CPV + PMR - PMP x Compras


Vendas Vendas Vendas

De onde se conclui que a NCG depende do ciclo financeiro (PME + PMR - PMP) e do nível
de atividade (vendas) da empresa. A relação acima demonstrada pode ser denominada de
Ciclo Financeiro Equivalente a qual não representa uma grandeza definida. Esta relação,
além de permitir uma avaliação mais precisa do Ciclo Financeiro de uma empresa, pode ser
usada para se efetuar o Dimensionamento da Necessidade de Capital de Giro (por
conseqüência, a necessidade de financiamento que a empresa irá apresentar, dadas as vendas
projetadas e os prazos praticados), conforme se verificará mais adiante.

Observação: na demonstração acima foi usado o multiplicador 360, pois partiu-se da premissa que os
prazos estão sendo informados em nº de dias. Ressalta-se que a informação relevante é a relação
NCG/Vendas. Importante notar que o modelo permite que sejam agregados outros elementos do
Passivo circulante operacional, tais como Impostos a Recolher e Salários a Pagar, bastando que sejam
relacionados ao volume de vendas da empresa.

Considerando as demonstrações a seguir, proceda a uma análise do ciclo financeiro da


empresa:

26
Balanços encerrados em 31 de março
1992 1993 1994
Caixa 22.000 14.000 12.000
Clientes 90.000 100.000 130.000
Estoques 105.000 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 40.000 70.000


Máquinas 54.000 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 800 100
Total Permanente 79.500 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 393.800 589.100

Fornecedores 60.000 90.000 185.000


Empréstimos - 39.000 98.000
Provisões 18.000 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 151.300 314.600

Financiamento 17.000 16.000 15.000

Capital social 75.000 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 393.800 589.100

Demonstrações de resultados - exercícios encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Vendas (impostos incluídos) 975.000 1.013.000 1.020.000
Custo do Produto Vendido 794.000 815.000 824.000
Lucro Bruto 181.000 198.000 197.000
Despesas:
Gerais e de vendas 75.000 80.000 83.000
Depreciações 8.000 9.000 13.000
Financeiras 8.000 8.000 9.000
Outras 15.000 20.000 24.000
Lucro antes do IR 75.000 81.000 67.000
Imposto de Renda 37.500 40.500 33.500
Lucro Líquido 37.500 40.500 33.500

1992 1993 1994


PMR
PME
PMP

CDG
NCG
T

CFEq

27
2.5.3 Índices de Liquidez:

Os índices desse grupo mostram a base da situação financeira da empresa. Ao contrário do


que algumas vezes é afirmado, tais índices não são capazes de medir a capacidade de
pagamentos da empresa porque não são extraídos do fluxo de caixa. São índices que, a partir
do confronto dos ativos circulantes com as dívidas, procuram medir quão sólida é a base
financeira da empresa. Uma empresa com bons índices de liquidez tem condições de ter boa
capacidade de pagar suas dívidas, mas não estará, obrigatoriamente, pagando suas dívidas em
dia em função de outras variáveis como prazo, renovação de dívidas, entre outros.

Liquidez corrente: LC = AC / PC

Onde: AC = ativo circulante; PC = passivo circulante.

Liquidez seca: LS = (DISP + AF + DRL) / PC

Onde: DISP = disponibilidades; AF = aplicações financeiras; DRL = duplicatas a receber


(líquidas da provisão para devedores duvidosos); PC = passivo circulante.

Alternativamente, também é usada a fórmula:

LS = (AC - Estoques)/PC

Exemplo para ilustração:

Os valores do ativo circulante, estoques e passivo circulante, referentes aos exercícios sociais
de uma empresa, são apresentados a seguir:

x1 x2 x3 x4
Ativo Circulante 22.000 28.000 30.000 34.000
Estoques 13.000 20.000 23.000 27.000
Passivo Circulante 21.000 25.500 26.600 29.300

Pede-se:
a. Determinar o índice de liquidez corrente e seca para cada um dos períodos.
b. Através de uma comparação temporal desses indicadores, avaliar a posição de liquidez a
curto prazo da empresa.
c. Se fossem fornecidos os seguintes índices setoriais, como você completaria a avaliação da
liquidez da empresa?

x1 x2 x3 x4
Liquidez Corrente 1,18 1,14 1,19 1,22
Liquidez Seca 0,84 0,76 0,89 0,90

28
Exemplo para discussão: Liquidez x Fluxo de Caixa

Uma empresa apresenta os seguintes valores de Ativo e Passivo Circulantes:

Ativo Circulante Passivo Circulante


Disponível 100 Contas a pagar 1.000
Clientes 900
Estoques 500
1.500 1.000

A empresa se encontra com sua situação financeira estável (isto é, seu fluxo de caixa se
encontra equilibrado) e mantém o saldo de $ 100 em disponibilidade para fazer frente a
eventuais problemas. O índice de Liquidez Corrente é de 1,5. Sabe-se que os prazos da
empresa são os seguintes:

Prazo médio de recebimento: 90 dias


Prazo médio de pagamento: 100 dias
Prazo médio de estocagem: 100 dias

Pergunta-se: pressionada por condições de mercado, a empresa passou a conceder um prazo


de 120 dias para seus clientes, sem que o volume de vendas se altere. Quais os efeitos que tal
modificação terá sobre a liquidez da empresa e seu fluxo de caixa?

O fato de se afirmar que os índices de liquidez não medem a capacidade de pagamento de


uma empresa não permite concluir que tais índices - especialmente a Liquidez Corrente - nada
tenham a ver com a situação financeira da empresa. Talvez a importância da análise da
liquidez fique mais clara com o cálculo do inverso da Liquidez Corrente. Ao compararmos o
Passivo Circulante com o Ativo Circulante, obtém-se uma medida do quanto as operações da
empresa dependem de financiamento de curto prazo, demonstrando, por outro lado, o grau de
liberdade da empresa a esses créditos. Se por quaisquer problemas (conjunturais, de mercado,
produto, legislação) os créditos do Passivo Circulante vierem a flutuar, quanto menor a
dependência da empresa em relação aos seus credores de curto prazo, maior a sua capacidade
de enfrentar crises e dificuldades inesperadas.

Com base nos balanços a seguir, avalie a situação de liquidez da empresa:

Balanços encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Caixa 22.000 14.000 12.000
Clientes 90.000 100.000 130.000
Estoques 105.000 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 40.000 70.000


Máquinas 54.000 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 800 100
Total Permanente 79.500 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 393.800 589.100

29
Fornecedores 60.000 90.000 185.000
Empréstimos - 39.000 98.000
Provisões 18.000 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 151.300 314.600

Financiamento 17.000 16.000 15.000

Capital social 75.000 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 393.800 589.100

1992 1993 1994


Liquidez corrente
Liquidez seca
Inverso da LC

Financiamento do Ativo Circulante $ % $ % $ %


CDG (CCL)
- CCP (PL-AP)
- PELP

Passivo Circulante
- Fornecedores
- Provisões
- Empréstimos

2.6 ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA (DFC)


A Demonstração do Fluxo de Caixa, apesar de ser uma das demonstrações mais úteis, ainda
não tem sua divulgação obrigatória pelas empresas. Como tal, sua abordagem é quase sempre
esquecida nas obras de Análise de Balanços.

Em geral, os problemas de insolvência ou iliquidez ocorrem por falta de adequada


administração do fluxo de caixa, daí a importância de sua análise. Através de sua análise
pode-se saber, dentre outras informações, se a empresa foi auto-suficiente no financiamento
de seu giro e qual sua capacidade de expansão com recursos próprios gerados pelas operações.
Assim, os principais objetivos da DFC são:

- avaliar as alternativas de investimentos;


- avaliar e controlar ao longo do tempo, as decisões importantes que são tomadas na
empresa;
- avaliar as situações presente e futura do caixa da empresa, posicionando-a para que não
chegue a situações de iliquidez;
- certificar que os excessos momentâneos de caixa estão sendo devidamente aplicados.

As principais informações extraídas dessa demonstração referem-se à capacidade financeira


da empresa de:

- autofinanciamento das operações (compra, produção e vendas);


30
- independência do sistema bancário de curto prazo;
- gerar recursos para manter e expandir o nível de investimentos; e
- amortizar dívidas bancárias de curto e longo prazo.

O modelo apresentado a seguir é o proposto por Matarazzo (1998), o qual apresenta algumas
diferenças em relação ao modelo proposto pelo IBRACON e adotado pela CVM (Comissão
de Valores Mobiliários), que é apresentado no Anexo.

Resultado do exercício

(±) Ajustes referentes a despesas e receitas que não afetam o caixa:


Depreciações, Resultado de Equivalência Patrimonial, Resultado não Operacional

= Geração Bruta de Caixa

(±) Variação da NCG

= Geração Operacional de Caixa

(±) Variação de Empréstimos de Curto Prazo

= Geração Corrente de Caixa

(±) Variação de Itens Permanentes de Caixa (Ativo Permanente e Patrimônio Líquido)

(±) Variação de Itens não Correntes (Realizável e Exigível a Longo Prazo)

= Geração Líquida de Caixa

+ Saldo Inicial de Caixa

= Saldo Final de Caixa

A avaliação da DFC não é tarefa simples visto que um número incontável de situações pode
existir. Matarazzo sugere que sejam apreciadas, sucessivamente, a Geração Bruta de Caixa, a
Geração Operacional, a Geração Corrente e a Geração Líquida. A idéia básica que deve
orientar a análise nesta avaliação é o grau de independência da empresa em relação a
financiamentos externos e a capacidade de autofinanciamento.

Uma seqüência de análise proposta por Matarazzo (2003) para a análise da DFC seria:

Capacidade de Financiamento da NCG: comparar a geração bruta de caixa com eventuais


acréscimos da NCG, indicando a capacidade da empresa em financiar o crescimento da
atividade comercial.

Capacidade de Pagamento de Dívidas Bancárias de Curto Prazo: comparar a geração


operacional de caixa com o saldo inicial de empréstimos de curto prazo, indicando a
capacidade da empresa em pagar tais empréstimos.

Capacidade de Investimentos: comparar a geração operacional de caixa em relação a


acréscimos em itens permanentes, indicando a capacidade da empresa de efetuar
investimentos com recursos próprios.
31
Capacidade de Amortização de Financiamentos: comparar a geração operacional de caixa
deduzida da variação permanente de caixa com o saldo inicial do Exigível a Longo Prazo.
Indica a capacidade da empresa em amortizar financiamentos de longo prazo, com os recursos
próprios, sem prejuízo dos investimentos em curso.

Ilustração

Apurar a Demonstração do Fluxo de Caixa a partir das demonstrações a seguir. Avalie a


capacidade de crescimento da atividade operacional, assim como a capacidade de
investimento e de pagamento das dívidas. Elabore, também, a Demonstração do Fluxo de
Caixa segundo o modelo proposto pelo IBRACON:

Balanços encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Caixa 22.000 14.000 12.000
Clientes 90.000 100.000 130.000
Estoques 105.000 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 40.000 70.000


Máquinas 54.000 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 800 100
Total Permanente 79.500 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 393.800 589.100

Fornecedores 60.000 90.000 185.000


Empréstimos - 39.000 98.000
Provisões 18.000 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 151.300 314.600

Financiamento 17.000 16.000 15.000

Capital social 75.000 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 393.800 589.100

Demonstrações de resultados - exercícios encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Vendas Líquidas 975.000 1.013.000 1.020.000
Custo do Produto Vendido 794.000 815.000 824.000
Lucro Bruto 181.000 198.000 197.000
Despesas:
Gerais e de vendas 75.000 80.000 83.000
Depreciações 8.000 9.000 13.000
Financeiras 8.000 8.000 9.000
Outras 15.000 20.000 24.000
Lucro antes do IR 75.000 81.000 67.000
Imposto de Renda 37.500 40.500 33.500
Lucro Líquido 37.500 40.500 33.500
32
1993 1994
Resultado do exercício

(±) Ajustes referentes a despesas e receitas


que não afetam o caixa:
= Geração Bruta de Caixa

(±) Variação da NCG


Variação clientes
Variação estoques
Variação fornecedores
Variação provisões
= Geração Operacional de Caixa

(±) Variação de Empréstimos de Curto Prazo

= Geração Corrente de Caixa

(±) Variação de Itens Permanentes de Caixa


Ativo Permanente
Patrimônio Líquido

(±) Variação de Itens não Correntes


Ativo Realizável a LP
Passivo Exigível a LP
= Geração Líquida de Caixa
+ Saldo Inicial de Caixa
= Saldo Final de Caixa

- Capacidade de financiar o crescimento da atividade operacional:

- Capacidade de pagar empréstimos (curto e longo prazo):

- Capacidade de investimento:

33
2.7 AVALIAÇÃO DA GESTÃO ECONÔMICA
Consiste na comparação dos diversos níveis de resultado (bruto, operacional e líquido) com
algum parâmetro, com a finalidade de aferir a eficiência da gestão da empresa. A
demonstração básica é a Demonstração do Resultado do Exercício, cuja estrutura é
apresentada a seguir:

Receita bruta de venda de bens e serviços


(-) Impostos incidentes sobre vendas
(-) Devoluções, descontos comerciais e abatimentos
(=) Receita Operacional Líquida
(-) Custo dos produtos e serviços vendidos
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas:
- de vendas
- administrativas
- gerais
(-) Despesas financeiras líquidas
(-) Outras despesas
(+) Outras receitas
(=) Lucro operacional
(+) Receitas não operacionais
(-) Despesas não operacionais
(=) Lucro antes do imposto de renda
(-) Provisão para o imposto de renda
(-) Participações
(=) Lucro líquido do exercício

2.7.1 Análise da rentabilidade:

Os índices deste grupo mostram a rentabilidade dos capitais investidos e, portanto, o grau de
êxito econômico da empresa.

