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UNIVERSITÉ DE DROITE ET DES SCIENCES D'AIX - MARSEILLE

Faculté des Sciences et Techniques de Saint Jérome


Centre de Recherches Rétrospectives de Marseille - CRRM
13397 - Marseille - Cedex 20
France

APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE CENÁRIOS


NO BANCO DO BRASIL

NO CONTEXTO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

Elaine Coutinho Marcial

Dissertação

1999
UNIVERSITÉ DE DROITE ET DES SCIENCES D'AIX - MARSEILLE
Faculté des Sciences et Techniques de Saint Jérome
Centre de Recherches Rétrospectives de Marseille - CRRM
13397 - Marseille - Cedex 20
France

APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE CENÁRIOS


NO BANCO DO BRASIL

NO CONTEXTO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

Dissertação de DEA

Apresentação em 20 de setembro de 1999 para obtenção do


DEA em Inteligência Competitiva
por

Elaine Coutinho MARCIAL


Banco do Brasil S.A.

Orientadores:
Henri DOU Professor, Diretor do CRRM
Fátima Ludovico STOLLENWERK Professora do Curso de Inteligência
Competitiva
Todos os que pretendem predizer ou prever o
futuro são impostores, pois o futuro não está
escrito em parte nenhuma, está por fazer.
(Godet, 1993, p. 21)
Aos meus pais, meu marido e meus filhos
que me apoiaram e incentivaram, e foram
fonte permanente de inspiração na
elaboração desse trabalho.
Os meus sinceros agradecimentos

A todos que colaboraram para a realização desse trabalho.


Ao Banco do Brasil que me proporcionou a possibilidade de concluir
o curso e realizar as pesquisas necessárias. Sua contribuição foi decisiva
principalmente pela oportunidade de trabalhar e conviver com a área de
elaboração de cenários do Banco, e posteriormente, patrocinando o
treinamento.
Ao IBICT, que me auxiliou na busca de bibliografias e disponibilizou
material bibliográfico para pesquisa, viabilizando, inclusive, o acesso ao
material de outras instituições.
Além desses órgãos, quero agradecer a colaboração de amigos e
professores e de minha família, que contribuíram decisivamente para a
consecução do trabalho.
Gostaria, de fazer agradecimentos especiais a algumas pessoas
cuja contribuição foi definitiva para aos quais serei eternamente grata.
A minha orientadora, Professora Fátima, por sua paciência, sua
presteza e dedicação, que foi de significativa importância para a conclusão
dos trabalhos.
Aos amigos Isabel e Ilenor, pela fantástica colaboração tanto na
revisão da dissertação como também por suas valiosas críticas e sugestões.
A amiga Lúcia Cequine, por sua fantástica colaboração tanto na
elaboração quanto no teste do questionário aplicado no Banco do Brasil, e
acompanhar-me em diversas entrevistas tanto no BB como em outras
empresas. Também pela sua colaboração na revisão do trabalho, com suas
valiosas críticas e sugestões.
Ao meu primo, Assessor de Planejamento da Shell André Almeida,
que muito me ajudou na obtenção de informações sobre o método de
planejamento baseado em cenários da Shell e abriu-me as portas da Shell
Brasil para a realização dessa pesquisa.
A minha irmã, a bibliotecária Cristine Marcial, que muito me ajudou
na revisão bibliográfica, no que diz respeito ao enquadramento do trabalho
às normas da ABNT e na realização de buscas bibliográficas.
Ao meu pai, Coronel Romeu Marcial, que muito me ajudou ao relatar
sua experiência e fornecer material para leitura que foram fundamentais
para a melhor compreensão das questões relacionadas à inteligência e à
estratégia, bem como por todo o apoio logístico prestado durante o período
em que estive envolvida com a pesquisa.
A minha mãe, a Professora Myrian Marcial, pela colaboração
significativa na revisão do trabalho, suas críticas e sugestões, bem como por
todo o apoio prestado durante o período em que estive envolvida com a
pesquisa.
Ao meu marido, João Gomes, pela colaboração significativa na
revisão do trabalho e por suas críticas e sugestões, como também pela sua
colaboração ao me acompanhar a algumas entrevistas realizadas. Sem
contar com a paciência e apoio durante esse período que estive envolvida
com a pesquisa.
Sem dúvida sem o carinho e o apoio da minha família esse trabalho
não teria sido concluído.
I

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES....................................................................................................... III

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS .............................................................IV

RESUMO ..................................................................................................................................VI

ABSTRACT .............................................................................................................................VII

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 1

2 O “PORQUÊ” DAS TÉCNICAS DE PROSPECTIVA ...................................................... 6


2.1 EVOLUÇÃO DA VISÃO PROSPECTIVA .................................................................................... 9
2.2 PROSPECTIVA COMO FERRAMENTA NA DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS E SUA RELAÇÃO COM
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA .................................................................................................... 17
2.3 OS CENÁRIOS PROSPECTIVOS ......................................................................................... 23
2.3.1 Definição, objetivo e conteúdo dos cenários prospectivos.............................. 23
2.3.2 Características e tipologia dos cenários prospectivos ..................................... 30
2.3.3 Número de cenários prospectivos a analisar ..................................................... 34
2.3.4 Opções estratégicas sob cenários prospectivos ............................................... 35
2.3.5 A monitoração ambiental e o desenvolvimento de cenários ............................ 38
2.3.6 Cenários e o aprendizado organizacional........................................................... 44
3 MÉTODOS PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS ......................................................... 52
3.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS ................ 52
3.1.1 O método descrito por Godet............................................................................... 56
3.1.2 O método da Global Link Network ....................................................................... 61
3.1.3 O método de cenários industriais de Porter ....................................................... 67
3.1.4 O método descrito por Grumbach ....................................................................... 72
3.2 QUADRO COMPARATIVO ................................................................................................... 78
4 CONTEXTO DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE CENÁRIOS: BANCO DO
BRASIL ................................................................................................................................... 82
4.1 O BANCO DO BRASIL ....................................................................................................... 82
4.2 A UNIDADE DE DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL............................................................. 86
4.3 HISTÓRICO E SITUAÇÃO ATUAL DO BB NA ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS ................................ 87
5 METODOLOGIA DE PESQUISA DE CAMPO ............................................................... 90
5.1 POPULAÇÃO-OBJETO E AMOSTRA ..................................................................................... 91
5.2 INSTRUMENTO DE PESQUISA E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ................................ 93
5.3 COLETA DE DADOS E DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ................................................................... 95
5.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 99
5.5 COMENTÁRIOS SOBRE AS LIMITAÇÕES DO ESTUDO EXPLORATÓRIO................................... 101
6 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO .................................................................. 104
6.1 QUESTIONÁRIO APLICADO NO BANCO DO BRASIL ............................................................. 104
6.2 ENTREVISTAS REALIZADA EM OUTRAS ORGANIZAÇÕES ..................................................... 112
6.2.1 Shell Brasil S.A. ................................................................................................... 112
6.2.2 SAE........................................................................................................................ 116
6.2.3 Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego .................................. 122
7 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................................... 126

8 CONCLUSÕES................................................................................................................ 138
8.1 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 138
8.2 RECOMENDAÇÕES ......................................................................................................... 140
II

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 145

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ....................................................................................... 149

ANEXO 1 - ORGANOGRAMA DO BB - ARQUITETURA ORGANIZACIONAL.................. 150

ANEXO 2 - RESPONSABILIDADES DAS UNIDADES........................................................ 151

ANEXO 3 - UDE - FUNCIONOGRAMA................................................................................ 152

ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO ORIENTADOR ...................................................................... 153

ANEXO 5 - ADAPTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PARA ENTRADA DE DADOS ................ 155

ANEXO 6 - ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................................. 158

ANEXO 7 - MODELO DE CARTA - ENCAMINHAMENTO DO QUESTIONÁRIO .............. 160


III

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabelas

Tabela 1 - Tamanho da População ..................................................

96

Tabela 2 - Tamanho da População e Amostra ................................ 99

Tabela 3 - Justificativa de utilização de cenários como instrumento de

definição de estratégias ................................................ 108

Tabela 4 - Metodologia de cenários x Planejamento - Estágio em que

se encontra ................................................................... 109

Tabela 5 - Contribuição da Atividade de Cenários ......................... 111

Tabela 6 - Áreas que Deverão Participar da Elaboração de Cenários

no BB ..............................................................................113

Tabela 7 - Tempo de Casa ............................................................. 114

Tabela 8 - Função Exercida ............................................................ 114

Tabela 9 - Conhecimento das Técnicas de Elaboração de Cenários 114

Quadros

Quadro 1 - Resumo Comparativo do Método ............................ 84


IV

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

BB Banco do Brasil S.A.

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAMR Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

CUT Central Única dos Trabalhadores

Eletrobrás Centrais Elétricas Brasileiras

Eletronorte Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A .

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ESG Escola Superior de Guerra

EUA Estados Unidos da América

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GBN Global Business Network

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Nasa North America Space Agence

Petrobrás Petróleo Brasileiro S.A.

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

SEPLAN/PR Secretaria de Planejamento da Presidência da República

OCDE Organization for Economic Cooperation and Development

OEA Organização dos Estados Americanos


V

SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da

República

SCE Southern California Edison

TVE Televisão Educativa

UDE Unidade de Assessoramento Desenvolvimento Empresarial

UEN Unidade Estratégica de Negócios

UF Unidade de Função

UA Unidade de Assessoramento

σ Desvio Padrão

fi Freqüência absoluta

% Percentual
VI

RESUMO

O objetivo geral desse trabalho é identificar o método de

elaboração de cenários prospectivos que melhor subsidie o Banco do

Brasil na elaboração de suas estratégias no contexto da Inteligência

Competitiva. Para a obtenção deste objetivo, primeiramente, são

apresentadas as definições e objetivos da prospectiva, dos cenários

prospectivos e da Inteligência Competitiva, para a identificação da

integração desses conceitos com a elaboração de estratégias. São

descritos e comparados alguns métodos de elaboração de cenários

prospectivos. Analisa-se o ambiente da Empresa e realiza-se pesquisa

para identificação do estágio de compreensão metodológica dos

dirigentes da Empresa. Descreve-se a experiência de algumas

organizações quanto à utilização dos cenários para elaboração de

estratégias. Por fim, com o cruzamento das diversas informações obtidas,

concluí-se que a obtenção do apoio dos dirigentes da Empresa e o

entendimento da metodologia e sua finalidade são mais importantes que

a escolha de um método. Concluiu-se também que a utilização das

ferramentas disponibilizadas pela Inteligência Competitiva são

significativas tanto para auxiliar a definição de estratégias, quanto para a

tomada de decisão de curto prazo. No final do trabalho são apresentadas

algumas recomendações, aplicáveis a qualquer empresa interessada em

implementar uma metodologia de planejamento estratégico baseado em

cenários prospectivos.
VII

ABSTRACT

The objective of this monograph is to identify the best prospective

scenario method that will help Bank of Brazil to develop its strategy in the

context of Competitive Intelligence. First of all we will discuss the theory

and objective of la prospective, prospective scenario and Competitive

Intelligence, and than discuss their interlink with strategy development.

We will discuss and compare some of the major prospective

scenarios methods. We will analyse the company's environment and show

the research's results about what is the company's senior managers

comprehensive level of scenario planning. We will describe some other

organizations experiences about scenario planning development. After

that, we will analyse all of these informations cross and then we will

conclude that it is much more important to obtain the senior managers'

support and their understanding about what scenarios planning are, than

to choose a method of scenario building. We will also conclude that the

Competitive Intelligence's tools are very important to help the seniors

managers to develop the company's strategy and their short time

decisions too.

At the end of this monograph we will recommend some actions

applied to some organization concerned to introduce prospective scenario

planning.
1

1 INTRODUÇÃO

Ao analisarmos o contexto em que as empresas estão atualmente

inseridas, verifica-se que fica cada vez mais difícil a definição de

estratégias1 que garantam sua sobrevivência na nova sociedade

globalizada, baseada na tecnologia e no conhecimento, onde a

competitividade aumenta cada vez mais, e o volume de informações a

serem monitoradas cresce exponencialmente.

Isto vem ocorrendo porque as variáveis que caracterizam essa

nova sociedade e esse novo ambiente competitivo geram uma incerteza

ambiental muito grande, onde as antigas metodologias de definição de

estratégias baseadas em análise de tendências não mais se aplicam.

Se focalizarmos a indústria financeira, esta incerteza é maior

ainda. O setor está passando por um processo de desregulamentação e

aumento da concorrência, causada por fusões e aquisições e pela

atuação de novos entrantes, o que nos leva a questionar qual será a

configuração do futuro, e, até mesmo, a necessidade da existência de

instituições bancárias2, em função do grande desenvolvimento das

tecnologias da informação e comunicação.

1
Estratégia é a estrutura que guia as escolhas que determinam a natureza e a direção de uma organização
(Tregoe, 1980).
2
Nocera, Joseph. Banking is necessary - Banks are not. Fortune, v.137, n.9, maio 1998.
2

Segundo a maioria dos autores pesquisados, a Inteligência

Competitiva surge nesse contexto como instrumento que permite a

manutenção do posicionamento competitivo da empresa no mercado e

considera a elaboração de cenários prospectivos como sendo uma de

suas ferramentas de análise mais adequada para auxiliar na definição de

estratégias em ambiente turbulento e incerto.

Os cenários, por sua vez, utilizam-se das várias ferramentas

disponibilizadas pela Inteligência Competitiva, nas suas fases de coleta e

análise. Podemos citar, como exemplo, as redes de informação, a análise

automática da informação e outras técnicas de sensoriamento do

ambiente que melhoram a qualidade dos cenários.

Verifica-se também que a definição de estratégias não é a única

contribuição que os estudos de cenários podem proporcionar à empresa.

A unificação de sua linguagem, o auxílio no desenvolvimento de sua

criatividade, a criação de redes de informação, o aprendizado

organizacional, um melhor entendimento do ambiente que a cerca e sua

atuação em ambiente de grande incerteza são outros exemplos de

contribuição.

A presente monografia tem por objetivo identificar o método de

elaboração de cenários prospectivos mais adequado às necessidades e à

realidade do Banco do Brasil. Objetiva-se, também propor sua

implantação e implementação na Empresa a fim de melhorar seu

processo de definição de estratégias para que tenha condições de melhor

construir seu futuro, sempre considerando o conceito de Inteligência

Competitiva.
3

A metodologia adotada para buscar esse objetivo abrangeu,

inicialmente, um levantamento bibliográfico, seguido por revisão da

literatura e levantamento do histórico e perfil do Banco do Brasil, bem

como a evolução da utilização da metodologia de planejamento baseado

em cenários no âmbito da Empresa. O próximo passo foi a definição do

público-alvo, elaboração de questionário e roteiro de entrevista, e

aplicação desses instrumentos através de entrevistas ao público-alvo

definido. Foram visitadas organizações como a Shell Brasil, a Secretaria

de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - SAE e o Centro

de Sinalizações Náuticas Almirante Moraes Rego para a verificação da

experiência brasileira. No âmbito do BB foram levantadas as percepções

dos seus dirigentes quanto à atividade de cenários na Empresa.

A última etapa consiste no tratamento dos dados e informações

coletadas, bem como, na sua análise comparando os resultados da

pesquisa de campo com o pesquisado durante a primeira etapa. Com

base na análise foi elaborada a conclusão do estudo, incluindo

recomendações no sentido de apresentar soluções para os problemas

identificados.

A monografia está estruturada em oito capítulos. O Capítulo 2

relata especificamente os conceitos da prospectiva e a sua evolução

histórica, descrevendo os motivos que levaram ao desenvolvimento dessa

técnica. Relata sua utilização para definição de estratégias e seu

relacionamento com a Inteligência Competitiva. Nesse capítulo também é

discutido o conceito de cenário prospectivo, seu conteúdo, principais

características e objetivo. Descreve também sua utilização para a


4

elaboração de estratégia e suas contribuições para promover o

aprendizado organizacional. Por fim, é descrita a relação existente entre

monitoração ambiental e cenários.

No capítulo seguinte é abordada a metodologia de elaboração de

cenários. Vários métodos são apresentados de forma abrangente e,

destes, quatro são discutidos detalhadamente por elaborarem cenários

prospectivos. São eles os descritos pela Global Business Network, por

Godet, Porter e Grumbach. Ao final do capítulo compara-se os quatro

métodos ressaltando-se os pontos fortes e fracos de cada um.

No Capítulo 4 é relatado o contexto em que a pesquisa foi

realizada. Neste momento é descrita a história, principais características e

âmbito de atuação do Banco do Brasil, bem como onde os cenários são

desenvolvidos e quais as características dessa área, além da evolução

dos trabalhos.

O Capítulo 5 relata em detalhes a metodologia de pesquisa

utilizada. São descritos os instrumentos de pesquisa utilizados, os

procedimentos adotados para a definição da população objeto e definição

da amostra. O processo utilizado para a coleta de dados, suas virtudes e

limitações também são analisados. São descritas as técnicas de análise

de dados utilizadas, como também são feitos comentários sobre a

validade da pesquisa.

O Capítulo 6 apresenta os resultados obtidos por essa pesquisa

através da exposição de seus dados e resultados das análises

estatísticas realizadas. As interpretações, justificativas e críticas dos


5

resultados obtidos foram analisadas com base na revisão bibliográfica

realizada sobre o assunto e estão descritas no Capítulo 7.

O último capítulo condensa as principais conclusões do estudo

realizado e recomendações que podem ser implementadas pelo Banco

do Brasil ou por qualquer empresa que esteja passando por situação com

características similares.

Esse trabalho se enquadra no pensamento de que é possível

qualquer organização se manter competitiva em um ambiente incerto e

altamente competitivo, desde que seja capaz de elaborar estratégias que

garantam sua sobrevivência no curto, médio e longo prazos e que

aprenda a se adaptar rapidamente ao ambiente. Para tanto, é importante

a empresa estar bem atualizada com o ferramental disponibilizado pela

Inteligência Competitiva e, tenha interesse e disposição para utilizar os

cenários prospectivos obtidos.


6

2 O “PORQUÊ” DAS TÉCNICAS DE PROSPECTIVA

Desde os primórdios da sua existência, o homem procura

respostas para suas indagações. Entender o que está ocorrendo, suas

causas e conseqüências, e tentar descobrir o que irá acontecer fazem

parte da existência humana.

O instinto de sobrevivência conduz o homem a buscar estas

respostas com o intuito de minimizar as incertezas que o rodeiam

procurando, assim, garantir a sua sobrevivência por um período mais

longo de tempo.

De todos os questionamentos que rodeiam o homem, os que

possuem maior grau de incerteza são os que estão ligados ao futuro,

visto que a incerteza é uma característica própria do futuro. O desejo de

prever o futuro é tão antigo quanto a própria existência humana. Segundo

Geus (1997), a preocupação com o futuro é uma função biológica que

leva o homem a preocupar-se em conhecê-lo.

Como será o amanhã? Como será o futuro? São perguntas que

o homem faz freqüentemente e a maior parte das ações praticadas hoje

buscam a garantia de um futuro melhor. Os investimentos são feitos hoje

para minimizar a incerteza do amanhã.

As organizações também passam pelas mesmas angústias e

incertezas com relação ao futuro e buscam sua sobrevivência. Neste

contexto, surgem as técnicas de prospectiva que são utilizadas pelas


7

empresas com o objetivo de minimizar essas incertezas e propiciar uma

ferramenta que facilite a definição de estratégia em um mundo cada vez

mais incerto.

Segundo Godet (1993), a prospectiva não está associada ao

determinismo da futurologia e da bola de cristal, como também não é uma

previsão demasiadamente marcada pela quantificação e pela

extrapolação de tendências.

A prospectiva exploratória permite traçar um panorama dos

futuros possíveis, isto é, dos cenários não improváveis, tendo em

conta o peso do determinismo do passado e da confrontação dos

projetos dos atores (GODET, 1993).

Como o futuro ainda não foi escrito, a prospectiva não trabalha

com projeções3 e nem é uma previsão4. Segundo Godet (1993), para a

prospectiva o futuro é a razão de ser do presente e este futuro é múltiplo

e incerto. A visão é global e considera que nada é igual em parte

nenhuma. As variáveis abordadas no estudo são qualitativas,

quantificáveis, conhecidas ou ocultas, cujas relações são dinâmicas, com

estruturas evolutivas. O método de análise é intencional, utilizando

modelos qualitativos e estocástico. A prospectiva conduz a organização a

desenvolver atitudes pré e pró-ativas em relação ao futuro, levando-a a

buscar a formulação do futuro desejado.

Para a previsão clássica, o passado explica o futuro, que é único

e certo. A visão é parcelar, tudo é considerado igual em toda a parte, o

3
Godet (1993) define projeção como o prolongamento no futuro de uma evolução passada segundo certas
hipóteses de extrapolação ou de inflexão de tendências.
4
Previsão é uma projeção que contenha uma probabilidade (Godet, 1993).
8

que leva o analista freqüentemente ao erro. As variáveis são

quantitativas, objetivas e conhecidas, cujas relações são estáticas e de

estruturas constantes. O método utilizado é baseado nos modelos

determinísticos e quantitativos (econométricos e matemáticos), o que

conduz a organização a uma atitude passiva ou reativa com relação ao

futuro, já que a previsão nos define uma única saída ou caminho a

percorrer, não sendo possível qualquer modificação ou alteração na

tendência do curso dos acontecimentos.

Segundo Grumbach (1997), a prospectiva nasceu do desejo da

sociedade contemporânea de passar de uma atitude passiva em relação

ao futuro para uma atitude ativa. As idéias determinísticas são

substituídas por aquelas em que o homem pode atuar conscientemente

no sentido de construir o seu futuro desejado ou afastar-se, o máximo

possível, de um futuro que lhe seja adverso. As ações e omissões do

passado e do presente são analisadas, a fim de verificarmos que

mudanças de rumo levarão ao melhor caminho. O fundamental para a

prospectiva não é acertar o futuro mais provável, mas identificar as

diversas possibilidades e definir ações decorrentes.

Além disso, a maioria dos autores lembra que a prospectiva é um

excelente instrumento para estimular o pensamento estratégico e a

comunicação dentro das organizações. Ela também melhora a

flexibilidade interna de respostas às incertezas ambientais. De fato, na

sociedade atual, a antecipação torna-se imperativa em função de dois

fatores conjugados: (1) o ritmo das mudanças tecnológicas, econômicas e


9

sociais que levam a organização a necessitar de visão a longo prazo; e

(2) os fatores de inércia, inerentes às estruturas e comportamentos.

2.1 Evolução da visão prospectiva

Como já foi abordado, o desejo de conhecer o futuro existe desde

o início da humanidade. Na busca desse conhecimento, o homem

acreditava em quem lhe pudesse prever o futuro. Em diversas épocas

distintas da história, observou-se governantes buscando essas

informações com o objetivo de minimizar o risco de suas decisões.

Na época em que os faraós governavam o Egito, seus sacerdotes

anunciavam antes do plantio qual seria o resultado da colheita. Isto era

feito com base na observação da coloração e do volume das águas do rio

Nilo no início da primavera. Segundo Schwartz (1996, p. 101), esses

sacerdotes foram os primeiro futurólogos do mundo que entendiam o

significado de elementos predeterminados e das incertezas críticas.

Na história da Grécia antiga temos, como exemplo, o Oráculo de

Delphos, local onde a predição5 era feita por adivinhos, sacerdotes e

feiticeiras. Os profetas bíblicos, que orientaram os líderes de diversos

povos, são outro exemplo. Pode-se também citar os magos, bruxos e

alquimistas da Idade Média que também descreviam suas visões sobre o

5
Predição - discurso sobre uma condição futura, baseada num raciocínio que o antecipador não divulgou.
Assim, um alto nível de confiança está implícito nas palavras, ações e/ou recomendações de quem faz a
predição (Rattner, 1979, p.11).
10

futuro. Até a Idade Média, as principais fontes de previsões eram as

profecias6 e especulações7.

A tentativa de utilização da ciência para prever o futuro tem seu

início na Renascença, associada com determinadas correntes filosóficas.

A astronomia de Galileu e de Copérnico destruiu a superstição medieval e

deu início à época do pensamento racionalista e crítico do século XIX.

Mas apenas em 1902, por meio da obra do escritor inglês George

Well8, tem-se relato da associação de fatos já conhecidos com o futuro.

Well propunha que “os estudos históricos, econômicos e sociais fossem

realizados visando sempre ao futuro”. Essa obra ainda não pode ser

considerada um estudo prospectivo, mas já nos mostra uma preocupação

em lidar com os chamados fatos portadores de futuro (Grumbach, 1997,

p.7).

A partir do período pós-guerra, os praticantes da futurologia

tentam se afastar dos exercícios meramente especulativos e impõem

suas técnicas de previsão clássica baseada em modelos matemáticos.

Mas, a partir dos estudos sobre a incerteza desenvolvidos por Heisenberg

e o desenvolvimento da teoria da relatividade por Einstein, surgem os

primeiros questionamentos a respeito da visão determinista imposta pela

previsão clássica (Rattner, 1979).

Após a Segunda Guerra Mundial, a força aérea americana

contratou um grupo de peritos e analistas especializados nos diversos

ramos da atividade humana para estudarem e elaborarem os objetivos e

6
Profecia é uma predição realizada sob inspiração ou influência sobrenatural ou mística, alegada ou realmente
experimentada pelo profeta (Rattner, 1979).
7
Segundo Rattner (1979), a especulação é um discurso sobre o futuro, no qual seu autor admite incerteza
e/ou falta de um apoio lógico-racional, substituído por opiniões vagas e imaginação fértil.
8
Livro de George Wells publicado em 1902 - “O Descobrimento do Futuro”.
11

rumos que deveriam ser adotados com relação ao futuro, principalmente

nos campos do material bélico e tático. Em 1947, esse grupo publicou um

artigo sobre a importância estratégica das comunicações via satélites

artificiais. Tal trabalho só foi reconhecido quando a antiga União Soviética

lançou o Sputinik dando, então, início à formação do maior centro de

estudos prospectivos do mundo, a RAND Corporation, na Califórnia

(Grumbach, 1997).

A RAND estendeu suas atividades para os campos da sociologia,

meteorologia e política. As técnicas e métodos empregados já

estabeleciam conceitos de vários futuros possíveis, principal

característica da prospectiva. Entretanto, o primeiro a utilizar a palavra

prospectiva foi o filósofo e pedagogo francês Gaston Berger em sua obra

“A Atitude Prospectiva” de 1957, estabelecendo como prever um futuro

desejável para o mundo.

Gaston Berger propôs o uso da palavra prospectiva para mostrar

a necessidade de uma atitude orientada para o futuro.

“ A atitude prospectiva significava olhar longe, preocupar-se

com o longo prazo; olhar amplamente, tomando cuidado com as

interações; olhar a fundo até encontrar os fatores e tendências que

são realmente importantes; arriscar, porque as visões de

horizontes distantes podem fazer mudar nossos planos de longo

prazo; e levar em conta o gênero humano, grande agente capaz de

modificar o futuro” (Godet, 1996).


12

Berger relançou a palavra prospectiva9 porque a palavra previsão

estava demasiadamente impregnada do sentido de profecia. Pretendia

com isso, separar os conceitos de previsão (que significa construir um

futuro à imagem do passado) de prospectiva (em que o futuro é

decididamente diferente do passado).

Autores como Fahey (1998) e Heijden (1996) atribuem a

introdução das noções de cenários prospectivos e seu desenvolvimento a

Herman Kahn, que atuou durante os anos 50 na RAND. Seus primeiros

cenários foram desenvolvidos como parte dos estudos de estratégia

militar conduzidos pela RAND para o governo americano. Kahn

desenvolveu a metodologia para uso de cenários quando fundou a

Hudson Institute em meados dos anos 60 e popularizou suas idéias com

a publicação, em 1967, de seu livro "The Year 2000", onde a palavra

cenários foi introduzida na prospectiva.

Durante os anos 60, Herman Kahn aperfeiçoou os cenários para

que se tornassem uma ferramenta nos prognósticos de negócio. Tornou-

se o principal futurólogo americano, prevendo a inevitabilidade de

crescimento e prosperidade (Schwartz, 1996).

Na França, a metodologia de cenários foi aplicada pela primeira

vez por ocasião de um estudo de prospectiva geográfica realizado por

conta da DATAR10 em 1970. A partir daí, este método foi adotado em

muito setores como indústria, agricultura, demografia, emprego etc. e

aplicado a diferentes níveis geográficos - países, regiões, mundo (Godet,

1993).

