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Fevereiro de 1197
Em meio à semi-escuridão do anoitecer, Lily encontrava-se
sentada, completamente imóvel, mantendo as costas eretas e as
mãos cruzadas sobre as coxas. Olhava fixamente para o vazio
formado pelas sombras que tomavam conta do quarto, cega para
tudo o que o mundo tinha a oferecer.
O sofrimento a envolvia, como o abraço de um velho amigo,
apesar da ausência dè lágrimas e das feições controladas.
No dia seguinte; ela se casaria com um homem que vira
apenas uma vez. Era um homem bom, de sorriso gentil, a quem ela
jamais poderia amar, pois todo o seu amor havia morrido.
E Lily ainda não compreendia como, ou por que, sua felicidade
havia se desfeito em cinzas. Nem sequer, sabia. se fora ela mesma
a culpada, mas o remorso devorava-lhe a alma, torturando o seu
coração partid6.
O homem que Lily amava morrera, levando consigo todos os
sonhos dela...
PRÓLOGO
Cornualha, Inglaterra
Julho de 1196
- MeuDeus! Veja isso! — Andrew dirigiu-se ao irmão.
Rogan St. Cyr fixou os olhos no horizonte.
Situado sobre um penhasco; o castelo Charolais parecia uma
sentinela, mantendo guarda sobre o mar agitado. Assim como seu
vizinho infame, Tintagel, era construído de pedras cinzas e frias,
exibindo estilo espartano, embora não grotesco. Na verdade, a
aparência impressionante devia-se mais aos elementos selvagens
que o cercavam: o mar revolto, o céu carregado de nuvens, a
charnéca que se estendia até onde a vista podia alcançar.
Rogan sentiu um calafrio, Nem se lembrava da última vez em que
ficara nervoso. Era verdade que uma certa ansiedade o envolvia,
antes de uma batalha, mas não estava habituado áo medo.
Pela centésima vez, refletiu que não era o homem certo para
cumprir a tarefa que lhe fora designada. Não possuía habilidades
diplomáticas, nem era adepto de sutilezas e falsos elogios. No
entanto, era um homem honrado e, por isso, fora até ali.
— Juro que estou com medo — Andrew resmungou, quando se
aproximavam.
Rogan não respondeu. Parecia totalmente à vontade, mas os
olhos treinados percebiam cada detalhe, quando cruzaram os
portões de Charolais. Diante do silêncio prolongado de Rogan,
Andrew comentou:
-Sei que esta missão pesa em seus ombros.
- Nem mesmo você poderia imaginar a intensidade desse
peso, meu irmão — Rogan finalmente falou.
Uma vez dentro dos muros, a visão do castelo fazia lembrar
um túmulo gigantesco. Tal pensamento provocou outro calafrio
em Rogan.
Quando desmontaram, ele se irritou ao perceber que Andrew
continuava a estudá-lo.
- Por que diabos me olha dessa maneira? — inquiriu
— Por que não? Voçê nunca pensa no que deseja para si? Deixe
de levar as obrigações familiares tão a sério.
— Pare com isso, Andrew. Não costumo perseguir virgens.
— Não tirou os olhos dela durante o jantar.
— Ora, meu irmão, além de ser homem, não sou cego. E não fiz
voto de castidade, como você. Eu estava apenas apreciando a
moça, pois ela é bonita e me causou uma boa impressão. — Rogan
suspirou. — Está bem. A verdade é que ela é uma tentação.
— Creio que a tentação é mútua, pois ela só queria conversar
sobre você, durante o jantar. E, há menos de meia hora, eu a vi sair
para o jardim. Sem dúvida, está caminhando por entre as roseiras,
sonhando com o verdadeiro amor — Andrew falou em tom. teatral.
— Ela se daria muito bem com Alex. Rogan resmungou, mas
ergueu as sobrancelhaà. — No jardim? Há quanto tempo?
— Menos de meia hora.
Depois de fitar o irmão por um longo momento, Rogan levantou-se.
— Acho que vou passear pelo jardim. Sempre gostei de respirar
um pouco de ar puro, antes de dormir.
Então hesitou, sem saber em que direção ficava o jardim. Lançou
um olhar de expectativa para Andrew, que sorriu e apontou na
direção correta.
— Para lá — disse.
CAPÍTULO III
O jardim estava fresco, banhado pèlo luar. Lily aspirou o perfume
das flores, enquanto o farfalhar das folhas à brisa a confortava. -
Tirou os sapatos, ergueu a saia e sentou-se à beira do pequeno
lago artificial. Então, observou a estátua de Hero ao centro. Quando
criança, Lily costumava tecer fantasias na quais o mensageiro dos
deuses pagãos a salvava de um perigo O final da história era
sempre muito romântico. Nesta noite, porém, o ídolo não pássava
de uma criatura de pedra, pois um outro herói ocupava seus
pensamentos.
Enfiou os pés na água, deleitando-se com a carícia fresca nas
pernas. Apoiando as mãos atrás das costas, inclinou para trás e
fechou os olhos, sorrindo consigo mesma, a simples lembrança de
Rogan a fazia tremer. Uma voz interior, muito parecida com a de
Catherine, advertiu-a que devería parar com aquela tolice. Porém,
as sensações eram boas e Lily não queria parar de sonhar.
De repente, uma voz soou muita próxima:
- Boa noite, milady.
Sem pensar, ela ergueu o corpo subitamente. Seus pés tocaram o
fundo escorregadio do lago e, no mesmo instante, começaram a
deslizar, tirando-lhe o equilíbrio. Então, um forte braço a segurou,
pressionando-a contra um peito largo.
Lily corou.
