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Planejamento e Ordenamento: Instrumentos a Serviço do Capital! ?

Carlos Henrique Marinho Branco*

Resumo
Este trabalho apresenta uma proposta de discussão teórica sobre os conceitos de
território, planejamento, desenvolvimento e ordenamento. No segundo momento
procurou-se identificar a forma de como é utilizado o planejamento por parte do Estado,
este utilizando de ferramentas institucionais, buscando instrumentalizar o território para
o grande capital. Por fim abordaremos a forma de ação do Estado frente ao território no
Brasil e seus desdobramentos sócio-espaciais.

Palavras-Chave: Planejamento. Estado. Espaço Regional. Território.

Abstract
This paper presents a proposal for discussion on the theoretical concepts of territory,
planning, development and planning. In the second time sought to identify how it is
used for the planning by the state, using the tools of institutional, seeking exploit the
territory for big business. Finally we discuss how to share the state facing the territory
in Brazil and its socio-spatial developments.

Keywords: Planning. State. Regional Space. Territory.

*
Professor Licenciado em Geografia especialista em Geografia da Amazônia: Sociedade e gestão dos
recursos naturais.
Email – henriquembranco@gmail.com
1 – INTRODUÇÃO

A retomada da discussão em torno do desenvolvimento regional vem no bojo


do processo de globalização e dos poderes hegemônicos atuais, que reforçam a
necessidade de respostas nacionais e locais, a fim de inserir novos elementos no sistema
impetrante de expansão e acumulação capitalista, revalorizando os processos de
desenvolvimento local, com ênfase no planejamento participativo e descentralizado.

A heterogeneidade do sistema econômico mundial demonstra a existência de


dois segmentos distintos e vinculados com o núcleo globalizado. O primeiro deles as
grandes e médias empresas, grupos transnacionais, com intensa articulação e o seguinte,
consubstanciado pela economia camponesa, informal e de subsistência, as pequenas e
médias empresas, de reduzida inserção, apresentando lógicas distintas de
funcionalidade, mas ambas importantes para explicar o desenvolvimento na sua
amplitude.

Por outro lado, a globalização levou a um “redescobrimento” da dimensão


territorial, uma vez que foi capaz de provocar uma redistribuição geral das atividades no
território. Esse processo provoca uma transformação dos territórios sub-nacionais, em
espaços da economia internacional, determinando uma nova divisão social do trabalho,
que pode obedecer a distintas lógicas em função de uma divisão horizontal ou vertical
dos territórios, segundo suas conexões com outros lugares do mundo (lógica vertical) ou
segundo a sua capacidade de construção de redes e organizações dentro do mesmo
território (lógica horizontal).

As políticas públicas de desenvolvimento regional, não podem centrar-se em


medidas compensatórias e assistencialistas em vista das dinâmicas regionais ou locais.
Elas devem sim, promover estratégias de desenvolvimento endógeno, de forma mais
consistente e sustentável, onde o Estado juntamente com os atores territoriais, sejam os
animadores e catalisadores deste processo, criando regiões inovadoras e
impulsionadoras do desenvolvimento. Este é o aspecto fundamental, que deve fazer
parte das políticas de desenvolvimento regional em qualquer escala territorial.
É neste contexto, que buscamos contribuir, no sentido de reinventar a política
pública de desenvolvimento regional (territorial), como oportunidade para a sociedade
na sua construção social, já que hoje ela é ainda tratada de forma marginal e de pouca
importância, numa negativa da sua capacidade, para contribuir nos processos de
distribuição da renda intra-inter-regional.

2 - Planejamento e Ordenamento: Instrumentos a Serviço do Capital!?

