Notas e Informações A3

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2010

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Aurélio de Almeida Prado Cidade
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Notas & Informações

O risco de um PRI brasileiro

Na sucessão presi-
dencial de 1994, a
vitória de Fernan-
do Henrique repre-
sentou para o PT
mais do que um re-
vés nas urnas: foi
uma derrota políti-
ca autoinfligida pela decisão, ideolo-
gicamente motivada, de considerar
o Plano Real um estelionato eleito-
ral – enquanto, nos comícios do tuca-
no, as multidões agitavam notas da
nova moeda. Só 8 anos depois, quan-
do engavetou o programa aprovado
no congresso partidário de Olinda e
pintou o seu eterno candidato com
as cores tranquilizadoras da paz e do
amor, o PT se reabilitou politicamen-
te ao aceitar o programa do ministro
Palocci, de cujo êxito colhe agora os
formidáveis dividendos eleitorais.
Desta vez, a se confirmarem as
previsões de que Dilma Rousseff se
elegerá no primeiro turno de 3 de ou-
tubro, a segunda derrota de José Ser-
ra certamente terá consequências
para o seu partido muito diferentes
das que produziram para o PT as
derrotas de Lula da Silva. Na verda-
de, ao contrário do PT, o PSDB nun-
ca teve jeito para ser oposição. Seu
principal líder, Fernando Henrique
Cardoso, nunca pretendeu ser um lí-
der popular. Já enfraquecido depois
de oito anos fora do poder, o PSDB
não tinha condições de ajudar Serra
a se contrapor ao enorme prestígio
de Lula e ao contentamento da po-
pulação com o seu governo. Nem o
candidato se tem esforçado para ob-
ter esse apoio.
O segundo fracasso consecutivo
do petista não estilhaçou o partido
nem o impediu de se manter à tona
aos olhos dos setores da sociedade
de que se fazia porta-voz, desenca-
deando uma furiosa, persistente e
não raro torpe campanha contra a re-
forma do Estado promovida pelo go-
verno do PSDB. No poder, aliás, o lu-
lismo não se aventurou a revertê-la,
apesar do aparelhamento e do incha-
ço da máquina federal.
Já um segundo fracasso das aspira-
ções presidenciais de Serra irão mui-
to além do destino de um dos mais
experientes políticos brasileiros. Pe-
lo que se pode prever, a partir do his-
tórico da disputa pelo poder entre
os principais grupos antagônicos em
cena, as colunas do edifício político
desabarão sobre os tucanos com
uma força destrutiva que o PT ja-
mais experimentou na esteira de um
malogro nas urnas. A sigla da estrela
não se desmoralizou depois de 1994
porque continuou a ter um líder de
talento político e amplo apelo de
massas, cuja obstinação não diminui-
ria nem com a derrota seguinte, daí
a 4 anos, depois da qual o PT mante-
ve a sua implantação no País e se-
guiu trajetória ascendente nas elei-
ções locais e parlamentares.
No caso dos tucanos, vencido Ser-
ra, tudo irá conspirar contra a possi-
bilidade de se reerguerem. Até onde
a vista alcança, justamente quando
Lula passar a faixa a uma figura que
é o seu oposto em matéria de proje-
ção pessoal e política, faltarão ao PS-
DB – ou ao que restar dele – as con-
dições para finalmente exercer o pa-
pel de oposição de que se furtou qua-
se sempre por medo da popularida-
de do presidente. A falta de condi-
ções pode ser antevista na crise da
campanha de Serra. A cada nova pes-
quisa, mais os tucanos obedecem à
chamada Lei de Muricy – a de cada
um por si.
Ao que tudo indica, o destino do
PSDB é o confinamento em um úni-
co reduto político de peso, com a
quase certa eleição de Geraldo Alck-
min em São Paulo. A eventual derro-
ta do ex-vice-governador Antonio
Anastasia para o ex-ministro Hélio
Costa em Minas ainda privará o par-
tido de um novo líder em condições
de reconstruí-lo, como seria obvia-
mente o caso de Aécio Neves, o pa-
trono de Anastasia a quem Serra se
impôs como presidenciável. A escas-
sez de condições objetivas deverá se
acentuar com os ganhos que a frente
governista terá no Congresso. Na Câ-
mara e no Senado, PT e PMDB dispu-
tam qual será o dono da maior banca-
da. Nessa última Casa, PSDB e DEM
devem ficar com a metade de suas ca-
deiras atuais.
Desenha-se, enfim, um cenário
sombrio em que a política se limita-
ria aos jogos de poder, com os sór-
didos lances habituais, dentro da
coalizão hegemônica. Estarão cria-
das as condições para o surgimento
de uma versão brasileira – com
duas faces, a do PT e a do PMDB –
da “ditadura perfeita” vivida pelo
México décadas a fio sob o contro-
le do PRI, o Partido Revolucionário
Institucional.