- Creio- que sim. Não tenho do que me queixar, pois possuo tudo
o que poderia desejar.
- Uma moça afortunada.
Ela estava mentindo e Rogan sabia disso. Corando, Lily
confessou.
-Bem, parte. do meu problema é não saber exatamente o que
desejo. Catherine sempre sonhou com um grande casamento.
Elspeth quer ir para o convento, mas papai reluta deixá-la, pois diz
que vai sentir falta dela.
Após alguns momentos de silêncio, Rogan falou:
-Talvez você encontre a felicidade ao lado de seu noivo. Ele é um
homem do seu agrado?
- Meus pais me prometeram quando nasci, mas ele foi morto na
Terra Santa. Nem cheguei a conhecê-lo. O mesmo aconteceu com
Catherine e foi por isso que papai teve de procurar um noivo para
ela, agora. Ainda não começou a cuidar do meu caso.
- Qual era o nome dele? Talvez eu o tenha conhecido.
- Não é døloroso, mas também. não houve glória. Tirar uma vida
nunca é glorioso, mesmo que se tratej de um sarraceno. Pode ser
heresia dizer isso, mas eles não são completamerite maus.
Possuem religião e cultura diferentes, e também falam outra lingua,,
mas, como nós, amam suas famílias e dão suas vidas para proteger
os filhos.
Alguns se comportavam com nobreza maior que meus camaradas...
Desculpe-me. Não costumo falar disso com freqüência.
- Ora, não se desculpe! Não me importo. Ao contrário, se um dia
quiser me contar mais, vou me sentir honrada.
Ele sorriu.
— Vou me lembrar disso.
Conversaram tranqüilamente, até a lua começar a baixar
— Preciso entrar — Lily anunciou, dando-se conta de que já era
tarde.
Rogan assentiu, mas não se moveu.
— Se Catherine descobrir que estou aqui, com você, não vai ficar
nada satisfeita.
— Por que tem tanto medo de Catherine?
Lily considerou a pergunta. Como explicar a ameaça sutil que
Catherine emanava? Desde a morte da mãe, ela assumira a
administração de Charolais, governando os criados e as irmãs com
mão de ferro. Embora Lily não sentisse medo, fazia o possível para
evitar problemas.
— Catherine é muito rígida — declarou. — Ela sabe como fazer
uma pessoa arrepender-se por tê-la desobedecido.
O que era verdade, mas que não passava de uma desculpa para
o sentimento que tomara conta de Lily. Havia ultrapassado. os
limites, desta vez, mesmo levando em conta a liberdade de seu
espírito.
— Você não parece verdadeiramente preocupada — Rogan
arriscou.
— Não, mas preciso entrar — ela insistiu.
— Mas se sente relutante — ele argumentou. — Fiquei intrigado
com o que você falou sobre os criados serem alegres. Lembra-se?
—Sim.
— Disse que ficam alegres quando se beijam.
Lily corou e baixou os olhos. Quando voltou a encarar Rogan,
notou que os olhos dele brilhavam como prata.
— Já foi beijada, alguma vez? — ele inquiriu.
Lily ficou chocada.
— Trata-se de uma pergunta muito rude, para um cavalheiro
fazer a uma dama — protestou. — Enganei-me ao pensar que não
havia mal algum em conversar com o senhor.
Com isso, levantou-se e afastou-se, da maneira mais graciosa
possível, o que não foi satisfatório, pois a saia ainda continuava a
pesar e a produzir um som desagravel a cada passo de Lily.
Rogan reprimiu o riso diante de uma retirada tão magnifica.
Porém, assim que ela desapareceu no castelo, ele retomou a
seriedade, lamentando a impulsividade e porguntando-se o que o
levara a agir daquela maneira?
CAPÍTULO IV
Rogan voltou para dentro do castelo, aliviado por descobrir que
Andrew havia se retirado. Não estava disposto a conversar sobre
nada e, menos ainda, a ouvir outro sermão sobre os perigos de um
senso de responsabilidade exagerado. Apesar das circunstâncias
críticas em que se encontrava, Rogan sentia-se bem. Sua mente
ocupava-se em relembrar cada momento do delicioso interlúdio com
Lily. A pequena flor, como Andrew a chamara.
Um criado interceptou-o, dizendo que o levaria a seús
aposentos. Seguindo o rapaz, Rogan subiu a escada e percorreu um
longo corredor, até chegar a um quarto pequeno, porém
confortável. Uma banheira cheia de água quente repousava diante
da lareira acesa. A demonstração de hospitalidade surpreendeu-o,
levando-o a calcular que tal preocupação talvez fosse um sinal da
boa vontade dos Marshand. Seu humor melhorou ainda mais, diante
de tal perspectiva.
O criado saiu e Rogan começava a se despir, quando a porta se
abriu e Catherine entrou.
— Boa noite — ela disse, aproximando-se. — Vim ajudá-lo a
banhar-se.-
Era um costume bastante comum oferecer tal serviço a
visitantes, mas geralmente eram as mulheres casadas que despiam
e banhavam os hóspedes. Na ausência de tal pessoa, era aceitável
que a filha mais velha assumisse o papel. Mesmo assim, os instintos
de Rogan entraram em estado de alerta.
Ora, deveria sair dali enquanto ainda era tempo, voltar ao solar,
onde deveria, estar, costurando na companhia das outras mulheres.
Sim, fora uma grande tolice ceder aos impulsos. Lily levantou-se;
determinada.
Porém, em vez de voltar para o castelo, ela se aproximou um
pouco mais do campo.
