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CRENCAS BAPTISTAS PELO REV. E. Y. MuLLINS EX-PRESIDENTE DO SEMINARIO THEOLE CO BAPT STA 00 guL TRAPUOGAO DE MARIO MIKANDA PINTO a TERCEIRA EDICAO 1936 C44 PUBLICADORA BAPTIATA — CaIxA ase RIO DB JANEIRO © auctor desta pequena obra era um dos primetros theologos do presente seculo. Mais de vinte annos elle exerceu o honroso cargo de presidente da afamada ins- ‘tituigho, o Seminario Theologico Baptista do Sul, si- tuado em Louisville, no Estado de Kentucky, Es- tados Unidos da America do Norte. Durante muitos annos o Dr. E. Y. Mullins foi pastor e se occupou com o ensino pratico dessas doutrinas baptistas. Na presen- te obra elle procurou apenas apresentar, do modo mais abreviado, as grandes verdades cardeaes dos haptistas. Elle é um baptista de convicgao firme, e que exempli- fica na sua vida a pratica das bellas doutrinas aqui apresentadas com tanta felicidade e clareza. Este pe- queno manual terd, além disso, o subido valor de esclare- cer a posigao baptista e servir 4 causa pelo cultivo da firmeza de convicedes nas doutrinas de Jesus Christo. Devera ser util no sémente aos pastores, que precisam seguir um systema no seu ensino doutrinario, mas tam- bem aos leigos. Queira Deus abengoar esta traduccao, como ja abengoou o original, para bem da sua Causa ea gloria do seu Filho. J. W. Shepard CONTEUDO PREFACIO .. .. CRENGAS BAPTISTAS AS ESCRIPTURAS . DEUS . PROVIDENCIA .. A QUEDA DO HOMEM ELEICAO . O MEDIADOR .. . © ESPIRITO SANTO .. REGENERAGAO .. ARREPENDIMENTO . FE. ee = JUSTIFICAGAO E ADOPCAO . SANTIFICACAO .. A PERSEVERANCA DOS SANTO: 0 REINO DE DEUS . A SEGUNDA VINDA DE CHRISTO A RESURREICAO .. . 0 JUIZO.... .. A IGREJA . BAPTISMO . A CEIA DO SENHOR . 0 DIA DO SENHOR . . LIBERDADE DE CONSCIENCIA . MISSGES .. EDUCACAO .. . SERYIGO SOCIAL CRO E INFERNO . A DECH ARAGKO DE Fé DE NEW HAMPSHIRE . OS PACTOS .. oe ee te eee we ASSSssssyyerssesareserssrsssees CRENCAS BAPTISTAS O crédo é como um crystal: tem muitos angulos e facetas. 0 crystal forma-se obedecendo uma lei natu- ral; o crédo em obediencia a uma lei espiritual. Quan- do Miguel Angelo esculpia o marmore na figura heroica de Moysés, elle o fazia como a expressao de sua visio artistica; os grandes crédos séo as formas cinzeladas de uma visdo espiritual. E’ necessario que 0s homens exprimam e perpetuem o que yém e sentem. Fagam- se, porém, as exposigdes de uma forma exacta, pre- cisa. Assim é que o indio fabrica as suas settas rectas e agudas. Ambas sao designadas como armas de of- fensiva, ou meios para conseguir certos resultados. O que se segue nao foi escripto em forma de cré- do. Si assim fosse, devéra ser muito mais conden- sado. Algumas sentengas, quando muito, seriam suf- ficientes para cada paragrapho. Mas ha um numero de excellentes crédos baptistas ja em existencia; e 0 que aqui fica proposto nao é o estabelecimento de ne- nhum outro, antes ao contrario, apoio e interpretacdo para aquelles que procuram penetrar no segredo dos que existem actualmente, em uso commum entre nos. Empregamos um grande esforgo para évitar o quan- to possivel os termos technicos de theologia, em bem da clareza e simplicidade na exposigéo. Ha, sem du- yida, muitos tépicos, a que nos referimos nas linhas que se seguem, em que os cursos da discussdo nos con- duzem a varias direccdes. Comtudo nao nos esquece- mos do limitado escopo de nossa empreza, afim de nos abstermos de um estudo demasiado profundo de -qualquer assumpto. Uma perspectiva geral das crencas commummente sustentadas pelos Baptistas, com as ne- cessarias linhas demarcatorias para salientarem clara- CRENGAS BAPTISTAS mente, distinctamente as variagdes dos rosinamentas, 6 tudo quanto esperamos poder realizar dentro de Nos. sos prescriplos limites. . Uma advertencia é necessaria desde © comego, Os erédos sao preciosos quando usados propriamente, mag como todas as boas cousas, perigosos féra do seu Jo. gar. Elles sdo a expressiio natural e normal da vida religiosa. O direito de fazel-os nao ¢, nada mais Nada menos, que o direito que Deus nos concedeu de pensar, Aquelle que prohibisse os homens de fazer crédos que fossem o reflexo da sua propria vida religiosa, 4 luz dos ensinamentos biblicos, prohibiria ipso facto aquil. lo que o homem tem de mais sagrado — 0 livre exerci. cio do pensamento. Observemos, porem, este ponto: os crédos sao a expressio de uma vida religiosa, de uma experiencia vivificante. Os grandes crédos que teem influenciado poderosamente na vida do genero huma- no teriam todos nascimento em periodos de grande energia e profunda experiencia religiosa. Séo como a Java que sae incandescente do vuledio. Uma forga inte- rior expelle-a. A lava esfria depois. O crédo tende a tornar-se estereotypado e formal. Ha uma outra verdade que se deve ter sempre em mente. O direito de fazer crédos é simplesmente um outro meio de se dizer que nao temos nenhuma auto- ridade de obrigar os homens a acceital-os contra a sua yontade. O principio da liberdade de consciencia esta no coracéo do Christianismo. 