Retorno sobre as vendas (margem): indica o quanto a empresa obtém de lucro para cada
$100 vendidos, ou seja, o percentual de lucro sobre as vendas líquidas. A fórmula apresentada
a seguir refere-se à margem líquida:

RSV = (LL / VL) x 100

Onde: LL = lucro líquido; VL = receita operacional líquida ou vendas líquidas

Um cuidado a ser tomado nesta análise é verificar se o resultado final da empresa não foi
formado por receitas outras que não as vendas da empresa, tais como resultado de
equivalência patrimonial, receitas financeiras e resultado auferido pela venda de ativos
permanentes (resultado não operacional). Nestes casos, o resultado líquido deve ser
expurgado de tais receitas, sob pena de distorção na análise da margem.

34
Podem ser calculadas variações deste índice usando-se o lucro operacional e o lucro bruto.

Retorno sobre o ativo: é uma medida do potencial de geração de lucro por parte da empresa,
isto é, da capacidade da empresa em gerar lucro. Embora boa parte da bibliografia de análise
das demonstrações apresente a fórmula LL/AT, tal relação encerra certa distorção, pois o
lucro líquido, que visa remunerar o capital de risco (normalmente o patrimônio líquido) e não
o ativo total, é influenciado pela estrutura de financiamento adotada pela empresa. Dessa
maneira, considera-se que a relação genuína a ser feita é:

RSA = (LO / A) x 100

Onde: LO = lucro operacional; A = ativo

Entretanto, são necessárias algumas precauções com essas denominações. A estrutura da


demonstração de resultado adotada no Brasil prevê a inclusão das despesas financeiras
(encargos financeiros) no resultado operacional. Como tais despesas não se relacionam com
nenhum investimento efetuado pela empresa, não faz sentido, do ponto de vista conceitual,
tratá-las como operacionais. Talvez fosse mais adequado denominá-lo de resultado antes dos
juros.

Da mesma forma, o ativo a ser considerado na relação deveria ser o ativo total excluído das
aplicações que não estão contribuindo para a geração do resultado, tais como investimentos
pré-operacionais, incentivos fiscais, entre outros. Uma questão que pode ser levantada diz
respeito às participações em outras empresas e às aplicações financeiras. Visto que o resultado
das participações e as receitas financeiras formalmente integram o resultado operacional,
poderia se aceitar a manutenção de tais ativos na base de cálculo. Entretanto, se o objetivo for
a determinação da rentabilidade das atividades de produção e venda, tais ativos devem ser
desconsiderados, procedendo-se também, a exclusão dos resultados gerados por tais ativos do
resultado operacional.

Também são feitas avaliações usando o conceito de Retorno sobre o Investimento (ROI), o
qual se utiliza o valor do Ativo diminuído do valor do Passivo Circulante Operacional.

Retorno sobre o patrimônio líquido: tem por objetivo mostrar o rendimento do


investimento feito pelos proprietários da empresa. Esse retorno pode ser comparado com o de
outros investimentos alternativos no mercado financeiro, permitindo avaliar se a empresa
oferece um retorno atraente em relação ao mercado.

RSPL = (LL / PL) x 100

Onde: LL = lucro líquido; PL = patrimônio líquido.

Uma precaução adicional a ser tomada no cálculo do retorno diz respeito à data do
investimento a ser considerado. A princípio, fazendo-se uma analogia com a análise de
investimento, o valor a ser considerado é o valor inicial (seja do Ativo, seja do Patrimônio
Líquido no cálculo dos diferentes retornos), isto é, um investimento foi feito para gerar um
certo retorno. O problema ocorre quando são feitos investimentos no decorrer do exercício e
que contribuem na formação do resultado. Nesses casos, o correto é tomar o valor inicial
acrescido das variações ponderadas pela fração do ano que permaneceram à disposição da
35
empresa. Como nem sempre essa informação está disponível, é comum a utilização de médias
simples. Esse procedimento, porém, supõe que as eventuais alterações aconteceram
uniformemente no decorrer do ano. Caso isso não seja verdadeiro, distorções relevantes
poderão ocorrer.

Exemplo: suponha que uma empresa tenha iniciado o ano com um PL de $ 1.000 e que no
meio do ano tenha sido feito um aumento de capital de $ 500. Qual o PL que deverá ser
considerado para fins do cálculo da rentabilidade?

De acordo com o discutido, a valor a ser considerado será:

1.000 x 1 ano + 500 x 0,5 ano = 1.250

Exercício

Com base nas demonstrações a seguir, determine o Retorno sobre o Ativo e o Retorno sobre o
Patrimônio Líquido para os exercícios de 1993 e 1994 (apenas para simplificar os cálculos
posteriores, utilize os valores iniciais do Ativo e do Patrimônio Líquido):

Balanços encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Caixa 22.000 14.000 12.000
Clientes 90.000 100.000 130.000
Estoques 105.000 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 40.000 70.000


Máquinas 54.000 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 800 100
Total Permanente 79.500 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 393.800 589.100

Fornecedores 60.000 90.000 185.000


Empréstimos - 39.000 98.000
Provisões 18.000 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 151.300 314.600

Financiamento 17.000 16.000 15.000

Capital social 75.000 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 393.800 589.100

36
Demonstrações de resultados - exercícios encerrados em 31 de março
1992 1993 1994
Vendas Líquidas 975.000 1.013.000 1.020.000
Custo do Produto Vendido 794.000 815.000 824.000
Lucro Bruto 181.000 198.000 197.000
Despesas:
Gerais e de vendas 75.000 80.000 83.000
Depreciações 8.000 9.000 13.000
Financeiras 8.000 8.000 9.000
Outras 15.000 20.000 24.000
Lucro antes do IR 75.000 81.000 67.000
Imposto de Renda 37.500 40.500 33.500
Lucro Líquido 37.500 40.500 33.500

1993 1994
Retorno sobre o Ativo

Retorno sobre o Patrimônio Líquido

Para uma avaliação mais rigorosa da rentabilidade, é interessante a decomposição de tais


índices. Para tanto, define-se:

Giro do ativo: Relaciona o volume de vendas com o montante de investimento. Como o


sucesso de uma empresa depende, dentre outros fatores, de um volume de vendas adequado, a
correta avaliação do volume de vendas (pouco ou muito) não pode ser feita apenas
observando-se o valor absoluto de suas vendas. Como as vendas têm relação direta com o
investimento feito torna-se necessária a comparação das vendas com tal investimento.

GA= VL/Ativo

Onde: VL = Receita Operacional Líquida (ou de Vendas Líquidas)

Assim, como Retorno sobre o ativo = LO/Ativo, tem-se que:

LO/Ativo = LO/VL x VL/Ativo

ou

RSA = Margem Operacional x Giro do Ativo

Assim, o retorno sobre o ativo é decomposto em margem operacional e giro do ativo. Essa
expressão é denominada sistema Du Pont, tendo sido desenvolvida pela Du Pont Corporation.

Da mesma forma, Retorno sobre o Patrimônio Líquido = LL/PL, tem-se que

LL/PL = LL/VL x VL/Ativo x Ativo/PL,

ou

37
RSPL = Margem Líquida x Giro do Ativo x “Endividamento”

Observação: alguns autores utilizam a formulação “Giro do Capital Próprio” a qual relaciona a Receita
de Vendas com o Patrimônio Líquido. Entretanto, a interpretação desta relação parece não fazer muito
sentido.

A decomposição dos índices de retorno é interessante, pois permite verificar que um dado
retorno pode ser obtido através de um sem número de combinações entre margem e giro,
conforme a estratégia escolhida pela empresa (vender grande quantidade com pequeno ganho
por unidade vendida ou vender pequena quantidade com elevado ganho por unidade vendida).
Além disso, possibilita identificar as causas das variações no retorno da empresa.

Exercício

Decomponha os índices de Retorno sobre o Ativo e Retorno sobre o Patrimônio Líquido dos
anos de 2003 e 2004, calculados anteriormente, explicando as principais causas da variação
dos respectivos retornos:

1993 1994
Retorno sobre o Ativo
- Margem Operacional
- Giro do Ativo

Retorno sobre o Patrimônio Líquido


- Margem Líquida
- Giro do Ativo
- Alavancagem

Avaliação:

38
Uma extensão da decomposição pode ser feita seguindo-se o esquema a seguir:

Vendas
Lucro Líquido (-) Custos
(-) Despesas
(-) IR
Vendas
X
Lucro Líquido
Vendas Preço x Quantidade
Retorno s/PL = Disponível
Clientes
PL Ativo Ativo Circulante Estoques
Ativo Permanente
X Imobilizado
Ativo Diferido
Capital Social Investimento
PL Lucros Retidos
Outras Reservas

Exercício

Com base no esquema de decomposição apresentado acima, complemente sua análise do


Retorno sobre o Ativo e do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, anteriormente calculados,
apontando os fatores que mais influenciaram a variação de tais índices:

39
93 94
93 94 CPV
93 94 LL Adm.
Margem VL Vendas
Outras 93 94
Financeiras Disponível
93 94 Clientes
RSPL Giro VL A.Circ. Estoques
Ativo
A. Perm. Imóveis
Máquinas
Alavancagem Ativo
PL Capital
Lucro Acum

Avaliação:
Alavancagem financeira:

O Retorno sobre o Ativo (RSA), calculado da maneira proposta anteriormente - usando o lucro
operacional genuíno - mostra qual a rentabilidade do negócio. Quanto maior o índice maior a
eficiência. Por outro lado, a empresa geralmente utiliza recursos de terceiros, os quais têm uma
remuneração (custo da dívida ou CD).

Se o custo da dívida é maior que o retorno sobre o ativo, ou seja, se a empresa paga, para cada $
tomado, mais do que rende o seu investimento no negócio, então o proprietário paga a diferença
com sua parte de lucro (ou até com o próprio capital). Se o custo da dívida é menor que o retorno
sobre o ativo, o proprietário fica com a diferença. Neste caso, a taxa de retorno sobre o
patrimônio líquido será maior que a taxa de retorno sobre o ativo.

Em última análise, o que interessa mesmo para a empresa é o retorno sobre o patrimônio líquido.
Os outros dois índices são informações gerenciais de como a empresa atingiu o RSPL. São,
entretanto, fundamentais para a definição de estratégias empresariais.

A expressão matemática que revela a relação entre as três medidas é a seguinte:

RSPL = RSA + (RSA - CD) x PE/PL

Onde: PE = Passivo Exigível


CD = Custo da dívida (relação entre as despesas financeiras e o passivo gerador de
encargos)

Essa fórmula mostra o efeito que a estrutura de capital e os juros pagos produzem no lucro final,
informando se essa estrutura está beneficiando ou não o proprietário. Ela demonstra, também,
quando o endividamento pode ser benéfico para a empresa (RSA>CD), o que não ficava evidente
na decomposição apresentada anteriormente (margem líquida x giro do ativo x endividamento).