Dali, podia ver tudo melhor. Observou os movimentos dos
musculos de Rogan, enquanto ele girava a espada sobre a cabeça, a
fim de se aquecer. Fascinada, notou as gotas de suor que brilhavam
sobre a sua pele nua. Sentiu-se fraca e teve que fechar os olhos e
respirar fundo, a fim de recuperar o equilibirio.
Era um homem magnífico, mais glorioso do que os heróis das
lendas cantadas pelos bardos. Suas formas pareciam esculpidas à
perfeição, assim como a estátua de Hermes, no lago do jardim.
Quando Lily reabriu os olhos, Rogan encarava o oponente e fazia
um sinal, indicando que estava pronto para o combate. E ela quase
revelou seu esconderijo, quando descobriu quem seu pai escolhera
para enfrentar o hóspede: Latvar, o cavalheiro mais habilidoso e
forte de Charolais, um homem monstruoso e desprovido de
piedades
Latvar aproximou-se, brandindo aclava no ar. Rogan esperou,
calmo e. alerta. Quando a arma baixou, ele se esquivou com
movimentos ágeis e f1uídos. Latvar atacou de novo mas ogolpe foi
evitado mais uma vez. Furioso, Latvar emitiu um grito de guerra.
selvagem e, atirando a clava no chão, desembainhou a espada.
Rogan aceitou o desafio, sacando a própria arma. Então,
começaram os golpes e o ruído metálico do encontro das lâminas
era ensurdecedor. Latvar era maior e mais forte, mas Rogan era
muito mais rápido. O grandalhão não conseguia manejar a espada
no mesmo ritmo de seu oponente.
Rogan desferiu uma série de golpes, até que Latvar, ofegante e
exausto, caiu de joelhos. Então, Rogan pousou um pe em seu peito e
apontou a espada para seu pescoço.
Li1y esperou, tensa, até que Latvar balançou a cabeça,
admitindo a derrota. Quando olhou para o pai, descobriu que o rosto
de Enguerrand apresentava-se muito vermelho e seu olhar gelado
fixara-se em Latvar. Atrás dele, Andrew pulava e batia palmas.
Lily perguntou-se qual seria a reação de seu pai. Rogan inclinou-
se, para Latvar e estendeu-lhe a mão. O pobre soldado lançou um
olhar de culpa para Enguerrand, que limitou-se a girar nos
calcanhares e dirigir-se ao estábuio, seguido de perto por um alegre
Andrew.
A multidão começou a se dispersar e Rogan aproximou-se do
barril de água, que se encontrava perigosamente próximo do
esconderijo de LiIy. Ela se encolheu, furiosa consigo mesma. por não
ter saído dali quando tivera a chance. Ficou imóvel, sentindo o
coração prestes a saltar do peito.
Rogan jogou água sobre ós ombros e costas e, então, lavou o
rosto.
— Não vai sair daí e me dar os parabéns? — perguntou em tom
casuaL — Ou ainda está zangada comigo, por ontem à noite?
— Atrai?
— Você sabe que sim.
— Fico contente em saber — Rogan sussurrou, antes que seus
lábios tocassem os dela.
Lily nunca fora beijada antes. Além dos heróis de suas fantasias,
ninguém havia inspirado nela sonhos de amor arrebatador. Assim,
não estava preparada para a torrente de sensações provocada pelo
toque dos lábios de Rogan.
Evidentemente, não poderia sequer imaginar quanto mais existia.
Na verdade, Rogan apenas roçou os lábios nos dela, mas para Lily,
foi como se uma fogueira explodisse em suas entranhas. Quando ele
fez menção de se afastar, ela emitiu um som de protesto, um pedido
para que Rogari não interrompesse o beijo tão cedo. Com um
suspiro de satisfação, ele a atendeu, envolvendo-a com seus braços
fortes.
Nenhum dos dois saberia dizer o que teria acontecido a seguir,
se a voz de Catherine não houvesse gritado o nome de Lily. Foi
como um banho gelado, que provocou um sobressalto em Lily. Ela
se afastou de Rogan, fitando-o com olhos arregalados, como se
chocada pelo que haviam acabado de fazer. E viu o semblante dele
tornár-se carregado, assumindo expressão contrariada.
— Lily! — Catherine chamou novamente.
— Ela não pode me encontrar aqui, com você! — Lily sussurrou.
— Acalme-se, Lily. Você não fez nada errado — Rogan afirmou.
— Aí está você! .— Catherine falou.
Lily virou-se e descobriu que a irmã se encontrava a poucos
metros de distância e observava o casal com olhar desconfiado.
— O que está fazendo aqui? — inquiriu. — Deveria estar no solar.
Volte agora mesmo.
Embaraçada e confusa, Lily olhou de um para o outro, antes de
virar-se e correr para o castelo. Rogan observou o olhar maldoso
com que Catherine acompanhou a partida da irmã. Então, ela se
recompôs, para voltar a encará-lo.
-Minha irmã o estava incomodando, lorde Rogan? — perguntou
com voz aveludada. — As vezes, chego a me,desesperar com ela. É
muito imatura e umtanto rebelde. Vou conversar com papai, pois
não podemos permitir que ela atormente nossos, hóspedes.
Rogan deu de ombros.
- Lilly não estava me incomodando. Não se preocupe. Agora, se
me der licença.
- Lorde Rogan! — Catherine interrompeu-lhe a tentativa de fuga.
- Gostaria de discutir.uma questão.. Pensei muito sobre a divida de
sua família para comigo. . .
Rogan parou e virou-se devagar
- Dívida?. Que eu saiba, as transações financeiras não chegaram
a acontecer. .
- Estou me referindo a uma dívida moral, pelo mau tratamento
que recebi de seu irmão.