A corrupção na Justiça O mau caminho das safras

o fazer um balan- nham a mão no dinheiro e su- um ministro de um tribunal su- mundo vai pre- Mas o investimento na amplia- sumidor nacional foi beneficia-

A O
ço dos dois anos miam. “É um total desvirtua- perior que foi vice-corregedor cisar de muito ção, na modernização e, depois, doe,aomesmotempo,os expor-
que passou à fren- mento da autonomia do juiz. É de Justiça, destacou-se como lí- mais alimentos na conservação da malha de tadores conseguiram ocupar fa-
te da Corregedo- um verdadeiro abuso de po- dersindicaldacorporaçãoepre- e matérias-pri- transportesavançou durante al- tias importantesdo mercado in-
ria Nacional de der”, diz o ministro Gilson Di- sidiuaAssociaçãodosMagistra- mas produzi- guns anos e perdeu impulso. ternacional. Mas conseguiram
Justiça (CNJ), pp,quenospróximosdiaspassa- dos Brasileiros (AMB) e a Fede- dos no campo O Centro-Oeste produz cerca tudo isso apesar das más condi-
quando realizou inspeções em rá o cargo para a ministra Eliana ração Latino-Americana de Ma- nos próximos 10 anos – e o Bra- de 35% da safra nacional de ções da infraestrutura e de ou-
17 tribunais e foi obrigado a pe- Calmon. gistrados. sil será o país mais qualificado grãos. A maior parte da exporta- tros itens do “custo Brasil”.
dir formalmente a aposentado- Aconstataçãodeirregularida- O ministro Gilson Dipp lem- para atender a essa demanda, ção sai pelos portos do Sul e do Pelas projeções do Ministério
ria compulsória de um colega des somente foi possível por- bra que após as primeiras puni- se agricultores e criadores con- Sudeste, porque o acesso aos da Agricultura, a produção de
do Superior Tribunal de Justi- que a Corregedoria Nacional de ções,quandocaiuporterraomi- seguirem fazer sua produção portos da Região Norte é muito cincodosprincipaisgrãoseolea-
ça (STJ) denunciado por envol- Justiça passou a fazer o que de- to do juiz intocável, a Correge- chegar aos portos a um custo mais difícil. O caminho seria ginosas–arroz, feijão,milho,so-
vimento num esquema de ven- veria ser a principal tarefa das doria Nacional de Justiça pas- razoável. A agropecuária brasi- mais curto, mas acaba sendo ja e trigo – poderá ser 36,7%
das de sentenças, o ministro corregedorias dos tribunais. sou a sofrer forte oposição cor- leira poderá aumentar sua par- mais vantajoso enviar a merca- maior na safra 2019-2020 do
Gilson Dipp traçou um quadro Por causa do enraizado esprit de porativa da magistratura. “Os ticipação no comércio mundial doria aos pontos tradicionais de que em 2008-2009. Aumento
realista e preocupante dos tri- corps, os órgãos encarregados tribunais sempre foram ilhas de soja em grão, milho e car- embarque. Caminhões trans- quase igual (37,5%) é estimado
bunais brasileiros. Infelizmen- de fiscalizar e coibir a corrup- desconhecidas. Quanto tive- nes, além de manter a posição portam cerca de 70% da produ- para a produção de carnes de
te, diz ele em entrevista ao Es- ção de magistrados, a pretexto ram de prestar contas de suas dominante nos mercados de ção de soja de Mato Grosso, a frango, de bois e de suínos. A
tado de domingo, alguns tribu- de preservar a “imagem” do Ju- atividades administrativas, or- açúcar e café. As projeções apa- um custo em torno de R$ 230 maior parte da produção de ali-
nais têm sido lenientes, deixan- çamentárias e disciplinares a recem num trabalho publicado mentosdeveráser absorvidape-
do de tomar medidas drásticas Às vésperas de passar o umórgãodecoordenaçãonacio- pelo Ministério da Agricultura. O alimento brasileiro lo mercado interno. Ainda as-
contra o que chama de “maçãs nal, a reação foi grande. Alguns As perspectivas são auspicio- sim, a participação brasileira no
podres” – ou seja, juízes indig-
cargo na CNJ o ministro tribunais eram compostos de sas, mas o estudo termina com
torna-se menos quando mercado internacional poderá
nos da toga. “A magistratura Gilson Dipp aponta barões, duques, fidalgos, e com uma descrição pouco animado- o carregamento sai aumentar consideravelmente
não tem blindagem contra atos as falhas encontradas um rei a cada dois anos. Esse ra das condições de logística. pela porteira da fazenda no caso de vários produtos: soja
