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KALUMBONJAMBONJA

O homem que casou com uma alma do outro mundo

OS BAILUNDOS
2

KALUMBONJAMBONJA

(O HOMEM QUE CASOU COM UMA ALMA DO OUTRO MUNDO)

ROMANCE – AUTOBIOGRÁFICO

ANGOLA

OS BAILUNDOS

(AS SUAS ORIGENS, AS SUAS TRADIÇÕES E CULTURA, OS SEUS MITOS E SUPERSTIÇÕES,


OS SEUS PECADOS/CRIMES, PADECIMENTOS COM AS GUERRAS E A CHEGADA DO
EVANGELHO INTERPRETADO PELA TRADIÇÃO REFORMADA E EVANGELICAL)

TOMO II

ARMANDO RIBEIRO SIMÕES

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Introdução
3
A nação de Angola é vasta e tem muitas tribos, e cada uma delas tem a língua ou
dialecto, os seus costumes e a sua origem. Todos os povos do mundo têm cada um deles
a sua história e estórias. Acontece porém, que para muitos desses povos as suas
tradições são desconhecidas.

Muitos africanos confiam mais nas feitiçarias e em tudo o que os europeus cultos
e nada dados a sincretismos religiosos consideram como superstições. O feitiço na África
tem dado bons resultados aos seus possuidores, visto que é uma obra do Diabo (leitura
da teologia cristã tradicional e que é a postulada por este escritor, um metodista
ortodoxo). Há muitos tipos de feitiçarias e os seus ingredientes são restos de cadáveres
que eles desenterram dos cemitérios durante a noite; também recorrem às raízes e folhas
de certas e determinadas plantas, ídolos, etc. As fezes humanas também desempenham
importante papel nas feitiçarias dos africanos. Seria bom se houvesse a história de um
povo. Todas as nações ocidentais têm a sua história que é leccionada nas escolas.

No tempo colonial português, em Angola, estudávamos a história de Portugal


juntamente com a da nossa terra, sem falar a respeito de outros povos. Citava-se
portugueses ilustres como Diogo Cão, descobridor de Angola, e outros mais.

Ao longo dos tempos, os Bailundos nada têm escrito quanto à sua própria
históriai,e do que dela se sabe tem sido transmitida de pais para filhos oralmente e por
meio das tradições entre o povo. Assim, como os mais velhos vão desaparecendo, corre-
se o risco de se extinguir as verdadeiras origens dos seus costumes e dos seus feitos, os
quais bem poderiam ser o fundamento da sua história. Costuma dizer-se que um velho é
um museu de antiguidade. Por conseguinte, muitos dos que poderiam narrar a história e
estórias já desapareceram. Os instrumentos musicais tradicionais, como o ombumba, o
ochissanji, o cacheque, que tem a forma dum violino, o olombendo, parecido com a
flauta, e outros, já desapareceram. As danças tradicionais também vão desaparecendo.

Os Bailundos optaram pela civilização dos povos europeus e deixaram por


completo todos os costumes dos seus antepassados. Hoje em dia, qualquer adolescente
angolano não sabe como os portugueses maltratavam os seus antepassados.

A verdadeira origem dos Bailundos (vide nota de rodapé “i”, página 15) não é
conhecida; apenas se sabe que o seu primeiro rei, de nome Katiavala era originário das
terras do Kuanza Sul, era caçador de elefantes e pertencente à tribo Goya.

De Katiavala até à independência de Angola tinham reinado mais de quarenta


reis, e dos quais só se destaca Katiavala, Ekuikui II, que foi quem recebeu os primeiros
missionários cristãos de confissão reformada, o de cognome “Numa”, que tinha o
epalanga (era vice rei) de nome Matuyakevela e que em 1903 lutou contra os
portugueses, e por último Kandimba, a quem Lisboa, em 1918, usou para massacrar a
tribo dos Seles.

O passo seguinte foi destruir todo o poder que os reis tribais e tradicionais tinham,
desrespeitando toda a cultura dos Bailundos. Os sobas (reis) eram os cobradores de
impostos indígenas, sendo submetidos a palmatoadas, chicotadas e outros castigos
severos, caso levassem pouco dinheiro às autoridades dominantes. Eu pessoalmente vi
os sobas serem espancados severamente.

3
Angola, como as outras nações, tem muitos lugares dignos de serem turísticos,
mas os portugueses, que a governaram durante longos tempos, não tinham interesse 4
nessas coisas.

Tenho encontrado muitos sítios onde viveram esses primeiros povos, “talvez muito
antes de Cristo”, murados de pedras, e que são dignos de admiração. Os cacos das
panelas de cerâmica espalhados por vários locais, demonstram que estes Bailundos
vieram de tempos remotos.

Quando trabalhei com o governo português como recenseador no Concelho do


Mungo, de todas as vezes que ia recensear a população do sobado (o território governado
por um soba) de kaiumbuka, presenciei as muitas e maravilhosas pinturas duma caverna,
cujo nome é Kewe lia yolua, que significa “Pedra pintada”.

Ninguém dava valor àquelas pinturas, até que um dia falei delas perante o
secretário do Concelho que interessou-se muito por elas. Levei-o até onde as tais pinturas
se encontravam, Depois foi publicado num jornal e, por tal motivo, passou a ser lugar
turístico. Era visitado por muita gente de Angola e até mesmo por sul-africanos. Dizia-se
que por ali haveria de passar uma estrada asfaltada para ter melhor acesso ao lugar.
Estas pinturas passaram a ser conhecidas como “Pinturas Rupestres do Kanili”.

Outro morro de pedra, também de grande realce, encontra-se no sobado


Neguenje, onde eu também ia fazer o recenseamento. O referido morro, com um
comprimento enorme, podia conter mais de 5 mil pessoas. É uma caverna muito escura,
e para ali entrar é necessário utilizar iluminação artificial. Dizem que antigamente
refugiavam-se ali as pessoas que fugiam das guerras e para o abastecimento de água ou
quando iam em busca de lenha. Tem três entradas pequenas, uma para o lado do sul,
outra para o lado do rio vizinho, e o terceiro para o lado da floresta. A agricultura recorria
à riqueza dos excrementos dos morcegos, que ali faziam o seu habitat, e que depois são
utilizados como adubo para os campos.

Quero que saibam que os rios kulele e kukai e a Missão Evangélica Reformada do
Bailundo abrigam um grandioso monumento muito antigo de grande destaque, feito pelo
homem, “talvez mesmo antes de Cristo”. É um grande morro feito de terra e pedra, e feito
muito provavelmente por muitos milhares de pessoas. Os construtores daquela obra
abriram uma vala profunda com a largura de cerca de dez metros; a terra da escavação
era transportada para determinado lugar onde formou um monte grande que calçaram
com pedras.

A antiguidade daquele monte prova-se pelas árvores centenárias que nele


nasceram e que nele continuam em pé.

De todas as vezes que o tenho visitado fico “de boca aberta”, e o considero como
igual às pirâmides do Egipto, e ninguém sabe qual a sua utilização. Uns dizem que era o
túmulo de um rei tribal, outros, uma torre de vigia, e a vala que atingia os dois rios era
uma espécie de trincheira de guerra.

Outra maravilha natural encontra-se junto da Missão Católica do Bailundo e da


aldeia de Chissanji. Trata-se dum poço muito profundo, aberto numa rocha, chamado
Ombia Yondungo. Quando se lança uma pedra para o seu interior, ouve-se ela a bater nas
paredes do poço durante bastante tempo antes de bater no fundo.

