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ESTRUTURAS DE MADEIRA E

ALVENARIA

Apontamentos de apoio 2014/2015

Alfredo M. P. G. Dias

Departamento de Engenharia Civil


FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Índice
1 Introdução ............................................................................................................................. 5
2 Características e Propriedades da Madeira .......................................................................... 6
2.1 Características principais............................................................................................... 6
2.2 Constituição macroscópica ........................................................................................... 7
2.2.1 Anéis de crescimento ............................................................................................ 7
2.2.2 Cerne e borne ........................................................................................................ 8
2.2.3 Lenho juvenil ......................................................................................................... 9
2.2.4 Lenho de reacção .................................................................................................. 9
2.2.5 Inclinação das fibras ............................................................................................ 10
2.2.6 Nós....................................................................................................................... 10
2.3 Propriedades Físicas .................................................................................................... 11
2.3.1 Massa volúmica ................................................................................................... 11
2.3.2 Teor de água da madeira..................................................................................... 12
2.3.3 Retracção e dilatação .......................................................................................... 14
2.4 Madeira como material de construção ....................................................................... 16
2.4.1 Aspectos gerais.................................................................................................... 16
2.4.2 Do material madeira aos produtos de construção.............................................. 17
2.4.3 Classificação de madeira ..................................................................................... 17
2.4.4 Processamento e reconstituição ......................................................................... 21
2.5 Propriedades mecânicas da madeira .......................................................................... 21
2.5.1 Aspectos gerais.................................................................................................... 21
2.5.2 Ortotropia da madeira ........................................................................................ 22
2.5.3 Propriedades de rigidez....................................................................................... 23
2.5.4 Propriedades resistentes..................................................................................... 24
2.5.5 Propriedades diferidas ........................................................................................ 29
2.5.6 Influência do teor de água nas propriedades mecânicas.................................... 30
2.5.7 Efeito de volume ................................................................................................. 31
2.6 Durabilidade ................................................................................................................ 32
2.6.1 Aspectos gerais.................................................................................................... 32
2.6.2 Fungos ................................................................................................................. 33

ÍNDICE 1
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2.6.3 Insectos ............................................................................................................... 34


2.6.4 Xilófagos .............................................................................................................. 35
3 Produtos de Construção Derivados de Madeira ................................................................. 36
3.1 Madeira maciça ........................................................................................................... 36
3.2 Lamelado-colado ......................................................................................................... 38
3.3 Micro-laminado LVL .................................................................................................... 41
3.4 Outros produtos para funções estruturais e construtivas .......................................... 43
4 Ligações em Estruturas de Madeira .................................................................................... 46
4.1 Aspectos gerais............................................................................................................ 46
4.2 Tipos de ligações ......................................................................................................... 46
4.3 Capacidade de carga de uma ligação isolada .............................................................. 50
4.3.1 Modelos de cálculo ............................................................................................. 50
4.3.2 Efeito de ferrolho “rope effect” .......................................................................... 52
4.3.3 Resistência ao esmagamento .............................................................................. 53
4.3.4 Momento de cedência plástica dos ligadores ..................................................... 54
4.3.5 Pré-furação .......................................................................................................... 56
4.3.6 Afastamento entre ligadores............................................................................... 56
4.4 Capacidade de carga de um grupo de ligações ........................................................... 57
4.5 Ductilidade das ligações .............................................................................................. 58
5 Dimensionamento e Verificação de Segurança .................................................................. 60
5.1 Introdução ................................................................................................................... 60
5.2 Bases para o dimensionamento .................................................................................. 60
5.2.1 Regras gerais ....................................................................................................... 60
5.2.2 Determinação dos valores das propriedades relativas a rigidez......................... 62
5.2.3 Determinação dos valores das propriedades relativas a resistência .................. 63
5.3 Dimensionamento aos estados limites últimos .......................................................... 65
5.3.1 Tracção direcção paralela às fibras da madeira .................................................. 65
5.3.2 Tracção direcção perpendicular às fibras da madeira ........................................ 66
5.3.3 Compressão direcção paralela às fibras da madeira........................................... 66
5.3.4 Compressão direcção perpendicular às fibras da madeira ................................. 66
5.3.5 Flexão simples ..................................................................................................... 67
5.3.6 Corte .................................................................................................................... 69

ÍNDICE 2
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5.3.7 Torção.................................................................................................................. 70
5.3.8 Compressão ângulo com as fibras ....................................................................... 71
5.3.9 Flexão associada com tracção ............................................................................. 71
5.3.10 Flexão associada com compressão ..................................................................... 72
5.3.11 Torção associada com corte ................................................................................ 73
5.3.12 Estabilidade de pilares ........................................................................................ 73
5.3.13 Estabilidade de vigas em flexão .......................................................................... 76
5.4 Dimensionamento aos estados limites de serviço ...................................................... 78
5.5 Ligações ....................................................................................................................... 81
5.5.1 Capacidade resistente de ligadores isolados – Ligadores tipo cavilha................ 81
5.5.2 Outras disposições - Ligadores tipo cavilha ........................................................ 86
5.5.3 Ligações com forças a actuar com ângulo  com as fibras da madeira .............. 89
5.5.4 Capacidade resistente de uma fila de ligadores – Ligadores tipo cavilha ........... 90
5.5.5 Outros tipos de ligações ...................................................................................... 91
6 Concepção e Projecto de Estruturas de Madeira................................................................ 92
6.1 Concepção estrutural .................................................................................................. 92
6.1.1 Coberturas ........................................................................................................... 92
6.1.2 Pavimentos .......................................................................................................... 93
6.1.3 Tracção na direcção perpendicular à direcção das fibras ................................... 93
6.1.4 Ligações ............................................................................................................... 95
6.2 Durabilidade ................................................................................................................ 96
6.2.1 Aspectos gerais.................................................................................................... 96
6.2.2 Durabilidade natural ........................................................................................... 98
6.2.3 Durabilidade por tratamento químico ................................................................ 99
6.2.4 Tratamentos químicos....................................................................................... 101
6.2.5 Concepção para a durabilidade ......................................................................... 105
6.2.6 Ligações ............................................................................................................. 109
6.3 Outros aspectos de natureza construtiva ................................................................. 109
7 Exemplos de Aplicação ...................................................................................................... 111
7.1 Reabilitação de edifício de habitação ....................................................................... 111
7.1.1 Problema Nº1 .................................................................................................... 112
7.1.2 Problema Nº2 .................................................................................................... 113

ÍNDICE 3
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7.1.3 Problema Nº3 .................................................................................................... 113


7.1.4 Problema Nº4 .................................................................................................... 113
7.1.5 Problema Nº5 .................................................................................................... 113
7.1.6 Problema Nº6 .................................................................................................... 114
Anexos ....................................................................................................................................... 118

ÍNDICE 4
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1 Introdução
Estes apontamentos servem de apoio as aulas teóricas e práticas da disciplina de Estruturas de
Madeira e Alvenaria do perfil de Estruturas do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Os apontamentos estão organizados de forma a fazer uma interligação directa através de


“hiperlinks” entre a informação conceptual, regras e modelos de dimensionamento,
pormenorização, exemplos e ferramentas de cálculo. Essas ligações são claramente
assinaladas ao longo do texto através da seguinte simbologia:

C – Informação conceptual

B – Informação técnica disponível (ex: tabelas, figuras elementos tipicamente colocadas em


anexos de forma a tornar a leitura mais fácil)

E – Regra ou modelo apresentado em exemplo de cálculo

O – Outras informações (ex: detalhes construtivos)

X – Formula inserida em folha de Excel (folha fornecida em separado com a finalidade de


permitir a verificação de cálculos)

INTRODUÇÃO 5
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2 Características e Propriedades da Madeira


2.1 Características principais

A madeira é um material natural


que resulta do crescimento das
árvores. É constituído
essencialmente por paredes de
células e células, sendo que a sua
massa é devida essencialmente às
paredes destas variando com a sua
espessura.

Os constituintes principais da
madeira são a celulose (com uma
percentagem superior a 60%)
hemicelulose, lenhina e sais
minerais.
Figura 1 – Fotografia da estrutura celular da madeira

O material madeira caracteriza-se por uma elevada anisotropia que resulta nomeadamente da
forma e orientação das células e da estação de crescimento.

Geralmente considera-se o material madeira organizado em três níveis distintos: ultraestrutra,


microestrutura e macroestrutura. A ultraestrutura corresponde ao nível das paredes celulares
e tem grande influência nos fenómenos de retracção e dilatação. A microestrutura
corresponde ao nível das fibras isentas de defeitos e tem grande influência na rigidez do
material. A macroestrutura corresponde ao nível das fibras com imperfeições (ex: fendas, nós
bolsas de resina) e tem uma influência significativa nas propriedades resistentes do material.

A madeira pode ser proveniente de duas espécies distintas, folhosas ou de folha caduca e
resinosas ou de folha perene. As madeiras destas duas proveniências diferem não só na sua
constituição e organização celular mas também ao nível das propriedades físicas e mecânicas
com importância sob o ponto de vista de engenharia. Por este motivo na classificação de
madeira para uso estrutural é feita a distinção entre espécies folhosas “hardwood” e resinosas
“softwood”.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 6


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Figura 2 – Folhosa Querqus pyrenaica e resinosa Pinus Pinaster

As madeiras folhosas provenientes de árvores de folha caduca, são geralmente madeiras mais
duras (ex: castanheiro, eucalipto, carvalho, choupo). As madeiras resinosas, provenientes de
árvores de folha persistente, são geralmente madeiras mais brandas (ex: pinheiro, abeto,
cedro).

2.2 Constituição macroscópica


2.2.1 Anéis de crescimento

Na secção transversal de um tronco de


uma árvore podem ser distinguidas
claramente várias zonas distintas,
nomeadamente: casca, anéis de
crescimento e medula. Em cada ano de
crescimento a árvore desenvolve um anel
de crescimento. Este é constituído por
uma parte mais fina e escura
correspondente ao crescimento de
Outono e Inverno (anel de inverno
latewood) e uma parte mais espessa e
clara correspondente ao crescimento na
Primavera e Verão (anel de verão
earlywood).

Figura 3 – Secção transversal de tronco de árvore

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 7


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Figura 4 – Relação entre a espessura dos anéis de crescimento e a massa volúmica da madeira (STEP, 1995)

A espessura dos anéis de crescimentos está relacionada com a sua massa volúmica. Para a
maioria das espécies resinosas a massa volúmica aumenta com a diminuição da espessura dos
anéis:

2.2.2 Cerne e borne

No tronco da maioria das árvores adultas


distinguem-se claramente duas zonas: cerne,
borne. O cerne, geralmente mais escuro
corresponde à parte interior do tronco onde
estão as células “mortas”. O borne
corresponde à parte externa do tronco, onde
estão as células vivas que garantem os fluxos
de seiva e logo nutrientes no interior da
árvore. Existem no entanto muitas espécies
nas quais não é possível distinguir claramente
o borne do cerne como por exemplo o abeto
ou o Eucalipto jovem.

Figura 5 – Borne e Cerne

A distinção entre borne e cerne é bastante importante uma vez que a madeira proveniente
destas duas zonas apresenta características e propriedades bastante distintas, nomeadamente
ao nível da resistência e rigidez mecânicas, da durabilidade e do aspecto visual. Como estes
aspectos são essenciais para aplicações na construção a maior ou menor preponderância de

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 8


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cerne e borne é um aspecto tido quase sempre em consideração quer seja por razões
meramente estéticas ou por razões de desempenho mecânico.

2.2.3 Lenho juvenil

O lenho juvenil corresponde à madeira na zona dos primeiros 5-20 anéis. Este lenho tem
propriedades distintas da madeira das restantes zonas (Figura 6). Regra geral apresenta
resistências e rigidezes bastante inferiores ao restante lenho, apresentando ainda massas
volúmicas menores e coeficientes de retracção superiores (Figura 7).

Figura 7 – Variação das propriedades da madeira


Figura 6 – Lenho juvenil com o tipo de lenho (Wood handbook, 1999)

Na maioria das situações o lenho juvenil não é fácil de distinguir, no entanto este localiza-se
em redor da medula. Por esta razão condiciona-se a existência de medula como forma
indirecta de condicionar a existência de lenho juvenil.

2.2.4 Lenho de reacção

O lenho de reacção surge como reacção da árvore a elevados esforços de tracção ou


compressão (ex: devido ventos dominantes). O lenho de compressão caracteriza-se por ter
anéis de crescimento mais largos em que os lenhos de Inverno e Verão são mais difíceis de

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 9


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distinguir (Figura 8). Este crescimento leva a um crescimento pronunciado de uma das
direcções do tronco conduzindo por isso a secções ovalizadas.

Figura 8 – Lenho de reacção (Wood handbook, 1999)

Este material apresenta coeficientes de retracção mais elevados e roturas mais frágeis. Por
esta razão a sua presença é condicionada em elementos estruturais para aplicações
estruturais.

2.2.5 Inclinação das fibras

As células da madeira nalgumas situações


têm uma orientação helicoidal em vez da
habitual orientação rectilínea. Esta
inclinação pode ocorrer por diversas razões,
processo de crescimento da árvore,
proximidade de nós. Na madeira
processada a inclinação das fibras pode
ainda ser devida a processamento
incorrecto do material.

Quando se obtêm peças de secção


rectangular a partir desses troncos
passamos a ter inclinação das fibras. Essa
inclinação conduz a decréscimos
significativos na resistência à tracção e
Figura 9 – Influência da inclinação das fibras nas
flexão dos elementos estruturais. propriedades resistentes da madeira (Wood handbook,
1999)

2.2.6 Nós

Os nós são porções dos ramos das árvores que ficam embebidos no interior dos troncos
aquando do crescimento destes. Se o ramo estava morto quando foi embebido trata-se de um
nó morto se o ramo estava vivo, trata-se de um nó vivo.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 10


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Figura 10 – Nós vivos e nós mortos

A ligação entre a o lenho do nó e do tronco principal é fraca, principalmente quando se trata


de um nó morto. Por esta razão os nós constituem pontos fracos relativamente ao
desempenho mecânico. Estes influenciam quase todas as propriedades mecânicas, mas de
uma forma particular as resistência mecânicas que envolvem tracções no material (ex: tracção
e flexão). No caso da compressão a fraca ligação entre os nós e o restante material tem menor
influência uma vez que a transmissão do esforço praticamente não depende desta.

Na prática os nós são geralmente a característica da madeira que influencia de forma mais
significativa as propriedades resistentes do material.

2.3 Propriedades Físicas


2.3.1 Massa volúmica

A massa volúmica da madeira é uma das propriedades mais importantes deste material. Esta
tem boas correlações com várias propriedades mecânicas da madeira interessando também
para a quantificação de pesos próprios.

Esta propriedade depende essencialmente do volume de vazios e de paredes das células da


madeira podendo para diferentes espécies variar de forma significativa (ex: choupo- 380kg/m3
e o Azobé – 970 kg/m3). Regra geral a massa volúmica é referida pelo seu valor médio (m) no
entanto em muitas situações interessam os valores característicos, quantilho inferior para
efeito de determinação de propriedades resistentes (ex: resistência ao esmagamento) e
quantilho superior para quantificação de pesos próprios.

Regra geral assume-se que os valores característicos, nomeadamente o quantilho inferior (k)
podem ser estimados a partir do valor médio (m) considerando uma distribuição estatística
normal com um determinado coeficiente de variação B-Quadro A - 2. Para as situações mais
habituais o valor característico pode ser obtido a partir do valor médio através da Equação 1.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 11


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k  m  1 ,65  0 ,1m  (1)

Para quantificação dos pesos próprios pode ser usada a uma estratégia semelhante, ou
alternativamente usados os valores tabelados que são apresentados no EC1 Quadro A - 3 .

2.3.2 Teor de água da madeira

O teor de água da madeira () è a relação, em percentagem, entre o peso de água (peso com
um teor de água -P menos o peso seco-Ps) e o peso seco de uma dada amostra (Equação 1).

P  Ps
  100 (2)
Ps

Dadas as características do material madeira (com um elevado índice de vazios) esta definição
de teor de água pode conduzir a valores superiores a 100%.

Por esta razão quando se refere uma determinada propriedade da madeira tem também de
ser referido o teor de água correspondente. Quando tal não é indicado explicitamente
consideram-se como teor de água de referência 12%. Este teor de água corresponde para a
maioria das espécies a uma temperatura de 20ºC e uma humidade relativa do ar de 65%.

A água que se encontra no material madeira pode ser de duas fontes distintas, de
preenchimento dos vazios celulares, água livre, ou de constituição das paredes celulares, água
retida.

A água livre é perdida com relativa facilidade enquanto a água retida necessita de maiores
quantidades de energia para a sua libertação. No processo de secagem em primeiro lugar é
expulsa a água livre e só depois a água retida. O ponto em que a madeira começa a perder
água constituinte das paredes celulares é o ponto de saturação das fibras.

Para a maioria das espécies o ponto se


saturação das fibras varia entre 25% e
30%, geralmente considera-se aos 28%.
Para o Pinho bravo o ponto de saturação
das fibras considera-se normalmente aos
24%.Por outro lado a perda de água livre
não conduz a variações dimensionais
significativas ao contrário da água retida
cuja perda conduz às retracções e
dilatações na madeira. O ponto de
saturação das fibras tem por isso uma
grande importância uma vez que define o
teor de água a partir do qual começam a
ocorrer variações dimensionais.
Figura 11 – Água livre e água retida (Ficha M9, LNEC)

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 12


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O teor de água da madeira tem grande influência em quase todas as suas propriedades. Este
não é característico da madeira variando com as condições ambientais (temperatura e
humidade relativa do ar) a que esta está sujeita.