As técnicas e práticas do planejamento foram essenciais para o


desenvolvimento desde seu inicio. Neste sentido, o planejamento deu legitimidade à
tarefa do desenvolvimento, alimentando esperanças. De forma conceitual, o
planejamento implica em mudanças de ordem sócio – econômica podem ser forjadas e
dirigidas, ou até mesmo produzidas. Dessa forma, os países pobres seriam capazes de
progredir com certa tranqüilidade, foi sempre aceita como uma verdade incontestável.
Talvez no mundo não haja uma imposição tão bem aceita por todos como o
planejamento.
Na primeira metade do século XIX, capitalismo e a Revolução Industrial
provocaram rápidas mudanças nas cidades fabris, no continente europeu. No período
entre 1800 e 1950, é que ocorreram à introdução de formas de administração e de
controle da sociedade. O planejamento cientifico, atinge a maturidade nos anos 20 e 30,
com a mobilização da produção nacional durante a Segunda Grande Guerra, e no
período do após-guerra. Arturo Escobar (1999) cita que: “no despertar da era do
desenvolvimento no Terceiro Mundo, no final da década de 40, o sonho de desenhar as
sociedades através do planejamento encontrou um terreno ainda mais fértil”.
Segundo o autor na América Latina e na Ásia, a criação de uma “sociedade em
desenvolvimento”. Neste sentido, podemos tecer algumas considerações a respeito às
políticas desenvolvidas nesses continentes. Para introduzir o “planejamento” nos países
do Terceiro Mundo, foi necessário estabelecer certas condições estruturais e
comportamentais nessas sociedades. Neste sentido, entende-se que era necessário
moldar essas sociedades para um “estágio moderno”, o que exterminaria às “tradições”
nesses lugares. Pela lógica e ordem econômica do sistema capitalista, o planejamento
estabeleceria o subsidio para a produção e reprodução do capital nesses países.
No final da década de 50, a maioria dos países do Terceiro mundo já estavam
envolvidos em atividades de planejamento. Portanto, ao lançar a primeira “década do
desenvolvimento”, no começo dos anos 60, as Nações Unidas já estavam
suficientemente confiantes para declarar ao mundo que:

Já foi preparado o terreno para uma consideração não-doutrinária dos


verdadeiros problemas do desenvolvimento, ou seja, poupança,
treinamento, planejamento e ações que os implementem. Em particular, as
vantagens de lidar com esses vários problemas em uma abordagem que os
considerem em conjunto, através de um planejamento minucioso para o
desenvolvimento, e não como fatores isolados, ficam mais evidentes...Um
planejamento cuidadoso para o desenvolvimento pode ser um instrumento
poderoso na mobilização...De recursos latentes (que contribuam) para uma
solução racional dos problemas em questão1.

Sobre a proposta de implementação do planejamento nas nações


subdesenvolvidas, o presidente americano John Kennedy, discursou na ONU sobre a
ação planejadora dos países desenvolvidos com relação às nações do terceiro mundo:

O mundo está muito diferente nos dias de hoje. Pois o homem tem, em suas
mãos o poder de abolir todas as formas de pobreza humana e todas as
formas de vida humana...Para aqueles que vivem nos casebres e aldeias de
metade do globo, lutando para romper os grilhões da miséria
generalizada...Fazemos uma promessa – converter nossos votos de boa
vontade em boas ações – em uma nova aliança para o progresso – para
ajudar homens livres e governos livres a se libertarem dos grilhões da
pobreza2

Declarações como essa do presidente americano reduziram e ainda reduzem –


haja vista que o discurso não mudou – a vida no Terceiro Mundo. Os países da periferia
do sistema são reduzidos a miseráveis, ignorando tradições, estilos de vida e conquistas
históricas nessas nações. Sob análise dos planejadores e dos desenvolvimentistas as
nações subdesenvolvidas precisavam de uma intervenção em seus modelos de
desenvolvimento, para superarem o atraso e a miséria. Parece que o Primeiro mundo
tinha pronto e acabado o receituário contra a miséria nos países subdesenvolvidos.
Cooptaram dessas nações menos abastadas a possibilidade de criação de um modelo
próprio de desenvolvimento, implementando ações exógenas de desenvolvimento
nesses países.
A forma de como produzir esse desenvolvimento, os planejadores acreditavam
em um sistema infalível. Segundo eles o Estado planeja, a economia produz, e os
trabalhadores concentram-se em suas atividades afins. Para produzir essa forma de
1
United Nations, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, The United Nations Development
Decade: Proposals for Action, Nova Iorque, United Nations, 1962, p.210.
2
Discurso presidencial, 20 de Janeiro de 1961.
planejamento, precisava-se unir com os interesses das elites do Terceiro Mundo para
que o processo fosse completo. Criar junto a essas elites a idéia de progresso, de
ascensão econômica e social era fundamental. De forma sintetizada o planejamento
garante a operacionalização de um poder que depende de um tipo de realidade que
certamente não é a das populações menos favorecidas. Sobre a forma de produção do
planejamento nos países, Escobar (1999) tece as seguintes reflexões:

Como sistema de representação, o planejamento precisa, assim, fazer com


que as pessoas esqueçam as origens de sua história. [...] O planejamento,
portanto, depende de varias práticas consideradas racionais e objetivas, mas
que, na realidade, são altamente ideológicas e políticas, e é através delas
que se desenvolvem. Antes de tudo, como em outras áreas relacionadas
como o desenvolvimento, o conhecimento sobre o Terceiro Mundo que é
produzido no Primeiro, dá uma certa visibilidade a algumas realidades
especificas de países “subdesenvolvidos”, fazendo com que essas realidades
se transformem em alvos do poder. (ESCOBAR, 1999. p. 221).

As práticas institucionais como o planejamento e a implementação de projetos,


por outro lado, nos dá a impressão de que as políticas públicas são fruto de atos
racionais e isolados, e não de um processo de aceitação de interesses conflitantes, um
processo no qual se fazem escolhas, efetuam-se exclusões, além de impor sua própria
visão de mundo. Conforme análise do autor, podemos considerar que as
“problematizações” indicadas por Washington, se apresentam de tal maneira que a única
forma de resolvê-los seria a aceitação de um programa para o desenvolvimento. Neste
sentido as propostas fundamentadas pelas nações desenvolvidas em prol de “ajudar” aos
seus pares menos abastados, não mais é do que política de cunho ideológico, que visa
operacionalizar o poder e a influência do capital em grandes áreas do globo, sobretudo,
as que dispõem de recursos.

3 - Conceitual sobre o Ordenamento Territorial

No cerne dos processos de planejamento está a prática de ordenamento do


território, e seus desdobramentos atuais. O processo de ordenamento territorial tem sido
objeto de diversas interpretações. Para alguns autores que o definem como: “a expressão
espacial da política econômica, social, cultural e ideológica”. Para outros autores
constitui-se como “uma disciplina cientifica, uma técnica administrativa e uma política
de ação”.
Como não há um consenso com relação à conceitualização de Ordenamento
Territorial, podemos afirmar que ainda é um conceito em construção de inúmeros
sentidos, sofrendo diversas interpretações. No caso do ordenamento territorial, temos os
seguintes objetivos: desenvolvimento socioeconômico equilibrado das regiões; melhoria
da qualidade de vida; gestão responsável dos recursos naturais e a proteção do meio
ambiente e utilização racional do território. Ao se propor os objetivos de ordenar o
território, se impõem três questões centrais: O que ordenar? Para que ordenar? Como
ordenar? Essas seriam as principais questões sobre a forma de pensar e implementar
ações planejadoras sobre o (s) território (s).
Ordenar o território exige a superação de ultrapassadas concepções do
desenvolvimento: da sustentabilidade ambiental ao crescimento da melhoria da
qualidade de vida das sociedades. Trata-se de um imperativo global que chegou para
ficar. Como diz o economista chileno, Osvaldo Sunkel, “este é um tema que as classes
dirigentes de nossa região não poderão adiar sob pena de sofrer graves conflitos internos
e sérias dificuldades internacionais”.
Neste sentido entendemos que implementação de ações planejadoras e que
visem ordenar o território está intrinsecamente ligada aos interesses das grandes
incorporações internacionais que visam otimizar a forma de produção nesses espaços.
Foi somente há 70 anos, que surgiu a idéia de intervenção deliberada do poder público
para induzir a localização de atividades, ou seja, ordenar territórios. No decorrer das
décadas, houve um intenso processo de aperfeiçoamento de ações de planejamento por
parte do Estado, além da própria diversificação de ação do poder público em função,
sobretudo, das necessidades especificas de cada região. Essas especificidades regionais
trouxeram uma gama de instrumentos de ação planejadora por parte dos estados nações.
Todos os países adaptaram suas formas de atuação frente ao território, levando em
consideração os agentes presentes no mesmo. O ordenamento territorial passou a ter,
portanto, sentido bem mais preciso, em seu bojo, visa organizar o processo de
desenvolvimento no território. Segundo Ruckert (2001), há pelo menos quatro fatores
que explicam essa volta do território ao domínio da ação pública3:

Primeiramente, ele está no centro estratégico que visam à competitividade e


atração econômica; é nele que pode ser feita e reforçada a coerção social; é
3
Em sua obra, “A reforma do Estado e tendências de reestruturação territorial”, Ruckert analisa a forma
de produção espacial nos territórios, assim como a ação estatal nos mesmos. Sua tese de doutorado
buscou entender como o processo de reestruturação do parelho estatal iria se comportar frete aos novos
processos de (re) configuração territorial corrente nesta época.
o melhor instrumento de modernização das políticas públicas. São nos
territórios que permanecem o domínio de ação de instâncias hierárquicas
superiores regidas por acordos regionais e supranacionais. (RUCKERT,
2001, p. 136).

O século XX mostrou que o Estado pode produzir a interiorização do


desenvolvimento de diversas regiões, porém, a eficiência econômica dessa intervenção
não esta provada, ou seja, o Estado como indutor de planejamento do desenvolvimento
através de ferramentas técnicas buscando a otimização da produção espacial, porém, os
resultados nem sempre são satisfatórios, ou atingem os objetivos almejados. No Brasil a
implementação de ações estatais com relação ao território, vem sendo amplamente
discutida e utilizada, como uma ferramenta política, econômica e social.
O grande papel do (s) Estado (s) nos dias atuais é: ordenar os territórios na era
da globalização. Sobre ação estatal frente ao processo continuo de globalização sobre os
territórios e a soberania dos estados nações neste processo, o geógrafo Milton Santos,
em sua obra Economia Espacial (2000, p. 80) descreve e analisa que:

No mundo globalizado, o espaço geográfico ganha novos contornos, novas


características, e novas definições. E, também, uma nova importância,
porque a eficácia das ações está estreitamente relacionada a sua localização.
Os atores mais poderosos se reservam os melhores pedaços do território e
deixam o resto para os outros (SANTOS, 2000, p. 80).

Pretendo acrescentar sobre a análise de Milton Santos sobre a forma


planejadora estatal na qual serve, entre outras coisas, para reservar potenciais usos do
território de forma presente, de para o futuro pelos agentes capitalistas. Neste sentido, o
Estado é um indutor de desenvolvimento, sobretudo, no que diz respeito a
implementação de estruturas físicas, estas servindo como insumo básico de atração de
empresas para as regiões. O referido autor utiliza o termo de “regiões iluminadas” para
designar partes dos territórios que servem ou são utilizados de maneira mais forte pelo
capital. Para as outras regiões, o autor as chama de “regiões opacas, turvas”, ou seja, são
pedaços do território-mundo que não é – pelo menos ainda – atrativa a inserção do
capital. A incessante busca do capital por lugares produtivos é que produz ações com
relação ao território.
O papel dos Estados é justamente este, de “selecionar” as potencialidades
naturais, através de instrumentos institucionais, que na maioria dos casos de
transvertem-se em projetos e modelos de ação. O Ordenamento Territorial nasce nessa
concepção de buscar otimizar a extração, produção e circulação de recursos. Os
modelos de regionalização implementados em diversos lugares não surtiram os efeitos
desejados. O problema que se coloca, então é como regionalizar em um mundo
envolvido numa dinâmica constante de desterritorialização, em que convivem lado a
lado “múltiplos territórios” é aquilo que se denomina fenômeno da
“multiterritorialidade” (HAESBAERT, 2001, 2002 a). Os agentes de produção
espacial, em sua dinâmica de produção criam territórios, desterritorializam estes, os
reterritorializando-os em outra ação. Nesta dinâmica de relação e produção no espaço é
que o Ordenamento Territorial está inserido.
O papel desempenhado por grupos empresariais no controle de determinadas
atividades econômicas no território acaba, por sua vez, fazendo com que ocorram
conflitos pelas disputas de projetos a serem efetivados nos territórios. Segundo Milton
Santos e Maria Laura Silveira (2001), “de modo geral, e como resultado da globalização
da economia, o espaço nacional e organizado para servir às grandes empresas
hegemônicas e paga por isso um preço, tornando-se fragmentado, incoerente, anárquico
para todos os demais atores” (SANTOS E SILVEIRA, 2001, p. 258).
Para Palheta da Silva (1999), a gestão do território envolve diversos atores
sociais, de maior ou menor poder, num processo dinâmico, bem como o
desenvolvimento de estratégias para envolver atores interessados no destino de um
determinado espaço geográfico de atuação. Segundo o mesmo autor:

Dessa forma, as reações socioeconômicas no território não entrariam em


contradição quando tentam conciliar diferentes interesses e mesmo assim
promover o bem estar da sociedade, sem prejuízos, sem deixar de perder de
vista o desenvolvimento local? E como articular as diferentes relações de
poder não segregando parcelas significativas da sociedade e promover o
desenvolvimento socioeconômico? Como ter um governo no território que
contemple as relações de poder e consiga fazer dessas relações
diferenciadas de poder um canal em que a sociedade possa alcançar seus
interesses e desenvolver uma gestão que envolva toda a sociedade civil?
(PALHETA DA SILVA, 2004, P. 24).

O território, dessa forma, torna-se um palco de relações e processos nos quais


os atores sociais definem suas práticas espaciais de poder e sua territorialidade. O
território aparece de imediato, um campo de forças de poder diferenciado, com graus
distintos de legalidade. Segundo Claude Raffestin (1993),
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em
qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente
(por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço.
Evidentemente, o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma
produção, a partir do espaço... Qualquer projeto no espaço que é expresso
por uma representação revela a imagem desejada de um território, de um
local de relações (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144).

Os múltiplos atores que compõem a constituição de um território que pelo seu


próprio processo de produção, os diferenciam do espaço em si.

4 - A INTERVENÇÃO ESTATAL BRASILEIRA NO TERRITÓRIO


A posse e o controle do território tem classicamente sustentado a contração do
Estado brasileiro. Esse processo de formação de estruturas estatais antecedeu até mesmo
a formação da nação, nos tornamos um território sem concepção de nação. Vamos nos
atentar a analisar o processo de ação do aparelho estatal com relação ao território, pós-
30, que marca a implementação no Brasil do Estado-desenvolvimentista, que
implementa as principais obras de infra-estrutura no país. A partir da década de 50, o
governo federal substituiu os planos e agências e aposta na ação das Superintendências
nas regiões políticas administrativas do IBGE.
Nesse período são criadas: Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia), Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), Sudeco
(Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste) e a Sudesul (Superintendência
de Desenvolvimento do Sul). Essas autarquias federais tinham a função de gerenciar,
planejar as ações institucionais no território, atraindo investimentos, propondo ações de
fomento ao desenvolvimento regional. A concepção das ações via superintendências
seguem a lógica das teorias produzidas na Europa sobre desenvolvimento de regiões. A
teorização proposta por Perroux (1955) de centralização e polarização do
desenvolvimento, através da criação de pólos4, e estes teria a função de irradiar o
crescimento e desenvolvimento das áreas onde fossem implantados.
A opção de promover o desenvolvimento a partir da teoria de Perroux, fez
sentido pelo fato de atenderem os interesses do grande capital e sua inserção em regiões
periféricas, além de conciliar os interesses e perspectivas da política tecnocrata vigente

