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mw O UNIVERSO SIMBOLICO Didlogos sobre Lévi-Strauss. vida € a maquina. Deus, a natureza, e 0 simbolo. O imagindrio natural. O dualismo freudiand. Houve na sessio de ontem & noite um progresso manifesto com relacdo & primeira, visto que sustentamos 0 didlogo um pouco melhor € por um tempo um pouco maior. ‘Tenho alguns testemunhos das idas ¢ vindas que isto provoca nna subjetividade de cada um — Intervirei? — Nao intervirei? — Nao intervim — etc. ‘Vocés, no entanto, devem ter-se dado conta, nem que seja pela maneira como as conduzo, de que estas sessies ndo séo andlogas assesses de comunicagdes ditas cientificas. £ neste sentido que Ihes rogo cuidar do seguinte — nestas sessdes abertas, vocés nao se acham de jeito nenhum em representagao, apesar de termos convi- dados estrangeiros, simpatizantes e outros. Nao devem procurar dizer coisas elegantes, destinadas a valorizé-los ¢ a aumentar a estima que j4 se possa ter por vocés. Estéo aqui para abrirem- coisas que ainda nao foram vistas por vocés, ¢ que sao, em prin- cipio, inesperadas. Entao, por que néo dar a esta abertura sua méxima ressonancia fazendo as perguntas a partir do ponto mais rofundo em que elas possam atingir em vocés, mesmo que isto 2 © Sesnnanto, Livno 2 se waduea de_maneir: barroca? Em outros tenmos, a Gniva eritiea que thes poderia fazer, se posso permitirine, & a de quererem todos pareeer inteligentes demais. Todo mundo sabe que voc’s 0 sio, Entio para que querer pare- cé-lo? E, de qualquer modo, que importineia tem isto, quer pare © ser, quer para © parecer? Dito isto, aqucles que, ontem & noite, ndo puderam desopilar © figado, ov 0 contririo, roga-se que o fagam agora, jd que 0 interesse destes encontros & que tenham consegiiéncia, um pouco hiesitante, vaga, © até mesmo 1 Eis 0 Anzicu que ji se propoe. Fico-the grat por consentic em dizer o que tem a dizer, A pergunta do Sr. Anziew mio esti reproduaida, Durandin parcceu dizer que a violéncia da proibigao do in- eesto er algo de mensurivel, que se traduzia por alos so patentes. Nao é verdade. Para descobrir 0 complexo de Edipo, foi preciso examinar primciro os neuréticos, para passar depois a um Circulo muito mais amplo de individuos. Foi por isto que eu disse que 0 complexo de Edipo, com a intensidade fantasidstica que nele sobrimos, «1 importincia © @ presenga que tem no plano imag niicio para 0 sujeito com 0 qual lidamos, devia ser concebido como um fenémeno recente, terminal, ¢ nio original, com rclagao aquilo de que Lévi-Strauss nos fala, Mas como 0 scnhor pode, caro Ancieu, dar tamanha importén- cia ao fato de Lévi-Strauss fazer intervir em sua linguagem palavras como compensagiio 20 se tratar, por excmplo, das tribos tibetanas ou nepalesas, onde se chega até a matar as meninas, 0 que faz com que haja mais homens do que mulheres? O termo compensa- Gio tem aqui apenas um valor estatistico, sem nenhuma relagao com © termo analitico. Nio podemos deixar de conveder a Lévi-Strauss que os ¢ myentos numéricos intervém na constituigio de uma coletividade © Sr. de Buffon fez a respeito disto reparos muito acertados. © aborrecido & que, ma escala dos macacos, & medida que se pein pis nun degrau, esquece-se de que ha degraus embaixo — ou Aut po Principio po Prazen, A REFETIGA® a bom a gente os deixa apodrecer. De mancira que nunca se pode arcar Sendo um campo bastante limitado no conjunto da concep- Jo. Mas seria um engano no se lembrar dos reparos extrema- mente acertados de Buffon sobre 0 papel que os elementos estatis- tiegs desempenham num grupo, numa sociedade. Estes reparos vio muito longe, pois tiram 0 alcance de todos os gincros de questées pseudofinalistas. Ha questées que a gente no precisa colocar-se, porque se dispersam sozinhas em conss- qiicncia da repartigéo espacial dos nimeros. Problemas deste tipo ainda existem € sdo estudados em certos niveis demogréficos aos quais Lévi-Strauss fez uma longingua alusio. Buffon se perguntava por que as abelhas fazem hexégonos to bonitos, Reparou que nao ha outro poliedro com 0 qual se possa ‘ocupar uma superficie de modo tio prético e téo bonito. E um tipo de pressio da ocupagdo do espago que faz com que devam ser hexdigonos, ¢ a gente ndo deve colocar-se