O processo de troca de água entre a madeira e o ambiente ocorre em continua, se as perdas


são maiores que os ganhos diz-se que esta está em secagem, se os ganhos são maiores que as
perdas diz-se que esta está em humidificação. Se madeira estiver sujeita a condições
ambientais constantes estes dois fluxos estabilizam passando a ser iguais, nesta situação diz-se
que se atingiu o equilíbrio higrotérmico da madeira ao qual se chama teor de água de
equilíbrio (daqui em diante referido abreviadamente como teor de água).

O equilíbrio higrotérmico varia com as condições ambientais e de espécie para espécie, sendo
característico para um determinado conjunto humidade relativa do ar/temperatura e espécie.
Na Figura 12 são apresentadas as curvas d equilíbrio higrométrico para a madeira de Pinho
bravo.

Figura 12 – Equilíbrio higrotérmico para madeira de Pinho bravo (Ficha M9, LNEC)

Como a variação do teor de água pode conduzir a variações dimensionais e o teor de água de
equilíbrio varia com as condições ambientais em que a madeira está aplicada esta deve ser
sempre aplicada com o teor de água o mais próximo possível daquele que irá ser o seu teor de
água de equilíbrio.

Uma das dificuldades práticas que existe é a definição do teor de água de equilíbrio, uma vez
que na esmagadora maioria das situações a humidade relativa do ar e temperatura a que a
madeira está sujeita variam ao longo do tempo nomeadamente com as estações do ano.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 13


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Na Figura 13 são apresentados os teores de água de equilíbrio que podem ser esperados no
nosso clima em diferentes condições de aplicação na construção.

Figura 13 – Teores de água de equilíbrio a esperar em madeiras aplicadas em diferentes situações ((Ficha M9,
LNEC)

A aplicação da madeira com o teor de água adequado diminui de forma significativa os


problemas associados com variações dimensionais (ex: folgas e empenos) bem como o risco de
fendilhações indesejadas.

Da definição de teor de água da madeira facilmente se depreende que a massa volúmica


depende directamente do teor de água. Esta pode ser determinada para qualquer teor de
água função da massa volúmica da madeira seca (0) e do coeficiente de retracção volumétrico
(v) C a partir da Equação 2.

1  0 , 01
  0 (3)
1  0.01v

2.3.3 Retracção e dilatação

A madeira sofre variações dimensionais significativas com a variação do seu teor de água.
Sofre igualmente variações dimensionais com a variação da temperatura mas amplitude
bastante mais pequena, logo estas são geralmente desprezadas.

Estas variações conduzem a coeficientes de retracção que são bastante diferentes para as três
direcções (longitudinal- l, radial – r e tangencial-- t).

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 14


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Figura 14 – Coeficientes de retracção para a madeira de pinho bravo

Muitas vezes é também importante o coeficiente de retracção volumétrica v, que define a
variação de volume com a variação do teor de água.

Existem espécies com coeficientes de retracção muito elevados como o Eucalipto (r= 7,7%,
t=11,0%, v=18,7%), e espécies com coeficientes de retracção bastante mais baixos como a
Teka (r=2,5%, t=5,8%, v=7,0%). Apesar disso em todas elas se verifica que o coeficiente de
retracção na direcção longitudinal é bastante inferior ao nas direcções radial e tangencial. Por
esta razão a variação dimensional na direcção longitudinal é muitas vezes desprezada.

No Wood handbook (1999)-Tabelas 3-5, 3-6 podem ser encontrados os coeficientes de


retracção para uma grande variedade de espécies de madeiras folhosas e resinosas.

Como resultado da retracção


diferencial da madeira nas três
direcções a variação dimensional dos
elementos estruturais pode conduzir
vários tipos de distorções consoante a
forma como a peça foi obtida tal
como é evidenciado na Figura 15.

Este tipo de deformações pode


muitas vezes conduzir à rejeição dos
elementos para aplicações estruturais Figura 15 – Retracção das peças de madeira função da sua
ou outras. orientação (Wood handbook, 1999)

O período de maior risco em termos de desenvolvimento de deformações devidas a retracção


é na fase secagem inicial. No entanto, sempre que ocorram variações do teor de água podem

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 15


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

ocorrer empenos. Por essa razão uma peça que não apresente qualquer empeno se for sujeita
a um ciclo humidificação/desumidificação pode passar a apresentar. Por esta razão é da maior
importância o acondicionamento da madeira em estaleiro até à sua aplicação.

2.4 Madeira como material de construção


2.4.1 Aspectos gerais

Definição de material de construção

A madeira é um dos mais antigos materiais de construção, tal deve-se em grande medida às
suas vantagens em relação aos outros materiais. De entre estas vantagens destacam-se:

Quadro 1 – Conteúdo energético de vários materiais


de construção (STEP, 1995)

 Material natural obtido de fontes Conteúdo energético


Material
renováveis kW/kg kWh/m3
 Bom balanço energético e de emissão Madeira serrada 0,7 350
de CO2 Madeira colada 2,4 1200
 Boas resistências em tracção e em Betão 0,3 700
compressão Tijolo cerâmico 0,8 1360
 Relação resistência/peso elevada Aço 5,9 46000
 Boa trabalhabilidade PVC 18,0 24700
Alumínio 52,0 141500
A madeira apresenta algumas vantagens significativas que são responsáveis pela sua perda de
competitividade enquanto material de construção em relação o outros materiais. De entre as
desvantagens destacam-se:

 Regra geral baixa durabilidade natural


 Alta variabilidade de propriedades
 Baixo módulo de elasticidade
 Ligações complexas

A baixa durabilidade natural da madeira é hoje em dia um problema facilmente resolvido ou


pelo menos facilmente controlável com recurso a diversos tipos de tratamento disponíveis
comercialmente.

A elevada variabilidade de propriedades constitui um problema bastante mais complexo e de


difícil resolução. A madeira apresenta variabilidades muito elevadas, nomeadamente: com
espécie, com o local de crescimento ou mesmo com a zona da árvore de onde foi obtido o
elemento de madeira. Na Figura 16 são apresentadas as funções de densidade de
probabilidade para diferentes espécies e para a mesma espécie de diferentes locais de
crescimento.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 16


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Figura 16 – Funções de densidade de probabilidade para madeira de diferentes espécies e diferentes origens

Para ultrapassar este problema têm sido desenvolvidas técnicas que permitem controlar esta
variabilidade e dessa forma aumentar a fiabilidade da madeira enquanto material de
construção. Destas destacam-se a classificação de madeira e processamento de madeira
descritos adiante.

O baixo módulo de elasticidade é outro problema de difícil resolução. Devido a este factor o
dimensionamento das estruturas de madeira é muitas vezes condicionado pela
deformabilidade. Como forma de minorar esta desvantagem a madeira surge muitas vezes
associada a outros materiais mais rígidos como o betão ou o aço.

A dificuldade de execução das ligações é uma dificuldade significativa, mas tem sido minorada
com recurso a novas soluções e tecnologias, de entre estão por exemplo as ligações coladas e
os parafusos de grande comprimento.

2.4.2 Do material madeira aos produtos de construção

Um elemento de madeira não constitui por si só um produto de construção. Para que este
seja um produto de construção é necessário que tenha sido processado de acordo com as
regras estabelecidas na Directiva de Produtos de Construção. Segundo esta no presente ou no
futuro próximo todos os produtos para entrarem no mercado terão de possuir marcação CE.
Para tal é necessário que estes tenham sido processados de acordo com de acordo com as
normas Europeias aplicáveis ou de acordo com algum documento de aplicação técnica (ETA).

Este processamento pode incluir processos relativamente complexos conducentes à obtenção


de elaborados produtos derivados de madeira (ex: painéis) ou processos relativamente simples
constituídos essencialmente por selecção do material para obtenção de madeira classificada
(ex: madeira maciça).

2.4.3 Classificação de madeira

A classificação de madeira tem por objectivo a selecção e agrupamento de material com


características semelhantes de forma a obter lotes de material com propriedades, conhecidas
e mais homogéneas. Este processo não altera de forma nenhuma as características do material
somente agrupa em lotes com características semelhantes ou rejeita elementos sem aptidão

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 17


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

para finalidades estruturais. Neste documento será focada a classificação para fins estruturais,
adiante referida como classificação.

Figura 17 – Funções de densidade de probabilidade para madeira não classificada e madeira classificada em três
classes (a, b, c), (STEP, 1995)

Na Figura 17 são apresentadas as funções de densidade de probabilidade para madeira não


classificada e para a mesma madeira classificada em três classes. Facilmente se verifica,
através dos valores médios, característicos e dispersão da amostra) que a classificação permite
agrupar em lotes mais homogéneos, com menor variabilidade, e com propriedades individuais
superiores às da amostra global. Este procedimento, apesar de conduzir a alguma rejeição de
elementos com características muito más permite rentabilizar muito melhor o material.

Existem dois métodos de classificação, a classificação visual e a classificação mecânica.

A classificação visual tem por base a medição/avaliação das características visuais dos
elementos de madeira (inclinação das fibras, nós, anéis de crescimento, fissuras, descaio
etc...), sendo o mais importantes para efeitos de classificação por resistência a dimensão e
posição dos nós. O classificador inspecciona visualmente a peça e define de seguida a sua
classe.

A classificação mecânica tem por base a medição de determinadas características da madeira


através de meios mecânicos sem intervenção humana. As características a medir dependem
do método de classificação usado.

Ambos os processos de classificação apresentam vantagens e inconvenientes. A classificação


visual:

 Requer a classificação individual de cada peça por um classificador habilitado, que


tornam o processo relativamente caro e demorado
 Trata-se de um método não destrutivo
 Conduz a correlações baixas a moderadas entre as propriedades medidas e as
propriedades mecânicas
 O problema da variabilidade é somente parcialmente ultrapassado

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 18


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

A classificação mecânica:

 Requer equipamentos dispendiosos e que têm de ser sujeitos a calibrações


dispendiosas
 Permite melhorar bastante as correlações entre as características medidas e as
propriedades mecânicas
 Permite reduzir a variabilidade
 Quando implementado pode ser um processo expedito e relativamente barato

Em termos de classificação mecânica o método tradicional, e ainda hoje o mais usado consiste
em classificar a madeira com base no valor do módulo de elasticidade. Este é obtido por
aplicação de força determinada e medição da respectiva deformação ou vice versa (Figura
19Figura 18).

Figura 18 – Classificação mecânica baseada em flexão (STEP, 1995)

Nos últimos anos têm sido desenvolvidas outros métodos de classificação mecânica que
recorrem a técnicas distintas como por exemplo o raio X e gama, os ultrasons ou as
propriedades mecânicas dos elementos. No Quadro 2 são apresentadas as máquinas mais
usadas bem como as técnicas que usam, número de equipamentos em serviço (ano 2000) e a
velocidade de classificação.

Quadro 2 – Métodos de classificação mecânica (Thelandersson and Larsen, 2003)

Nome Técnica usada Nº equip. em Velocidade


serviço (2000) classificação
Computermatic/Micormatic Flexão 137 ≤105m/min
CookBoliner/Tecmach Flexão 66 ≤200m/min
EuroGrecomat Flexão 6 ≤120m/min
Raute Timgrader Flexão 19 ≤135m/min
CLT and 7200LS Flexão 59 ≤600m/min
Dart Flexão - ≤250m/min
Ersson ESG-240 Flexão 8 ≤200m/min
Newness XLG Raios X 25 ≤600m/min
Grademaster 403 Vibração longitudinal e massa 5 ≤20peças/min
Dynagrade Vibração longitudinal e ≤100peças/mi
30
scaning das faces n

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 19


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Os processos de classificação estão enquadrados por normas específicas que têm de ser
seguidas. Na Europa a norma aplicável é a EN 14081, parte 1 genérica para classificação visual
e mecânica e as partes 2, 3, 4 com requisitos específicos para classificação mecânica.

No caso da classificação mecânica a EN 14081 fornece toda a informação para os produtores


dos equipamentos de classificação poderem calibrar os equipamentos de forma a classificar a
madeira.

No caso da classificação visual associadas as estas normas é ainda necessário ter normas
específicas para cada tipo de madeira e zona de produção onde estão os limites exigidos para
as diferentes características a avaliar para cada uma das classes de qualidade (Ex: NP 4305 –
Classificação visual de madeira de Pinho bravo). Com base nestas normas a madeira é
agrupada em classes de qualidade às quais são atribuídas classes de resistência EN 1912.

De acordo com a EN 14081 toda a madeira


classificada tem de ser marcada. Essa
marcação deve conter a seguinte informação
organizada tal como indicado na Figura 19:

a)Identificação do produtor; c)Identificação


do organismo notificado; d)Classe de
resistência ou qualidade; e) Indicação se se
trata de classificação de madeira seca; f)
Código numérico que identifique a respectiva
Figura 19 – Marcação CE de madeira classificada
documentação

Regra geral considera-se para efeitos de classificação como teor de água de referência os 20%.

A madeira classificada que venha a ser alvo de qualquer tipo de processamento que altere as
dimensões da sua secção transversal tem de ser re-classificada. Processamento que altere as
sua dimensão na secção longitudinal não tem de ser re-classificada.

O processamento pode alterar a


proporção de alguma característica
que condicione de forma significativa
a resistência da secção.
Naturalmente, desse processamento
pode resultar uma alteração
significativa das propriedades
resistentes do elemento.
Figura 20 – Processamento de madeira classificada

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 20


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

2.4.4 Processamento e reconstituição

O processamento tem por objectivo a obtenção de elementos através do processamento


industrial do material. Numa primeira fase os troncos são processados de forma a obter
elementos de madeira de dimensões mais pequenas características predefinidas (ex: fibras,
partículas, folha de madeira, tábuas etc...). Numa segunda fase estes elementos são unidos
novamente com o objectivo de obter os elementos estruturais finais, por exemplo através de
colagem.

Durante este processo torna-se muito fácil seleccionar o material com melhores características
e rejeitar aquele que limitaria as propriedades resistentes dos elementos finais. Esta selecção
pode por exemplo passar pela classificação convencional de elementos de madeira maciça tal
como o que acontece no caso do lamelado colado. Este processamento tem ainda a vantagem
de no processo de reconstituição os defeitos são dispersos de forma aleatória o que é bastante
vantajoso porque elimina a concentração de defeitos que ocorre nos troncos (ex:
agrupamentos de nós).

Este processo é utilizado para produção de inúmeros produtos derivados de madeira, alguns
dos quais são apresentados no ponto C.

Estes processos contribuem directamente para por um lado aumentar as propriedades


resistentes dos produtos e por outro diminuir a variabilidade das suas propriedades
resistentes.

Como resultado observa-se uma diminuição da variabilidade de propriedades com o aumento


do nível de processamento tal como se apresenta no Quadro 3.

Quadro 3 – Relação entre o nível de processamento e a variabilidade das propriedades do produto

Produto Constituinte
Poste Madeira redonda
Processamento

Madeira maciça C Viga, barrotes ...


Lamelado-colado C Tábuas (10-50mm)
Variabilidade

LVL C Folha de madeira (1-5mm)


Contraplacado C Folha de madeira (2-4mm)
Aglomerado de partículas C Partículas
Aglomerado de fibras C Fibras

2.5 Propriedades mecânicas da madeira


2.5.1 Aspectos gerais

Uma determinada propriedade mecânica da madeira pode apresentar valores muitos distintos
dependendo de diversos factores, nomeadamente: quantilho estatístico que representa, teor
de água correspondente, proveniência de madeira com ou sem defeitos. Por esta razão,

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 21


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

quando se refere a valor de uma determinada propriedade da madeira este deve ser sempre
enquadrado.

Sob o ponto de vista do aluno de engenharia existem duas perspectivas possíveis: o


dimensionamento de estruturas, a modelação numérica de estruturas de madeira ou das
suas componentes.

Sob o ponto de vista do dimensionamento regra geral interessam os valores médios ou


característicos (quantilho 5% inferior) de madeira com defeitos para o teor de água de
referência (12%). Sob o ponto de vista de modelação interessam regra geral os valores médios,
nas condições correspondentes ao problema que se pretende modelar. No entanto em certos
casos podem interessar outros valores, nomeadamente na quantificação de acções em que
interessa o quantilho 5% superior.

Quando nada for dito em contrário ao falar de propriedades da madeira estão a referir-se
valores para o teor de água de referência (12%) de madeira com defeitos. Por defeito são
indicados valores característicos para as propriedades resistentes e valores médios para as
propriedades de rigidez e para a massa volúmica.

2.5.2 Ortotropia da madeira

Uma das mais importantes características da madeira é a sua ortotropia. As três direcções de
ortotropia são: longitudinal, radial e tangencial (Figura 22).

Tangencial

Radial

Figura 21 – Eixos de ortotropia do material madeira (Wood handbook, 1999)

A ortotropia da madeira tem significado ao nível dos vários tipos de propriedades do material,
nomeadamente: propriedades resistentes, propriedades de rigidez e propriedades físicas.

Em termos de propriedades mecânicas existem diferenças bastante significativas das


propriedades nas três direcções. Apesar disso essas diferenças são bastante mais acentuadas
entre a direcção longitudinal e as direcções, tangencial e radial. Acresce ainda as peças de
madeira são processadas segundo a direcção longitudinal dos troncos que coincide

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 22


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

aproximadamente com a direcção longitudinal de ortotropia. Por esta razão é fácil definir o
eixo longitudinal mas muito difícil definir os outros dois eixos. Por estes motivos
habitualmente só se distingue entre a direcção das fibras (longitudinal) e a direcção
perpendicular à direcção das fibras (radial e tangencial). Desta forma, na prática a madeira é
geralmente considerada como um material monotrópico.