9
A palavra prospectiva tem origem latina no século XVI. O verbo prospicere significa olhar para longe ou de
longe, discernir alguma coisa que está a nossa frente (Godet, 1993).
13

Na mesma época, foram desenvolvidos nos Estados Unidos

vários métodos formais de construção de cenários por pesquisadores

como Gordon, Elmer, Dalkey e outros baseados em reuniões de peritos,

como o método Delphi11 e a matriz de impactos cruzados12.

Entretanto, Heijden (1996) argumenta que, até então, os métodos

propostos para a elaboração de cenários eram essencialmente uma

extensão da previsão clássica realizada para o planejamento, a não ser

pela substituição de uma única linha de previsão por um leque de futuros

diferentes com probabilidades distintas de acontecimento.

Os cenários atingiram uma nova dimensão no início dos anos 70

com o trabalho do francês Pierre Wack. Trabalhando na área de

planejamento da Royal Dutch/Shell13 desde 1968, desenvolveu sua

metodologia com os conceitos obtidos junto a École Française de

Prospectiva. Wack (1985) relata que a partir do início dos anos 70 os

erros das previsões tornaram-se mais freqüentes em função da maior

instabilidade mundial, principalmente no que dizia respeito ao mercado de

petróleo. Todo o planejamento tradicional baseado em previsões

clássicas perdia rapidamente sua razão de ser. Havia a necessidade do

desenvolvimento de nova ferramenta que auxiliasse no planejamento de

longo prazo.

Wack não tinha como objetivo prever o futuro. Sua meta era a

liberação dos insights das pessoas. A finalidade dos cenários

10
DATAR (1971) "Une image de la France em lán 2000" Trauvaux de recherche de prospective, n.20, Paris,
Documentation Française (Godet, 1996).
11
Método elaborado por Olaf Helmes em 1964, consiste em interrogar individualmente, por meio de
questionários sucessivos, vários peritos. Depois de cada consulta, as questões são analisadas e propostas,
outra vez, para que os peritos tenham a oportunidade de rever suas opiniões. A finalidade é chegar a um
consenso em que as respostas se aproximam do valor da mediana, chegando, ao final do processo, a uma
convergência (Grumbach, 1997, p. 38).
12
A matriz de impactos cruzados visa avaliar a influência que a ocorrência de um determinado evento traria
sobre a probabilidade de ocorrência do outro (Grumbach, 1997).
14

exploratórios era ampliar a compreensão sobre o sistema, identificar os

elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias

forças e eventos que conduziam esse sistema (Wack, 1985), o que

levaria, consequentemente, à melhor tomada de decisão.

Os resultados obtidos pela Royal Dutch/Shell através do novo

enfoque de ver o futuro tornou a empresa mundialmente reconhecida

pelo pioneirismo na utilização de cenários, o que teve como conseqüência

a valorização e o reconhecimento da técnica.

A partir dessa época surgiram vários estudos com base nos

cenários. Em 1982, Bell examina os cenários em termos de decisão

teórica e Kahneman, juntamentente com Tversky, analisa-o sob o ponto

de vista psicológico. Em 1985, Porter, influenciado por Peter Schwartz,

discípulo de Piere Wack, analisa os cenários sob a perspectiva

econômica, adaptando a metodologia utilizada pela Royal Dutch/Shell

para uma realidade mais negocial. A metodologia levava em

consideração os movimentos dos concorrentes (Schoemaker, 1993).

Em 1988 inicia-se a popularização da utilização dos cenários

como instrumento de planejamento estratégico para as empresas anglo-

saxônicas com o surgimento da Global Business Network (GBN),

empresa de prospectiva criada por Peter Schwartz e Pierre Wack (Godet,

1993).

Em 1987, Michel Godet publica seu livro "Cenários e a

Administração Estratégica", disponibilizando para sociedade a

metodologia francesa de prospectiva, primeira publicação realmente

13
Empresa internacional de petróleo.
15

científica a respeito do assunto. As palavras do professor Igor Ansoff14,

contidas no prefácio do livro de Godet (1987), descrevem a publicação

como um marco na história dos métodos de desenvolvimento de cenários

prospectivos para a definição das estratégias das empresas. Em 1988, as

abordagens de Raubitschek15 e de Huss16, apesar de enfocarem

importantes aspectos do método, não forneceram utilização tão completa

para a organização quanto a visão prospectiva.

No Brasil, a prática de elaboração de cenários é recente. As

primeiras empresas a utilizarem tal prática foram a Eletrobrás, em 1987, e

Petrobrás, em 1989, no final da década de 80, em função de operarem

com projetos de longo período de maturação, o que exigia uma visão de

longo prazo. Também no final dessa década, o trabalho elaborado pelo

BNDES, em 1989, de conteúdo mais econômico, teve um grande impacto

e abriu uma grande discussão política sobre os cenários do Brasil

(Buarque, 1998).

Durante o final da década de 80 e início da década de 90,

surgiram várias tentativas de estudos prospectivos no Brasil. Buarque

(1998) relata as iniciativas do CNPq em 1989, da FINEP em 1992, e da

SEPLAN/PR com o Projeto ARIDAS em 1994, que possuíam diferentes

enfoques e cortes setoriais, temáticos ou espaciais.

O autor sugere que a instabilidade e a incerteza em que o País

vivia durante esse período foram fatores inibidores da maior difusão das

técnicas de construção de cenários. Entretanto, argumenta que esse

14
H. Igor Ansoff é professor da Graduate School of Management, Vanderbilt University e do European Institute
for Advanced Studies in Management, de Bruxelas. É autor dos livros “Do planejamento estratégico a
administração estratégica” (1981) e “Administração Estratégica” (1983).
15
Técnica baseada em termos de planejamento dos negócios.
16
Técnica sob o ângulo de previsão.
16

possível comportamento é paradoxal, já que, são justamente esses

fatores que aumentam a importância e a necessidade de explorar

alternativas futuras. E afirma:

“ Quanto maior a incerteza e a velocidade das

transformações mais necessário se faz a antecipação de futuros,

de modo a preparar as empresas e os governos para as

surpresas e descontinuidades” (Buarque, 1998, p. 7).

Nova utilização da técnica prospectiva no Brasil foi coordenada

pela SAE17 que inicia, em 1996, o desenvolvimento dos estudos que

geraram, em 1997, os Cenários Exploratórios do Brasil 2020 e os

Cenários desejados para o Brasil em 1998. A iniciativa da SAE originou a

retomada da discussão do tema no País.

Segundo Buarque, outra grande iniciativa foi a do IPEA, em 1997,

com o estudo "O Brasil na Virada do Século - Trajetória do Crescimento e

Desafios do Desenvolvimento". Entretanto, o estudo concentra-se em

formular um único cenário para o País, o que não atende a um dos

princípios básicos da prospectiva: a de que o futuro é múltiplo e incerto.

Com o aumento da incerteza ocorrida durante a década de 90,

houve um aumento significativo no número de organizações, em todo o

mundo, que passaram a utilizar o método de cenários para a definição de

suas estratégias. No entanto, não houve surgimento de nenhuma

abordagem inovadora, apenas aperfeiçoamentos dos métodos já

existentes.

Todas as publicações sobre o tema editadas durante a década de

90 apenas relataram métodos já desenvolvidos ou forneceram algum

17
Confira Cap. 6.2.2 p. 116 desta obra.
17

aperfeiçoamento sem, no entanto, apresentaram uma proposta

metodológica revolucionária diferente dos princípios básicos lançados por

Gaston Berger e Herman Kahn.

Ficam então as perguntas: qual será a evolução das técnicas de

cenários? Surgirá alguma metodologia nova ou a preocupação com o

futuro acabará? Certamente, as respostas para estas perguntas são

múltiplas e incertas, como o futuro é por excelência.

2.2 Prospectiva como ferramenta na definição de estratégias e sua

relação com Inteligência Competitiva

Um dos principais fatores que está caracterizando o final do

século XX é a incerteza. O ritmo acelerado das mudanças econômicas,

tecnológicas, sociais e políticas no mundo tem como conseqüência

freqüentes rupturas de tendências. Essas rupturas aumentam a incerteza

com relação ao futuro, independentemente na área em que a organização

esteja atuando.

Essa turbulência é fruto, principalmente, do desenvolvimento da

telemática, que acelerou o processo de globalização e o acirramento da

concorrência entre as empresas. O acesso e a manipulação de grande

volume de informações, que cada vez mais podem ser obtidas de forma

mais fácil, rápida e barata, geram maiores impactos tanto no

macroambiente como no ambiente negocial das organizações.

Outro fator que aumenta esses impactos é o fato de que o acesso

à informação pode ocorrer de forma simultânea por várias pessoas em


18

diversas partes do mundo. Verifica-se também que a disseminação da

informação torna-se mais fácil, o que também facilita a geração de novos

conhecimentos mais rapidamente.

Essa nova ordem mundial, movida pela informação e pelo

conhecimento - seu principal fator de produção - tem como conseqüência

o surgimento da sociedade do conhecimento (Drucker, 1997). A própria

empresa que antes apenas se preocupava com o seu ambiente negocial

hoje terá que monitorar todo o macroambiente - político, tecnológico,

econômico, social - e tentar antever as futuras modificações que irão

ocorrer para se manter competitiva no mercado.

É nesse contexto que surge a discussão sobre Inteligência

Competitiva. Seu papel é explicado, segundo Maldonado (1998), pelo

trinômio globalização, competitividade e acirramento da concorrência, ou

seja, a busca por crescentes fontes de informações científicas,

tecnológicas e econômicas que apoiem a tomada de decisão e

assegurem a redução do tempo de resposta frente às exigências do

ambiente externo, visando ao melhor desempenho e posicionamento no

contexto sócio-econômico em que atuam.

Kahaner (1996) define Inteligência Competitiva como um

programa sistemático de coleta e análise da informação sobre atividades

dos concorrentes e tendências gerais dos negócios, visando atingir as

metas da empresa. Fica claro que o conceito de competitividade que

adota em sua obra é o de competitividade sistêmica, ou seja:

“... o desempenho competitivo de uma empresa, indústria ou

nação é entendido, não apenas como condicionado por fatores

internos às empresas, mas também por fatores meso-estruturais


19

e macro-estruturais, que podem favorecer e aperfeiçoar o

aprendizado e a capacidade de acumulação de conhecimentos,

tais como: formas de organizações e inter-relações dos

complexos e setores industriais; sistema de educação superior e

de pesquisa científica e industrial; nível da força de trabalho;

níveis e padrões de investimento e financiamento; quadro legal e

político; características do mercado interno; e condições das

demais esferas relacionadas ao contexto nacional e internacional

no qual se dá o fluxo de comércio e investimentos e onde os

conhecimentos são gerados e difundidos” (Lastres, 1998).

As compreensões anteriores de competitividade referiam-se a

uma visão interna da empresa. Seja ela voltada para custos18 ou voltada

para resultado19. Não havia, em nenhum dos dois casos, preocupação

com a interação da empresa com o ambiente no qual a empresa estava

inserida.

A definição de competitividade sistêmica desenvolve uma

abordagem que visa à empresa inserida em um macroambiente e

18
Estratégia competitiva utilizada por muitas empresas durante a década de 80 e abordada por Kotler (1997)
como a administração voltada para o denominador.
19
Estratégias competitivas que começaram a ser implementadas pelas empresas durante a década de 90, que
Kotler (1997) chama de administração voltada para o numerador.
20

absorvendo influências desse ambiente muito maior do que o

determinado pelo seu negócio. Segundo McMaster (1996) e Stoffler

(1994), os competidores que irão sobreviver são aqueles que estiverem

conectados com o meio ambiente e que produzirem acesso às estruturas

do futuro. Eles estarão conectados aos diversos ambientes e gerarão

informações que aumentarão suas habilidades para sobreviver tanto nos

ambientes atuais como nos futuros. Eles não somente farão estudos de

futuro, mas serão capazes de influenciar seus próprios futuros através da

definição de suas estratégias.

Apesar de Fuld (1995) definir Inteligência Competitiva tomando

apenas a análise das informações sobre os concorrentes, também

associa essa atividade de inteligência ao fornecimento de insumos para o

tomador de decisão ter melhores condições para definir suas estratégias.

Entretanto, como definir estratégia em um ambiente em constante

mudança e que cada vez interage mais com a empresa?

Apesar de ainda não haver um consenso a respeito do conceito

de Inteligência Competitiva, verifica-se que é unânime a associação do

tema com a tomada de decisão e a definição do posicionamento futuro da

empresa no mercado, ou seja, com a definição da estratégia da empresa.

Deve-se, entretanto, considerar que em um ambiente incerto, a

definição de estratégias torna-se tarefa árdua para uma empresa que não

disponha de ferramentas adequadas para lidar com ambiente turbulento.

Conforme já abordado anteriormente, os antigos métodos de definição de

estratégias baseadas, predominantemente, em tendências não se

aplicam a esse novo contexto. Como as rupturas de tendência estão se


21

tornando constantes, a utilização desses métodos leva as empresas a

terem que se reposicionar em curto espaço de tempo, gerando perda de

recursos e dificultando sua sobrevivência.

Grumbach (1997, p. 16) argumenta que o que determinará a

diferença entre beneficiar-se ou ser excluído do contexto atual de

globalização será a capacidade de governos e empresas vislumbrarem os

cenários futuros e, em decorrência, estabelecerem um eficiente

planejamento estratégico, que lhes permita evitar os problema futuros ou

proteger-se deles. E isso só será possível com o auxílio das técnicas

prospectivas.

Segundo Porter (1992), algumas empresas começaram a utilizar

cenários como instrumento para que pudessem compreender as

implicações estratégicas da incerteza de um modo mais completo. Com a

construção de cenários múltiplos, uma empresa pode explorar

sistematicamente as possíveis conseqüências da incerteza para a sua

opção de estratégia.

Porter (1992) lembra ainda que, além de facilitar o

desenvolvimento do pensamento estratégico e da definição das

estratégias da empresa, o exercício de elaboração de estudos

prospectivos traz outros benefícios, tais como:

• melhor compreensão do ambiente;

• administradores lidam melhor com a incerteza;

• facilita a criação das redes de troca de informações que, por

sua vez, facilitam o fluxo de informações dentro da empresa e

a integração entre as diversas áreas;


22

• disponibiliza uma visão global do ambiente e suas

interligações;

• ajuda a desenvolver a criatividade na empresa;

• ajuda a identificar novas oportunidades de negócios.

Ao se analisar a visão de Porter, verifica-se uma clara interação

entre as técnicas de cenários prospectivos e os instrumentos utilizados

pela Inteligência Competitiva.

A Inteligência Competitiva emerge na sociedade do

conhecimento, disponibilizando poderosas ferramentas que pessoas,

empresas ou governos estão utilizando para se manterem competitivos

no ambiente local e mundial globalizado. Ela é um excelente instrumento

de produção de informação estratégica para a definição das estratégias

competitivas da empresa.

Segundo Kahaner (1996), algumas das críticas feitas por outros

autores sobre a utilização das ferramentas de Inteligência Competitiva é

que ela é uma análise de dados e informações histórica, ou seja, que se

baseia em olhar os eventos do passado ou do acompanhamento dos

números correntes. Ele argumenta que tais comentários são

inconsistentes, já que uma análise completa precisa dar indicações ao

tomador de decisão a respeito do futuro e recomenda os estudos de

cenários como sendo o melhor instrumento para atender a esse fim e

auxiliar na definição das estratégias das empresas.

Os estudos de cenários prospectivos são uma das ferramentas

mais adequadas para a definição de estratégia em ambiente turbulento e

incerto. Embora a prospectiva não se predisponha a eliminar essa


23

incerteza, ela aponta no sentido de reduzi-la, possibilitando a tomada de

decisões fundamentadas em futuros hipotéticos.

A prospectiva se propõe a iluminar as escolhas do presente

à luz dos possíveis futuros. Uma boa prospectiva não é,

necessariamente, aquela que se realiza, mas a que conduz a uma

ação e evite os perigos futuros e atinja o objetivo desejado

(Godet, 1996).

Entretanto, Godet (1996) chama a atenção para o fato de que não

se deve fazer confusão entre cenários e estratégias. Os cenários

dependem do tipo de visão adotada por seus elaboradores e as

estratégias dependem das atitudes adotadas face a possíveis futuros.

Os cenários prospectivos, por sua vez, também se utilizam das

várias ferramentas descritas no estudo de Inteligência Competitiva, como

por exemplo as redes de informações, a análise automática da

informação e outras técnicas de monitoração do ambiente que melhorem

a qualidade de seus resultados. Isso reforça a completa interação entre

cenários, estratégia e Inteligência Competitiva.

2.3 Os Cenários Prospectivos

2.3.1 Definição, objetivo e conteúdo dos cenários prospectivos

O termo “cenários” tem muitos significados e varia desde scripts

de cinema e projeções vagas a combinações estatísticas de incertezas

(Schoemaker, 1993). Dentro da visão prospectiva, podemos ainda

encontrar várias definições que diferem basicamente na forma e na


24

amplitude, mas todas obedecem aos fundamentos básicos da

prospectiva, de que os futuros são múltiplos e incertos.

A definição mais abrangente e acadêmica encontrada na

literatura foi a de Godet (1997, p. 70) que define cenário como sendo o

conjunto formado pela descrição, de forma coerente, de uma situação

futura e do encaminhamento dos acontecimentos que permitem passar da

situação de origem à situação futura. Podem ser distinguidos entre

cenários possíveis20, cenários realizáveis21 e os cenários desejáveis22.

Godet (1997) complementa sua definição afirmando que um

cenário não é a realidade futura, mas um meio de representá-la, com o

objetivo de nortear a ação presente à luz dos futuros possíveis e

desejáveis.

Porter (1992, p. 412) define cenários no contexto da indústria e

define-os como sendo:

“...uma visão internamente consistente da estrutura futura de uma

indústria. Ele é baseado em um conjunto de suposições plausíveis

sobre as incertezas importantes que poderiam influenciar a estrutura

industrial, considerando as implicações para a criação e a

sustentação da vantagem competitiva. O conjunto completo de

cenários e não o mais provável é então utilizado para projetar uma

estratégia competitiva.”

Sua finalidade é a compreensão das diferentes formas que as

condições competitivas e a indústria poderiam possuir. Os cenários bem

20
Tudo o que se pode imaginar.
21
Tudo o que é possível, tendo em conta os condicionalismos.
22
Encontram-se em qualquer parte do possível mas não são todos, necessariamente, realizáveis.
25

escolhidos irão iluminar os diversos futuros pertinentes à formulação de

estratégias. Os cenários devem ser escolhidos para comunicar, instruir e

ampliar o pensamento dos gerentes sobre o futuro. Porter, como outros

autores, também chama a atenção a respeito da importância da

consistência e coerência na descrição dos cenários.

Para Schwartz (1996, p. 3) cenários são uma ferramenta para nos

ajudar a fazer previsões em um mundo de grandes incertezas. Cenários

são uma ferramenta para ordenar a percepção sobre ambientes

alternativos futuros, nos quais as decisões pessoais podem ser

cumpridas. Ou um conjunto de métodos organizados para sonharmos

sobre o futuro de maneira eficiente. De forma resumida, o autor define

cenários como estórias de futuro, estórias que podem nos ajudar a

reconhecer e nos adaptarmos aos aspectos de mudança do ambiente

presente. Para Rattner (1997, p. 82):

“... a construção de cenários visa a um procedimento

sistemático para detectar as tendências prováveis da

evolução, numa seqüência de intervalos temporais, e procura

identificar os limiares da tensão social nos quais as forças

sociais poderiam alterar essas tendências. Essas atitudes

envolvem juízos sobre: quais as estruturas e os parâmetros

importantes, e quais os objetivos e metas que inspiram e

motivam essas forças sociais”.

Rattner (1997) também considera os cenários um dispositivo que

permite ao homem pensar de maneira construtiva e imaginativa sobre

uma série de mudanças, bem como graus de mudanças que incluem


26

possibilidades extremas e bizarras. O autor sugere que deva ser realizado

um planejamento para cada um dos cenários desenvolvidos.

Para Schoemaker e Heijden (1992), cenários são ferramentas

que têm como objetivo melhorar o processo decisório com base no

estudo de possíveis ambientes futuros. Não deveriam ser tratados como

previsões capazes de influenciar o futuro, nem como histórias de ficção

científica montadas somente para incentivar a imaginação. Os cenários

têm como foco os assuntos e informações de grande importância para os

tomadores de decisão, como também, os elementos previsíveis e

imprevisíveis do ambiente que afetam o sistema em que a empresa está

inserida.

Simpson (1992) segue a mesma linha de Shoemaker e Heijden

(1992) ao definir planejamento baseado em cenários como uma disciplina

que gera uma visão mais ampla do ambiente externo, e relata alguns

benefícios que esse planejamento traz para as organizações, como o

entendimento das percepções dos gerentes e a melhoria na velocidade

de decisão. Chama atenção ao fato de que o valor dos cenários não é

medido pelo interesse que eles possam despertar, mas pela sua efetiva

utilização na tomada de decisões.

Os cenários propiciam um ambiente que enriquece o debate

sobre questões críticas relacionadas ao futuro da organização e propicia

aos dirigentes da empresa a tomada de decisão de risco com mais

transparência. Eles favorecem a identificação de oportunidades e

ameaças ao negócio; promovem o desenvolvimento e a análise de novas

opções de futuro para a empresa frente a mudanças do ambiente


27

externo. Propiciam uma visão de futuro que possa ser compartilhada

pelos membros da organização (Heijden, 1996).

Nesse contexto, pode-se citar como exemplo mais recente o

relato de Quinn e Mason (1994) a respeito da utilização do planejamento

baseado em cenários na Digital Equipment Corporation, cujos objetivos

eram testar, sondar e provocar o pensamento estratégico como meio de

permitir à empresa enfrentar grandes mudanças. Foram também usados

para desenvolver a conversa sobre decisão de futuro no âmbito da Digital.

A meta era levar a empresa para uma direção diferente.

Schwartz (1996) complementa que, para saber se seus cenários

foram eficazes, basta verificar se alguém mudou seu comportamento

porque viu o futuro de maneira diferente. Um cenário eficaz quase

sempre muda comportamento. Buscar eficácia verificando se o futuro foi

previsto de maneira correta torna-se bastante fácil quando se consideram

múltiplos cenários.

No que diz respeito ao conteúdo de um cenário, deve-se

considerar primeiramente o sistema em que a organização atua. Esse

sistema é composto pelo objetivo de cenarização, seu horizonte temporal

e lugar. O sistema é visto como uma totalidade organizada por elementos

e fenômenos interligados e interdependentes, que podem formar

sistemas menores ou subsistemas daquele que está sendo considerado

no cenário.

O horizonte de tempo do cenário é o período de tempo que será

coberto pelo estudo de cenarização. Pode variar em função da dinâmica

e evolução do sistema estudado, porém, em média, deve ser de 10 anos.


28

É recomendável que os cenários não tenham um horizonte temporal

menor que 5 anos. Essa limitação está relacionada ao objetivo principal

dos cenários que é auxiliar na definição das estratégias da empresa, o

que, por conseguinte, exige uma abordagem de longo prazo.

Segundo Heijden (1996), o horizonte de cenarização não só

depende da natureza da indústria, mas também do assunto objeto dessa

cenarização. Porter (1992) complementa lembrando que a definição

desse período de tempo deve refletir o horizonte de tempo das decisões

de investimentos mais importantes da organização.

Baseado em levantamento realizado por Stollenwerk (1998),

pode-se verificar a existência de cenários desenvolvidos para sistemas

mundiais e multinacionais com horizonte temporal de 25 anos, como, por

exemplo os “Global Scenarios 1995-2020” da Shell (1995); os sistemas

nacionais, por exemplo o “Alternative Scenarios for Central Europe: 1992-

2007” (van ZON, 1992) e os “Cenários Exploratórios do Brasil: 1998-

2020” (SAE, 1997), de horizonte temporal de 22 anos.

Os sistemas também podem ser setoriais, como por exemplo o

desenvolvido pela Interpublic (Schoemaker, 1995), empresa que atua na

área de propaganda. Como essa atividade possui uma velocidade de

mudanças muito grande, pelo fato de ser fortemente influenciada por

diversos fatores conjunturais, o cenário foi desenvolvido com horizonte

temporal de sete anos.

Pode-se também citar sistemas regionais, estaduais ou municipais

como, por exemplo, “Los Angeles 2007: Implication of Scenarios Analysis

for Energy Forecasting 1987-2007” (Millett, 1992), sistemas empresariais


29

como por exemplo “Scenarios Planning at British Airways - A Case Study

1994-2004” (Moyer, 1996) e o “Twelve Scenarios for SCE: Case Study

1987-1997” (SCE, 1992), ambos de 10 anos.

Encontram-se exemplos em que na definição do sistema foi

considerado mais de um fator como no caso da Eletronorte (1988) cujo

horizonte temporal foi de 22 anos. O fato da empresa ser do ramo de

energia - que em média possui horizonte temporal variando entre 10 e 15

anos - associado a uma região de fronteira como é o caso da Amazônia

alongou o horizonte de tempo do sistema.

Um cenário completo contém seis componentes principais: um

título, uma filosofia, variáveis, atores, cenas e trajetória. O título de

qualquer cenário, segundo Schwartz (1996, p. 202), é possuidor de uma

carga tremenda, pois age com sua referência. O título servirá como

lembrança ou como referência de um cenário específico. Logo, todo título

deverá condensar a essência da história escrita, delineada em poucas

palavras, para que exerça bem sua função. Os nomes a eles atribuídos

devem dar a idéia da lógica dos cenários, devem ser vivos e de fácil

memorização.

A filosofia sintetiza o movimento ou a direção fundamental do

sistema considerado. A filosofia constitui a idéia-força do cenário. Nos

estudos de caso considerados verificamos que em muitos a filosofia vem

até destacada, a exemplo dos cenários desenvolvidos pela Eletronorte

(1988) e pela SAE (1997).

As variáveis representam aspectos ou elementos relevantes do

sistema ou do contexto considerado face ao objetivo a que se destina o


30

cenário. Os atores são indivíduos, grupos, decisores, organizações ou

associações de classes que influenciam ou recebem influência

significativa do sistema e/ou contexto considerado no cenário. O ator

desempenha papel importante no sistema, influencia o comportamento

das variáveis com o objetivo de viabilizar seus projetos (Godet, 1993).

A cena é uma visão da situação considerada em um determinado

instante do tempo, a qual descreve como estão organizados ou

vinculados entre si os atores e as variáveis neste instante. A trajetória é o

percurso ou caminho que o sistema seguirá no horizonte de tempo

considerado. Descreve o movimento ou a dinâmica deste sistema, a partir

da cena inicial até a cena final.

2.3.2 Características e tipologia dos cenários prospectivos

Um cenário possui diversas características. A mais importante

delas é a visão plural do futuro, isto é, como este não está escrito, parte-

se do pressuposto de que existem vários futuros.

A visão de longo prazo e a ênfase no aspecto qualitativo são

outras características dos cenários. Conforme já abordado anteriormente,

o principal objetivo dos cenários é facilitar a definição de estratégias, e,

assim, não se justifica o desenvolvimento de cenários que não sejam de

longo prazo. Como no longo prazo as variáveis quantitativas perdem seu

significado em função da incerteza implícita, os cenários são baseados

em variáveis qualitativas.

Após a elaboração de qualquer cenário deverá ser verificada sua

consistência, ou seja, a coerência interna de um cenário. Isto significa


31

verificar se há compatibilidade mútua entre a filosofia, trajetória e cenas

integrantes de um cenário. Segundo Porter (1992), a credibilidade de um

cenário pode ser prejudicada se ele estiver baseado em suposições

altamente improváveis.

Simpson (1992) sugere que os planejadores que se utilizam de

cenários como ferramenta de planejamento devem periodicamente

responder as seguintes perguntas para testar a efetividade da utilização

do instrumento: Os cenários são produtivos? Cada cenário é distinto em

seu estado fundamental? Os cenários são internamente consistentes?

Cada cenário é plausível? Os cenários têm nomes memoráveis que os

integrem à tomada de decisão?

Outra característica interessante dos cenários é o fato deles não

poderem ser comprados. Para serem efetivos devem ser desenvolvidos

dentro da organização. Heijden (1996) explica essa característica pelo

fato de que as ações dos seres humanos e das organizações não serem

respostas à realidade, mas a uma versão interiormente construída de

realidade, sendo sempre necessário atentar para diferenças existentes

entre realidade e o modelo mental interno.