O efeito de tomar, numa ponta, recursos de terceiros a um determinado custo e aplicá-los (nos
ativos) a uma outra taxa é denominado de Alavancagem Financeira. A diferença é absorvida
pelos proprietários, seja através de um aumento de seu retorno sobre o PL, seja através de uma
redução deste indicador.

A razão entre as taxas de retorno sobre o patrimônio líquido e de retorno sobre o ativo chama-se
grau de alavancagem financeira, indicando o número de vezes que o retorno sobre o ativo foi
multiplicado:

GAF = RSPL/RSA

Esta exposição visa apenas encaminhar o assunto. A correta análise da alavancagem demanda
alguns cuidados adicionais (tais como o tratamento do imposto de renda) e por isso foge ao
escopo do presente material.

41
2.8 FATORES DETERMINANTES BÁSICOS DO FINANCIAMENTO DE
UMA EMPRESA.
Uma empresa pode ser vista como possuidora de necessidades de ativos circulantes e ativos
permanentes necessários para que as operações sejam conduzidas eficientemente. A necessidade
de ativos pode variar ao longo do tempo por diversas razões, incluindo: tendência geral de
crescimento, variações sazonais em torno da tendência, e flutuações diárias e mensais
imprevisíveis. Tal situação é ilustrada na figura a seguir (na ilustração foi considerado que não
há crescimento):
$

NCG
NCG
Sazonal
NCG Permanente

Ativo Permanente

tempo

Há duas estratégias a serem consideradas por uma empresa para atender suas necessidades de
recursos. A primeira estratégia consistiria na obtenção de financiamento de longo prazo que
cobrisse a necessidade total de ativos, mesmo nos picos sazonais. A empresa terá saldos
excedentes de caixa disponíveis para aplicações financeiras quando a necessidade total for
inferior aos picos. Como esse enfoque envolve superávits crônicos de caixa e um investimento
elevado em NCG, é visto como uma estratégia flexível (ou de risco mínimo). Esta estratégia está
representada a seguir:

Excedentes (aplicações)
$

NCG
Sazonal
Recursos
NCG Permanente de
Longo
Prazo
Ativo Permanente

tempo

42
Quando o financiamento de longo prazo não cobre a necessidade total de ativos, a empresa é
obrigada a tomar emprestado a curto prazo para compensar o déficit. Esta estratégia restritiva (ou
agressiva) é representada a seguir:

Recursos
de
NCG Curto Prazo
Sazonal

NCG Permanente Recursos


de
Longo Prazo
Ativo Permanente

Qual a melhor política de financiamento? Não existe uma resposta definitiva. Vários aspectos
devem ser considerados para que a análise seja apropriada. Dentre outros, destacam-se:

- reservas de caixa: a política flexível de financiamento pressupõe saldos elevados de


caixa e nível reduzido de endividamento a curto prazo. Essa política reduz a
probabilidade de dificuldades financeiras para uma empresa. A empresa não precisará
preocupar-se tanto com o cumprimento de obrigações de curto prazo. Entretanto, os
investimentos em caixa e aplicações financeiras, geralmente, são investimentos com valor
presente líquido igual a zero, isto é, não contribuem na geração de retorno para a
empresa.

- casamento de prazos: muitas empresas procuram igualar os prazos de ativos e passivos.


Financiam estoques com recursos de curto prazo e ativos permanentes com recursos a
longo prazo, procurando evitar o financiamento de ativos permanentes com
endividamento de curto prazo. O descasamento de prazos geraria a necessidade de
refinanciamentos freqüentes, com os riscos decorrentes da maior volatilidade das taxas de
juros de curto prazo.

- taxas de juros relativas: na seleção das fontes de financiamento, a empresa deverá


observar o comportamento das taxas de juros dos empréstimos de curto e de longo prazo.
Deve-se ressaltar que, num contexto econômico estável, espera-se que a taxa de juros de
curto prazo seja inferior à de longo prazo.

- características operacionais e de seu ambiente: conforme discutido no início deste texto,


o ramo de atividade na qual a empresa, assim como a composição dos ativos necessários
para o cumprimento de seus objetivos, expõem a empresa a um certo nível de risco (o
risco operacional), conseqüência do volume de custos fixos e da volatilidade das receitas
da empresa. Assim, a estrutura de financiamento pode ser usada para ajustar o risco total

43
da empresa, de acordo com o grau de aversão ao risco de seus proprietários e
administradores.

As políticas anteriormente apresentadas são casos extremos, obviamente. Na política flexível a


empresa nunca toma recursos emprestados a curto prazo, e na política restritiva a empresa nunca
mantém reservas de caixa. Na verdade, podem ser adotadas políticas intermediárias (ou ainda
mais radicais), conciliando ambas as posições. Assim, poderia se estruturar o financiamento de
forma que os empréstimos de curto prazo sejam tomados apenas para financiar os picos de
necessidades de financiamento, mas mantendo uma reserva de caixa em períodos de atividade
menos intensa. À medida que os saldos de ativos circulantes se elevam, a empresa utiliza o
dinheiro dessa reserva antes de tomar recursos emprestados. Isso permite a acumulação de ativos
circulantes antes que seja preciso recorrer a endividamento a curto prazo.

Ilustração do efeito da utilização de estruturas de financiamento alternativas sobre o risco


e o retorno da empresa:

Suponha que uma empresa, para cumprir com os seus objetivos, necessite de ativos no montante
de $ 100.000, sendo 50% relativos a ativos circulantes e 50% ativos permanentes. Os ativos
permanentes são financiados por recursos próprios. Quais os efeitos sobre o RSPL e a liquidez
corrente caso a empresa adote cada uma das alternativas de financiamento a seguir: estratégia
flexível (100% de financiamento de longo prazo), restritiva (ativo circulante financiado
totalmente com empréstimos de curto prazo) e conciliadora (50% do ativo circulante financiado
com empréstimos de curto prazo e 50% com recursos terceiros de longo prazo). Suponha ainda
que:

- o lucro operacional (genuíno) é de $ 15.000;


- a alíquota do imposto de renda é de 50%; e
- o custo dos recursos de curto prazo é de 12% a.a. e os de longo prazo custam 16% a.a.

A avaliação do reflexo das decisões de financiamento tomadas por uma empresa pode ser feita a
partir dos chamados índices de estrutura de capitais.

2.8.1 Índices de Estrutura

São aqueles que relacionam a composição de capitais (próprios e de terceiros), que medem os
níveis de imobilizações de recursos e que buscam diversas relações na estrutura da dívida da
empresa.

Participação de capitais de terceiros: apresenta o quanto a empresa tomou de capitais de


terceiros para cada $ 1 de capital próprio:

PCT = [(PC + ELP) / PL]

Composição do endividamento: apresenta o percentual de obrigações de curto prazo em


relação às obrigações totais:
CE = [PC / (PC + ELP)] x 100

Imobilização do patrimônio líquido: apresenta o quanto a empresa aplicou no Ativo


Permanente para cada $ 1 de Capital Próprio, isto é, mostra a proporção do Patrimônio Líquido
44
investida no Ativo Permanente. Por dedução (1 - IPL), chega-se a proporção do Patrimônio
Líquido que foi aplicada no Ativo Circulante (e/ou Realizável a LP); esta parcela do Patrimônio
Líquido é chamada de Capital Circulante Próprio (PL - AP).

IPL = (AP / PL)

Com base nas demonstrações a seguir, analise a estrutura de financiamento da empresa para os
exercícios de 1993 e 1994. Relacione sua análise com a análise da liquidez feita anteriormente:

Balanços encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Caixa 22.000 14.000 12.000
Clientes 90.000 100.000 130.000
Estoques 105.000 180.000 300.000
Total Circulante 217.000 294.000 442.000

Terrenos e prédios 24.000 40.000 70.000


Máquinas 54.000 59.000 77.000
Outros ativos 1.500 800 100
Total Permanente 79.500 99.800 147.100
Total do Ativo 296.500 393.800 589.100

Fornecedores 60.000 90.000 185.000


Empréstimos - 39.000 98.000
Provisões 18.000 22.300 31.600
Total Circulante 78.000 151.300 314.600

Financiamento 17.000 16.000 15.000

Capital social 75.000 75.000 75.000


Reserva de capital 60.000 60.000 60.000
Lucros acumulados 66.500 91.500 124.500
Total Patrimônio Líquido 201.500 226.500 259.500
Total do Passivo 296.500 393.800 589.100

Demonstrações de resultados - exercícios encerrados em 31 de março


1992 1993 1994
Vendas Líquidas 975.000 1.013.000 1.020.000
Custo do Produto Vendido 794.000 815.000 824.000
Lucro Bruto 181.000 198.000 197.000
Despesas:
Gerais e de vendas 75.000 80.000 83.000
Depreciações 8.000 9.000 13.000
Financeiras 8.000 8.000 9.000
Outras 15.000 20.000 24.000
Lucro antes do IR 75.000 81.000 67.000
Imposto de Renda 37.500 40.500 33.500
Lucro Líquido 37.500 40.500 33.500

1992 1993 1994


Participação de capitais de terceiros

Composição do endividamento

Imobilização do PL

Capital Circulante Próprio

45
3 PLANEJAMENTO FINANCEIRO

3.1. O EFEITO TESOURA

Exemplo para ilustração e reflexão (continuação do exercício iniciado no item 2.3 Os Ciclos
da Empresa)

No mês de abril, graças a um esforço mercadológico, o Sr. Engenhoso previa um aumento nas
encomendas (venda de maio) na ordem de 500 unidades, sendo necessário aumentar as compras
no mesmo montante - o preço unitário da matéria-prima não se alterou. Em decorrência, a mão-
de-obra do mês de maio também irá crescer proporcionalmente, sendo que os salários e as
despesas administrativas permanecerão estáveis.

As encomendas crescerão em mais 500 unidades em maio e 500 unidades em junho (totalizando
2.500 em vendas para julho) com reflexos nas compras de cada mês e na mão-de-obra dos meses
subseqüentes.

Diante deste quadro extremamente positivo, previsto para o mês de julho o sr. Engenhoso -
proprietário da empresa - programou umas férias no Nordeste. As previsões de venda se
confirmaram porém, no final de julho, suas férias foram subitamente interrompidas por um
telefonema de seu auxiliar administrativo, o qual, em pânico, avisava que o dinheiro tinha
terminado e ele não sabia o que fazer. Perplexo, ele já ia começar a preparar as malas para voltar,
quando encontrou você no corredor da pousada. Sabendo de sua experiência profissional, ele lhe
apresentou os dados acima e pediu que você lhe explicasse a situação e, principalmente, o que
aconteceu com o dinheiro.

O que dizer ao Sr. Engenhoso?

Representação gráfica do Efeito Tesoura

20.000

16.000 Vendas

12.000
NCG
8.000
T
4.000 CDG

0
t1 t2 t3 t4 t5

46
O Efeito Tesoura é o crescimento descontrolado da dependência de empréstimos de curto prazo,
quando T é negativo.

Dentre as causas do Efeito Tesoura podem ser citadas:


- crescimento acelerado das vendas, causando crescimento proporcional da NCG, mas
com autofinanciamento (ou captações de longo prazo) insuficientes, ocasionando um
pequeno crescimento do CDG (esta situação é denominada de “overtrading”);
- investimento excessivo em imobilizações, com retorno inadequado ou prazo muito
longo, causando diminuição do CDG, não acompanhando o crescimento das Vendas e da
NCG;
- crescimento do ciclo financeiro, independente das vendas (má gestão dos ativos e
passivos circulantes operacionais);
- retração da economia, causando diminuição acentuada das vendas. Por efeito de sua
inércia, a redução da NCG ocorre após a redução das vendas (acúmulo de estoques,
aumento de prazos ou atrasos de clientes).

3.2. PLANEJAMENTO
Planejar é uma das funções administrativas - as demais são Organizar, Comandar, Coordenar e
Controlar. Planejar significa definir antecipadamente:

− os objetivos das ações previstas (o que se deseja alcançar);


− a forma pela qual as ações serão desenvolvidas (como será feito);
− os meios físicos, tecnológicos, humanos, os recursos financeiros necessários (com
que e por quanto será feito);
− os prazo de execução e as épocas de conclusão de cada etapa do plano (quando
será feito); e
− os responsáveis pela execução das etapas do plano (por quem será feito).