Em termos de dimensionamento a madeira é aplicada sempre tratada como um material


monotrópico. Em termos de regulamento as propriedades correspondentes à direcção
longitudinal vêm afectadas de um índice 0 (ângulo de 0º com a direcção das fibras da
madeira), e as propriedades correspondentes à direcção perpendicular à direcção das fibras
vêm afectadas de um índice 90 (ângulo de 90º com a direcção das fibras da madeira).

Em termos de modelação pode ser relevante fazer a distinção entre as três direcções, para tal
deverá garantir-se que no elemento/componente que se pretende modelar as três direcções
são claramente conhecidas.

2.5.3 Propriedades de rigidez

Em termos de propriedades de rigidez interessam essencialmente três grupos de propriedades


módulos de elasticidade, módulos de distorção e coeficientes de poisson.

Por defeito quando se refere o módulo de elasticidade (E) refere-se o módulo correspondente
a flexão na direcção paralela às fibras, os módulos de elasticidade correspondentes a
compressão e tracção na direcção paralela às fibras são regra geral assumidos com igual valor.

O módulo de elasticidade da madeira é a propriedade que condiciona de forma mais


significativa a deformabilidade das estruturas. O seu valor varia entre 5000-6000 para algumas
espécies de cedro e os 20000 25000 para algumas espécies exóticas.

Para madeiras classificadas de acordo com as normas europeias às quais corresponde uma
classe de resistência os valores dos módulos de elasticidade podem ser encontrados na EN 338
B - Quadro A - 7 ou nas normas correspondentes para outros derivados de madeira, lamelado
colado B- Quadro A - 8, LVL B- Quadro A - 9. Para madeira não classificada, ou para a qual não
existam normas de classificação, no Wood handbook (Wood handbook, 1999)-Tabelas 4-3, 4-4,
4-5 são dados os valores dos módulos de elasticidade para um grande número de espécies ou
no caso de madeiras Nacionais no Livro Madeiras Portuguesas de Albino de Carvalho.

O módulo de elasticidade na direcção perpendicular à direcção das fibras (E90) apresenta


valores bastante inferiores. Estes não têm regra geral importância significativa, estes podem
no entanto ser estimados a partir dos módulos de elasticidade na direcção das fibras usando as
Equações 4 e 2 indicadas na EN 338.

E0 ,mean
E90 ,mean   Resinosas (4)
30

E0 ,mean
E90 ,mean   Folhosas (5)
15

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 23


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Em certas situações muito particulares (ex: modelação de ligações) pode ser necessário o valor
dos módulos de elasticidade na direcção radial e tangencial. No Wood handbook (Wood
handbook, 1999) Tabela 4-2 são dadas relações entre estes e o módulo de elasticidade na
direcção longitudinal.

O módulo de distorção (G)é outro dos parâmetro com interesse sob o ponto de vista de
engenharia. Em termos de dimensionamento regra geral as deformações por corte são
desprezadas, o módulo de distorção não é necessário. Quando estas não são desprezáveis
considera-se somente um valor médio função do valor médio do módulo de elasticidade tal
como indicado na EN 338 (Equação 4).

E0 ,mean
Gmean  (6)
16

O Wood handbook-Tabelas 4-1, 4-2 apresenta também relações entre os três módulos de
distorção (longitudinal-radial, longitudinal-tangencial e radial tangencial) e o módulo de
elasticidade na direcção longitudinal.

Tal como para o módulo de distorção o coeficiente de poisson ()é regra geral considerado
somente com o valor médio. Para a definição de um material ortotrópico são necessários os
seis coeficientes de poisson. O Wood handbook-Tabela 4-2 apresenta os seus valores para
várias espécies resinosas e folhosas.

2.5.4 Propriedades resistentes

As propriedades resistentes mais relevantes para finalidades estruturais são: tracção (ft)na
direcção paralela e perpendicular às fibras da madeira, compressão (fc) na direcção paralela e
perpendicular às fibras da madeira, flexão (fm) e corte (fv).

Comportamento da madeira em tracção na direcção paralela à direcção das fibras da madeira


(ft,0) é muito próximo do elástico linear, sendo geralmente assumido como tal. A rotura é
brusca ocorrendo de forma frágil (Figura 23). Esta é na esmagadora maioria das vezes causada
por uma interrupção das fibras da madeira, geralmente associada com defeitos (ex: nós,
desvio do fio). Em peças isentas de defeitos a rotura ocorre por esgotamento da capacidade
resistente em tracção das fibras.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 24


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Figura 22 – Curvas tensão-extensão para madeira solicitada em tracção e compressão (STEP, 1995)

A resistência em tracção é de difícil determinação através de ensaios experimentais, por essa


razão é geralmente obtida da resistência à flexão, tal como indicado por exemplo na EN 338
Equação (4).

ft ,0 ,k  0 ,6 fm,k (7)

Existem poucos ensaios experimentais para determinar esta propriedade. Em provetes sem
defeitos obtêm-se valores médios (espécies Americanas) que podem variar entre os 45MPa e
os 120 MPa (Wood handbook, 1999). Em provetes com defeitos podemos encontar valores
característicos entre 8 para madeira da classe C14 e 42 MPa para madeira da classe para D70.
Como se verifica da diferença entre os valores para madeira com e sem defeitos, esta
propriedade é afectada de forma significativa pela existência de defeitos, particularmente nós
e desvio das fibras.

Os valores desta propriedade para efeitos de dimensionamento podem ser encontrados nas
normas correspondentes, nomeadamente: madeira maciça B - Quadro A - 7 lamelado colado
B- Quadro A - 8, LVL B- Quadro A - 9.

A resistência à tracção na direcção perpendicular à direcção das fibras (ft,90) da madeira é


também uma propriedade difícil de determinar e que apresenta uma variabilidade elevada.
Acresce ainda que esta tem uma dependência muito forte de certos aspectos que são de difícil
controlo como a existência de fendilhação. Por estas razões, apesar de em madeira limpa se
obterem valores médios (espécies Americanas) entre 1,2 MPa para o Cedro e os 7,2MPa para
alguns tipos de Carvalho os valores usados em dimensionamento são bastante inferiores
(Wood handbook, 1999).

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 25


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A tracção na direcção perpendicular às das fibras è geralmente obtida através da massa


volúmica. Na EN 338 é dada a relação da Equação 4. É importante salientar o limite superior
que é permitido para esta resistência 0,6Mpa aproximadamente 50% do valor médio que é de
esperar para as espécies menos resistentes.

 0 ,6
ft ,90 ,k  min  (8)
0 , 0015k

Tal como a resistência à tracção na direcção paralela à direcção das fibras, a tracção na
direcção perpendicular à direcção das fibras também é influenciada de forma significativa pela
existência de defeitos.

Os valores desta propriedade para efeitos de dimensionamento podem ser encontrados nas
normas correspondentes, nomeadamente: madeira maciça B - Quadro A - 7 lamelado colado
B- Quadro A - 8, LVL B- Quadro A - 9.

Pelas suas características este tipo de esforço deve ser sempre evitado. Sempre que tal não
seja possível devem ser previstas disposições que permitam evitar a rotura frágil que lhe está
associada O.

A compressão na direcção paralela à direcção das fibras (fc,0) resulta da instabilização das
fibras da madeira, e não da sua rotura como na tracção. Este tipo de rotura conduz à formação
de novelos de fibras característicos (Figura 24). Em termos mecânicos a compressão na
direcção paralela à direcção das fibras apresenta um comportamento aproximadamente
elástico linear seguido de uma cedência em que se pode observar alguma capacidade de
deformação plástica.

Figura 23 – Rotura por compressão de um elemento de madeira

De uma forma geral a madeira solicitada em compressão segundo uma direcção paralela à
direcção das fibras, é considerada com um comportamento elástico linear até à rotura, no
entanto também pode ser considerada com um comportamento elasto-plástico. A sua

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 26


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resistência é obtida em ensaios experimentais ou alternativamente função da resistência à


flexão (Equação 4).

fc ,0 ,k  0 , 5  fm ,k 
0 ,45
(9)

Em provetes sem defeitos obtêm-se valores médios (espécies Americanas) que podem variar
entre os 27 MPa e os 70 MPa (Wood handbook, 1999). Em provetes com defeitos podemos
encontrar valores característicos entre 16 MPa para a classe C14 e 34 MPa para a classe D70.

Os valores desta propriedade para efeitos de dimensionamento podem ser encontrados nas
normas correspondentes, nomeadamente: madeira maciça B - Quadro A - 7 lamelado colado
B- Quadro A - 8, LVL B- Quadro A - 9.

A compressão na direcção perpendicular à direcção das fibras (fc,90), caracteriza-se por


assumir valores bastante mais baixos que o mesmo esforço segundo a direcção das fibras e
apresentar grandes capacidades de deformação plástica. Esta capacidade de deformação
plástica resulta de processos de densificação do material que ocorrem durante o ensaio. Em
dimensionamento regra geral considera-se este tipo de solicitação com um comportamento
elasto-plástico.

Verifica-se que esta resistência é influenciada de uma forma muito significativa pela forma
como os carregamentos são aplicados. Quanto maior for a área de aplicação da carga em
proporção da área total do elemento, maior será a resistência correspondente. Os resultados
experimentais indicados na Figura 25 demonstram claramente esse efeito. Os resultados
apresentados mostram um acréscimo superior a 100% função da relação entre a área de carga
e a área de apoio.

Figura 24 – Resistência à compressão na direcção perpendicular à direcção das fibras função da superfície de
aplicação das cargas

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 27


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Esta propriedade é geralmente obtida a partir do valor da massa volúmica do material. Na EN


338 estão definidas duas relações: uma para madeira de resinosas e outra para madeira de
folhosas (Equação 4).

0 , 007k  Re sinosas
fc ,90 ,k   (10)
 0 , 015k  Folhosas

Em provetes sem defeitos obtêm-se valores médios (espécies Americanas) que podem variar
entre os 2 MPa e os 20 MPa (Wood handbook, 1999). Em provetes com defeitos podemos
encontrar valores característicos entre 2 MPa para a classe C14 e 13,5 MPa para a classe D70.
Para esta espécie propriedade verifica-se uma diferença entre valores médios e valores
característicos muito inferior às restantes propriedades, especialmente de tracção. Tal deve-se
a vários aspectos, como a pouca influência da existência de defeitos e a capacidade de
deformação plástica da madeira sujeita a este tipo de esforço.

Os valores desta propriedade para efeitos de dimensionamento podem ser encontrados nas
normas correspondentes, nomeadamente: madeira maciça B - Quadro A - 7 lamelado colado
B- Quadro A - 8, LVL B- Quadro A - 9.

Em termos de resistência ao corte (fv)é necessário distinguir duas situações: corte definido
segundo um plano paralelo à direcção das fibras (corte convencional) e corte definido segundo
um plano perpendicular à direcção das fibras (“rolling shear”). A resistência ao corte
convencional é a mais frequente apresentando valores superiores aos do rolling shear.

Figura 25 – Corte – “rolling shear”

A resistência ao corte é geralmente obtida a partir do valor da resistência à flexão. Na EN 338


indica-se o seu cálculo através da Equação 4.

 3 ,8
fv ,k  min  (11)
0 ,2  fm ,k 
0 ,8

Em provetes sem defeitos obtêm-se valores médios (espécies Americanas) que podem variar
entre os 3 MPa e os 16 MPa (Wood handbook, 1999). Em provetes com defeitos podemos
encontrar valores característicos entre 2 MPa para a classe C14 e 6,0 MPa para a classe D70.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 28


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2.5.5 Propriedades diferidas

A fluência, aumento da deformação para um nível de carga constante, tem uma grande
importância no caso da madeira. Na Figura 27 apresentam-se curvas de deformação devida a
fluência ao longo do tempo em ligações de madeira com placas denteadas.

Ensaio
Modelo

Aneis denteados

Tempo (dia)

Figura 26 – Curvas deformação tempo para ligações de madeira

Facilmente se verifica que a deformação devida à fluência pode ao fim vários anos ser várias
vezes superior às deformações elásticas iniciais.

Os níveis de fluência a que uma determinada estrutura está sujeita dependem de vários
factores, particularmente de: duração da carga, teor de água, temperatura, variações das
condições climáticas (humidade relativa e temperatura), e nível de tensão (Figura 27).

>30% ►=12%

=12% ► >30%
=12%
>30%

Figura 27 – Influência das condições climáticas e do nível de tensão na fluência (STEP, 1995)

A fluência aumenta com o período de duração dos carregamentos. Esta aumenta também de
forma significativa com a temperatura e teor de água, esta influência aumenta ainda de forma
significativa se o material estiver sujeito a ciclos climáticos (ex: variação sazonal das humidades
relativas e temperaturas). Outro aspecto de grande importância é o nível de tensão instalado.
Para níveis de tensão até aproximadamente 35% dos correspondentes aos níveis de tensão
resistente instantânea (próximos dos níveis que são de esperar para a estrutura em serviço) a
fluência é aproximadamente constante, considerando-se por isso linear. Para níveis de tensão
superiores a fluência deixa de ser linear podendo mesmo conduzir à rotura dos elementos.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 29


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Para níveis de tensão elevados e durações de carregamento longos a fluência passa a ser não
linear. Nessa situação a rotura pode ser influenciada de forma significativa. Têm sido
realizados muitos estudos com o objectivo de avaliar a influência deste aspecto na resistência
da madeira. O objectivo principal desses estudos é o de conhecer o tempo até à rotura para
um determinado nível de carga e dessa forma obter informação que permita relacionar os
níveis de tensões máximos admissíveis com as durações dos respectivos carregamentos.

Estes estudos são de difícil realização e os seus resultados de difícil interpretação devido à
grande quantidade de aspectos que os influenciam e à variabilidade sempre associada a todas
as propriedades da madeira. Um dos primeiros e mais conhecidos foi realizado na década de
40 do século passado nos Estados Unidos da América com o objectivo de avaliar os
decréscimos de resistência associados com a duração do carregamento em madeira limpa.
Com base nestes foram estabelecidas curvas que relacionam a duração da carga com a
resistência (Figura 29) que ficaram conhecidas como as “curvas de Madison”.

Figura 28 – Variação da resistência com a duração da carga (STEP, 1995)

Dos resultados é possível verificar que para carregamentos muito longos a redução da
capacidade resistente pode chegar aos 60%.

2.5.6 Influência do teor de água nas propriedades mecânicas

A teor de água da madeira influência de forma significativa as suas propriedades mecânicas.


Na Figura 30 e Quadro 4 é apresentada a variação de várias propriedades mecânicas da
madeira na zona habitual de serviço das estruturas (teor de água a variar entre 8-20%).

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 30


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Resistência à compressão (MPa)

Resistência à tracção (MPa)


Property
Propriedade (MPa) (MPa)
resistente

Teor de àgua (%) Teor de àgua (%)


A - Tracção paralela à direcção das fibras;
B - Flexão;
C - Compressão paralela à direcção das fibras;
D - Compressão perpendicular à direcção das fibras;
Teor de àgua
Moisture (%)(%)
content E - Tracção perpendicular à direcção das fibras
A – TensionFigura 29to–the
parallel Variação – Bending;
grain; Bdas C – Compression
propriedades resistentes com o teor de água (Wood handbook, 1999)
parallel to the grain; D – Compression perpendicular to the
grain; E – Tension perpendicular to the grain
Quadro 4 – Variação das principais propriedades mecânicas da madeira com a variação do teor de água( variacçõ
por 1% de variação do teor de água)

Propriedade Variação (%)


Compressão na direcção paralela à direcção das fibras 5
Compressão na direcção paralela à direcção das fibras 5
Flexão 4
Tracção na direcção paralela à direcção das fibras 2,5
Tracção na direcção perpendicular à direcção das fibras 2
Corte 3
Flexão (impacto) 0,5
Módulo de elasticidade 1,5
Facilmente se verifica da Figura e do Quadro que poderemos ter em muitas situações
variações muito significativas das propriedades resistentes com o teor de água, que para
esforços importantes como a flexão ou compressão na direcção das fibras pode significar
reduções superiores a 50%. É importante referir que os valores apresentados dizem respeito a
propriedades de madeira limpa, isenta de defeitos. Em madeira com defeitos é de esperar que
esta redução seja bastante menor devido à redução que è induzida por estes.

2.5.7 Efeito de volume

Em ensaios experimentais verifica-se que a resistência da madeira a certos tipos de esforços


aumenta com a diminuição da dimensão das peças, este fenómeno é denominado de efeito de
volume.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 31


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Figura 30 – Relação entre resistência à tracção e o volume das peças (Therlandanson e Larson, 2003)

Existem diversas teorias para explicar este fenómeno, como a rotura frágil pela zona mais
fraca, gradientes significativos na distribuição no interior dos elementos resultado de rigidezes
diferenciais no interior destes, ou o facto de defeitos com grande influência neste tipo de
esforço (ex: fendas) serem maiores em peças de maior dimensão.