Segundo Schwartz (1996), os cenários se caracterizam,

principalmente, pelo fato de serem tanto plausíveis quanto

surpreendentes. Devem ter a capacidade de quebrar velhos estereótipos,

e o processo de elaboração deve ser o mais participativo possível, sem o

qual, certamente, fracassará.

Sob o ponto de vista da aplicação, os cenários podem ser globais,

focalizados ou de projetos. Os cenários globais são desenvolvidos com o


32

objetivo de definir as estratégias globais. Focam, em seu conteúdo, as

questões políticas, macroeconômicas, sociais e tecnológicas tanto em

nível nacional quanto mundial. Os cenários focalizados servem para

definição das estratégias regionais ou setoriais. Nestes cenários são

considerados os movimentos da concorrência, as tendências de preço e o

risco tecnológico e de investimento. Os cenários de projeto são

desenvolvidos para a tomada de decisão referente a investimentos que

envolvam grande incerteza ou que exijam longo prazo de maturação

(Stollenwerk, 1998).

Quanto à tipologia, os cenários são qualificados pela sua

natureza ou probabilidade e podem ser classificados como normativos ou

exploratórios. Os cenários normativos são aqueles cenários que

configuram futuros desejados, exprimindo sempre o compromisso de um

ou mais atores em relação à consecução de determinados objetivos e

projetos ou à superação de desafios empresariais ou tecnológicos. A

lógica de construção desses cenários consiste em estabelecer primeiro o

futuro desejado para depois traçar as trajetórias para alcançá-lo (Godet,

1993). Temos como exemplo os cenários construídos pela SAE (1997)

para o Brasil. Foram construídos inicialmente três cenários exploratórios

e, posteriormente, um cenário normativo (Capítulo 6.2.2).

Os cenários exploratórios caracterizam-se por futuros possíveis

ou prováveis do sistema considerado e/ou do seu contexto, mediante a

simulação e o desenvolvimento de certas condições iniciais. Podem se

subdivir em dois tipos: cenários extrapolativos ou cenários múltiplos.


33

Os cenários exploratórios extrapolativos são aqueles em que o

futuro configura-se como um prolongamento do passado e do presente.

Geralmente são construídos em ambiente com poucas incertezas e

caracterizam-se ou por serem cenários livres de surpresas23 ou por

possuírem apenas variações canônicas24 de um futuro livre de surpresas.

Os cenários desenvolvidos pelo Centro de Sinalização Náutica Almirante

Moraes Rego25 são exemplos de variações canônicas.

Já os cenários exploratórios múltiplos são aqueles construídos

em ambiente de grande incerteza: pressupõem rupturas nas trajetórias de

futuro, que por sua vez podem ser traduzidas em opções plausíveis ou

prováveis qualitativamente distintas. Podem ser de dois tipos: cenários de

referência ou cenários alternativos. Os cenários de referência descrevem

o futuro considerado como de ocorrência mais provável. É o cenário

balizador da gestão estratégica. Podemos citar como exemplo o trabalho

realizado pela SAE (1987) quando foram desenvolvidos três cenários

exploratórios.

Simpson (1992) relata que Pierre Wack afirmava que os cenários

múltiplos descrevem mundos diferentes e não resultados diferentes no

mesmo mundo. O autor sugere que durante a construção dos cenários

deve-se cuidar para não gerar variações alternativas (alta/média/baixa) de

uma única variável e alerta para que o cenarista não incorra no erro de

classificar os cenários de otimistas ou pessimistas. Huss (1987)

complementa essa visão lembrando que cada um dos cenários gerados

23
Extrapolação da tendência.
24
Variações na mesma tendência como, por exemplo, a construção de um cenário otimista e outro pessimista.
25
Confira Cap. 6.2.3. p. 122 desta obra.
34

apresenta oportunidades e ameaças para a organização. Sendo assim,

não podem ser considerados exclusivamente otimistas ou pessimistas.

2.3.3 Número de cenários prospectivos a analisar

Apesar do futuro ter um número de possibilidades infinitas de

acontecimentos, torna-se improdutivo tentar explorar todas essas

possibilidades. Não existe nenhuma determinação quanto ao número de

cenários que devem ser desenvolvidos, entretanto alguns autores como

Geus (1997), Schwartz (1996) e Heijden (1996) sugerem que cenários em

quantidade demasiada podem vir a confundir os administradores. Os

autores argumentam que acima de quatro cenários a análise tende a se

tornar complexa demais, pois os administradores não conseguem

acompanhar todos os desdobramentos desses cenários em suas mentes.

Schwartz (1996, p. 217) sugere que não se dever produzir três

cenários para evitar a tentação de se identificar o intermediário como o

mais provável e tratá-lo como uma previsão.

Segundo Geus (1997), um número desequilibrado proporciona ao

gerente uma infeliz rota de fuga, no sentido de tender a ignorar as

implicações dos cenários e escolher o cenário do meio ou o futuro

contemporizador, já que são vistos como alternativas aos extremos.

Simpson (1992) argumenta que quando o processo de

cenarização gera mais de quatro cenários, pode significar que a empresa

considerou questões que não são cruciais para sua atuação. Por outro

lado, se forem gerados somente dois cenários, é provável que tenha tido

uma visão simplista.


35

Ao contrário da posição de Simpson (1992), Geus (1997) e

Schriefer (1995) sugerem que dois cenários são provavelmente um bom

número para o exercício de cenarização, pois os gerentes têm de

escolher entre eles e, portanto, refletir sobre as ramificações de ambos.

Deixam, porém, a ressalva de que este número não deve ser fixo e que

ele depende da necessidade da organização associada ao momento em

que esta se encontra.

Já Grumbach (1997) sugere a construção de cinco cenários, a

exemplo do trabalho realizado pelo Centro de Sinalização Náutica da

Marinha Brasileira26. A SCE (1992) construiu 12 cenários para a área de

energia, pois tinha como objetivo a construção de uma estratégia robusta.

Na Shell Brasil, são construídos inicialmente cinco cenários27 e, no final

do processo, o número é reduzido para dois. Convém observar que,

apesar do risco dos administradores escolherem o cenário intermediário,

na prática, a maioria dos exemplos que se conhece referem-se à

construção de três cenários.

Verifica-se que o número de cenários deve ser escolhido de

acordo com o perfil da empresa e os objetivos a serem alcançados. Esse

número deve servir para facilitar a definição das estratégias da empresa e

não para complicar o processo.

2.3.4 Opções estratégicas sob cenários prospectivos

Segundo Porter (1992, p. 434), após o desenvolvimento dos

cenários, sua utilização será para a formulação da estratégia competitiva

26
Confira cap. 6.2.3, p. 122 desta obra.
27
Confira cap. 6.2.1, p. 112 desta obra.
36

da empresa. Ele afirma que os cenários não são um fim em si mesmos e

que se não forem utilizados para formular estratégias todo o esforço de

sua confecção terá sido inútil.

Para a construção das estratégias da empresa com base em

estudos de cenários, Porter (1992, p. 436) define as seguintes opções

estratégicas para a empresa:

• apostar no cenário mais provável, ou seja, a estratégia será

baseada no cenário de maior probabilidade de ocorrência -

estratégia adotada pela maioria das empresas;

• apostar no melhor cenário, isto é, definir a estratégia baseada

naquele cenário que a organização acredita ser o melhor para

o seu posicionamento competitivo futuro;

• buscar robustez, ou seja, definir a estratégia que produza

resultados satisfatórios em todos os cenários;

• buscar flexibilidade. Neste caso, adota-se uma estratégia

flexível até que o cenário mais provável se torne aparente

para a empresa;

• influenciar a ocorrência do melhor cenário, estratégia pela

qual a organização busca aumentar a probabilidade de

ocorrência do melhor cenário;

• combinar algumas das alternativas anteriores.

A mais comum das opções estratégicas adotada pelas empresas

é a de apostar no cenário mais provável. Existem muitas empresas que

combinam essa opção com outra alternativa como foi o caso da

Interpublic (Schoemaker, 1995) que, apesar de apostar no mais provável,

também flexibiliza sua estratégia a partir do momento em que tem como


37

lema “pense global e atue local” e segue os outros cenários por ela

desenhados.

Entretanto, somente as grandes empresas têm condições de

influenciar a ocorrência do melhor cenário, definir sua estratégia de modo

a buscar o aumento da probabilidade de ocorrência do melhor cenário, e

criar o seu futuro como sugere Prahalad e Hamel (1995).

Porter (1992) e Schwartz (1996) sugerem que, já que uma

empresa não sabe, antecipadamente, qual cenário deverá ocorrer em

função da incerteza do ambiente, deverá, então, optar pela definição de

uma estratégia robusta independente do cenário que ocorra. Pode-se

citar como exemplo extremo o caso da SCE (1992), que elaboraram 12

cenários para o desenvolvimento de uma estratégia o mais robusta

possível.

Segundo Schwartz (1996), é importante que os administradores

vivenciem cada cenário e definam quais estratégias ou ações deverão ser

adotadas em cada um deles, para que a empresa tenha sucesso,

independente do cenário que ocorra.

Schoemaker (1992) sugere que o desenvolvimento da visão

estratégica da empresa e a identificação de suas opções estratégicas

deverão ser feitas com base na análise das suas competências

essenciais28 e de seus concorrentes em cada cenário desenvolvido. A

partir desta análise, serão identificadas quais competências essenciais

deverão se tornar motrizes para o futuro.

28
Ou Core Competence : é aquela capacidade de fazer algo que é exclusivamente sua e difícil de ser imitada
pelos outros (Prahalad, 1997).
38

2.3.5 A monitoração ambiental e o desenvolvimento de cenários

A empresa não é mais vista como um ente isolado. Apesar da

importância do acompanhamento dos dados internos da empresa, é

preciso reconhecer que os números, ainda que exatos, descrevem o

passado, e não indicam as condições subjacentes que levarão a uma

futura deterioração da saúde da empresa (Geus, 1997).

Além disso, a todo o momento a empresa sofre influência tanto

do seu ambiente negocial como de todo o macroambiente, que está em

constante mutação em velocidade acelerada.

Em função da velocidade com que o macroambiente está se

modificando, as empresas têm sido muito mais afetadas por ele do que

pelo ambiente de sua própria indústria. Com base nessa constatação,

tem crescido a necessidade de monitoração ambiental que, segundo

Stoffels (1994), se constituem num conjunto de técnicas capazes de

transcrever as questões da competitividade externa à empresa, as quais

dizem respeito às variáveis social, política, econômica e tecnológica, que

podem ser difíceis de serem observadas ou diagnosticadas, mas que não

podem ser ignoradas.

O monitoramento leva a empresa a ampliar o foco de tomada de

decisão ao incluir as perspectivas do macroambiente. Stoffels (1994)

complementa dizendo que uma organização que não se adaptar a essa

nova realidade do ambiente e interagir com ele, não sobreviverá, pois não

terá capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças.


39

Segundo Stoffels (1994), o monitoramento ambiental só resultará

na manutenção da competitividade da empresa se de sua análise forem

elaborados estudos a respeito do futuro. Entretanto, para a construção de

bons cenários nesse novo ambiente competitivo, torna-se importante a

constante incorporação dos resultados da monitoração ambiental aos

estudos de futuro.

Basicamente, podemos obter as informações advindas do

ambiente externo de duas fontes: as formais e as informais. As fontes de

informações formais são aquelas em que a informação está escrita como,

por exemplo, os livros, jornais, revistas etc. As fontes de informações

informais são aquelas em que as informações não foram ainda escritas.

Vários autores como Schwartz (1996), Stoffels (1994) e Wack

(1985) dão grande peso às fontes informais de informação como redes de

informações, pessoas, conferências, viagens etc. Essas fontes são o

modo mais econômico e comum de monitorar o ambiente e são

freqüentemente utilizadas pelas áreas de Inteligência Competitiva.

Stoffels (1994) sugere que a empresa deve encorajar a

comunicação e o diálogo entre seus funcionários sobre suas impressões

a respeito do ambiente e cruzar essas informações para ampliar sua

visão. Schwartz (1996) relata que o futurista potencial aprende a observar

até o que não parece importante. Ele sugere que esses profissionais

conversem com pessoas que tenham opinião discordantes, mas de forma

amigável. Não deve haver restrições quanto à leitura, ela deve abordar

inclusive os assuntos mais distantes de seus interesses profissionais

imediatos.
40

Pierre Wack acreditava que caso se pretendesse “ver” o futuro,

não se deveria fazer uso de fontes convencionais de informação. Todo

mundo as conhece igualmente bem e, por isso, não trazem nenhuma

vantagem adicional. Terá que procurar pessoas realmente diferentes que

consigam sentir o pulsar da mudança, que consigam ver forças

significativas, porém surpreendentes, que motivem mudanças (Schwartz,

1996, p. 75). Esta atitude pode ser verificada no método utilizado pela

SAE29 para elaboração dos cenários para o Brasil quando ouviu os

jovens, religiosos e membros do MST e da CUT.

O processo de elaboração de cenários envolve muita pesquisa,

objetivando a busca qualificada de informações. Isso é praticado tanto de

maneira restrita - procurando os fatos necessários para um cenário

específico - quanto ampla - para promover o aprendizado, para que as

questões mais significativas sejam abordadas. A investigação não é

apenas uma ferramenta útil para coletar fatos, ajuda a afiar sua

capacidade de perceber. Schwartz (1996, p. 71) sugere que se deva

procurar os fatos e percepções que desafiem os pressupostos já

definidos. Você procura provas para desconfirmá-las.

Como só prestamos atenção no que achamos que precisamos

saber, o planejador de cenários deve estar consciente de seus filtros e

estar constantemente reajustando-os para possibilitar a entrada de mais

dados sobre o mundo. Entretanto, Schwartz (1996) lembra que devem ter

cuidado para não se perderem em meio à abundância de informações.

Schwartz (1996, p. 72) também relata que os futurólogos dizem

que "ligam o radar". Ele considera essa analogia muito interessante, dado

29
Confira cap. 6.2.2 p. 116 desta obra.
41

que o radar envia um sinal de alta freqüência e espera que os objetos

respondam ao sinal. Quando algo inusitado aparece na tela de exibição

você presta bastante atenção. Na coleta de informações o planejador tem

um papel igualmente ativo: envia sinais para ver o que recebe de volta. O

autor ainda sugere que, ao procurar um assunto, o cenarista deve utilizar

diferentes modelos mentais, e, assim, esse procedimento levará à

formação de diferentes pontos de vista a respeito do mesmo assunto, o

que enriquecerá as conclusões.

Apesar de cada processo de elaboração de cenários exigir uma

pesquisa específica, verifica-se que alguns assuntos estão sempre

presentes. Schwartz (1996, p. 62) sugere que esses assuntos devam ser

constantemente monitorados e propõe alguns temas, tais como:

• ciência e tecnologia - um dos elementos impulsionadores de

acontecimentos futuros mais importantes;

• acontecimentos que formam a percepção - aqueles que

estão associados à opinião pública. A TV é um bom canal

para obter essas informações, pois mostra o que as pessoas

acreditam que está acontecendo;

• música - pois mostra o que as pessoas estão sentido. É uma

janela para a liberdade no futuro;

• o campo experimental e alternativo.

Schwartz (1996, p. 73) também sugere onde procurar:

• Pessoas notáveis - porque extrapolam os especialistas.

Podem ser, por exemplo, pensadores não convencionais,

escritores e músicos.
42

• Cursos, conferências, lançamento de livros e em conversas

com as pessoas. As pessoas, em geral, passam informações

gratuitamente para pessoas educadas, atenciosas e bem

informadas, especialmente para aquelas que fazem

perguntas inteligentes. Cultive a amizade das pessoas.

• Fontes de surpresa - arrume tempo para ler sobre assuntos

de fora de sua especialidade. Amplie seus hábitos de leitura.

Procure surpresas, ou seja, percepções que sejam novas

para você. Acompanhar os livros que estão sendo

publicados, ou seja, o que há de novo sobre o que se está

escrevendo.

• Filtros - É também importante ter pessoas que indiquem

quais livros são interessantes, ou que atuem como filtros de

conhecimento.

• Sugere algumas publicações importantes como Discover

(revista americana popular de ciência). No caso brasileiro,

poderia ser usada a revista “Super Interessante” ou “Globo

Ciência”, ambas da editora Globo. The Economist (revista

inglesa considerada a melhor fonte de informações sobre o

que está ocorrendo no mundo hoje). Foreign Affairs (o

principal periódico do pensamento dominante sobre relações

internacionais).

• Ler o caderno de ciências e de informática de qualquer

jornal.

• Participar de redes de discussão.

• Imersão em ambientes que apresentem desafios - viajar é a

única e melhor maneira de você entrar em um universo não


43

familiar. As viagens fazem você perguntar por que as

pessoas naquele lugar vivem daquela maneira. O que criou

suas relações, metas e valores. O que estão tentando

realizar. Use transporte público, ande pela ruas. Tenha

contato com os nativos.

Fica também claro a importância do desenvolvimento de uma

rede de especialistas tanto interna quanto externa à empresa para um

bom monitoramento, o que conduzirá à elaboração de bons cenários.

Geus (1997, p. 35) relata que a partir do início de 1970, o grupo de

planejamento da Shell desenvolveu uma ampla rede de contatos externos

escolhidos por sua percepção e entendimento daquilo que ocorria no

mundo em geral. Além disso, a empresa possui uma rede formada por

representantes de todos os centros planejadores de cenários espalhados

por 120 países30 nos quais ela se encontra.

As redes de relacionamento são importantes para o

30
Confira cap. 6.2.1, p.112 desta obra.
44

desenvolvimento dos cenários. O objetivo de estar ligado a uma rede de

pessoas notáveis é poder estar inserido em um fluxo de informações

altamente concentrado e filtrado, obtendo, assim, as percepções desses

especialistas sobre futuros alternativos. Segundo Schwartz (1996),

participar de várias redes não apenas abre espaços, mas permite o

cruzamento de insights de pessoas dos mais diferentes lugares.

Outra monitoração importante diz respeito à identificação das

estratégias dos atores. Godet (1987) afirma que não é fácil fazer com que

os atores falem sobre suas estratégias, entretanto, comentam mais

facilmente as intenções dos outros atores, o que pode ser utilizado como

excelente insumo para a identificação dos movimentos dos diversos

atores.

2.3.6 Cenários e o aprendizado organizacional

O tema aprendizado organizacional entra em voga com o início

da sociedade do conhecimento. Como, a princípio, o conhecimento de

uma empresa fica “arquivado” na memória de seus funcionários, este

toma o lugar do capital como fator escasso de produção, o que leva ao

aumento da preocupação por parte das empresas a respeito de como

promover o aprendizado organizacional.

Segundo Geus (1997), uma das maiores contribuições que os

estudos de futuro proporcionam para a empresa é o aprendizado. O

processo pelo qual as equipes passam para elaboração de cenários

prospectivos proporciona uma mudança nos seus mapas mentais em

relação à sua companhia, aos mercados e aos competidores. Esse


45

processo facilita a adaptação à nova realidade que está constantemente

mudando.

Para que essa adaptação não seja traumática, conforme explica

ainda Geus (1997), a empresa tem como desafio perceber e reagir às

mudanças do ambiente antes da dor de uma crise. Para que ela possa

reagir, entretanto, deverá ter conhecimento de si e do ambiente onde

atua. Logo, a sensibilidade ao meio ambiente passa a representar a

capacidade da empresa de aprender e se adaptar.

A associação do aprendizado organizacional com o planejamento

baseado em cenários prospectivos surgiu com os estudos de Geus

(1998) a respeito da longevidade das empresas, desenvolvido durante

sua atuação na área de planejamento da Royal Dutch/Shell.

Esses estudos mostraram que a maioria das empresas com

grande longevidade havia antecipado a necessidade de mudar, no

mínimo uma vez durante a vida.

“Com freqüência, essa necessidade de mudança havia

nascido de uma crise em meio a uma nova ameaça proveniente do

ambiente de negócio. Freqüentemente alguém de dentro da

empresa identificava a iminência da crise, porém não como uma

crise, mas sim como uma nova oportunidade, uma rota alternativa

para o crescimento e a rentabilidade da empresa” (Geus, 1997, p.

23)

Geus (1997) explica que os gerentes geralmente não exercitam a

antevisão, pois existe uma forte resistência humana a mudança. Cita que

os psicólogos argumentam que a mudança ocorre quando a

sobrevivência depende da mudança e essa resistência somente é


46

superada através de um sofrimento profundo e prolongado. Segundo o

autor, o equivalente corporativo do sofrimento é a crise e somente no

auge da crise as pessoas da empresa sofrerão, ficando convencidas de

que algo precisa ser feito.

Para evitar o sofrimento, Geus(1997) sugere que as pessoas

deveriam agir antes da crise se instalar, ou seja, a empresa deveria

identificar os sinais da crise antes que ela se instale. Entretanto, se o

único fator determinante fosse esse, bastaria o trabalho de elaboração e

apresentação de cenários para que houvesse a mudança, mas ele não é

suficiente.

Com o surgimento da psicologia cognitiva e do estudo dos mapas

mentais descritos por Seng (1998), alguns psicólogos começam a afirmar

que as pessoas só conseguem enxergar aquilo que já experimentaram de

alguma forma, ou seja, que já exista algum registro de evento anterior na

mente. Segundo Geus (1997, p. 31), não se consegue enxergar o que a

mente não experimentou antes. Só conseguimos enxergar aquilo que é

relevante para nossa visão do futuro e não conseguimos enxergar aquilo

que é emocionalmente difícil de ver. Em todas as grandes empresas, pelo

menos algumas pessoas anteciparam as crises e deram alertas prévios.

Entretanto, na maioria dessas empresas não foram implementadas as

mudanças internas necessárias em tempo hábil.

Segundo Schwartz (1996, p. 30), os estudos de neurobiologia

desenvolvidos pelo doutor William Calvin e o doutor David Ingvar,

concluíram que o cérebro humano está a todo momento tentando abstrair

um significado do futuro. Em cada momento de suas vidas, os seres


47

humanos criam instintivamente planos e programas de ação para o futuro

em alguma parte de suas mentes. Esses planos são organizados de

forma seqüencial como uma série de ações possíveis: se isso acontecer

faz-se aquilo, se não, faz-se isso. Não se trata de previsões, pois não se

propõe a dizer o que vai acontecer. Trata-se de lapso de tempo na

antevisão de um futuro. Cada plano combina uma condição hipotética

futura do meio ambiente com uma opção de ação. Os seres humanos são

capazes de planejar décadas, e de levar em conta contingências

extraordinárias e irregulares. O ser humano pode simular o passado e o

futuro em sua mente praticando atos diferentes e julgando qual é o

melhor.

O cérebro não só fabrica esses lapsos de tempo como os

armazena. A todo momento visitamos estes futuros e lembramos de

nossas visitas. Em outras palavras, tem-se uma memória do futuro sendo

continuamente formada e otimizada na imaginação, que é repetidamente

revisitada. A memória do futuro é um processo interno do cérebro

relacionado à capacidade da linguagem e à percepção (Geus, 1997).

Esta pesquisa leva a mensagem de que somente se percebe um

sinal do mundo exterior se ele for pertinente a uma opção de futuro que já

tenha sido arquitetada na imaginação. Quanto mais memórias do futuro

desenvolvemos, mais abertos e receptivos estaremos aos sinais do

mundo exterior.

Se o aprendizado começa com a percepção, então a teoria do

doutor Ingvar tem implicações importantes para as gerências que estejam

tentando guiar sua empresa em meio a um ambiente turbulento. O ato da


48

percepção não é simplesmente olhar para um objeto e registrar toda

sorte de observações e dados em relação a ele. Para que haja percepção

é necessário envolver-se ativamente com o mundo.

Como não possui esses mecanismos que o cérebro humano

possui, a empresa precisa desenvolver mecanismos de visita ao seu

futuro, bem como, desenvolver lapsos de tempo e opções tal qual a

mente humana faz. Caso contrário, as observações obtidas do ambiente

não terão nenhum significado.

Geus (1997) relata que é importante perceber que prever o futuro

é muito diferente de criar o tipo de alternativa de lapso de tempo do futuro

que é sugerido. No mundo real existe uma insaciável demanda por

previsões. O desejo de alguma certeza em relação ao futuro é tão forte,

que muitos agem contra seus melhores julgamentos e exigem alguma

previsão precisa do futuro. Isso explica a existência, no mundo inteiro, de

uma indústria que fornece informações sobre o futuro - de adivinhadores

e astrólogos a consultores, acadêmicos e especialistas.

O planejamento com base em cenários deve ser encarado como

uma ferramenta para a empresa aprender a antecipar os futuros

possíveis, construir memórias desses futuros e preparar-se para eles, e

não como um ato de minorar a incerteza por meio de previsões, como

geralmente é realizado. A Royal Dutch/Shell foi a primeira empresa no

mundo a utilizar planejamentos por cenários com a visão de fabricar

memórias do futuro.

Geus (1997) vai além e relata que, segundo os estudos de Piaget,

há dois tipos de aprendizado: por assimilação e por acomodação.


49

“Aprender por assimilação significa absorver informações

para as quais o aprendizado já possui estruturas montadas que

possibilitam reconhecer e dar significado ao sinal. O aprendizado já

possui uma memória do passado ou do futuro na qual a nova

informação se encaixa. O aprendiz consegue facilmente perceber,

assimilar e agir com base nessa informação. A maioria das

informações utilizadas em decisões operacionais entra nessa

categoria.” (Geus, 1997, p. 59).

“O aprendizado por acomodação ocorre quando a pessoa

passa por uma mudança estrutural interna em suas crenças, idéias

e atitudes. Quando você aprende por assimilação as palestras e

livros do aprendizado escolar convencional são suficientes, mas

aprender por acomodação exige muito mais. Trata do processo

fundado na experiência pelo qual a pessoa se adapta às mudanças

do mundo por meio de experimentos profundos dos quais participa

plenamente, não sabendo qual será o resultado final, mas ciente

de que estará diferente quando sair do outro lado. Essa inter-

relação com o meio ambiente efetivamente faz a pessoa crescer,

sobreviver e desenvolver seu potencial.” (Geus, 1997, p. 60)

Com base nessas teorias, chega-se à conclusão de que a

empresa que aprende apenas por assimilação poderá não sobreviver por

muito tempo no ambiente atual em constante mudança, pois ela

precisaria passar pela crise para aprender ou repetir o que ela ou outros

já fizeram em outros momentos, o que necessariamente não garante

sucesso. No entanto, para aprender por acomodação a empresa

precisaria experimentar a crise.


50

Para solucionar esse impasse, Geus (1997) sugere que a

empresa “brinque”, artifício que também acelera e fortalece o processo de

aprendizado organizacional. Como brincar é experimentar algo que

represente a realidade, a empresa poderá fazer experiências sem ter de

temer as conseqüências, e aprender por acomodação ao testar as

diversas possibilidades do mundo real.

Um bom exemplo desse tipo de dinâmica é praticado há anos

pelas Forças Armadas ao treinarem suas tropas através dos "jogos de

guerra". Ao simularem situações de guerra, fazem com que seus homens

aprendam por acomodação e mostram que "brincar" é o melhor método

de aprendizado. A NASA também utiliza esse artifício para treinar seus

astronautas, e as instituições financeiras também têm se utilizado desse

tipo de treinamento por meio dos conhecidos cursos de "Boss Game".

O planejamento baseado em cenários traz também contribuições

sobre esse aspecto, caso a equipe de planejamento consiga levar os

tomadores de decisão da empresa a "brincarem", ou seja, a cada cenário

apresentado estes tenham que imaginar que estão vivendo aquela

realidade, levando-os a definir quais os principais movimentos que a

empresa deva fazer para sobreviver naquele ambiente. Formam-se,

assim, os lapsos de tempo e suas opções, tal como na mente humana,

como também, gera-se o aprendizado por acomodação, dado que

experimentam cada situação futura do ambiente e tomam decisões.

Segundo Heijden (1996), os cenários contribuem para o processo

de aprendizado organizacional de várias formas. Criam uma linguagem

única na empresa, facilitando a conversa estratégica mesmo com


51

elementos de visões conflitantes. É também um veículo que promove a

discussão de aspectos pertinentes ao negócio em um contexto muito

maior, além de servir para alinhar os modelos mentais dos dirigentes,

permitindo ações estratégicas mais coerentes.


52

3 MÉTODOS PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS

3.1 Abordagem metodológica para construção de cenários


prospectivos

Existem várias técnicas que podem ser utilizadas para realçar o

pensamento estratégico através da elaboração de uma visão de futuro,

mas, segundo Schoemaker (1993), a análise de múltiplos cenários

constitui-se numa ferramenta para examinar incertezas e expandir o

pensamento das pessoas. Também promove a comunicação interna da

empresa e trata de questões estratégicas. As outras técnicas sozinhas,

como exemplo, o brainstorming31 e a análise morfológica32 são limitadas.