Pode-se perceber que geralmente existirá mais de uma alternativa para cada uma das definições
enunciadas. Assim, planejar consiste na escolha da alternativa mais adequada em face da
realidade presente e das expectativas do comportamento de inúmeras variáveis endógenas e
exógenas. O planejamento empresarial constitui um processo sistemático e contínuo de tomada
de decisões no presente com vistas à consecução de objetivos específicos no futuro.

Existem três níveis de decisões empresariais e a cada nível pode ser associado um tipo de
planejamento, a saber: estratégico, tático e operacional.

As decisões estratégicas são de responsabilidade da alta administração e afetam toda a empresa


por um período de tempo muito amplo. Destina-se a preparar a empresa para condições
conjunturais previstas em um horizonte mais amplo. Grande ampliação da capacidade instalada,
introdução de nova tecnologia ou novos produtos constituem-se em exemplos de decisões
estratégicas.

O planejamento tático visa otimizar o desempenho e os resultados de uma área específica da


empresa. As decisões táticas são tomadas em um nível hierárquico intermediário e destinam-se a
alcançar objetivos determinados pelo planejamento estratégico.

47
No planejamento operacional são definidas as metas a serem cumpridas pelas unidades
operacionais e pelos órgãos da administração. Essas metas específicas devem estar alinhadas
para que os objetivos globais de longo prazo sejam alcançados.

O planejamento financeiro, a exemplo do planejamento empresarial global, inicia-se com os


planos financeiros a longo prazo, ou estratégicos, que por sua vez direcionam a formulação de
planos e orçamentos operacionais de curto prazo. Tais planos são ações planejadas para um
futuro distante, acompanhadas da previsão de seus reflexos financeiros. Os planos financeiros de
longo prazo são parte de um plano estratégico integrado que, em conjunto com os planos de
produção, de marketing e outros, utilizam-se de uma série de premissas e objetivos para orientar
a empresa a alcançar seus objetivos estratégicos. Tais planos focalizam os dispêndios de capital,
atividades de pesquisa e desenvolvimento, ações de marketing, estrutura de capital, entre outros;
devem incluir, também, a conclusão de projetos existentes, de linhas de produtos, reembolso ou
amortização de dívidas e quaisquer aquisições planejadas. Materializa-se no Orçamento de
Capital.

O planejamento financeiro a curto prazo (operacional) são ações planejadas para um período
curto acompanhadas da previsão de seus reflexos financeiros. Os principais insumos incluem a
previsão de vendas e várias formas de dados operacionais e financeiros; os resultados mais
importantes incluem inúmeros orçamentos operacionais, o orçamento de caixa e as
demonstrações financeiras projetadas.

Desse modo, o processo de planejamento financeiro compreende os seguintes passos:

− estimar os recursos necessários para executar os planos operacionais da empresa;


− determinar o montante de tais recursos que poderá ser obtida no âmbito da própria
empresa e quanto deverá provir de fontes externas;
− identificar os melhores meios e fontes para a obtenção de recursos adicionais,
quando se fizerem necessários;
− estabelecer a melhor forma para aplicação de todos os recursos obtidos para
executar os planos operacionais.

O fluxograma a seguir apresenta o processo de planejamento financeiro a curto prazo, desde a


previsão inicial de vendas, passando pelo desenvolvimento do orçamento de caixa, e indo até a
elaboração da demonstração do resultado e do balanço patrimonial projetado.

48
Previsão de Vendas

Plano de Produção

Estimativa Consumo Necessidades Estimativas


Matérias-Primas Mão-de-Obra Custos Indiretos

Estimativa
de Compra

Estoque inicial Custo Produtos Estoque projetado


Produtos Fabricados de Produtos

Custo dos
Produtos Orçamento de
Vendidos Capital

Estimativas
Despesas
Operacionais

Resultado Orçamento
Projetado de Caixa

Plano de Financiamento
Receitas/Despesas
Financeiras

Demonstração do Caixa
Resultado Projetado Duplicatas a Receber
Duplicatas a Pagar

Balanço Inicial Balanço


Projetado

A fim de ilustrar o processo de planejamento financeiro de curto prazo, considere o exercício a


seguir.

49
Exercício (adaptado do livro "Custos: um enfoque administrativo" de George S. G. Leone)

A seguir é apresentado o Balanço Patrimonial da Cia. Bâmbola, que é uma empresa comercial:

BALANÇO PATRIMONIAL EM 31/12/X0

Ativo Passivo
Circulante Circulante
Disponível 20.000 Contas a pagar 33.600
Contas a rec. 32.000 Salários a pagar 8.250
Estoques 70.000
Desp.ex.seg. 3.600

Permanente P. L.
Imobilizado 74.000 Capital Social 110.000
Dep. acum. (25.600) Lucros acum. 22.150
Total 174.000 Total 174.000

Foram coletadas, ainda, as seguintes ($ 4.000) em 10 prestações mensais a partir


informações relativas ao balanço encerrado em de fevereiro;
31/12/X0:
- outras informações:
- as vendas de um mês são feitas de acordo - as despesas gerais correspondem a 0,5% das
com o seguinte padrão: 60% a vista e 40% a vendas do mês;
ser recebido no mês seguinte; - o aluguel, fixo, é igual a $ 1.000 por mês;
- o seguro é apropriado à despesa a razão de
- a Cia. tem uma política para os estoques que $ 100 ao mês
consiste em manter um estoque mínimo de $ - a despesa de depreciação, incluindo o
40.000 mais 60% do valor do custo de veículo novo, corresponde a $ 800 ao mês.
vendas do mês seguinte. O custo das vendas
é igual a 50% do valor das vendas. Assim o Pede-se preparar os seguintes orçamentos para o
valor de $ 70.000 constante do balanço de primeiro quadrimestre de 19X1:
31/12/X0 corresponde aos $ 40.000 de
estoque mínimo mais 60% do custo das a. orçamento de vendas sabendo-se que as
vendas previstas para janeiro, $ 50.000 estimativas de vendas são as seguintes:
(vendas previstas: $ 100.000); janeiro: 100.000
fevereiro: 50.000
- a Cia. efetua suas compras segundo as março: 60.000
condições que seguem: 50% a vista e 50% no abril: 30.000
mês seguinte. Dessa maneira, o valor de $ maio: 30.000
33.600 constante do balanço corresponde a
50% das compras efetuadas em dezembro e b. estimativa de cobrança;
deverá ser pago em janeiro; c. orçamento de compras;
d. estimativa de pagamento das compras;
- os salários são pagos quinzenalmente. O total e. previsão de salários;
da folha, por quinzena, é de $ 8.250. f. pagamento de salários;
Normalmente a empresa paga os salários g. demonstração do resultado em 30/04/X1;
dentro do próprio mês, porém, em função do h. fluxo de caixa para o primeiro quadrimestre
reajuste a ser concedido no mês de abril de X1; e
(10%), o valor relativo à segunda quinzena i. balanço projetado para 30/04/X1.
deste mês será pago nos primeiros dias de
maio;

- a Cia. pretende adquirir um veículo em


janeiro, pagando $ 4.000 a vista e o restante

50
Dimensionamento da Necessidade de Capital de Giro

Conforme mencionado anteriormente, uma maneira rápida de mensurar a Necessidade de


Capital de Giro de uma empresa é utilizando o Ciclo Financeiro Equivalente, ou seja:

NCG x 360 = PME x CPV + PMR - PMP x Compras


Vendas Vendas Vendas

Exemplo 1: Uma empresa, em seu processo de planejamento financeiro para o próximo


exercício, definiu os seguintes objetivos, em termos de ciclo financeiro, volume de vendas e
estrutura de custos:

Prazos a serem praticados: Clientes: 90 dias; Estoques: 56 dias; Fornecedores: 90 dias;


Impostos a recolher: 60 dias.
Relação compras/vendas: 0,6; impostos/vendas: 0,15; CPV/vendas: 0,7
Vendas anuais estimadas: $ 900.000

Determine a Necessidade de Capital de Giro da empresa para o próximo exercício. Suponha


que a NCG atual é de $ 145.000 e que o Saldo de Tesouraria está estimado em $ 15.000 para
o final do exercício atual. Comente.

Exemplo 2: Suponha-se uma empresa na seguinte situação:

Vendas Anuais - R$40.000


- Impostos s/ Vendas (20%) - R$ 8.000
C.P.V. - R$18.000
Matérias primas R$12.000
Mão de obra - R$ 4.000
Depreciação - R$ 2.000
Estoques:
Matérias primas - 45 dias
Produtos em elaboração - 15 dias
Produtos acabados - 30 dias
Prazos de financiamentos:
Prazo médio de recebimento - 40 dias
Prazo médio de pagamento de compras - 30 dias
Pagamento de mão de obra - 30 dias
Prazo médio de recolhimento das obrigações fiscais - 20 dias

Determinar a Necessidade de Capital de Giro desta empresa.


Exemplo 3: Com base nos dados abaixo, calcule a Necessidade de Capital de Giro, Capital de
Giro e Saldo de Tesouraria e monte o Balanço Patrimonial para o período de 2000 a 2003 de
uma empresa do setor de varejo voltada para a comercialização de bens populares; que
trabalha com um giro rápido de estoques, recebimento rápido de vendas e prazo elevado de
pagamento a fornecedores.

2000 → Vendas = R$ 540 Milhões


Custo das Mercadorias Vendidas = 80% das Vendas
Compras = 80% das Vendas

Prazo Médio de Recebimento de Vendas = 7 dias


Prazo Médio de Estocagem = 20 dias
Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores = 60 dias

Patrimônio Líquido no final de 19x0 = R$ 100 Milhões


Exigível a Longo Prazo no final de 19x0 = R$ 20 Milhões
Ativo Permanente no final de 19x0 = R$ 140 Milhões

2001 → Vendas crescem a R$ 810 Milhões, com um Lucro Líquido = R$ 10 Milhões

2002 → Vendas permanecem constantes, a empresa resolve realizar novas


imobilizações no Ativo Permanente, num total de R$ 40M e obtém um Lucro Líquido
de R$ 10M

2003 → Ano recessivo para empresa, as Vendas caem para um patamar de R$ 540M,
gerando um prejuízo de R$ 10 M

52
Crescer em equilíbrio (modelos de previsão de crescimento)

Crescimento => aumento das necessidades financeiras ligadas ao ciclo

Como financiar?
Suposição: como as vendas integram o ciclo operacional, uma alteração de vendas refletir-se-
á em todo o ciclo. Assim, as condições de crescimento equilibrado supõem que sejam
originadas no próprio ciclo; isto é, o autofinanciamento da empresa deverá ser suficiente para
financiar ao menos o aumento da sua NCG.

Por que?

a) Como o aumento de vendas causa o aumento da NCG - e este deve ser permanente -, este
aumento deve ser financiado com recursos de longo prazo ou CDG. Aumentos do CDG via
empréstimos ou aumentos de capital causariam acréscimos em Despesas Financeiras e em
Dividendos, reduzindo o lucro passível de retenção e diminuindo o efeito desejado. Resta,
portanto, o crescimento do CDG através do Autofinanciamento;

b) Deve ser evitada a situação Var. NCG > Var. CDG, pois se refletiria na necessidade de
captar empréstimos de curto prazo, reduzindo o saldo de Tesouraria (T);

c) Dificuldade de obtenção de empréstimos destinados ao ciclo operacional.