Geralmente assume-se que o efeito de volume é explicado pela da teoria do elo mais fraco.
Admitindo uma rotura perfeitamente frágil logo que exista rotura nalguma zona existirá rotura
em todo o elemento. Nesta situação podemos imaginar o elemento estrutural como uma
cadeia de elos de uma corrente. No momento em que ocorrer a rotura de um deles (o elo mais
fraco) a corrente deixa de transmitir força, atinge-se a rotura, logo esta é directamente
condicionada pela resistência do elo mais fraco.

Assumindo uma dada distribuição estatística para as propriedades resistentes de cada elo da
corrente, quanto maior for o número de elos maior será a probabilidade de existir entre eles
um de resistência baixa. Voltando ao elemento de madeira, quanto maior for o volume da
peça, maior será a probabilidade de existir um defeito que reduza de forma significativa a
resistência à tracção de uma determinada zona (o elo mais fraco).

2.6 Durabilidade
2.6.1 Aspectos gerais

Na durabilidade das estruturas de madeira têm de ser consideradas duas situações distintas:

 Deterioração do material que pode afectar de forma mais ou menos significativa as


suas propriedades mecânicas.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 32


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 Deterioração superficial que afecta a sua aparência mas que não afecta de forma
significativa as suas propriedades mecânicas.

Os principais agentes destrutivos da madeira são organismos biológicos. Estes são


essencialmente, de um de três tipos:

 Fungos

 Insectos

 Xilófagos marinhos

O risco de ataque destes agentes varia de forma muito significativa com a espécie de madeira
e as condições de aplicação da mesma.

2.6.2 Fungos

Os fungos são vegetais que se desenvolvem na madeira destruindo os seus constituintes, e


consequentemente a sua estrutura celular.

As condições necessárias para o desenvolvimento dos fungos na madeira são a existência de


ar, e de água. A inexistência de qualquer destas duas condições impede o desenvolvimento
dos mesmos. Por esta razão o risco de ataque ocorre para teores de água entre 20% e os
30%.

Abaixo o desenvolvimento dos fungos é a falta de água, acima deste valor não existe ar uma
vez que os vazios começam a estar preenchidos com água. Daqui resulta que em madeira seca
ou emersa em água não existe o risco de ataques devido a fungos.

Por outro lado em madeira de zonas de fronteira em termos de humidade (sujeita a


humidificações e desumidificações) existe um risco elevado. O risco de ataque depende
também de forma significativa do tipo de madeira e do facto de ser proveniente de cerne ou
de borne O.

Dependendo do tipo de fungo o seu ataque pode resultar, apenas, numa degradação das
propriedades mecânicas ou somente na degradação da aparência do material, através do
aparecimento de manchas e bolores.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 33


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Figura 31 – Exemplo de ataque por fungos

2.6.3 Insectos

Constituem um risco para a madeira todo o tipo de insectos que se alimentem desta. De entre
estes destacam-se os carunchos e as térmitas. Estes podem atacar madeira seca ou madeira
húmida, só não existe risco em madeira emersa por falta de oxigénio.

O risco de ataque por insectos varia de forma significativa com a zona geográfica em que se
localiza a estrutura. Ao nível da Europa, os riscos mais elevados ocorrem nos países do Sul
(Quadro 5).

Quadro 5 – Risco de ataque por insectos nos diversos países Europeus (STEP, 1995)

As térmitas iniciam o seu ataque da madeira a partir de madeira infectada ou do solo. Como
tal deve ser sempre evitado o contacto entre a madeira e o solo, interpondo sempre que
possível barreiras entre estes que não possam ser ultrapassadas pelas térmitas (ex: betão,
chapa metálica). As térmitas têm muitas dificuldades quando têm de se expor à luz solar, razão
pela qual a exposição dos diferentes caminhos solo-madeira à luz solar pode ser suficiente
para impedir o seu acesso à madeira O.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 34


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Figura 32 – Exemplos de ataques por insectos

2.6.4 Xilófagos

Estes agentes biológicos (ex: crustáceos e moluscos) destroem madeira emersa em água
salgada. São particularmente sensíveis as zonas de flutuação das marés.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA 35


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3 Produtos de Construção Derivados de Madeira


3.1 Madeira maciça

A madeira maciça é o produto de madeira


com um nível de processamento mais baixo,
e por essa razão o mais antigo como material
de construção.

Originalmente os troncos de árvore eram


usados directamente sem qualquer
processamento. Com o aumento dos níveis
de exigência o uso directo dos troncos deixou
de ser viável tendo-se optado por secções
rectangulares. Estas permitem uma melhor
integração entre os diferentes elementos
além de facilitarem bastante as ligações.

Figura 33 – Secção transversal de madeira maciça

A madeira maciça antes de poder ser usada como material de construção tem de ser sujeita a
vários processos de processamento. Estes visam produzir elementos com os comprimentos e
secções transversais desejadas e com um teor de água apropriado para a aplicação em causa
C. A este processamento acresce ainda a necessidade de ser sujeita a um processo de
classificação e marcação de acordo com a normalização correspondente C.

A madeira após classificação através de uma norma apropriada pode imediatamente ser
associada a uma classe resistente, nomeadamente através da EN 1912. A cada classe
resistente estão associadas um conjunto de propriedades mecânicas definidas na EN 338 que
fornecem ao utilizador/projectista a informação necessária para aplicação em termos de
estruturas Quadro A - 7.

Em termos de aplicação na construção a madeira maciça apresenta alguns pontos fortes e


mais fracos, nomeadamente:

 Baixo custo

 Bom desempenho mecânico

 Boa trabalhabilidade

 Variações dimensionais significativas

 Grande variabilidade de propriedades mecânicas e dimensionais

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 36


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 Limitações em termos de secções transversais e comprimentos máximos

O uso de madeira maciça como material estrutural tem perdido importância com o
desenvolvimento de novos produtos derivados de madeira que permitem ultrapassar algumas
destas dificuldades.

Figura 34 – Exemplos de estruturas com madeira maciça

A madeira maciça é aplicada em todo o tipo de construções, nomeadamente paredes,


pavimentos, coberturas, pontes. Pelas suas características a madeira maciça o tipo de
aplicação em que este produto é mais competitivo são as coberturas de pequeno médio vão.

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 37


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3.2 Lamelado-colado

O uso de madeira colada é bastante


antigo. No entanto o aparecimento do
lamelado-colado com características
semelhantes ao que conhecemos hoje
surgiu somente no inicio do sec. XX
(1906) quando o Sr. Otto Hetzer
obteve uma patente para construções
de madeira colada.

Obtida por colagem de lamelas com


espessuras entre 15mm e 50mm. O
comprimento das, peças varia entre
1,5 e 5m sendo estas coladas nos
topos (finger joints). Dado o seu
processo de fabrico torna-se bastante
fácil a produção de elemento com
eixo curvo, sendo os raios de
curvatura directamente dependente
da espessura das lamelas. Figura 35 – Secção transversal de lamelado colado

A aparência do lamelado-colado depende obviamente da aparência da madeira usada, mas


também da cola usada na sua produção. Quando são usadas colas escuras (ex: resorcinol
formaldeído) as linhas de colagem e as ligações de topo são facilmente identificadas. Quando
se usam colas claras (ex: melanina ou poliuretano) estes pontos não são tão facilmente visíveis
e o aspecto do lamelado colado assemelha-se mais ao da madeira maciça.

O lamelado colado apresenta diversas vantagens relativamente à madeira maciça,


nomeadamente:

 Dimensão das peças que na prática podem ir até alturas de 2m e comprimentos de


40m.
 Maior estabilidade dimensional dos elementos estruturais
 Possibilidade de produção com formas variadas (ex: peças curvas ou de altura variável)
 Menor variabilidade das propriedades mecânicas e características dimensionais
quando comparado com a madeira maciça
 Resistências superiores às da madeira maciça

Devido ao seu processo de produção o lamelado-colado permite em teoria a obtenção de


comprimentos de qualquer dimensão, na prática por razões logísticas (produção transporte)
geralmente limitadas a comprimentos até aos 40m e alturas até aos 2m.

Dado que as peças serão coladas de forma aleatória, as direcções preferenciais de retracção C
não vão coincidir. Logo a retracção global das peças é limitada uma vez que estas se
restringem mutuamente. Deste facto resultam também menores desvios dimensionais.

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 38


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Figura 36 – Variações dimensionais no lamelado colado

A colagem aleatória das lamelas é também favorável em termos de propriedades mecânicas.


Por um lado os defeitos que condicionam de forma mais significativa essas propriedades C
estão distribuídos de uma forma mais uniforme pelas diferentes secções. Por outro lado as
zonas mais fracas têm a possibilidade de redistribuir parte dos esforços por outras
zonas/lamelas. Na Figura 38 são apresentadas funções de densidade de probabilidade para
lamelado colado e madeira maciça.

Diferença nos valores Diferença nos valores


Frequência
característicos médios

Lamelado-
colado

Madeira-
maciça

Resistência

Figura 37 – Funções de densidade de probabilidade para madeira maciça e lamelado-colado (Thelandasson e


Larsen, 2003)

Da análise da figura torna-se clara a menor variabilidade de propriedades de resistência do


lamelado-colado em relação à madeira maciça. Da Figura é também evidente que tanto os
valores médios como os valores característicos são bastante superiores para o lamelado
colado quando comparados com a madeira maciça. Esta relação não é no entanto linear pois
quando se colam madeiras de classes de resistência mais elevada, a resistência dos “finger
joints” que são um ponto fraco do lamelado-colado começam a influenciar de forma mais
significativa a resistência dos elementos.

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 39


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A classe de resistência da madeira lamelada colada depende da classe de madeira que lhe deu
origem. Podendo ser lamelado-colado homogéneo quando obtido por colagem de madeira
toda da mesma classe ou lamelado-colado combinado se colada com madeira de duas classes
de madeira distintas, com a madeira de classe superior nas extremidades do elemento.
exemplos de relações entre as classes de resistência de madeira maciça e de lamelado-colado
obtido a partir desta são definidas na NP EN 1194 (2002) e são as indicadas no Quadro 6.

Quadro 6 – Exemplos de relações entre a resistência da madeira maciça e da madeira lamelada colada obtida a
partir desta

Classe de resistência
GL24 GL28 GL32
Lamelado-colado homogéneo C24 C30 C40
Lamelado-colado combinado:
C24/C18 C30/C24 C40/C30
lamelas exteriores/interiores C
As propriedades resistentes de cada uma das classes de lamelado-colado são indicadas na
mesma Norma e estão apresentadas no Quadro A - 8.

Figura 38 – Exemplos de coberturas com lamelado colado

O lamelado colado é aplicado em todo o tipo de estruturas de madeira, mas dadas as suas
características torna-se particularmente competitivo em coberturas, nomeadamente através
de vigas planas, vigas curvas, vigas de pendente ou sistemas treliçados (Figura 39).

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 40


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3.3 Micro-laminado LVL

O micro-laminado (LVL) surgiu durante a


década de 60 do século passado, no entanto
a sua produção em maior escala ocorreu
somente durante a década de 80 do mesmo
século. O desenvolvimento deste produto
levou ao aparecimento de diversas marcas
comerciais, nomeadamente: Micro=Lam nos
EUA, Kerto na Finlâdia, e o Parallam no
Canadá.

Figura 39 Secção transversal de LVL

O LVL é obtido por colagem de folha de madeira com espessuras geralmente entre 1 e 5mm.
Pelas suas funções estruturais a folha e colada essencialmente segundo uma direcção de
forma a maximizar as suas propriedades resistentes. Estas propriedades bem como as espécies
de madeira usada variam consoante a marca comercial em causa.

O LVL apresenta vantagens e inconvenientes semelhantes às do lamelado-colado. No entanto,


devido ao nível superior de processamento ambas são ainda de uma forma geral mais
evidentes. Sendo que o facto de existir a possibilidade de colagem de folha com fibras nas
duas direcções trás ainda algumas facilidades adicionais. De entre estas destacam-se:

 Maiores resistência e menor variabilidade de propriedades que lamelado colado


 Maior aproveitamento do material e maior facilidade de obtenção de geometrias
complexas
 Maior facilidade de execução das ligações
 Menores problemas associados com tracção paralela às fibras da madeira
 Custo mais elevado que o lamelado-colado
Na Figura 41 são apresentadas as resistências características da madeira maciça, lamelado
colado e LVL.

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 41


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Figura 40 – Propriedades resistentes da madeira maciça (C24), lamelado-colado (GL32) e LVL (STEP, 1995)

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Figura 41 – Exemplos de estruturas com LVL

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 42


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As aplicações do LVL são semelhantes às da madeira maciça ou do lamelado colado, sendo


muito usado em coberturas. As características do LVL tornam o seu uso possível em coberturas
em sistema de casca.

3.4 Outros produtos para funções estruturais e construtivas


Além dos produtos de madeira e derivados de madeira que são utilizados essencialmente um
funções estruturais existem outro tipo de produtos derivados de madeira também usados em
funções estruturais mas cuja função principal na esmagadora maioria das situações não é essa.
De seguida são apresentados alguns desses produtos, nomeadamente as suas características e
aplicações principais.

O lamelado cruzado de madeira XLAM


obtêm-se por colagem de tábuas de madeira
em direcções ortogonais de forma a obter
painéis de grandes dimensões. Este produto
caracteriza-se por ter boas propriedades
mecânicas nas duas direcções do plano dos
painéis e elevada estabilidade dimensional.
Este tipo de produto é usado para
construções de edificações sendo usado nos
elementos estruturais e nos elementos
construtivos, permitindo uma construção
pré-fabricada com períodos de execução
muito reduzidos.

Dada a existência de madeira colada nas duas


direcções ortogonais as ligações tornam-se
bastante eficientes e de fácil execução. Têm
sido realizados estudos que demonstram a
sua aptidão para construção de edifícios de
vários andares mesmo em zona sísmicas. É
dos produtos derivados de madeira cuja
utilização em construção mais tem
aumentado nos últimos anos.

O contraplacado é obtido for colagem de


folha de madeira com espessuras entre os
2mm e os 4mm. As folhas são coladas
alternadamente em direcções ortogonais o
que garante além de boas resistências e
propriedades mecânicas uma grande
estabilidade dimensional e uma boa
resistência segundo as duas direcções
contidas no plano do painel. As propriedades

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 43


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do material dependem muito do tipo de


madeira e cola usadas na sua produção

O OSB painéis de partículas longas


orientadas e obtido por prensagem e
colagem de fibras longas de madeira. Apesar
de ser um aglomerado de partículas
apresenta propriedades mecânicas bastante
boas sendo por isso muitas vezes usados em
funções estruturais.

Existem muitos tipos de aglomerados de


partículas, as suas propriedades dependem
bastante das características das partículas
usadas e das propriedades da cola. As
propriedades mecânicas deste tipo de painéis
são medias a baixas sendo por isso pouco
usada em aplicações estruturais. A
esmagadora maioria destes produtos não
deve ser usada em condições de climáticas
exigentes (humidades relativas elevadas) pois
deterioram-se rapidamente.

Os aglomerados de fibras são obtidos por


prensagem e colagem de fibras de madeira.
Regra geral apresentam propriedades
mecânicas baixas não sendo por isso
indicados para funções estruturais. tal como
os aglomerados de partículas não devem ser
usados em ambientes com humidades
relativas elevadas. Este tipo de produto surge
muitas vezes em produtos associados com
outros materiais como os plásticos
(pavimentos flutuantes).

Os aglomerados madeira-cimento são um


dos mais recentes derivados de madeira. São
obtidos a partir da junção de fibras de
madeira com pasta de cimento. Apresentam
boas propriedades mecânicas e uma
durabilidade compatível com aplicações em
ambientes exteriores. por esse motivo têm
sido usados em revestimento de fachadas de
edifícios, sendo um bom exemplo a fachada

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 44


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de vários dos edifícios do Polo III da


Universidade de Coimbra.

PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO DERIVADOS DE MADEIRA 45


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4 Ligações em Estruturas de Madeira


4.1 Aspectos gerais
Nas estruturas de madeira as ligações são um ponto essencial. Num grande número de
situações as ligações são o elemento condicionante em termos de dimensionamento. Apesar
da sua importância estas são um dos aspectos de mais difícil análise e concepção ao nível
deste tipo de estrutura.

4.2 Tipos de ligações


A ligações usadas nas estruturas de madeira podem ser agrupadas em três tipos distintos:

 Os ligadores tipo cavilha são os ligadores mais comuns em estruturas de madeira.


Estes ligadores caracterizam-se por transmitirem esforços essencialmente por com
flexão.

 Os ligadores de contacto são ligadores/ligações que transmitem os esforços


essencialmente através de contacto entre elementos de madeira ou elementos
metálicos e elementos de madeira.

 Os ligadores químicos são ligações/ligadores em que a ligação é realizada através de


colagem directa dos elementos de madeira ou indirecta através de ligadores
metálicos.

Sendo o ligador tipo cavilha o tipo mais vulgar de ligação é aquele para o qual existe um maior
número soluções comerciais, as mais importantes das quais se apresentam de seguida.

Os pregos (nails) são o ligador metálico

com maior aplicação. Em termos de


geometria os pregos podem ser circulares
(round) ou quadrados (square). em termos de
acabamento superficial podem ser lisos
(smooth) ou nervurados (treathed). Podem
ser aplicados manualmente ou
mecanicamente com recurso a ar
comprimido. Na norma Portuguesa NP280
são indicadas algumas das geometrias mais
comuns para os pregos disponíveis
comercialmente B - Quadro A - 12.

LIGAÇÕES 46
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Os agrafos (staples) têm características


mecânicas semelhantes às dos pregos. Estes
têm a forma de U e são sempre aplicados de
forma automática, geralmente através de ar
comprimido. Têm capacidades resistentes
relativamente reduzidas mas são económicos
e de fácil e rápida aplicação.