0 direito de escolha in- dividual em religiio tem o seu fundamento no amago da verdade christaé. O direito que tem A de fazer um crédo que seja a expressio da sua propria vida religio- si, implica o direito de B fazer tambem 0 seu crédo. Serla uma tyrannia prohibir A de fazer o seu crédo, como o seria tambem impellir, ou ao menos intentar, B " uccellar 0 crédo de A. Mas si A ec B se reunirem de commun accordo e, pensando do mesmo modo, ado- CRENCAS BAPTISTAS 7 plarem o mesmo crédo, ja agora ndo havera tyrannia. E si A ec B em companhia de outros apresentassem ao mundo as suas crengas para que elle as acceitasse, nao scria mais que o simples uso da sua liberdade em Chris- to. E foi justamente por esse meio que appareceram 08 crédos Baptistas e as confissées de fé. Nenhum crédo Baptista pode ser estabelecido como formal e perempto- rio fora dus Escripturas. Esto todos sujeitos a revi- siio, onde ¢ quando outros Baptistas vejam necessario fazer uma nova exposigdo de suas crengas doutrinaes. Sem duvida os Baptistas tém direito ao uso de sua li- berdade em sustentar ¢ manter as suas resolugdes com referencin & verdade christa. Nisso o grupo ou denomi- hagie corresponde no individuo em materia de liber- dade. Gonsequentemente elles mesmos devem decidir quando un individuo ou um grupo dentro de um cor- po maltor tenha se afastado do ponto de vista_com- mun, suff temente para justificar a separagao. A commiunt ada de um individuo com o grupo, de- pois que se tenha levantado uma divergencia de cren¢ga radical e sem mais esperanga, 6 uma tyrannia tal como a do grupo constranger o individuo a acceitar as suas proprins crengas. A liberdade religiosa, em outras pa- lavras, é tanto um direito da congregagéo como do in- dividuo. O principio da liberdade de pensar applica-se egualmente a ambos. E’ baseando-se, sem duvida, nes- xe principio, que, desde a Reforma, a maior parte das denominagées tém apparecido. O denominacionalismo ¢ 0 resultado do direito de escolha individual, particu- lar em religido. Um Baptista devéra ser o ultimo ho- mem no mundo a pér em duvida o direito de um Presbyteriano, um Methodista, ou de qualquer um ou- tro, relativo ao pleno e livre exercicio do seu proprio direito de julgamento em religidéo. Si por acaso deixar de existir 0 denominacionalismo e todos os christios se reunirem em um sé grupo, nao sera por haverem ado- 8 CRENGAS BAPTISTAS ptado schemas artificiaes de uniao, ae Unica, mente a um crescimento gradual da unidade de Vistas islo ¢, devido 4 pratica do principio da liberdade q : iencia. ue outro perigo dos crédos é o de nos enganay, mos muitas vezes, tomando a casca pela amendoa, a figura pela vida. Os crédos que sao forjados quandy a vida religiosa esta, como se diz em physica, no yep, melho branco, podem permanecer até depois deo fog se haver extinguido. Um erédo sem vida, torna. mais tarde uma cadeia que prende, em vez de azas com que a alma possa voar. O unico remedio, entao, € vol tar-se para Christo e accender uma vez mais a flam. ma da religidio. Os crédos sao uteis somente emquant férem a expressdo natural da vida. Acceitar um cré. do como verdadeiro, sémente por principio, sem que elles tenham vida e poder interiores, ndo é, absoluta mente, um acto de religiio. O Novo Testamento nada nos diz a respeito de taes maneiras de sustentar crédos, e nos fariamos bem em abandonar todos os crédos ¢ ir directamente ao Novo Testamento, na imminencia de cahir, por meio de um crédo morto, num intellectua- lismo safaro. E’ téo grande o perigo de se levantat tal intellectualismo, ou de se empregarem os crédos como chicotes para impellir os homens a uma unifor- midade de crenga, por carnaes campeédes da fé, que muitos Baptistas fazem uso da sua liberdade nada ten- do com os crédos, antes repudiando todos elles, e olhan- do sémente para as Escripturas, guardadoras de todas as suas crencas e doutrinas. Aqui, outra vez, estado es- trictamente dentro dos seus direitos de homens livres em Christo. Todavia suppomos que os crédos desem- penham uma util funcedo, educando-nos para a uni lade da fé e da pratica, isso ssmenté emquanto nao s¢ cmpregarem como mascaras’de morte para uma te Hyiio defunta, ou usados como lategos para castigo dé CRENGAS BAPTISTAS 9 outras; emquanto nao embaragar a vida ¢ 0 progres- so, — em synthese, os crédos sao antes auxilio que ¢s- torvo. Um crédo é como uma escada. Por elle pode- mos subir a um logar mais elevado, a uma atmosphera espiritual mais pura, ou entao podemos descer ao mais baixo nivel de uma esteril orthodoxia. : As paginas que se seguem sio escriptas nesse ¢s- pirito. O autor nao pensa de modo nenhum que a sua exposicao seja a melhor que se possa conceber, ou que seja a ultima palavyra no assumpto. Outros aper- feicgoarao essas explicagdes e entéo chegaremos, cada vez melhor, a uma comprehensado mais perfeita da si- gnificacio da Biblia e da religiao de Christo. As Escripturas Ha trés pontos a que, de um modo geral, pode- mos nos referir para recapitular a posigéio das Escri- pturas na maneira de crér dos Baptistas. O primeiro é sufficiencia. As Escripturas offerecem-nos bastante verdade em todos os seus propositos religiosos. A na- tureza reflecte os attributos divinos até uma certa ex- tensdo, e, segundo Paulo, se os homens vivessem actual- mente 4 luz da natureza, dentro na consciencia, e fora, no universo, poderiamos chegar ao conhecimento de Deus; assim que, sao inexcusaveis na sua ignorancia. Porque, devido a estar ligados naturalmente pelos la- ¢os satanicos, os homens se recusam a seguir a luz da natureza (Romanos 1:19-21). Comtudo, tomando-se , os homens como elles so, devido ao peccado, a luz da natureza é insufficiente. O unico meio para a sua re- dempgiio consiste em revelar-se Deus a elles, manifes- tar-se em suas vidas. Encontramos nas Escripturas toda a verdade exigida para a vida religiosa dos homens. Uma outra qualidade das Escripturas que as torna capazes de servir como fonte de luz e verdade em re- 10 CRENCAS BAPTISTAS ligido ¢ a evidencia. Ha em sciencia € em Philosoy, maiores ou menores graos de evidencia. Comtudy, theorias scicntificas e philosophicas sao sempre 5y;,' tas a revisio e modificagées. A sciencia funda-se Dep manentemente na verdade. Mas esta verdade da ge, encia nao é absolutamente a verdade religiosa, Sal. vo no sentido geral, em que toda a verdade é de Dey, As