Portanto, o crescimento em equilíbrio supõe que: Autofinanciamento > Var. NCG

Considerando:

Autofinanciamento = Taxa de autofinanciamento (t); e


Vendas

NCG = ciclo financeiro (c)


Vendas

Para que o aumento da NCG, causado pelo aumento das vendas entre dois períodos seja,
autofinanciado os valores deverão seguir a seguinte indicação:

t x V2 >= c x V2 - c x V1 ou Autofinanciamento gerado no exercício 2 é maior ou igual que a


variação da NCG observada no exercício 2, ou

(t-c) x V2 + c x V1 >= 0

De onde se depreende que:

a. sempre que a taxa de autofinanciamento for superior ao ciclo financeiro (t > c), haverá
crescimento autofinanciado;

b. caso inverso (t < c), o autofinanciamento será possível desde que o crescimento das vendas
não seja superior à relação t/(c-t), pois para que:

53
V2 + c x V1 >0 tem-se V2 < c , subtraindo-se 1 em cada lado,
t-c V1 c-t

V2 - 1 < c - 1 obtém-se V2 - V1 < t ,


V1 c-t V1 c-t

onde o primeiro termo corresponde ao crescimento das vendas

Exemplo

Suponha uma empresa vendendo $ 1.000 por ano e que tenha um ciclo financeiro (c) de 0,25,
uma taxa de Autofinanciamento (t) de 0,10, e um Capital de Giro (CDG) inicial de $ 250,
sendo que o CDG cresce exclusivamente através do Autofinanciamento. O que ocorreria com
essa empresa caso suas vendas crescessem a razão de 100% ao ano? Qual é o limite de
crescimento auto-sustentado?

t1 t2 t3 t4 t5
Vendas 1.000 2.000 4.000 8.000 16.000
NCG 250
Autofinanciamento 100
CDG 250
Tesouraria -

Qual é o limite de crescimento auto-sustentado?

t1 t2 t3 t4 t5
Vendas 1.000
NCG 250
Autofinanciamento 100
CDG 250
Tesouraria -

O modelo de crescimento discutido acima assume que o crescimento se reflete apenas sobre a
Necessidade de Capital de Giro; em função disso, se considera que é uma ferramenta útil para
a gestão financeira de curto prazo. Entretanto, deve se contemplar a hipótese de que em um
prazo mais longo o crescimento das atividades de uma empresa implicará na necessidade de
investimentos em ativos permanentes.

Em vista disso, pode haver interesse em se definir a taxa de crescimento que uma empresa
pode apresentar sem comprometer seu equilíbrio financeiro. Implícita no modelo a seguir,
está a hipótese de que existe uma relação entre o volume de vendas e o total de ativos que
uma empresa necessita para atingir tal volume de vendas.

Taxa de crescimento interno: denota a taxa máxima de crescimento que pode ser alcançada
sem financiamento externo de qualquer espécie, ou seja, o crescimento que pode ser
alcançado usando apenas o autofinanciamento.

54
Taxa de crescimento interno (TCI) = RSA x b / 1-RSA x b

Onde: RSA = Retorno sobre o Ativo na definição LL/AT; b = índice de retenção, ou parcela
do lucro líquido não distribuída

Ilustração: suponha que uma empresa tenha as seguintes demonstrações:

Ativos Passivo e PL DRE

Circulantes 200 Endividamento 250 Vendas 500


Permanentes 300 P. L. 250 Custos 400
Total 500 Total 500 Lucro tributável 100
Imposto de Renda 34
Lucro Líquido 66

Dividendos 22

Assumindo a hipótese de que os ativos guardam relação com o volume de vendas, qual a taxa
de crescimento interno que a empresa poderá apresentar. Projete as demonstrações caso esta
taxa de crescimento ocorra.

Taxa de crescimento sustentável: representa a taxa máxima de crescimento que uma empresa
pode conseguir mantendo constante o quociente entre capital de terceiros e capital próprio,
porém sem precisar promover aumentos de capital. Dito de outra forma é a taxa de
crescimento máxima que pode ser mantida sem alterar a alavancagem financeira.

Taxa de crescimento sustentável = RSPL x b / 1-RSPL x b

Onde: RSPL = Retorno sobre o Patrimônio Líquido; b = índice de retenção

Utilizando os mesmos dados do exemplo anterior, qual a taxa de crescimento sustentável que
a empresa poderá apresentar. Projete as demonstrações caso esta taxa de crescimento ocorra.
.

55
Fatores determinantes do crescimento

O exame da expressão da taxa de crescimento sustentável revela que qualquer coisa que
aumentar o RSPL também aumentará a taxa de crescimento sustentável, pois o numerador
cresce e o denominador diminui. Alterações do índice de retenção terão o mesmo efeito.

Conforme demonstrado anteriormente, o RSPL pode ser decomposto em:

RSPL = Margem Líquida x Giro do Ativo x “Endividamento”

de onde se verifica que a capacidade de uma empresa sustentar seu crescimento depende
explicitamente de:

a. Margem de lucro;
b. Giro do ativo total;
c. Política de financiamento; e
d. Política de dividendos (ou distribuição dos lucros);

ilustrando a relação entre as quatro principais áreas de preocupação da empresa: sua eficiência
operacional (medida pela margem de lucro), sua eficiência na gestão de ativos (medida pelo
giro do ativo), sua política de financiamento (representada pelo quociente capital de terceiros
e capital próprio), e sua política de dividendos (medida pelo índice de retenção). É, por isso,
um útil instrumento de planejamento financeiro.

4. ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE


4.1 Conceitos introdutórios

A política que uma empresa adota nas suas finanças de curto prazo tende a ser composta de
dois elementos:

- a magnitude de seu investimento em ativo circulante; e


- o financiamento do ativo circulante.

A magnitude do investimento geralmente é medida em relação ao nível de receitas


operacionais da empresa. Políticas financeiras flexíveis de curto prazo envolvem a
manutenção de elevados níveis de caixa e aplicações financeiras, investimentos elevados em
estoques e concessão de crédito em condições liberais, resultando em nível elevado de contas
a receber. Uma política restritiva, por sua vez, se caracteriza por atitudes opostas às descritas
anteriormente.

A determinação do nível ótimo de investimento em ativos de curto prazo requer a


identificação dos diferentes custos de políticas alternativas de financiamento de curto prazo.
Os saldos de ativos circulantes são máximos quando a política financeira de curto prazo é
flexível e mínimos quando a política é restritiva. Portanto, as políticas flexíveis são mais caras
no sentido de que exigem saídas maiores de caixa para financiar maiores ativos circulantes.
Entretanto, as entradas futuras de caixa também deverão ser maiores, pois as vendas são

56
estimuladas pelo uso de uma política de crédito mais liberal e a disponibilidade de estoques
proporciona atendimento rápido aos clientes, além de outros eventuais efeitos positivos sobre
o preço e a produção.

A gestão de ativos circulantes envolve uma conciliação entre custos que se elevam com o
nível do investimento e custos que caem com o nível do investimento. Os custos que crescem
com o nível de investimento em ativos circulantes são chamados de custos de carregamento,
em contrapartida, os custos que diminuem com acréscimos do ativo circulante são conhecidos
como custos de falta.

Os custos de carregamento são geralmente de dois tipos. Em primeiro lugar, como a taxa de
retorno dos ativos circulantes é baixa - em comparação com outros ativos -, há um custo de
oportunidade. Em segundo lugar, há o custo de manutenção do valor do item em que se faz o
investimento (por exemplo, o custo de armazenamento de itens em estoque).

Os custos de falta ocorrem quando o investimento em ativo circulante é pequeno. Se uma


empresa ficar sem dinheiro em caixa, será forçada a resgatar suas aplicações financeiras.
Entretanto, se não o fizer (pelo tipo de aplicação), poderá ser obrigada a tomar emprestado ou
deixar de pagar alguma dívida. Se uma empresa não tiver estoque, ou não puder dar crédito a
seus clientes, tenderá a perdê-los.

A figura abaixo ilustra a natureza básica dos custos de carregamento e falta.

Custo
Custo Total

Custo de
Carregamento
Custo
Mínimo

Custo de Falta

C* Nível de ativo circulante

Os custos totais de investimento em ativo circulante são determinados somando-se os custos


de carregamento e os custos de falta. O ponto mínimo da curva de custo total (C*) reflete o
saldo ótimo de ativos circulantes. A definição por uma política flexível ou restritiva
dependerá, assim, da característica dos custos de carregamento e/ou de falta associados.

57
4.2 Gestão de valores a receber (ou Clientes)

Quando uma empresa vende produtos e serviços, pode exigir pagamento a vista no mesmo dia
ou antes da data de entrega, ou pode conceder crédito aos clientes e aceitar certa demora no
pagamento.

Por que as empresas concedem crédito? O motivo óbvio é o de que a concessão de crédito é
uma forma de estimular as vendas. Os custos associados à concessão de crédito são
significativos, dentre os quais se destacam o risco de inadimplência e o custo de carregamento
de contas a receber.

Do ponto de vista contábil, quanto um crédito é concedido, cria-se uma conta a receber. Estes
créditos constituem-se no principal investimento de muitos ramos de atividade, além de serem
uma fonte muito importante de financiamento para as empresas clientes. Assim, as contas a
receber e sua gestão constituem aspectos muito importantes da política financeira a curto
prazo de uma empresa.

Em princípio, o montante ótimo de crédito concedido é determinado pelo ponto no qual os


fluxos de caixa incrementais resultantes do aumento de vendas são exatamente iguais aos
custos incrementais de carregamento devidos aos aumentos do investimento em contas a
receber. O ponto de equilíbrio entre os custos de concessão e recusa de crédito não é difícil de
ser identificado, mas é difícil quantificá-lo precisamente.

Os custos de carregamento associados à concessão de crédito assumem três formas:

1. o retorno exigido do investimento em contas a receber;


2. as perdas com a inadimplência de clientes; e
3. os custos com a gestão de crédito e cobrança.

Esses três tipos de custo crescem na razão direta da liberalização da política de crédito. Se
uma empresa adotar uma política de crédito restritiva, então os três tipos de custo serão
reduzidos. Neste caso, a empresa terá uma “escassez” de crédito, e por isso incorrerá no custo
de oportunidade. O custo de oportunidade consiste no lucro adicional possível com as vendas
perdidas devido à recusa do crédito. Esse benefício sacrificado é oriundo de duas fontes: o
aumento da quantidade vendida e o preço potencialmente mais elevado. Esses custos
diminuem à medida que a política de crédito se torna menos rígida.

A soma dos custos de carregamento e dos custos de oportunidade de uma política de crédito
gera a curva de custo total de crédito. Esta curva está ilustrada a seguir.

58
Custo

Custo Total

Custo de
Custo Carregamento
Mínimo

Custo de
Oportunidade
C* Volume de crédito concedido

O ponto C* corresponde ao volume ótimo de crédito, isto é, o volume de crédito que


minimiza o custo total de crédito. Se a empresa conceder crédito acima deste volume, o fluxo
de caixa líquido adicional proporcionado por novos clientes não cobrirá os custos de
carregamento do investimento em contas a receber. Se o nível das contas a receber for inferior
a esse volume, então a empresa estará sacrificando oportunidades valiosas de lucro.

Em geral, os custos e benefícios da concessão de crédito dependerão das características das


empresas e seus setores. Ignorando-se outros fatores, é provável, por exemplo, que empresas
com capacidade ociosa, baixos custos operacionais variáveis e clientes fiéis tenderão a adotar
uma política mais liberal de crédito.

A fim de estabelecer os parâmetros de risco que está disposta a assumir, a empresa deve
definir uma política de crédito. Integram a política de crédito:

- padrões de crédito: estabelece os critérios mínimos para a concessão de crédito a


um cliente, isto é, define o perfil de cliente que poderá receber crédito;
- análise de crédito: estabelece os procedimentos para avaliar solicitantes de crédito,
não só no que diz respeito à credibilidade, mas também ao montante máximo que o
cliente poderá receber. Envolve: 1) a obtenção de informações de crédito e 2) a análise
das informações;
- condições de crédito: especificam o prazo de concessão de crédito, a concessão ou
não de descontos financeiros e o período de desconto financeiro;
- políticas de cobrança: estabelecem os critérios passíveis de serem adotados visando
ao recebimento das duplicatas na data do vencimento.

A manipulação dos diversos componentes da política de crédito reflete-se no comportamento


do custo total de crédito. O reflexo esperado é descrito a seguir:

Volume de vendas: deve aumentar com padrões de crédito mais frouxos e diminuir com
padrões de crédito mais rígidos.

Despesas com devedores duvidosos: refere-se a probabilidade definida pela empresa em não
receber determinado volume de crédito. A definição de uma política geral de crédito leva
59
muitas vezes, uma empresa a fixar um limite percentual a estas despesas, sendo definido,
assim, como o risco máximo que a administração estaria disposta a correr dentro das
condições gerais estabelecidas. Alterações na política de crédito determinam variações nestas
despesas, elevando-as ou diminuindo-as, conforme seus elementos adotem comportamentos
mais rigorosos (restritivos) ou liberais (frouxos).