Entretanto, essas técnicas são muito utilizadas por vários

métodos de elaboração de cenários prospectivos, mas isoladamente não

são ferramentas que tratem da incerteza e pouco contribuem para

promover a comunicação interna na empresa.

31
Técnica de trabalho em grupo onde se pretende produzir o máximo de soluções possíveis para um
determinado problema. Serve para estimular a imaginação e fazer surgir idéias que seriam mais difíceis de
ocorrer às pessoas isoladamente (Grumbach, 1997, p. 34).
32
Envolve a decomposição de um problema em vários elementos, identificando as várias formas e valores que
estes elementos podem assumir - atributos. Posteriormente, sintetiza-se todas as soluções alternativas pela
combinação dos atributos de diferentes maneiras. Os atributos são escritos em forma de matriz para
simplificar o processo (Grumbach, 1997, p. 36).
53

Outra ferramenta citada por Schoemaker (1993) é o método

Delphi que, segundo Rattner (1979), procura superar os problemas

psicológicos do comportamento em grupo mediante três procedimentos:

anonimato, disposição estatística dos dados e retroalimentação do

raciocínio elaborado. O objetivo desta técnica é obter antecipações de

peritos com um mínimo de influência. As contribuições individuais são

mantidas no anonimato para evitar o problema da influência do trabalho

em grupo ou causados pela não- manifestação em função de status.

Apesar de tratar as incertezas e promover a comunicação interna

na empresa, Schoemaker (1993) e Rattner (1979) apontam alguns

problemas do método Delphi. São eles: escopo de aplicação restrito; não

servir para identificar questões estratégicas; ocorrência de alguns

problemas33 durante a aplicação do método.

Huss e Honton (1987) identificaram três métodos distintos de

análise de cenários. O primeiro descrito foi o método utilizado pela SRI

International - empresa de consultoria que trabalhou prestando serviços

para a Royal Dutch/Shell durante os seus primeiros estudos de

elaboração de cenários, na década de 70. Tem como foco uma

perspectiva lógica e intuitiva sem levar em consideração nenhum

algoritmo matemático. Semelhante ao método da GBN34, no entanto, não

se preocupa em influenciar a mentalidade do tomador de decisão.

33
Formulação inadequada do problema; formulação inadequada das perguntas; omissão de áreas de
conhecimentos significativas na seleção dos respondentes; falta de conhecimento das interações dos diversos
fatores pelos especialistas, cuja competência não ultrapassa o próprio campo; possibilidade de engano casual
ou deliberativo (Rattner, 1979).
34
Método da Global Business Network - que será abordado nos próximos capítulos.
54

O segundo método é o de impactos de tendências utilizado pela

The Future Group. Baseia-se em técnicas de previsão clássica e utiliza-se

de séries temporais e modelos econométricos. Este método contraria

características da prospectiva que sugere a utilização de dados

qualitativos para elaboração de cenários e a visão de que o futuro é

múltiplo e incerto. Baseia-se apenas em projetar o passado no presente

com base em variáveis quantitativas como se o futuro fosse pré-

determinado pelos eventos do passado.

O terceiro método é o de análise de impactos cruzados. Foi

desenvolvido para suprir a carência existente em diversos métodos de

previsão como o Delphi, a análise morfológica e o brainstorming, que não

consideram as relações existentes entre as diversas variáveis em estudo,

projetando-as de forma isolada, sem considerar suas interações.

Para a elaboração dos impactos cruzados existem, segundo Huss

e Honton, dois métodos populares: o Interative Cross-Impact Simulation -

INTERAX, desenvolvido pelo The Center for Future Research; e o Battelle

Scenario Inputs to Corporate Strategicies - BASIC, concebido pelo

Battelle Columbus Division. Entretanto, esses métodos não são tão

completos como os métodos de cenários prospectivos, apesar de

também produzirem múltiplos cenários.

Na prática, Godet (1996) defende que não há um único método

de construção de cenário, mas uma variedade de métodos. Porém, o

termo método de cenário só se aplica a uma aproximação que inclua

alguns passos específicos como: análise de sistemas, retrospectiva,


55

identificação das variáveis, seu comportamento e relações, estratégia dos

atores e elaboração de cenários múltiplos.

Godet (1996) lembra que os dados disponíveis são abundantes e

incompletos e que um modelo não representa a realidade, mas um meio

de visualizá-la. A imperfeição das ferramentas, a inexatidão de dados e a

subjetividade da interpretação são pontos inevitáveis que conduzem a

opções por aproximações pluralistas e complementares. Até onde for

possível, os resultados de um modelo deveriam ser testados quanto à

sua sensibilidade para uma variedade de dados por meio do uso de

outras ferramentas. Somente os resultados robustos deveriam ser

considerados dignos de crédito. O mais importante em um estudo não é

tanto o relatório resultante, mas o processo que conduz a ele.

Godet (1996) também sugere que, para construir cenários e

definir estratégias, é necessário usar ferramentas que sejam simples para

que os resultados possam ser internalizados pelos usuários. Tal

apropriação é necessária para transformar a antecipação em ação. Essas

ferramentas simples devem também ser racionais para estimular a

imaginação, melhorar a coerência e facilitar a apropriação.

Descreve-se a seguir, de forma resumida, as etapas de quatro

métodos para elaboração de cenários múltiplos encontrados na literatura

especializada. Apesar da existência de outros métodos, optamos apenas

pelos métodos que abordam a construção de cenários prospectivos e que

possuem base conceitual digna de menção. A diferença existente entre

cada um diz respeito aos passos utilizados e não à filosofia. Todos

seguem os princípios descritos pela prospectiva.


56

Os métodos escolhidos foram os descritos por Michel Godet,

Michael Porter, Raul Grumbach e Peter Schwartz (método GBN - Global

Link Network), cujas sínteses foram baseadas nas respectivas obras

desses autores.

Apesar de buscarem o mesmo objetivo, os métodos possuem

características próprias, as quais serão comparadas posteriormente no

Capítulo 3.2.

3.1.1 O método descrito por Godet

O método para elaboração de cenários exploratórios descrito por

Godet (1993) é composto basicamente por seis etapas: delimitação do

sistema35 e do ambiente36; análise estrutural do sistema e do ambiente e

análise retrospectiva e da situação atual; seleção dos condicionantes do

futuro; geração de cenários alternativos; testes de consistência, ajuste e

disseminação; e opções estratégicas e planos/monitoração estratégica.

A delimitação do sistema, e do ambiente servem para especificar

a abrangência do estudo. São definidos o objeto do estudo, o horizonte

temporal e a área geográfica, ou seja, o foco do estudo. Geralmente se

parte de uma preocupação da empresa.

Delimitado o sistema inicia-se a elaboração da análise

estruturada com a elaboração de uma lista preliminar, a mais completa

possível, das variáveis relevantes do sistema e de seus principais

35
Confira cap. 2.3.1 p. 28 desta obra.
36
Contexto mais amplo onde está inserido o sistema objeto da cenarização. Influencia o sistema e é por ele
influenciado (Stollenwerk, 1998).
57

atores37. O objetivo desse levantamento é definir uma visão global tanto

do fenômeno estudado quanto sua envolvente.

Reuniões com especialistas e brainstorming são técnicas

utilizadas para a obtenção da lista de variáveis e atores. As variáveis e os

atores podem ser classificados como internos - os quais caracterizam o

sistema - ou externos - os quais caraterizam a envolvente do sistema.

Finalizada a lista de variáveis e atores, realiza-se a análise

retrospectiva do sistema com o objetivo de destacar os mecanismos e os

atores determinantes de sua evolução passada. Essa análise visa,

igualmente, pôr em evidência as invariantes38 do sistema e as suas

tendências de peso39 e fatos pré-deteminados40. Realiza-se também a

análise da situação atual que permite identificar os germes de mudanças

ou fatos portadores de futuro41 na evolução das variáveis essenciais, bem

como as estratégias dos atores que dão origem a esta evolução e suas

alianças.

A imagem do estado atual do sistema deve ser pormenorizada e

aprofundada nos planos quantitativo e qualitativo, global e dinâmico,

confirmando as tendência de peso e os fatos pré-deteminados.

37
Confira cap. 2.3.1 p. 30 desta obra.
38
Invariante - variável que não sofre variação no tempo.
39
perspectiva cuja direção é suficientemente consolidada e visível para se admitir sua permanência no período
considerado. Movimento bastante provável de um ator ou variável dentro do horizonte do cenário (Godet,
1993).
40
Evento já conhecido e certo, cujas soluções ou controle pelo sistema ainda não se efetivaram (Godet, 1993,
p. 69).
41
Sinal ínfimo por sua dimensão presente, mas imenso por suas conseqüências e potencialidades (Godet,
1993, p. 69).
58

Ao final da análise retrospectiva e da situação atual, retorna-se à

análise estruturada para elaborar uma revisão na lista preliminar de

variáveis e atores. Após a revisão, as variáveis são cruzadas para

identificação da influência de umas sobre as outras através da formação

da matriz de análise estrutural das variáveis. As variáveis são então

analisadas quanto à sua motricidade e dependência e classificadas em

variáveis-chave, de ligação, de resultado, ou autônoma.

As variáveis explicativas são as variáveis com grande motricidade

e com pouca dependência. São as variáveis que condicionam o restante

do sistema. Já as variáveis de ligação são variáveis muito motrizes, mas

que têm grande dependência das demais. São as que fazem a ligação

entre as variáveis explicativas e as de resultado variável. Por sua

natureza instável, qualquer ação sobre elas terá repercussões sobre as

outras e um efeito de retorno sobre si própria que virá ampliado ou

atenuado em função da impulsão inicial.

As variáveis de resultado são pouco motrizes e muito

dependentes, cujo comportamento será explicado pelo comportamento

das variáveis explicativas ou de ligação. Já as variáveis autônomas são

aquelas pouco motrizes e pouco dependentes. São tendências de peso

ou fatores relativamente desligados do sistema que não constituem

determinantes do futuro, podendo ser excluídas da análise.

A análise estruturada do sistema permite uma melhor

compreensão da estrutura do sistema e a relevância de cada variável no

sistema e suas atuações e implicações. É importante destacar que o


59

comportamento das variáveis durante a descrição dos cenários

obedecerá esta classificação.

O próximo passo é a análise das estratégias dos atores. Essa

análise é muito importante, pois muitas rupturas de tendências são

causadas em função do movimento desses atores. Os atores são

capazes de fazer com que o sistema evolua segundo suas ações. Caso o

comportamento de uma variável esteja em desacordo com a estratégia de

um ator, certamente esse comportamento será alterado em função das

ações desencadeadas pelo ator com o intuito de realizar o seu projeto.

Para cada sistema existem vários atores e o estudo, nesse

momento, consiste em analisar os jogos desses atores. Para tanto, é

necessária a identificação dos seus projetos e motivação, de seus meios

de ação, bem como, de seus desafios estratégicos.

A identificação dos atores mais influentes no sistema é realizada

através do cruzamento atores x variáveis para verificar a motricidade de

cada ator. Apenas os atores que apresentarem grande motricidade serão

analisados no quadro “estratégia dos atores”. Este quadro é composto

pelo cruzamento (ator x ator) das estratégias desses atores. A diagonal

do quadro é composta pelos objetivos, problemas e meios utilizados pelo

ator envolvido. Os demais cruzamentos são preenchidos pelos

meios/ações utilizados por cada ator sobre os demais, com o objetivo de

realizar o seu projeto.

Com base nessas análises, obtém-se, como resultado, as

condicionantes do futuro. Realiza-se, então, a análise morfológica pela


60

decomposição de cada variável explicativa em seus possíveis

comportamentos/estados futuros, segundo as estratégias dos atores.

Godet (1993, p. 79) observa que o número de cenários criados a

partir da combinação de todas as possibilidades futuras advindas da

análise morfológica seria muito grande e perderia seu sentido. Ele sugere

a utilização do método SMIC42 que permite, a partir de probabilidade

atribuída às hipóteses, obter uma hierarquia das 2n imagens finais

possíveis, classificadas por probabilidades decrescentes, e escolher a

imagem correspondente ao cenário mais provável e as imagens finais dos

cenários constatados. Estas probabilidades deverão ser obtidas pela

consulta a peritos.

O próximo passo constitui-se da elaboração dos cenários

propriamente dito, levando-se em conta as variáveis-chave, as tendências

de peso, as estratégias dos atores e os fatos portadores de futuro já

identificados.

O método de cenários consiste em descrever, de maneira

coerente, o encaminhamento entre a situação atual e o horizonte

escolhido, seguindo a evolução das principais variáveis do fenômeno

identificadas pela análise estrutural e fazendo jogar os mecanismos de

evolução compatíveis com os jogos de hipóteses retidos. Nesse

momento, os mecanismos de evolução são confrontados com os projetos

e estratégias dos atores. Completa-se o cenário com uma descrição

pormenorizada da imagem final.

Deve-se assegurar a coerência dos encaminhamentos entre as

diferentes imagens e, para tanto, realizam-se testes de consistência e


61

ajustes, caso necessário. Estando pronto o produto, será disseminado

para conduzir a elaboração das opções estratégicas.

3.1.2 O método da Global Link Network

A Global Link Network (GBN) é uma empresa americana criada,

em 1988, por Peter Schwartz - ex-funcionário da Royal Dutch/Shell onde

trabalhava com planejamento estratégico baseado em cenários. Sua

metodologia para elaboração de cenários exploratórios é composta

basicamente por oito etapas: identificação da questão principal;

identificação dos fatores-chave (microambiente); identificação das forças

motrizes (macroambiente); ranking das incertezas críticas; definição das

lógicas dos cenários; descrição dos cenários; seleção de indicadores e

sinalizadores principais; análise das implicações e opções.

Em todas estas etapas são sempre levados em consideração os

modelos mentais dos dirigentes (Senge, 1998), ou seja, sua visão de

mundo, suas preocupações e incertezas. Segundo Schwartz (1996, p. 61)

é importante também o conhecimento dos modelos mentais do grupo

responsável pela elaboração dos cenários, pois estes tendem a impedir a

realização de perguntas adequadas que possibilitem o esclarecimento da

questão que levará à melhor tomada de decisão.

Antes de iniciar o processo de construção de cenários, olha-se

para dentro do grupo e examina-se os modelos mentais usados para

fazer a avaliação do futuro para, em seguida, analisar-se os modelos dos

dirigentes.

42
SMIC: Sistema e Matrizes de Impactos Cruzados.
62

A criação de cenários inicia-se com a definição da questão

principal do estudo. Seu objetivo é dar aos cenários um foco específico

ou aprofundado. O autor entende por questão principal aquela questão

estratégica que motivou a construção dos cenários alternativos. Baseia-se

especificamente na definição das urgências pessoais ou institucionais de

uma empresa.

Estas questões podem ser levantadas na organização por meio

de entrevistas, análises e das discussões que ocorrem durante o

desenvolvimento dos estudos de cenários. À medida que a reflexão e a

exploração avançam, as questões tornam-se mais elaboradas. O autor

sugere que o grupo procure responder as seguintes questões: Em que os

tomadores de decisão de sua empresa estão pensando seriamente em

relação ao futuro? Que decisões a serem tomadas terão influência a

longo prazo nos destinos da empresa? (Schwartz, 1996, p. 242)

Schwartz (1996) sugere iniciar o estudo pela definição da questão

principal, pois considera uma boa idéia começar de dentro para fora, ou

seja, olhar primeiro o ambiente da empresa para depois olhar para fora.

Estas questões serão úteis no momento da elaboração e apresentação

dos resultados finais dos cenários, pois estes terão como foco as

questões que realmente estão preocupando os dirigentes da empresa, o

que causará maior interesse por parte dos tomadores de decisão.

Após a definição clara da questão principal identifica-se os

fatores-chave43 e elabora-se uma lista dos principais fatores que poderão

afetar as decisões que serão tomadas. Isso inclui fatos sobre clientes,

43
Principais forças existentes no microambiente que estejam estreitamente relacionadas com o ramo de
negócio da empresa e com a questão principal.
63

fornecedores, concorrentes e outros públicos. O autor sugere alguns

questionamentos para auxiliar nesta fase, tais como: O que os tomadores

de decisões vão querer saber quando tiverem que escolher? O que será

visto como sucesso ou fracasso? Quais são as considerações que irão

configurar aqueles resultados (Schwartz, 1996, p. 242).

Em seguida serão definidas as forças motrizes ligadas ao

macroambiente que poderão influenciar ou irão impactar fortemente a

evolução da questão principal e os fatores-chave definidos anteriormente.

Essas forças são os elementos que movem o enredo de um cenário. Elas

são um dispositivo para afiar o julgamento inicial e ajudam a decidir que

fatores são significativos e que fatores não o são.

A identificação é feita com base na questão principal. Verifica-se

quais forças motrizes são críticas para a decisão a ser tomada. Neste

momento de grande pesquisa, são relacionadas em uma lista de forças

sociais, econômicas, políticas, ambientais e tecnológicas, tendo como

base a lista das forças do microambiente.

Identificadas e exploradas as forças motrizes, é preciso separar

os elementos predeterminados das incertezas críticas. Somente quando a

compreensão da dinâmica dessas forças estiver clara, começamos a

escrever os cenários.

Segundo o autor, os elementos predeterminados são aqueles que

não dependem de qualquer cadeia de eventos, ou seja, sua ocorrência

parece certa, não importando qual seja o cenário.

As variáveis incertas originam-se das perguntas para as quais

ainda não se tem resposta. São as variáveis de grande importância para


64

os cenários e, por isso, são buscadas para que os planejadores possam

estar preparados para elas.

As forças motrizes, classificadas em elementos predeterminados

e incertezas críticas, fornecem a estrutura para nossa exploração do

futuro, que depois de identificadas deverão ser colocados em ordem com

base nos critérios de importância e graus de incerteza. A classificação da

variável quanto à sua importância será definida de acordo com o seu grau

de importância em relação à questão principal. Depois será verificado

qual o seu grau de incerteza em relação ao futuro. Deverão ser

selecionados dois ou três fatores ou tendências mais importantes e mais

incertos.

Identificadas as incertezas críticas, ou seja, as condicionantes do

futuro, cuja evolução é ao mesmo tempo muito incerta e muito importante

para o objeto da cenarização, passa-se à etapa de seleção da lógica do

cenário. Para tanto, as incertezas críticas deverão ser posicionadas nos

eixos ao longo dos quais os cenários irão diferir. Esta é a etapa mais

importante do processo de criação de cenários. A meta do processo é

terminar apenas com alguns cenários, cujas diferenças sejam importantes

para os tomadores de decisão e muito incertos.

Identificados os eixos fundamentais de incertezas críticas, o autor

sugere que às vezes é útil apresentá-los como um espectro (ao longo do

eixo) ou como uma matriz (com dois eixos), ou como um volume (com três

eixos) nos quais cenários diferentes possam ser identificados e os

detalhes inseridos (Schwartz, 1996, p.244).


65

A lógica de um cenário se caracterizará pela localização na matriz

das forças do cenário mais significativas. O desafio aqui é identificar o

enredo que melhor descreva a dinâmica da situação e comunique o ponto

principal eficazmente. O enredo é o elemento que une os elementos do

sistema. Para explicar o futuro, os cenários usam a mesma lógica

utilizada para a construção das histórias do passado. O comportamento

das forças motrizes são descritas com base em seu comportamento

passado. Para descobrir enredos plausíveis, as incertezas que parecem

mais importantes são utilizadas.

As questões importantes sobre o futuro são geralmente por

demais complexas ou imprecisas para as linguagens convencionais dos

negócios e da ciência. Em vez disso, usa-se a linguagem de histórias e

mitos. Histórias têm impactos psicológicos que gráficos e equações não

têm. Histórias lidam com significado, ajudam a explicar por que as coisas

poderiam acontecer de uma certa maneira. Elas dão ordem e significado

aos eventos - um aspecto crucial na compreensão de possibilidades

futuras. Histórias ajudam as pessoas a lidar com a complexidade

(Schwartz, 1996, p.38).

É importante, muitas vezes, utilizar mitos para contar histórias de

futuro, pois os mitos são os modelos aos quais as pessoas se referem

quando tentam compreender seu mundo e o comportamento do mesmo.

Os mitos são os padrões de comportamento, de crença e de percepção,

que as pessoas têm em comum44. São deliberadamente ou

necessariamente fictícios, mas representam uma situação e facilitam sua

compreensão.
66

Definida a lógica dos cenários, parte-se para o detalhamento dos

mesmos. Para tanto, volta-se à lista de fatores e tendências principais

nas etapas dois e três, em que cada um dos componentes da lista deve

receber atenção em cada cenário. A distribuição do comportamento de

cada uma dessas variáveis nos cenários dar-se-á de acordo com a lógica

descrita para cada cenário.

Os cenários deverão ser descritos de forma narrativa, explicando

detalhadamente como o mundo caminhou durante o horizonte de tempo

preestabelecido. De posse desse cenário, volta-se à questão principal e

verifica-se quais as implicações de cada cenário descrito. Deverá ser

verificada qual a decisão mais adequada a ser tomada em cada cenário,

quais as vulnerabilidades identificadas e se a decisão que se pretende

tomar é robusta o suficiente para todos os cenários. É quando verificamos

se as estratégias da empresa terão que ser revistas.

Por último, deve ser identificado qual dos vários cenários é o mais

provável de ocorrer e definir uma estimativa de quando isso ocorrerá para

que a empresa esteja melhor preparada para o futuro. De qualquer forma,

o autor recomenda que sejam identificados alguns indicadores para

monitorar de maneira contínua as diversas variáveis incertas.

Deve-se imaginar como seria essa empresa em cada um dos

mundos descritos pelos cenários e identificar quais as decisões que

deverão ser tomadas se um determinado enredo ocorrer. Ou, então, optar

por uma estratégia mais robusta, identificando ações que teriam

resultados satisfatórios em qualquer enredo.

44
Robertson segundo Schwartz (1996, p. 41).
67

3.1.3 O método de cenários industriais de Porter

O método descrito por Porter (1992) tem como foco a indústria e

como objetivo a elaboração de cenários industriais. Parte do pressuposto

de que os cenários prospectivos são a melhor ferramenta a ser utilizada

por uma empresa no momento de escolher sua estratégia competitiva em

um ambiente de grandes incertezas com relação ao futuro. Baseia-se

também no fato de que os possíveis comportamentos de qualquer

empresa são funções do comportamento do macroambiente interagindo

como o ramo industrial da empresa e que, por isso, ambos devem ser

estudados.

Porter (1992) afirma que as incertezas relacionadas a qualquer

uma das cinco forças competitivas, as quais constituem a base conceitual

para a construção de cenários industriais, devem ser consideradas na

construção de cenários. Define a entrada de novos concorrentes, a

ameaça de substitutos, o poder de negociação dos compradores o poder

de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre os concorrentes

como sendo as cinco forças competitivas, as quais englobam as regras

da concorrência. Estas forças são a base da definição das estratégias

competitivas da empresa.

A metodologia é composta por sete etapas, em que os estudos

das variáveis macroambientais e mercadológicas serão analisadas de

forma harmônica e interativa, explicitando o comportamento da

concorrência. O produto final servirá como subsídio para a tomada de


68

decisão na empresa, principalmente no que diz respeito à definição de

suas estratégias competitivas.

O processo inicia-se com a fixação dos propósitos do estudo

prospectivo, sua amplitude e ambiente temporal. Envolve também um

estudo histórico e atual da estrutura da indústria e sua análise para que

se possa desenvolver uma compreensão do comportamento passado e

atual da indústria, além de facilitar a identificação de todas as incertezas

que podem afetá-la.

Para a identificação das incertezas que envolvem a indústria,

parte-se do estudo de sua estrutura. Porter (1992, p. 416) considera que

pode ser difícil reconhecer fontes de incerteza e sugere uma série de

passos os quais se iniciam com a elaboração de uma lista de variáveis

que impactarão consideravelmente a indústria nos próximos anos e a

identificação do grau de incerteza de cada variável. Esta lista deverá

sofrer uma depuração por meio da classificação das variáveis

identificadas em variáveis constantes, predeterminadas e incertas.

Inicia-se o processo, separando da lista as variáveis constantes e

as predeterminadas, pois não determinam cenários. Porter (1992, p. 416)

define variáveis constantes como sendo aquelas formadas por aspectos

da estrutura com pouca probabilidade de sofrerem mudanças e as

variáveis predeterminadas como sendo áreas cuja estrutura irá se

modificar; sendo a mudança, em grande parte, previsível. Estas variáveis

serão recuperadas no momento da descrição dos cenários, visto que são

elementos importantes da estrutura da empresa e não poderão ficar de

fora da descrição dos cenários.


69

Para a determinação dos cenários, utiliza-se somente as variáveis

incertas, ou seja, as variáveis que constituem os aspectos da estrutura

futura que dependem de incertezas não solucionáveis, as quais

determinam os cenários (Porter, 1992, p. 416).

Para a checagem das variáveis consideradas incertas poderá ser

utilizada a consulta a peritos. Durante a consulta será verificado se existe

mais alguma variável a ser acrescentada, como também verificar-se-á

quais as causas dessas incertezas e os possíveis desdobramentos para

estas variáveis. Poderão ser questionadas quais ações de curto e de

longo prazos que deverão ser desencadeadas para viabilizar esses

acontecimentos futuros.

A lista final das variáveis incertas, elaborada após a última

checagem, deverá ser classificada em variáveis dependentes e

independentes, de acordo com a identificação dos fatores causais dos

elementos incertos.

As incertezas independentes são os elementos da estrutura da

indústria cuja incerteza independe de outros elementos da

estrutura. As fontes de incerteza podem estar dentro da indústria

(por exemplo, comportamento dos concorrentes) ou fora dela (por

exemplo, o preço de energia). As incertezas dependentes são os

elementos da estrutura, que serão em grande parte ou

inteiramente determinados pelas incertezas independentes, ou

seja, as que são função de outros elementos da indústria.

Apenas as independentes constituem uma base adequada para a

construção de cenários, pois são fontes reais de incertezas. As

dependentes são resolvidas, uma vez feitas suposições sobre as


70

independentes, tornando-se assim parte de cada cenário (Porter,

1992, p. 416).

A todo momento é importante verificar se as classificações feitas

anteriormente permanecem coerente ao longo do processo.

Neste momento, será trabalhada a lista de variáveis incertas

independentes, com classificação em ordem de importância e separação

em dois grupos: as mais e as menos importantes. Para cada variável

importante deverão ser identificados os diversos comportamentos futuros

possíveis, levando-se em consideração a opinião dos peritos, caso

tenham sido consultados, e a opinião da gerência sênior da empresa. Ao

final dessa análise obtém-se um leque de possíveis cenários.

Porter (1992, p. 424) afirma que é importante a criação de, pelo

menos, um cenário em torno de suposições que refletem as convicções

da gerência, pois confere credibilidade ao processo de construção de

cenários

Após listadas as suposições a respeito do futuro, será verificada a

consistência desses possíveis cenários. Os comportamentos de cada

variável deverão ser checados em relação aos demais. Durante a

verificação de consistência, alguns cenários poderão ser excluídos.

Apesar dessas exclusões, o número de cenários restantes ainda

será muito grande, visto que este número é resultante da combinação

gerada pelas diferentes suposições sobre cada variável de cenário. Para

solucionar este problema, Porter propõe a realização de uma análise

minuciosa dos diversos cenários quanto à determinação da estrutura

futura sob o cenário, ao desenvolvimento das implicações do cenário para

a atratividade industrial e à identificação das implicações do cenário para


71

as fontes de vantagem competitiva (Porter, 1992, p. 427), procurando

com isso reduzir o número de incertezas. Porter também sugere que um

bom ponto de partida para análise de cenários é a definição de cenários

polares, ou seja, o mais separados possíveis.

Realiza-se, então, a análise de consistência de cada cenário. Os

cenários inconsistentes são eliminados e apenas nos internamente

consistentes incorpora-se o movimento da concorrência e suas

implicações. Neste momento, identifica-se quem serão os concorrentes e

quais serão os seus possíveis comportamentos em cada cenário

determinado. Para tanto, faz-se necessário o conhecimento das

estratégias dos concorrentes para a identificação de seus possíveis

comportamentos futuros. É importante destacar que o comportamento

dos concorrentes pode afetar a velocidade e a direção das mudanças

estruturais do cenário.