de corrupção e irregularida- mitoestácaindo”,dizocorrege- A produção agropecuária em grão, de 30,2% para 35,8%;
des”, afirma Dipp. diciário, frequentemente igno- dor nacional de Justiça, em cuja tem crescido muito mais veloz- por tonelada. O custo é menor milho, de 10,1% para 12,7%; car-
Quando começou a fazer ins- ravam denúncias de nepotis- gestão também foi afastado o mente que os investimentos na para os produtores do Sul e do ne bovina, de 25% para 30,3%;
peçõesemtribunais, varasecar- mo. Também não investigavam juiz federal responsável pelas infraestrutura de transportes e Sudeste – entre R$ 55 e R$ 70, carne suína, de 12,4% para
tórios, explica o corregedor na- magistradosque recebiamfavo- açõescriminais abertas com ba- de armazenagem. Os gastos segundo a reportagem. Mesmo 14,2%; carne de frango, de 41,4%
cional de Justiça, a expectativa resdeempresários.E,sistemati- se nas investigações da Opera- com transporte aumentaram esses custos, no entanto, são para 48,1%. Nos casos do açúcar
era descobrir apenas proble- camente, relevavam denúncias ção Pasárgada. Ela foi realizada em média 147% entre 2003 e maiores que os da Argentina, R$ e do café serão mantidas as fa-
mas pontuais. “Na verdade, o decorrupçãoeainda“acomoda- pela Polícia Federal (PF) há 2009, segundo levantamento 34,64, e dos Estados Unidos, R$ tias atuais – 46,5% e 27,2%.
que foi constatado não era tão vam” casos de malversação e dois anos e resultou na prisão da Associação Nacional dos Ex- 31,18. A eficiência dentro das fa- Oaumentodaproduçãoresul-
pontual assim. Isso foi sur- desvio de recursos públicos. devários prefeitosde MinasGe- portadores de Cereais (Anec), zendas é das maiores, pelos pa- tará principalmente de ganhos
preendente e chocante”, diz o “Os tribunais têm um nível rais e da Bahia, acusados de par- divulgado em reportagem do drões internacionais, mas boa de produtividade. A expansão
ministro. de corporativismo muito além ticipar de um esquema que des- Estado nessa segunda-feira. parte da vantagem competitiva da área de plantações e pasta-
Entre as irregularidades mais dodesejado. Muitosjuízes colo- viava recursos do Fundo de Par- Os produtores foram capazes, seesvai no transporte– demora- gens será pequena. A produção
graves, a mais recorrente envol- cam suas ambições pessoais ou ticipação dos Municípios. nos últimos 40 anos, de levar a do, arriscado, caro e com eleva- das lavouras deverá crescer em
via a concessão de liminares aspirações corporativas acima O balanço do ministro Gilson agricultura a regiões novas, tor- da perda de mercadoria. média 2,67% ao ano, enquanto o
contragrandesempresaseinsti- de sua função de julgador. Isso é Dippmostra que,em matéria de nando produtiva a ampla área Os produtores podem usar aumento anual da área usada fi-
tuições financeiras, determi- inconcebível para qualquer ati- abusos, o Poder Judiciário tem docerradoeimplantandolavou- boas máquinas, boas sementes cará em 0,45%. Sem a produtivi-
nando a liberação de altos valo- vidade, sobretudo para a magis- os mesmos problemas dos de- ras modernas muito longe das e as melhores técnicas de mane- dade em alta, o problema da lo-
res em favor de falsos credores tratura”, disse o ministro Dipp. mais órgãos da administração áreas tradicionais. Tiveram du- jo de solo. Formas de produção gísticateriasidomuito maisgra-
e de clientes inadimplentes. Nos dois últimos anos, foram pública. A diferença é que, feliz- rantealgumtempoincentivoofi- igualmente modernas foram ve nos últimos anos, porque as
Maisgraveainda,comoosrecur- punidos 36 juízes, 2 dos quais mente, a Corregedoria Nacio- cial para abrir fronteiras. Tam- adotadas na criação de animais. distâncias seriam maiores. Res-
sos eram liberados sem qual- foramcolocadosemdisponibili- nal de Justiça está cumprindo o bémessencialfoioapoiodosins- Tudo isso permitiu baratear a ponsáveis pela política de trans-
quer garantia de caução, os be- dade e 18 foram aposentados papel que a Emenda Constitu- titutos de ciência e tecnologia, produção nacional de alimen- portesforam incapazes de apro-
neficiários das liminares pu- compulsoriamente – entre eles, cional n.º 45 lhe atribuiu. especialmente da Embrapa. tos nos últimos 30 anos. O con- veitar essa vantagem.

