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CONTEÚDO
As “Drogas do Sertão” (século XVII e XVII) A borracha teve uma importância econômica muito grande para a
nossa região nos fins do século XIX e início do século XX, pois, com a
No vale do rio Amazonas, as constantes incursões invenção da vulcanização, ela passou a ser uma importante matéria-
estrangeiras estimularam a intervenção da coroa portuguesa, prima para as indústrias. O espaço geográfico amazônico, em
através da implantação de fortes a princípio na embocadura do
conseqüência, passou por grandes transformações, como veremos a
rio Amazonas (Belém/Macapá) e do incentivo à ação de
seguir.
missões católicas, estas penetraram nos confins da região,
viabilizando a exploração dos produtos da floresta (“drogas do O seringal foi transformado num dos elementos mais importantes do
sertão” - canela , cravo, salsa-parrilha, cacau nativo) e ao espaço da produção regional(...)
mesmo tempo domesticavam a mão-de-obra nativa, facilitando a O crescimento econômico e populacional atraiu também a indústria
hegemonia lusa na região. Essa expansão foi possibilitada para a Amazônia. Variadas fábricas, ligadas sobretudo ao setor de bens
graças à União Ibérica (1580/1640) que veio a facilitar a ação de consumo, se estabeleceram nas principais cidades, destacadamente
no interior da região sem nenhum impedimento fronteiriço e, em Belém e Manaus.(...) as atividades produtivas mais tradicionais: a
realizada a separação, fez-se necessária uma nova divisão roça, a coleta, a pesca e a caça não deixaram de existir. Se a borracha e
política em que se reconheceu o uti possidetis. a indústria eram fonte de riqueza da elite, as atividades tradicionais
Ao longo do curso do Amazonas e partindo das fortificações
permaneceram, sobretudo, como fonte de sobrevivência de uma grande
de Belém, os portugueses lançaram expedições oficiais
destinadas a estabelecer a presença colonial por todo o vale do parcela populacional.
grande rio. Entre as inúmeras expedições, destacam-se a O comércio gerado pela exportação da borracha intensificou a
bandeira fluvial de Pedro Teixeira (1637/1639), marco das circulação de pessoas e de produtos. Para facilitar o escoamento da
explorações amazônicas oficiais e da epopéia do bandeirante produção e receber as mercadorias compradas no estrangeiro, foram
Antônio Raposo Tavares (1648/1651). construídos os portos de Belém e Manaus. Nas cidades menores,
No plano da construção espacial brasileira, as bandeiras pequenos portos e os famosos trapiches passavam a ter a mesma
ampliaram o limite do território conhecido, e funcionavam, ao finalidade.
menos objetivamente, como vanguarda do poder colonial. A Neste período, até ferrovias foram implantadas para agilizar o
coroa portuguesa, manobrando persistentemente e escoamento da produção regional: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré-
meticulosamente para a expansão geográfica da sua soberania,
escoava a borracha de Guajará-Mirim até Porto Velho, cidades
ordenou a construção de fortificações ao longo do perímetro
exterior das expedições. Assim surgiram os fortes de São localizadas no Estado de Rondônia; a Estrada de Ferro Bragantina -
Joaquim(RR), São José das Marabitanas (Alto Rio Negro), São escoava a produção agrícola na rota Bragança - Belém, no Estado do
Gabriel(Rio Negro), Tabatinga (Rio Solimões) e Príncipe da Pará; a Estrada de Ferro do Tocantins -escoava a produção extrativa,
Beira (Rio Guaporé), balizando o contorno das nossas fronteiras principalmente a castanha, existente no sudeste do Pará, até a cidade de
terrestres. Marabá (PA).
O período de intensa exploração da borracha foi marcado por
A Amazônia no século XIX – A Economia da Borracha grandes transformações nas cidades amazônicas. A rede urbana passou
por uma grande expansão. À medida que novas áreas iam sendo
Paralelo a expansão cafeeira, ocorria na Amazônia o boom
ocupadas, como os vales dos rios Madeira, Purus e Juruá, surgiam
da borracha (fim do século XIX e início do XX). A produção de
látex foi transformada num dos elementos mais importantes do novos núcleos urbanos, que, na sua maioria, eram sedes de seringais. É
espaço amazônico. O seringal se constituía em grandes o caso de Xapuri e Brasiléia, ambas no Estado do Acre. Eram os
propriedades no interior da floresta, controladas pelos seringais virando cidades.
seringalistas. O responsável pela extração do látex era o Nas grandes cidades da região, a elite, formada pelos barões da
seringueiro. borracha, impõe um novo modo de vida baseado em idéias trazidas da
A borracha atraiu para a região amazônica muitos Europa. Vive-se a Belle Époque, termo francês que se refere a um
migrantes nordestinos (arigós) que se transformaram na mão- período marcado por construções urbanas de grande beleza (palacetes,
de-obra. Estes trabalhavam através do Sistema de Aviamento igrejas, praças e parques públicos, bosques, etc.), assim como de
no interior dos seringais. Houve um deslocamento de
espaços culturais (teatros, cinemas, escolas, bibliotecas e arquivos
nordestinos muito intensa para o extremo oeste da Amazônia,
públicos, jornais, etc.). As idéias européias se tornaram presentes no
garantindo com isso a posterior anexação de mais um Estado ao
território nacional, que foi o Acre, através do Tratado de espaço amazônico, para atender aos caprichos e gostos da elite. Por isso
Petrópolis(1903). mesmo, apenas uma pequena camada da sociedade amazônica pôde
Segundo MONTEIRO 1997, alguns migrantes nordestinos, beneficiar-se das inovações. (...) esse período de crescimento econômico
entretanto, se estabeleceram nas proximidades de Belém, onde e intensa reorganização do espaço entra em crise devido à concorrência
deram início a uma importante agricultura praticadas em feita pela borracha produzida na Ásia.
pequenas propriedades familiares. A maioria das cidades A crise freou o crescimento da maioria das cidades. Entretanto,
existentes no nordeste paraense (região bragantina – área que algumas não sofreram tanto com essa queda devido à existência de
vai de Belém a Bragança) teve sua origem nas colônias outras atividades econômicas, como o plantio de juta nas várzeas do
VESTIBULAR – 2009
Exercício
01.
" Esta cova em que estás É a parte que te cabe
Com palmos medidos deste latifúndio
É a conta maior Não é cova grande
Que tiraste em vida É cova medida
É de bom tamanho É a terra que querias
Nem largo, nem fundo ver dividida...
João Cabral de Melo Neto,
Morte e Vida Severina (fragmentos)