Neste momento, serão elaboradas as estórias de cada cenário.

Elas deverão conter a descrição minuciosa do comportamento das

variáveis incertas independentes e dependentes, das mudanças

estruturais predeterminadas e dos elementos constantes da estrutura da

indústria. Serão, também, descritas as interligações entre essas variáveis

e especificados todos os fatores causais.

Após o desenvolvimento dos diversos cenários, estes serão

utilizados para elaboração da estratégia competitiva da empresa. Nesta

fase, os dirigentes terão oportunidade de vislumbrar a empresa nos

possíveis contextos e definir quais as manobras que ela deverá fazer para

criar seu próprio futuro.


72

3.1.4 O método descrito por Grumbach

O método para elaboração de cenários prospectivos descrito por

Raul Grumbach (1997) baseia-se nos conceitos definidos pela

prospectiva de que existem vários futuros possíveis e de que o futuro não

será, necessariamente, uma extrapolação do passado. Para atingir o

objetivo final dos estudos de cenários prospectivos, ou seja, a definição

das estratégias da organização, o autor propõe três fases distintas: o

conhecimento do problema; a construção e a identificação das várias

alternativas; e a avaliação e a interpretação das várias alternativas

existentes para a tomada de decisão.

O processo é iniciado com o conhecimento do problema pelo

grupo de estudos de cenários. Nessa fase os propósitos do estudo e os

temas a serem estudados são discutidos. Em primeiro lugar define-se de

forma clara os contornos e limites desse problema, bem como seus

elementos essenciais: amplitude geográfica, nível de profundidade e

horizonte temporal. Neste momento, também são definidos quem serão

os peritos45 convidados a participar dos trabalhos.

Também é importante nesta fase conhecer com detalhes o

pensamento dos dirigentes da organização, como, por exemplo, seus

principais juízos de valor a respeito do tema que será estudado e suas

principais preocupações e expectativas. Essas informações poderão

servir ao grupo como parâmetros na definição da escala de prioridades

45
Segundo Grumbach (1997, p. 60), peritos são pessoas, em sua maioria de fora da empresa, especializadas
em determinadas áreas, porém, detentoras de uma visão geral do sistema para o qual irão opinar, ou seja,
73

durante o decorrer dos trabalhos, na fase de análise dos cenários e para

determinar se um assunto deverá ser analisado com maior profundidade

ou não. Também serão utilizadas na fase de definição de uma

hierarquização dos eventos futuros.

A segunda etapa consiste no diagnóstico do problema, quando

então será realizado minucioso levantamento das variáveis externas e

internas do sistema em pauta; pesquisa retrospectiva; construção de uma

“imagem do estado atual”; e entendimento das causas e origens da

situação atual. A fase é finalizada com a elaboração de um documento

que contenha o diagnóstico de cada tema inicialmente proposto.

Grumbach (1997) argumenta que, apesar de, sob o ponto de vista

da prospectiva, os acontecimentos do passado não serem fatores

determinantes do que ocorrerá no futuro, o estudo do passado se torna

importante, pois permite uma melhor identificação da origem de mudança,

já que os germes do futuro iniciaram sua atuação no passado. O

conhecimento do comportamento das variáveis no passado ajuda a

compreendê-las melhor principalmente no que diz respeito a suas

interligações e influências. Também serve para retratar melhor a situação

em que se encontra o sistema, permitindo uma melhor compreensão e

entendimento, de forma mais clara, de suas causas e origens.

A segunda fase do processo consiste na construção ou

identificação das várias alternativas de futuro. Para tanto o autor sugere

duas etapas: uma chamada de compreensão e a outra de concepção. É

com boa cultura geral. Suas principais características são: honestidade de propósito, não polarização,
precisão, realismo, definição e clareza.
74

neste momento que os fatos portadores de futuro46 e os fatores e agentes

exógenos47 são identificados.

Com base nos fatos portadores de futuro, identifica-se as rupturas

de tendências tendo como resultado a concepção de eventos futuros. As

técnicas de ajuda à criatividade - como por exemplo o brainstorming - são

de extrema utilidade para auxiliar na identificação de eventos futuros

responsáveis pela composição dos cenários possíveis no horizonte

temporal estabelecido previamente.

Grumbach (1997) faz algumas sugestões para serem utilizadas

durante a depuração da lista de eventos gerados. Ele sugere que os

componentes do grupo se posicionem no final do horizonte de tempo

estabelecido e procurem deixar sua imaginação livre o suficiente para

produzir eventos com real possibilidade de ocorrência durante aquele

período e que tenham importância para a organização.

46
Confira cap. 3.1.1 p. 59 desta obra.
47
Fatores ou agentes exógenos são os fatores mais importantes de fora do sistema (Grumbach, 1997, p. 65).
75

O autor chama a atenção para o fato de que o objetivo nesta fase

é a identificação das rupturas de tendência, não se devendo ficar preso

às projeções do passado. Os eventos amparados apenas na imaginação

dos analistas devem ser criteriosamente discutidos, não se permitindo

que o estudo passe para o campo da adivinhação. Os eventos que

tenham surgido após a fase de diagnóstico devem ser considerados,

mesmo que não estejam amparados em fatos concretos já listados.

Sugere também que os eventos afins devem ser agrupados para evitar

um número muito grande. Por último, ele alerta que os eventos devem ser

formulados de modo a não permitir interpretações gradativas, evitando as

palavras "aumentar" ou "diminuir", que poderão ter significados diferentes

para cada perito entrevistado.

Grumbach (1997) também sugere manter um máximo de 25

eventos preliminares, já que o número de cenários gerados representará

a combinação de 2n, onde "n" simboliza o número de eventos listados.

Após a depuração da lista de eventos futuros é formada a lista preliminar

de variáveis.

A terceira fase é composta pela avaliação e interpretação das

várias alternativas de futuro existentes que facilitarão a tomada de

decisão. Para auxiliar o processo de avaliação, são utilizados os métodos

Delphi - quando será verificada qual a probabilidade de ocorrência de um

evento segundo a visão dos peritos - e dos impactos cruzados - em que

os peritos opinarão a respeito da influência que a ocorrência dos eventos

trará sobre a probabilidade dos demais ocorrerem.


76

Antes da utilização do método dos impactos cruzados deverão

ser identificados os eventos definitivos. Nesta fase, deverão ser utilizadas

as técnicas de análise multicritérios, que têm como objetivo facilitar a

tomada de decisão em situações que envolvem múltiplos atributos e/ou

critérios. São também úteis na priorização de várias alternativas, levando

em consideração algumas condições de restrição. Os critérios de escolha

têm como base os resultados da aplicação do método Delphi e as

prioridades dos tomadores de decisão. O autor sugere um número não

superior a 10 eventos - o que gerará um total de 1.024 cenários futuros

possíveis de ocorrer.

Para a interpretação dos cenários é necessário deixar aflorar toda

a capacidade de análise do grupo. Para subsidiar a percepção do grupo,

visto que este dispõe de 1.024 cenários distintos para serem escolhidos,

o autor sugere trabalhar com cinco cenários alternativos: o mais provável,

o ideal, o exploratório otimista, o cenário tendente e o exploratório

pessimista.

O cenário mais provável é aquele com maior probabilidade de

ocorrência. O cenário ideal é aquele que contempla todas as ocorrências

positivas e não contempla as ocorrência negativas, sob o ponto de vista

do decisor. O cenário exploratório otimista é aquele que contempla uma

série de acontecimentos considerados positivos, mas que não chega a

ser tão bom quanto o ideal. O cenário tendente é aquele que corresponde

à projeção dos acontecimentos passados sobre o caminho a ser

percorrido pela organização, observando-se que, caso os peritos não

identifiquem nenhuma ruptura de tendência, confundir-se-á com o mais


77

provável. Por último, o cenário exploratório pessimista é aquele que

contempla uma série de acontecimentos negativos e que pode ser

considerado como a pior das hipóteses possíveis que venha a acontecer.

Para a descrição de cada cenário, deve-se iniciar pela descrição

da situação atual e dos fatos portadores de futuro e fatores e agentes

exógenos que deram origem aos eventos futuros. Deverá ser efetuado

um encadeamento lógico dos acontecimentos, com base nos estudos e

pesquisas realizadas previamente, dando a forma de uma história ou

caminho que se estenderá até o final do horizonte temporal estabelecido.

O processo termina com a definição das estratégias que a

empresa deverá adotar com base nos cenários elaborados. Para auxiliar

a identificação de quais são as ações no presente que mais significado

trarão sobre o caminho futuro, o autor sugere a realização de simulações

através da alteração do valor das probabilidades indicadas pelos peritos.

Os eventos que causarem maiores alterações quando manipulados,

constituem os pontos focais do problema, dando ao decisor melhor

clareza do processo e indicando onde deverá efetivamente agir.

Assim, a organização poderá tomar ações no presente que lhe

permitam caminhar em direção ao cenário mais favorável, ou enfrentar os

percalços que surgirem em seu futuro, e que não sejam possíveis de

evitar.
78

3.2 Quadro comparativo

A partir das observações do Quadro 1, verifica-se que os métodos

descritos acima possuem várias características comuns como, por

exemplo, iniciarem com a delimitação do problema que será cenarizado.

Godet e Grumbach fazem essa delimitação ao definirem o sistema, já a

GBN e Porter, a questão estratégica. Apesar de utilizarem nomenclaturas

e alguns procedimentos diferentes, o objetivo é dar foco ao estudo de

cenários.

Os quatro métodos também realizam estudos históricos e

descrição da situação atual. Isto porque, para elaboração de cenários,

faz-se necessário o conhecimento das diversas variáveis e seus

respectivos comportamentos, como também dos atores que as

influenciam, questões estas que também são comuns aos quatro

métodos.

Outra característica interessante pertencente a todos os métodos

é a consulta a especialistas ou peritos. Esta fase é muito importante pelo

fato de trazer para dentro da empresa a percepção de outras pessoas

que não estão envolvidas com as questões da empresa.

A grande diferença entre os métodos situa-se na fase da análise,

pois cada um possui sua respectiva técnica para gerar os diversos

cenários. Observa-se, entretanto, uma semelhança na metodologia

proposta por Porter e pela GBN. A diferença existente está associada

mais ao foco: Porter dirige sua análise para a indústria e acrescenta ao


79

método o comportamento da concorrência ao final do processo, ao passo

que a GBN gera cenários globais. Essa similaridade é compreendida visto

que Schwartz exerceu grande influência sobre Porter durante a década

de 80.

O método descrito por Grumbach difere um pouco mais dos

outros três em relação ao tipo de cenários gerados. Apesar dos quatro

métodos gerarem cenários exploratórios, os de Grumbach são do tipo

cenários exploratórios extrapolativo, ou seja, gera variações do mesmo

mundo, ao passo que os outros três métodos geram cenários

exploratórios múltiplos, ou seja, cenários que descrevem variações de

mundos diferentes.

Os métodos propostos por Godet e Grumbach utilizam-se tanto

de variáveis qualitativas quanto quantitativas, enquanto Porter e a GBN

se caracterizam por utilizarem basicamente variáveis qualitativas

O método que possui o detalhamento mais claro do ferramental a

ser usado em todas as etapas é o descrito por Godet, constituindo-se

também no mais robusto, ou seja, com os passos a serem seguidos bem

definidos o que, por conseguinte, torna-se o mais trabalhoso. Em

segundo lugar vem o descrito por Grumbach. Convém observar que,

apesar desses métodos serem os mais sistematizados, apresentam-se

pouco flexíveis.

Os métodos de Porter e da GBN são menos detalhados, contudo,

são bastante flexíveis, observa-se que o método da GBN é muito

subjetivo.
80

Godet e Grumbach usam os fatos portadores de futuro para gerar

os cenários; GBN e Porter, a análise incerteza x importância - maneira

mais fácil de gerar cenários. Os passos sugeridos por Grumbach são

mais fáceis de serem executados do que os sugeridos por Godet. Na

realidade, observa-se uma pequena lacuna no método de Godet (entre as

etapas de seleção das condicionantes do futuro e a geração de cenários

alternativos) que talvez necessitasse ser preenchida para a sua melhor

utilização.

Porter é o único que considera o comportamento da concorrência

e foca a questão da indústria; Grumbach, o único que utiliza o método

Delphi, e Godet o único que não leva em consideração os modelos

mentais dos dirigentes durante a elaboração dos trabalhos.

GBN é o único que não trabalha com probabilidade em momento

algum. Sua justificativa para não atribuir probabilidades aos cenários é

evitar a tentação de considerar apenas o cenário de maior probabilidade.

Schwartz (1996, p. 247) argumenta também que não faz sentido

comparar a probabilidade de um evento em um cenário com a

probabilidade de outro evento em outro cenário, porque os dois eventos

deverão ocorrer em ambientes radicalmente diferentes, e a atribuição de

probabilidades depende de pressupostos muito diferentes sobre o futuro.

Todos os quatro métodos preocupam-se com a consistência dos

cenários gerados. Nenhum deles, entretanto, tem rapidez na atualização

e comparação dos dados e apresentam dificuldade no manuseio de um

grande número de variáveis e suas tendências.


81

Finalmente, vale destacar a semelhança do resultado final dos

métodos, como era de se esperar, já que os quatro métodos geram uma

série de futuros consistentes e plausíveis, os quais são utilizados na

elaboração de estratégias.

Quadro 1

Resumo Comparativo dos Métodos

Característica Métodos
Godet GBN Porter Grumbach
Delimitação do problema Sim Sim Sim Sim
Estudos históricos Sim Sim Sim Sim
Descrição da situação atual Sim Sim Sim Sim
Identificação de variáveis Sim Sim Sim Sim
Identificação de atores Sim Sim Sim Sim
Checagem de consistência Sim Sim Sim Sim
Rapidez na atualização Não Não Não Não
Dificuldade de trabalhar muitas var Sim Sim Sim Sim
Consulta especialistas Sim Sim Sim Sim
Comportamento do concorrente Não Não Sim Não
Variável qualitativa e quantitativa Sim qualit.* Sim qualit.*
Apresentação detalhada da técnica Sim Não Não Sim
Flexibilidade dos cenários Não Sim Sim Não
Método sistemático Não Não Não Sim
Impactos Cruzados Sim Não Sim Sim
Método Delphi Não Não Não Sim
Hierarquia probabilística Sim Não Sim Sim
Modelo mental dos dirigentes Não Sim Sim Sim
Cenários exploratórios Sim Sim Sim Sim
Cenários exploratórios múltiplos Sim Sim Sim Não**
* variáveis qualitativas
** Cenários exploratórios extrapolativos
82

4 CONTEXTO DE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE CENÁRIOS: BANCO DO


BRASIL

4.1 O Banco do Brasil

O Banco do Brasil (BB), maior instituição financeira brasileira no

País, possui 5.492 pontos de atendimento localizados em todo o território

brasileiro e 34 unidades no exterior. Ao final de 1998, o BB possuía

72.350 funcionários, 129,6 bilhões em ativos e o Patrimônio Líquido era

da ordem de 6,6 bilhões. O Banco é uma sociedade de economia mista,

que tem como parte de sua missão contribuir para o desenvolvimento do

Brasil.

Fundado em 1808 pelo Rei D. João VI na cidade do Rio de

Janeiro, foi o primeiro banco a funcionar nos domínios portugueses e o

quarto emissor de moeda do mundo, precedido somente pelos bancos da

Suécia, Inglaterra e França. Desde essa época, o Banco do Brasil tem

estado presente em numerosos fatos e situações relevantes da evolução

social e econômica brasileira.

Em 1888, iniciou suas atividades de apoio à agricultura brasileira

ao disponibilizar as primeiras linhas de crédito ao recrutamento de

migrantes europeus para assentamento em lavoura de café, em virtude

da abolição da escravatura. Essa função de desenvolvimento econômico

e social é exercida pelo Banco do Brasil até hoje.


83

Em 1889, com a proclamação da República, foi chamado a

cooperar na gestão financeira do novo regime político e se destacou

como agente saneador das finanças, abaladas pela crise do final da

Monarquia.

Com o início do “Ciclo da Borracha” na Amazônia, em 1908,

inaugurou sua segunda agência em Manaus, marcando sua vocação de

dinamizar o interior e apoiar o processo de integração nacional.

Exercendo sua função de participar do desenvolvimento

econômico e social do País, em 1937, o Banco do Brasil instituiu o crédito

rural especializado e lançou a base para o fomento da nascente atividade

industrial brasileira através da criação da sua Carteira de Crédito Agrícola

e Industrial.

Na década de 40, esteve presente na marcha para o Oeste

deflagrada pelo então presidente Getúlio Vargas, contribuindo para a

incorporação de milhares de hectares de terras ao processo produtivo.

O Banco do Brasil esteve presente nos principais momentos da

evolução agropecuária no País. Culturas como a soja e o trigo foram

introduzidas e desenvolvidas com sua participação e apoio. A título de

exemplo, podemos ainda citar outras, tais como a juta na região da

Amazônia, a cultura do arroz no Maranhão; as plantações de castanha de

caju no Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte; a fruticultura na Paraíba; os

laranjais de Sergipe; a cana-de-açúcar em Alagoas; e tantas outras que

poderiam ser citadas como exemplos que foram fomentadas com

significativa participação do Banco do Brasil.


84

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Banco do Brasil marcou

sua presença ao acompanhar os soldados da Força Expedicionária

Brasileira. Com escritórios em Roma, Nápoles e Pistóia, tinha como

missões efetuar a remuneração das tropas, a transferência de numerário

para o Brasil, e o atendimento à embaixada e aos consulados brasileiros.

No período pós 1945, o Banco atuou decisivamente no

desenvolvimento industrial, com destaque na implantação da Companhia

Siderúrgica Nacional, um dos mais significativos marcos da

industrialização brasileira.

Com a Reforma Bancária de 1964, o Banco do Brasil deixa de

exercer as funções de banco central e de órgão normativo. Essas funções

são absorvidas pelo Banco Central e o Conselho Monetário Nacional

criados pela Lei 4.595 daquele ano. O Banco, contudo, permaneceu com

algumas funções de autoridade monetária até 1986, época em que foi

extinta a chamada “Conta Movimento” mantida pelo Banco Central. A

conta movimento tinha como finalidade assegurar ao BB o suprimento

automático de recursos para as operações de interesse governamental.

Essas operações ficavam condicionadas a suprimentos específicos - no

início alocados diretamente pelo Banco Central e, a partir de 1988,

consignadas no Orçamento Geral da União.

Das funções antes exercidas, o Banco permaneceu com as de

agente financeiro do Tesouro Nacional e conglomerado financeiro do

Governo voltado para o fomento à agricultura, à indústria e ao comércio

exterior. Em contrapartida, foi autorizado a praticar todas as operações

permitidas aos demais bancos, situação anteriormente vedada. Inicia-se o


85

processo de abertura de suas subsidiárias, diversificação de produtos e

serviços e intensificação dos esforços de captação de recursos.

Em 1995, o Banco do Brasil passou por uma grande

reestruturação com o intuito de modernizar-se, tornar-se mais ágil e

competitivo, sem perder, no entanto, seu compromisso como agente

financeiro do Governo. O ganho de escala, a redução de custos e o

melhor atendimento a seus clientes foram questões que também

nortearam a implantação de sua nova estrutura organizacional em

unidades estratégicas de negócio, apoiadas por unidades de função. As

decisões da diretoria passaram a se dar de forma colegiada, apoiadas

por suas unidades de assessoramento, conforme organograma e

responsabilidades das unidades contidos nos anexos 1 e 2

respectivamente.

O Banco do Brasil definiu o seu negócio como sendo serviços,

informação, produtos financeiros e participações. Atua nos mercados de

câmbio e comércio exterior; nos mercados de capitais e fundos de

investimentos; nos mercados de seguros e previdência privada; no

mercado de cartões; no mercado de crédito e serviços bancários e no

mercado de agribusiness.
86

4.2 A Unidade de Desenvolvimento Empresarial

A Unidade de Assessoramento Desenvolvimento Empresarial

(UDE) foi criada em 1996, fruto da reestruturação sofrida pela antiga

Consultoria Técnica da Presidência (COTEC). Foi atribuída à área a

responsabilidade de garantir que o sensoriamento estratégico, as

estratégias corporativas e a modelagem organizacional estejam

direcionadas de forma a promover o desenvolvimento permanente do

Conglomerado Banco do Brasil.

A Unidade foi organizada em três Gerências: a de Sensoriamento

Estratégico, a de Estratégias Corporativas e a de Modelagem

Organizacional (anexo 3). A UDE pode ser entendida como embrião de

uma área de Inteligência do Banco, visto que, dentre suas funções, estão

contempladas o sensoriamento dos ambientes interno e externo a

responsabilidade pela elaboração das estratégias da Empresa .

Dentre as atribuições da Coordenadoria de Sensoriamento

Estratégico estão o sensoriamento do macroambiente em seus aspectos

político, econômico, socio-demográfico, tecnológico e meio ambiente, do

ambiente negocial da indústria financeira, bem como, da produção de

informações estratégicas. É composta por 13 funcionários pós-graduados

em diversas áreas do conhecimento, sendo que, destes, parcela

significativa (cerca de 70%) detém título de mestre e/ou doutor nas mais

variadas áreas do conhecimento.


87

A Gerência elabora cenários e acompanha e/ou analisa a

concorrência, além de desenvolver estudos específicos e análise da

conjuntura, trabalhos estes demandados ora pela Diretoria, ora por

iniciativa da própria Unidade, objetivando informar à Alta Administração

todo e qualquer fato relevante. A monitoração ambiental é basicamente

realizada pelo acompanhamento de informação secundária, com exceção

das participações em palestras e seminários. Não trabalha utilizando rede

de especialistas nem interna nem externa à Empresa.

A Unidade faz pouco uso de base de dados, a não ser da agência

de notícias CMA, o Sisbacen e o MCM Consultores. Possui uma base de

dados econômicos, desenvolvido internamente, e uma da indústria

financeira, ainda em fase de desenvolvimento.

4.3 Histórico e situação atual do BB na elaboração de cenários

O Banco do Brasil utiliza técnicas de planejamento estratégico

baseadas em cenários desde 1989, quando deu início à tentativa de

implantação da administração estratégica na Empresa. Nesta época foi

atribuída à COTEC/ADESE48 - área responsável até então pelo

desenvolvimento de estudos macroeconômicos - a incumbência de

desenvolver cenários prospectivos para o planejamento estratégico da

Empresa.

48
ADESE - Adjunta de Estudos Socio-econômicos.
88

Entretanto, apesar de receber o nome de cenários, os trabalhos

realizados por essa área restringiam-se as previsões e projeções de

cunho macroeconômico. Até o final do ano de 1996, as estratégias eram

definidas com base nesses “cenários”. As quatro outras variáveis

macroambientais (político-legal, socio-demográfico, tecnológico, e meio

ambiente) praticamente não eram consideradas, e a competitividade na

indústria financeira não fazia parte da análise. Em 1996, como

conseqüência da reestruturação ocorrida no Banco em 1995, são

incorporadas na confecção do “cenário” as demais variáveis do

macroambiente e as da indústria financeira.

Em março de 1998, foi efetuada a primeira tentativa de utilização

de um método de construção de cenários múltiplos. Foi realizada uma

adaptação do método proposto por Porter em seu livro “Vantagens

Competitivas” (1992). Entretanto, algumas etapas não foram cumpridas

como a realização de uma pesquisa mais aprofundada dos temas a

serem desenvolvidos e a consulta a peritos. Outro dificultador foi a falta

de um instrumento que possibilitasse a operacionalização do método,

como por exemplo, a utilização da matriz de impactos cruzados e a

consulta a peritos.

Apesar dos problemas enfrentados, o produto final produzido foi

considerado de boa qualidade, o que implicou, inclusive, numa avaliação

positiva por parte dos administradores da Empresa após a apresentação

dos quatro cenários gerados. Entretanto, a filosofia dos trabalhos

prospectivos não havia sido absorvida pelo Banco, visto que, ao final da
89

apresentação dos cenários gerados pela UDE foi solicitado aos

apresentadores que identificassem o cenário mais provável.

Em função da visão holística proporcionada pela apresentação

dos novos cenários, significativos avanços foram alcançados. Entretanto,

grande parte das decisões tomadas enfatizavam o curto prazo e foram

balizadas apenas no cenário mais provável. Não foi definida uma

estratégia robusta e nenhum plano de contingência foi gerado.


90

5 METODOLOGIA DE PESQUISA DE CAMPO

O estudo se propõe a verificar qual metodologia de elaboração de

cenários prospectivos seria mais adequada à realidade do Banco do

Brasil, de modo que sua utilização fornecesse as melhores condições

para a definição das estratégias da Empresa em um ambiente cada vez

mais incerto e competitivo. Para tanto, são especificados, a seguir, os

instrumentos de pesquisa utilizados, os procedimentos adotados para a

definição da população-objeto49 e a definição de sua amostra50. Analisa-

se também o processo utilizado para a coleta de dados, suas virtudes e

limitações e, ao final, faz-se algumas considerações de caráter geral

sobre a validade da pesquisa.

Para atender ao objetivo do trabalho, a pesquisa de campo foi

realizada em duas fases: a primeira, dentro do Banco do Brasil, e a

segunda junto a outras organizações no Brasil com experiência na

elaboração de cenários prospectivos. Para cada fase foram definidos

metas, populações e procedimentos de coleta de dados diferentes, os

quais serão descritos nas seções seguintes.

49
População é formada pela definição de um conjunto específico de circunstâncias (Stevenson, 1981, 158).
50
Amostra é a parcela de um grupo examinado (Stevenson, 1981, p. 158).
91

5.1 População-objeto e amostra

Como foi necessário definir duas populações distintas para

atender aos objetivos do trabalho, a pesquisa de campo foi realizada em

duas fases.

A primeira população estudada foi definida com o intuito de obter

o maior número de informações para verificar a percepção e

entendimento dos executivos e demais envolvidos na elaboração e

utilização de cenários no ambiente do Banco do Brasil a respeito da

elaboração de cenários, e sua aderência ao processo de definição de

estratégias. Essas informações seriam utilizadas como insumo para a

definição da metodologia que melhor se adaptaria a realidade da

Empresa. Sendo assim, a população foi composta apenas por

funcionários do Banco e teve como pressuposto o fato dos cenários

serem utilizados para a definição das estratégias da Empresa.

Para a identificação dos elementos51 que iriam compor essa

população foram elaboradas as seguintes perguntas:

• quem, do corpo funcional do BB, é responsável pela definição

de estratégias para a Empresa?

• quem, do corpo funcional do BB, influencia direta ou

indiretamente esta decisão?

• quem, do corpo funcional do BB, participa da elaboração

cenários na Empresa?

Com base nas respostas a essas questões foi definida uma

população finita52 composta basicamente pelo Chefe da Controladoria,


92

Gerentes-Executivos, Superintendentes-Executivos e Secretários-

Executivos do Banco, Assessores Master e Sênior da UDE que

trabalhavam na elaboração dos cenários. Como a população identificada

constava com menos de 100 elementos (Tabela 1), foi utilizada a técnica

de censo53 na aplicação do questionário.

A segunda população foi definida com o objetivo de identificar o

“estado da arte" no Brasil da elaboração de cenários prospectivos, com

base na experiência de outras organizações, e identificar o que dessas

experiências poderia ser aproveitado e adequado ao Banco do Brasil.

Foram identificadas as seguintes organizações: Shell Brasil,

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - SAE,

Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego, Petrobrás,

Eletronorte, ANATEL, Embrapa. Os elementos que compuseram a

população foram escolhidos segundo os seguintes critérios:

• reconhecimento perante a sociedade da seriedade do órgão;

• qualidade e seriedade na elaboração dos cenários;

• utilização de metodologias que atendessem aos objetivos da

presente pesquisa.

51
Elemento é a menor partição de uma população, no caso os funcionários da Empresa.
52
População finita é um população limitada em tamanho e pode ser definida (STEVENSON, 1981, 158).
53
Censo é o exame de todos os elementos de uma população previamente definida (STEVENSON, 1981,
158).
93

Tabela 1

Tamanho da População Pesquisa por Unidade


no Banco do Brasil, em set./out.1998.