Os parafusos de porca (bolts) caracterizam-


se por terem uma cabeça e uma rosca na
outra extremidade na qual é aplicada uma
porca. Este tipo de ligadores apresenta
capacidades resistentes elevadas tanto de
corte como axiais. A sua aplicação tem de ser
sempre precedida de pré-furação, no entanto
esse custo adicional é parcialmente
compensado pelo facto de serem necessários
menos ligadores por ligação.

Os parafusos são semelhantes aos pregos


mas dispõe de rosca em todo ou parte do seu
comprimento que permite melhorar muito a
capacidade resistente axial. Podem ser
aplicados manual ou mecanicamente. Estão
disponíveis em diâmetros que podem ir dos
2-3mm até 30mm ou mais. Em termos de
comprimentos podem ir desde os 10-20mm
até aos 600mm ou mais. Os diâmetros e
comprimentos mais elevados têm de ser
aplicado com equipamentos especiais de
forma a garantir uma correcta aplicação.
Associam uma fácil aplicação a uma
resistência a cargas axiais elevada.

As cavilhas são muito parecidas em termos


de características com os parafusos de porca,
mas não dispõe de cabeça nem rosca para
aplicação de porca, pelo que não têm
capacidade de transmissão de cargas axiais.
Tal como os parafusos de porca apresentam
capacidades resistentes ao corte elevadas.
Regra geral são preferidas em situações em
que não existe necessidade de aperto axial
uma vez que são mais económicas e na maior

LIGAÇÕES 47
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

partes das situações esteticamente mais


agradáveis. Em muitas situações nas ligações
este ligador e aplicado em associação com
parafusos de porca.

Os ligadores de contacto podem ser também agrupados em dois grupos distintos, ligações que
recorrem ao uso de ligadores metálicos e ligações tradicionais de carpinteiro, realizadas
essencialmente através de entalhes na madeira. De seguida são apresentados alguns exemplos
desses tipos de ligações.

Placas denteadas

Anéis

Placas circulares

Chapas denteadas

LIGAÇÕES 48
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Placas pregadas

Ligações de carpinteiro

As ligações químicas são o tipo de ligação mais eficiente sob o ponto vista mecânico. No
entanto este tipo de ligação requer um rigoroso controlo de qualidade de forma a garantir
uma adequada fiabilidade da ligação, dado o seu comportamento altamente frágil.

As ligações químicas (colagens) têm sido usadas com grande sucesso para produção de
lamelados colados. Nalgumas situações são usadas para colar elementos de lamelado-colado
recorrendo a “finger joints” de grandes dimensões (Figura 43).

Figura 42 – Nós de ligações viga pilar em pórticos de madeira a- finger joints, b-glued in bolts c -

Os ligadores químicos surgem também por vezes associados a ligadores metálicos sendo a
situação mais vulgar os “glued in bolts” varões inseridos numa pré-furação de maior diâmetro
cujo a folga é preenchida com químico (Figura 42).

LIGAÇÕES 49
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

As ligações coladas são eficientes quando não existem concentrações de tensões significativas.
Como nessas situações a resistência da colagem é igual ou superior à menor tensão resistente
esta constitui uma solução eficiente. As ligações coladas apresentam quase sempre rigidezes
bastante elevadas, o que constitui mais uma vantagem significativa.

As ligações coladas apresentam, no entanto, algumas desvantagens importantes. Entre estas


destacam-se: uma grande sensibilidade a incorrectas aplicações, controlo de qualidade
complexo, comportamento regra geral frágil. Por estas razões a aplicação prática deste tipo de
ligação está altamente restringido.

Este tipo de ligação só deve ser produzido em fábrica onde é possível garantir correctas
condições de aplicação e um adequado controlo de qualidade.

4.3 Capacidade de carga de uma ligação isolada


4.3.1 Modelos de cálculo

A capacidade resistente de ligações com ligadores tipo cavilha, è determinada com base em
equações resultantes de uma análise plástica limite vulgarmente conhecida por teoria de
Johansen (investigador que primeiro as propôs em 1949, Johansen, 1949) ou modelos de
cedência Europeus. Nesta abordagem existem dois tipos de cedência possíveis (Figura 44):

 Formação de rótula plástica no ligador metálico quando é atingido o momento de


cedência plástica (My,Rk)

 Cedência na madeira por esmagamento do material quando è a atingida a tensão de


esmagamento (fh,k)

1
2

My,Rk

fh,1,k
s
fh,1,k
fh,2,k
s
Figura 43 – Deformação plástica no ligador e esmagamento na madeira

LIGAÇÕES 50
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Para cada tipo de ligação são identificados os modos de colapso possíveis, é determinada a
carga de rotura correspondente a cada um deles assumindo um comportamento rígido
plástico perfeito (Figura 45). Esta simplificação permite simplificar bastante os cálculos
introduzindo um erro bastante pequeno. A capacidade resistente da ligação è então dada pela
menor dos valores obtidas para todos os modos de colapso.

1 1 1 1 1 1
2 2 2 2 2 2

Figura 44 – Exemplo de modos de rotura para uma ligação madeira-madeira em corte simples

A carga de colapso a cada um dos mecanismos pode ser obtida por equilíbrio estático no
ligador, ou alternativamente através do método dos trabalhos virtuais. Considerando o
exemplo de uma ligação madeira-madeira em corte simples e para o quarto modo de colapso
indicado na Figura 45 as tensões de cedência indicadas na Figura 46.

Fv,Rk
1
2

My,Rk

fh,1,k
s
fh,1,k
fh,2,k
s
Fv,Rk
fh,1,k fh,2,k
My,Rk
fh,1,k
a1 a1 b1 b2

Figura 45 – Distribuições de tensões para um modo de colapso

LIGAÇÕES 51
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Estabelecendo as correspondentes equações de equilíbrio estático (equilíbrio de momentos e


equilíbrio de forças verticais), podemos determinar a correspondente carga de colapso.

Mmax  V  0  fh ,1 ,k db1  fh ,2 ,k db2  b1  b2



 b2  b a   3a 
My ,d   fh ,2 ,d d 2 fh ,1 ,d d  b1  a1   b2  1 1   fh ,1 ,d da1  b1  b2  1 
 2  2   2 
t b
Substituindo  a1  1 1
2
2 t 2 M 4
b12  t1 b1  1  y ,d 0
2 2   fh ,1 ,d d 2   (12)

t1  4  2    My ,d 
b1   2 1       e Fv ,Rk  fh ,1 ,d db1
2 2
fh ,1 ,d dt1 
 

fh ,1 ,d t1  4  2    My ,d 
Fv ,Rk   2 1      
2  2
fh ,1 ,d dt1 
 

4.3.2 Efeito de ferrolho “rope effect”

Os modelos obtidos desta forma não têm em consideração efeitos importantes como o atrito
ou o efeito de ferrolho “rope efect” (Figura 47). Este efeito pode ter uma importância
significativa como se torna claro das curvas força-deslocamentos indicadas na Figura 47 para
ligações madeira-betão com diferentes capacidades resistentes axiais.

FAx,Rk

kFv,Rk FAx,Rk

Figura 46 – Efeito de ferrolho “rope effect” nas ligações de madeira

LIGAÇÕES 52
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35

30

25
Força (kN)

20

15

10 fastener end fixed to the timber


friction timber steel = 0.9
5 friction timber steel = 0.5
friction timber steel = 0.1
0
0 2 4 6 8 10
Deslocamento (mm)

Figura 47 – Curvas força deslocamento para ligações madeira-betão com diferentes capacidades resistentes axiais

Estes efeitos têm de ser considerados de forma independente destes modelos. Nestes
modelos é essencial conhecer as propriedades resistentes dos ligadores (momento de
cedência plástica), e da madeira (resistência ao esmagamento).

4.3.3 Resistência ao esmagamento

A resistência ao esmagamento é a resistência que dado elemento de madeira apresenta


quando sujeito a uma tensão concentrada introduzida por um ligador metálico. Esta
resistência não depende somente da madeira, mas também do ligador usado. Quanto maior
for o diâmetro do ligador menor será esta resistência, no limite teremos para um ligador com
um diâmetro infinitamente grande a resistência à compressão.

Figura 48 – Ensaio para determinação da resistência ao esmagamento da madeira

A resistência ao esmagamento apresenta uma boa correlação com a massa volúmica da


madeira. Em principio quanto maior for a massa volúmica da madeira maior será a resistência

LIGAÇÕES 53
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ao esmagamento. Na Figura 49 são apresentados experimentais para ligadores lisos com


diâmetros de 8 e 10mm e madeira de Pinho bravo, Abeto e Castanheiro.

fh (N/mm2) Density vs Embedding strength


80

70
R² = 0.7168
60
0.082(1-0.01d)k
50

40

30
(kg/m3)
20
350 450 550 650 750 850 950

Figura 49 – Resultados experimentais de resistência ao esmagamento (Dias, 2005)

A resistência ao esmagamento depende ainda de outros factores como a espécie de madeira, a


existência ou não de pré-furação, a superfície e forma do ligador.

4.3.4 Momento de cedência plástica dos ligadores

O momento de cedência plástica do ligador é o momento teórico máximo que è possível


atingir no ligador antes de a secção estar completamente plastificada. Da resistência dos
materiais temos:

d3
Rectangular  Mp  fy
8 (13)
d3
Circular  Mp  fy
8

LIGAÇÕES 54
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100
90
80

Bending moment (kNmm)


70
60
50

40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50
Rotation angle -  (degrees)

Figura 50 – Curva momento rotação obtida numericamente para um ligador metálico de secção circular

Na prática as secções nunca estão completamente plastificadas, existe sempre uma zona junto
ao eixo neutro que se encontra em regime elástico (Figura 50). Na prática a importância dessa
zona depende de entre ouros factores do diâmetro dos ligadores. Para uma dada deformação
a rotação na secção onde se forma a rótula plástica será tanto maior, quanto menor for o
diâmetro. Dai mobilizarem-se momentos muito mais próximos do momento plástico teórico
para ligadores de pequeno diâmetro.

MP/MEC5
2,2

1,8

1,4 Secção rectangular


Secção circular

1
8 16 24 32
diâmetro do ligador (mm)

Figura 51 – Relação entre os momentos de cedência teóricos e os indicados no EC5

A relação entre os momentos de cedência plásticos teóricos e os indicados no EC5 é


apresentada no gráfico da Figura 51 para pregos circulares e pregos quadrados. Verifica-se que
esta relação aumenta com o aumento do diâmetro para ter em atenção os menores níveis de
cedência para diâmetros mais elevados.

LIGAÇÕES 55
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4.3.5 Pré-furação

Os ligadores podem ser introduzidos na madeira sem qualquer furação prévia (sem pré-
furação) ou após uma furação prévia (com pré-furação). O recurso à pré-furação evita que a
introdução do ligador ocorra após densificação das fibras da madeira, uma vez que estas já
antes foram removidas através da pré-furação (Figura 53). Este aspecto é tanto mais
importante quanto maior for o diâmetro do ligador ou a massa volúmica da madeira.

Sem pré-furação Com pré-furação

Figura 52 – Inserção de ligador com e sem pré-furação

A pré-furação representa um custo adicional e uma redução da secção resistente, tem no


entanto diversas vantagens, de entre as quais se destacam:

 Menor propensão à existência de fissuração segundo a direcção das fibras o que


permite menores distâncias mínimas entre ligadores.

 Maior capacidade resistente resultante de um melhor contacto entre a superfície do


prego e a madeira.

 Maior rigidez nas ligações.

A pré-furação pode ser obrigatório ou facultativa, dependendo do tipo de ligador, da sua


dimensão e da madeira usada. O EC5 indica as situações em que a pré-furação é obrigatória B.

4.3.6 Afastamento entre ligadores

Os afastamentos mínimos, são um requisito essencial para garantir que não existe fissuração
excessiva, na zona das ligações a qual possa por em causa o seu funcionamento mecânico.
Estes pretendem ainda garantir que a capacidade resistente e a rigidez de um ligador não seja
afectada pela presença próxima de outros ligadores.

LIGAÇÕES 56
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Figura 53 – Fendilhação resultante da aplicação de ligadores muito próximos

Estes afastamentos dependem do tipo e do diâmetro do ligador, e do modo de aplicação.

4.4 Capacidade de carga de um grupo de ligações

Numa fila de ligadores, estes não estão todos


sujeitos às mesmas forças. Tal só ocorreria se
os elementos fossem completamente rígidos. FvR,k/2
Nessa situação todos os ligadores estariam
sujeitos a Fmed.

Fméd F
Assumindo um comportamento elástico dos
materiais a distribuição de forças nas ligações
d máx

conduzem a esforços mais elevados nos


primeiros e nos últimos ligadores da fila. As
ligações têm de ser dimensionadas de forma
a que todas as ligações estejam sujeitas a
forças inferiores à sua capacidade resistente
última.

Um outro aspecto a ter em atenção, è a não


linearidade de comportamento das ligações,
potencialmente relevante quando as carga de
rotura não são directamente condicionadas
por fenómenos de fendilhação. Tomando em
atenção os fenómenos de não linearidade FvR,k/2
relevantes em termos de ligações (ex:
plasticidade, fluência), a distribuição de
forças pelos ligadores tornam-se mais Figura 54 – Distribuição de forças ao longo de uma
ligação
uniformes devido às redistribuições que irão
ocorrer.

Numa ligação podem ser associados vários tipos de ligadores (ex: pregos e parafusos) no
entanto para que as capacidades resistentes destes possam ser contabilizadas em simultâneo
é necessário que estes tenham características de rigidez compatíveis. Se por exemplo numa
ligação forem associados ligações tipo cavilha e ligadores químicos estes não vão atingir a sua
capacidade resistente máxima em momentos diferentes e por isso estas não podem ser
somadas. A cola atinge a sua resistência máxima para pequenas deformações tendo de

LIGAÇÕES 57
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

seguida uma rotura frágil. Para essas mesmas deformações a capacidade resistente mobilizada
nos ligadores tipo cavilha é praticamente nula (Figura 56) O.

4.5 Ductilidade das ligações


Nas estruturas de madeira as ligações são quase sempre os elementos com maior capacidade
de deformação plástica. A capacidade de deformação plástica da estrutura está por isso muito
dependente da capacidade de deformação plástica das ligações. Por esse motivo as ligações
devem ser sempre pensadas e concebidas de forma a garantir a máxima capacidade de
deformação plástica possível.

Existem diversos aspectos que podem contribuir para esse objectivo:

 O tipo de ligadores - A opção por ligadores metálicos permite regra geral aumentar a
ductilidade da ligação devido à grande ductilidade do aço.

 A dimensão relativa dos ligadores - Quanto menor for a dimensão (diâmetro) do


ligador comparativamente com a dimensão da peça, menor será a probabilidade de
roturas frágeis.

 O número de ligadores – Um maior numero de ligadores com um menor diâmetro


conduz geralmente a soluções mais dúcteis que o inverso.

 O tipo de esforços induzidos nos elementos de madeira – Devem ser sempre que
possíveis evitados os esforços de tracção na direcção perpendicular à direcção das
fibras, pois conduzem a roturas frágeis e difíceis de prever.

(a) - ligações coladas

(b) - anéis metálicos

(c) - placas denteadas duplas

(d) - cavilhas

(e) - parafusos de porca

(f) - chapas denteadas

(g) - pregos

Figura 55 – Curvas força deslocamento para diversos tipos de ligação (STEP, 1995)

LIGAÇÕES 58
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Na Figura 56 apresentam-se curvas força deslocamento para diversos tipos de ligação de


madeira. As curvas apresentadas demonstram a grande variabilidade em termos de
capacidade de deformação plástica que os diferentes tipos de ligação apresentam.

LIGAÇÕES 59
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5 Dimensionamento e Verificação de Segurança


5.1 Introdução
No Eurocódigo 5 (EC5) a verificação de segurança é efectuada através de coeficientes parciais
de segurança. Os valores das tensões/deformações actuantes são determinados através das
combinações de acções apropriadas, definidas no Eurocódigo 0 (EC0) e os valores das tensões
resistentes são determinadas de acordo com o definido no EC5. A verificação de segurança
requer a verificação em relação aos Estados Limites Últimos (ELU) e em relação aos Estados
Limites de Utilização (ELS).

O EC5 está dividido em duas partes sendo a primeira composta por duas sub-partes:

 EC5 –EN 1995-1 “Design of timber structures – Part 1-1 : General - Common rules for
buildings”

 EC5 –EN 1995-1 “Design of timber structures – Part 1-2 : General rules – Structural Fire
Design”

 EC5 –EN 1995-2 “Design of timber structures – Part 2 : Bridges”

Neste documento aborda-se essencialmente a O EC5 part 1-1 que aborda as regras gerais para
estruturas de madeira.

5.2 Bases para o dimensionamento


5.2.1 Regras gerais

O EC5 indica que devem ser tidos em consideração os seguintes aspectos ao nível do
dimensionamento:

 Diferentes propriedades dos materiais (ex: rigidez e resistência)


 Diferentes comportamentos diferidos dos materiais (influência na resistência da
duração das cargas, fluência)
 Diferentes condições climáticas em que os materiais estão aplicados (temperatura,
variações de humidade relativa do ar)
 Diferentes condições de dimensionamento (fases construtivas, alterações nas
condições de apoio)

O Eurocódigo por defeito considera relações tensão-extensão lineares. até à rotura (EC5 –
3.1.2(1)P). Apesar disso para elementos sujeitos a compressão podem ser consideradas
relações tensão-extensão não lineares (EC5 – 3.1.2(2)).