leis da natureza, como as da (gravitacao, OU as dy movimento, ou da affinidade chimica, por exemplo, Nig tém nenhum valor religioso directo. Nenhuma dellag pode salvar a alma. A sciencia physica, sem duvida termina onde comega a religido, isto é, no estado de e pirito, e de amizade pessoal entre Deus e o homem, As sciencias physicas nio podem provar nem negar a immortalidade da alma ou a existencia de Deus. a’ philosophia, da mesma maneira fallece-Ihe a capacidade de provar, como a religido exige, as grandes verdades da vida humana e do destino. A philosophia mostra. nos una série de theorias racionaes do mundo, das quaes incluem uma crenga na existencia de Deus, ¢ algumas outras nado. Cada theoria ou cada aspecto da philosophia encarado pelo mundo separa qualquer cou- sa como a materia, ou o movimento, ou o pensamento, ou a vontade, ou a personalidade, e della deduz todo © resto. Mas emquanto os homens férem livres escolher essas varias cousas sobre as quaes constréem suas philosophias, havera tantas especies de philoso- phias, quantas forem as differentes Maneiras de esco- Iher dos homens. Nenhum Philosopho pode compellir outros a acceitar as suas proprias idéas, do mesmo modo que uma mulher nao péde exigir que outras con- cordem com o seu gosto quanto ao mais bello matiz de seda (segundo a sua propria maneira de jalgar), ou a um modelo de chapéo. Por isso repetimos: a philo- sophia ndo nos da certeza em religido. A Biblia a da. A Biblia nos ensina como achar a Deus, e, segundo as CRENGAS BAPTIS suas direcgdes, podemos encontral-O agora. Deus se manifesta em nossa vida, e sabemos por expericncia que a Biblia nos fala com toda a evidencia a respeito de Deus. A terceira qualidade das Escripturas é a aulorida- de, Mas uma autoridade que nao possue nenhuma ou- tra literatura no mundo. Uma autoridade que palpi- ta em cada verso da Biblia e que nao é devida a nenhum agente externo. Nenhum tribunal fel-a autoritaria por decreto. Nenhum concilio ecclesiastico fel-a autorita- ria por decisio sua. Nenhum papa emprestou-Ihe au- toridade com arrojar anathemas sobre os que a ne- gavam. Os primeiros concilios ecclesiasticos no segun- do, terceiro e quarto seculos nao deram autoridade 4 Biblia, antes reconheceram simplesmente aquella ja existente no Livro, aquella com que elle fora escripto primitivamente. Deus zela pelo canon das Escripturas Sagradas. Era necessario que essa dynamica e pode- rosa literatura possuisse uma vital e organica unidade, desde que tudo foi creado por uma vida e poder com- muns de Deus. Por detraz dessa sufficiencia e autoridade das Es- cripturas do Antigo e do Novo Testamento existe a sua inspiracio. Homens santos de Deus falavam quando eram impellidos pelo Santo Espirito. Ha muitos meios de se explicar 0 methodo de inspiragao que os homens adoptaram. Nao podemos aqui discutil-os. A Biblia é a mensagem que Deus deu ao homem para supprir as necessidades de sua vida religiosa. Encontramos nessa mensagem a verdade de Deus, que é para nos tudo quanto necessitamos para a nossa fé, obediencia ¢ co- nhecimento religioso. O processo de inspiragéo é, necessariamente, mais ou menos mysterioso e obscuro, pois é o facto de Deus, por intermedio do seu Espirito, descer ao plano do in- tellecto e da experiencia humanos, empregando estes 12 CRENCAS BAPTISTAS como factores de verdade para outros homens. Algue, comparou esse acto de Deus a uma estatua de y m linda mulher, ligeiramente inclinada, que se enconty, em certa colleccao artistica da Europa. Ainda nao 4 conseguiu, por methodo nenhum, medir a altura, a posigdo erecta, da mulher, que a estatua representa posigéo inclinada. Da mesma maneira, Dao Possuimo, nenhum meio para determinar precisamente como Deu; se adapta 4 capacidade humana no processo da ingpj, ragéo. Comtudo, possuimos o resultado nos oraculos da, Escripturas, que supprem todas as nossas necessidade, praticas religiosas. A Biblia € o livro da_religifo. Tenhamos isso em mente. E’ um engano suppor-se que ella seja um com. pendio de sciencia ou de qualquer outro assumpto que nao fora religido. Ao exprimir a verdade religiosa, os escriptores da Biblia sé podiam attrahir alguma atten. géo, para a sua inspirada mensagem religiosa, empre- gando, para traduzir as suas idéas, aquelles meios ja usados no seu tempo. E’ admiravel, no entretanto, como as exposicées da Biblia se combinam, geralmente e de um modo tao franco, com os ensinos da sciencia. Mas os escriptores biblicos tinham que usar a linguagem das apparencias, de cousas para as quaes 0 povo olhava com os olhos naturaes, e nao com expressdes precisamente technicas, scientificas. Supponhamos, por exemplo, que Job houvesse sido inspirado a usar, nos debates com seus amigos, a lei da gravitagéo de Newton, teria elle sido feliz no seu argumento? Antes, nao se teria des- acreditado deante de seus amigos, mais que nunca? A lei da gravitagao tal qual foi estabelecida pela scicncia ¢ que: oS corpos se attraem na razado directa de suas massas, e na inversa do quadrado das distat- cias. Agora podemos imaginar o Espirito de Deus rc velando tal lei a Job. Isso, porém, implica o conjunc!? da moderna astronomia com a sua theoria do univers? CRENGAS BAPTISTAS 13 tal qual foi concebida por Copernico. Essa theoria ep- pareceu como resultado de instantes e laboriosos cal- culos e experimentagées. Si Job a houvesse empregado, oS scus amigos niio se teriam convencido. Teria sido para elles como uma lingua, si nao lhes fora tambem revelado como por um milagre, habilitando-os a ante- cipar as pesquizas da sciencia de milhares de annos. E isso revela como Deus se furta a tirar ao homem a sua propria tarefa de pesquizar e descobrir por mila- gres de revelagiio