Unidade Total Alta Gerencial Técnico


Administração
UA Desenvolvimento Empresarial 20 4 1 15
UF Finanças 5 5 - -
UEN Governo 5 4 1 -
UF Tecnologia 4 4 - -
UF Recursos Humanos 4 4 - -
UEN Varejo e Serviços 4 4 - -
UEN Seguridade 4 4 - -
UEN Rural e Agroindustrial 4 4 - -
UEN Mercado de Capitais 4 4 - -
UEN Internacional 4 4 - -
UEN Comercial 4 4 - -
UA Comunicação e Marketing 4 4 - -
UF Distribuição 3 3 - -
UF Crédito 3 3 - -
UEN Recuperação de Crédito 3 3 - -
UA Controladoria 3 3 - -
Secretaria Executiva 2 1 1 -
UF Infra-estrutura 1 1 - -
UA Jurídico 1 1 - -
UA Auditoria 1 1 - -
TOTAL 83 65 3 15
Fonte: Banco do Brasil - UDE - Gerência de Modelagem Organizacional.
Obs.: Unidade=Unidade Estratégica de Negócios;UF=Unidade de Função;UA=Unidade de
Assessoramento
Alta Administração: Chefe da Controladoria, Superintendentes-Executivos, Gerentes-Executivos e
Secretários-Executivos do BB
Técnico: Assessores Master e Sênior

5.2 Instrumento de pesquisa e procedimento de coleta de dados

Para atender aos propósitos da pesquisa de campo, foram

cumpridas as seguintes etapas:

a. levantamento dos métodos de cenários prospectivos

disponibilizados no mercado (capítulos 2 e 3).

b. levantamento do histórico do BB em relação a planejamento

estratégico baseado em cenários (Capítulo 4.1).


94

c. identificação de organizações que utilizavam os métodos

levantados no Capítulo 3.

d. elaboração de questionário para aplicação no BB (Anexo 4).

e. elaboração do roteiro de entrevista a ser aplicado nas

organizações selecionadas (Anexo 6).

f. aplicação do questionário no BB e realização das entrevistas

em outras organizações.

g. análise dos dados/informações coletadas.

O questionário aplicado ao público-alvo dentro do BB foi

estruturado de modo a obter as seguintes informações:

• segundo a percepção do entrevistado, qual seria a justificativa

para a utilização de cenários no BB. Nesta questão

objetivava-se não somente verificar se os entrevistados

percebiam a ligação existente entre cenários e incerteza

ambiental, bem como verificar quais as maiores

preocupações desses administradores. É importante observar

que todas as variáveis disponibilizadas para escolha

representavam questões de alto grau de incerteza.

• identificar como esses administradores percebiam o trabalho

de cenários já desenvolvido na organização e sua ligação

com a definição de estratégias.

• identificar a percepção dos entrevistados no que diz respeito

às contribuições que a atividade de cenário poderia trazer ao

BB. Esta questão foi elaborada com base na definição


95

utilizada por Godet (1996) ao descrever as contribuições do

instrumento.

• identificar, segundo a visão dos entrevistados que áreas do

BB deveriam participar da elaboração dos cenários.

• traçar o perfil dos entrevistados.

Para obter as informações a respeito da experiência de outras

empresas que já praticavam planejamento baseado em cenários

prospectivos, foi elaborado roteiro de entrevista que buscava obter dados

como motivação, histórico e experiência, tipo de metodologia adotada e

suas características, assim como as dificuldades enfrentadas para a

implantação da metodologia, as orientações e sugestões. Foi também

verificado se utilizavam alguma ferramenta de Inteligência Competitiva na

elaboração dos cenários.

5.3 Coleta de dados e definição da amostra

O primeiro passo para a coleta de dados no BB foi marcar as

entrevistas com todos os elementos pertencentes à população-alvo da

pesquisa. Entretanto, nem todos puderam ser entrevistados por

dificuldades de conciliação de agenda, o que acarretou em redução no

tamanho de amostra para as pesquisas (Tabela 2). De uma população de

83 elementos, 58 foram entrevistados, sendo os demais computados

como erro amostral54 durante a análise dos dados.

54
Erro amostral é o erro cometido por não estar examinando todos os elementos que compõe uma população.
96

Tabela 2

Tamanho da População e Amostra


Pesquisa realizada no Banco do Brasil, em set./out.1998.

Unidade População Amostra


UA Desenvolvimento Empresarial 20 19
UF Finanças 5 5
UEN Governo 5 5
UF Tecnologia 4 0
UF Recursos Humanos 4 0
UEN Seguridade 4 0
UEN Varejo e Serviços 4 1
UEN Internacional 4 2
UEN Rural e Agroindustrial 4 3
UEN Comercial 4 3
UA Comunicação e Marketing 4 3
UEN Mercado de Capitais 4 4
UF Distribuição 3 2
UF Crédito 3 2
UEN Recuperação de Crédito 3 2
UA Controladoria 3 3
Secretaria Executiva 2 2
UA Jurídico 1 0
UF Infra-estrutura 1 1
UA Auditoria 1 1
TOTAL 83 58
Obs.: Unidade=Unidade Estratégica de Negócios; UF=Unidade de Função; UA=Unidade de Assessoramento

O passo seguinte para a coleta dos dados foi dado nos primeiros

dias de setembro de 1998, com o início da aplicação do teste piloto em

oito elementos pertencentes à população-objeto de pesquisa no BB. O

teste tinha como objetivo verificar a adequabilidade do questionário. De

posse dos resultados desse teste, o questionário sofreu algumas

alterações quanto à forma. Um novo questionário foi aplicado em 10

outros elementos da população, ainda em caráter de teste. Com a

aprovação do questionário, partimos para a pesquisa propriamente dita. A

data-limite para a conclusão da pesquisa de campo foi definida como

sendo o último dia do mês de outubro de 1998.


97

Durante os meses de setembro e outubro, os dados referentes ao

questionário foram levantados através de entrevistas. Para os elementos

do público-alvo que, por algum motivo adverso, não puderam ser

encontrados após algumas tentativas, encaminhou-se o questionário via

correio interno da Empresa, acompanhado de correspondência

solicitando a devolução das resposta (Anexo 7).

Os procedimentos utilizados durante as entrevistas foram:

esclarecimento dos objetivos da pesquisa; entrega do questionário ao

respondente para que ele o completasse; esclarecimento dos

questionamentos realizados pelo entrevistado e anotação das

observações feitas pelo respondente.

Ressalta-se que todas as informações obtidas durante a

aplicação dos testes piloto foram utilizadas na análise dos resultados,

como também toda e qualquer observação feita pelos respondentes,

mesmo que não contidas no questionário.

A amostra definida para a realização da segunda fase da

pesquisa foi composta por três organizações: a Shell Brasil, a Secretaria

de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) e o Centro

de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego.

Os procedimentos utilizados para a coleta de dados nas outras

organizações foram: marcação de entrevista através de contato telefônico

mediante explicação dos objetivos da pesquisa; encaminhamento prévio

do roteiro de entrevista; realização da entrevista seguindo o roteiro

previamente encaminhado; anotação de todas as observações dos

entrevistados.
98

A entrevista na SAE, sobre utilização de cenários para a

elaboração de um projeto Nacional de longo prazo, foi realizada em

dezembro de 1998, com a Dra. Silvia Rego, Coordenadora de Assuntos

Econômicos e Tecnológicos; na Shell Brasil, sobre utilização de cenários

para elaboração do planejamento estratégico da empresa, foi realizada

em janeiro de 1998, com o Sr. Pedro Roquete Coordenador da área de

planejamento da Shell Brasil; e a entrevista realizada no Centro de

Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego (CAMR), sobre utilização de

cenários prospectivos para a elaboração de suas estratégias, foi

realizada, em janeiro de 1999, com o Capitão de Fragata Wesley

Wandermurem Cavalheiro, Chefe do Departamento de Sinalização

Náutica do CAMR.

Todas as entrevistas, tanto as realizadas no âmbito do BB como

nas demais organizações, foram realizadas com a presença de um

convidado que colaborou na anotação das respostas. Esse procedimento

teve como objetivo a absorção do máximo de informações fornecidas

pelos entrevistados.

Quanto à coleta de dados realizada através da aplicação de

questionário no BB, consideramos importante relatar que:

• O fato do questionário ter sido respondido na presença do

pesquisador trouxe importantes contribuições para a pesquisa

visto que, além da obtenção das respostas referentes ao

conteúdo do questionário, foram também obtidas outras

informações que auxiliaram na conclusão do trabalho (96% das

respostas foram obtidas via entrevista pessoal).


99

• Houve grande presteza, por parte dos entrevistados, no

fornecimento das informações solicitadas. Como o questionário

era bem objetivo, as entrevistas não se tornaram longas e

cansativas, recebendo, inclusive, elogios por parte dos

entrevistados. Acredita-se que esse tenha sido um dos fatores

que levaram os entrevistados a colaborarem espontaneamente

com opiniões além do solicitado pelo questionário.

5.4 Técnica de Análise dos Dados

As técnicas descritas abaixo foram utilizadas apenas para a

análise dos dados obtidos através da aplicação do questionário no Banco

do Brasil. Esses dados foram armazenados em planilhas do Microsoft

Excel e foram submetidos a tratamento estatístico baseado apenas nas

técnicas de estatística descritiva55 com o auxílio da mesma planilha

eletrônica. Não foi utilizado nenhum software estatístico, dado tratar-se de

análise simples e envolver um volume pequeno de dados.

Para cada característica da variável calculou-se sua média

aritmética simples e seu respectivo desvio padrão, como também sua

moda, medida estatística que indica a variável de maior freqüência. Para

outras variáveis foram calculadas apenas o percentual de resposta.

A maior parte das variáveis utilizadas no questionário

representam apenas postos, ou seja, os valores das variáveis são

diferentes entre si apenas por categoria, mas guardam certo tipo de


100

relação, no caso, escalar (Siegel, 1981). Sendo assim, são todas

variáveis discretas e os resultados provenientes do cálculo da média

foram arredondados segundo os critérios da ABNT.

É importante observar que, para o cálculo da média, não foram

consideradas as questões não respondidas. Essa decisão foi tomada

visto que a distorção que iria ser causada pelas respostas em branco,

caso fossem considerados com posto igual a zero, seria muito grande,

em função da média ser fortemente influenciada pelos valores extremos o

que forneceria uma visão distorcida dos dados.

Para o cálculo da moda também não foram consideradas as

questões em branco, visto que o objetivo da aplicação dessa medida de

dispersão está associada à verificação de qual variável o entrevistado

reconhecia como a mais importante. O "erro" cometido por não considerar

as respostas em branco foi contornado durante a análise dos resultados,

a qual foi realizada levando em consideração a freqüência total de

apontamentos destinada a cada variável.

A maioria dos dados analisados representa apenas postos de

suas variáveis e não possui nenhum valor paramétrico, o que inviabiliza

uma análise paramétrica das variáveis. As poucas variáveis quantitativas

não são submetidas à análise paramétrica porque fogem dos objetivos da

pesquisa.

Apesar de não se fazer nenhuma análise estatística mais robusta,

o levantamento resulta na obtenção de informações importantes e

55
Estatística descritiva é aquela que tem por objetivo descrever e analisar dados relativos à determinada
população, sem pretender tirar conclusões de caráter mais genérico (Martins e Donaire, 1982, 14).
101

pertinentes ao estudo que certamente poderão ser utilizadas como base

para os próximos estudos à respeito do assunto.

5.5 Comentários sobre as limitações do estudo exploratório

Em função das limitações de tempo e recursos, esta pesquisa

não constitui-se trabalho completo e definitivo. Entretanto, acredita-se que

seus resultados podem subsidiar estudos futuros e servir de base para

aprimorar a metodologia de cenário em uso no BB. Os resultados da

pesquisa permitiram a identificação de falhas existentes no processo

atual e forneceram indicações de ações que teriam como resultado a

obtenção de maior efetividade na definição das estratégias da Empresa

com base nos cenários prospectivos.

No que diz respeito às entrevistas, reconhece-se a

vulnerabilidade do trabalho em função do número reduzido de

organizações entrevistadas. Contudo, consideramos válidos os resultados

obtidos sob o ponto de vista da experiência adquirida, como também da

obtenção de informações importantes a respeito da experiência obtida por

outras organizações em diversos métodos de elaboração de cenários,

visto que tivemos a oportunidade de obter informações de organizações

que utilizaram o método do Godet, da GBN e o descrito por Grumbach.

Como o objetivo não se consistia numa análise quantitativa e

probabilística dos dados obtidos nas entrevistas junto a essas

organizações, não foi utilizado um questionário estruturado. Entretanto,

fica a ressalva de que para obtenção de análise mais consistente dos


102

diversos métodos de elaboração de cenários, não somente deverá ser

elaborado um questionário estruturado, como também o tamanho da

amostra deverá ser ampliado para um número que permita tal análise.

É importante ressaltar que as informações obtidas por essa

pesquisa poderão servir como subsídio para a estruturação desse

questionário. Estamos certos que com maior tempo e recursos poder-se-á

obter informações interessantes sobre a aplicação dessas metodologias e

seus resultados.

O questionário aplicado no BB não somente atendeu aos

objetivos propostos, como também foi de fácil aplicação e aceitação por

parte dos entrevistados. Consideramos os dados obtidos válidos, visto

que, 70% da população alvo foi entrevistada, parcela essa significativa

quando tratamos de uma pesquisa de campo.

Entretanto, o questionário poderia ter sido melhor estruturado no

sentido de facilitar a entrada de dados em um software para análise da

informações. Em função dessa falha na elaboração do instrumento, foi

necessário elaborar codificação posterior das diversas variáveis para

possibilitar sua apuração em termos estatísticos, conforme mostrado no

Anexo 5.

As entrevistas realizadas permitiram uma maior compreensão da

percepção dos executivos da Empresa em relação ao tema, com

também, as entrevistas realizadas fora do Banco foram de grande valia,

tanto para o entendimento dos diversos métodos, como das dificuldades

enfrentadas por essa organizações durante a aplicação do método.


103

Acreditamos também que obtivemos bons resultados com essa

pesquisa de campo se levarmos em consideração as dificuldades

enfrentadas e a falta de tradição de pesquisa em nossa sociedade.


104

6 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

Esse capítulo tem por objetivo apresentar e comentar os

resultados obtidos por essa pesquisa com base nos dados levantados e

nas análises estatísticas realizadas.

6.1 Questionário aplicado no Banco do Brasil

A primeira questão (Anexo 4), cujos resultados obtidos encontram-

se na Tabela 3, procurava identificar se o entrevistado tinha percebido a

incerteza ambiental como principal justificativa para a utilização de

cenários prospectivos. Procurava identificar também quais variáveis, em

ordem de prioridade, mais preocupavam os administradores. Ressalta-se

que, como comentado no capítulo 5.2, todas as variáveis selecionadas

possuíam alto grau de incerteza.

As variáveis mais citadas como justificativas para a utilização de

cenários foram a “globalização” (95%), “acirramento da concorrência”

(93%) e “fusões e aquisições na área financeira” (90%).

A variável “ambiente cada vez mais incerto” recebeu 86% de

indicação quanto à sua pertinência ao tema. Mesmo tendo obtido moda


105

igual a um na avaliação de importância, esse valor representou apenas a

opinião de menos da metade dos entrevistados.

Tabela 3

Justificativa de utilização de cenários como instrumento de definição de estratégia


Banco do Brasil - set./out. de 1998

Variáveis Total Moda Média σ Importância


fi % 1 2 3 4 5 6 7
Globalização 55 95 1 2 1,0 22 19 8 6 0 0 0
Acirramento Concorrência 54 93 3 3 1,3 9 10 17 9 8 1 0
Fusões e Aquisições* 52 90 4 4 1,4 3 9 13 15 6 6 0
Incerteza** 50 86 1 2 1,4 25 12 4 4 3 2 0
Desregulamentação 45 78 5 4 1,2 0 4 8 9 18 6 0
Função dos Bancos*** 45 78 6 5 1,4 1 3 3 6 7 23 2
Outros 12 21 7 5 1,9 1 0 3 2 2 0 4
*fusões e aquisições na área financeira
**ambiente cada vez mais incerto
***questionamento da função dos bancos
O % foi calculado com base no número total de entrevistados, cujo valor é 58.

A variável “globalização” também obteve como valor de moda "1",

na avaliação de importância. Em terceiro e quarto lugares foram

identificadas as variáveis “acirramento da concorrência” e “fusões e

aquisições”, que obtiveram o mesmo valor para a moda e para a média

na avaliação de importância.

A variável que obteve como moda o menor grau de importância

foi “questionamento da função dos bancos”. Obteve também o menor

percentual de indicação de pertinência ao tema por parte dos

entrevistados em relação às demais variáveis (78%).

Outras questões importantes, por guardarem um alto grau de

incerteza, também foram citadas pelos entrevistados através da opção

“outros” como por exemplo: a desintermediação financeira, a privatização

e as mudanças sociais que impactam o comportamento do consumidor.


106

A segunda questão (Anexo 4), cujos resultados se encontram na

Tabela 4 objetivava identificar, segundo a percepção dos entrevistados,

em qual estágio o BB se encontrava no que se refere ao método de

desenvolvimento de cenários e sua aplicação no processo de

planejamento estratégico.

Tabela 4

Metodologia de Cenários X Planejamento


Estágio em que se encontra o BB
Set./Out. 1998

Variáveis Estágio
fi %
Domina a metodologia, desenvolve e aplica 21 36
Reconhece, desenvolve e busca domínio da metodologia, não aplica 20 35
Reconhece a importância de cenários, porém não aplica 8 14
Outros 6 10
Reconhece a importância e aplica cenários de outras instituições 2 3
Desconhece cenários e portanto não aplica 1 2
Domina a metodologia, aplica cenários de outras instituições 0 0
Total 58 100
O % foi calculado com base no número total de entrevistados, cujo valor é 58.
fi freqüência absoluta

Observa-se na Tabela 4 que apenas 36% dos entrevistados

afirmaram que o Banco do Brasil “domina a metodologia de cenários,

desenvolve seus próprios cenários e os aplica nas atividade de

planejamento do Banco”, 35% responderam que o BB “reconhece a

importância dos cenários, desenvolve cenários e busca o domínio da

metodologia”, 14% responderam que o BB “reconhece a importância de

cenários porém não os aplica em suas atividades de planejamento” e 3%

responderam que o BB “reconhece a importância e aplica cenários

elaborados por outras instituições”.


107

Um único entrevistado respondeu que o BB desconhecia cenários

e portanto, não aplicava. Entretanto, esse executivo da Empresa fez

questão de justificar sua resposta, explicou que conhecia o trabalho

desenvolvido pela UDE ao nos mostrar um exemplar dos cenários

elaborados pela área, e relatou que utiliza aquele material para auxiliar

suas decisões mas que, na opinião dele, o Banco, de uma maneira geral,

desconhecia o instrumento “cenários prospectivos” e sua potencialidade

e, portanto, não o aplicava como deveria.

Os entrevistados que optaram pela alternativa “outros”

forneceram depoimentos interessantes, tais como:

• "O Banco reconhece parcialmente a importância dos cenários,

aplicando-os também parcialmente na atividade de

planejamento.”

• "Reconhece a importância dos cenários e os aplica de forma

precária na definição de estratégias."

• "Desenvolve cenários sem o domínio da metodologia."

• "Reconhece a importância, desenvolve e domina a

metodologia de cenários, mas falta uniformidade/padronização

quando aplicados."

• "Reconhece a importância dos cenários, desenvolve cenários e

busca o domínio da metodologia, mas não os aplica em suas

atividades de planejamento."

• "Reconhece a importância de cenários, porém não o aplica de

forma uniforme, uma vez que o trabalho é desenvolvido em

diversas áreas no Banco.


108

No que diz respeito às "contribuições que a atividade de cenários

poderiam trazer ao BB" (Anexo 4), pesquisadas na 3ª questão, os

resultados colhidos constam na Tabela 5.

Tabela 5

Contribuições da Atividade de Cenários


Banco do Brasil set./out. 1998

Variáveis Total Moda Importância


fi % 1 2 3 4
Pensamento estratégico/visão de futuro 53 91 3 16 14 21 2
Respostas à incerteza 54 93 2 16 25 13 0
Reorientação estratégica 53 91 1 25 15 13 0
Outros 3 5 - 1 0 1 1
Nenhuma contribuição 0 0 - 0 0 0 0
O % foi calculado com base no número total de entrevistados, cujo valor é 58.
fi freqüência absoluta.

Sob o ponto de vista da moda, os resultados obtidos acima

mostram que, pela percepção dos entrevistados, a variável que possui o

maior grau de importância é “reorientar as estratégias do BB, em função

da antecipação de mudanças e rupturas do contexto em que o Banco

atua e de seus impactos na estratégia atual”. Em segundo lugar foi

classificada a variável “melhorar a capacidade e a flexibilidade de

resposta às incertezas do ambiente externo, antecipando ameaças e

oportunidades para o BB” e em terceiro lugar “estimular o pensamento

estratégico e estabelecer uma visão de futuro”.

Observa-se também que todos os entrevistados consideram que

os cenários trazem alguma contribuição para a Empresa, visto que o item

“nenhuma contribuição” não recebeu nenhuma indicação.

Outras contribuições foram obtidas através da variável “outros”,

como por exemplo:


109

• “Estimular a criação de uma área voltada para cuidar de

Inteligência Competitiva.”

• “Permitir olhar para a frente.”

• “Utilizar o cenário na elaboração de estratégias.”

A Tabela 6 mostra, em termos percentuais e absolutos, as

Unidades do BB que deveriam participar da elaboração dos cenários para

a Empresa, segundo a opinião dos entrevistados (Anexo 4).

Tabela 6

Áreas que Deverão Participar da Elaboração de Cenários no BB


set./out. 1998

Unidades Devem Participar


fi %
UA Desenvolvimento Empresarial 55 95
UEN Internacional 53 91
UF Finanças 52 90
UEN Mercado de Capitais 50 86
UEN Comercial 47 81
UEN Governo 46 79
UEN Varejo e Serviços 46 79
UEN Rural e Agroindustrial 40 69
UEN Seguridade 35 60
UF Crédito 35 60
UA Controladoria 29 50
UF Tecnologia 29 50
UA Comunicação e Marketing 28 48
UF Distribuição 25 43
UF Recursos Humanos 23 40
UEN Recuperação de Crédito 17 29
UA Jurídico 14 24
Secretaria Executiva 11 19
UF Infra-estrutura 11 19
UA Auditoria 9 16
Outros 4 7
Unidade = Unidade Estratégica de Negócios; UF = Unidade de Função;
UA = Unidade de Assessoramento.
O % foi calculado com base no número total de entrevistados, cujo valor é 58.
fi freqüência absoluta.

A maioria dos entrevistados (95%) indicaram a UDE como área

de importante participação na elaboração de cenários. Das outras


110

Unidades do Banco, as mais indicadas foram a UEN Internacional (91%),

a UF Finanças (90%) e a UEN Mercado de Capitais (86%).

Outros resultados importantes estão associados a UEN Rural e

Agroindustrial, a qual foi indicada por 69% dos entrevistados, a UF

Tecnologia (50%) e a UF Distribuição (43%).

Os resultados obtidos do perfil dos respondentes (Tabelas 7, 8)

foram os seguintes: possuem mais de 15 anos de Casa (98%), sendo que

47% destes têm mais de 20 anos no BB. A maioria pertence à alta

administração da Empresa (69%) e o restante à área técnica (26%) ou

gerencial (5%), parcela essa representada por pessoas que trabalha com

a elaboração de cenários - a maior parte das pessoas pertencentes à

UDE.

Tabela 7

Tempo de Casa Tabela 8


Banco do Brasil set./out 1998
Tempo fi % Função Exercida
menos 5 anos 1 2 Banco do Brasil set./out. 1998
de 5 a 9 anos 0 0 Tipo fi %
de 10 a 14 anos 0 0 Alta administração 40 69
de 15 a 20 anos 30 51 Gerencial 3 5
mais de 20 anos 27 47 Técnica 15 26
Total 58 100 Total 58 100
fi freqüência absoluta. fi freqüência absoluta.
Alta Administração: Chefe da Controladoria,
Superintendentes-Executivos, Gerentes-
Executivos e Secretários-Executivos.
Gerencial: Gerentes.
Técnico: Assessores Master e Sênior.

Quanto à auto-avaliação dos entrevistados com relação ao seu

conhecimento sobre as técnicas de geração de cenários (Tabela 9),

apenas 3% dos entrevistados consideram não possuir nenhum

conhecimento; 26%, conhecimento superficial; 25%, conhecimento


111

básico; 43%, conhecimento médio; e apenas 4%, conhecimento

aprofundado.

Tabela 9

Conhecimento das Técnicas de Cenários


Banco do Brasil set./out 1998

Conhecimento fi %
Nenhum 2 3
Superficial 15 26
Básico 14 25
Médio 25 43
Aprofundado 2 3
Total 58 100
fi freqüência absoluta.

Outras informações foram coletadas durante as entrevistas e

estão ligadas diretamente aos comentários que os entrevistados fizeram

durante as entrevistas. As mais comuns foram:

• "A UDE deveria soltar cenários semanalmente."

• "Os cenários macroeconômicos....."

• "Como a incerteza é grande, os cenários não deveriam passar

de um ano, mais que isso é adivinhação."

• "Preciso dos cenários para saber qual decisão devo tomar

para o dia de hoje."

• "A nossa área, como é muito específica, compra cenários para

nortear nossas decisões."

• "Os cenários deveriam ser mais difundidos dentro da

Empresa, eles são pouco divulgados."


112

6.2 Entrevistas realizada em outras organizações

A seguir, é apresentado o resumo das entrevistas realizadas junto

às organizações selecionadas segundo critérios descritos no Capítulo 5.

6.2.1 Shell Brasil S.A.

A Shell foi a pioneira na elaboração de cenários empresariais

com o objetivo de fornecer melhor ferramenta para a realização do

planejamento estratégico em ambientes de grande turbulência. Iniciou

seu planejamento estratégico baseado em cenários em 1960 com o

trabalho de Wack. Esse trabalho teve grande repercussão mundial após

os resultados obtidos durante o choque do petróleo havido na década de

70, em função das decisões tomadas com base nos cenários construídos.

No Brasil, a elaboração de cenários teve início na década de 80 e foi

implementada já com a visão de instrumento para definição de

estratégias.

A sede da empresa no Brasil fica no Rio de Janeiro, onde são

elaborados o orçamento e o planejamento da empresa. A área de

planejamento estratégico, onde também são desenvolvidos os cenários,

está localizada na Diretoria de Planejamento. Funcionava com oito

técnicos, os quais foram reduzidos para quatro após a restruturação

ocorrida no final de 1997, quando o quadro de toda a empresa foi

reduzido pela metade.


113

Os cenários desenvolvidos pela Shell são divulgados tanto dentro

quanto fora da empresa, variando os veículos utilizados e o volume de

informações disponibilizado. A divulgação é efetuada através de palestras

e folders produzidos para cada público específico. A divulgação dentro da

empresa visa atingir todos os empregados. Fora da empresa o foco são

os clientes, os fornecedores e o governo.

As revisões são feitas, em geral, de dois em dois anos e o

processo leva, em média, de três a quatro meses. A empresa trabalha

com cenários exploratórios múltiplos. São gerados pelo grupo de

planejamento, em média, cinco cenários. Destes, dois são escolhidos e

apresentados à diretoria e aos demais membros da empresa. Após a

discussão e elaboração das estratégias que nortearão a atuação da Shell

no Brasil, estes documentos são encaminhados à matriz da empresa em

Londres. De posse dos cenários mundiais desenvolvidos pela matriz e de

todos os demais cenários e propostas de estratégia desenvolvidos em

todas as partes do mundo onde a empresa atua, é determinada a

estratégia de atuação global e a de cada país individualmente.

A empresa desenvolve cenários exploratórios múltiplos tanto

globais como focalizados para setores específicos. Na entrevista, foi

citado, como exemplo, o último trabalho realizado a respeito dos cenários

elaborados para o setor de ferrovias.

Os passos seguidos pela Shell para elaboração de cenários são:

• em primeiro lugar, o problema é definido. Durante esta etapa é

definida a lista de peritos que serão consultados e desenhado

o modelo mental dos dirigentes - juízos de valor a respeito dos


114

temas a serem abordados e suas principais preocupações,

expectativas e aspirações. Essas informações são obtidas via

elaboração de questionário e entrevistas aos dirigentes da

empresa ou através de pronunciamentos dos mesmos;

• passa-se então à elaboração do diagnóstico do problema

acima mapeado através de minucioso levantamento de

variáveis externas e internas ao sistema; pesquisa

retrospectiva; construção de uma “imagem do estado atual”;

entendimento das causas e origens da situação atual;

elaboração de documento que contém o diagnóstico;

• após a análise do diagnóstico são utilizadas técnicas de

brainstorming para identificação das variáveis-chave;

• os peritos são consultados por meio de entrevistas pessoais

para identificação/confirmação das variáveis-chave. O

questionário norteador da entrevista é desenvolvido com base

no diagnóstico realizado;

• classificam as variáveis-chave quanto à sua importância e

incerteza;

• passa-se à construção dos cenários. Uma reunião é realizada

para concepção de eventos futuros como auxílio à identificação

de eventos que poderão surgir no futuro. A base do exercício

será a classificação das variáveis-chave quanto à sua

importância e incertezas. Técnicas de brainstorming são

utilizadas neste momento. Os cenários possíveis são indicados


115

e interpretados. É realizada análise dos cenários propostos e

cinco cenários são selecionados.