problemas doutos do gincro — seré que as abelhas sabem geometria? © senhor percebe 0 sentido que a palavra compensago pode ter neste caso ai — se houver menos mulheres, haverd forgosamente mais homens. Mas seu erro vai ainda mais longe quando o senhor fala de finalidade, quando cré que Lévi-Strauss, ao falar da circulagdo de uma familia @ outra, confere alma a sociedade. Haveria muito a dizer sobre 0 proprio emprego do termo finalidade, sobre suas re- lagdes com a causalidade, ¢ trata-se de uma questéo de disciplina do espirito deter-se nisso um instante, nem que seja 36 para notar © Seguinte — a finalidade esté sempre implicada, de forma diversa~ imente larvar, no préprio interior de qualquer nocdo causal, a nao ser que, justamente, se saliente a oposigéo entre o pensamento causalista e/a concepcdo finalista, Para o pensamento causalista, a finalidade nao cxiste, mas o fato de que se deva insistir prova suficientemenie que a nocdo é diffcil de manejar. Qual é a originalidade do pensamento que Lévi-Strauss intro- duz coma estrutura elementar? e"salienta de ponta a ponta o seguinte — no se entende nada dos fenémenos reterentes ao parentesco ¢ & familia, colctados }é bastante tempo, se se tenta deduzi-los de uma dinamica qual- quer, natural ou naturalizante. O incesto como tal no provoca nenhum sentimento natural de horror. Nao estou dizendo que po- “ © Semundnto, Livno 2 demos fundamentar-nos nisto, estou dizendo que isto é 0 que Lévi- Strauss diz. Nao hé nenhuma razio biol6gica, e em particular gené- tica, que motive a exogamia, ¢ ele mostra isto depois de haver discutido de maneira extremamente precisa os dados ciemtificos Numa sociedade — e podemos ter em vista outras sociedades que ngo as humanas —, uma prética permanente ¢ constante da endo- gamia ndo s6 nao ter inconvenientes como, ao fim de certo tempo, terd por efeito eliminar as pretensas taras. Nao hé nenhuma dedu- 80 possivel, a partir do plano natural, da formagao dessa estrutura elementar que se denomina a ordem preferencial. E isto, ele © fundamenta em qué? No fato de que temos de lidar na ordem humana com a emergéncia total — englobando a fordem humana inteira em sua totalidade — de’ uma fungio nova. ‘A fungdo simbélica ndo é nova como fungdo, ela tem lineamentos fem outros lugares que ndo na ordem humana, mas trata-se apenas de lineamentos. A ordem humana se caracteriza pelo seguinte — a fungao simbélica intervém em todos os momentos ¢ em todos os niveis de sua existéncia. Em outros termos, esté tudo ligado, Para conceber 0 que se passa no ambito préprio 4 ordem humana, € preciso que partamos da idéia de que esta ordem constitui uma totalidade. A totalidade na ordem simbélica denomina-se um universo. A ordem simbélica € dada primeiro em seu caréter universal Nao € aos poucos que cla vai-se constituindo. Assim que o simbolo advém, hé um universo de simbolos. A pergunta que fa gente poderia colocar-se — ao cabo de quantos simbolos, numeri- camente, 0 universo simbélico se constitui? — permanece aberta Mas por menor que seja 0 niimero de simbolos que vocés possam conceber no momento da emergéncia da funcao simbélica como tal na vida humana, eles implicam a totalidade de tudo 0 que é fumano. Tudo se ordena em relagéo aos simbolos surgidos, aos simbolos na medida em que apareceram. ‘A funcio simb6lica constitui um universo no interior do qual tudo 0 que € humano tem de ordenar-se. Nao é a troco de nada que Lévi-Strauss denomina suas estruturas elementares — ele nio diz primitivas, Elementar & 0 contrério de complexo. Ora, 0 que é curioso € ele ainda ndo ter escrito as Estruturas complexas do pa- Tentesco. As estruturas complexas, quem as representa somos nds, € elas se caracterizam pelo seguinte — elas sio muito mais amorfas. ‘AuEm po Princirio po PRAZER, A REPETIGha 45 DR. BARGUES: — Lévi-Strauss falou das estruturas com- plexas. Ciaro, Ele dé seus lineamentos, indica seus pontos de inser- io, mas néo tratou delas. Nas estruturas elementares, as regras da’alianca esto inseridas numa rede, extraordinariamente rica, luxuosa, de preferéncias © proibigdes, de indicagdes, de mandamentos, de trilhamentos!! e re- cobrem um campo bem mais vasto do que nas formas complexas. Quanto mais nos aproximamos, ndo da