no-campo da Physica. Nao é objecto da Biblia nos ensinar “como vao os cé0s, mas como se ir ao Céo”. Job teria feito com que sua mensagem per- desse todo o valor, si houvesse procurado tornar-se um vehiculo para levar a outrem o conhecimento scienti- fico das leis da astronomia. O homem de hoje commette um erro semelhante, quando procura basear a integridade da Biblia na sua exacta correlagaéo com a lei da gravitacéo de Newton e a astronomia de Copernico. A Biblia nao é um livro de sciencia. E’ um livro de Religiao. A Biblia deve ser interpretada. Mas temos para nos illuminar na sua interpretagéo o mesmo Espirito que a inspirou. Nem tudo na Biblia nos é obrigatorio. Devemos nos apossar da mensagem de Deus, interpre- tando-a sob a direccao do Espirito. Ha parabolas, alle- gorias e symbolos; exposigées litteraes e exposicSes al- ‘tamente figuradas; e escriptores com individualidades e pontos de vista variados. Ha progresso de verdade de menos para mais. Deus deu a verdade gradualmente. ‘Em todos esses caminhos a necessidade de interpreta- ¢Ges se nos depara. E’ uma grande e pesada responsa- bilidade, mas nao podemos evital-a, e néo podemos, do mesmo modo, saber o que é a mensagem de Deus para nés emquanto nao houvermos interpretado e rendido homenagem aos factos que a ella esto aggregados. E 11 CRENGAS BAPTISTAS encontraremos a verdade quando comprehendermog 0 que a Biblia nos quer revelar. Podemos resumir dizendo que a Biblia tem 0 ponto culminante em Christo. Elle é o vertice do todo, Todas as doutrinas antes e depois de Christo devemo, vel-as 4 luz que d’Elle se irradia, se quizermos com. prehendel-as. Christo, entéo, é a mensagem de Deus para nds, e devemos conhecer toda a Biblia simples e sémente em suas relacdes com Jesus Christo, o Filho de Deus e 0 Salvador do mundo. 2 Tim, 3:15-17; Lucas 16:29.31; Eph. 2:20; 2 Pedro 1:19-21; Rom, 15:4; Heb. 1:1,2; Psalmo 19:7, 8; Rom. 1:19-21; 1 Joao 5:9; Rom. 3:1, 2; Joao 16:13; 15:26, 27; 14:25, 26; 1 Cor. 2:4, 10-16; 1 Joao 2:20, 27; Jofo 6:45; 1 Cor. 14:26; 2 Pedro 3:16; Psalmo 119:130; Isaias 8:20; Actos 15:15; Jofo 5:39; I Cor. 14:6, 9, 11, 12, 24, 28; Col. 3:16; Math, 22:29; Actos 28:23. Deus E’ impossivel definir Deus, porque Elle é mais e maior que todas as definigdes. Nao significa isso que devemos permanecer ignorantes do seu caracter. Por- que nos possuimos o mais real e perfeito conhecimento de Deus pela revelagaéo que Elle nos fez em graga e com poder sobre os nossos coragées e vidas. Ha certas qua- lidades ou attributos que imputamos a Deus, em con- sequencia de suas revelagdes na natureza, nas nossas experiencias e nas Escripturas. Esses attributos nfo de- vem ser tomados como formas deprimentcs daquillo que Deus é em Si mesmo ou em suas manifestacées. Primeiro dizemos que Deus ¢ um sér espiritual. Jesus disse & mulher que estava 4 beira do poco de Jacob: “Deus é espirito, e aquelles que O adoram devem ado- ral-O em espirito e em verdade”. Esta, podemos dizer, ¢ a principal verdade na religiao espiritual. Deus nae tem férma ou figura visivel. E’ puramente espirito. CRENG a S BAPTISTAS 1 EF’ devéras curioso que muitas pessoas se esforcem por se apossar da idéa da espiritualidade de Deus, € no entretanto se apeguem as figuras que tentam repro- duzir a sua imagem. O autor tem encontrado varias pessoas adultas, entre ellas estudantes de theologia, que acham muito naturaes os meios physicos para re- presentar Deus. Suppédem-n’0 alguns um velho cir- cumspecto, de barbas ¢ cabellos brancos, assentado aci- ma da terra em um grande throno, ou entao se aferram a outras mais ou menos vagas e mysticas representagoes de Deus sob varias formas humanas. F’ muito necessa- rio que concebamos a espiritualidade e 0 amor profun- do de Deus, sua ommipresenga ¢ poder em nossas vidas si temos de andar com elle como devemos. Mais ainda, Deus ¢ uno, Niio ha muitos deuses, mas um sé ¢ verdadeiro Deus. A doutrina de muitos deuses é polytheismo ¢ contra ella os prophetas do Antigo ‘Testamento dirigiam) a sua inspirada cloquen- a. © Velho Testamento é a historia de como Deus induzia Israel ao pensamento de um puro monotheis- mo, isto é, 4 crenca em um Deus santo e espiritual. A. unidade de Deus é uma das outras primeiras verdades da religiao. Deus é pessoal. Algumas theorias modernas pro- curam fortalecer a idéa de um Deus impessoal, ou, se- gundo a expressao corrente, um “impessoal fundamen- to do mundo”. Este pensamento de um fundamento im- pessoal do mundo cresce féra do da substancia que a sciencia usa em suas relagdcs com a natureza. Procu- rou-se reduzir todas as cousas a um principio physico, afim de explicar scientificamente tudo quanto existe. Mas a substancia impessoal nao é Deus. A religido en- sina, e mais que tudo o Christianismo, que Deus esta acima mesmo da natureza; que natureza e substancia, embora a expresso da sabedoria e do poder de Deus, n§o sao o proprio Deus. A religido morre quando Deus 16 CRENGAS BAPTISTAS cessa de ser pessoal no pensamento do homem, Porque tudo em religido requer um Deus pessoal. Nao nog surprehende, pois, quando os homens abandonando a idéa.de um Deus pessoal, caem no polytheismo € inven. tam muitos deuses, ou entéo adoptam a philosophia dy pantheismo em vez da religiéo e ficam contentes com Isso. Mais ainda, Deus é santo. A lei moral tem o seu alicerce em Deus, Elle mesmo ¢ 0 seu autor e se apre- senta revestido de toda a perfeigdo moral. ogopeus é infinito. Isso significa que Deus esta isen- to de todas as imperfeigdes. Os nossos entendimentos nao podem abranger a idéa do infinito. A palavra e a mente humanas sfo incapazes quando procuram ex- primir a idéa de que Deus nao tem limites em sua bondade. Deus entao é infinito em