4
Um padre francês utilizou dez novelos de barbante, tendo amarrado uma pedra na
ponta do fio de um novelo, fez descer ao poço a pedra, e quando o novelo terminou ligou- 5
lhe outro novelo, até contar os dez novelos, e mesmo assim sem chegar ao fundo, e cada
novelo tinha cerca de 500 metros. Na minha opinião este buraco devia ser explorado,
provavelmente sendo um depósito de petróleo. É um poço histórico, porque a tradição diz
que antigamente lançavam para lá todas as pessoas acusadas de feitiçarias.

O autor

Trabalharam como revisores deste trabalho de autor:


José Júlio Vieira Fernandes

(Diácono da Igreja Evangélica Metodista de Braga)

Braga, 26 de Fevereiro de 2009

Luís Manuel da Silva Magalhães

(Élder [Ancião de orientação Baptista Particular e calvinista] congregante da Igreja Baptista Pentecostal de
Braga)

Braga, 12 de Maio de 2010

5
INÍCIO DO TOMO II
6
FUNDAÇÃO (ORIGEM) DO REINO DOS BAILUNDOSii

O Reino do Bailundo foi fundado por Katiavala, um caçador de


elefantes, juntamente com mais três primos: Huambo, Kalunka e
Buluyongombe, vindos das terras do Kuanza Sul, pertencente à tribo
Ngoya.

Katiavala, quando chegou à região conhecida actualmente por


Bailundo, subiu ao outeiro que fica junto da vila do mesmo nome e
gostou do lugar, construindo lá o seu Omundov (lugar onde se seca a
carne de caça). Mais tarde mandou ali construir um Ojango (espécie
de clube). No primeiro dia da construção, espetaram no chão algumas
estacas em forma circular; no dia seguinte quando foram colocar o
teto, encontraram dentro um monte de areia feito por uma toupeira.
Então armaram uma ochimumua (armadilha para caçar toupeiras), e
no dia seguinte encontraram nela presa uma toupeira com uma listra
branca na cabeça. Admirados, exclamaram: “Oneteyi kuete
ombalundu” (Esta toupeira tem uma mancha branca na cabeça). É
esta lista branca que denomina Mbalundu. Foi assim que esta terra
passou a designar-se, e mais tarde os portugueses mudaram-lhe o
nome para Bailundoiii.

Mbuluyongombe era o outro primo de katiavala que se dirigiu


para um local que se designa por Mungo, atravessando o rio Luvulo.
Foi a um lugar chamado kapuiya onde construiu o seu omundo. Um
dia, caçando, atravessou o rio Sandanbinja e foi até a um outeiro todo
ele feito em pedra, onde viu uma grande ave parecida com uma águia
que matou com a sua arma.

Depois levou a caça ao quimbo e lá disseram-lhe que aquela ave


se chama Mungo.

Depois Mbuluyongombe auto-proclamou-se rei daquela terra.

A referida ave, mungo, ainda hoje existe e alimenta-se


exclusivamente de peixe que apanha nos rios. Ela utiliza as suas fezes
como isca para atrair os peixes.

6
No Mungo, para além do sobado de Mbuluyiongombe havia
7
outros sobados muito antigos cujos fundadores são desconhecidos,
tais como os da Chiweka, Chango e Chiteva.

Quando trabalhei, no tempo colonial, no concelho de Mungo,


como recenseador, uma ocasião fui à Embala Chiweka, e o soba
confidenciou-me que ali havia um objecto sagrado chamado Elunga
deixado pelos sobas antigos e desconhecidos. Eu insisti muito para
que ele me mostrasse o referido objecto. Ele não aceitou mostrar-mo,
dizendo que por ser muito sagrado não pode ser visto por ninguém,
inclusive por ele próprio. Contei o caso ao Secretário do concelho que
lhe despertou muito interesse. Imediatamente mandou chamar o soba
da Embala Chiweka dizendo-lhe:

- Ó soba, vocês têm um objecto sagrado na Embala Chiweka que


ninguém pode ver? Que tipo de objecto é esse?

O soba então disse que não se lembrava de tal objecto, mas eu


que estava presente lembrei-lhe de que era o Elunga. O Elunga, disse o
soba, é um objecto, muito, muito, muito antigo. O Secretário disse que
queria ver o tal objecto. O soba respondeu:

- Nem eu próprio o posso ver! – O Secretário insistiu e o soba


limitou-se a dizer:

- Eu não posso mostrar esse objecto ao Sr. Secretário; só às


pessoas indicadas pelo sangue, e se o mostrar a quem não deva
haverá uma grande tragédia.

- Quais são essas pessoas? – Perguntou o Secretário.

- Estão no quimbo. – Respondeu o soba.

- Manda-os vir aqui que quero falar-lhes.

- Eles só aceitam cá vir se o Sr. Secretário lhes oferecer vinho,


acrescentou o soba.

- Isso é muito fácil de fazer! Manda-os para cá que eu lhes


compro todo o vinho que quiserem. – Disse o Secretário.

7
No dia seguinte o soba apareceu com os tais homens, e o
8
Secretário lá lhes mandou comprar um garrafão de vinho e lho
entregou.

Depois disto seguimos de Land Rover para a Embala Chiweka.


Chegados lá, subimos a um outeiro, desta Embala, e encontramos lá
muita gente que nos esperava. O céu estava límpido. Ninguém
escondia a ansiedade e curiosidade para verem o tal Elunga. Um dos
responsáveis correu em busca das chaves da cubata, com cerca de
metro e meio de altura, que era aonde encontrava-se o tal objecto
sagrado. Quando tentou abrir a portinha, a fechadura estava
encravada. Entretanto o céu começou a nublar-se, e quando
finalmente a porta abriu-se, através de uns pauzinhos, puxou-se para
fora o Elunga que esta embrulhado em panos de algodão. Toda a
gente acercou-se do objecto sagrado para o apreciar. Era feito de ferro
e com um feitio especial. De repente começou a chover fortemente.
As cubatas estavam perto, mas ninguém conseguiu chegar sem
apanhar uma grande molha. Eu e mais o secretário corremos para o
Land Rover, onde ele disse-me:

- De facto o objecto é antigo; é da Era do Ferro.

Quando a chuva passou, o Secretário ligou a ignição do carro,


pô-lo a funcionar, mas ao meter as velocidades para o pôr em marcha,
ouviu-se uma explosão, as portas deslocaram-se e todos os vidros se
partiram.

Felizmente o motor não foi afectado e pudemos assim chegar à


vila do Mungo. No dia seguinte o carro teve de ser enviado para Nova
Lisboa a fim de ser reparado.

Seria esta a tragédia prevista pelo soba caso abrisse o Elunga?

Outro primo de Katiavala chamava-se Huambo Kalunga. Este


tinha ido às terras que hoje chamam-se Huambo, para caçar
elefantes. Quando lá chegou auto-proclamou-se rei daquela terra.
Depois disto enviou Chihamba, o seu primo, à caça. Caso este
trouxesse carne da caça dar-lhe-ia uma linda rapariga. Chihamba foi
caçar no primeiro dia mas não apanhou caça nenhuma. No dia

8
seguinte Chihamba organizou outra caçada. A rapariga ficou no altar
9
dos caçadores. Chihamba desta vez conseguiu muita caça, e Huambo
Kalunga cumpriu o prometido. À noite Huambo Kalunga enviou a sua
coorte para raptar a moçoila. Chihamba, com os seus cães e com os
vizinhos conseguiram recuperar a formosa moçoila. Matou todos os
raptores e cortou-lhes a cabeça. No dia seguinte, de manhã cedo, pôs
as cabeças num cesto e levou-as ao soba Huambo Kalunga,
perguntando:

- Reconheces esta gente?