origem, mas sim do elemen- to, mais a estruturacdo, a amplidio, o intricamento do sistema pro- priamente simbético da nomenclatura se impOem. A nomenclatura do parentesco ¢ da alianga € mais ampla nas formas elementares do ‘que nas formas ditas complexas, ou seja, elaboradas em ciclos cultu- rais muito mais extensos. E um reparo fundamental de Lévi-Strauss, ¢ que mostra sua fecundidade neste livro. A partir disto, podemos formular a hipé- tese de que esta ordem simbélica, jé que ela se coloca sempre como um todo, como se formasse por si 6 um universo — e inclusive constituisse 0 universo como tal, na medida em que é distinto do mundo —, deve, igualmente, ser estruturada como um todo, ou scja, ela forma uma estrutura dialética que se sustenta, que € com- pleta, Dentre os sistemas de parentesco, existem os que sio mais ou menos viéveis. Alguns vo dar em impasses aritméticos, propria- mente falando, € pressupdem que, de vez em quando, ocorram crises dentro da sociedade, com o que comportam de rupturas € de reinicios. E a partir destes estudos aritméticos — caso se entenda por aritmético nfo apenas a manipulacdo das colegdes de objetos, mas também a compreensao do alcance destas operagdes combinatérias, que vai além de qualquer espécie de dado que se poderia deduzir experimentalmente da relagio vital do sujeito com o mundo — que Lévi-Strauss demonstra haver uma classificagéo correta daquilo que as estruturas elementares do parentesco nos apresentam. Isto supde que as instancias simb6licas estejam funcionando na sociedade desde 4 origem, desde 0 momento em que cla aparece como humana. Ora, € 0 que supde igualmente o inconsciente tal como o desco- brimos ¢ manipulamos na andlise. “ © Senunénio, Liveo 2 Foi justamente ai, que houve ontem & noite alguma flutuagéo na resposta de Lévi-Strauss & minha pergunta, Pois, na verdade, devido a um movimento freqiiente naqueles que estéo introduzindo idvius novas — uma espécie de hesitagdo em manter-lhes todo o gume — ele quase que regressou a um plano psicolégico. A per gunta que eu the estava fazendo ndo implicava absolutamente um inconsciente coletivo, que foi 0 termo que ele empregou. Que s0- lugio poder-se-ia esperar da palavra coletivo neste caso, quando, no entanto, coletivo ¢ individual sao estritamente a mesma coisa? Nao, no sc trata de supor em algum canto uma alma comum onde todos estes célculos ocorreriam, nao se trata de nenhuma enti- ficagio psicolégica, trata-se da fungdo simbélica. A fungdo simbé- lica no tem absolutamente nada a ver com uma formacdo para- animal, uma totalidade que faria do conjunto da humanidade uma espécie de grande animal — pois, no final das contas, © incons- iente coletivo é isso. Se a fungdo simbélica funciona, estamos dentro. E digo mais — estamos de tal maneira dentro que néo podemos sair. Numa grande parte dos problemas que se colocam para nés quando pro- curamos cientificar, ou seja, colocar uma ordem num certo niimero de fendmenos, dentre os quais, em primeiro plano, o da vida, sao sempre 0s caminhos da funcio simbélica que, no final das contas, nos conduzem, muito mais do que uma apreensao direta qualquer. ‘Assim, & sempre em termos de mecanismo que tentamos, ape- sar de tudo, explicar o ser vivo. A primeira questo que se coloca pura nés, analistas, e talvez possamos af sair da controvérsia que se entabula entre vitalismo © mecanicismo, € a seguinte — por que ser que somos levados a pensar a vida cm termos de meca- nismo? Dado que somos homens, em que somos, efetivaments, parentes da maquina? SR. HYPPOLITE: — Dado que somos mateméticos, que temos @ paixio da matemdtica. Claro. As criticas filoséficas feitas as pesquisas propriamente mecaticistas supdem que a maquina esté privada de liberdade. S. facilimo demonstrar-Ihes que a méquina € muito mais livre do que ‘© animal, © animal € uma maquina bloqueada. E uma méquina da qual certos parimetros ndo podem mais vatiar. E por qué? Porque € 0 meio exterior que determina 0 animal ¢ faz dele um Atésr po Paixcfrio Do Paazer, A REPETI¢hs a7 tipo fixado. & na medida cm que, em relagdo a0 animal, somos mniguinas, ou seja, algo de decomposto, que manifestamos uma maior liberdade, no sentido em que liberdade quer dizer multiplici- dade de escolhus