Despesas gerais de crédito: envolvem basicamente os gastos efetuados no processo de análise


de solicitações e na manutenção de um departamento de crédito, como pessoal, materiais,
serviços de informações contratados, etc...

Despesas de cobrança: aquelas inerentes aos diversos procedimentos de cobrança adotados


pela empresa, inclusive aquelas provenientes de ações judiciais.

Investimentos em Duplicatas a Receber: quanto maior o investimento em duplicatas a receber,


maior o custo de manter o padrão de crédito da empresa, e vice-versa. O afrouxamento nos
padrões de crédito da empresa aumenta o volume de duplicatas a receber, aumentando
conseqüentemente o custo relativo a esse maior investimento em recebíveis.

Custo do investimento marginal em valores a receber: é o custo de oportunidade dos recursos


adicionais aplicados no financiamento aos clientes sendo determinado mediante a aplicação
de uma taxa de retorno mínima exigida pela empresa (para seus investimentos ativos) sobre o
investimento marginal (adicional) efetuado em valores a receber.

Reflexos financeiros esperados da política de crédito (resumo):

Padrão de crédito Prazo de crédito Desconto financeiro Política de cobrança


afrouxar restringir ampliar reduzir elevar reduzir liberal rígida
Vendas + - + - + - + -
Desp. Crédito + - + - - + + -
Clientes + - + - - + + -

Exemplo: Uma empresa está considerando efetuar mudanças em seus padrões de crédito. A
situação atual da empresa é a seguinte:

• Vendas a crédito = 60.000 unidades


• Preço unitário de venda (pv) = R$ 10,00
• Custo variável unitário (cv) = R$ 5,00
• Custo fixo total = R$ 120.000,00
Retorno exigido = custo de oportunidade = 19,5 % a.a.

Os efeitos esperados da flexibilização dos padrões de crédito são os seguintes:

• aumento de 5% nas vendas


• aumento no período médio de cobrança de 30 dias para 45 dias
• aumento de devedores incobráveis de 1% para 2% sobre as vendas

60
4.3 Gestão de contas a pagar

O passivo circulante representa o financiamento obtido pela empresa cujo vencimento ocorre
no prazo de até um ano. Apesar de terem esta característica em comum, os componentes do
passivo circulante podem apresentar aspectos bastante distintos. Uma grande distinção está
ligada ao fato de tais financiamentos estarem ou não vinculados à atividade operacional da
empresa.

Seguindo essa linha de raciocínio, é possível separar o passivo circulante em dois grandes
subgrupos. O primeiro subgrupo refere-se ao financiamento que surge de maneira
praticamente espontânea como decorrência das próprias operações da empresa e que
apresenta um caráter cíclico, isto é, é renovado de forma automática em cada ciclo
operacional da empresa. Neste subgrupo enquadra-se o denominado crédito comercial (ou o
prazo recebido dos fornecedores para o pagamento de compras) e aqueles valores decorrentes
da aplicação do regime de competência, tais como salários a pagar, impostos a recolher,
contribuições sociais, entre outros.

O segundo subgrupo corresponde a transações feitas pela empresa que não guardam relação
com a sua atividade operacional. O seu surgimento decorre de ações específicas da
administração da empresa. Neste subgrupo enquadram-se, entre outros, os empréstimos
bancários e os dividendos a pagar.

O crédito comercial é considerado uma fonte espontânea de financiamento já que surge a


partir das transações comuns da empresa. Assim, se uma empresa compra em média $ 2.000
por dia e recebe um prazo de pagamento de 30 dias, na média ela deverá 30 vezes $ 2.000 (ou
$ 60.000) para seus fornecedores. Se suas vendas e, conseqüentemente, suas compras dobram,
as contas a pagar também dobrarão. A empresa terá espontaneamente gerado um valor
adicional de financiamento de $ 60.000. De forma similar, se as condições de crédito são
relaxadas de 30 para 40 dias, as contas a pagar se expandirão para $80.000. Dessa forma, o
alongamento do período de crédito, bem como a expansão de compras e vendas geram
financiamento adicional.

Os principais aspectos relacionados à concessão de crédito já foram mencionados


anteriormente e não serão abordados novamente; do ponto de vista de gestão financeira, um
aspecto merece um exame mais aprofundado que é o momento de pagamento mais vantajoso
para a empresa. De maneira geral (e isto é válido para todas as contas a pagar da empresa), do
ponto de vista financeiro a empresa só deve efetuar seus pagamentos no prazo limite
proporcionado pelo fornecedor. Duas hipóteses, entretanto, podem ser consideradas:

- o pagamento antecipado quando for oferecido um desconto; e


- o alongamento do prazo mediante o atraso no pagamento.

A fim de ilustrar a primeira hipótese, partiremos para o seguinte exemplo:

Suponha que a empresa tenha uma conta a pagar de $ 1.000 a um fornecedor no prazo de 30
dias. Entretanto, o fornecedor oferece um desconto de 3% caso o pagamento seja feito dentro
do prazo de 10 dias da data da fatura. Qual a análise a ser feita para se decidir pela
antecipação ou não do pagamento?

61
Quanto à segunda hipótese, deve ser levado em conta, além do custo financeiro, o dano
causado à imagem da empresa e que pode redundar na perda do crédito.

No que diz respeito às demais fontes de financiamento espontâneas, deve ser observado que
seus prazos de pagamento estão, de maneira geral, regulados por lei. Isto significa que, além
de não existir qualquer vantagem financeira em antecipar seu pagamento, os atrasos de
pagamento são passíveis de sanções legais, sem contar as sanções pecuniárias. Também
devem ser considerados os aspectos ético e moral de se atrasar o pagamento de salários e
impostos.

Os empréstimos bancários, por sua vez, representam fontes de recursos não espontâneas; à
medida que as necessidades de financiamento da empresa crescem, ela solicita fundos
adicionais. Se essa solicitação é negada, a alternativa é diminuir a taxa de crescimento ou
eliminar algumas operações.

As operações financeiras disponíveis para suprir as necessidades circulantes são


desenvolvidas, basicamente, no mercado de crédito e no mercado monetário. Várias são as
modalidades de empréstimo disponíveis no mercado; uma breve descrição das modalidades
mais comuns são relacionadas a seguir:

- Desconto de duplicatas: atende a necessidades de capital de giro, mediante a garantia de


recebíveis de vendas realizadas; os bancos antecipam recursos ao emitente, cobrando juros
antecipados e, na falta de pagamento do sacado, exercem o direito de regresso contra o
emitente. Sua taxa é nominal;

- Capital de giro: trata-se de um empréstimo para necessidades de capital de giro sem


vinculação a vendas, mediante um contrato com garantias que pode incluir hipoteca;
recebíveis e duplicadas, que podem ser entregues em caução;

- Conta Garantida: tem o objetivo de cobrir emergências; consiste num contrato pelo qual o
banco assegura um limite de crédito disponível. Até o limite dessa linha e dentro do prazo do
contrato a empresa pode cobrir deficiências de caixa;

- Vendor: trata-se de financiamento ao capital de giro, onde o financiado é o comprador, mas


o emitente é o fiador da operação;

- Factoring: produto utilizado por pequenas e médias empresas com dificuldade de acesso a
capital de giro. Praticado por empresas de fomento mercantil que em tese deveriam
especializar-se num ramo de negócios e comprar a carteira de cobrança de outras empresas.
Estas estariam assim terceirizando sua cobrança, enquanto que a empresa de fomento
mercantil estaria assumindo o risco. Na prática, é mantido o direito de regresso;

- ACC: destina-se ao financiamento do capital de giro de empresas exportadoras, sendo


concedido na fase de pré-embarque, isto é, antes do embarque efetivo da mercadoria para o
exterior, podendo ser concedido em até 360 dias antes do embarque;

- ACE: destina-se ao financiamento do capital de giro de empresas exportadoras, sendo


concedido na fase de pós-embarque, isto é, depois do embarque efetivo da mercadoria para o
exterior, podendo ser concedido em até 180 dias após o embarque;

62
- Resolução 63: é uma forma de empréstimo para capital de giro que pode ser utilizada para
cobrir necessidades permanentes de capital de giro dado o prazo que pode ser contratada. Por
se constituir de recursos com funding externo, tem, para o devedor, o risco da variação
cambial;

- Export Notes: trata-se de uma operação com direitos creditórios de exportação, onde são
comprados e vendidos direitos a recebimentos em moeda estrangeira provenientes de futuras
exportações a realizar ou mesmo de exportações já realizadas e cujo pagamento ainda não foi
recebido.

Considerações adicionais

As decisões relacionadas às contas de clientes (e fornecedores) não podem ser tomadas,


exclusivamente, buscando os objetivos de redução do ciclo financeiro (isto é, reduzir o PMR e
aumentar o PMP, além da possibilidade de agregar ao preço os custos com a concessão de
crédito). Tais decisões devem levar em conta as relações de poder existentes entre os diversos
participantes do mercado. Estas relações são descritas por Michael Porter quando trata das
forças competitivas. Porter descreve como sendo 5 as forças competitivas: a concorrência, os
clientes, os fornecedores, os entrantes potenciais e os produtos substitutos. Há, ainda, uma
sexta força - o governo, sociedade civil, etc. - que a princípio é neutra, mas pode se manifestar
de acordo com as atitudes da empresa.

ENTRANTES POTENCIAIS
Ameaça de
novos entrantes
Poder de negociação
dos fornecedores CONCORRENTES NA INDUSTRIA
FORNECEDORES COMPRADORES
Rivalidade entre as empresas existentes Poder de negociação
dos compradores
Ameaça de produtos
ou serviços substitutos

SUBSTITUTOS

FIGURA- Forças que dirigem a concorrência na indústria

Inicialmente, deve ser considerado o nível de concorrência enfrentado pela empresa. O


produto ofertado é único ou não apresenta distinções relevantes em relação aos demais?
Especialmente no último caso, deve se considerar que a concessão de um prazo para o cliente
é um poderoso instrumento de venda, integrando o denominado “composto mercadológico”
da empresa (produto, ponto, preço, promoção).

O poder dos clientes deve ser avaliado em relação aos seguintes aspectos:

1. nº de clientes e volume de vendas individuais em relação às vendas totais;


2. participação do produto nas compras/custos do cliente;
3. graus de diferenciação do produto/serviço oferecido;
4. custos de mudança (substituição);
63
5. possibilidade do cliente fazer integração para trás;
6. influência do produto na qualidade do produto do comprador.

O poder dos fornecedores, por sua vez, segue um processo de análise semelhante:

1. nº de companhias e grau de concentração em relação aos clientes;


2. importância do cliente para o fornecedor;
3. existência de produtos substitutos;
4. importância do produto do fornecedor para o produto do cliente;
5. custos de mudança;
6. possibilidade de integração para a frente.

4.4 Gestão financeira de estoques

Referem-se aos materiais, mercadorias ou produtos mantidos fisicamente disponíveis pela


empresa na expectativa de ingressarem no ciclo de produção, de seguir o seu curso produtivo
normal, ou de serem comercializados. Tal como as contas a receber, os estoques representam
um investimento significativo em várias empresas.

A despeito da magnitude do investimento em estoques de uma empresa típica, o


administrador financeiro não exerce controle direto sobre a gestão dos estoques. Em vez
disso, outras áreas funcionais, tais como compras, produção e marketing geralmente
compartilham a autoridade decisória; a administração financeira normalmente só contribui
parcialmente para a tomada de decisões. Entretanto, a política de estoque pode exercer efeitos
financeiros dramáticos.

Dois aspectos devem ser levados em conta em relação aos tipos de estoques. O primeiro
aspecto refere-se à liquidez de cada tipo de estoque: matérias-primas são bens homogêneos ou
relativamente padronizados, que podem ser facilmente convertidos em dinheiro. A produção
em andamento, por outro lado, pode ser de liquidez muito reduzida, de valor pouco superior
ao que seria conseguido se fosse vendida como sucata. Por fim, a liquidez dos produtos
acabados depende da natureza do produto.