- Pensei que havíamos nos entendido sobre isso — Rogan
argumentou.
- Meu pai e eu contávamos com-o casamento com o duque. Você
não imagina a humilhação que a rejeição dele me causou. Tínhamos
contado a amigos. Quando souberem o que aconteceu, haverá um
grande escândalo. Creio que é injusto minha reputação ser
manchada dessaforma, especialmente não tendo feito nada para
merecer isso.
Rogan esludou-a com cuidado. Seus instintos lhe diziam que por
baixo da fachada bem composta, Catherine era astuta como uma
raposa. Havia uma ameaça velada naquele discurso, que não
passou despercebida para Rogan.
- Achei que sua família estaria disposta a nos compensar. - ela
continuou. .
- É por isso que estou aqui. A escolha de meu irmão para esposa
é tão infeliz para nós quanto para vocês. Também detesto
escândalos, lady Catherine .
Com gestos estudados, ela baixou os olhos-e suspirou.
— O que disse?
Ela soltou uma risada estridente.
— Por que mais faria esse jogo? Casar-se com Lily! Francamente!
Desta vez, Rogan não hesitou, mas bateu a porta atrás de si.
Furiosa, Catherine permaneceu imóvel, a mente girando disparada,
repleta de pensamentos vingativos. Jurou fazê-Io pagar por aquela
rejeição. Então, a lembrança das palavras dele aplacou sua raiva.
possuir ou destruir. Rogan a conhecia. Ah, sim, eia ainda o teria para
si. Do contrário, trataria de esmagá-lo.
Na manhã de seu casamento, sentada diante da penteadeira,
em seu quarto, Lily olhava para o espeIho examinando o penteado
complicado. Seus cabelos haviam sido presos e empilhados em um
coque alto, entremeados de flores e fitas.
— Sim obrigada, Ingred. - -
A criada sorriu, orgulhosa de próprio trabalho, lngred era a criada
de Catherine, enviada pela irmã mais velha , uma vez que Lily não
tinha ninguém para ajudá-la a vestir-se, Lily sempre usara os
cabelos em estilo simples, mas Caberine insistira, em um
inesperado gesto de generosidade, em ceder-lhe a criada para que
fizesse “um penteado espetacular para aquele dia tão especial”.
Catherine adiantou-se.
Foi há duas noites. Ele entrou no quarto dela, enquanto ela
dormia, e a violentou em sua própria cama!
Andrew lançou-lhe um olhar triunfante.
— Rogan ficou comigo até tarde e eu o vi retirar-se para seus
aposentos, antes de mim.
— Sinto muito, mas não podemos confiar no seu testemunho —
Catherine retrucou em tom zombeteiro, os olhos brilhando de
satisfação. — Você não pode ser imparcial, sendo irmão dele.
— Cale-se, Catherine! — Rogan gritou e virou-se para a esposa.
— Lilyi Ontem, você jurou obedecer-me, diante de Deus. Agora,
quero que olhe para mim e diga que acredita nessas mentiras, que
me condena. Diga!
Lily demorou tanto tempo a reagir, que ele pensou que sua
esposa fosse desobedecer sua ordem. Então, em um movimento
brusco, ela o encarou com expressão amarga.
— Está bem. Vou falar com clareza. Acredito em Elspeth. Ela me
contou tudo. — Com voz fraca, acrescentou: — Não tenho escolha.
- Meu Deus! — Andrew exclamou. — Lily, você o conhece. Como
pode acreditar nisso?
A dor contorceu os traços de Lily e seus lábios tremeram quando
ela falou:
— Elspeth jamais mentiria. Rogan, você é um demônio, capaz de
corromper a criatura mais pura e inocente. Renuncio ao nosso
casamento e o denuncio. Alio-me à minha família, para condená-lo
pelo monstro que você é.
-Não pode haver misericórdia para um homem como ele —
Catherine declarou, incapaz de esconder a satisfação.
— Deve ser executado.
— Não podem fazer isso! — Andrew protestou. — Vocês não têm
autoridade para matar um outro nobre. Precisam seguir as leis do
rei para isso.
— Ele violentou nossa irmã! — Catherine berrou. Rogan olhava
fixamente para Lily. A sua volta, vozes discutiam, mas nada
penetrava a sua mente. Lily acabara de condená-lo e o choque da
descoberta o anestesiara.
Andrew dizia:
— Terão muitas contas a prestar, caso não respeitem a
autoridacle do rei, tanto à coroà, quanto à nossa família. Tenham
certeza de que nada deterá Alexrnider na vingança de Rogan, caso
lhe façam algum maL
Lentamente, Rogan deu as costas a Lily. A traidora, Seus
continuaram fixos. nos dela, por cima do ombro, até que ela desviou
o olhar, estremecendo.
Apesar de parcialmente enlouquecido de tristeza, Enguer.rand
era. um homem inteligente e plenamente consciente de sua,
posição, para se deixar levar pela ira e. abandonar totalmente as
convenções e a lei.
— Não, Catherine. Não podemos matá-lo,, embora seja esse o
meu maior desejo. Miiha Elspethl -- bradou o nome da caçula com
amanha angústia, que Rogan pensou que o velho explodiria em
prantos. Então, recuperando a compostura, lançou a Rogan um
olhar maligno. —Mas posso mantê-lo prisioneiro, até que um
representante do rei possa vir a Charolais, a fim de ouvir as
evidências.
— Papai! — Catherine começou, desapontada.
Enguerrand a fez calar com um gesto brusco, antes de continuar.