• durante uma reunião para realização da primeira filtragem,

esses cenários são apresentados a peritos de dentro da

instituição. O resultado dessa discussão é a seleção de apenas

2 cenários;

• durante a reunião com o grupo de planejadores da Shell

efetua-se a validação desses cenários por consultores

externos;

• após as correções necessárias, o documento final é

confeccionado e os cenários são apresentados e discutidos

com os executivos para a definição das estratégias a serem

adotadas pela empresa.

Segundo informações dos entrevistados, essas estratégias

somente serão executadas após a aprovação da matriz.

A área dispõe de informações advindas de consulta a

especialistas externos e internos e do centro de documentação da

empresa, que lhes fornece periódicos especializados, pesquisas

específicas e informações em geral. Para o grupo de planejadores da

Shell, as informações consideradas mais importantes para a elaboração

dos cenários são as advindas de variáveis qualitativas.

No Brasil, a implantação deste processo de planejamento

estratégico baseado em cenários não obteve nenhuma resistência, pois a

empresa já possuía essa cultura, visto que a empresa no Brasil teve


116

como um de seus administradores Arie de Geus, ex-chefe da área de

planejamento da matriz e especialista na elaboração de cenários.

O entrevistado recomendou-nos que qualquer empresa que

estivesse iniciando um trabalho de planejamento estratégico baseado em

cenários deveria procurar elaborar seus cenários da forma mais objetiva

possível, ou seja, ressaltando as questões da indústria e resumindo os

documentos produzidos fossem resumidos de forma que as pessoas

tivessem interesse pela leitura dos mesmos. Além disso, ao final do ciclo

de elaboração de cenários, estes deveriam ser divulgados por toda

empresa na forma de palestras.

6.2.2 SAE

A SAE tem como uma de suas atribuições assessorar o

Presidente da República do Brasil na formulação da concepção da

estratégia nacional e na definição de estratégias de desenvolvimento. Tal

função é exercida pela Subsecretaria de Análise e Avaliação, área

responsável pela elaboração dos cenários para o País. A área tem como

objetivo desenvolver as hipóteses que contenham o desenvolvimento

favorável para o País e conceber o planejamento estratégico para atingi-

lo.

Para atingir seu objetivo, essa Subsecretaria optou por trabalhar

com cenários, por considerá-los o melhor instrumento a ser utilizado para

obtenção das estratégias. O entrevistado relatou que essa decisão foi

tomada com base na experiência adquirida em 1990 quando a Secretaria


117

trabalhou com essa metodologia em um estudo sobre a matriz energética

a ser adotada pelo País.

Os trabalhos de elaboração de cenários para o País iniciaram-se

em 1992 com a construção dos cenários globais e receberam um grande

incentivo do Embaixador Ronaldo Sardenberg, Secretário de Assuntos

Estratégicos na época. Os responsáveis pela área consideram que é de

fundamental importância que o tomador de decisão acredite no processo

de elaboração de cenários para o seu desenvolvimento.

Os trabalhos de elaboração de cenários são coordenados por um

grupo de funcionários da SAE, composto por 15 técnicos com uma visão

generalista e 5 funcionários de apoio. Essa equipe faz estudos tanto de

cenários globais quanto focalizados.

Inicialmente foram desenvolvidos três cenários mundiais. Com

base nessa visão de mundo foram definidos três cenários exploratórios

múltiplos nacionais. A última etapa consistiu na criação de um cenário

desejável.

Os resultados desse trabalho estão sendo amplamente

divulgados para toda a sociedade brasileira através de videoconferências

e seminários em todo o País, como também na Câmara dos Deputados,

no Senado e pela Internet, no endereço http://www.sae.gov.br/saa01.htm,

onde podem ser encontrados os três cenários exploratórios e o cenário

desejável. Foi também elaborado um vídeo de aproximadamente 14

minutos, abordando esses quatro cenários, o qual foi veiculado na TVE e

na Radiobrás.
118

Os cenários exploratórios, elaborados em 1997, foram revistos

em 1998. O Grupo ainda não definiu um período de revisão desses

cenários, mas espera que a periodicidade seja anual.

Para a elaboração dos cenários mundiais, o grupo utilizou-se da

experiência do Itamarati (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) e

dos cenários elaborados por países como Japão, Alemanha, EUA e

organismos internacionais como a OEA e OCDE.

Para a elaboração dos cenários exploratórios nacionais foram

seguidas as seguintes etapas:

• definiu-se as dimensões do trabalho em nível social,

econômico, político, tecnológico, ambiental, espacial e

cultural;

• foram realizados workshops para cada um desse temas com

a participação de especialistas, em que se identificou as

principais variáveis, oportunidades e pontos de crise;

• com base nas variáveis obtidas no workshop, foi montada a

matriz de impactos cruzados;

• foram identificados os principais elementos portadores de

futuro, que foram hierarquizados e submetidos à análise

morfológica;

• os três cenários foram gerados com base nas seguintes

filosofias: foco no desenvolvimento econômico acelerado

dando pouca relevância às questões sociais; grande

relevância nas questões sociais com um crescimento


119

econômico reduzido; e situação econômica mundial

desfavorável e o respectivo impacto para o Brasil.

Segundo os entrevistados, não foi considerado o fator

probabilístico nos cenários desenvolvidos, ou seja, não se estimou a

probabilidade de ocorrência de um ou outro cenário.

Para a construção do cenário desejado, foram consultados vários

representantes de diversas camadas da sociedade brasileira. No primeiro

momento foram entrevistados, pessoalmente, 70 atores56 representantes

de organizações sociais não-governamentais como sindicatos,

associações, etc. Nessas entrevistas foram verificados os desejos dessas

pessoas para o Brasil no ano 2020, os obstáculos para alcançar esses

desejos e quais as ações que poderiam ser tomadas para atingir os

desejos.

Numa segunda etapa foram selecionados mais 280 atores com o

intuito de ampliar a visão setorial e regional. Para esses novos atores, os

questionários foram encaminhados via e-mail, correio ou fax. Obteve-se

mais da metade de retornos dos questionários, número considerado

significativo para retorno de pesquisa.

Questionados a respeito do número de respostas colhidas via e-

mail, os respondentes não souberam informar o percentual, mas

afirmaram que tinha sido significativo, dado o acompanhamento realizado

por telefone, por meio do qual as pessoas eram avisadas do

encaminhamento do questionário e solicitados a acusar o recebimento.

56
Confira cap. 2.3.1 p. 30 desta obra.
120

Acreditavam que os três seminários regionais desenvolvidos para

a discussão dos temas também serviram para estimular as pessoas a

responderem os questionários.

Nesta fase, foi também elaborada pesquisa mais ampla de

opinião pública em que foi ouvido o cidadão comum, escolhido

aleatoriamente.

Um resultado interessante verificado durante a fase de

elaboração do cenário desejado é que, no longo prazo, as pessoas têm,

em geral, os mesmos desejos para o País.

Não possuem um sistema estruturado de monitoração do

ambiente, mas relataram que diversos órgãos como o IPEA, o Banco do

Brasil, o BNDES, o IBGE através do PNAD e outros mantêm a SAE

informada sobre seus estudos específicos. Isto resulta no recebimento

constante da monitoração feita por esses órgãos. Entretanto, consideram

o retorno da informação mais estruturado, visto que, a área encaminha

periodicamente os estudos que realiza.

Utilizam-se de diversas fontes de informações e, principalmente,

de sua rede de especialistas composta por representantes do meio

acadêmico, economistas, políticos, religiosos, grupos de jovens,

representantes de organizações não-governamentais como o MST, CUT

e outras. Consideram a lista bastante abrangente e democrática.

Para a realização dos trabalhos, as informações qualitativas

foram as mais valorizadas. Consideram essa informação mais adequada

e muito mais relevante, visto que as variáveis quantitativas são mais

difíceis de serem trabalhadas no longo prazo. Em alguns momentos, as


121

variáveis quantitativas teriam atuado como obstáculo na realização dos

trabalhos, em virtude do grau de questionamento gerado em torno de seu

real valor.

A questão da utilização dos cenários para o planejamento

governamental somente poderá ser avaliada a partir do próximo ano, pois

o estudo foi finalizado em fins de 1998 e não houve tempo suficiente para

sua utilização. No momento das entrevistas, a SAE estava trabalhando na

fase de divulgação dos resultados, mas estava confiante na sua utilização

para definição das políticas governamentais.

Os respondentes relataram que a iniciativa da SAE e suas

conclusões já estão gerando resultados. Além de levar a discussão sobre

a necessidade de se pensar o futuro a várias instâncias da sociedade

brasileira, conduziram outros órgãos governamentais a trabalharem com

essas ferramentas que ajudam a desenvolver visão de longo prazo para o

Brasil.

Os respondentes comentaram ainda que a receptividade da

sociedade ao trabalho foi muito boa. O fato da sociedade ter sido ouvida

durante a elaboração do cenário desejado para o Brasil teve uma

repercussão muito boa para o Governo.

Segundo a opinião do grupo, além dos cenários exploratórios,

todo o trabalho de planejamento baseado em cenários deverá contemplar

a elaboração do cenário desejável e os estudos de cenários deverão se

concentrar na análise das variáveis qualitativas.


122

6.2.3 Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego

O CAMR é um órgão da Marinha brasileira criado em 1964 com a

finalidade de gerenciar a sinalização náutica na águas jurisdicionais

brasileiras. As primeiras atividades de sinalização náutica no Brasil

remontam ao século XVII e desde essa época a Marinha cuida do

assunto. Embora criado em 1964, as atividades do CAMR já eram

executadas por outros órgãos (Diretoria de Faróis, Departamento de

Sinalização Náutica da Diretoria de Hidrografia e Navegação, etc.).

Atualmente, ele cuida diretamente de cerca de 1700 sinais e fiscaliza a

operação e manutenção de outros 1.700, os quais estão a cargo de

empresas e outros órgãos governamentais.

O motivo do Centro ter partido para a elaboração de cenários

prospectivos foi a necessidade de criação da visão prospectiva para

auxiliar nas decisões de identificação e estabelecimento de suas

diretrizes e metas. Tais decisões envolvem grandes investimentos que

não podem ser alocados sem uma visão temporal futura, principalmente

no que diz respeito aos aspectos tecnológicos e legislativos futuros. Em

1997, para auxiliar o Centro nessa tarefa, foi contratada uma empresa de

consultoria externa.

Os cenários gerados foram divulgados no âmbito do Centro por

meio de palestras efetuada aos diversos grupos de pessoas que

conduzem o processo de cumprimento das diretrizes e metas do órgão. A

divulgação também foi feita para fora do Centro, também através de

palestra, tendo como público-alvo outras empresas diretamente


123

relacionadas ao Centro (coligadas) com poder de decisão em questões

relacionadas, e os seus fornecedores.

Para a revisão completa do processo de elaboração de cenários,

ficou estabelecido o intervalo de cinco anos, com a realização de

acompanhamento contínuo dos eventos de interesse selecionados.

Foram desenvolvidos três cenários exploratórios extrapolativos. O

sistema considerado foi focalizado na questão da sinalização dentro do

País no horizonte temporal de 12 anos (até 2010) - definido em função do

valor dos investimentos necessários, expectativa de gap tecnológico e

mudanças de infra-estrutura. Para a elaboração desses estudos de

cenários foram observados os trabalhos da IALA-Associação

Internacional das Autoridades de Auxílio a Navegação e Faróis, órgão

normativo mundial.

Não existia uma área específica responsável pela elaboração de

cenários, tendo sido relatado que durante o processo de elaboração dos

cenários sua necessidade foi identificada. O trabalho foi desenvolvido por

oito pessoas no Setor Operativo57, responsável pela monitoração

ambiental que subsidia a elaboração do planejamento estratégico.

Os respondentes relataram que a atividade de monitoração e

planejamento estratégico é realizada pelo Centro há 35 anos. No entanto,

o trabalho de planejamento era desenvolvido com base em previsões

realizadas de maneira empírica. O trabalho realizado em 1997 constituiu

a primeira experiência com cenários prospectivos e com a utilização de

metodologia científica e sistêmica.

57
O Setor Operativo é o próprio Departamento de Sinalização Náutica. Ele gerencia a operação, manutenção
e fiscalização de toda a sinalização náutica brasileira. Neste sentido, adquire material, provê soluções
124

Informaram que a metodologia utilizada foi a descrita por

Grumbach, e todos os passos foram seguidos conforme relatado no

capítulo 3.1.4. Utilizaram, inclusive, um software desenvolvido para

otimização do método Delphi, o qual gerava relatórios que facilitavam a

análise das respostas dos peritos.

Citaram algumas experiências vividas no plano do aprendizado

gerado pela utilização da metodologia de cenários, como, por exemplo, o

desenvolvimento da visão sistêmica, com a integração, inclusive, de

diversas variáveis macroambientais que antes não eram levadas em

consideração durante a elaboração do planejamento. Também

salientaram o aprimoramento da capacidade de observação e de isenção

da realidade vivida no Centro.

Para o entrevistado, tanto as informações qualitativas quanto as

quantitativas possuem igual importância para o processo decisório em

planejamento estratégico e, portanto, para a elaboração de cenários.

As principais fontes utilizadas para obtenção dos dados que

foram utilizados pelos cenaristas em ordem de importância foram: as

associações, a legislação, os fornecedores, a imprensa e as publicações

em geral.

Foi relatado que a maior dificuldade enfrentada durante o

processo foi a descontinuidade da política do Centro. Outro fator citado foi

a dificuldade de permanência de pessoal qualificado para a condução do

processo.

técnicas, orienta a aplicação de recursos financeiros, fiscaliza e controla o correto funcionamento dos sinais,
etc.
125

O entrevistado forneceu algumas sugestões para uma empresa

que esteja iniciando a implantação de planejamento baseado em

cenários:

• buscar o comprometimento da alta administração da

empresa;

• criar um setor exclusivo para administração estratégica e

elaboração de cenários;

• selecionar pessoal qualificado para a condução do processo.


126

7 ANÁLISE DOS DADOS

Esse capítulo objetiva interpretar, justificar e criticar os resultados

obtidos pela pesquisa de campo com base na revisão bibliográfica

realizada nos capítulos 2 e 3.

Conforme foi descrito na revisão da bibliografia, olhar o futuro

como sendo múltiplo e incerto é o princípio que norteia a prospectiva. Os

cenários prospectivos são visões de futuro baseados nesses princípios,

cujo objetivo é fornecer ao tomador de decisão as melhores condições

para definir suas estratégias em um ambiente de grande incerteza.

Segundo todos os autores pesquisados, o que justifica a utilização de

cenários prospectivos é a incerteza ambiental. Se não houver incerteza

ambiental, não há necessidade de se trabalhar com cenários para a

definição de estratégias, basta fazer projeções ou previsões.

Foi observado que nas três organizações entrevistadas, essas

questões estavam claras e os cenários haviam sido construídos e

aplicados com base na filosofia introduzida pela prospectiva. Além disso,

consideram os cenários prospectivos como um excelente instrumento a

ser utilizado para auxiliar na definição de suas estratégias em ambiente

de grande incerteza, ratificando a teoria.

Entretanto, ao analisarmos os resultados da pesquisa realizada

no âmbito do BB, verificamos que a maioria dos entrevistados não têm

claro o que sejam cenários prospectivos, qual o objetivo da elaboração


127

destes cenários, quando devem ser utilizados e qual a sua finalidade e,

quais são os princípios que norteiam a visão prospectiva. Esta

constatação pode explicar a dificuldade de interação entre os cenários

elaborados pela Empresa e a definição de suas estratégias, bem como a

falta de definição de planos emergenciais ou de contingências. Pode

explicar também a grande necessidade, por parte dos tomadores de

decisão, da identificação do cenário mais provável para nortear a tomada

de decisão, como também sua utilização para decisões de curto prazo.

Estas constatações ficaram evidenciadas em vários momentos da

pesquisa que serão discutidos a seguir.

A primeira indicação do exposto acima é verificada ao

analisarmos as respostas obtidas na “Questão 1” (Anexo 4) pela variável

“ambiente cada vez mais incerto”. Apesar desta variável, do ponto de

vista estatístico, se apresentar como moda (a indicação pela maioria de

principal justificativa da necessidade de utilização de cenários

prospectivos como instrumento de definição de estratégias), menos da

metade dos entrevistados correlacionaram-na como a justificativa mais

importante para a elaboração de cenários na Empresa. Sendo assim,

ficou claro que a maior parte dos entrevistados desconhecia o fato de que

a grande justificativa da utilização dos cenários é a incerteza ambiental.

Esta primeira questão nos fornece outros resultados interessantes

que merecem ser discutidos. Como todas as variáveis que compunham a

“Questão 1” foram escolhidas por possuírem um alto grau de incerteza

com relação ao seu comportamento futuro e obtiveram significativa

indicação por parte dos entrevistados, essas variáveis podem ser


128

aproveitadas pelos elaboradores de cenários, visto que representam as

principais preocupações dos administradores da Empresa.

As variáveis que obtiveram o maior percentual de indicação por

parte dos entrevistados, por ordem de prioridade, foram globalização,

seguida por acirramento da concorrência, incerteza do ambiente, e as

fusões e aquisições.

A variável que trata do questionamento da função dos bancos foi

a que recebeu menor pontuação, sendo uma das menos votadas.

Entretanto, ela foi incluída na pesquisa em função da identificação de

fatos portadores de futuro que mostram essa possível mudança de

impacto significativo na indústria financeira.

Fica evidenciado que ou os entrevistados ainda não estão

sensibilizados quanto a esta questão, ou esta variável ainda não faz parte

dos mapas mentais dos dirigentes da Empresa.

Outra informação interessante obtida foi a verificação de que

todas as outras variáveis indicadas pelos entrevistados contêm, também,

grande incerteza implícita. Essa constatação demonstra que, ainda que

intuitivamente, os entrevistados associam a justificativa da utilização de

cenários com a incerteza ambiental.

A segunda indicação extraída da pesquisa foi a de que a maior

parte dos entrevistados está preocupada com as decisões de curto prazo

e usa os cenários para auxiliá-los a tomar essas decisões.

Outra constatação obtida em função dos comentários efetuados

durante a aplicação dos questionários diz respeito ao fato dos


129

entrevistados utilizarem a palavra “cenários” de forma indiscriminada,

como sinônimo de previsão ou mesmo de conjuntura.

O comportamento do executivo voltado para a decisão de curto

prazo já foi identificado através de pesquisa elaborada por Mintzberg

(1990), que concluiu que um grande número de estudos prova que os

executivos trabalham num ritmo inexorável e que suas atividades se

caracterizam pela brevidade, variedade e descontinuidade, e que eles

estão firmemente orientados para a ação, não apresentando inclinações

para atividades de reflexão.

A turbulência ambiental verificada no sistema financeiro tem

levado ainda mais os executivos do BB a se preocuparem com o curto

prazo e, portanto, demonstrarem pouco interesse em “pensar o futuro”.

Esse desinteresse fica evidenciado não somente nos comentários

colhidos durante as entrevistas, como também ao analisarmos a

classificação da ordem de importância das principais contribuições que a

atividade de cenários pode trazer para a Empresa (Questão 3 do

questionário no Anexo 4). A questão relacionada com o estímulo do

pensamento estratégico e o estabelecimento de uma visão de futuro ficou

classificada, quanto à sua moda, em último lugar na ordem de

prioridades.

Se ordenarmos os resultados da moda de cada variável que

compunha essa questão, verifica-se que, de uma maneira geral e

segundo o modelo mental dos entrevistados, o foco dos cenários está

mais voltado para a ação do que para o “pensar estrategicamente”.


130

Ainda em relação à “Questão 3” (questionário Anexo 4), observa-

se também que todos os entrevistados consideram que os cenários

trazem alguma contribuição, ou seja, são importantes para a Empresa,

visto que, o item “nenhuma contribuição” não recebeu nenhuma

indicação. Entretanto, em função das respostas anteriores, em que a

maioria respondeu que os cenários não são aplicados para a definição de

estratégias, podemos concluir que sua importância não está associada a

definições de estratégia. Essa constatação pode explicar porque, apesar

dos avanços na confecção dos cenários e o próprio reconhecimento por

parte da administração da Empresa de sua importância, a apresentação

dos cenários não tem levado estes administradores a posicionamentos

estratégicos.

Se juntarmos a essa análise os resultados obtidos na “Questão 2”

obtemos uma confirmação do desconhecimento por parte dos

entrevistados do significado e da significância dos cenários prospectivos.

Os resultados da “Questão 2” também nos mostram que 36%

responderam que o Banco domina a metodologia e outros 35%

responderam que a Empresa busca o domínio da metodologia.

Entretanto, convém observar que, se compararmos o trabalho elaborado

pelo Banco (que recebe o nome de “cenários”) com as quatro

metodologias apresentadas, podemos concluir que estes trabalhos não

se enquadram nos princípios determinados pelos cenários prospectivos e

com seus métodos. Ressalte-se que, os quatro cenários atualmente

elaborados pelo BB são desenvolvidos com base na fixação de premissas

antes do início da elaboração dos cenários.


131

Outra constatação interessante é o fato de que aproximadamente

61% dos entrevistados responderam que o BB não aplica os cenários

para o desenvolvimento de suas estratégias, contrapondo-se aos 36%

que responderam que os cenários são aplicados na definição das

estratégias da Empresa.

Também foi identificado que a maior parte dos entrevistados

associam o cenário desenvolvido no BB com a “macroeconomia”, a ponto

de, ao se referirem a estes estudos, usarem a expressão “os cenários

macroeconômicos...” mesmo após a Empresa, desde 1996, ter ampliado

a abrangência do estudo a outras variáveis macroambientais e à indústria

financeira.

Esse último comportamento pode ser explicado por três motivos:

o primeiro diz respeito ao fato da função da elaboração de cenários

prospectivos ter sido atribuída, em 1989, a uma área que até então

apenas desenvolvia estudos macroeconômicos e que, por conseqüência,

passou a elaborar previsões macroeconômicas. O segundo motivo pode

estar relacionado ao fato de que esses estudos recebiam o nome de

“cenários macroeconômicos”. E o terceiro ponto refere-se ao fato de a

Empresa pertencer ao setor financeiro e, por conseguinte, sofrer forte

influência dessa variável.

Entretanto, essa abordagem parcial deixa a Empresa vulnerável,

visto que, cada vez mais, fica evidente a interatividade da Empresa com

os diversos ambientes e a predominância da competitividade sistêmica -

discutida no Capítulo 2. Foi também discutido que o desenvolvimento da

telemática está sendo a grande mola propulsora da turbulência vivida


132

atualmente. Podemos inclusive deduzir que a economia dos países está

se tornando cada vez mais dependente da tecnologia. O próprio

desenvolvimento tecnológico, de uma forma geral, traz mudanças radicais

no comportamento e hábitos de consumo. Questões unicamente políticas

ou grandes movimentos sociais podem vir a mudar os rumos da história,

sem levar em conta as diversas variáveis que compõem a própria

indústria como, por exemplo, o movimento dos concorrentes,

principalmente daqueles com poder de força para mudar o futuro.

Podemos dizer que no atual modelo de competitividade sistêmica a visão

de apenas uma variável ambiental poderá levar a Empresa a não estar

preparada para “luta pela sobrevivência”.

Outra questão importante a ser analisada diz respeito às

informações obtidas pela “Questão 4” (questionário Anexo 4). Em

primeiro lugar, a UDE, área responsável atualmente pela elaboração de

cenários no BB, foi identificada como sendo a principal área no processo,

evidenciando, assim, a necessidade de uma área responsável pela

elaboração dos cenários, conforme também percebido nas pesquisas

efetuadas nas outras três organizações.

Ratificando o contido na bibliografia consultada, a pesquisa

efetuada em todas as organizações enfatiza a necessidade dos cenários

serem desenvolvidos na própria Empresa. Observou-se que essas

organizações também utilizam os cenários desenvolvidos por outras

instituições, mas ressaltaram que esses cenários adquiridos são

utilizados com fins de consulta.


133

A aquisição de cenários desenvolvidos por outras empresas é

prática comum às áreas elaboradoras do cenário. Contudo, convém

ressaltar que os objetivos são diferentes. Elas buscam a percepção de

como outras organizações estão vendo o futuro e, assim, poderem

enxergá-lo com várias lentes diferentes, o que as deixam em condições

de entendê-lo com mais facilidade.

Entretanto, 3% dos entrevistados do BB responderam que

adquirem cenários elaborados por outras empresas para nortear suas

próprias decisões. Apesar desses respondentes terem justificado tal

procedimento com o argumento de que a área era muito específica e que

os cenários desenvolvidos pela UDE não atendia seus anseios, este

posicionamento ressalta novamente a falta de conhecimento a respeito

do instrumento, visto que as decisões passam a ser tomadas baseadas

na visão de mundo da empresa que os desenvolveu, o que pode gerar

tomadas de decisão que não necessariamente coincidam com a maneira

de pensar do Banco.

No que concerne ao grau de importância atribuído na pesquisa às

áreas que deveriam participar do processo de elaboração de cenários,

observamos que áreas que não são consideradas atualmente como

mercado foco pela Alta Direção da Empresa - como é o caso das áreas

UEN Internacional (91%), a UF Finanças (90%) e a UEN Mercado de

Capitais (86%) - obtiveram percentuais mais expressivos do que aquelas

consideradas foco: a UEN Comercial (81%), a UEN Governo (79%) e a

UEN Varejo (79%).


134

Esse posicionamento pode ser explicado visto que como as

Unidades Internacional e Mercado de Capitais são áreas voltadas para

produto não somente possuem um grande volume de informações como

necessitam de projeções para fechamento de suas operações. De certo

modo, o mesmo ocorre com a Unidade Finanças responsável pela

definição das taxas aplicadas pelo banco e necessita também de

projeções de curto e médio prazo para poder maximizar o lucro da

Empresa. Entretanto não são essas as Unidades descritas na estratégia

da Empresa mas sim as Unidades Varejo, Comercial e Governo.

Outra constatação que convém ser discutida diz respeito aos

baixos percentuais atribuídos às áreas UF Tecnologia (50%) e UF

Distribuição (43%). Se contrapormos esses resultados à pontuação

atribuída à área UA Controladoria (50%), verificamos discrepância ainda

maior, visto que esta área está voltada para o interior da Empresa,

enquanto as outras duas, além de serem áreas extremamente

importantes para o bom desempenho da Empresa, possuem grande grau

de incerteza em qualquer indústria, principalmente na indústria bancária.

Hoje, todo o funcionamento de um banco depende da tecnologia e de

seus canais de distribuição.

Outro item que também convém ser discutido diz respeito à

disseminação dos cenários na Empresa. Atualmente, tais instrumentos

possuem um caráter de grande confidencialidade, a ponto de serem

apenas disponibilizados aos mais altos escalões da Empresa.

Conforme as informações fornecidas pelas organizações e as

contidas na literatura especializada a disseminação dos cenários é


135

comumente utilizada, não somente para demonstrar aos funcionários

como a organização está vendo o futuro, como também com o intuito de

criar uma linguagem única dentro dela. Entretanto, todos os entrevistados

relataram que material apropriado é confeccionado para a disseminação

dos cenários e cuidados com a proteção de salvaguarda desse

conhecimento são tomados.

Outro ponto a ser discutido diz respeito à utilização da consulta

de especialistas ou peritos durante a elaboração dos cenários. Indicado

pela literatura, verificamos que todos os entrevistados utilizam esse

mecanismo, que acaba se constituindo em fator decisivo para a

elaboração de seus cenários. Acreditamos que essa prática leva a

empresa a interpretar o ambiente em que está inserida através de lentes

ou modelos mentais diferentes das comumentes utilizadas por ela, o que

gera uma grande contribuição para sua reorientação. Entretanto, esta

prática não é utilizada pelo Banco para a elaboração de seus cenários.