possiveis. Trata-se de uma perspectiva que nunca se coloca em evidénci. SR. HYPPOLITE: — Seré que a palavra méquina néo mudou profunda e sociologicamente de sentido, desde seus inicios até a cibernética? Estou de acordo com o senhor. Estou tentando, pela primeira vez, inculear nos meus ouvintes que a maquina ndo € 0 que o zé-povinho pensa, O sentido da maquina, para todos vocés, esti mudando agora completamente, quer tenham aberto um livro de cibernética ou nao. Vocés estdo atrasados, € sempre a mesma coisa As pessoas do século XVIII, aquelas que introduziram o me- canismo — esse que hoje em dia pega bem execrar, esse das maqui- rninhas longe da vida, esse que vocés acreditam ter ultrapassado estas pessoas como La Mettrie, cuja leitura nunca Ihes aconselharia ppor demais, essas pessoas que vivenciavam isso, que escreviam 0 Homem-Méquina, vocés nem imaginam a que ponto elas estavam ainda enrascadas em categorias anteriores, que dominavam deveras scu espirito. B preciso ler de ponta a ponta os trinta e cinco volu- mes da Enciclopédia das artes e das técnicas, que fornece 0 estilo desta época, para se dar conta do quanto as nogdes escolésticas sobrepujam neles aquilo que estavam introduzindo, nao sem esfor- os. Essas tentativas de redugdo a partir da méquina, de funcionali- zagdo dos fendmenos que ocorrem no nivel humano, estavam de muito na dianteira dos encadeamentos que permancciam em scu funcionamento mental quando eles abordavam um tema qualquer. ‘Abram a Enciclopédia na palavra amor, na palavra amor- préprio — verfo a que ponto seus sentimentos humanos estavam afastados daquilo que, com referéncia a0 conhecimento do homem, tentavam construir Foi s6 muito mais tarde, em nossa mente ou na de noses pais, que 0 mecanismo adquiriu seu sentido pleno, depurado, despo- judo, fora de qualquer outro sistema interpretative. Eis um reparo que nos permite aprender 0 que é ser um precursor. Nao se trata, © que seria totalmente impossivel, de antecipar as categorias que virdio mais tarde ¢ ainda nao foram criadas — os seres humanos 48 © Senaninio, Livno 2 estio sempre mergulhados na mesma rede cultural que seus contem- porineos e ndo podem ter outras nogdes a néo ser as deles. Ser um precursor é ver aquilo que nossos contemporineos esto constituindo no momento como pensamentos, como consciéncia, como acao, como técnicas, como formas politicas, vé-los como os veremos um século mais tarde. Isto, sim, pode exist Existe uma mutagéo da funcio da méquina em curso, que deixa para trés todos aqueles que ainda permanecem na critica do vetho mecanicismo. Estar sé um pouquinho de nada na dianteira, consiste em dar-se conta de que isto implica 0 desmoronamento total de todas as objegées cléssicas feitas ao emprego de categorias propriamente mecanicistas, Creio que, este ano, terei a oportuni- dade de mostrar isto a vocés. 2 Hé mais alguém que tenha uma pergunta a fazer? 0. MANNONI: — O que me interessou foi a maneira pela qual Lévi-Strauss pegava o problema de natureza € cultura, Dizia ele que de uns tempos para cé ndo se via mais claramente a oposi- ¢d0 entre natureza € cultura, As intervengdes que existiram conti- nuavam a buscar d natureza em algum canto, Ié para os lados da afetividade, dos impulsos, da base natural do ser. Ora, 0 que levou Lévi-Strauss a colocar-se a questéo da natureza ¢ da cultura, foi por exemplo, uma certa forma de incesto, que the pareceu, ao ‘mesmo tempo, universal e contingente. E esta espécie de contradi- $40 levou-o a uma espécie de convencionalismo que desnorteou um bom niimero de ouvintes. Fiz 0 seguinte reparo — 0 problema do contingente e do universal, este, reencontra-se, de um jeito pertur- bador, fora do mundo institucional. Os destros, eis uma forma uni- versal, e, no entanto, ela & contingente — poder-se-ia ser canhoto. E nunca se pode provar que era social ou bioldgico. Estamos diante de uma escuridao profunda, que € da mesma natureza que aquela que encontramos em Lévi-Strauss. Para ir mais adiante e mos- trar que a escuridao & deveras gravissima, pode-se notar que nos moluscos do género hélice, os quais, certamente, néo so institu. cionais, existe também um enrolamento universal que é contingente, i4 que poderiam estar enrolados num outro sentido, e que, alids, certos individuos estdo enrolados num outro sentido. Parece-me, pois, AusM po Princf?1o po Prazes, A REFETICLO 0 que a questdo colocada por Lévi-Strauss ultrapassa de muito a oposicdo cléssica entre o natural e o institucional. Néo é, pois, surpreendente que ele também se apalpe para saber onde estdo seu lado natural € seu lado institucional, como todo mundo fez ontem. Isto me parece extremamente importante — estamos diante de algo que dissolve, ao mesmo tempo, a antiga idéia de natureza ea idéia de instimigao. SR. HYPPOLITE: — Seria uma contingéncia universal. 