— Mas ele não vai escapar à minha ira com facilidade. É um
homem capaz de aproveitar-se de crianças indefesas e, por isso
receberá a sua recompensa. Se não está sofrendo com as dores da
consciência, talves precise sentir um outro tipo de dor, para
encorajar o remorso. Por isso, providenciarei para que sofra muitas
dores, enquanto aguarda pelo julgamento, em meu calabouço.
Flebold, apanhe o chicote. Quero vê-lo açoitado.
Rogan deu-se conta de que tais palavras deveriam ter causado
algum impacto. Porém, enquanto o arrastavam para amarrá-lo ao
tronco, a um canto do pátio, ele só coneguia pensar em Lily, imóvel
como uma estátua, fria e rigida. Nada restava da Lily com quem ele
se casara na vêspera, com quem fizera amor na noite. anterior, na
mulher de expressão dura que, agora, tomava o partido de sua
familia, contra o marido.
Lily queria respostas. Queria dizer a ele quanto o odiava pelo que
ele fizera.
E, que Deus a ajudasse, queria matá-lo com as próprias mãos
O ódio, ela compreendia. O que a deixava perplexa era o
sentimento de piedade que se recusava a abandoná-la
Protestara contra o castigo e, quando o corpo de Rogan pendia,
inerte, ainda amarrado ao tronco, Lily implorara ao pai para que
mandasse o carrasco parar. Finalmente, saíra correndo, soluçando,
incapaz de assistir àquela barbaridade até o fim. Por que não
encontrara o menor prazer na punição de Rogan? E1e não tinha
direito à compaixão. E Lily sentia-se como uma traidora, sentada ao
lado da cama de Elspeth, que dormia sob o efeito de drogas.
Perguntava-se se os ferimentos de Rogan haviam recebido o
cuidado adequado e atormentava-se ao pensar em tudo o que elle
certamente precisava.
Talvez tenha sido a piedade, ou a simples necessidade de vê-lo
mais uma vez, que a lévou até o calabouço, levando bandagens e
um pote de ungüento.
O guarda abriu a porta da cela e pendurou um castiçal na
parede.
Rogan estava deitado de costas, no chão, no meio da cela. Por
um momento, Lily pensou que estava morto, e surpreendeu-se com
a dor lancinante que tomou conta de seu coração. Então, notou o
leve subir e descer do peito dele, e concluiu que Rogan ainda vivia.
Lembrou-se de ter pousado a cabeça naquele peito, apenas duas
noites antes. Por mais que condenasse o que seu marido fizera, não
pôde evitar outra pontada de dor. E foi naquele momento que uma
certeza a atingiu com força total, Rogan não poderia ter violentado
Elspeth.
Essa foi a primeira de muitas dúvidas que ela viria a ter. Dizendo
a si mesma tratar-se simplesmente de um desejo egoísta, nascido
de seu próprio sofrimento, afastara a idéia. Ajoelhou-se e, com
delicadeza, deitou-o de bruços.
Ao deparar com as feridas enegrecidas pela infecção que já se
iniciara, Lily teve de desviar os olhos e respirar fundo diversas
vezes, a fim de não ceder à náusea que a invadiu. Uma vez
recuperado o controle, chamou o guarda e pediu-lhe que
conseguisse água quente. Então, pôs-se a limpar os ferimentos.
Rogan ardia em febre e LiIy sentiu-se inadequada, pois pouco
conhecia de remédios e processos de cura. Infelizmente, não havia
ninguém no castelo que pudesse ajudá-la, uma vez que a velha
curandeira, Maida, morrera. Assim, tratou de limpar as feridas.
Em nenhum momento ele se moveu, pelo que Lily sentiu-se
grata. Se Rogan estivesse consciente, a dor seria insuportável.
Terminou a limpeza espalhou o unguento sobre toda a extensão das
costas, para então enfaixa-lo com as bandagens, a fim de proteger a
pele destruida e fixar o remédio nas feridas. Fez uma prece para
que seus cuidados fossem suficientes, mas logo se deu conta da
inutilidade de seus esforços. Provavelmente, Rogan seria enforcado
por seu crime. Seria mera questão de tempo.
Lily levantou-se com pernas trêmulas e, chamando o guarda,
pediu que ele levasse um colchão até a cela. Juntos, acomodaram
Rogan sobre o forro macio. Depois de dar instruções para que seu
marido fosse alimentado duas vezes ao dia, Lily entregou uma
moeda de prata ao guarda, a fim de garantir que suas ordens
fossem obedecidas.
Ao olhar para Rogan. pela última vez, descobriu-se incapaz de
odiá-lo. Ele parecia tão vulnerável, tão indefeso, tão diferente do
homem que ela conhecera. Esse foi o seu segundo momento de
dúvida.
De volta à cabeceira de Elspeth. Lily continuava a pensar em
Rogan. Já não conseguia impedir que a incerteza minasse o ódio que
a protegera antes. Era impossível que ele fosse inocente e, ainda
assim, tola que era, ela se via tomada de dúvidas...
Seus pensamentos foram, interrompidos pelo grito de Elspeth:
— Sou uma pecadora!
— Devo agradecer meu irmão por isso. Nós, os St. Cyr, somos
bastante unidos e engenhosos, além de muito teimosos. Portanto,
não é fácil nos deter. Mas sou obrigado a admitir que você e sua
família quase conseguiram acabar comigo.
Ela sacudiu a cabeça.
— Nunca desejei a sua morte, mesmo quando acreditei que era
culpado. Quando recebi a notícia, fiquei arrasada.
Rogan finalmente virou-se para fitá-la, mas a frieza selvagem em
seu olhar a fez encolher-se ainda mais.
— Uma história comovente! Pena que eu não acredite. Você
mentiu para vingar sua família e, agora, está mentindo de novo. As
vezes me pergunto, Lily, se vocé é capaz de dizer a verdade.