Huambo Kalunga ao ver as cabeças, logo as reconheceu, pois


eram as cabeças dos seus rapazes da corte real que havia mandado
para raptar a moçoila, olhou Chihamba e disse-lhe, para evitar
pendência:

- Tu não és humano, tu és um chilulu (alma penada), e irás reinar


na Chiaca, a partir de agora serás reconhecido com o nome real
Chilulu.

A Constituição do Reino e a razão de ser dos Bailundos

Tal como quaisquer Povo étnico sapiencial, seja uma, quaisquer,


grande Civilização pregressa ou que venha depois, ou já existente, os
Bailundos também tinham a sua organização social encabeçada por
um Rei, a quem designam por Osoma.

O trono de um Osoma consistia num banquito de pele de boi,


designado por ochalo, com mais ou menos trinta centímetros
quadrados de assento. A palavra Osoma significa rei, que
posteriormente sofreu um aportuguesamento, passando a ser soba.

O Soba tinha o mesmo poder de qualquer rei nos outros países,


com a diferença de que os antigos reis em muitos destes países
podiam mandar executar determinadas pessoas, o que nunca
acontecia com os sobas, cujo objectivo era apenas reinar para o bem
do seu povo, satisfeitos com os benefícios da Comunidade, na saúde,
na prosperidade, nas boas colheitas, etc.

9
Tal como acontecia com os reis europeus, também os sobas só
10
reinavam se fizessem parte da linhagem real.

As cerimónias para a entronização de um rei eram muito


complexas: o primeiro passo era o de consultar os Sobas já falecidos,
afim de se saber se eles prevêem um bom reinado na pessoa do Soba
escolhido.

Eu pessoalmente assisti à cerimónia de entronização de um


Soba, que é escolhido pelo Muekalia, que era o sekulo (Ancião) dos
sekulos e que indicava alguém que era já de uma família de sobas
(linhagem). Este Soba normalmente na sua ausência é substituído
pelo seu Epalangaiv. Ele convoca todos os Sekulos da área e cita o
nome da pessoa. Se todos estiverem de acordo, então consultam os já
falecidos por intermédio de um boi. Prendem um boi no tronco duma
árvore, e eles à roda da mesma proferem as seguintes palavras:
“Estamos aqui em frente deste animal e perante vós, os nossos sobas
que também reinastes nesta Embala, para dizer-nos se concordam
com o candidato proposto para Soba deste Reino. Se estiverdes de
acordo sabê-lo-emos pela maneira como o boi vai-se ajoelhar.”

Então o boi ajoelha-se.

Os Velhos (Anciãos) voltam a falar:

- Já que estão de acordo, o boi que se levante.

Logo que o boi se levanta, tomam um balaio (cesto)v cheio de


farinha de milho (fubá) e dizem outra vez:

- Voltamos a pedir que o boi venha até nós para nos lamber a
farinha deste balaio.

Depois do boi se aproximar e lamber a fubá, acrescentam:

- Já que, mediante estas provas, aceitaste a nossa proposta para


que este indivíduo seja coroado soba, pedimos que o boi vá ao Elombe
(Casa Real).

Assim o boi põe-se a caminho do Elombe onde é morto e a sua


carne é cozida e distribuída por todos os presentes.

10
Outrora, para se entronizar um soba, era necessário mandar os
11
Akuenje velombe (Rapazes da corte, soldados do soba) a uma certa
distância da Embala para armarem uma emboscada junto de um
caminho e apanharem a primeira pessoa que por ali passasse. Depois
a cabeça desta pessoa era decepada e levada para a embala onde era
cozida juntamente com a carne do boi e comida por todos. A pessoa
morta passava a designar-se por Ekongo.

O acto seguinte é o de mandar fogo por todo o reino. Todos vão


ao Akokoto (trata-se do lugar onde guardam as cabeças secas dos
sobas falecidos) com o material para fazer o fogo, que consiste num
pau chamado Usilôlô; este é friccionado tal como os povos primitivos o
faziam, e depois com um caniço seco ateava-se o fogo. Assim que o
fogo pegar, fazem uma grande fogueira e mata-se mais um boi, cuja
carne é assada e comida no Akokoto. Finalmente, toda a população
daquele reino tira da fogueira um tição e o levam para as suas casas.

Todo o povo passa a usar daquele fogo que é bendito caso o


reino seja de sorte, de abundância de milho, de feijão, de caça e de
poucas mortes no reino. Caso contrário, o fogo do soba no poder é
fogo amaldiçoado.

Depois de assarem a carne naquela fogueira, fazem muito pirão


que é servido em cascas de árvore, juntamente com a carne do boi.
Consomem muita bebida, e em seguida passam a dançar com dois
chifres de boi e ao som de batuques especiais Endingos.

Depois destas cerimónias o soba toma uma espada antiga que


lhe confere grande poder no reino. No fim de tudo, ele sobe numa
pedra e toca num chifre de boi ao mesmo tempo que se autoproclama
rei supremo daquela terra.

As cerimónias de entronização estendem-se para lá de muitos


dias, são praticamente dias de festa, onde a população come, bebe e
dança.

Existem vários sobas subordinados, e cada um mandava na sua


jurisdição, mas o reinado do Bailundo era muito poderoso e subjugava
os outros reinos, obrigando-os a pagar vassalagem.

11
Conta-se que um dos sobas do bailundo havia solicitado ao soba
12
do Andulo o pagamento de um tributo. Este ficou irritado e mandou o
seu Epalanga como emissário afim de chegar ao soba do Bailundo a
mensagem de que ele não era obrigado a pagar nenhum tributo. O
soba do Bailundo ficou zangado e mandou prender o emissário que se
transformou em Epumumu (Peru bravo) e desapareceu voando. “Oh!”,
exclamou espantado o soba do Bailundo, dizendo:

- Eles têm o feitiço de Ondulu (Fel).

Desde então, aquele sobado passou a designar-se Ndulu, ou


seja, Andulo, conforme a versão portuguesa do mesmo termo.

Os reinos do planalto foram: O reino do Mbalundu, que os


portugueses mudaram Bailundo; Vie, designado por Bié e Ndulu
conhecido então por Andulo. Acrescenta-se, no entanto, que no
planalto central de Angola, existem outros reinos pertencentes ao
grupo étnico Ovimbundo, mas com pouca expressão.

Tal como acontece em outros reinos, mesmo nos europeus,


também no reino dos Bailundos existia uma diferenciação entre os
seus; daí que existia nos mesmos a nobreza, constituída por pessoas
possuidoras de vários títulos ou nomes relacionados com o reino:

O soba Muekália é o que se encontra no topo da hierarquia da


corte, possuidor de mais poder que o próprio Soba; tem a autoridade
não só de propor candidatura de um sujeito a soba, como também o
poder de o destronar. Estes casos aconteciam, geralmente, quando se
estava perante um soba avarento, guloso e que se escusava a fabricar
Kimbombo para o povo beber, e matar bois para o povo comer. Em
tais situações, o soba Muekália convocava os Velhos (Anciãos) do
reino e propunha a expulsão deste soba. Caso o mesmo se recusasse,
o muekália apelava para a intervenção do exército com o fim de o
forçar a abandonar o poder.

O segundo na hierarquia da corte é o Epalanga, adjunto do Soba.


Na ausência deste é o Epalanga que assume a governação do reino,
como sucedeu em 1903, aquando da revolta dos Bailundos contra os
Portugueses. Quem dirigiu as operações que caberiam ao soba, foi o

12
Epalanga Matuyakevela. Isto aconteceu quando o Bailundo
13
encontrava-se sob a administração do capitão Teixeira da Silva, em
que um dos soldados violou a mulher do soba bailundo chamado
Numa. Quando Numa teve conhecimento deste crime, foi ter com o
capitão Teixeira da Silva a fim de exigir, como era hábito, o
pagamento de uma indemnização por parte do soldado. O capitão ao
invés de atender ao pedido do soba irritou-se sobremaneira, que
acabou por prender o soba Numa. Como se não bastasse, o preso foi
enviado para Benguela, meteram-no num barril e lançado ao mar para
o fazer desaparecer desta forma tão vil e para sempre.