4
A Teoria dos pólos de desenvolvimento proposto pelo economista francês François Perroux consistir em
promover o desenvolvimento regional através da criação de “Pólos de Desenvolvimento”. A
implementação de indústrias, que por ele foram chamadas de motrizes, tinham a função de desencadear o
processo de crescimento pois criariam uma rede de produção através de pólos.
no Brasil dirigido pelos militares. As influências das diretrizes cepalinas5, além da
política keynesiana, encontraram no regime militar seu ápice. Essa política
intervencionista sobre o território que se fez presente no Brasil por décadas até o seu
esgotamento no fim dos anos 80. Sobre a ação do planejamento sobre os territórios,
Santos (2003), tece suas considerações:

A função do planejamento é garantir, dentro da lei e da ordem, um mínimo


de segurança e estabilidade [...] De 1945 -1950 o capital já não se baseava
unicamente em modelos de produção. O planejamento tem tido um papel a
desempenhar nesse processo. Ele é um dos conceitos-chaves criados pelo
sistema capitalista como forma de impor por toda a parte o capital em sua
face internacionalizada. (SANTOS, 2003. p. 31-32).

Conforme descreve em sua obra “Economia Espacial”, Milton Santos critica


abertamente o processo de globalização tal como ele é. Em sua obra, o autor reforça a
idéia de que os melhores territórios estão sendo cooptados pelo capital, a fim de
otimizar o processo de produção espacial e econômica. Neste sentido, o planejamento,
os ordenamentos territoriais são fundamentais no processo de produção e reprodução do
sistema. O Estado participa como agente regulador e ordenador, em comum acordo com
o capital internacional.
A inserção do capital nos países periféricos, segundo Santos, se deu em três
fases: a primeira foi a penetração pela força. As outras duas pela ideologia. Nos países
da periferia do sistema, a palavra colonização foi substituída pela palavra planejamento.
Implanta-se o que Santos chama de “pobreza planejada”. A análise critica impetrada
pelo autor, fundada em uma visão marxista, demonstra muito bem a forma de como a
instrumentalização estatal serviu para cooptação dos países periféricos. A aceitação do
processo de colonialismo via modelos de planejamento, deram à tônica na política de
desenvolvimento dessas nações em via de desenvolvimento.
Com a crise do petróleo a partir de 1973 e a emergência de um sistema
internacional globalizado provocou na maioria dos países que adotaram modelos de
desenvolvimento, modificando suas economias, das idéias e das instituições (Ruckert,
2006). Com a crise do nacional desenvolvimentista6 e do modelo de planejamento
5
A CEPAL (Comissão de Estudos para a América Latina e Caribe) iniciou os seus trabalhos na década de
60, e tinha como objetivos: propor estudos e ações de desenvolvimento regional para o continente,
promover acordos de cooperação entre os países latinos americanos, promoção do crescimento
econômico, diminuir as disparidades regionais e promover o Estado do bem-estar-social.
6
No fim dos anos 80, a ação do Estado nacional-desenvolvimentista está em cheque. Com a reformulação
e a implementação das políticas neoliberais ao redor do mundo, que aboliram quase em sua totalidade
esse modelo de desenvolvimento, pautado, sobretudo, no nacionalismo.
centralizado, ou seja, aquele gerenciado pelo governo federal, as economias “flexíveis”
e a “flexibilização dos lugares”, pela alta mobilização do capital e a inserção
subordinada dos territórios nacionais periféricos ao processo de globalização. Neste
sentido, o Brasil tinha que se reatualizar suas políticas externa e interna, requalificando
suas opções e necessidades de ordenamento do território.
Segundo a geógrafa, Bertha Becker (1991), o processo político da reforma do
Estado poderia constitui-se como um marco referencial geral a ser considerado para a
construção de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT). Neste
sentido, seria imprescindível repensar a produção espacial nos territórios. Segundo
Lefebvre em suas análises sobre como se produz espacialmente e a forma de construção
de territórios, o autor, afirma sinteticamente que:

A flexibilização do Estado relaciona-se a múltiplas formas dos territórios


emergentes, cujas diversas determinações podem revelar a riqueza de
análise das totalidades. O espaço desempenha uma função na estruturação
de uma totalidade, sendo como um instrumento político à medida que é
apropriado, transformando-se em território. A representação está, assim,
sempre a serviço de uma estratégia projetada” (LEFEBVRE, 1976. p. 25-
31).