Lily baixou os olhos.
— Elspeth nunca mente, mas desta vez, ela mentiu. Suspeitei
disso, mas já era tarde demais. Você nünca tocou nela, não é?
— Esta é a primeira vez que você me faz essa pergunta — Rogan
comentou, sem conseguir esconder a mágoa. — Foi uma das coisas
que a delatou. Você foi rápida demais em me julgar culpado.
Reclinou-se contra a parede, fazendo uma careta de dor. Quando
conseguiu relaxar de novo, explicou:
— Minhas costas ainda me causam problemas.
Lily mal suportava pensar na dor que ele sentira, além dos outros
sofrimentos que sofrera nas mãos da família dela.
— Tive muito tempo para pensar, nos últimos meses — ele
prosseguiu. — Quando alguém é obrigado a ficar deitado de bruços,
incapaz até mesmo de erguer a cabeça, pois. a dor é insuportável,
há tempo de sobra para considerar problemas e soluções. É claro
que eu contava com uma lista de tópicos para meditar a respeito.
Acho que não preciso dizer que você era o primeiro deles.
Lily sentiu-se tentada a pousar a mão no ombro dele.
— Acredita que eu o traí — murmurou —, mas também fui traída,
naquele dia. Eu não sabia que havia uma consplração .Não percebeu
como fiquei desesperada? Eu queria morrer! E, depois Ah, meu
Deus, depois...
-Você desempenha o. papel da amante dedicada com perfeição
que, mesmo agora, quase me convence. o que é de admirar é que
eu me deixasse enganar completamente. Como fui ingênuo! Depois
de tudo o que fiz e vi na vida, lá estava eu, como um garoto
apaixonado, implorando para que você me ouvisse. Creio que devo
esquecer o orgulho e confessar que sua traição doeu muito mais do
que as chibatadas em minhas costas.
- Que razão eu teria para- fazer isso? — ela indagou.
As cicatrizes!.
Sozinha em seu quarto, sentada na escuridão, Lily não se dava
conta do frio, ou do colchão duro sobre o qual teria de dormir. Sua
mente recusava-se a apagar a lembrança daquelas cicatrizes
horríveis. Ela vira os ferimentos antes mas acreditara que com o
tempo as marcas se apagariam, Agora, sabia que elas estariam
sempre ali, não só as cicatrizes nas costas de Rogan, mas também
aquelas em seu coração.
Fechou os olhos, aflita diante da verdade dura. Não poderia se
sentir mais infeliz. Não tinha ninguém. Uma família de mentirosos,
um marido que a desprezava, criados que a odiavam. Uma vida sem
promessas, solitária e desprovida de amor.
Pior do que tudo, era a sua preocupação com Elspeth. A
lembrança da expressão aterrorizada no rosto da irmã perseguia Lily
dia e noite. Lamentava não ter questionado a menina, mas tivera
medo de arrasá-la ainda mais.
O que fizera Elspeth mentir? Catherine, claro. Lily só poderia
concluir que a mais velha fizera alguma ameaça terrível, a fim de
forçar Elspeth a cooperar. Pobre Elspeth. Líly lembrou-se da
angústia que tomara conta da menina, quando Rogan fora preso.
Ah, como a pequena sofrera! A tristeza de Lily logo deu lugar à
raiva, quando ela voltou a pensar em Catherine. Por causa dela,
Elspeth se tornara uma criatura frágil e desequilibrada, e Rogan
mudara de maneira irrevogável, transformando-se em um homem
consumido pelo ódio e pela amargura.
E a vida de Lily estava arruinada para sempre.
Escondeu o rosto entre as mãos, perguntando-se o que fizera
para merecer um destino tão cruel.
Depois que Rogan partiu, mal falando com ela enquanto se vestia
apressado, Lily permaneceu completamente imóvel, grata pelo
torpor que a invadiu. Infelizmente, tal condição durou pouco.
Não se deu ao trabalho de examinar a paixão. que Rogan
demonstrara. Lembrando-se de que os homens eram diferentes e
que seus corpos funcionavam perfeitamente com qualquer mulher,
não deu importância ao interlúdio terno e sensual. Afinal, Lily
conhecera muitos casais que mal suportavam a presença um do
outro, cercados de filhos. Por isso, sabia que não era um grande
feito um homem fazer sexo com sua esposa.
Durante os meses seguintes, Rogan a visitava com freqüência.
Seus encontros eram sempre ardentes, mas o que vinha depois
também não mudava: ele agia com frieza e distância.
Lily apavorou-se quando suas regras atrasaram. Não suportaria
gerar um filho no ventre, para vê-lo ser levado para longe. Sem
dúvida, isso a enlouqueceria. Apesar, do forte desejo de ter filhos,
ela rezava para que a semente de Rogan não a fecundasse.
Tinha a companhia das crianças maltrapilhas da floresta. Agora,
Anna, Oliver e Lizzie visitavam-na quase todos os dias. Lily apegara-
se a eles, mais do que deveria, mas eram as únicas pessoas que ela
tinha permissão de ver, além de Rogan e o casal sombrio de criados.
-Papai disse que, de agora em diante, ele terá de caçar para nos
alimentar. Por isso, Oliver — não poderá mais vir conosco.
— Diga-me onde vocês vivem. E, desta vez, não vou aceitar
evasivas! -
Anna arregalou os olhos, aterrorizada. - -
— Mas, papai...
Levantando-se, Lily apertou-lhe a mão, na tentativa de
tranqüilizá-la.