todos os seus attri- butos — sabedoria, santidade, amor, poder e todos os outros que fazem parte da sua pessoa. As Escripturas nos revelam tambem que Deus se manifesta aos homens sob trés aspectos. No Velho Testamento o Espirito de Deus apparece em actividade sob muitas formas, comtudo a Trindade nao se apre- senta ahi como uma verdade tao patente como no Novo Testamento. O Novo Testamento nos mostra claramen- te que ha trés formas de manifestacao pessoal de Deus no mundo — Pae, Filho e Espirito Santo. Isso nao quer dizer que Deus se mostra primeiro como uma daquellas pessoas, e depois como outra. Nao, ellas sao distinctas em suas attribuicgées individuaes. Scm duvida, quando as chamamos pessoas, nao usamos a palavra em um sen- tido commum. Uma pessoa humana é um individuo separado e distincto e se usarmos a palavra com esta significagaéo querendo nos referir 4 Trindade, implica- riamos trés deuses, 0 que redundaria em polytheismo. Personalidade é entéo a palavra mais propria que po- demos encontrar para exprimir a verdade da Trindade. CRENCAS BAPTISTAS 17 A Biblia nao explica a Trindade. Cita-nos simples- mente factos. Theologos e philosophos tém experimen- tado penosamente dar uma significacdo intellectual a doutrina da Trindade. Alguns delles nao conseguiram bons resultados. Outros trabalharam com esmero e, por isso, talvez tivessem avangado alguns passos. Sem du- vida devemos reconhecer-lhes.o direito de fazer essas tentativas. Achar-se-ha, comtudo, afinal, que a melhor definicgéo da Trindade para os fins praticos sera a que for mais breve. Deus se nos tem revelado como Pae, Filho e Espirito. Estes tém qualidades pessoaes. To- davia Deus é um. Esse é 0 ensino do Novo Testamento. O que passar disso tende para especulagado. © Exodo 15:11; Psalmo 147:5; Psalmo 83:18; Isaias 6:3; 1 Pedro 1:15. 16; Marcos 12:30; Math. 10:37; Math. 28:19; 1 Cor. 12:46; 1 Joao 5:7; Joao 10:30; Jouo 5:17; Joao 4:24; Eph. 2:18; IL Cor. 13:14. Providencia . Deus creou o mundo e o sustenta. Na marcha cons- tante do globo nao ha surpresas para Deus. Elle prevé e de antemao sabe todas as cousas que possam succe- der. Deus esta acima do mundo, mas esta tambem nelle. Elle nao se mantem fdéra do universo, olhando para os seus movimentos, como se elle fora uma sim- vles machina, Esta presente. Esta presente nelle em todos os logares e em todos os tempos. Elle esta em todas as cousas junto e acima dellas. O proposito de Deus abrange todas as cousas que acontecem. Algumas dellas, porém, Deus simplesmente x permitte. Deus nao é o autor do peccado. Este appa- receu no mundo, nao com o séu apoio, mas com a sua permissdo. Todavia Elle 0 domina. De algum modo n possibilidade de peccar estava em connexéo com a \herdade das creaturas intelligentes de Deus. E’ essa Uberdade que eleva o homem acima dos brutos. Com- 18 CRENGAS BAPTISTAS tudo, foi essa mesma liberdade que fez possivel uma oe, colha peccaminosa. Essa escolha, no en anto, do opportunidade 4 manifestagao do amor e da graca de Deus, que nado podiam apparecer em um mundo Sey peccado. Ella nao desculpa o peccado; apenas Indieg como Deus a transformou em occasido para mostra, illimitada condescendencia e amor. : A maior parte das difficuldades acerca da gracg de Deus e da liberdade do homem sao devidas ao mody commum de interpretar a accéo dessa gra¢a sobre nds, A graca nasce do exterior, mas actia dentro de nés, Elle se insinua em nosso sér e trabalha em nossas men. tes, consciencias e desejos. Inclina-nos a fazer com ale. gria a vontade de Deus. Nao é como uma alavanca as- sentando sobre um ponto de apoio, por meio da qual uma pedra se move. E’ antes como a agua que enche os receptaculos da roda de um moinho fazendo-a gy- rar. Nossas faculdades sdo os receptaculos na roda de nossa personalidade. Ou ainda, a graca é como a seiva em uma arvore, e nossa conducta é como o fructo. O fructo produz-se de dentro. A graca nao é mecanica, mas pessoal em sua accao. Essa distincedo destrée a theoria dos “cascaduras” (*). Prégacio, persuasao, mis- sdes, evangelizacao, tudo é baseado no principio de que a graga nao é uma forea mecanica mas pessoal. Si a graca fosse uma alavanca e os homens pedras, entao teriam razio os “cascaduras”. E’ a concepcao da gra- ¢a comparada 4 alavanca que destrde as missdes. A graca opéra com os meios que influenciam a livre es- colha dos homens, persuasao, argumento, appello, ad- moesta¢4o, exhortagao, etc. A concepgao de todo o Novo Testamento sobre a prégacdo apparece em connexao (*) “Cascadura” 6 uma especie de crentes que ha nos Estados Uni- dos, que creem em uma predestinagao tal que téca as raias da fatali- dade. N. do Trad. [lee ceee betes fa oa ee eet tee Eee CRENCAS BAPTISTAS 19 com 0 facto de que a graga néo é uma forca mecanica mas pessoal. Idéas, s, - rea : entimentos, desejos no prégador, através do Espirito de Deus, accordam idéas, sentimen- tos, desejos no peccador. Este é 0 methodo de graga. Um bulbo péde ter dentro de si energia em estado po- tencial capaz de produzir uma bella flor. Essa energia Por si so nao o pdde fazer. Mas uma forca externa pode penetrar nelle, alguma cousa que elle nao possua, como a luz e o calor solar, e transformal-o em uma flor. Transferindo um bulbo de um vaso para outro nao pre- cipitaria 0 apparecimento da flor. 0 Espirito de Deus pode entrar no coracaéo do peccador e transformal-o, antes que as accdes inebriantes hajam_ produzido os seus maus effeitos. O alvo do Evangelho é revelar a personalidade do homem em uma vida moral e espiri- tual. Isso s6 se pdde realizar quando a viva personali- dade de um homem se torne, de algum modo, o meio pelo qual a verdade, a gtaca e o poder de Deus entrem na vida de um