0. MANNONI: — Nao sei. Creio que 0 senhor faz intervir ai, coisas que talvez néo esti vessem implicadas na nogo de contingéncia tal como Lévi-Strauss a evocou. Creio que, para ele, a contingéncia se opunha 4 nogio de necessario — alids, ele disse isto. O que ele introduziu sob a forma de uma questéo, da qual diremos que, no final das contas, € ingénua, foi a distingdo entre o universal ¢ 0 necessério. O que equivale a colocar a questio de saber no que consiste aquilo que poderiamos chamar de a necessidade das mateméticas, Esté muito claro que cla merece uma definigéo especial, e, por isto, falei hd pouco de universo. A respeito da introducao do sistema simbé- que a resposta A pergunta que Lévi-Strauss fazia ontem € a seguinte — 0 complexo de Edipo é, a0 mesmo tempo, univer- sal e contingente, porque € Gnica e puramente simbélico. SR. HYPPOLITE: — Néo creio. ‘A contingéncia que Mannoni esta enunciando agora € de ordem totalmente diferente. O valor da distingdo entre naturcza ¢ cultura que Lévi-Strauss introduz com suas Estruturas elementares do pa- rrentesco consiste em permitir-nos distinguir 0 universal do. gené- rico. O universal simbélico nfo precisa absolutamente espalhar-se pela superficie da terra inteira para ser universal, Aliés, que cu saiba, nfo ha nada que faga a unidade mundial dos seres humanos. Nao ha nada que se ache concretamente realizado como universal. E, no entanto, assim que um sistema simbélico qualquer se forma, ele € por direito, entdo, como tal universal. Que 5 homens te- ham, salvo excegdo, dois bragos, duas pernas ¢ um par de olhos — 0 que alids, eles possuem em comum com os animais —, que sejam, como alguém, bfpedes sem penas, frangos depenados, tudo isto € genérico, mas de maneira nenhuma universal. O senhor w © Seauxdnto, Livno 2 introdue ai suas hélices enroladas num sentido ou no outro. A per- gunta que 0 senhor esta fazendo & do tipo natural. ©. MANNONI: — £ isso que coloco em questo. Até agor os homens opuseram a natureza uma pseudonatureza, séo as inst luuigces humanas — encontra-se a familia, como se encontra 0 car- vutho ou a béwula, Em seguida, convieram entre si que estas pseudo- naturezas erum um produto da liberdade humana ou da escotha contingente do homem. E foram, por conseguinte, levados a conferir 4 maior importincia @ uma nova categoria, a cultura oposta & natu- reza. Ao estudar estas questoes, Lévi-Strauss chega a néo saber ‘mais onde estd mem a nutureza nem a cultura, porque a gente encontra justamente problemas de escolha, nao apenas no universo das nomenclaturas, mas também no universo das formas. Desde o simbolismo da nomenclatura até 0 simbolismo de qualquer forma, nawreza fala, Fala ao enrolar-se para a direita ou para a es- querda, ao ser desira ou canhota. E 0 jeito dela de fazer escothas contingentes, como familias ou arabescos. Encontro-me agora, com feito, siwado num divisor de dguas € ndo percebo mais como é que as dguas se repartem. Queria informé-los deste embaraco. Nao trago solugces, mas sim uma dificuldade. SR. HYPPOLITE: — Parece-me que, hd pouco, 0 senhor op6s, muito justamente, 0 universal ao genérico, quando disse que « universalidade estava ligada ao préprio simbolismo, a modalidade do universo simbdlico criado pelo homem. Mas, entdo, trata-se de uma pura forma, Seu termo universalidade quer dizer no fundo que um universo humano afeta necessariamente a forma da universali dade, que puxa para uma totalidade que se universaliza. £ a fungio do simbolo. SR. HYPPOLITE: — Serd que isso responde @ pergunta? Isso nos mostra apenas o cardter formal que toma um universo humano. HH dois sentidos para a palavra formal. Quando se fala de formalizagio