— Vou me entender com seu pai. Tenho algumas palavras para
dizer a um adulto que maltrata crianças. Fiquem aqui. Quando eu
voltar, providenciaremos roupas limpas para vocês .Relutante, Anna
explicou como encontrar o chalé onde viviam. Depois de abraçar as
duas meninas, Lily desceu.
Na cozinha, deu ordens a Sybilla:
— Providencie roupas limpas para as duas e faça com que comam
as tortas.- — Erguendo um dedo em riste, acrescentou: - E trate-as
muito bem, pois gosto muito destas crianças. Apánhou a faca de
cozinha, guardou-a no bolso e saiu.
Rogan cavalgava na direção do chalé, perguntando-se por que
voltara a Kensmouth, se desde o momento em que pussera os pés
em casa, só pensara em voltar a Linden Wood... para Lily. Desistiu
de analisar os próprios sentimentos, póis chegou a ficar com dor de
cabeça, de tanto tentar compreender o desejo obsessivo que tinha
pela esposa. E, como fosse inútil tentar resistir, disse a si mesmo
que não era importante.
A aparição de Thomas no caminho foi uma grande surpresa.
O criado estava ridículo, montando uma mula marrom, os pés
arrastando no chão. Ao ver Rogan, acenou, agitado.
— Ela se foi! — gritou. — Ela foi atrás do garoto!
Rogan puxou as rédeas do garanhão. -
— Do que está falando?
— Milady foi buscar o menino. Ela está correndo perigo.
A mente de Rogan registrou duas palavras importantes: milady,
que significava Lily, e perigo
- E veio até aquí para ser o meu padre? Lily inquiriu com um
estranho brilho no olhar.
Dando-se conta de que, provavelmente, ela acreditava que ele
estava apenas zombando dela, Andrew suspirou e explicou:
- Fui prometido à igreja, ao nascer. O que não é estranho, pois é
comum algumas crianças serem destinadas à religião. O problema
era que eu não me sentia inclinado a ir para o mosteiro. Preferia
caçar com meus irmãos e desfrutar de minha vida secular. Mas o
dinheiro compra qualquer coisa e, assim, não fo dificil conseguir
levar uma vida relativamente normal, junto de minha família. Nunca
me importou a minha falta de atenção para com minha profissão.
Até agora. Simplesmente, não consigo viver em paz com o fato de
você ter sido• obrigada a viver aqui, sem o beneficio de urna...
orientação espiritual.
-E o que o faz pensar que preciso de orientação?
- Todos nós temos necessidades espirituais, milady. Vou usar
aquela mesa.
Dirigiu-se à mesa a um canto do salão, abriu a sacola que tinha
ao ombro e retirou dela a toalha de altar, velas, cálice, crucifixo e
bíblia.
Lily assistiu, impassível, enquanto ele preparava o altar
improvisado. Quando Andrew terminou, ela perguntou:
- Você fez uma boa confissão — ele disse. — Lily, não posso fazer
nada, como homem, para ajudá-la. Como já disse, tenho a
obrigação de manter o sacramento em segredo.
— Eu sei — ela murmurou, entre soluços. — Mas já me dou por
satisfeita. O fato de não ter com quem conversar, com quem trocar
minhas idéias, fez com que eu ficasse confusa. Agora,ao menos,
consigo. compreender melhor a mim mesma.
Baixando os olhos para as mãos entrelaçadas, Andrew refletiu por
um momento.
- Irei além de minhas obrigações de padre, mas se estiver
pecando, responderei por isso mais tarde. Liiy, vou dar um conselho.
— Ergueu os olhos para fita-la com expressão séria. — Não deixe de
lutar. Por si mesma e por meu irmão. Nunca aceite a culpa que não
é sua, mas também mostre a meu irmão, através de suas atitudes,
a mulher que é. Faça-o duvidar de si mesmo.
— Não posso — ela protestou. — Ele não me permite sequer
tocar no assunto.
— Continue amando-o e seja paciente. Acima de tudo, seja
forte. —Andrew sorriu. —Você é muito forte. Aceite o que ele lhe fez,
mas lute para superar tudo isso. Aceite o que ele lhe dá, mas force-o
a lhe oferecer mais.
Lily sacudiu a cabeça.
— Parece um enigma. Não sei o que espera de mim.
Os ombros de Andrew vergaram.
— Também não sei. Creio que a verdade é que não há nada que
eu possa dizer, que realmente faça alguma diferença. — Após um
suspiro, concluiu: — Como penitência, realize um ato sincero de
contrição e reze o Pai Nosso três rezes, todas as noites.
Era uma penitência pesada, e Lily fitou-o com olhar mago ado.
-Não é uma punição — ele explicou —, mas para você reunir
forças. Para que Deus a ajude.
Rogan sorriu.
— Espero que os caçadores tenham a mesma sorte, pois
precisamos encher a despensa para os festejos.
Lily não conseguia tirar os olhos arregalados do marido. Ele não
estava furioso! Na verdade; parecia alegre e satisfeito, quando se
sentou em uma rocha.
— Fizemos um piquenique! — Lizzie declarou, sempre sorrindo.
-Cuidarei disso.
—Ah..
Rogan hesitou, como se estivesse indeciso. Lily tentou pensar em
algo para dizer, a fim de fazã-lo ficar, alguma frase inteligente que o
fizesse rir, tomá-la nos braços e beijá-la..
— Bem... Boa noite, esposa — ele falou, afinal.
— Boa noite, Rogan.
Rogan saiu, deixando um quarto vazio e silencioso atrás de si.
Lily examinou a túnica que costuraria no dia seguinte. Com olhos
cheios de lágrimas, ela se perguntou se era aos seus homens que
ele ia se juntar, ou se procuraria, a companhia de uma certa ruiva,
de sorriso sedutor e olhar convidativo.