outro. Finalmente, esse é 0 methodo commum de Deus, salvo nos casos excepcionaes como o de Saulo de Tarso e de outros. Deus fez o homem livre e lhe conserva essa liber- dade. Deus jamais cercou a vontade do homem. Em sua aceao sobre a vontade do homem, Elle nunca a per- turba. “Graca irresistivel”, 6 uma phrase que ouvi- mos muitas vezes. Mas propriamente comprehendida, ella nao quer nunca significar irresistivel no sentido physico, porque Deus nao faz comnosco como um pae com o filho manhoso, desobediente e rebelde, agarran- do-o e arrastando-o para onde elle ndo quer ir. Deus deseja que nds vamos a Elle espontaneamente. A gre ¢a sempre persuade, convence e faz com que vamos a Elle, comtudo ella actua em nossos coracdes mysteriosa e potente. A obra prima da creagao de Deus 60 homem. To- dos os degraos antecedentes conduzem a este sér que 20 CRENCAS_ BAPTISTAS foi feito 4 imagem e semelhanga de Deus. Esse ¢ principal interesse da religifio no prodigio e no my, terio da creagéo. A questio de como Deus. creoy , mundo ou ha que tempo elle ja existia desde a crea. ¢ao do homem nao é plenamente respondida nas Es. cripturas. Ha muito que a sciencia trabalha para res pondel-a e ainda nao o conseguiu de um modo for. mal. O livro de Genesis nos esclarece sobre alguns pontos, mas que n4o nos satisfazem. Uma cousa, po. rém, é clara, e é que Deus fez o homem 4 sua pro: pria imagem e que 0 homem peccou. Um outro ponto é claro tambem: que a redempcao do peccador € 0 prin- cipal objectivo do desvello providencial de Deus pelo ' mundo. Si nés comprehendessemos o que é a provi- dencia, poderiamos entéo saber o que Deus tem feito para remir o mundo. Gen. cap. 1 e 2; Joao 1:2, 3; Rom. 1:20; 2:14.16; Heb. 1:2; Job 26:13; Col. 1:16; Isaias 46:10, 11; Psalmo 13526; Eph. 1:11; Act. 2: 23, 24; 7:1.60; 14:16-18; Act. 17:24-28. A Queda do Homem Dizer que o homem cahiu é dizer que peccou con- tra Deus. O peccado nao é a simples fragilidade do homem, nem um simples engano, nem mera ignorancia. O peccado nao é ainda uma simples escada encostada na evolucao do homem para o seu mais alto desenvol- vimento. O erro do homem nao foi um movimento para cima, mas ao contrario, um movimento para um pla- no inferior. Elle envolve o crime e a transgressao. Deu causa 4 necessidade de perdao, de gracga e de redempcao. O homem entrou em condemnagao como resultado da sua queda. A queda significa, entéo, que o homem era realmente homem quando cahiu e nao uma simples creatura em via de tornar-se homem, um candidato, pode-se assim dizer, 4 virilidade. Sem duvida nao va- CRENGAS BAPTISTAS 21 mos suppor que elle possuia toda a experiencia ou © conhecimento que a historia nos tem mostrado. O ho- mem nao foi feito omnisciente, nem mesmo assimilava as idéas tao bem como hoje. Foi feito livre de pecca- do e condemnagio, e, por causa da tentagao de Satanaz, cahiu. Em consequencia da queda do homem o peccado tornou-se hereditario.’ Nenhuma theoria scientifica é mais clara hoje que a hereditariedade na transmissa0 dos tragos do caracter. O Velho Testamento reconhe- ceu religiosamente o principio muito antes que a scien- cia o descobrisse e demonstrasse. Como um resultado dessa hereditariedade da raga, todos os homens actual- mente peccam quando alcangam a capacidade para pec- car. Cremos que as creancas morrendo na infancia es- tao salvas, ndo porque estejam isentas da operacao da tendencia hereditaria para o peccado, mas porque Christo expiou a falta de toda a raga, e de algum modo os infantes morrendo, antes do actual peccado, partici- pam da bengao dessa expiacdo. As Escripturas realmen- te pouco dizem a respeito da salvagdo de creancas, mas o que 1a esta escripto é o bastante para alimentar uma crenga firme nessa salvacéo. A graca de Deus tem com elles relacdes de um modo especial. E’ o que de- vemos sustentar, sem duvida, se cremos na hereditarie- dade do peccado e ao mesmo tempo na salvacao das creancas que morrem. Ninguem que seja susceptivel de arrependimen- to e fé é ou pode ser salvo sem elles. Esse é 0 claro-en- sinamento das Escripturas. O peccado hereditario e 0 actual tornam o homem néo sémente corrupto mas cri- minoso e condemnado até que seja justificado pela fé em Jesus Christo. : DoS : Sem duvida, os homens nfo séo todos egualmente peccadores e nenhum homem é tio mau quanto pdde ser, Mas todas as faculdades e poderes do homem es- 22 CRENGAS BAPTISTAS to affectados pela operacéo do peccado em sua ng tureza, e sao todos egualmente incapazes de se salyay. Todos sao, semelhantemente, dependentes da graca dg Deus para a propria salvacao. Gen. 1:31; 2:16, 17; 3:12, 18; 3:6-24; 6:5; Rom. 3:23; 3:10.13, 8:75 1:18-32; 5:1221; Tito 1:15; Gal. 5:16:21; Isains 53:6; Eph. 2:13; Ezeq. 18:19, 20. Eleicéo Em consequencia de sua natureza peccaminosa e habitual escolha do mal, os homens, se entregues- a si mesmos, recusariam inevitavelmente a salvagao. Um Evangelho ou boas novas de salvagdéo annunciados a uma raca de homens peccadores e sem a activa ener- gia da graga de Deus para tornal-as efficientes, de certo se tornariam infructiferas. Ha duas escolhas necessarias para a salvagaéo do homem: a de Deus ao homem e a do homem a Deus. Aféra as creancas e a outros incapazes de responder 4 chamada do Evange- Iho, a salvagdo nado vem de outro modo senao pela esco- lha de Deus ao homem e vice-versa. Mas a escolha do homem por Deus é anterior a de Deus pelo ho- mem, porque Deus é infinito na sabedoria e no co- nhecimento e nao fara o successo do seu Reino de- pendente das escolhas accidentaes dos homens. Deus nao abandona aos homens a faculdade de salvacéo ou deixa-a para que elles a usem segundo a sua vontade. Elle toma em suas proprias maos as redeas do seu go- verno. Comtudo, agindo desse modo, Elle precisa ob- servar a sua propria lei da liberdade, como esta es- cripta na constituigéo moral do homem. Este é o pro- blema ou a tarefa que exige infinito amor, poder e sa- bedoria: salvar o homem e todavia deixal-o livre para procurar a salvacgéo. Liberdade de accio no homem é uma verdade tao fundamental como qualquer outra CREN(AS BAPTISTAS 23 exarada no Evangelho ¢ jamais deve ser abolida em nossas exposicdes doutrinacs. OQ homem niio seria ho- mem sem ella e Deus, salvando-nos, de modo algum nos rouba na nossa verdadcira virilidade moral. 