O segundo aspecto é a distinção importante entre produtos acabados e outros tipos de


estoques. A demanda por item de estoque que se torna parte de outro item é geralmente
denominada demanda derivada ou dependente, porque a necessidade que uma empresa tem
desses tipos de estoque depende de sua necessidade de produtos acabados. Em contraste, a
demanda de produtos acabados não depende da demanda de outros itens de estoque, e por isso
às vezes é dita independente.

Conforme já discutido anteriormente, existem dois tipos básicos de custos associados aos
ativos circulantes em geral e a estoques em particular. O primeiro deles é o custo de
carregamento, o qual representa todas as despesas diretas e os custos de oportunidade de
manter estoque. Isso inclui: custo de capital, custo das instalações, custo dos serviços e riscos
de estocagem.

Os outros tipos de custos associados aos estoques são os custos de falta, os quais decorrem de
estoque insuficiente. Os dois componentes do custo de falta são: o custo de reabastecimento
(custo de colocação de pedidos, custo de preparação de lote de produção) e os custos
64
relacionados a reservas de segurança (vendas perdidas, perdas de clientes resultantes da
existência e estoques inadequados).

Há uma relação básica de benefício versus custo na gestão de estoques, porque os custos de
carregamento aumentam com o nível do estoque ao passo que os custos de falta ou
reabastecimento caem com o nível do estoque. O objetivo fundamental do processo de gestão
de estoques passa a ser, portanto, a minimização da soma desses dois custos.

A tabela a seguir apresenta alguns dos fatores que influenciam os níveis dos diversos tipos de
estoques:

matérias-primas produtos em elaboração produtos prontos


- prazo de entrega - extensão do ciclo de produção - demanda
- freqüência de uso - natureza física
- natureza física - economias de escala
- investimento necessário

A seguir são feitos alguns comentários sobre algumas técnicas usadas para atingir esse
objetivo:

Enfoque ABC (sistema de prioridade de estoques): o sistema de controle de estoques ABC


visa determinar que tipo de estoque demanda maior atenção com base nas movimentações de
valores de cada item, isto porquê uma pequena parte dos itens do estoque consumirão a maior
parcela do valor total investido nos estoques. Desta forma, o sistema ABC retrata a totalidade
dos elementos estocados, através de constatações históricas, na tentativa de modelar certas
previsões futuras. Pelo sistema ABC a empresa classifica seus estoques em três grupos:

Grupo A - inclui aqueles itens que requerem maior investimento. Contém mais
ou menos 20% dos itens que, no entanto, representam cerca de 80% do valor do investimento
total em estoques.

Grupo B - consiste de cerca dos 30% dos itens que representam uma parcela
de mais ou menos 10% do valor investido nos estoques, logo depois dos itens classificados no
grupo A.

Grupo C - consiste, em geral, nos outros 50% dos itens cujo valor de
investimento representam mais ou menos 10% do valor total investido em estoques.

O sistema ABC pode ser visualizado no gráfico a seguir:

65
1,2
% cumulativo do valor do
1

0,8
estoque

0,6 Itens Itens classe C


classe B
0,4
Itens
0,2 classe A

0
0 5 10 15 20 25
nº de itens

Como podemos observar os itens em estoque foram classificados quanto ao valor cumulativo
em relação ao percentual que ocupam do estoque total.

Modelo do lote econômico: trata-se de uma abordagem para o estabelecimento explícito de


um nível ótimo de estoque, ou seja, aquele que minimiza o custo total do estoque. A idéia
básica é ilustrada no gráfico a seguir, que representa os vários custos associados à manutenção
de um nível de estoque.

Custo

Custo Total

Custo Mínimo Custo de


carregamento

Custo de
reabastecimento
LEC Quantidade de pedidos

Um ponto importante a ser destacado é o de que o custo efetivo do próprio estoque não está
incluído no calculo matemático do modelo. O motivo é que o volume total de estoque que a
empresa necessita, em determinado ano, é ditado pelas vendas. O que se está analisando é a
quantidade que a empresa deveria ter disponível em qualquer momento, ou dito de outra
forma, o lote que a empresa deveria encomendar quando fosse reabastecer seu estoque. Este
modelo apresenta três suposições básicas:

a) A empresa sabe exatamente qual é a demanda de um determinado produto do estoque;


66
b) A quantidade de estoque que a empresa consome é constante ao longo do tempo;
c) Os pedidos colocados para preencher os estoques são recebidos exatamente na época em
que os estoques atingem zero.

Sem considerar o custo da mercadoria, os custos que se relacionam aos estoques podem ser
divididos em três categorias: custos do pedido, custos de manutenção do estoque e custos
totais.

Custo do pedido: Incluem os custos fixos administrativos ao se efetuar e receber um pedido e


é expresso como o produto do nº de pedidos pelo custo do pedido.

V
Custo do pedido = Cp ×
Q

onde Cp é o custo de pedir, V é a demanda em unidade por período e Q é a quantidade do


pedido.

Custos de manter o estoque: São os custos variáveis por unidade para manter um produto em
estoque durante um certo período. Incluem custos de armazenagem, custos de seguro, o custo
de deterioração e obsolescência e o custo de oportunidade (custo dos retornos que deixaram
de ser obtidos, por ter se efetuado o investimento em estoque). É definido como o estoque
médio multiplicado pelo custo de manter uma unidade por período.

Q
Custo de manter o estoque = Cc ×
2
Q
onde Cc é o custo de manter o estoque por unidade e por período é o estoque médio
2
(quantidade do pedido / 2)

Custos totais: O custo total do estoque é dado pela soma dos dois custos anteriores, ou seja, a
soma dos custos de pedir e dos custos de manter o estoque.

Q V
Custo total = Cc × + Cp ×
2 Q

Ilustrações:

1. Considere uma empresa que vende, anualmente, dez mil unidades de um produto qualquer.
Os custos de pedido são de $ 25 e o custo de estocagem é de $ 1 por unidade. O preço de
compra normal do produto é de $ 10.

a. Verifique quais seriam os custos da política de estocagem da empresa, caso a ela fizesse 25,
20, 15, 10 e 5 pedidos por ano. Qual a forma mais econômica?
b. Determine o Lote Econômico de Compra. Qual o número de pedidos a ser feito durante o
ano? Qual o tempo decorrido entre cada pedido?
c. Suponha que o prazo para entrega do produto seja de 5 dias. Qual é o ponto de recompra?

67
d. Suponha que o fornecedor conceda um desconto de 0,5% se a quantidade de cada pedido
for maior ou igual a 1.000 unidades e de 0,7% se a quantidade for maior ou igual a 2.000
unidades. Qual é, agora, a melhor opção de compra?

Cálculos de custo total do estoque

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)


Quantidade Custo / Custo Estoque Custo de manter Custo anual de Custo total
Número de do Pedido anual médio estoque / manter estoque (4) + (7)
pedidos Pedido (R$) de pedir (2) / 2 Unidade / ano (5) x (6)
(unid.) (1) x (3)
25 25 R$ 1,
10 25 R$ 1,
15 25 R$ 1,
10 25 R$ 1,
5 25 R$ 1,

O LEC (Lote econômico de compra) pode ser determinado pela seguinte fórmula:

2 xVxCp
LEC =
Cc

Onde: V = Vendas anuais (demanda em quantidade)


Cp = Custo de pedido
Cc = Custo de carregamento unitário (o custo de manter estoque por unidade por
período)

Deficiências do modelo do LEC:

- Suposição de uma taxa constante de consumo


- Suposição de reabastecimento instantâneo de estoques
- Suposição de uma demanda anual conhecida

Técnicas de gestão de estoques determinados pela demanda:

MRP (Planejamento de Necessidade de Material): Sistema computacional que objetiva


cumprir os prazos de entrega de uma indústria com a formação mínima de estoques. Dos itens
de uma indústria, alguns têm demanda que depende da demanda de outros, e somente uma
parcela tem uma demanda que depende apenas do mercado.

Conseqüência: a demanda dos primeiros deve ser feita com base na demanda do segundo e
não de acordo com o lote econômico.

68
Política Just-in-Time: A empresa deve produzir somente o que tiver demanda. A produção
só inicia quando existir um produto demandado pelo cliente. Conseqüência: eliminação dos
estoques.

Pressupostos:
- relacionamento adequado com os fornecedores;
- existência de demanda estável ao longo do tempo;
- número reduzido de produtos;
- tempo de espera por parte do cliente não implica em perda da venda.

OPT: Abordagem de administração baseada no conceito de gargalo. Existem dois tipos de


recursos: recurso gargalo e recurso não gargalo. Se uma empresa tem excesso de capacidade
em todos os seus recursos, ainda existirá o mercado como fator restritivo. A atenção da
empresa deve se centrar naqueles estoques considerados gargalos, pois eles colocam
restrições aos demais recursos. Obter capacidade adicional neste tipo de recurso significa
obter capacidade adicional para toda a empresa.

Um último aspecto de interesse financeiro na gestão de estoques refere-se à apuração do


resultado real de uma operação de compra e venda, especialmente em ambientes com taxas de
inflação e/ou juros significativos. Considere as seguintes situações:

1. Admita-se que uma empresa esteja avaliando uma decisão de compra de mercadorias,
devendo optar entre adquirir a vista ou a prazo. O preço de compra da mercadoria a vista é de
$ 40 por unidade, sendo que para pagamento em 60 dias o preço atinge $ 43 e $ 45 para 90
dias. O prazo de estocagem da mercadoria é estimado em 60 dias. O prazo de recebimento das
vendas normalmente praticado pela empresa é de 90 dias, sendo o preço de venda, nessas
condições, de $ 60. Admitindo-se um custo de captação de 4% a.m., pede-se definir a melhor
opção de compra da mercadoria para a empresa.

2. Uma empresa está estudando as condições de pagamento oferecidas pelo seu fornecedor.
Sabe-se que o preço da mercadoria, para pagamento em 90 dias atinge $ 50, sendo concedido
um desconto de 20% para pagamento a vista. A empresa prevê um prazo de estocagem de 2,5
meses para a mercadoria em consideração. Sabe-se que o custo corrente de mercado de
captação e aplicação atinge, respectivamente, 4% e 1,6% a.m. Admitindo-se que a empresa
venda a vista a mercadoria por $ 55, pede-se determinar a melhor opção de compra para a
empresa. Determine, também o preço máximo para que a compra a vista seja vantajosa para a
empresa.

69
4.5 Gestão de caixa

Segundo Keynes, existem três motivos pelas quais as pessoas procuram manter um certo nível
de liquidez. Primeiramente, necessita-se de caixa para atender ao motivo transação, ou seja,
caixa disponível para pagar as contas. Tal necessidade é oriunda das atividades normais de
pagamento e recebimento da empresa. Tendo em vista que as entradas e as saídas de caixa não
são perfeitamente sincronizadas, é preciso manter certo nível de caixa como reserva.

Também são mantidas reservas de caixa para atender o motivo precaução, que se refere à
necessidade de uma reserva de segurança a fim de atender certas despesas imprevistas e
extraordinárias. O nível de caixa exigido por tal motivo é função, naturalmente, da
flexibilidade que uma empresa apresenta em captar recursos nos exatos momentos de suas
necessidades extraordinárias, assim como do grau de aversão ao risco em relação a uma
eventual falta de recursos disponíveis.

Por fim, o terceiro motivo citado refere-se à especulação, que diz respeito à necessidade de
manter caixa para ser capaz de aproveitar, por exemplo, oportunidades vantajosas de compra
de mercadorias, taxas de juros atraentes e flutuações favoráveis de taxas de câmbio.

Quando uma empresa mantém um saldo de caixa acima do nível mínimo necessário, ela
incorre num custo de oportunidade. Tal custo é a receita de juros que poderia ser auferida em
seu melhor uso. Por outro lado, a manutenção de saldos de caixa muito baixos, ela poderá
ficar sem caixa necessitando levantar recursos o que significa incorrer em custos. O
comportamento desses custos pode ser visualizado no gráfico a seguir:

Custo
Custo
Total
Custo de
Oportunidade
Custo
Mínimo

Custo de Falta

C* Volume de
disponibilidade

Um conceito importante na gestão do caixa é o float, o qual representa a diferença entre o


saldo contábil e o saldo bancário disponível, representando o efeito líquido de cheques em
processo de compensação.

70
• Float de desembolso: ocasiona uma redução do saldo contábil, não alterando o
saldo disponível. Ex.: emissão de cheque

• Float de recebimento: aumenta o saldo contábil da empresa, mas não altera,


imediatamente, o saldo disponível. Ex.: depósito de cheque na conta da
empresa.