Revoltado com este procedimento, o Epalanga Matuyakevela,


organizou uma revolta contra os Lusos, utilizando como armas os
canhangulos que se carregavam pelos canos (armas de carregar pela
boca). Eram armas que os Bailundos haviam adquirido dos próprios
Portugueses em Benguela em troca de borracha.

Esta guerra durou um ano e só teve o seu fim graças à utilização


de outros grupos étnicos por parte dos Lusos, que morreram em
grande quantidade. A partir da derrota de Matuyakevela, os
Portugueses deixaram de vender armas aos Bailundos.

Em ordem de grandeza, temos a seguir o soba Ndaka que é o


responsável pela comunicação, ou o porta-voz ao povo da parte de
quem governa. Quando havia algo importante para informar à
Comunidade, o Ndaka, pela noite, quando toda a população da
Embala preparava-se para a ceia, subia a uma árvore e dizia:

- Homens, mulheres e crianças desta Embala, prestem atenção,


muita atenção! (Logo que o Povo do quimbo ou da embala ficava
silencioso, o soba Ndaka transmitia a mensagem.)

Naveleka é o quarto grau na hierarquia da corte. Trata-se do


responsável pelas deslocações do rei, transportando-o por vezes às
costas, sobre tudo quando tenham de atravessar rios ou outras
circunstâncias adversas.

Ukuepangu, o quinto na hierarquia, é o responsável pela


transmissão de informações secretas durante a noite. Importa
esclarecer que a residência do rei achava-se rodeada por uma cerca
de pau-ferro e um portão. Durante a noite, depois de todas as

13
actividades do reino, o rei manda fechar o portão, mas antes de o
14
fazer manda vir uma das suas mulheres para lhe fazer companhia. No
caso de uma urgência, o Ukuepangu entra na residência do rio através
de um labirinto que só ele conhece, pondo à disposição do soberano a
informação que ele possui.

Chitue é o soba responsável pelo corte das cabeças dos sobas


quando estes morrem. Entre os Bailundos, em particular os
Ovimbundu, quando o soba adoece mantêm este facto em grande
sigilo. O mesmo sucede aquando da sua morte, em que o povo só terá
conhecimento dela quando o Chitue separar a cabeça do corpo do rei,
e que é feito da forma seguinte:

O soba depois de morto fica dentro da cubata, sentado numa


cama ou cadeira, próximo da parede da cubata, onde se fazem dois
orifícios. De seguida faz-se passar pelos orifícios uma corda que
também envolve o pescoço do soba morto. O soba Chitue a partir de
fora da cubata fricciona o pescoço com a corda até a cabeça cair, e só
depois divulga-se a notícia sobre a morte do rei. Depois pegam na
cabeça e metem-na em aguardente, que na época era comprada em
Benguela, polvilhando-a em farinha de milho e a põe a secar. Depois
de seca metem-na numa mala de ferro, também comprada em
Benguela na mesma época, e guardam-na no Okokoto. O corpo é
enterrado como o de qualquer outra pessoa.

Para além destes títulos, existem outros ao nível da corte.


Dentre estes, podemos, igualmente, referir os Quesenje, Muebombo,
Somandalu, Lusenje, Somakueanje e outros. Cada qual tem a sua
função específica no reino. Muechalo é o jovem que trata da cadeira
do rei. Quando o rei vai em visita ao reino o Muechalo passa à frente
com a cadeira na cabeça, seguido do rei trajado com um pano de oito
metros de comprimento com uma orla nos lados. Se for um pano
preto, a orla que cobre as pontas é branca, ou será o contrário se o
pano for branco.

Geralmente o rei vestia uma camisa branca, um casaco preto,


um chapéu de três bicos, ou um chapéu grande, e calçava alpercatas
feitas com couro de boi. Na cara, um bigode bem retorcido. Atrás do

14
rei vinham os tocadores de andigo e de flautas que o acompanhavam
15
orquestralmente. Como cajado o rei levava consigo um rabo de boi,
seco.

Quando o rei chega ao local de destino, o Muechalo coloca o


banco, ou cadeira, no chão e o soba aproxima-se. Ao sentar-se, toda a
população que lá se encontrar também se senta, prostrando-se com
as pernas levantadas, um deles dá um assobio enquanto um outro diz:

- Pelombe bali oku miña. – O que significa: “na corte come-se


carne”.

O soba sente-se e o povo também se senta ao seu lado, ao redor


do pano real. Tudo é feito com muita veneração e respeito extremo.

Em relação às mulheres do soba, é costume haver mulheres


legítimas, como a Inakulu que é a Rainha, a primeira Mulher com
quem ele ajuntou-se muito antes de ser entronizado. É ela
praticamente quem governa a Casa Real, vigiando o Muesaka, o
cozinheiro do soba.

Importa referir que os sobas estão proibidos de ingerir comida


feita por uma mulher por causa da menstruação.

Seguidamente vêm as outras mulheres Mvavela e a


Chiwichepembe, mas cujas funções na corte são desconhecidas.
Finalmente vem a Siya. Trata-se, geralmente, de uma mulher raptada
quando jovem, com a idade compreendida entre os catorze e os
quinze anos de idade e virgem. Ela tem como função carregar a
esteira do soba quando esta sai para uma visita real, pois ele não
pode dormir em qualquer esteira, nem se senta em qualquer banco
por desconfiar que alguém lhe possa fazer mal.

Além destas, ainda existem outras mulheres na vida da corte.

A Vida Social dos Bailundos, nos


Quimbos
15
16

O quimbo, denominado Embala, significa Capital, e é o local


onde reside o Soba e a sua nobreza. Este lugar costuma ser muito
populoso, uma vez que todos gostam de viver perto do Soba para
desfrutarem do gozo da vida na Embala, tal como beber quimbombo
que o Rei sempre mandava fazer, comer a carne dos bois que o Rei
mandava matar, e passar o tempo a dançar ao som dos batuques,
entre outras coisas. A Embala era rodeada por uma série de quimbos
num raio de cem quilómetros, cada um deles dirigido por um Sekulo.

No centro do quimbo, costumava haver um Onjango, que é uma


espécie de clube que funcionava como escola e refeitório, feito de
pau-ferro em forma circular e com duas ou três entradas sem portas.

Neste local a população aprendia a falar correctamente a língua


umbundu, a história dos seus antepassados e várias especialidades de
medicina. Desconhece-se a forma como decorriam as aulas no
Onjango, mas as pessoas que aí se formavam estavam aptas para
servir a comunidade. Daí saiam sobas competentes, juristas,
contabilistas, historiadores, médicos, etc.

Durante o dia os habitantes do quimbo iam em busca de lenha


para fazer uma grande fogueira dentro do Onjango, ao redor do qual
todos os homens sentavam-se em banquitos cortados dos troncos das
árvores.

Por sua vez as mulheres eram obrigadas a levar comida para o


local onde os homens e comiam juntos, a partir do pôr-do-sol. Antes de
comerem, os homens lavavam as mãos com água contida nas
cabaças; depois chegava a primeira quindavi com pirão e outra com o
conduto, que poderia ser feijão, carne, folhas de mandioqueira (a
efuanga)vii, entre outras coisas. A primeira quinda circulava entre o
grupo e o primeiro homem da fila tirava uma porção de pirão que
colocava na mão esquerda, tirando depois um pouco do conduto
conduzido pela segunda quinda. Colocava o conduto sobre o pirão,
comendo depois tudo com a mão direita. Quando chegasse outra
quinda com mais comida, o ritual continuava a partir de onde a última
pessoa se havia servido. A comida que sobejasse era guardada no
etala do onjango, que é uma espécie de prateleira situada no teto do

16
onjango. Na manhã seguinte, o pirão que havia sobejado, chamado
17
obeta, era assado nas brasas.