7 Tratando com uma raga de seres que, entregues a si mesmos, inevitavelmente escolheriam o mal, e cuja liberdade, no entretanto, deve ser respeitada, como po- deria Deus agir, sendio como tem feito, niio 86 mandan- do seu Filho como Mediador e Redemptor, mus for- mulando tambem meios e artificios para persuadir os homens a crer e acceitar o Evangelho. Si por acaso Elle os tomasse tacs como esléo e os salvasse contra a sua vontade, teria commettido um acto immoral. Cer- tamente tal methodo é inconcebivel com seres livres. Nao resta a menor duvida que, se Deus se ¢ollocasse longe dos homens, aguardando simplesmente que elles o escolhessem, ninguem o faria. O Evangelho, o Espi- tito Santo, a egreja, o prégador, a mensagem ou ser- mAo e todos os outros meios de persuadir e fazer os ho- mens crer, sao, por isso, necessarios, afim de que Deus possa salvar, primeiro, porque Elle mesmo escolheu 0 homem, e segundo, pela escolha de Deus pelo homem. O plano de salvacao, para ser comprehendido, deve ser olhado como um todo. Alguns olham sé para a escolha de Deus e ignoram os meios e a necessaria escolha da parte do homem. Outros ignoram a escolha de Deus e fazem tudo depender dos meios e da escolha do ho- mem. Mas n§o se pode dividir em pequenas partes o plano de Deus e comprehendel-o olhando para cada uma das partes de per si. Deve-se recebel-o como um todo. Diz-se muitas vezes eleicdo como significando ar- bitrariedade e parcialidade da parte de Deus. Mas isso é um erro. Deus deseja que todos os homens se sal- vem e venham ao conhecimento da verdade (I Timo- “AS BAPTISTAS 24 theo 2:4), como Paulo nos assegura. E” um facto que Jesus morreu por todo o mundy (Jodo 3:16). Eleicay nao é uma escolha arbitraria de Deus. Atraz de cada acto seu esta o seu amor infinito. Elle adopta o unj. co meio pelo qual a salvagao de qualquer pessoa Seja possivel, e, indubitavelmente Elle se afflige e deseja que, tao rapidamente quanto possivel, todos os homens oucam e conhegam a verdade e a obedegam. Por isso é que Elle escolhe o homem, nao.sOmente para a sal- vagdo, como para o servigo. Cada homem ou mulher ou creanga salva, Deus a aproveita como um mensagei- ro e trabalhador para fazer conhecidos a outros sua graca e o seu poder. . A eleicio nao deixa espago nenhum para jactan- cia ou orgulho ou aspiragées de gloria da nossa parte, mas quando bem comprehendida, enche-nos de humil- dade e uma concepcao mais perfeita da multiforme sabedoria de Deus, ao‘ tratar com as suas livres crea- turas. E nos inspiraria, com uma santa sympathia, a participar com Deus dos seus esforcos para salvar os homens desobedientes, rebeldes e carnaes em suas escolhas. Com Deus podemos entav, pacientemente, co- operar em persuadir os homens a crer no Evangelho, em garantir, de um modo absoluto, que a graca de Deus se mantera sempre efficaz na grande tarefa de levar até os rebeldes a abandonar os seus peccados e esco- Thel-O livremente; e que a accao potente da santa von- tade de Deus, em um mundo emaranhado nas terri- veis teias do peccado original, seria efficiente para remir os homens e estabelecer entre elles o seu Reino eterno. Nossa esperanga feneceria se o galardaéo dos nossos esforcgos dependesse das palavras e respostas lou- cas dos peccadores. Todas as incertezas se devanecem, no entretanto, deante da plena persuasado garantida pe- las Escripturas, de que Deus guia, prepara e deseja para nds, efficazmente, um glorioso galardao. CRENCAS BAPTISTAS - . 19; Math. 5; ; 1 Cor. 3 1:4:10; Joao 125.29; I Pedro I: . 23:19; T Tim. 5:21; Rom. 9:1953- O Mediador Ha um Mediador entre Deus ¢ 0 homem — Jesus Christo, Nasceu da Virgem Maria pelo poder do Espi- rito Santo. Viveu sem peccado; ensinou perfeitamen- te a verdade acerca de Deus e do destino do homem; Elle mesmo foi, na carne, a manifestagdo de Deus; mor- reu sobre a cruz, onde expiou todos os peccados dos ho- mens; foi sepultado; subiu para a dextra do Pae € deu o Espirito Santo a seu povo. Agora preside os destinos da sua egreja, e vira outra vez no tempo apontado pelo Pae para julgar o mundo. Dois ou trés pontos exigem especial attengao. Tem- se procurado em nossos dias sustentar varias vezes que Jesus foi o unico verdadeiro revelador de Deus, e tam- bem que, em nenhum sentido, Elle tocou as raizes do sobrenatural. Esta é a theoria favorita de muitos aos quaes a sciencia prohibe acceitar a real divindade ou deidade de Jesus. Os que isso acceitam fazem d’Elle simplesmente o maior dos prophetas ou o maior dos santos, e como tal pensam que Elle nos trouxe o ver- dadeiro conhecimento de Deus. Si os homens insistem, porém, em applicar o criterio da lei physica 4 religiao, jamais poderao mesmo provar a existencia de Deus. Porque as leis da natureza chegam a um fim, e é quan- do nos elevyamos acima dellas no estado de personalida- des, e especialmente quando se trata da personalidade divina. A sciencia nos diz que um liquido tem a sua superficie superior plana porque nenhuma das suas partes vae além daquelle limite. Assim sao as causas e os effeitos physicos; uns tém explicagéo nos outros, e se passarmos além desse nivel, cahiremos