matemética, trata-se de um conjunto de convengies partir das quais vocés podem desenvolver toda uma série de conseqiiéncias. de teoremas que se cncadciam, ¢ estabelecem no interior de um conjunto certas relagdes de estrutura, propriamente falando, uma lei, No sentido gestaltista do termo, no entanto, a forma, 2 60a forma, & uma totalidade, porém realizada ¢ isolada ALE Do Princfe1> Do PRuzeR, a Reretighs 51 SR. HYPPOLITE: — & este segundo sentido que € 0 do senkor, ou 0 primeiro? ¥ 9 primeiro, incontestavelmente. SK. HYPPOLITE: — senhor, no entanio, falou de torali- dade, encdo, este universo simbélico é puramente convencional. Ele afeta a forma no sentido em que se fala de wma forma universal, sem que, por isto, ela seja genérica ou mesmo geral. Estou-me per~ guntando se 0 senhor ndo dé wma solucdo formal ao problema colocade por Mannoni. ‘A questio de Mannoni tem duas faces. Primeiro, hd 0 problema que cle estd colocando, ¢ que se eruncia sob a forma signatura rerum — seri que as préprias coisas apresentam, naturalmente, um certo cariter de assimetria? Hi um real, um dado, Este dado se acha estruturado de uma certa maneira, Em particular, existem assimetrias naturais. Serd que, no eixo de progressio do conhecimento em que nos encontramos, vamo-nos por a sondar seu misterioso sentido? Uma tradigéo humana inteira ‘que se denomina filosofia da natureza, dedicou-se a este género de leitura, Sabemos no que dé. Isto nunca leva muito longe. Leva a coisas altamente inefaveis, mas que estacam' logo, a no ser que se queira, no entanto, continuar, € entra-se, ento, no plano daquilo que € comumente denominado um delirio. Este, certamente, nao é ‘9 caso de Mannoni, cujo espitito é por demais agudo, por demais Uialético. para ndo fazer semelhante pergunta a no ser unicamente sob forma problematica, ‘A segunda coisa é saber se este € 0 ponto a que Lévi-Strauss va quando, ontem & noite, nos disse que, no final das contas, cle se acha af, a beira da natureza, tomado de uma vertigem, per- guntando-se se ndo era nela que Ihe era preciso reencontrar as raizes de sua arvore simbélica. Meus didlogos pessoais com Lévi- Strauss permitem-me esclarecer-Ihes este ponto. Lévi-Strauss esté recuando diantc da biparticdo muito categ6- rica que faz entre a natureza € 0 simbolo, ¢ cujo valor criativo cle no entanto percebe bem, pois € um método que permite distinguir os registros entre si, c, da mesma feita, as ordens de fatos entre si Ele oscila, © por uma razio que pode parccer-thes surpreeridente, nas que & perfeitamente confessads por cle — teme que, por is da forma da autonomia do registro simbélico, reaparega 82 © Semuhaio, Livao 2 mascarada, uma transcendéncia pela qual, em suas afinidades, em sua sensibilidade pessoal, cle s6 sente temor ¢ averséo. Em outros termos, teme que depois de termos feito Deus sair por uma porta, © facamos entrar pela outra, Nao quer que 0 simbolo, ¢ nem mesmo sob a forma extremamente depurada com a qual cle mesmo 0 apre- senta a nés, seja apenas uma reaparigo de Deus por detris de uma méscara. Eis o que esté na origem da oscilagdo que cle manifestou ‘quando colocou em causa a separacdo metédica do plano do simbs- lico do plano natural SR. HYPPOLITE: — Nem por isto € menos verdade que apelar para 0 universo simbélico ndo resolve a prépria questéo das escothas que foram feitas pelo homem. Certamente que nao, SR. HYPPOLITE: — 0 que se denominava instiwuigées € que implica um certo niimero de escothas contingentes entra com certeza rum universo simbélico. Mas nem por isto nos dé a explicacao destas escothas. Nio se trata de explicagao. SR. HYPPOLITE: — Nem por isto deixamos de ficar diante de um problema, E exatamente 0 problema das origens. SR. HYPPOLITE: — Nao nego que a relagdo simbélica tenha impresso a marca de uma universalidade sistemdtica. Mas este re- vestimento, ele préprio, requer explicagdo ndo deixa de nos levur 0 problema que Mannoni colocou. Gostaria de fazer-the uma cri- fica. Em que nos auxilia 0 emprego da palavra simbélico? O que traz? Bis a pergunta, Nao duvido de que auxilie, Em que acres- centa? E 0 que acrescenta? Ela me serve para a exposigo da experiéncia analitica. O se- nhor péde vé-lo no ano pasado, quando thes mostrava que impossivel