• Float líquido: diferença entre o saldo contábil e o saldo disponível ou a


diferença entre o float de desembolso e o float de recebimento.

A administração do float envolve o controle dos recebimentos e desembolsos de caixa. O


objetivo, na gestão dos recebimentos, é acelerar os recebimentos e reduzir a defasagem entre
o momento em que os clientes pagam suas contas e o momento em que o dinheiro torna-se
disponível. O objetivo, na gestão dos desembolsos, é controlar os pagamentos e minimizar os
custos associados à realização de pagamentos. O advento da Transmissão Eletrônica de Dados
(TED), na qual o tempo necessário para iniciar e completar uma transação é
consideravelmente reduzido ou, até mesmo, eliminado, reduzirá, também, muito do que
atualmente é considerado float.

As medidas de controle que podem ser acionadas para uma eficiente administração de caixa
podem ser classificadas em dois grupos: aquelas de responsabilidade e competência exclusiva
do caixa e aquelas determinadas por uma política mais ampla da empresa.

As medidas de responsabilidade e competência exclusiva do caixa são aquelas que podem ser
implantadas sem que com isso haja interferências nos outros elementos do capital de giro.
Neste elenco de estratégias podem-se incluir maior dinamização nos recebimentos de clientes
(p.ex. negociar com o banco a liberação dos cheques recebidos); emissão e entrega mais
rápida dos títulos representativos de vendas a prazo; melhor adequação e controle das datas de
recebimentos e pagamentos; maior controle no registro dos valores a receber (evitar
problemas que possam dificultar sua liquidação).

As medidas provenientes de uma política mais ampla da empresa envolvem alterações diretas
(e às vezes relevantes) nos outros ativos circulantes. O controle do nível de caixa, nesses
casos, pode ser efetuado mediante interferências nas atividades de produção e estocagem e
nos critérios de vendas estabelecidos pela empresa.

Ilustração:

Uma empresa comercial, no seu processo de planejamento financeiro para o próximo


exercício, está procurando dimensionar a sua Necessidade de Capital de Giro. A área de
marketing da empresa está projetando vendas da ordem de $ 12.000 mil e estima que seja
necessário conceder um prazo de 60 dias para o pagamento dos clientes. A área de logística
informa que o prazo médio de permanência dos estoques na empresa é de 30 dias, sendo que o
setor de custos informa que o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) representa 65% do
valor de venda e que as compras representam 50% das vendas. O departamento de compras
informa que conseguiu negociar com os fornecedores um prazo médio de pagamento de 45
dias.

a. Represente graficamente o Ciclo Financeiro (ou de Caixa) da empresa em questão;

71
b. Determine o montante da Necessidade de Capital de Giro desta empresa, assim
como o valor das Contas a Receber de Clientes, dos Estoques e do Contas a Pagar a
Fornecedores.

c. A área de logística informa que estão sendo procedidos estudos visando reduzir o
prazo de permanência dos estoques em 10 dias; além disso, foi determinado ao
departamento de compras que procure negociar um aumento no prazo médio de
pagamento de, pelo menos, 5 dias. Caso sejam implementadas as duas mudanças
descritas, qual o impacto sobre a Necessidade de Capital de Giro?

Por fim, é necessário ressaltar que uma administração eficiente de caixa prevê, também,
decisões de aplicações financeiras de recursos temporariamente ociosos. Neste caso, devem
ser observadas as seguintes características antes de serem concretizadas as aplicações:

- prazo da aplicação: observar que alguns tipos de aplicação exigem a permanência dos
recursos por determinado período a fim de creditar os rendimentos;
- risco: refere-se à probabilidade de que o principal e os rendimentos não sejam pagos
nos valores e datas preestabelecidos (ou sequer sejam pagos);
- liquidez: refere-se à facilidade de resgate da aplicação;
- custos e tributação: considerar que no momento da aplicação é cobrada a CPMF.
Além disso, existe a incidência de IOF (regressivo) sobre os rendimentos, de acordo
com o prazo da aplicação. Por fim, sobre os rendimentos é descontado Imposto de
Renda.

A gestão do saldo de caixa deve se apoiar em previsões de fluxo de caixa que antecipem a
necessidade de captações ou aplicações de excedentes.

72
Bibliografia
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R.W. & JORDAN, B.D. Princípios de administração
financeira. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2002. 523p.
BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas,
1998. 416p.
MATARAZZO, Dante. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6 ed.
São Paulo: Atlas, 2003.
ASSAF NETO, A. & SILVA, C.A.T. Administração do capital de giro. 3 ed. São Paulo:
Atlas, 2002. 216p.

73
ANEXOS
MODELOS DE DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

Disponibilidades Fornecedores
Caixa Provisões
Depósitos bancários a vista Imposto de renda
Aplicações de liquidez imediata Férias
Clientes 13º salário
(-) Provisão para créditos de liquidação duvidosa Impostos a Recolher
Estoques Empréstimos e Financiamentos
Mercadorias e Produtos acabados Outras Obrigações a Pagar
Produtos em elaboração
Matérias-primas e embalagens
Materiais de consumo e almoxarifado PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Despesas do Exercício Seguinte
Empréstimos e Financiamentos
Estrangeiros
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO Nacionais
Empréstimos Compulsórios
Depósitos para Incentivos Fiscais Debêntures

Outras Obrigações e Provisões

ATIVO PERMANENTE
Investimentos PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Em coligadas e controladas
Outras participações Capital Social Integralizado
Outros investimentos
(-) Provisão para Perdas Reservas de Capital
Reserva de ágio
Imobilizado
Terrenos e Edificações Reservas de Reavaliação
Máquinas e Equipamentos
Veículos, Móveis e Utensílios Reservas de Lucros
Marcas e Patentes Reserva legal
(-) Depreciação, amortização e exaustão Reservas estatutárias
Imobilizado em Construção Reservas para contingências
Reservas para expansão
Diferido
Despesas Pré-Operacionais Lucros ou Prejuízos Acumulados
(-) Amortizações Acumuladas

74
DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Reservas de Capital Reservas de Lucros


Capital Ágio na Doações e Reservas de Reserva Reserva Outras Lucros ou
Social Subscrição Subvenções Reavaliação Legal Estatutária Prejuízos
da Ações Acumulados

Saldos em 31 de dezembro de 19x0

Ajustes de exercícios anteriores


- Efeitos da mudança de critérios contábeis
- Retificação erros de exercícios anteriores

Aumentos de capital
- Com lucros e reservas
- Por subscrição realizada

Reversões de reservas

Reavaliação do Ativo Permanente

Lucro líquido do exercício

Proposta de destinação do lucro


- Transferência para reservas:
- Reserva Legal
- Reserva Estatutária
- Dividendos a distribuir ($ por ação)

Saldo em 31 dezembro de 19x1

75
NOTAS EXPLICATIVAS

As notas explicativas são parte integrante das demonstrações contábeis. As informações


contidas nas notas explicativas devem ser relevantes, complementares e/ou suplementares
àquelas não suficientemente evidenciadas ou não constantes nas demonstrações contábeis
propriamente ditas. As notas explicativas incluem informações de natureza patrimonial,
econômica, financeira, legal, física e social, bem como os critérios utilizados na elaboração
das demonstrações contábeis e eventos subseqüentes ao balanço.

De acordo com a Lei 6404/76, as notas deverão indicar:

a. os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente


estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de
provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na
realização de elementos do ativo;

b. os investimentos em outras sociedades, quando relevantes;

c. o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações;

d. os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros


e outras responsabilidades eventuais ou contingentes;

e. a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações de longo prazo;

f. o número, espécies e classes das ações do capital social;

g. as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício;

h. os ajustes de exercícios anteriores;

i. os eventos subseqüentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam


vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da
companhia.

RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO

Inclui informações de caráter geral sobre a empresa, tais como: dados estatísticos diversos,
política de recursos humanos, programas de exportação, projeções financeiras, projetos de
expansão e modernização, perspectivas do mercado e da empresa, etc.

PARECER DOS AUDITORES INDEPENDENTES

Obrigatório para certos tipos de empresas, basicamente relata as demonstrações contábeis que
foram auditadas e a adequada interpretação dos princípios contábeis em vigor.

76
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO - DVA

Legislação societária

20X1 20X0

Receitas
Venda de produtos e serviços
Provisão para créditos de liquidação duvidosa
Resultado não operacional

(-) Insumos adquiridos de terceiros


Insumos consumidos
Outros insumos adquiridos
Material e serviços de terceiros

(=) Valor adicionado bruto

(-) Retenções
Depreciação, amortização e exaustão

(=) Valor adicionado líquido

(+) Valor adicionado transferido


Receitas financeiras
Resultado da equivalência patrimonial

(=) Valor adicionado a distribuir

Distribuição do valor adicionado:

Pessoal
Remunerações
Encargos sociais (exceto INSS)
Entidade de previdência privada
Auxílio alimentação
Incentivo à aposentadoria e demissão voluntária
Provisão para gratificação
Convênio assistencial e outros benefícios
Participação nos resultados
Custos imobilizados

Governo
INSS (sobre folha de pagamento)
ICMS
Imposto de renda e contribuição social
Outros

Financiadores
Juros e variações cambiais
Aluguéis

Acionistas
Remuneração do capital próprio
Lucros retidos

Valor adicionado (médio) por empregado

77
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

Legislação societária

20X1 20X0

Atividades operacionais
Lucro líquido (prejuízo) do exercício
Despesas (receitas) que não afetam o caixa:
Provisão para créditos de liquidação duvidosa
Depreciação e amortização
Variações monetárias de longo prazo – líquidas
Equivalência patrimonial
Baixas de investimentos
Baixas do imobilizado em serviço
Imposto de renda e contribuições social diferidos
Provisões no exigível a longo prazo - outras

Variações no ativo circulante


Clientes
Outros créditos
Estoque
Pagamentos antecipados

Variações no passivo circulante


Fornecedores
Folha de pagamento e provisões trabalhistas
Tributos e Contribuições Sociais
Entidade de previdência privada
Outras contas a pagar

Aplicações no realizável a longo prazo


Contratos de mútuo
Depósitos judiciais
Outros realizáveis

Aumento do exigível a longo prazo


Provisões para contingências (imobilizadas)

Total das atividades operacionais

Atividades de investimento
Participações societárias – Companhia X
Aplicações no imobilizado - instalações gerais
Contribuições do consumidor
Total das atividades de investimentos

Atividades de financiamento
Empréstimos e financiamentos
Juros sobre o capital próprio
Total das atividades de financiamento

Total dos efeitos no caixa


Saldo inicial de caixa
Saldo final de caixa
Variação no caixa

78
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Contas a Receber Ao valor dos títulos menos provisão para reduzi-los ao


valor provável de realização
Valores Mobiliários Ao custo de aquisição atualizado pelos juros ou
correção transcorridos e reduzidos ao preço de mercado,
se este for menor
Estoques Ao custo de aquisição ou de fabricação, reduzido de
provisão para ajustá-lo ao preço de mercado, quando
este for inferior
Ativo Imobilizado (*) Ao custo de aquisição, deduzido da depreciação, pelo
desgaste ou perda de utilidade, ou amortização ou
exaustão. Em certas circunstâncias é admitida a
reavaliação de ativos
Investimentos Relevantes em Ao custo ajustado depois ao método da equivalência
Coligadas e Controladas (*) patrimonial, ou seja, com base no valor do patrimônio
líquido da coligada ou controlada proporcionalmente à
participação acionária
Outros Investimentos (*) Ao custo menos provisão para reconhecimento de
perdas permanentes
Ativo Diferido (*) Ao custo deduzido de provisão para amortização
Exigibilidades Pelos valores conhecidos ou calculáveis para as
obrigações, encargos ou riscos, incluindo o imposto de
renda. Para empréstimos e financiamentos sujeitos a
correção ou pagáveis em moeda estrangeira, pelos
valores atualizados até a data do balanço
Resultados de Exercícios Demonstrado pelo líquido entre as receitas menos os
Futuros custos e despesas correspondentes ou contrapostos a tais
receitas
Patrimônio Líquido (*) Pelos valores originais

(*) Grupos sujeitos à correção monetária até 1996.

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