Neste sentido se faz presente à análise de como o planejamento e ordenamento


territorial pelo Estado fomenta o processo de (re) criação de territórios para o capital. A
instrumentalização de ações por parte do Estado cria condições de apropriação espacial
pelas grandes corporações internacionais e nacionais. A criação, por exemplo, das ZEE
´s (Zoneamento Econômico – Ecológico) no território, habilita este a sofrer um processo
de loteamento do seu modo de produção espacial, otimizando suas potencialidades
naturais.
O ZEE implementado na área de influência da BR-163, a rodovia Cuiabá –
Santarém, que liga essas duas cidades, o zoneamento visa criar condições de uso do
solo, das potencialidades naturais daquela área. O mercado da soja, que será quase que
exclusivamente direcionado por esta rodovia7 até o porto na cidade de Santarém, este
ligando aos mercados americano e europeu. O processo de produção espacial
produzindo na Amazônia, sobretudo, a partir da década de 50, com a construção de
rodovias, portos, geração de energia, Becker chama esse processo de “conectividades”
7
Atualmente a rodovia Cuiabá – Santarém (Br-163) estará sendo asfaltada e pavimentada, pois o seu
trecho que corta do estado do Pará, a rodovia é de terra batida. O mercado da soja forçou o processo de
melhor trafegabilidade, pois a rodovia é um importante corredor para escoar a produção de grãos na
região até o porto de Santarém.
ao grande capital. A pesquisadora analisa a forma de como esses equipamentos serviram
de subsidio para a inserção da região amazônica a economia nacional e a mundial.
Com o processo de reestruturação do Estado, direcionado pelas ações
neoliberais, no caso brasileiro, que a partir da década de 90 buscou reestruturar-se em
com relação às novas demandas impetradas pelo território e seus novos agentes. No
âmbito federal as ações se postaram em grandes projetos como o “Avança Brasil”,
implementado na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso em seus dois
mandatos. O referido programa buscou implementar políticas de fomento a infra-
estruturas no país, investindo em rodovias e de um modo geral na logística instalada.
As ações institucionais foram avançando no Brasil no decorrer da virada do
milênio, diversos autores começaram a ensaiar no que resultou no PNOT (Política
Nacional de Ordenamento Territorial). Entender o território em conjunto com suas
complexidades é essencial para que possamos otimizar as políticas públicas

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme as suposições levantadas neste trabalho sobre as políticas de
planejamento para o Terceiro Mundo, podemos verificar, que na maioria dos casos, os
resultados desse tipo de planejamento vêm sendo prejudiciais tanto para as populações
como para as economias do Terceiro Mundo. A verdadeira função do desenvolvimento,
que por um lado, articula o Estado com o lucro, a sociedade patriarcal, e sustenta-se
com a ciência e a tecnologia racionalizante.
A criação dos “sonhos” em desenvolver e de alcançar o Ocidente perdem sua
atração inicial à proporção que a violência e sucessivas crises econômicas, ecológicas e
políticas torna-se a ordem do dia. Em suma, a tentativa por parte do Estado de
estabelecer sistemas totalitários de manipulação socioeconômica e cultural através do
desenvolvimento está chegando ao fim.
Objetivamos relacionar as ações planejadoras estatais com a discussão
conceitual de território. Tivemos a preocupação de exauri as análises, haja vista, que
propostas de entendimento sobre território requer um tempo de abordagem maior. este
sendo uma categoria imprescindível para a geografia, assim como para o entendimento
das configurações espaciais. Esperamos ter demonstrado que o planejamento na sua
concepção de implementação nas nações consideradas subdesenvolvidas fundamentou-
se primeiramente, em uma forte política ideológica de ação, que monopolizou
alternativas de desenvolvimento nesses países, tornando-os presas fáceis as estratégias
dos Estados em comum acordo com o capital.

6- REFERÊNCIAS
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exclusão. In: Castro. I. etal. (orgs) Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro:
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