ordenar de maneira correta 0s diversos aspectos da trans- feréncia se ndo sc partir de uma definigo da fala, da fungdo cria- dora, fundadora da fala plena. Na experiéncia aprecndemos a trans- feréncia sob diferentes aspectos, psicolégicos, pessoais, interpessoais, — ela se dé de maneira imperfeita, refratada, como em marcha reduzida, Sem uma tomada de posigio radical a propésito da fungio ALEM po Prixcfrio Do PrazeR, A Rererigho 53 da fala, a tansferéncia & pura e simplesmente inconcebivel. Incon- eebivel no sentido préprio do termo — nao hé conceito da transfe~ réncia, apenas uma multiplicidade de fatos ligados por um lago vago © inconsistente. 3 Da préxima vez introduzirei a questio do eu sob a forma se- guinte — Relacdes entre a funcdo do eu e 0 principio do prazer. Penso poder mostrar que para conccber a fungo que Freud designa sob 0 nome de 0 eu, assim como para ler a metapsicologia Treudiana inteira, & indispensdvel servir-se desta distingfo de planos © de relagies expressa pelos termos de simbético, de imaginario de real Para que setve isso? Isso serve para conservar seu sentido a uma experiencia simbélica particularmente pura, a da anélise. Vou dur-lhes um exemplo, encetando aquilo que serei levado a Ihes dizer 1 respsito do eu. © ex, em seu aspecto mais essencial, € uma fungio imaginégria Isto € uma descoberta da experiéncia ¢ ndo uma categoria que eu quase qualificaria. @ priori, como a do simbélico. Por intermédio deste ponto, eu diria quase que por este tinico ponto, encontramos nna experiéneia humana. uma porta aberta para um elemento de tipi cidade, Claro que este elemento nos aparece na superficie da natu- reza, mas sob uma forma sempre decepcionante. Foi sobre isto que quis insistir quando falei do fracasso das diferentes filosofias da natureza. Ela é bastante decepcionante, inclusive, no que diz respeito 4 fungio imagindria do eu, Mas € uma decepgdo & qual estamos inteiramente ferrados. Dado que somos o ev, ndo sé temos uma experiéncia dela, como ela é tanto um guia de nossa experiéncia quanto os diferentes registros que foram chamados guias de vida, into &, as sensagoes. ‘A estrutura fundamental, central, de nossa experiéncia, € de ‘ordem propriamente imagindria. E podemos até aprender 0 quanto esta fungdo no homem jé é distinta daquilo que ela € no conjunto ck natureza, Reencontramos a fungdo imagindria na natureza sob mil for- may — trata-se de todas as captagdes gestaltistas ligadas ao corteja~ mento tio essencial & manutengao da atrago sexual no interior da espicie, 54 © Sestunénto, Liveo 2 Ora, a fungéo do eu apresenta no homem caracteristicas distin- tas. & isso a grande descoberta da andlise — no nivel da relacio genérica, ligada 4 vida da espécie, 0 homem ji funciona de modo diferente. Nele jé hd uma fissura, uma perturbasdo profunda da relagio vital, Eis ai a importincia da nogdo do instinto de morte que Freud introduziu, Nao que o instinto de morte seja uma no em si mesma tio luminosa. O que € preciso apreender ¢ que cle foi forgado a introduzi-ta para trazer-nos de volta a um dado agua de sua experiéncia, num momento em que se comegava a perdé-lo Como cu thes fazia notar ha pouco, quando uma apercepyiin sobre a estrutura cst adiantada, hé sempre um momento de recun em que se tende a abandoné-la. Foi o que ocorreu no circulo freudiano quando o sentido ¢: descoberta do inconsciente passou para o segundo plano. Regressou- se a uma posigéo confusa, unitéria, naturalista do homem, do cu, c, da mesma feita, dos instintos. Foi, justamente, para reencontrar © sentido de sua experiéncia que Freud escteveu Além do principio do prazer. Vou mostrar-thes através de que necessidade cle foi von duzido a escrever estes altimos pardgrafos, dos quais vocés conhocin qual foi 0 tratamento que a, comunidade analitica, em sua generali- dade, Ihe rescrvou. Dizem que ndo entendem nada disto. E inclusive quando, seguindo Freud, consentem em repetir instinto de morte no entendem disto mais do que os jacobinos entendiam da grac suficiente, aqueles que foram tdo lindamente crivados pelos dardos de Pascal em les Provinciales. Peco a vocés todos que Ieiam este texto extraordinario de Freud, incrivelmente ambiguo, e inclusive confuso, que o Ieiam varias vezes — sendo, voces ndo vio pesir a critica literdria que farei a respeito dele. Os dltimos pardgrafos permaneceram literalmente herméticos, ¢ de boca fechada, E até agora, nunca foram elucidados. S6 podem ser entendidos caso se veja o que a experiéncia de Freud quis trazer. Ele quis, a qualquer prego, salvar um dualismo, no momento em que este dualismo estava derretendo-se entre suas maos, ¢ quan- doo cu. a libido, etc., tudo isso formava uma espécie de vast todo que nos trazia de volt a uma filosofia da natureza, Este dualismo nada mais é do que aquilo de que falo quand> dou destaque & autonomia do simbélico. Isso, Freud nunca o for- mulou, Para fazer com que vocés o entendam, preciso de uma criti- cae de uma exegese de seu texto. Nao posso desde agora considerar como estabelecido justamente o que tem de ser provado neste ano. ‘Aum po Pnincirio po Prazit, « REPerigho 55 ‘Mas creio que vou putler demonsirar a vocts que a categoria da gio simbélica tem tundamento. SR. HYPPOLITE: — Ew ndo estava dizendo 0 contrario, A funcao simbélica é, para o senhor, se & que entendo bem, uma Jungéo de transcendéncia, no seguinte sentido — ao mesmo tempo, nis ndo podemos nem ficar nisto, nem sair disto. Para o que & que ela serve? Nao podemos privar-nos disto, €, no entanto, tan bm niio podemos instalar-nos nisto. Claro. & a presenga na auséncia ¢ a auséncia na presenga. SR. HYPPOLITE: — Queria entender 0 que & que havia para ver entendido, Se © scnhor estiver querendo manter no plano fenomenolégica ‘0 que me esti trazendo aqui, no tenho nenhuma objegio a fazer. 6 que acho que nio é suficiente, SR. HYPPOLITE: — Com certeza. Eu, também acho. E em suma, ser puramente fenomenotégico, isso ndo nos faz ‘avangar muito, SR. HYPPOLITE: — E também o que penso, Isto s6 pode vcultar 0 progresso que temos de fazer, forne- cendo antecipadamente a colorugio que deve permanecer. Serd que, sim ou no, 0 uso que fago do registro simbélico deve unicamente levar a situar em algum canto a transcendéncia do senhor que, afinal, deve existir? Sera que se trata disto? Nao creio. As alusdes que fiz a uma utilizagio totalmente diferente da nogdo de maquina talvez estejam ai para indicar isto aos senhores. SR. HYPPOLITE: — Minhas perguntas eram apenus pergun- tas, Eu perguntava ao senhor 0 que the permitia nao responder & pergunta de Mannoni, dizendo que nav era o casw de responder; ‘ou ao menos que, respondendo, a gente se desencaminharia, Disse que nao creio que seja neste sentido-que se pode dizet que Claude Lévi-Strauss retorna a natureza SR. HYPPOLITE: — «..recusa-se a retornar, 58 © Semuvinto, Live 2 Indiquei também que temos, bem entendido, de levar em conta © lado formal da naturcza, no sentido em que eu o qualificava de assimetria pscudo-significativa, porque é disto que 0 homem se apossa para fabricar scus simbolos fundamentais. O importante é aquilo que confere as formas que estio na naturcza valor e fungo simbélicos, 0 que faz com que funcionem umas em relacdo as outras 0 homem quem introduz a nogio de assimetria. A assimetria na natureza, no € nem simétrica, nem assimétrica — cla é 0 que ela & Gostaria de falar-thes, du préxima vez, do seguinte — 0 Eu como funcdo e como simbolo. B. ai que funciona a ambigitidade. cu, fungio imagindria, s6 intervim na vida psiquica como simbolo. Utiliza-se 0 eu como 0 Bororo utiliza 0 papagaio. © Bororo diz [eu] sou um papagaio, nés dizemos [eu] sou um eu® Isto tudo do tem a menor importincia. O importante é a funcio que isto tem, 0. MANNONI: — Depois de Lévi-Strauss, tem-se a impres- sdo de que ndo se pode mais empregar as nogdes de cultura e de natureza, Ele as desiréi. E a mesma coisa com a idéia de adapta- do da qual falamos o tempo todo. Estar adaptado quer dizer ape- nas estar vivo. Tem coisa justa nisto ai, & da mesma ordem do que acabei de evocar quando disse que, num dado momento, Freud quis defen- der a todo custo um certo dualismo, Devido & evolugao répida da teoria € da técnica analitica, Freud tinha se encontrado em pre- senga de uma queda de tensio andloga aquela que 0 senhor des- cobre no espirito de Lévi-Strauss. Porém, no que Ihe diz respeito. talvez esta no seja sua ihtima palavra, 19 pe Dezemoro pe 1954

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