Os órfãos e os doentes que não pudessem trabalhar e cuidar de


si próprios eram alimentados no onjango. Qualquer hóspede que
aparecesse podia ir directamente para o onjango e sentar-se na fila
dos bancos em redor da fogueira e não seria questionado por isso; só
no final do ritual é que se lhe dirigia a palavra, e perguntar-lhe-iam
sobre o lugar da sua proveniência, bem assim como o motivo da sua
vinda ao quimbo. Após o esclarecimento das questões colocadas, era
nomeado um elemento do grupo para disponibilizar a sua casa para a
estada do hóspede. Em geral os hóspedes costumavam dormir nos
celeiros. No onjango, o visitante podia comer e beber gratuitamente
durante o tempo que lá permanecesse.

Enquanto os homens adultos permaneciam no onjango, os


jovens passavam o tempo nas cozinhas (ochivo), onde tanto eles como
as raparigas se distraiam contando histórias, fábulas, adivinhas e
outras coisas, que apenas se podem contar durante a noite, pois,
segundo a superstição, se alguém as contasse de dia as mamas da
sua mãe ficariam inchadas.

Quando alguém quisesse contar uma destas histórias ou contos,


introduzia-se da seguinte forma:

- Alupolo! – E os outros respondiam dizendo:

- Luiye! – Depois disto citava uma adivinha:

- Okachiva tu yuila ponele!

Que se traduz no seguinte: “A lagoa onde nadamos de lado.” Se


alguém conseguir decifrar esta adivinha, deverá dizer:

- Okachiva tu yuila ponele ondalu!

Que significa o seguinte: “A lagoa onde nadamos de lado é a


fogueira.” Pela lógica de que se alguém tiver frio, e quiser aquecer-se
fica ao lado do fogo e não dentro dele.

Após a decifração da primeira adivinha ouvia-se mais um


alupolo vindo do outro lado da cozinha, ao que os outros respondiam
dizendo:

17
- Luye! – E citava-se mais uma adivinha:
18
- Ochinyama ca fa ku iya imbo eli, li punjaco, ku iya imboeli li
punjaco, puai omo ca suilapo.

Tradução: “Existe um animal morto do qual vários quimbos


enchem os seus vasilhames de carne, mas cujo animal se mantém
sempre intacto.” Caso ninguém conseguisse decifrar a adivinha,
poderia dizer:

- Pela vombumba. – Faça o favor de a decifrar.

E a pessoa que lançou tal adivinha dizia que o animal em


questão é o rio, pois é de lá que toda a gente tira a água mas que esse
“animal” permanece sempre intacto.

Com o passar da noite ouviam-se mais alupolos e outros aluiyes


dos vários cantos de cozinha. A pessoa que lançava a adivinha dizia:

- Ovimu vi vali venhala. – “Dois morros na charneca”.

Se ninguém conseguisse adivinhar o significado desta adivinha,


o autor da mesma pedia que lhe dessem um quimbo. Alguém do
grupo respondia:

- Toma o quimbo do Chindombe.

O autor então dizia:

- Não quero o quimbo (a aldeia) do Chindombe porque não há


raparigas bonitas nesse quimbo.

Caso fosse uma rapariga a citar a adivinha, diria que rejeitava


aquele quimbo por não haver rapazes bonitosviii.

Então referia-se mais um quimbo em alternativa:

- Toma o quimbo de Chissaje. Ao que o autor da adivinha


responderia:

- Tambu, tambu imbo lia Chissanje, nikula sekulo Ymbo ndu teta
utue, ndu wimba volui, mopisa olondombe siti, ka kuni kunyiko. – “É
bem recebida a ideia de Chissanje, pego no sekulo do quimbo, corto-
lhe a cabeça e lanço-o ao rio e digo aos peixes: Comam-no!”

18
Depois disto decifrava-se a adivinha: “Dois morros na charneca
19
são duas chuchas no peito duma rapariga”.

Ouviu-se mais um alupolo e os outros respondiam: - Luiye.

Então a pessoa que lançava a adivinha dizia: - Kanike kanike! –


Que significa que vai contar um conto ou uma fábula:

“Havia dois amigos que um dia resolveram tratar dos seus


negócios na terra das delícias. Para lá chegar, tinham de atravessar o
rio encantado, o qual era necessário utilizar barco. Quando chegaram
à margem do rio não havia lá nenhum barqueiro e começaram a
chamar por ele: - Barqueiro, barqueiro! – Depois ouviu-se uma voz
vinda dum capim alto que dizia: - Eis-me aqui.

Os dois homens ficaram espantados ao verem chegar uma


grande jibóia. Perguntaram-lhe onde estava o barco. A jibóia então
disse: - Eu sou o barqueiro e ao mesmo tempo também sou o barco.

Ela então abriu a boca e disse que entrassem para os levar à


outra margem. Os homens ficaram assustados ao entrar na boca da
jibóia, sabendo que era assim que ela comia as suas presas. Mas
sempre entraram e em pouco tempo eram postos na outra margem
da terra das delícias. Era uma terra rica e propícia para negócios.

A primeira coisa que encontraram e que lhes daria muito


dinheiro era a doença da Rainha daquela terra, que apenas se curava
com a gordura de jibóias. O Rei prometia dar metade do seu Reino a
quem conseguisse essa gordura. Então os homens disseram:

- Quando estávamos na barriga da jibóia vimos muita gordura


suspensa; vamos lá para conseguirmos a gordura. E foram até ao rio
encantado e chamaram pelo “barqueiro”. A jibóia apareceu e eles
entraram na boca dela e foram cuspidos na outra margem. E foram
para a sua aldeia.

Passados dois dias resolveram voltar para a terra das delícias


para levarem a gordura da jibóia e assim curarem a doença da
Rainha. Quando chegaram junto do rio voltaram a chamar o
“barqueiro” que logo chegou, abriu a sua boca e eles entraram.
Quando a jibóia estava no fundo do rio, um deles pegou numa faca e
começou a cortar a gordura suspensa na barriga do animal. Ela, ao

19
sentir as dores que lhe provocavam os cortes da faca, cuspiu os dois
20
homens para o fundo das águas do rio, fazendo-os desaparecer para
sempre”.

No fim da narrativa o contador da estória dizia: “Etea li mosi ká li


kuata ombia (uma só pedra não segura a panela do lume)”.

De um canto da cozinha um outro dizia: “Alupolo” – “Luiye” –


Respondem todos em uníssono. E começava logo a contar outra
fábula:

“Havia um pai que devido às grandes preocupações que tinha,


foi ter com um rei pedir dinheiro emprestado, empenhando o seu filho.
O rei gostou muito do moço e adoptou-o como filho seu. Deu-lhe muita
riqueza e ficou sendo um grande daquela terra. Passados alguns anos
o verdadeiro pai do moço, conseguindo o dinheiro para pagar a
hipoteca do filho, dirigiu-se ao monarca para o resgatar. O rei disse
àquele pai que certamente o moço não quererá ser liberto porque
agora estava muito rico. Mostrou-lhe as propriedades que estavam no
outro lado do rio e disse-lhe:

- Estás a ver aquelas propriedades, todo aquele pessoal, aquelas


manadas de bois, aquelas casas, tudo é dele. Portanto, é melhor falar
com ele e saber se deseja voltar para ti.