Para realização das análises estruturais é, regra geral (sempre que as estruturas não são
estaticamente determinadas), necessário conhecer a rigidez dos materiais e ligações. Para
efeitos de dimensionamento aos ELU a determinação dessas propriedades depende do tipo de

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 60


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análise em causa, nomeadamente: análises elásticas lineares de de 1ª ordem em que todos os


elementos têm propriedades diferidas semelhantes (igual kdef), análises elásticas lineares de de
1ª ordem os elementos têm propriedades diferidas semelhantes (diferentes kdef) e em que as
propriedades de rigidez afectam as distribuições de esforços, análises elásticas lineares de 2ª
ordem.

Para efeitos de ELS devem os valores das propriedades de rigidez das ligações e materiais
devem ser considerados com os seus valores médios.

Os valores a considerar em cada caso estão apresentados no Quadro 7.

Quadro 7 – Propriedades de rigidez a considerar na análise estrutural para ELU e ELS

ELU – Estados Limites Últimos


Análises de 1ª ordem
kdef iguais para kdef diferentes para os Análises de 2ª
os vários vários elementos ordem
elementos
Materiais Valores de longo
prazo ajustados para a
Valores de
Valores médios duração de carga que EN 338
causa os esforços cálculo
mais elevados
Ligações Valores últimos Valores últimos Valores últimos EN 26891
ELS – Estados Limites de Utilização
Módulo de
Valores médios
elasticidade
EN 338
Módulo de
Valores médios
distorção
Módulo de EN 26891/
Valores médios
escorregamento EC5
A duração das cargas afecta a resistência e rigidez dos elementos de madeira e derivados de
madeira, como tal tem de ser considerada no dimensionamento quer para efeitos de ELU quer
para efeitos de ELS (EC5 2.3.1). A duração de cargas está organizada em cinco classes que
estão indicadas no Quadro 8 conjuntamente com as durações típicas dessas cargas e exemplos
práticos.

Quadro 8 – Classes de duração de cargas

Classe de duração Durações típicas Exemplos de acções


Permanente (PERM) Superior a 10 anos Peso próprio
Longa duração (LD) Entre 6 meses e dez anos Armazenamentos
Média duração (MD) Entre 1 semana e 6 meses Sobrecarga de utilização
Curta duração (CD) Inferior a 1 semana Vento
Instantânea (INST) Instantânea Carga acidental

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 61


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No EC5 a influência das condições ambientais a que a estrutura está sujeita é considerada
através das classes de serviço. São definidas 3 classes de serviço cujos valores indicativos de
humidade relativa do ar e temperatura são indicados no Quadro 9 conjuntamente com teor de
água de equilíbrio e exemplos de situações práticas.

Quadro 9 – Classes de serviço para estruturas de madeira e derivados de madeira

Classe Condições W (%) Exemplos de situações


Corresponde a uma temperatura
ambiente de 20oC e uma humidade Ambientes interiores com
1 12
relativa do ar que excede os 65% num aquecimento
pequeno número de semanas no ano
Corresponde a uma temperatura Ambientes exteriores abrigados
ambiente de 20oC e uma humidade sem exposição directa a focos
2 20
relativa do ar que excede os 85% num de humidade ou contacto com o
pequeno número de semanas no ano solo
Condições climáticas que conduzem a Ambientes onde existe
3 teores de água na madeira com valores >20 exposição a focos de humidade
superiores aos da classe 2 e ou contacto com o solo
W é o teor de água de equilíbrio correspondente para a maioria das espécies
A cada estrutura deve ser associada uma classe de serviço, com base na qual vão ser
determinados os parâmetros necessários para verificação dos ELU e dos ELS.

5.2.2 Determinação dos valores das propriedades relativas a rigidez

Em termos de materiais os valores das propriedades de rigidez com maior interesse para
efeitos estruturais são, o módulo de elasticidade -Emean,fin e módulo de distorção - Gmean,fin. Em
termos de ligações a propriedade de rigidez relevante é o módulo de escorregamento – Kser.

Os destas propriedades para os diferentes produtos de madeira e derivados de madeira


podem ser obtidos através das normas correspondentes ou nos documentos de certificação.

Madeira maciça obtida de espécies resinosas (C) e de espécies folhosas (D) C EN 338 B-Quadro
A - 7.

Lamelado colado homogéneo e combinado C EN 1194 B-Quadro A - 8

Micro laminado (LVL) C, B-Quadro A - 9

No caso de ligações os valores podem ser obtidos através dos modelos indicados no EC5 (EC5
7.1) B-Quadro A - 11 ou através de ensaios realizados de acordo com a EN ISO 26891.

Os valores de longo prazo das propriedades de rigidez dos materiais e das ligações são
determinados através das Equações 1 a 3 (EC5 2.3.2.2):

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 62


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Emean
Emean , fin = (14)
1  2kdef 
Gmean
Gmean , fin = (15)
1  2kdef 
K ser
K ser , fin = (16)
1  2kdef 
Os valores de cálculo das propriedades de rigidez dos materiais são determinados através das
Equações 4 e 5 (EC5 2.4.1):

Emean
Ed = (17)
M

Gmean
Gd = (18)
M

O valor último da rigidez das ligações é determinado através da Equação 5:

2
Ku = K ser (19)
3

em que:

2 é o valor de redução das acções correspondente a uma acção quase permanente que está
definido no EC0

M é o valor do coeficiente de segurança do material, B-Quadro A - 4

kdef é o valor do factor de deformação definido no EC5 (3.1.4) C, B-Quadro A - 6

5.2.3 Determinação dos valores das propriedades relativas a resistência

Os valores característicos das diferentes propriedades de resistência (Xk) podem ser obtidos
nas normas ou certificados de produtor dos respectivos produtos tal como antes indicado para
as propriedades de rigidez.

Em termos de dimensionamento aos ELU interessam os valores de cálculo (Xd) estes podem
ser obtidos através da Equação 4 (EC5 2.4.1):

Xk
Xd =k mod (20)
M

Xk é o valor de cálculo da propriedade resistente, madeira maciça B-Quadro A - 7, lamelado-


colado B-Quadro A - 8, LVL B-Quadro A - 9

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 63


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M é o valor do coeficiente de segurança do material, B-Quadro A - 4

kmod é o valor do factor de modificação da resistência definido no EC5 (3.1.3) C, B-Quadro A - 5

O EC5 permite que o efeito de escala seja considerado na determinação dos valores de cálculo
da resistência à flexão e tracção de madeira maciça, lamelado colado e LVL.
Consequentemente os valores de cálculo podem ser majorados pelo coeficiente kh de acordo
com a Equação 4.

Xk
Xd =kh kmod (21)
M

Sempre que a dimensão de referência respeitar a relação indicada no Quadro 10 kh pode ser
determinado de acordo com as Equações ai indicadas (EC5 3.2 e 3.3).

Quadro 10 – Determinação do coeficiente de majoração correspondente ao efeito de escala

Dimensão de
Material Dimensão - esforço kh
referência
Altura -flexão  150 0,2

min  h 
Madeira maciça
<150mm
k700 kg/m3
Largura -tracção  1, 3

Altura -flexão  600 0,1

min  h 
Madeira
<600mm
lamelada colada Largura -tracção  1, 1

Os valores de cálculo podem ainda ser majorados pelo factor de sistema resistente (ksys) que
tem em atenção a possibilidade de a carga que um determinado elemento suporta, poder ser
redistribuída pelos adjacentes (EC5 6.6).

Figura 56 – Sistemas de elementos resistentes paralelos em que pode ser usado ksys

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 64


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Para este coeficiente poder ser aplicado têm de existir vários elementos paralelos, igualmente
espaçados entre si a resistir a uma mesma solicitação e estes têm de estar ligados entre si
através de elementos transversais que permitem uma redistribuição de cargas. Para efeito de
verificação da resistência dos sistemas de redistribuição transversal, devem considerar-se as
acções como sendo de curta duração.

O valor de ksys a considerar deve ser em geral 1,1. No entanto para sistemas laminados
horizontais podem ser utilizados valores superiores

Laminados colados ou
pré-esforçados
ksys

Laminados pregados
ou aparafusados
Pavimentos laminados

Nº de elementos carregados
Figura 57 – Pavimentos laminados e respectivos valores de ksys

Os valores de cálculo das propriedades resistentes poderão ser determinados através da


Equação 4.

Xk
Xd =ksys kh kmod (22)
M

5.3 Dimensionamento aos estados limites últimos


5.3.1 Tracção direcção paralela às fibras da madeira

A tracção na direcção das fibras da madeira é abordada no ponto 6.1.2 do EC5. A sua
verificação exige que as tensões actuantes sejam inferiores às tensões resistentes (Equação 4)
E , X, C

s t ,0 ,d  ft ,0 ,d (23)

Em que:

s t ,0 ,d é a tensão actuante no elemento determinada através da resistência dos materiais

ft ,0 ,d é a tensão resistente determinada de acordo com a Equação 22

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 65


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5.3.2 Tracção direcção perpendicular às fibras da madeira

Tal como referido anteriormente este tipo de esforço deve sempre que possível ser evitado.
Sempre que tal não seja possível devem ser propostas medidas que limitem a possibilidade de
ocorrência de roturas frágeis O.

O regulamento não indica qualquer verificação, apenas refere que o efeito de escala deve ser
tido em atenção. Para a verificação deste tipo de esforço sugere-se a adaptação das indicações
do EC5 para vigas de eixo curvo em que a tracção na direcção perpendicular à direcção das
fibras ocorre e não pode ser evitada.

s t ,90 ,d  kvol ft ,90 ,d (24)

Em que:

s t ,90 ,d é a tensão actuante no elemento determinada através da resistência dos materiais

ft ,90 ,d é a tensão resistente determinada de acordo com a Equação 22

 1, 0 madeira maciça

kvol   0 , 01  madeira lamelada colada e LVL com
 V  as fibras todas na mesma direcção
 

V é o volume da peça sujeito a esforços de tracção perpendiculares à direcção das fibras

5.3.3 Compressão direcção paralela às fibras da madeira

A compressão na direcção das fibras da madeira é abordada no ponto 6.1.4 do EC5. A sua
verificação exige que as tensões actuantes sejam inferiores às tensões resistentes (Equação 4)
E , X, C.

s c ,0 ,d  fc ,0 ,d (25)

Em que:

s c ,0 ,d é a tensão actuante no elemento determinada através da resistência dos materiais

fc ,0 ,d é a tensão resistente determinada de acordo com C

5.3.4 Compressão direcção perpendicular às fibras da madeira

A verificação da compressão perpendicular às fibras da madeira é abordada no ponto 6.1..5 do


EC5. A sua verificação exige que as tensões actuantes sejam inferiores às tensões resistentes
majoradas pelo coeficiente kc,90 (Equação 4) E, X, C, O. Este coeficiente de majoração pretende
ter em atenção a forma e as áreas de actuação das cargas.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 66


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s c ,90 ,d  kc ,90 fc ,0 ,d (26)

Em que:

A tensão actuante deve ser determinada usando uma área efectiva determinada através da
multiplicação da largura de actuação pelo comprimento de actuação acrescido do mínimo de (
30 mm, a, l, l1/2) para cada um dos lados (Figura 59).

Figura 58 – Carregamentos aplicados na direcção perpendicular à direcção das vigas, (a)-apoios contínuos, (b)-
apoios discretos

kc,90 deve ser considerado por defeito igual a 1,0. Nos casos definidos no Quadro podem ser
considerados os valores superiores ai indicados.

Secções de madeira maciça Secções de lamelado-colado


de espécies resinosas de espécies resinosas
Apoios contínuos
com l1≥2h (Figura 59) 1,25 1,5

Apoios discretos
com l1≥2h (Figura 59) 1,5 1,75*

*- l ≤400mm
fc ,0 ,d é a tensão resistente determinada de acordo com C

5.3.5 Flexão simples

A verificação da flexão é abordada no ponto 6.1.6 do EC5. A sua verificação é realizada com
base numa expressão de interacção que considera simultaneamente a flexão instalada
segundo os dois eixos y e z E, X, C, O.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 67


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s m ,y ,d s
 km m ,z ,d  1
fm ,y ,d fm ,z ,d
e (27)
s s
km m ,y ,d  m ,z ,d  1
fm ,y ,d fm ,z ,d

Em que:

s m ,y ,d e s m ,z ,d são as tensões actuantes no elemento, devidas aos momentos flectores


segundo os eixos y e x respectivamente, determinadas através da resistência dos materiais

fm ,y ,d e fm ,z ,d são as tensões resistente determinadas de acordo com C

km é um coeficiente de minoração que toma o valor de 0.7 para secções rectangulares de


madeira maciça, lamelado-colado e LVL. Para as restantes secções e produtos derivados de
madeira toma o valor 1.0.

Esta curva corresponde a uma interacção linear entre as tensões provocadas na secção pelos
momentos flectores a actuar segundo as direcções y e z (Figura 59).

km=1.0
0.8
km=0.7
s m,y,d/fm,y,d

0.6

0.4

0.2

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
s m,y,d/fm,y,d

Figura 59 – Curva de interacção para flexão simples

km é um factor que tem em atenção o facto de em flexão desviada quando se atinge a tensão
máxima na fibra mais solicitada, tal não significa necessariamente que a resistência máxima da
peça já foi atingida. Este aspecto está exemplificado na Figura 60 para uma secção quadrada
considerando comportamento elástico linear até à rotura.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 68


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1.16

1.12

1.08

Me/Mnl
h 1.04
Secção activa em
regime elástico
1.00

0.96
0 0.05 0.1 0.15 0.2
d Zona de rotura
h/d

Figura 60 – Flexão desviada numa secção quadrada

5.3.6 Corte

A verificação do corte é abordada no ponto 6.1.7 do EC5. A sua verificação exige que as
tensões actuantes sejam inferiores às tensões resistentes (Equação 28) tendo em atenção a
possível influência da fendilhação através do kcr, E, X, C.

 d  fv ,d (28)

Em que:

 c ,0 ,d é a tensão actuante no elemento determinada através da resistência dos materiais


usando uma largura efectiva do elemento determinada através da Equação 29.

bef  kcr b (29)

Material kcr
Madeira maciça 0,67
Lamelado-colado 0,67
Outros derivados de madeira
1,0
(EN 13986 3 e EN 14374)
Para efeitos de contabilização do esforço actuante a carga a actuar sobre o apoio até uma
distância (medida segundo a direcção longitudinal) igual à altura do elemento na zona do
apoio pode ser desprezado. Esta simplificação não deve ser considerada quando existem
entalhes na madeira do lodo do apoio.

fv ,d é a tensão resistente determinada de acordo com C

O coeficiente kcr pretende ter a consideração a possibilidade de existência de fendas


longitudinais no elemento de madeira que podem reduzir a largura do elemento em as
tensões tangenciais são transmitidas conduzindo a uma concentração de tensões nas restantes
zonas (Figura 62).

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 69


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bef=0,67b

Figura 61 – Concentração de tensões de corte resultantes da fendilhação

No caso de produtos em que as fibras estão dispostas segundo direcções ortogonais ou


aleatórias a probabilidade de ocorrência de fendilhação é bastante mais baixa. Nessas
situações o regulamento não considera qualquer concentração de tensões.

A resistência ao “rolling shear” deve ser considerada igual a duas vezes a resistência à tracção
perpendicular à direcção das fibras C.

5.3.7 Torção

A verificação do corte é abordada no ponto 6.1.8 do EC5. A sua verificação exige que as
tensões actuantes sejam inferiores às tensões resistentes (Equação 27), C.

 tor ,d  kshape fv ,d (30)

Em que:

 c ,0 ,d é a tensão actuante no elemento determinada através da resistência dos materiais.

kshape é um factor que tem em atenção a geometria da secção e deve ser determinado através

 1, 2  Secções circulares

  h
kshape   1  0 , 15
min  b  Secções rectangulares
 
 2,0

fv ,d é a tensão resistente determinada de acordo com C

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 70


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5.3.8 Compressão ângulo com as fibras

A verificação de compressões com um ângulo a com as fibras é abordada no ponto 6.2.2 do


EC5. Esta verificação baseia-se na formulação de Hankinson (Equação e Figura 62). Apesar de a
formulação ser apresentada para compressão esta pode ser adaptada para tracção
substituindo as tensões de compressão pelas correspondentes tensões de tracção, E, X, C.

fc ,0 fc ,90
fc ,  (31)
fc ,0 sen   fc ,90 cos 2 
2

A formulação apresentada no EC5 considera compressão perpendicular à direcção das fibras


majorada pelo parâmetro kc,90, resultando em :

fc ,0 ,d
fc ,  (32)
fc ,0 ,d sen2 
 cos 2 
kc ,90 ,d fc ,90 ,d

Figura 62 – Aplicação da fórmula de Hankinson a tracção e a compressão

5.3.9 Flexão associada com tracção

A verificação da flexão associada com tracção é abordada no ponto 6.2.3 do EC5. A sua
verificação é realizada com base numa expressão de interacção que considera
simultaneamente a flexão instalada segundo os dois eixos y e z e a tensão de tracção, X.

s t ,0 ,d s m ,y ,d s m ,z ,d
  km 1
ft ,0 ,d fm ,y ,d fm ,z ,d
e (33)
s t ,0 ,d s m ,y ,d s m ,z ,d
 km  1
ft ,0 ,d fm ,y ,d fm ,z ,d

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 71


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Estas curvas correspondem a uma interacção linear entre as tensões provocadas na secção
pelos momentos flectores a actuar segundo as direcções y e z e pelo esforço axial de tracção
(Figura 63).