Avenida Engenheiro Caetano Álvares, 55 -

não envolvendo recursos públi-
cos. A isenção de Imposto de
Renda deve-se ao fato de o Insti-
tuto Ethos ser uma entidade sem
fins lucrativos, que não tem acio-
nistas nem gera lucros, utilizan-
do todos os seus recursos (advin-
dos de mais de 1.300 empresas as-
sociadas) em mais de 30 projetos
e programas na promoção da res-
ponsabilidade social empresarial.
Pretendo dar por encerrada esta
polêmica, já que considero que
todos os esclarecimentos já fo-
ram dados para que os leitores ti-
rem suas conclusões.
ODED GRAJEW, presidente do Ins-
tituto Ethos
ograjew@ethos.org.br
São Paulo
SAÚDE PÚBLICA
Cobaias?
O governo brasileiro, mais preci-
samente o Ministério da Saúde,
efetuou a compra de um medica-
mento que ainda não está aprova-
do para comercialização em lu-
gar nenhum do mundo, chama-
do Protalix, indicado para doen-
ça de Gaucher e desenvolvido pe-
la Protalix Biotherapeutics, com
sede em Israel e distribuição
mundial a ser realizada pela Pfi-
zer, com exceção no país de ori-
gem. Essa compra – publicada no
Diário Oficial de 5/8/2010, à pági-
na 87, licitação 1.182/2010 – foi fei-
ta com base na informação menti-
rosa de que o medicamento que
nós, pacientes, recebemos há
mais ou menos 15 anos estava em
falta. Não acho justo tornar-me
uma cobaia sem estar de acordo
– não acho justo, aliás, para ne-
nhum de nós, pacientes dessa
doença rara, que somos ao redor
de 600 no Brasil –, por causa da
ganância de uma indústria farma-
cêutica. A compra realizada foi
no valor de R$ 57.813.600.
PAULA SCHNAPP STELIAN
pstelian@uol.com.br
São Paulo
6º andar, CEP 02598-900
Fax: (11) 3856-2920
“O Datafolha finalmente E-mail: forum@grupoestado.com.br
confirma: o Brasil é a cara VOCÊ NO ESTADÃO.COM.BR As cartas devem ser enviadas com assinatu-
do ‘cara’!” ra, identificação, endereço e telefone do
TOTAL DE COMENTÁRIOS NO PORTAL:
remetente e poderão ser resumidas. O Esta-
TEMA DO DIA
FABIO MORGNATI / SÃO PAULO,
do se reserva o direito de selecioná-la para
publicação. Correspondência sem identifica-
SOBRE A ÚLTIMA PESQUISA PARA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Infraestrutura põe em 2.680
ção completa será desconsiderada.
Central de atendimento ao leitor:
tao2@terra.com.br
risco economia do País 3856-5400 –
falecom.estado@grupoestado.com.br
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O tão falado apagão logístico virou Capital: 3959-8500
“Convenhamos, entre realidade. Como o setor pode não Demais localidades: 0800-014-77-20
tantas, Dilma é mais www.assinante.estadao.com.br
uma ‘herdeira’ de Lulla” conter o crescimento do Brasil? Classificados por telefone:
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pode afundar Dilma e ISMAEL PESCARINI 5,00 (segunda a sábado) e R$ 6,50 (domingo).
BA, SE, PE, TO e AL: R$ 6,00 (segunda a
salvar Serra” sábado) e R$ 7,50 (domingo). AM, RR, CE,
MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 6,50 (se-
JOSÉ BIZARRO FERREIRA ● “A verdade é: o Brasil não pode crescer demais. Como um gunda a sábado) e R$ 8,00 (domingo)
Preços assinaturas: De segunda a domingo
MENDES / COTIA, IDEM país pode ser competitivo se não investe nas bases?” – SP e Grande São Paulo – R$ 64,90/mês.
zecamendes@terra.com.br PAULO ORTHEY Demais localidades e condições sob consulta.