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O povo que escutava Jesus percebeu com clareza a diferença radical que
havia entre o modo de ensinar dos escribas e fariseus e a segurança e força
com que Jesus declarava a sua doutrina. Jesus não expõe uma mera opinião
nem dá mostras da menor insegurança ou dúvida6. Não fala em nome de Deus,
como o faziam os Profetas; não é mais um Profeta. Fala em nome próprio: Eu
vos digo... Ensina os mistérios de Deus e como devem ser as relações entre os
homens, e confirma os seus ensinamentos com milagres; explica a sua
doutrina com simplicidade e com poder porque fala daquilo que viu7, e não
necessita de longos raciocínios. “Não prova nada, não se justifica, não
argumenta. Ensina. Impõe-se, porque a sabedoria que d’Ele emana é
irresistível. Quando se consegue apreciar essa sabedoria, quando se possui o
coração suficientemente puro para avaliá-la, sabe-se que não pode existir
outra. Não se sente a necessidade de comparar, de estudar. Vê-se.
“Vê-se que Ele é o absoluto; vê-se que diante d’Ele tudo é pó; vê-se que Ele
é a Vida. Assim como as estrelas se apagam quando surge o sol, assim
acontece com todas as sabedorias e todas as escolas. Senhor, a quem
iríamos? Tu tens palavras de vida eterna”8.
II. A DOUTRINA DE JESUS tinha tal força e autoridade que alguns dos que
o ouviam exclamavam que nunca em Israel se tinha escutado nada de
parecido10. Os escribas também ensinavam ao povo o que estava escrito em
Moisés e nos Profetas, comenta São Beda; mas Jesus pregava ao povo como
Deus e Senhor do próprio Moisés11.
III. “A TUA ORAÇÃO – ensina Santo Agostinho – é como uma conversa com
Deus. Quando lês, Deus fala-te; quando oras, és tu que lhe falas”16. O Senhor
fala-nos de muitas maneiras quando lemos o Santo Evangelho: dá-nos
exemplo com a sua vida, para que o imitemos na nossa; ensina-nos como
devemos comportar-nos com os nossos irmãos; recorda-nos que somos filhos
de Deus e que nada nos deve tirar a paz. Bate-nos à porta do coração para
que saibamos perdoar essa pequena injúria que recebemos; pede-nos que
sejamos misericordiosos com os defeitos alheios, pois Ele o foi em grau
supremo; incita-nos a santificar o trabalho, realizando-o com perfeição humana,
pois foi a sua única ocupação durante tantos anos da sua vida em Nazaré...
Fará muito bem à nossa alma procurar que a leitura do Evangelho nos dê
frequentemente tema para a oração: umas vezes, porque nos introduziremos
na cena como se tivéssemos visto o grupo reunido em torno de Jesus e nos
aproximássemos cheios de interesse, ou como se nos detivéssemos junto à
porta onde Jesus ensinava, ou nas margens do lago... Talvez só nos tenha
chegado aos ouvidos uma parte da parábola ou umas frases isoladas, mas
foram suficientes para que algo de muito profundo começasse a mudar na
nossa alma.
(1) cfr. Mc 9, 6; 6, 51; etc.; (2) cfr. Mc 9, 32; (3) Lc 4, 31-37; (4) Mc 1, 22; (5) cfr. Mt 16, 14; (6)
cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, EUNSA, Pamplona, 1983, nota a Mt 7, 28-29; (7) cfr.
Jo 3, 11; (8) J. Leclercq, Trinta meditações sobre a vida cristã, págs. 53-54; (9) São Josemaría
Escrivá, Forja, n. 754; (10) cfr. Lc 19, 48; Jo 7, 46; (11) São Beda, Comentário ao Evangelho
de São Marcos, 1, 21; (12) cfr. Jo 1, 35 e segs.; (13) Jo 1, 41; (14) Jo 7, 46 e segs.; (15) João
Paulo II, Exort. Apost. Catechesi tradendae, 16-X-1979, 9; (16) Santo Agostinho, Comentário
sobre os Salmos, 85, 7; (17) Mt 10, 51; (18) Lc 18, 13; (19) Jo 21, 17; (20) São Josemaría
Escrivá, Sulco, n. 671.