0.8

0
s m,y,d/fm,y,d

0.6
0,2
0.4
0,4
0,6
0.2
0,8

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
s m,y,d/fm,y,d

Figura 63 – Curvas de interacção para flexão associada com tracção (st,0,d/ft,0,d=0;0,2;0,4;0,6;0,8)

5.3.10 Flexão associada com compressão

A verificação da flexão associada com compressão é abordada no ponto 6.2.4 do EC5. A sua
verificação é realizada com base numa expressão de interacção muito semelhante à do ponto
anterior. A diferença reside no facto de a relação entre tensão actuante e resistente de
compressão vir elevada ao quadrado. Tal permite ter em consideração que as roturas ocorrem
esmagadoramente do lado tracionado (para as quais a compressão axial é positiva) bem como
o facto de em compressão existir alguma capacidade de deformação plástica X.

2
 s c ,0 ,d  s m ,y ,d s
    km m ,z ,d  1
 fc ,0 ,d  fm ,y ,d fm ,z ,d
e (34)
2
 s c ,0 ,d  s m ,y ,d s m ,z ,d
   km  1
 fc ,0 ,d  fm ,y ,d fm ,z ,d

Estas curvas estão graficamente representadas na

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 72


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0.8

0
s m,y,d/fm,y,d

0.6
0,2
0,4
0.4
0,6

0.2 0,8

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
s m,y,d/fm,y,d

Figura 64 – Curvas de interacção para flexão associada com compressão (sc,0,d/fc,0,d=0;0,2;0,4;0,6;0,8)

5.3.11 Torção associada com corte

O EC 5 não apresenta qualquer verificação para considerar esforços de corte associados com
esforços de torção. No entanto como em ambos os casos são geradas tensões tangenciais esta
interacção deve ser considerada. Para realizar essa verificação sugere-se a consideração da
expressão indicada na Equação 32.

2
 tor ,d   v ,d 
    1 (35)
fv ,d  fv ,d 

5.3.12 Estabilidade de pilares

Em elementos comprimidos podem existir problemas associados com instabilidade resultante


de efeitos de segunda ordem. Para considerar esses efeitos as estruturas têm de ser
consideradas na sua configuração deformada e não na configuração indeformada como
acontece numa análise de primeira ordem.

Este procedimento apresenta diversas dificuldades, não só devidas à complexidade acrescida


dos cálculos mas também à dificuldade de quantificação de todos os aspectos que têm de ser
considerados (ex: imperfeições, comportamento não linear dos materiais).

Uma alternativa consiste em realizar um dimensionamento seguindo o procedimento utilizado


para análises de primeira ordem mas limitando as tensões a valores menores de forma a ter
em atenção os efeitos de segunda ordem. Muitas vezes os valores dessas tensões podem ser
obtidos com base em curvas de estabilidade que relacionam a esbelteza do elemento com a
tensão de compressão máxima a que este pode estar sujeito.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 73


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sRd
fc ,0


Figura 65 – Curva de estabilidade

Para baixas esbeltezas a capacidade de carga è condicionada pela resistência do material. Para
esbeltezas elevadas a capacidade de carga è condicionada por efeitos de segunda ordem.

No EC 5 são apresentadas curvas que foram baseadas em resultados de modelos numéricos.


Foram realizadas simulações para diversas esbeltezas tendo em atenção as especificidades do
material madeira. Nessas análises foram consideradas as três classes de serviço, as
propriedades resistentes dos materiais através das respectivas classes, as imperfeições bem
como a capacidade de deformação plástica da madeira quando solicitada em compressão.

Aos resultados numéricos foram ajustadas curvas, as curvas de estabilidade. Na Figura


67

Capacidade resistente
condicionada essencialmente
pela resistência do material

Capacidade resistente condicionada Comportamento


essencialmente pela instabilidade do não- linear
elemento (propriedades do material,
propriedades geométricas)
Modelo EC5

Comportamento
elástico- linear

Figura 66 é apresentado um desses exemplos (STEP, 1995). Na Figura é também apresentada a


curva de interacção momento flector-esforço axial considerando comportamento elástico
linear e comportamento não linear (elástico linear em tracção e elasto-plástico em
compressão).

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 74


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Capacidade resistente
condicionada essencialmente
pela resistência do material

Capacidade resistente condicionada Comportamento


essencialmente pela instabilidade do não- linear
elemento (propriedades do material,
propriedades geométricas)
Modelo EC5

Comportamento
elástico- linear

Figura 66 – Aproximação das curvas de estabilidade do EC5 e interacção momento-esforço axial (STEP, 1995)

Da Figura 67 verifica-se que a não linearidade não tem influência para elementos muito
esbeltos (aprox. > 20) em que a o regime de tensões não sai do elástico linear.

Com base neste estudo foram definidas as Curvas que são apresentadas no EC5 Equação 4.

kc ,y 
1
ky  k  
2 2

com ky  0 , 5 1  c  rel ,y  0 , 3   rel2 ,y 
y rel ,y

e (36)

kc ,z 
1

com kz  0 , 5 1  c  rel ,z  0 , 3   rel2 ,z 
kz  k  
2
z
2
rel , z

Em que:

y fc ,0 ,k  fc ,0 ,k
rel ,y  e rel ,z  z
 E0 ,05  E0 ,05

l0 ,y l0 ,y l0 ,z l
y   12 e z   12 0 ,z
iy hy iz hz

c é um parâmetro que tem em consideração a linearidade dos elementos e toma o valor 0,2
para madeira maciça (maiores desvios e variações dimensionais) e 0,1 para lamelado-colado
(menores desvios e variações dimensionais)

Existem duas hipóteses para a análise da estabilidade de colunas:

1- rel ,y  3 e rel ,z  3  fica dispensada a verificação

2- rel ,y  3 e rel ,z  3  tem de ser verificada a estabilidade

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 75


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A verificação da estabilidade é realizada com base na curvas de interacção indicadas na


Equação 33 igual à indicada para verificação da flexão associada com compressão (Equação 31)
mas com a tensão resistente de compressão reduzida com base nas curvas de estabilidade (kc,y
e kc,z).

2
 s c ,0 ,d  s m ,y ,d s
    km m ,z ,d  1
 fc ,0 ,d  fm ,y ,d fm ,z ,d
e (37)
2
 s c ,0 ,d  s m ,y ,d s m ,z ,d
   km  1
 fc ,0 ,d  fm ,y ,d fm ,z ,d

A verificação da estabilidade é realizada com uma curva de interacção igual à indicada para
verificação da flexão associada com compressão mas com a tensão resistente de compressão
reduzida para ter em consideração a hipótese de instabilização (curvas de estabilidade - kc,y e
kc,z).

5.3.13 Estabilidade de vigas em flexão

Em vigas de madeira esbeltas (relações h/b elevadas) pode ocorrer instabilidade por flexão-
torção (bambeamento). O momento crítico de instabilização de uma viga simplesmente
apoiada sujeita momentos concentrados nas extremidades é função do seu comprimento (l),
rigidez de flexão (EI) e rigidez de torção (GJ). Este comportamento é qualitativamente
semelhante ao relativo a encurvadura por varejamento.

  2EA
Mcr = GItor  EI  Pcrit =
l 2

Este tipo de instabilidade pode por isso ser tratado da mesma forma, através de curvas de
estabilidade considerando uma esbelteza equivalente (rel,m.) dada pela relação entre a
resistência à flexão e a tensão crítica de encurvadura (Equação 4)

fm ,k
rel ,m  (38)
s m ,crit

A tensão crítica de encurvadura pode ser determinada através do momento crítico usando a
Equação 4.

My ,crit  G0 ,05Itor  E0 ,05 I


s m ,cr   (39)
wy Ief wy

Para uma secção rectangular com espessura fina (Itor=hb3/3) e assumindo G=E/16 a Equação 4
pode ser simplificada para a expressão 4.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 76


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My ,crit 0 ,78b2
s m ,cr   E0 ,05 (40)
wy hIef

Para vigas que não sejam rotuladas em ambas as extremidades, ou estejam sujeitas a
carregamentos diferentes dos momentos concentrados nas extremidades, devem determinar-
se comprimentos efectivos à semelhança do que acontece com a instabilidade por
varejamento. Para tal podem ser usados as condições indicadas no EC5, Quadro 11 O.

Quadro 11 – Coeficientes efectivos de encurvadura para vigas em flexão EC5

Condições de apoio Tipo de carregamento lef/l


Momento constante 1,0
Simplesmente apoiada Carga uniformemente distribuída 0,9
Carga concentrada a meio vão 0,8
Carga uniformemente distribuída 0,5
Consola
Carga concentrada na extremidade livre 0,8
Para outras condições de apoio e de carregamento existem valores tabelados na bibliografia
(STEP, 1995) e que estão indicados no B-Quadro A - 10.

Como a zona em que é aplicada a carga também influência o valor do momento crítico, o EC5
indica que o comprimento efectivo deve ser acrescido de duas vezes a altura para
carregamentos aplicados na parte comprimida e decrescido de meia altura para
carregamentos aplicados na parte tracionada.

A verificação de segurança é realizada através da limitação da tensão máxima de flexão nas


vigas Equação 36 E.

s m ,d  kcrit fm ,d (41)

Quando existe flexão associada com compressão, a interacção deve ser verificada a interacção
entre estes esforços (Equação 36).

2
 s m ,d  s c ,d
   1 (42)
 kcrit fm ,d  kc ,z fc ,0 ,d

O valor kcrit é dado das curvas de estabilidade para encurvadura por flexão torção indicadas no
EC5, Equação 40 e Figura 67.


 1 rel ,m  0 ,75

kcrit  1, 56  0 ,75rel ,m 0 ,75  rel ,m  1 , 4 (43)
 1
 1, 4  rel ,m
 rel ,m
2

Em que:

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 77


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fm ,k
rel ,m  (44)
s m ,crit

kcrit
1.4 scrit
1.2 1
1
0.8 1 ,56  0 ,75rel ,m
0.6 1
0.4
0.2 rel
2
,m
0
0 1 2 3 4
Esbelteza  rel,m
Figura 67 – Curvas de Estabilidade para encurvadura por flexão torção

Se os deslocamentos transversais na parte comprimida da viga estiverem impedidos através


de um sistema de contraventamento eficaz o valor de kcrit pode ser tomado igual a 1. Um
sistema de contraventamento eficaz deve estar ligado a um ponto que tenha deslocamentos
impedidos segundo a direcção em causa e estar dimensionado para transmitir os esforços que
surjem (+-2,5% da força de compressão no elemento principal).

5.4 Dimensionamento aos estados limites de serviço


No EC5 são dadas indicações para verificação dos estados limites de utilização, respeitantes a:

 Deformações

 Vibrações

A verificação dos ELS respeitantes a deformações pressupõe a verificação das flechas de curto
(uinst) e de longo prazo (ufin) E, X.

As deformações resultantes de uma dada combinação de acções devem ser determinadas


como a soma das flechas resultantes da actuação individual de cada uma das acções. A
determinação das deformações devem considerar-se as deformações nos elementos lineares e
nas ligações. Em muitas situações (ex: pavimentos correntes) as deformações nas ligações têm
uma importância relativa muito pequena pelo que podem ser desprezadas na maior parte dos
casos.

A deformabilidade dos elementos de madeira pode ser avaliada com base num cálculo
elástico linear da estrutura usando para os valores das propriedades da madeira o indicado em
Quadro 7.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 78


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Na deformabilidade das ligações devem ser consideradas as deformações iniciais, resultantes


de possíveis folgas entre o ligador e o material, bem como as deformações elásticas,
resultantes da deformação elástica dos materiais (Figura 69).

Força (F) kser ku=2/3kser

Deslocamentos (d)
dinicial delástico

Figura 68 – Deformação inicial e deformação elástica das ligações

As deformações elásticas podem ser determinadas a partir da rigidez elástica das ligações
(módulo de escorregamento) que pode ser estimado através das equações apresentadas no
Quadro A - 11 indicadas no EC5. As deformações iniciais dependem do tipo de ligador, em
termos indicativos podem ser consideradas as folgas máximas permitidas no EC5 para a pré-
furação, que são indicadas no B - Quadro A - 16.

Para o cálculo das acções a considerar, na determinação das deformações, tem de ser
seleccionada a combinação de acções relevante em cada caso.

A verificação das deformações pode ser efectuada utilizando a combinação frequente de


acções (Equação 41) sempre que o ultrapassar desse limite não cause deformações excessivas
ou danos irreversíveis na estrutura. Sempre que estes riscos existam, a verificação deve ser
feita para a combinação característica de acções (Equação 42) eventualmente em conjunto
com limites máximos diferentes dos definidos no Quadro 12.

Combinação frequente   SG,k, j  1,1SQ,k,1   2,iSQ,k,i (45)


j1 i 1

Combinação característica   SG,k, j  SQ,k,1    0,iSQ,k,i (46)


j1 i 1

É, no entanto, importante referir que os valores limites de deformação indicados no EC5


(Quadro 12) foram obtidos para a combinação característica em que o coeficiente 0 é
substituído por 1, tal como indicado na Equação 43.

Combinação para os limites do Quadro 12   SG,k, j  SQ,k,1   1,iSQ,k,i (47)


j1 i 1

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 79


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As deformações de longo prazo podem ser obtidas a partir das deformações de curto prazo,
através da Equação 44 para acções permanentes e da Equação 45 para acções quase
permanentes. Estas deformações devem ser determinadas para a combinação de acções
utilizada na determinação das deformações de curto prazo.

Acções permanentes  ufin  uinst  u creep  uinst 1  k def  (48)

Acções quase permanentes  ufin  uinst  u creep  uinst 1  2 kdef  (49)

A deformação devida à fluência è considerada através do coeficiente kdef C, B-Quadro A - 6.

No Quadro 12 são indicados os valores que devem ser adoptados quando não existam
restrições especiais em termos de deformações. Estes limites foram estabelecidos para a
combinação de acções definida pela Equação 43.

uc

ufin
unet,fin

Figura 69 – Deformações em elementos de madeira

Quadro 12 – Valore limite das deformações admissíveis para vigas apoiadas nas extremidades

uinst unet,fin ufin


l/300 a l/500 l/250 a l/350 l/150 a l/300
No caso de vigas em consola, os valores limites devem ser considerados como metade dos
indicados no Quadro 12.

Quando existem restrições especiais, por exemplo equipamentos sensíveis a deformações na


estrutura de apoio, ou paredes divisórias em pavimentos de grande vão em que os limites
propostos possam conduzir a uma deformação máxima significativa, devem ser estabelecidos
outros limites adequados a cada situação.

A verificação de vibrações indicada no EC5 tem em vista o dimensionamento de pavimentos


residenciais sujeitos a carregamentos dinâmicos correntes (ex: movimento de pessoas). Para
outras situações, (ex dança rítmica, equipamentos industriais) têm de ser usados modelos
apropriados a essas acções O.

No caso de pavimentos residenciais em que a frequência própria de vibração é inferior ou igual


a 8Hz, é necessária uma análise específica. Sempre que a frequência de vibração é superior a
8Hz, a verificação da vibração fica satisfeita se forem verificas as condições indicadas na
Equação 46 e na Equação 47.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 80


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 a mm/kN (50)
F

  ab f  1 m/ Ns2 


1
(51)

a e b são parâmetros relacionados com a as exigências de desempenho do pavimento e estão


indicados no Quadro 13.

Quadro 13 – Valores dos parâmetros a e b

a b Desempenho
 
0,5 150

Melhor
1,0 120
2,0 80
4,0 50
Valores intermédios de a e b podem ser obtidos por interpolação linear
 é a resposta em termos de velocidade a um impulso unitário

4  0 , 4  0 ,6n40   f11
 b m /  Ns2  (52)
mbl  200

Para pavimentos com dimensões totais de bxl, simplesmente apoiados nos quatro bordos, os
valores de n40 e f1 podem ser determinados a partir da Equação 49 e da Equação 50
respectivamente.
0 ,25
  40 2   b 4  EI  
n40      1   t  l


  1 
f 
  l   EI  b 
(53)

  EI l
f1  (54)
2l 2 m

5.5 Ligações
5.5.1 Capacidade resistente de ligadores isolados – Ligadores tipo cavilha

A filosofia base para verificação de segurança nas ligações è a mesma da apresentada para os
restantes elementos estruturais, nomeadamente no que respeita à determinação dos
esforços/tensões actuantes.

A verificação da capacidade resistente das ligações madeira-madeira e aço-madeira através de


ligadores tipo cavilha é abordada no ponto 8 do EC5. O modelo geral de dimensionamento
baseia-se na teoria de Johansen ou modelo de cedência Europeu C. O esquema geral a seguir
para a verificação da segurança é apresentado na Figura 70 E.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 81


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EC5 modelos de EC5 – número


resistência defectivo de ligadores
Configuração Resistências de
da ligação um ligador Fv,Rk

Resistências efectiva
de uma fila de
Análise estrutural ligadores Fv,ef,Rk
R.M. e T.E.
Esforços Não
Resistências de
actuantes Fv,Ed < Fv,Rd
cálculo - Fv,ef,Rd
Fv,Ed Sim

Não Pormenorização Sim Ligação


possível dimensionada

Figura 70 – Verificação de segurança em ligações com ligadores tipo cavilha de acordo com o EC5

A resistência de um ligador é determinada usando as indicações, nomeadamente os modos de


colapso e as equações correspondentes indicadas no ponto 8.2.2 do EC5 para ligações
madeira-madeira e no ponto 8.2.3 para ligações madeira-aço.