Aquele pai foi ter com o filho dizendo-lhe que o vinha resgatar. O
filho disse então ao pai que estava muito rico e por isso não desejava
ser resgatado. Mostrou-lhe toda a riqueza que possuía, deixando o seu
pai muito desapontado.

Depois de alguns anos passados o rei morreu, e naquela terra


quando morria um rei, para o enterrar era costume deitar na cova um
escravo para que o corpo do rei não pousasse na terra mas em cima
de um corpo que teria ser de um escravo. E a sorte caiu sobre o moço,
que o tomaram e o estenderam na cova e por cima dele deitaram o
corpo do rei, pois que afinal apesar do moço ser muito rico continuava
a ser escravo”.

Outra história/estória ainda:

“Um caçador foi à caça e carregava consigo uma cabra do mato


na cabeça, um coelho a tiracolo e algumas perdizes na cintura. Ia todo

20
satisfeito da vida, a corta mato, e de repente ouviu uma voz vinda de
21
cima que dizia:

- Ainda bem que apareceste, meu querido colega. Eu sou


caçador como tu.

Aquele caçador levantou os olhos e viu que quem falava com ele
era um leão que estava enganchado no ramo de uma árvore. O leão
disse depois:

- Sabes, ó colega, persegui umas palancas (caça grossa) e, ao


saltar para apanhar uma delas fiquei preso neste ramo. Ajuda-me a
desenganchar deste ramo.

O caçador utilizando um pau com forquilha conseguiu


desprender o leão. Este então disse:

- Fico-te muito agradecido por teres aqui passado. Se não fosses


tu, eu morreria. Mas agora o que me mata é a fome, pois já faz quatro
dias que estou sem comer. Por favor dá-me uma das tuas perdizes. O
caçador deu-lhe uma das perdizes e o leão comeu-a. Disse que uma
perdiz não chegava para lhe matar a fome e pediu-lhe outra peça de
caça, mas como todas as peças de caça eram poucas para lhe matar
a fome, que o caçador sempre lhas dava por medo, disse-lhe por fim:

- Dá-me essas coisas que tens penduradas no corpo para as


comer.

Mas o caçador disse que eram os seus braços, e o leão disse que
os braços também servem para comer. Daí então começou uma
grande discussão com o caçador com o caçador a defender os braços.

Um cágado que ouviu a tal discussão, aproximou-se e perguntou


que discussão era aquela e o leão respondeu com o narrar de toda a
história até à parte dos braços. E que o tema dos braços era a causa
da disputa, “pois ele não mos quer dar”. O cágado disse que não
estava a perceber muito a questão e pediu que voltassem a repetir a
história para ver se conseguia entender o problema. Por fim pediu ao
leão que simulasse como tudo se havia passado e o leão então disse:

21
- Eu estava aqui e saltei assim… O leão ao saltar ao saltar ficou
22
novamente preso nos mesmos ramos da árvore, e o cágado lhe disse
por fim:

- Ficas aí preso até morrer, seu ingrato! – Falou depois ao


caçador: - Vai para a tua casa e deixa o malvado do leão morrer.

Mas como o caçador já não tinha nenhuma peça de caça para


dar de comer aos seus filhos, assim pegou no cágado, matou-o,
meteu-o no alforge elevou-o para com ele alimentar a família”.

Moral da estória: “Cuidado com a ingratidão!”

Durante os inúmeros serões contam-se muitos destes contos


sempre acompanhados de lindas canções.

Assim passavam os jovens o tempo, muito alegres e distraiam-


se. Também praticavam outras distracções tais como o ondongo, que
é um jogo onde se esconde uma pedrinha ou grão de milho ou feijão
em alguém, e os outros tentavam dizer quem os tinha.

Na hora de dormir, deitavam-se todos juntos nas esteiras, tanto


os rapazes como as raparigas. No entanto não se praticavam relações
sexuais, visto estas práticas serem tidas como muito sagradas, e
envolvidas numa série de superstições.

Entre os Bailundos acredita-se que se alguém tiver uma ferida e


tiver relações sexuais, a ferida torna-se incurável. Se alguém for à caça
e antes tiver relações com a sua mulher, não trará nenhuma caça. Se
alguém fizer quimbombo e antes disso tiver relações sexuais, este se
estragará. Caso um homem cometa adultério, todos os filhos do sexo
masculino morrerão. No entanto se for a mulher a adulterar,
morreriam todas as filhas do casal. Se uma mulher grávida praticar
adultério esta morrerá vítima de uma doença onjamba, caracterizada
pelo nascimento de embriões nas narinas, semelhantes ao milho
quando germina. Se um homem for infiel e tiver relações sexuais
durante a gravidez da sua esposa, no momento do parto o bebé ao
invés de seguir o percurso no nascimento, iria para cima do peito.

A fim de evitar que algum mal destruísse a sua casa por ter
praticado adultério, quem cometesse tal acto, deverá pegar certas
ervas e colocá-las no fogo da cozinha sem que ninguém se

22
apercebesse, evitando assim a doença de onjamba. No entanto, a
23
melhor maneira de evitar esta terrível doença, é utilizar a carne de
elefante, que em umbundu também se chama onjamba. Quem tivesse
carne seca de elefante podia ter relações sexuais quantas vezes
quisesse, e nada de mal lhe aconteceria caso pusesse um pouco
dessa carne no lume da cozinha depois das relações sexuais.

Quando estive na Jamba, que era o quartel-general da UNITA


(União Nacional Para a Independência de Angola), onde havia muitos
elefantes, pois antes era uma reserva de caça, consegui um pedaço
de carne seca de elefante que trouxe comigo quando regressei ao
Bailundo. Ganhei bastante dinheiro com a venda desta carne, porque
todos queriam comprar um pouco deste antídoto, como assim se
pensava.

Um missionário americano, chamado Webb, que trabalhava na


Missão Evangélica do Bailundo, tinha uma pata de elefante, seca.
Uma vez, durante as suas visitas pastorais aos quimbos evangélicos,
este missionário tinha levado a pata para mostrá-la às pessoas da sua
Missão. Aconteceu que no primeiro quimbo, enquanto ele almoçava
na Casa Missionária, as pessoas esquartejaram a pata do elefante que
tinha ficado fora, levando cada um o seu pedaço daquela carne
valiosa para lhe servir de antídoto quando tivessem de ter relações
sexuais.

Os Bailundos têm muito medo de praticar relações sexuais ao


acaso pois, como se diz, “é o medo que guarda a vinha e não o
vinhateiro”.

Entre os Ovimbundu se alguém lhes perguntar onde dormem os


seus animais, nomeadamente as galinhas, indicariam o galinheiro; os
porcos ou cabritos indicariam as pocilgas e os currais. Mas se lhes
perguntassem onde dormem os seus filhos não lhes dariam uma
resposta concreta, uma vez que estes podiam dormir onde quisessem,
podendo até dormir com pessoas de outro género sem nunca
pensarem em praticar relações sexuais.

23
Ainda hoje, não obstante as mudanças de civilização e de
24
costumes, se num lar dos Ovimbundu houver alguém que sofra de
varíola ou sarampo, é costume vedar-se a casa toda, fechando todas
as portas e janelas para que o doente não tenha contacto com
ninguém. Acredita-se que caso algum homem tenha tido relações
sexuais com a sua mulher e vá visitar um doente de varíola ou de
sarampo, isso faria o doente morrer. Por esta razão não é permitido
que nesta classe de doentes eles sejam alvo de visitas.