Cavalgar por suàs terras era uma tarefa que Rogan gostava
muito. Agora, porém, sentia-se- inquieto, impaciente com a
demora, desejando voltar, logo ao castelo.
Assim que atravessava oa portões, tudo mudava. Isso vinha
acontecendo com frequência, uItimarnente. Ragan mal podia
esperar pelo momento de se reunir à esposa, mas quando estava
com ela, sentia-se perdido e começava. a listar motivos para se
afastar novamente, Em vez de juntar-se aos seus homens no saião
foi diretamente para o quarto. Respirou fundo, antes de entrar,
dizendo a
si mesmo que seria bom se Lily já estivesse dormindo. Não sabia o
que mais dizer a ela.- Suas certezas vinham desmoronando. e as
dúvidas corroiam-lhe a alma. Abriu a porta e parou, boquiaberto,
diante do que viu. Lily estava parada no meio do quarto como uma
estátua. Tinha o corpo envolto por uma toalha, que deixava a
mostra seus ombros e parte de suas pernas. A-seu lado, o vapor
erguia-se da banheira.
Ao mesmo tempo em que dizia a si mesmo que. deveria fechar a
porta, Rogan simplesmente não conseguia se mover. Ao vê-lo, a
esposa mostrou-se surpresa.
— Rogan, não ouvi você éntrar — ela disse. — Eu planejava
tomar um banho, agora. Não imaginei que você voltaria tão cedo.
Quer comer alguma coisa? Se estiver com fome irei até a cozinha e
lhe trarei um prato. Posso tomar banho mais tarde.
— Alguns dizem que sim, outros dizem que não. É difícil saber o que
é fato e o que é fofoca.
— Sem dúvida, minha irmã os está conquistando, um a um.
Catherine pôs-se a andar de um lado para outro, pensando em
como dar fim aos amantes, de uma vez por todas. Não haveria paz
em sua vida, enquanto aqueles dois vivessem. Ela já não suportava
mais as imagens torturantes de Lily, partilhando momentos de
êxtase, com o homem que deveria ter sido de Catheríne. Nem
mesmo as mãos hábeis de Philhippe conseguiam banir sua obsessão
por Rogan. E, agora, vinha a notícia de que os dois aproximavam-se
mais e mais!
ImpossíveI, porém verdadeira. O que fazer?
Havia apenas uma saídá.
Vïrando-se para o mensageiro, êla declarou:
- Sei que resiste a esta idéia Dorvis, mas Rogan tem de ser
destruído.
Dorvis empalideceu.
— Nossa amiga, em Kensmouth, foi muito clara. Nada de mal
deve acontecer a lorde Rogan. E não quero me envolver em uma,
coisa dessas.
— Não tem escoIha — Catherine afirmou andando em torno dele.
— Mate Rogan.
Carina assentiu.
— E verdade. Alexander acredita que você conspirou contra
Rogan porque era nisso que o próprio Rogan acreditava. Será que
você não percebeu como seu marido mudou, com relação a você?
Lily sacudiu a cabeça.
— Rogan não me perdoou. Fizemos uma trégua. Só isso.
— Mas existe ternura entre vocês. Vi o modo como se olham. Na
verdade, é justamente o que mais deixa Alexander furioso. Se
conversar com Rogan, é possível que ele mude de idéia.
— Talvez, mas não posso correr o risco.
— O que vai fazer, então? Não espera manter seu estado em
segredo, espera?
— Não sei o que fazer. — Lily fitou Carina com olhar de súplica. —
Por favor, guarde meu segredo, até que eu tenha pensado em uma
solução. Talvez eu esteja apenas adiando o inevitável, mas ainda
não estou pronta para enfrentar Rogan.
Carina assentiu, sem a menor hesitação.
— Claro. E você quem deve decidir o que é melhor. Prometo não
interferir, desde que você se comprometa a não tomar nenhuma
atitude impulsiva.
— Combinado — Llly concordou, sorrindo.
— Minha cara amiga, precisa ser forte, agora.
- Isso o agrada?
— Você sabe que sim. Apesar de tudo, você me agrada rnuito Lily.
O sorriso dela alargou-se.
— Será um ótimo pai.
- Qualquer coisa.
-Gostaria que as crianças ficassem aqui, conosco. Oliver
continuaria a ser treinado por você, e Anna e Lizzie seriam
educadas como irmãs do nosso bebê.
— Isso você já tem. Só terá de ser prática na questão dos
casamentos das meninas. Não posso dá-las a homens que esperam
casar-se com moças nobres, mas tenho certeza de que poderemos
conseguir maridos honestos e honrados para as duas.
-— Quero que se casem por amor — Lily afirmou. — como eu.
Rogan afagou-lhe os cabelos.
VENENO DA TRAIÇÃO
JACQUELINE NÁVIN está muito entu iasmada por participar do aniversário de dez anos da
Harlequin Historicais. Lê romances históricos á duas vezes esse tempo — no mínimo!
— e mal pode acreditar que suas histórias estão, ‘agora, entre’ os livros maravilhosos que adorou por
tanto tempo.
Publicar ‘uni romance era um sonho distante, até qu&’The Maiden and Lhe Warrior foi publicado
pela Harlequin Historicais, em março de 1998. Nascida na Filadélfia e formada na Universidade da
Pensilvânia, onde se tornou PhD em Psicologia, vive em Maryland, dividindo seu tempo entre a
família, os livros e’ seu consultório.
Você pode escrever para ela, na P.O. Box 1611, Bel Air, MD 21014. ,; ,