no sobre- 26 CRENGAS BAPTISTAS natural, o que repugna 4 sciencia. As séries de Caug, e effeitos da natureza sao como uma fileira de Carti, collocados em pé um apés outro, e que se da um peqy,’ no sopro ou pancada no primeiro, derribando-o; ¢¢, sopro ou a pancada se reflictira sobre todos 08: Outros fazendo-os cahir. Na natureza nada se explica Senay quando empregamos uma cousa ou um facto ja conhe, cido para determinar em outro novo e ainda nao dis, cernido. O effeito deve estar comprehendido nos te,, mos da causa. Explicou-se a queda de um cartao pela queda do antecedente. Isso é uma illustragao da lei da transformagdo da energia ou da origem physica. S¢ a natureza é uma série de élos de causas e effeitos, jamais poderemos encontrar um Deus nella, mas uma fileira infinita desses élos. Este podemos dizer, é 0 modo pelo qual a sciencia discorre sobre a natureza. Por isso a sciencia nado pdde provar a existencia ou nao existencia de Deus. E’ difficil ver os homens accei- tar o testemunho de Jesus quanto ao que Deus é, por- que nao admittem que Elle O revela, nado sémente com o seu lado humano, mas sem duvida tambem, com o seu lado divino. Jesus n&o foi simplesmente o “Prin- cipe dos Santos” como O appellidou Martineau. Elle nao poderia ser um revelador de Deus no sentido ple- no da palavra, se fosse sé o principal dos santos. Nos ficariamos sem um conhecimento seguro de Deus, si Jesus nao fosse mais do que um homem. Porque a sciencia jamais demonstrou Deus, e a experiencia do maior dos santos seria sempre posta em duvida to- das as vezes que elle procurasse nos mostrar um co- nhecimento do Deus infinito. Como limitado, huma- no em sua capacidade mental, sua experiencia podia ser perfeitamente pura, mas o scientista infle- xivelmente impugnador, poderia sempre levantar a questéo de ser ou nao verdadeira e correcta a exposi- gao de tal experiencia. Para si mesmo essa exposica0 CRENGAS BAPTISTAS a7 poderia ser plenamente satisfactoria, mas tanto quanto o homem da sciencia pudesse por em questéo sua Ca- pacidade ,para comprehender o infinito e apresentar uma palpitante revelagaéo de Deus, seu testemunho en- contraria uma acanhada acceitaco. Si Jesus foi, en- tao, uma pura e terminante revelagdo de Deus a0 ho- mem, Elle devia ter sido mais do que um homem pro- curando achar e alcancar Deus. Mais do que isso, de- via_ter sido Deus descendo aos homens e fazendo-se conhecido delles. E este é precisamente o testemunho das Escripturas: que em Jesus Christo temos a ver- dadeira revelacio de-Deus ao homem. Os soffrimentos de Christo foram necessarios para oO perdao, justificagaéo e redempgao dos peccadores. Ha muitas theorias sobre a expiacio; demais para que pos- samos discutil-as todas aqui. Podemos, no entretanto, dividil-as em duas classes: Primo, a classe daquellas formuladas pelos que fazem a obra de Christo na cruz terminar no homem; secundo, a das theorias dos que a levam até Deus. Algumas das theorias pertencentes a esta segunda ordem sao verdadeiras. Deus, sem duvi- da, nao foi levado a amar os homens pelo que Christo fez, Elle os amou primeiramente, e a grande obra de Jesus é a expresso, a prova desse amor. Nao que Deus tivesse sido um tyranno e que se vendera aos homens pelo der- ramamento do sangue de Christo. Essa expiagaio foi um arranjo de Deus mesmo, um meio para obrigar o ho- mem a uma infinita necessidade de sua natureza san- ta e amorosa. Deus apresentou Christo como propi- ciagdo pelos nossos peccados, afim de que Elle pudesse ser, ndo s6 justo, como o justificador daquelle que cré em Jesus Christo. Muitas vezes ouve-se dizer que essa idéa de uma expiacio objectiva ou substituitiva feita por Christo ¢ que é a base da remissio de peccados, nao é uma par- te do verdadeiro Evangelho de Christo, mas um pe- 28 CRENCAS BAPTISTAS dago de judaismo trazido por Paulo, que era jua de origem. Esse & um juizo que se faz de Paulo 1." to sem fundamento; pois, & notoriamente conheciq que elle foi o unico apostolo que escapou absolutamen, 4s apertadas tramas do judaismo e consolidou o Univer salismo do Evangelho. Muito ao contrario, foi a dou. trina prégada por Paulo da justificagdo pela fé, que re. volucionou o judaismo, ou melhor, demoliu-o comple. tamente, mostrando ao mesmo tempo que o Evange. Tho, em seus fins e propositos, era tio vasto como 0 mundo. Isso, Tepetimos, é perfeita e geralmente ad. mittido. E ainda ha aquelles que affirmam que, en. volvida com a doutrina de Paulo que matou o judaismy ha uma parte essencial desse mesmo judaismo que ani. quilara o Evangelho, isto 6, sua doutrina de uma ex. Piacao objectiva. Paulo expoz a sua doutrina como uma antithese directa, uma contradiccao ao judaismo. Ella, na verdade, foi em parte o cumprimento do judaismo, mas nesse mesmo cumprimento elle foi abolido. Logo, a doutrina da expiacdo que Paulo prégou nfo é um elemento estranho ao Evangelho. Jesus mesmo predis- Se que daria a sua vida em resgate de muitos (Math. 20:28) e que derramaria o seu sangue para remissio dos peccados (Math. 26:28). As Escripturas abstive- ram-se de philosophar sobre a expiacéo, mas apresen- taram a verdade em termos taes, que nao podemos sinceramente dizer que fomos deixados em duvida so- bre se a morte de Christo salva-nos ou nao. A santida- de de Deus, néo menos que o seu amor, exigia a obra purificadora de Jesus Christo. E’ uma idéa erronea a que separa um attributo de Deus, tal como seu amor, dos outros aftributos, e sustenta que Deus agiu, em sua approximagao dos homens pela obra remidora de Je- sus, em uma parte sémente de sua natureza. Deus sem- pre age como uma unidade, em sua natureza integra, ¢ nao em partes della.

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