Caso algum homem quisesse passar a noite com uma rapariga


de quem gostasse, não o poderia fazer sem o consentimento dos pais
dela, que só a cederiam mediante um pagamento. Obtido o
consentimento, a rapariga poderia ir com o homem, e quando
estivessem os dois na cama, ela entrelaçava um pano entre as pernas
de forma a encobrir o sexo. A partir do umbigo para cima ficava tudo a
descoberto e à disposição do homem, podendo este acariciar os seios,
o ventre, as costas, a cabeça, etc., sem nunca tocar a sua púbis e a
vulva ou pudendo. Caso o homem se deixasse levar pela voracidade e
concupiscência, a ponto de forçar a rapariga e a conhecer
biblicamente, esta podia abandonar o homem e voltar para casa dos
pais. No dia seguinte o homem seria certamente obrigado a deixar a
terra uma vez que o seu nome ficaria manchado pela má fama e
vergonha.

Nos dias especiais ou de luar, era costume toda a população do


quimbo ir para os campos de dança onde ao som de batuque, todas
as pessoas, independentemente do sexo ou idade, dançarem
alegremente. Existem vários tipos de dança e cada uma tinha o seu
nome como por exemplo: a lisemba, a Seia, a catita, mangandu, entre
outras. Acredito que se alguém levasse um grupo de bailarinos destas
danças para a Europa, de certeza que ganhariam muito dinheiro. Uma
vez que elas são muito agradáveis de ver. Por sua vez existem muitos
tipos de batuques tais como o mungomba, que é um batuque grande,
e o henjengo, que é pequeno. Os povos destas regiões acreditavam
que os toques dos batuques serviam para exortar as pessoas, a não
praticarem actos que os levassem a ser castigados ou amarrados.
Defendiam que os pequenos batuques, os henjengos, quando são
tocados, dizem: “kukulo kombanja, konganja (serás amarrado com
cordas e cordinhas se praticares algum mal)”, e o grande, o

24
mongumba, dizia: “kuenjo, kuenjo (cuidado rapaz, cuidado rapaz!)”.
25
Estas vozes onomatopeicas tinham um significado especial para todos
os que as ouviam.

Existe um outro batuque grande, com a forma de um caixote, o


qual se toca com um caniço chamado nguita.

Na vida social dos quimbos, o essencial é o amor. As pessoas


amam-se sempre umas às outras. Quando alguém adoece, todos
ficam preocupados e procuram forma de o curar; se alguém lutar com
outro, são logo separados e reconciliados. Se alguém adulterar a
mulher de outro o caso é imediatamente levado à embala, para que
seja julgado pelo soba, para obrigar o adúltero a pagar uma multa
adequada para este caso. Quando o faltoso pagasse a referida multa,
ficava para sempre absolvido do seu crime, evitando assim que
houvesse vinganças pessoais devido a algo que tivesse acontecido no
passado, como ilustra o seguinte conto:

“Um dia a mulher de uma família foi pedir à vizinha um coador


para coar uma composição para pôr no conduto da comida. A vizinha
emprestou-lho e ela depois de o usar lavou-o e pôs a secar ao sol. Mas
devido à negligência, esqueceu-se de recolher o coador. Acabou por
ficar ali muito tempo, até que nasceu dentro dele uma planta de
cabaças. A planta cresceu rapidamente e produziu muitas cabaças,
grandes e lindas. Aconteceu depois que um dia a dona do coador
passou perto da planta das cabaças e se encheu de inveja das
mesmas. Mas ela descobriu que aquela planta tinha nascido dentro do
coador que emprestara à vizinha. Logo que chegou em casa mandou
um dos seus filhos à vizinha para que lhe devolvesse o coador
emprestado, o que o filho prontamente fez. A dona das cabaças foi à
casa da vizinha pedir-lhes desculpas, dizendo que no coador havia
nascido uma planta de cabaças, que havia produzido muitas cabaças,
e se ela tirasse agora o coador a planta secaria.

A dona do coador não ligou ao que a outra lhe disse, e apenas


lhe replicou que queria o seu coador o mais rápido possível. A dona
das cabaças foi arranjar outro coador ainda melhor para o devolver,
mas a outra não o aceitou, dizendo que queria só o seu coador.

25
O caso acabou por ir à Embala na esperança de que o soba
26
conseguisse fazer com que a dona do coador recebesse um
pagamento qualquer, no entanto esta continuava obstinada e só
aceitaria o seu coador. Não houve outra solução senão arrancar a
planta das cabaças. Depois de cortada a planta, as cabaças já quase
criadas acabaram por se secar, morrendo.

Com o passar do tempo, os acontecimentos pareciam ter sido


esquecidos, mas como diz um ditado em umbundu:

“Wambaewe cu limba puai u lia tonyola ka cu limbi omo ndaño


epute liaco lia kaia lio sila emome”.

O que significa: “Quem atira uma pedra ao outro esquece-se


rapidamente, mas quem é atingido pela mesma nunca se esquece,
visto que mesmo que a ferida tenha curado fica sempre a cicatriz”.

Por conseguinte, passado algum tempo, um ano, dois ou mais,


as duas mulheres voltaram a ser amigas como dantes.

Um dia, durante as grandes festas de Eyele as duas senhoras e


os seus respectivos maridos foram juntos a esta festa; passeando
juntos foram comer e beber. Ali já ninguém se lembrava do passado. A
senhora que era a dona do coador tirou uma pulseira do braço da
criança da sua vizinha e meteu-a no braço da sua criança que tinha a
mesma idade da outra. A pulseira não tinha nenhuma ligação com a
outra questão e ninguém deu por conta de nada.

Por alguns anos a pulseira permaneceu no braço daquela


criança. Um dia a dona da pulseira descobriu-a no braço da filha da
dona do coador. Esta fez o mesmo que a outra tinha feito em relação
ao coador. Quando chegou em casa, enviou um dos seus filhos à casa
da vizinha para ir em busca da pulseira. Assim que o moço lá chegou
para cumprir as ordens da sua mãe, a mãe da outra criança resolveu
tirar a pulseira do braço da filha, mas a pulseira não saiu, pois
entretanto a mão da menina havia crescido. Ela então foi ter com a
vizinha e explico-lhe a situação e a impossibilidade de sacar o objecto
do braço da petiza. A dona da pulseira não aceitou qualquer
explicação dizendo que só lhe interessava receber o que era seu. A
mãe da petiza pediu para tentar cortar a pulseira do braço da sua
filha, mas a dona da pulseira não aceitou a proposta. A mãe da petiza

26
então prometeu entregar dois bois como pagamento da pulseira, mas
27
a outra respondeu que não queria boi nenhum, mas sim apenas a sua
pulseira.

O caso acabou por ser levado à Embala, para que o soba


resolvesse a questão. Este tentou tudo para que as duas mulheres se
entendessem, não o conseguindo, e quando ouviu o relato da questão
e o comparou à questão passada com o coador e as cabaças, concluiu
que era lícito proceder como a vez anterior, que era cortar o braço da
criança e tirar a pulseira do seu braço. Assim, o soba mandou um
homem da corte para proceder ao corte do braço, e assim resolveu a
questão, deixando a criança sem a mão.

Moral da história: a primeira mulher ficou sem as cabaças, a


segunda ficou com a filha sem a mão.

Por este motivo os Bailundos evitam sempre a vingança.

O Modo de Vivência por parte do Povo Bailundo Antes da Chegada


dos Colonos Brancos Chegarem à Região.

Há tarefas específicas para os homens tal como para as


mulheres. Os homens constroem cubatas, fazem almofarizes, luiko
(espécie de remo de canoa para fazer pirão [ou espátula]), chito
(colher de pau para tirar o pirão da panela), fundições para fazer
enxadas e machados, etc. A fundição era feita, geralmente, com pedra
(minério) de ferro que abunda na região do Bailundo. Os responsáveis
por este ofício transportam estas pedras para uma mata onde cavam
uma vala e onde as metem. Em volta ficam quatro ou mais lyeveyo
(forjas). As pedras ficam no meio do carvão vegetal, e os homens
passam ali a noite inteira a forjar. Na manhã seguinte, já se pode ver o
ferro derretido e separado das escórias. Caso um dos forjadores, tenha
tido relações sexuais anteriormente, segundo a superstição daquele
povo, as pedras não chegam a derreter.