Apesar da inexistência de um sistema de inteligência formal,

composto por redes bem definidas de especialistas, a monitoração

ambiental acaba existindo informalmente nas organizações visitadas,

visto que todas possuem lista de especialistas que são consultados

durante a realização dos trabalhos e a monitoração ambiental desta

atividade é exercida cotidianamente. Entretanto no BB, há pouca

utilização de informação informal e sem a utilização de redes de

informação, independentemente da metodologia adotada, reduz-se a

possibilidade de elaboração de cenários mais consistentes.


136

Cabe ressaltar que durante a entrevista realizada na Shell foi

percebido que a Matriz possui um sistema estruturado de monitoração

mundial. Durante o processo de planejamento estratégico, todas as

subsidiárias da Shell no mundo encaminham seus cenários e propostas

de planejamento estratégico para a matriz com o objetivo de obter o seu

“de acordo”. De posse destes documentos, a matriz tem periodicamente o

diagnóstico - sob o ponto de vista econômico, político, social e

tecnológico - dos diversos países em que a empresa está instalada, além

dos possíveis futuros que poderiam se configurar. Essas informações

levam em conta não somente a visão de seus funcionários, como também

dos diversos especialistas de cada país que são consultados durante o

processo de elaboração de cenários. Tal fato consiste, na nossa

avaliação, em um excelente sistema de monitoração, além de ser

bastante objetivo, pois já possui foco na definição estratégica.

Outro item que convém ser discutido diz respeito à questão do

aprendizado organizacional que a metodologia de planejamento baseado

em cenários prospectivos pode trazer para as empresas. Sob o ponto de

vista descrito por Geus (1996) e Senge (1998) essa questão não foi

percebida pelos entrevistados, demonstrando desconhecimento do tema

sob o ponto de vista dos cenários. Mas, certamente, fica mais fácil de ser

absorvida e utilizada por eles do que pelo BB, visto que a filosofia dos

cenários prospectivos está consolidada nessas organizações e ainda não

foi absorvida pela Empresa.

No que diz respeito ao método adotado, apenas um dos

entrevistados citou o método que utilizou relacionando-o com sua origem


137

(método descrito por Grumbach utilizada pelo Centro de Sinalização

Náutica). Contudo, ao analisarmos os passos descritos pelos outros

entrevistados, identifica-se que o modelo da Shell é o mesmo descrito

pela GBN, o que não poderia ser diferente, visto que os fundadores da

GBN foram os mesmos que implantaram o método na Shell. Já o modelo

utilizado pela SAE é o descrito por Godet.

Mesmo utilizando metodologias diferentes, todos os entrevistados

aprovaram os métodos utilizadas e consideram o produto final desses

métodos como excelente instrumento para a elaboração das estratégias

de suas organizações.
138

8 CONCLUSÕES

8.1 Conclusões

Os resultados da pesquisa junto às diversas organizações

externas corroborou com o exposto pela literatura sobre o assunto,

levando-nos a concluir que todos os métodos de elaboração de cenários

prospectivos descritos nessa pesquisa atendem as necessidades do BB

de obter um instrumento que subsidie a definição de estratégias. Não

obstante as características peculiares de cada método, na sua essência,

todos obedecem aos preceitos básicos da prospectiva para elaboração

de cenários. Logo, a Empresa poderia adotar qualquer um dos métodos.

As entrevistas realizadas junto às outras organizações também

nos mostraram a importância da sensibilização e do apoio da direção da

empresa para os trabalhos dessa natureza. Essa constatação leva-nos a

inferir que, sem um trabalho de sensibilização e esclarecimento da

filosofia da prospectiva, qualquer um dos métodos citados não surtiria os

efeitos desejados, fazendo a Empresa permanecer na mesma situação

em que já se encontrava antes, podendo, inclusive, os cenários

desenvolvidos tornarem-se um fim em si mesmos, sem gerar uma visão

de futuro para o BB.

Neste contexto, apesar do objetivo inicial da pesquisa ter sido a

identificação de um método que mais se adequasse ao perfil do BB para


139

elaboração de seus cenários, conclui-se que o passo inicial para a

implementação de uma metodologia de planejamento estratégico

baseado em cenários não é a escolha da metodologia mais adequada,

mas a conscientização das pessoas, principalmente dos executivos da

Empresa, a respeito dos princípios que norteiam a prospectivas: o futuro

é múltiplo e incerto e os cenários descrevem estórias de futuro e não o

futuro.

A consulta a especialistas constitui-se em fase importante na

elaboração de cenários, pois traz para dentro da empresa diferentes

percepções do ambiente que as envolve, o que torna mais rica a

elaboração de cenários.

A visão basicamente de curto prazo demonstrada pela maioria

dos entrevistados poderá levar o BB a ficar sem visão de longo prazo, e

por conseguinte, sem definições estratégicas que garantam sua

sobrevivência no futuro.

A preocupação dos administradores do BB com o curto prazo é

compreensível principalmente em um ambiente de grande incerteza e de

mudanças constantes que estamos vivenciando. Entretanto, o

instrumento a ser utilizado para essa finalidade específica não são os

cenários, ao contrário do que vem acontecendo na Empresa.

Chega-se também a conclusão que obtendo-se o apoio dos

dirigentes da Empresa após a realização de um programa de

disseminação e sensibilização da metodologia de cenários prospectivos,

a Empresa estará apta a escolher qualquer um dos quatro métodos.


140

8.2 Recomendações

Como ficou constatado que o método a ser escolhido não é o

fator mais importante da questão, recomenda-se que, independente da

opção a ser feita pela Empresa, seja desenvolvido programa de

sensibilização e disseminação dos conceitos de prospectiva, seus

objetivos e justificativas, bem como, de que forma os cenários

prospectivos gerados deverão ser utilizados pela organização.

Recomenda-se também que, após a apresentação dos cenários a

Alta Administração da Empresa, sejam discutidas e propostas novas

formas de atuação para a Empresa a luz dos diversos futuros

apresentados de forma que a Empresa possa vir até a criar o futuro.

A elaboração de planos de contingência para atuação da

Empresa em cenários adversos é outra recomendação que facilitaria a

adaptação da Empresa no caso de rupturas de tendências. Esses planos

evitariam que a Empresa fosse surpreendida sem saber o que fazer

quando as mudanças ambientais ocorressem.

Criar no BB uma linguagem unificada sobre os diversos conceitos

que envolvem as técnicas de cenários de modo que não haja dúvida

quanto aos termos utilizados. Também considera-se importante que a

diferença existente entre cenários e previsões estejam claros em todo o

Conglomerado BB.

Como sugestão, a Empresa poderá utilizar-se de várias

ferramentas para atender esses objetivos como, por exemplo, contato

com a área de comunicação interna da Empresa, para produzir, em

conjunto com a área de cenário material para divulgação interna. A área


141

de treinamento da Empresa também poderia ser solicitada a prestar

grandes contribuições através de vários instrumentos que possui, como

por exemplo:

• inclusão de nomes como Michel Godet, Peter Schwartz, Aires

de Geus, ou van der Heijden no programa de treinamento da

Empresa chamado de Ciclo de Palestras Internacionais e

Nacionais;

• elaboração de fascículos no Programa de Profissionalização

da Empresa que tratassem do assunto;

• elaboração de programas para a TV Corporativa que também

tratassem do tema.

A própria área de cenários poderia desenvolver palestras e

apresentá-las para os executivos da Empresa, ao mesmo tempo em que

iniciaria o processo de formação de uma rede de especialistas dentro da

Empresa, sensibilizando a todos quanto ao tema.

A criação de redes/listas de discussão a respeito dos diversos

temas referentes aos cenários também poderia ser utilizada para a

disseminação dos conceitos e criação de massa crítica na empresa.

A introdução de técnicas de Inteligência Competitiva com o

objetivo de aprimorar a monitoração ambiental, principal insumo para a

elaboração de cenários, consiste em outra recomendação. Conforme foi

discutido no capítulo 2.3.5, essas técnicas melhorariam a qualidade dos

cenários, como também, serviriam como excelente mecanismo de

fornecimento de informações tempestivas aos administradores de

questões relacionadas às decisões de curto prazo, questões estas que


142

tanto afligem esses administradores, segundo análise dos dados da

pesquisa.

Uma das ferramentas da Inteligência Competitiva que

rapidamente forneceria essas contribuições seria a criação de uma rede

de especialistas internos e externos que atenderia diversas questões

consideradas estratégicas pela Empresa. Esta é outra recomendação que

se considera importante, pois, além de melhorar a qualidade dos cenários

elaborados, viabilizaria o rápido fornecimento de informações que

auxiliariam esses administradores em suas decisões de curto prazo.

Para suprir a necessidade da tomada de decisão de curto prazo,

recomendamos o aprendizado de técnicas utilizadas pelos serviços de

inteligência para atendimento dessas solicitações. São elas: a estimativa,

a apreciação e a produção de informação estratégica (ESG, 1976). Com

isso, fica mais fácil a desvinculação da utilização dos cenários para

decisões de curto prazo.

Recomenda-se também a disseminação dos cenários elaborados

pela Empresa para um número maior de funcionários, através da

elaboração de prospectos e realização de palestras, a exemplo da Shell.

Entretanto a Empresa deverá, em um primeiro momento, sensibilizar seus

funcionários no que diz respeito à proteção do conhecimento e da

informação. A “mentalidade” de contra-informação deverá ser criada

inicialmente na Empresa e somente depois aumentar-se-ia a amplitude

de divulgação dos cenários.

Recomenda-se também que determinadas questões levantadas

pela pesquisa de campo e que ficaram sem resposta sejam


143

posteriormente pesquisadas com o intuito de melhor compreensão dos

modelos mentais dos dirigentes da Empresa o que muito facilitaria a

elaboração de cenários e a condução do processo de elaboração de

estratégias. São elas:

• se todos os entrevistados consideram que os cenários trazem

alguma contribuição para a Empresa (Questão 3 do questionário

anexo 4), como 61% desses entrevistados podem afirmar que

eles não são aplicados?

• Se não aplicam seus resultados para a definição de estratégia,

mas consideram os cenários importantes, para que servem?

• Será que os cenários somente são utilizados para as decisões

táticas e operacionais?

• Por que a Empresa usa um instrumento inadequado para tomar

esse tipo de decisão, visto que, como os cenários visam o longo

prazo, não podem servir como instrumento para subsidiar

decisões de curto prazo?

• Será que existe essa compreensão dentro da Empresa ou o fato

de associarem os cenários com conjuntura levam-no a tomar

essa atitude?

• Como um instrumento que leva, em média, quatro meses para

ser elaborado pode atender as necessidades dos executivos

tomarem decisão de curto prazo?

• Qual o entendimento que a Empresa tem do termo “cenário” já

que, segundo a pesquisa, não corresponde ao contido na

literatura especializada?
144

Finalmente, convém destacar que, apesar das recomendações

terem sido atribuídas a uma organização específica, objeto da análise, as

recomendações apresentadas são aplicáveis a qualquer outra empresa

que esteja passando por problema semelhante. O enfoque efetuado é

base para análise de qualquer situação onde se queira implementar uma

metodologia de planejamento estratégico baseada em cenários

prospectivos, cabendo, tão somente, a preocupação de adaptá-los à

realidade de cada organização.


145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de
amanhã. ed. 3. Rio de Janeiro : Campus, 1995.
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use information to move your business to the top. New York : Simon &
Schuter, 1996.
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novas estratégias para criar, conquistar e dominiar mercados. São
Paulo, 1997.
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UFRJ/ECO, MCT/INT e CNPq/IBICT, Brasília, 1998.
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competitivas. Apostila do Curso de Especialização em Inteligência
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

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DRUCKER, Peter. Sociedade Pós Capitalista. 6.ed. São Paulo : Pioneira,
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século XXI. São Paulo : Makron Books, 1993.
Recuperação
de Créditos Secretaria
Executiva
Varejo e
Serviços
ANEXO 1

Comunicação
e Marketing
Comercial
-

Internacional Controladoria

Rural e Desenvolv.
Agroindustrial Empresarial
Conselho Fiscal

Auditoria Interna

Governo
Jurídico
Mercado de.
Unidades de Assessoramento

Capit.Invest.

Seguridade
Unidades Estratégicas de Negócios
Distribuição
Diretoria
Conselho de

Infra-Estrutura
Administração

Finanças
Assemb. Geral de Acionistas

Crédito

Recursos
Unidades de Função

Humanos
ORGANOGRAMA DO BB - ARQUITETURA ORGANIZACIONAL

Tecnologia
150
151

ANEXO 2 - RESPONSABILIDADES DAS UNIDADES


UA UEN UF
COMUNICAÇÃO E MARKETING - COMERCIAL - Atrair, manter e CRÉDITO - Preservar a integridade
Garantir a eficácia das ações de desenvolver como clientes as pessoas do ativo operacional global do
comunicação e marketing do jurídicas, no País, dos segmentos de Banco e de suas subsidiárias
Conglomerado. mercado definidos para sua atuação;
Desenvolver produtos de aplicação para
pessoas jurídicas.
CONTROLADORIA - Assegurar a DISTRIBUIÇÃO - Garantir o bom FINANÇAS - Assegurar a liquidez
otimização do resultado econômico da atendimento a todos os clientes do do Conglomerado, a otimização do
Instituição. Conglomerado, a comercialização de resultado financeiro e o
produtos, serviços e informações e a relacionamento com o mercado,
constante otimização dos canais de além da adequação dos resultados
distribuição, assegurando o melhor contábeis.
resultado para o Conglomerado.
DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL GOVERNO - Atrair, manter e desenvolver INFRA-ESTRUTURA - Assegurar a
- Garantir que o sensoriamento como clientes do conglomerado, os Órgãos satisfação das necessidades do
estratégico, as estratégias corporativas Governamentais, nos níveis Federal, Conglomerado Banco do Brasil e
e a modelagem organizacional estejam Estadual e Municipal; fortalecer o BB na áreas de seu interesse, no que se
direcionados para promover o qualidade de principal agente financeiro da refere a serviços de infra-estrutura
desenvolvimento permanente do União; Assegurar a otimização dos e apoio geral em suprimento,
Conglomerado resultados em função dos recursos patrimônio imobiliário e segurança.
utilizados
JURÍDICO - Responder pela defesa INTERNACIONAL - Atrair, manter e RECURSOS HUMANOS - Garantir
dos interesses do Banco perante desenvolver como clientes, as instituições o cumprimento da Política de
Órgãos Judiciais e Administrativos. financeiras, entidades, organismos e Pessoal.
Responder pela eficácia das soluções representações estrangeiras no Pais e
para prestação de serviços jurídicos ao clientes no exterior. Atender às
Conglomerado. necessidades dos clientes Pessoa Física e
Responder pela eficácia na gestão da Pessoa Jurídica no País, em produtos da
prestação de serviços jurídicos. área internacional.
Assegurar o melhor resultado nos negócios
de cambio e comércio exterior.
SECRETARIA EXECUTIVA – Garantir MERCADO DE CAPITAIS E TECNOLOGIA - Assegurar a
os processos necessários para que a INVESTIMENTOS - Assegurar o melhor satisfação das necessidades do
Diretoria assegure o funcionamento do resultado na área de mercado de capitais Conglomerado e áreas de seu
Banco na área institucional e zelar pelo para o Conglomerado. interesse em soluções de
relacionamento com os poderes tecnologia da informação.
constituídos
AUDITORIA * Avaliar a existência, a RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS -
qualidade e o cumprimento dos Responder pela eficácia das soluções para
controles internos do Conglomerado. recuperação de créditos, pela eficácia na
gestão do processo de recuperação de
créditos e pela efetiva recuperação de
créditos inadimplidos; assegurar a
efetividade da recuperação de ativos de
responsabilidade das agências; e garantir a
organização e o gerenciamento da força de
realização de negócios de recuperação de
créditos possibilitando a efetivação dos
negócios.
RURAL - Atrair, manter e desenvolver
como clientes do Conglomerado as
cooperativas rurais (de produção e de
crédito) com faturamento até R$100
milhões/ano, como também oferecer
produtos e serviços do segmento rural e
agro-industrial competitivos no mercado.
SEGURIDADE - Assegurar o melhor
resultado nos segmentos de seguro,
previdência e capitalização.
VAREJO E SERVIÇOS - Atrair e manter
como clientes as pessoas físicas e
microempresas e desenvolver produtos e
serviços para o mercado de varejo.
152

ANEXO 3 - UDE - FUNCIONOGRAMA

UA Desenvolvimento
Empresarial
Superintendente Executivo: João Alfredo

Gerência de Gerência de Gerência de


Sensoriamento Estratégias Modelagem
Estratégico Corporativas Organizacional
Gerente Executivo: Nemésio Altoé Gerente Executivo: Jussara Gerente Executivo: Gilberto Audelino

• sensoriamento do • estratégias corporativas • modelo organizacional


ambiente • metodologias de • estrutura de cargos
• cenários planejamento • competências e alçadas
• estudos sócio- • estratégias da decisórias Núcleo
econômicos qualidade • sistema normativo Administrativo
• análise de conjuntura • modelos de gestão • processos
Gerente de Núcleo: Margareth
• informações empresarial organizacionais
estratégicas • planejamento • contratação de
estratégico consultoria • apoio administrativo
• ações e projetos
estratégicos
153

ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO ORIENTADOR


Coleta de informações para subsidiar a proposta de monografia do curso
de pós-graduação em Inteligência Competitiva sobre o tema "Aplicação
de Metodologia de Cenários Prospectivos para o Banco do Brasil".
Agradeço desde já sua contribuição, que será muito importante para a
concepção do trabalho.
1. Quais as principais mudanças em andamento no mercado financeiro
nacional e internacional que justifiquem a necessidade do BB trabalhar
com estudos de futuro, em geral, e com cenários, mais
especificamente.(Assinale as questões que você considera importantes e
classifique-as em ordem de prioridade - 1 para o mais importante, e assim por diante).
( ) desregulamentação
( ) fusões e aquisições na área financeira
( ) ambiente cada vez mais incerto
( ) acirramento da concorrência
( ) globalização
( ) questionamento da função dos bancos
( ) outros ________________________________________________
2. Na sua opinião, em que estágio se encontra atualmente o BB, no que
se refere à utilização de cenários na definição de estratégias?
( ) desconhece cenários e portanto não aplica
( ) reconhece a importância de cenários, porém não aplica
( ) reconhece a importância e aplica cenários elaborados por outras
instituições
( ) reconhece a importância, desenvolve cenários buscando o domínio
da metodologia mas não aplica
( ) domina a metodologia de cenários, mas aplica cenários elaborados
por outras instituições
( ) domina a metodologia e desenvolve seus próprios cenários que são
utilizados na definição das estratégias do BB
( ) outros ________________________________________________
154

3. Na sua opinião, quais deverão ser as principais contribuições que a


atividade de cenários trará para o BB? (Assinale as contribuições mais
importantes para o BB e classifique em ordem de prioridade - 1 para o mais
importante, e assim por diante).
( ) estimular o pensamento estratégico e estabelecer uma visão de
futuro
( ) melhorar a capacidade e a flexibilidade de resposta às incertezas
do ambiente externo, antecipando ameaças e oportunidades para o
BB
( ) reorientar as estratégias do BB, em função da antecipação de
mudanças e rupturas do contexto em que o Banco atua e de seus
impactos na estratégia atual
( ) outros ________________________________________________
( ) nenhuma contribuição

4. Quais as áreas que deverão participar na elaboração de cenários,


considerando que esta atividade é interdisciplinar e multifuncional?

( ) UA Comunicação e Marketing ( ) UA Jurídico ( ) UA UDE


( ) UA Controladoria ( ) UA SECEX ( ) UA Auditoria
( ) UF Tecnologia ( ) UF Distribuição ( ) UF Crédito
( ) UF Infra-Estrutura ( ) UF Finanças ( ) UEN RH
( ) UEN Recuperação de Crédito ( ) UEN Comercial ( ) UEN Rural
( ) UEN Mercado de Capitais ( ) UEN Seguridade ( )UEN Governo
( ) UEN Internacional ( ) UEN Varejo
( ) Outras Áreas (especificar) __________________________________
5. Como você analisa seu conhecimento em relação às técnicas de
geração de cenários?
( ) nenhum ( ) superficial ( ) básico
( ) médio ( ) aprofundado
6. Informações sobre o perfil do respondente
a . Lotação ou área de atuação (especificar): _________________________
b. Tempo de casa:
( ) menos que 5 anos ( ) entre 5 e 9 anos ( ) entre 10 e 14 anos
( ) entre 15 e 20 anos ( ) mais de 20 anos
c. Função:
( ) alta administração ( ) gerencial ( ) técnico ( ) outras _______
155

ANEXO 5 - ADAPTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PARA ENTRADA DE DADOS


Primeira pergunta: Quais as principais mudanças em andamento no
mercado financeiro nacional e internacional que justifiquem a
necessidade do BB trabalhar com estudos de futuro, em geral, e com
cenários, mais especificamente.(Assinale as questões que você considera
importantes e classifique-as em ordem de prioridade - 1 para o mais importante, e assim
por diante).
( var 1 ) desregulamentação
( var 2 ) fusões e aquisições na área financeira
( var 3 ) ambiente cada vez mais incerto
( var 4 ) acirramento da concorrência
( var 5 ) globalização
( var 6 ) questionamento da função dos bancos
( var 7 ) outros ____________________________________________
As variáveis acima (de var 1 a var 7) poderão assumir os
valores de um (1) a sete (7) ou vazio, de acordo com a resposta do
entrevistado

Segunda Pergunta (var 8) Na sua opinião, em que estágio se encontra


atualmente o BB, no que se refere à utilização de cenários na definição
de estratégias?
A variável var 8 assumirá valores de um (1) a sete (7) de acordo
com o item abaixo indicado como resposta pelos entrevistados
( 1 ) desconhece cenários e portanto não aplica
( 2 ) reconhece a importância de cenários, porém não aplica
( 3 )reconhece a importância e aplica cenários elaborados por outras
instituições
( 4 ) reconhece a importância, desenvolve cenários buscando o
domínio da metodologia mas não aplica
( 5 ) domina a metodologia de cenários, mas aplica cenários
elaborados por outras instituições
( 6 ) domina a metodologia e desenvolve seus próprios cenários que
são utilizados na definição das estratégias do BB
( 7 ) outros ______________________________________________
156

Terceira Pergunta Na sua opinião, quais deverão ser as principais


contribuições que a atividade de cenários trará para o BB? (Assinale as
contribuições mais importantes para o BB e classifique em ordem de prioridade - 1 para o
mais importante, e assim por diante).
As variáveis var 9 a var 13 poderão assumir valores de um (1) a
cinco (5), ou em branco de acordo com as respostas dos
entrevistados
( var 9 ) estimular o pensamento estratégico e estabelecer uma visão
de futuro.
( var 10 ) melhorar a capacidade e a flexibilidade de resposta às
incertezas do ambiente externo, antecipando ameaças e oportunidades
para o BB.
( var 11 ) reorientar as estratégias do BB, em função da antecipação de
mudanças e rupturas do contexto em que o Banco atua e de seus
impactos na estratégia atual.
( var 12 ) outros. ___________________________________________
( var 13 ) nenhuma contribuição.

Quarta pergunta - Quais as áreas que deverão participar na elaboração


de cenários, considerando que esta atividade é interdisciplinar e
multifuncional?
(var 14) UA Co Marketing ( var 22 ) UA Jurídico ( var 29 ) UA UDE
(var 15) UA Controladoria ( var 23 ) UA SECEX ( var 30 ) UA Audit
( var 16 ) UF Tecnologia (var 24 ) UF Distribuição (var 31 ) UF Crédito
( var 17 ) UF Infra-estrutu ( var 25 ) UF Finanças (var 32 ) UEN RH
( var 18 ) UEN Recup.Cré ( var 26 ) UEN Comercial ( var 33 ) UEN Rural
(var 19) UEN Merc Capit (var 27 ) UEN Seguridad ( var 34 ) UEN Gov
(var 20 ) UEN Internacion ( var 28 ) UEN Varejo
(var 21 ) Outras Áreas (especificar) ______________________________
As variáveis var 14 a var 34 poderão assumir valores de um (1)
ou em branco de acordo com as respostas dos entrevistados
157

Quinta pergunta - var 35 Como você analisa seu conhecimento em


relação às técnicas de geração de cenários?
( 1 ) nenhum ( 2 ) superficial ( 3 ) básico
( 4 ) médio ( 5 ) aprofundado
A variável var 35 poderá assumir valores de 1 a 5 de acordo com
as respostas do entrevistados

5. Informações sobre o perfil do respondente


a . Lotação ou área de atuação (especificar): _var 36______________
Unidade
UA Desenvolvimento Empresarial (1); UF Finanças (2), UEN Governo (3),
UF Tecnologia (4), UF Recursos Humanos (5), UEN Varejo (6), UEN Seguridade
(7)
UEN Rural (8), UEN Mercado de Capitais (9), UEN Internacional (10),
UEN Comercial (11), UA Comunicação e Marketing (12), UF Distribuição (13),
UF Crédito (14), UEN Recuperação de Crédito (15), UA Controladoria (16),
Secretaria Executiva (17), UF Infra-estrutura (18), UA Jurídico (19), UA Auditoria
(20)

b. Tempo de casa: (var 37)


( 1 ) menos que 5 anos ( 2 ) entre 5 e 9 anos ( 3 ) entre 10 e 14
anos
( 4 ) entre 15 e 20 anos ( 5 ) mais de 20 anos

c. Função: (var 38)


( 1 ) alta administração ( 2 ) gerencial ( 3 ) técnico ( 4 ) outras
158

ANEXO 6 - ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Os cenários são elaborados na empresa?


2. Há quanto tempo?
3. Qual o motivo da utilização de cenários, para que são usados?
4. Os cenários são divulgados dentro da empresa? De que forma? Para
quem? Por quem são usados?
5. Os cenários são divulgados fora da empresa? De que forma?
6. Qual a periodicidade da elaboração/revisão dos cenários?
7. Trabalha com cenários normativos, ou seja desejados, ou com
cenários exploratórios? Se exploratórios com os extrapolativos ou com
os múltiplos? Quantos? (mostrar figuras)
8. Trabalha apenas com cenários globais ou usa focalizados (negociais)?
(mostrar figuras)
9. Considerando a estrutura organizacional, onde os cenários são
desenvolvidos? Existe uma área específica?
10. Qual a metodologia adotada (externa com contratação ou
desenvolvida internamente). Você poderia descrever em grandes
linhas quais seriam os grandes passos seguidos para elaboração dos
cenários ?
11. Qual a sua opinião com relação à questão "cenários versos
aprendizado organizacional"? Cite sua experiência se tiver.
12. Utiliza sistema estruturado e permanente de monitoração do ambiente
externo que subsidie a elaboração do planejamento estratégico e por
conseguinte a elaboração de cenários? Que tipo? Há quanto tempo?
Quantas pessoas estão envolvidas? Utiliza modelo organizacional em
rede para proceder a monitoração?
13. Favor detalhar, em ordem, a origem dos dados obtidos (clientes,
concorrência, associações de classe, sindicatos, imprensa, instituto de
pesquisa e outros). Caso utilize especialistas externos identificar
origem (se são do meio acadêmico ou pertencentes a firmas de
consultoria)
159

14. Quais as informações mais relevantes para o processo decisório em


planejamento estratégico: as qualitativas ou as quantitativas? Em que
proporção?
15. Tiveram dificuldade para a implantação do planejamento baseado em
cenários? Quais as principais?
16. Qual a orientação/sugestão que vocês dariam para uma empresa que
estivesse iniciando a implantação de planejamento baseado em
cenários prospectivos?
160

ANEXO 7 - MODELO DE CARTA - ENCAMINHAMENTO DO QUESTIONÁRIO


Brasília (DF) 30.10.1998.

Unidade do Banco do Brasil


Sr.

Sou aluna do curso de pós-graduação em Inteligência Competitiva


ministrado pela Universidade do Rio de Janeiro e trabalho como
Assessora Sênior na Unidade de Desenvolvimento Empresarial com
elaboração de cenários. Estou trabalhando na elaboração de minha
monografia sobre o tema “Aplicação de Metodologia de Cenários no
Banco do Brasil”.

Solicito sua colaboração respondendo o questionário em anexo e


encaminhando a resposta para a UDE, endereço abaixo. Sua
contribuição será importante não somente para a elaboração de minha
monografia como também para a revisão da metodologia de cenários
utilizada atualmente pelo Banco.

Agradeço,

Elaine Coutinho Marcial


2.788.705-7

UDE/ESTUD
Edifício Sede III, 10º andar
Ramal: 4188

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