27
Com o ferro derretido, fabricavam todo o tipo de artefactos para
28
a agricultura e objectos caseiros, como machados, enxadas, facas e
outros objectos.

Na agricultura a situação é diferente, pois os homens trabalham


juntamente com as mulheres.

O trabalho dos homens na agricultura tem mais a ver com o


corte das árvores, abrindo-se desta forma novas lavras.

No bailundo o milho é a base da alimentação das populações


até aos dias de hoje, e com ele se podem confeccionar os mais
variados pratos (alimentos). O principal é, sem dúvida, o pirão. Para
além deste também se confecciona o ekende, espécie de boroa,
lukango, que é milho torrado; há a asssola, que se designa por kanjika
(em português), chikuvi, libete, etc.

Antes dos brancos existirem na área dos Bailundos, os homens


dedicavam-se muito mais a viajar. Iam ao Moxico, região que pertence
a outros grupos étnicos, como os Nganguela e Chocué, a fim de
conseguir borracha que vendiam aos brancos que, na época, se
encontravam em Benguela.

Nas matas das regiões onde vivem os nganguelas, existem


várias plantas silvestres que produziam a borracha, produto muito
apreciado na época. Cavavam (extraiam) as raízes, que depois eram
pisadas com paus para lhes tirar as impurezas. Depois a borracha era
lavada nos rios onde se estabeleciam as medidas correspondentes.

Os Bailundos quando deslocavam-se a estas terras levavam


consigo sal, tabaco, tecidos, etc., para trocarem por cera, marfim,
escravos, etc. Estas mercadorias eram levadas a Benguela onde eram
vendidas aos brancos a troco de dinheiro, fardos de tecidos, utensílios,
aguardente, armas de fogo de carregar pela boca, pólvora e outros
artigos. Os que conseguiam ovos de carraceira obtinham produtos de
maior valor. Quando me falaram destes ovos, pensei que, na
realidade, tratava-se de ovos verdadeiros, de aves, mas tratava-se de
diamantes, os quais encontravam nos rios quando lavavam a
borracha. Como não sabiam que se tratava de diamantes deram-lhes
o nome de carraceiras (esala lioyañe), em umbundu. Apenas soube
disso ao ler o livro escrito por um dos comerciantes antigos que vivia

28
em Benguela. Havia também empresários chamados, em umbundu,
29
de fumbelo, ou seja, pombeiro em português. Estes obtinham muitas
mercadorias de Benguela que enviavam para os Nganguelas, e vice-
versa, mercadorias, estas, transportadas às costas de carregadores
negros. Estes trajectos levavam muitos dias e eram muito arriscados
devido aos animais selvagens, salteadores, às doenças, etc. Viajavam
durante a metade do dia, e a outra metade era para se precaverem
nos acampamentos contra estes malefícios. Faziam grandes cercos de
madeira à volta dos campos, constituídos por palhotas bem
resistentes, a fim de evitar que leões os atacassem ou os salteadores
o roubassem. Apesar de todas as precauções, muitos foram comidos
por leões e assaltados por ladrões. Durante as noites faziam grandes
fogueiras dentro das cercas, e enquanto uns dormiam outros faziam
de sentinela. Se ouvissem o rugir do leão batiam em panelas,
lançavam nas fogueiras farrapos para avivarem as chamas e
provocarem mau cheiro, gritavam e disparavam tiros de canhangulo,
fazendo deste modo muita agitação. Se alguém pele de algum animal,
que designavam de ombinji, cortavam dela um pedaço que deitavam
ao lume, e que afugentava os leões. Os ombinji atacam qualquer
animal, e têm os dentes muito cortantes, semelhantes a navalhas. Diz-
se que quando se defrontam com qualquer outro animal, seja leão,
elefante, etc., atacam-no um por um e em pouco tempo este animal
(atacado) fica apenas esqueleto. Os ombinjiix são semelhantes aos
cães, e até fazem temer até as hienas e outros predadores. (Continua
no tomo III).

29
30

i
Bailundo é uma cidade e município da província do Huambo, em Angola, localizada em pleno
planalto central. Tem 7 065 km² e cerca de 56 mil habitantes. É limitado a Norte pelos municípios
de Waku Kungo e Andulo, a Este pelos municípios de Mungo, Cunhinga e Chinguar, a Sul pelos
municípios de Catchiungo, Tchicala Tcholoanga e Huambo, e a Oeste pelos municípios de Ekunha,
Londuimbale e Cassongue. É constituído pelas comunas de Bailundo, Lunge, Luvemba, Bimbe e
Hengue.

À região do Bailundo foi dado o nome do primeiro soberano, que vindo do norte, fundou e reinou
durante muitos anos naquilo que foi o maior, mais poderoso e influente reino da colónia
portuguesa. Todos os outros reinos o olhavam com o maior respeito e admiração. A embala (casa
grande), sede do Soma (monarca) situava-se na localidade hoje designada de Bailundo. O Reino do
Bailundo foi sucessivamente atacado pelas tropas portuguesas durante séculos, tendo os mais
conhecidos suseranos que ali reinaram, resistido às confrontações militares até ao ano de 1.896 AD,
altura em que o jovem capitão Justino Teixeira da Silva, transferido do Bié, onde fora também

30
31
responsabilizado pela morte prematura do Capitão-mor Silva Porto, acabou por derrotar o Rei
Numa II que acabara de suceder a Ekwikwi, e ali se instalou. A vila veio a ser denominada de
Teixeira da Silva, tendo retomado o nome anterior de Bailundo após a independência nacional em
1.975 AD. Durante a guerra civil dos anos 90 esteve aqui instalado o quartel-general da UNITA.
Fonte: http://janeladeguilhotina.blogspot.com/2009/04/bailundo-e-uma-cidade-e-municipio-da.html

ii
N.B.: Para saberem da riqueza e cultura fascinantes dos outros Povos de Angola, apresento-lhes os
Bakongo: http://www.fflch.usp.br/spap/administracao/arquivos_publicacao/DA_LUENA.PDF
iii
Ou Bailundus: http://www.minhasimagens.org/convidados/lucianocanhanga/textos15.htm
iv
Olosoma é o plural de Osoma o que significa Soba, que é o plural de Epalanga. Vide
http://www.info-angola.ao/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=254, na página 7, nota
14.
v
http://www.angoladicas.com/news_detail.asp?ID=5281 (Citação: “Os manuscritos iam com o milho?
Como eu não tinha milho, tinha de comprar milho no comerciante. Na lista das compras, pedia duas quartas
de milho, ou três, com balaio [cesto]”).

vi
Quinda (quin-da) Feminino. Termo de Angola. Espécie de cesto cylíndrico, sem
tampa. Cf. Serpa Pinto, I, 169. [Dicionário Cândido de Figueiredo, 1913].

vii
Efuanga ou Esuanga, que são folhas de mandioqueira.
viii
Contraditório a esta observação: http://eanadv.blogspot.com/2010/07/tirania-da-beleza.html;
http://plenamulher.blogspot.com/2010/01/beleza-madura-sem-neuras-mulheres_18.html

1. ix
Vide o PDF “Cantos africanos em umbundo” na net:
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“Ombinji cão do mato onohã ondiba ou kandimba”

www.letras.ufmg.br/labed/download/cantosafricanos2ed-site.pdf

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