No caso de ligações madeira é importante distinguir entre ligações em corte simples e ligações
em corte duplo. Numa ligação em corte simples são ligados somente dois elementos existindo
por isso somente um plano de corte. Numa ligação em corte duplo são ligados três elementos
existindo nessa situação dois planos de corte.

Para ligadores madeira-madeira em corte simples são dados seis modos de colapso cujas
equações e modos de colapso são indicados de seguida (Equação 50 e Figura 71) a que
correspondem as seguintes Equações:

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 82


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

 fh ,1 ,k t1d (a)
 fh ,2 ,kt2d (b)

  
 t  t 2  2
 fh ,1 ,k t1d  3  t2   t2   Fax ,Rk
 1    2 2
 1  2
 2
         1    (c)
 t1  t1    t1   t1   4
    

 f td 4  2    My ,Rk  Fax ,Rk
 1 , 05 h ,1 ,k 1  2 1       (d) (55)
 2  fh ,1 ,k dt12  4


 f td 4  2    My ,Rk  Fax ,Rk
 1 , 05 h ,1 ,k 1  22 1       (e)
 1  2  fh ,1 ,k dt12  4


 2  F
  ax ,Rk
 1 ,15 2 M f d (f)
1  
y ,Rk h ,1 ,k
 4

1 1 1 1 1 1

2 2 2 2 2 2

(a) (b) (c) (d) (e) (f)

Figura 71 – Modos de colapso para ligações madeira-madeira em corte simples

Para ligadores madeira-madeira em corte duplo são dados 4 modos de colapso cujas equações
e modos de colapso são dados de seguida (Equação 50 e Figura 72).

 fh ,1 ,kt1d (a)
 0 , 5 fh ,2 ,kt2d (b)


1 , 05 fh ,1 ,kt1d  2 1    4  2    My ,Rk    Fax ,Rk
   (c) (56)
 2  fh ,1 ,k dt12  4


 2  F
1 ,15  2My ,Rk fh ,1 ,k d   ax ,Rk (d)
 1 4

1 1 1 1 1 1 1 1

2 2 2 2

(a) (b) (c) (d)

Figura 72 – Modos de colapso para ligações madeira-madeira em corte duplo

Em muitas das ligações usadas nas estruturas de madeira são usados elementos metálicos
(chapas) para transferir as cargas entre os diferentes componentes da ligação (Figura 73).

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 83


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Figura 73 – Uso de chapas metálicas nas ligações das estruturas de madeira (Simpson-Tie)

Nessas situações as ligações têm de ser dimensionadas como ligações aço-madeira.

No caso de ligações aço-madeira é também importante distinguir entre chapas de aço finas e
chapas de aço espessas, uma vez que conduzem a modos e cargas de colapso distintas. Chapas
finas não impedem a rotação dos ligadores, no EC5 consideram-se chapas finas aquelas que
têm uma espessura inferior a metade do diâmetro do ligador. Chapas espessas são aquelas
que têm uma espessura superior ao diâmetro do ligador e cuja folga de furação não seja
superior a 10% do diâmetro do mesmo.

Para ligadores aço-madeira em corte simples com chapas finas são dados 4 modos de colapso
cujas equações e modos de colapso são dados de seguida (Equação 50 e Figura 74).

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 84


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 0 , 4 fh ,k td (a)

 Fax ,Rk
1 ,15 2My ,Rk fh ,k d  (b)
 4
  4My ,Rk  Fax ,Rk
 fh ,k td  2   1  (c)
  fh ,k dt 2  4

 F
 2 ,3 My ,Rk fh ,k d  ax ,Rk (d)
 4
 fh ,k td (e)




 fh ,k td (f)

  4My ,Rk  F
 fh ,k t1d  2  2
 1  ax ,Rk (g)
  fh ,k dt  4
 F
 2 ,3 My ,Rk fh ,k d  ax ,Rk (h)
 4
 0 , 5 fh ,k td (i)

 Fax ,Rk
1 ,15 2My ,Rk fh ,k d  (j)
 4
 0 , 5 fh ,k td (l)

 Fax ,Rk (57)
2 ,3 My ,Rk fh ,k d  (m)
 4

(a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j) (l) (m)

Figura 74 – Modos de colapso para ligações aço-madeira

Em que:

Fv,Rk é o valor característico da capacidade resistente de um ligador isolado

fh ,2 ,k

fh ,1 ,k

fh,i,k é a resistência ao esmagamento da madeira e deve ser determinada de acordo com as


indicações para cada ligador C, B –Pregos/Quadro A - 10 , B-Parafusos/Quadro A - 14, B-
Parafusos de porca e Cavilhas/Quadro A - 15.

ti é o comprimento de penetração do ligador no elemento de madeira

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 85


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My,Rk é o momento de cedência plástica do ligador e deve ser determinado de acordo com as
indicações para cada ligador C, B –Pregos/Quadro A - 1 , B-Parafusos/Quadro A - 14, B-
Parafusos de porca e Cavilhas/Quadro A - 15

d é o diâmetro do ligador

Fax,Rk é a capacidade resistente axial do ligador e deve ser determinada de acordo com as
indicações para cada ligador C, B –Pregos/Quadro A - 10 , B-Parafusos/Quadro A - 14, B-
Parafusos de porca e Cavilhas/Quadro A - 15

A capacidade resistente axial do ligador pretender ter em consideração a contribuição do


efeito de ferrolho C. Esta contribuição está no entanto limitada a uma percentagem da
capacidade resistente obtida através da teoria de Johansen. Esta percentagem varia com o tipo
de ligação os valores máximos estão indicados no Quadro 14 para os diversos tipos de ligação.

Quadro 14 – Valores máximos permitidos para a contribuição do efeito de ferrolho percentagem da componente
devida à teoria de Johansen

Tipo de ligador Percentagem máxima


Pregos circulares 15
Pregos quadrados 25
Outro tipo de pregos 50
Parafusos 100
Parafusos de porca 25
Cavilhas 0
Sempre que a capacidade resistente axial (Fax,Rk)de um determinado ligador não seja conhecida
deve ser assumida como zero.

5.5.2 Outras disposições - Ligadores tipo cavilha

Tal como foi referido antes C um dos aspectos mais importantes para garantir um adequado
comportamento da ligação é garantir uma correcta pré-furação. O EC5 obriga ao recurso à pré-
furação numa grande parte das situações é obrigatória essas situações estão indicadas no
Quadro 15, o diâmetro a usar nas pré-furações está indicado no Quadro A - 16.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 86


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Quadro 15 – Situação em que a Pré-furação é obrigatória

Ligador Pré-furação obrigatória


Pregos d>8mm
 7d  14d
 
k>500 t  max  t  max  k
k
13d  30  400 13d  30  200
Parafusos d>6mm
(a)
(b)
Cavilhas e
parafusos de Sempre
porca
(a) – no caso de parafusos obriga a ensaios para se determinar o diâmetro da pré-furação
(b) – Para espécies especialmente sensíveis à fendilhação (abies alba, pseudotsuga menziesii,
picea abies) em que a4  10d e k  420kg /m3 ou a4  14d e k  500kg /m3
Nota: Nas expressões acima, d e t em mm e k em kg/m3.
No caso dos pregos têm ainda de ser considerados os seguintes aspectos:

 Pregos lisos não podem ser usados para transmitir cargas axiais permanentes ou de
longa duração

 Em pregos estriados somente o comprimento estriado deve ser considerada a


resistência da parte estriada

 Pregos aplicados na direcção das fibras na extremidade dos elementos não devem ser
usados para transmitir cargas axiais

 A penetração do lado da ponta não deve ser inferior a 8d para pregos lisos e 6d para
pregos estriados. Quando estes comprimentos forem menores que respectivamente
12d e 8d a resistência axial deve ser minorada

Em ligações com pregos solicitadas simultaneamente ao corte e axialmente deve verificar-se a


interacção entre estes dois tipos de esforços.

Pregos lisos:

Fax ,Ed Fv ,Ed


 1 (58)
Fax ,Rd Fv ,Rd

Outro tipo de pregos:

2 2
 Fax ,Ed   Fv ,Ed 
      1 (59)
 Fax ,Rd   Fv ,Rd 

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 87


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No caso dos parafusos de enroscar têm ainda de ser considerados os seguintes aspectos:

 O efeito da rosca deve ser tido em consideração através do uso do def.

O def corresponde ao diâmetro liso do parafuso, se:

 O diâmetro externo da rosca è igual ao diâmetro liso

 A parte lisa penetrar pelo menos 4 diâmetros no elemento onde está a ponta
do parafuso

Quando estas regras não se verificam o def deve ser considerado como 1,1 do diâmetro
da raiz da rosca(Figura 75 – d1).

 Quando o diâmetro liso dos parafusos for superior a 6mm aplicam-se as regras para
parafusos de porca.

 Quando o diâmetro liso for igual a 6mm ou menos aplicam-se as regras para pregos.

 A penetração mínima do elemento do lado da ponta deve ser de pelos menos seis
diâmetros.

 No caso de pregos solicitados ao corte e axialmente em simultâneo, a interacção


destes esforços deve ser verificada usando a verificação atrás indicada para outros
pregos que não lisos (Equação 47)

Figura 75 – Diâmetro efectivo em parafusos de enroscar

No caso de cavilhas têm ainda de ser considerados os seguintes aspectos:

 As cavilhas devem ter um diâmetro compreendido entre 6 e 30mm.

 As regras definidas para parafusos de porca, nomeadamente resistência ao corte


devem também ser aplicadas às cavilhas.

 Dada a configuração das cavilhas, estas não têm capacidade resistente axial.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 88


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5.5.3 Ligações com forças a actuar com ângulo  com as fibras da madeira

Quando as forças a actuar numa dada ligação fazem um ângulo diferente de 0 com a direcção
das fibras têm de ser verificada a resistência segundo a direcção perpendicular à direcção da
fibras de forma a evitar problemas de fendilhação.

O EC5 no ponto 8.1.4 indica a forma como essa verificação deve ser realizada. A componente
da força a actuar na direcção perpendicular à direcção das fibras (Fv,ED) tem de ser inferior à
resistência (F90,Rd) determinada a partir de F90,Rk (Equação).

he
F90 ,Rk  14bw (60)
 he 
1 h 
 

em que :

  w pl 0 ,35
  
max  100 
w 
  1
 1

wpl é a largura da chapa segundo a direcção paralela à direcção das fibras

Figura 76 – Verificação de segurança de forças a actuar com um ângulo diferente de zero em relação à direcção
das fibras (EC5)

Nestas situações é ainda necessário verificar a capacidade resistente da força global.No caso
de pregos, e como tal parafusos com diâmetro inferior ou igual a 6mm o EC5 indica somente a
necessidade de verificação da componente paralela à direcção das fibras.

No caso de parafusos de porca, parafusos com diâmetro superior a 6mm e cavilhas tem de ser
verificada explicitamente a resistência segundo a direcção da resultante. Esta pode ser
determinada tal como antes indicado para a direcção paralela à direcção das fibras mas
considerando uma resistência ao esmagamento estimada para uma actuação com um ângulo
 com a fibras (fh,,k) que pode ser determinada através da Equação 47.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 89


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fh ,0 ,k
fh , ,k  (61)
k90 sen   cos 2 
2

fh,0,k é a resistência ao esmagamento da madeira segundo a direcção das fibras e deve ser
determinada de acordo com as indicações para cada ligador C, B –Pregos/Quadro A - 10 , B-
Parafusos/Quadro A - 14, B-Parafusos de porca e Cavilhas/Quadro A - 15.

1, 35  0 , 015d resinosas



k90 1, 30  0 , 015d LVL
0 , 90  0 , 015d folhosas

5.5.4 Capacidade resistente de uma fila de ligadores – Ligadores tipo cavilha

Para ter em atenção estes a distribuição de cargas não uniforme pelos vários ligadores de uma
fila de ligadores C o EC5 considera não o número total de ligadores existentes numa fila, mas
sim um número equivalente (nef) que resistindo à carga máxima individualmente conduzem a
uma carga de conjunto semelhante à da totalidade dos ligadores resistindo a cargas diferentes.

Para cada tipo de ligador o EC5 indica a forma como deve ser determinado este parâmetro B –
Pregos/Quadro A - 10 , B-Parafusos/Quadro A - 14, B-Parafusos de porca e Cavilhas/Quadro
A - 15.

A capacidade resistente do conjunto de filas de ligadores é obtida através da soma algébrica


da capacidade resistente de todas as filas.

Além desta verioficação devem ainda verificar-se a possibilidade de formação de modos de


colapso de grupo que não são considerados no modelo de Johansen, nomeadamente “Block
shear” e “Plug shear”.

Block shear failure Plug shear failure

Figura 77 – Roturas por “Block shear” e “Plug shear”

Este tipo de roturas pode ser particularmente importante quando os ligadores estão instalados
próximos da extremidade dos elementos de madeira.

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 90


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5.5.5 Outros tipos de ligações

Dos restantes tipos de ligações poderemos distinguir dois tipos, ligações: ligações com
elementos metálicos e ligações coladas.

Dentro das ligações com elementos metálicos existe uma grande diversidade de soluções. Para
uma grande parte destas existem metodologias de verificação de segurança específicas. No
Quadro 16 são indicados alguns desses tipos de ligações bem como referências onde se podem
encontrar indicações sobre o modo de verificação de segurança das mesmas.

Quadro 16 – Indicações sobre referências onde podem ser encontradas mais informações sobre outros tipos de
ligações

Ligação Indicações para verificação de segurança


Anéis EC5 – 8.9
Placas denteadas EC5 – 8.10
Placas circulares EC5 – 8.9
Chapas pregadas EC5 – 8.2.3 e EC3
Chapas denteadas EC5 – 8.8
Agrafos EC5 – 8.4
Varões colados EC5 parte 2
Carpinteiro STEP – C12

DIMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA 91


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6 Concepção e Projecto de Estruturas de Madeira


6.1 Concepção estrutural
6.1.1 Coberturas

Em termos de coberturas interessa diferenciar entre coberturas tradicionais de pequeno vão


regra geral realizadas com madeira maciça e coberturas industriais de médio grande vão
realizadas não com madeira maciça mas com derivados de madeira (ex: madeira lamelada
colada LVL).

Para efeitos de pré-dimensionamento tem de ser considerado o sistema estrutural que se


pretende usar. Na são indicados os vãos possíveis com cada sistema estrutural bem como
alturas que podem ser consideradas ao nível de pré-dimensionamento.

Figura 78 – Sistemas estruturais para coberturas (Thelandersson e Larsen, 2003)

CONCEPÇÃO E PROJECTO 92
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6.1.2 Pavimentos

No caso dos pavimentos o dimensionamento compreende as vigas e o revestimento, cujo


dimensionamento está relacionado. Em termos de vigas o dimensionamento centra-se
essencialmente no espaçamento e altura das mesmas. Uma abordagem possível consiste em
definir um determinado afastamento e posteriormente dimensionar as vigas para uma altura
entre 2 e 4 vezes a sua largura. É preferível sempre que possível dimensionar vigas com maior
altura uma vez que conduz a maior aproveitamento do material. Neste tipo de situação regra
geral a instabilidade por flexão torção não é condicionante.

O desempenho mecânico de pavimentos pode significativamente melhorado se forem


dispostos contraventamentos na direcção perpendicular à direcção das vigas (Figura 79), uma
vez que estes permitem diminuir as vibrações no pavimento.

Figura 79 – Disposição de elementos de contraventamento segundo a direcção perpendicular à direcção das vigas
(Thelandersson and Larson, 2003)

Existe um significativo acréscimo de desempenho com a colocação de pelo menos um


contraventamento a meio vão. A disposição de mais do que uma linha de contraventamentos
pode ser benéfica no entanto a sua disposição com distâncias entre si inferiores a 2 metros
não melhora de forma significativa o desempenho dos pavimentos (Thelandersson and Larson,
2003).

6.1.3 Tracção na direcção perpendicular à direcção das fibras

A tracção na direcção perpendicular à direcção das fibras constitui um problema significativo


nas estruturas de madeira. Por esse motivo esse tipo de solicitação deve ser completamente
evitado. Na maioria das situações este tipo de solicitação aparece de uma forma indirecta
associado a ligações ou pormenores construtivos (Figura 80).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 93
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Figura 80 – Situações que podem originar o aparecimento de tracções na direcção perpendicular à direcção das
fibras (Thelandersson and Larson, 2003)

Não sendo possível evitar este tipo de solicitação devem prever-se mecanismos que permitam
aumentar a resistência do elemento e acrescentar ductilidade à ligação. Essas medidas podem
passar pela associação de ligadores metálicos aos elementos de madeira, quer sejam chapas
exteriores quer sejam parafusos aplicados com a direcção das tracções (Figura 82).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 94
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Figura 81 – Reforços para aumentar a resistência na direcção perpendicular à direcção das fibras (STEP,1995)

6.1.4 Ligações

As entregas de vigas são um dos tipos de ligações mais simples e mais comuns. Para cargas
normais em pavimentos de pequenos e médios vãos as tensões resistentes são regra geral
muito superiores às tensões actuantes. por essa razão o comprimento de entrega é definido
com base em razões construtivas e não de limitação de esforços.

Em situações em que existem cargas pontuais significativas a actuar próximo dos apoios, (ex:
pontes) a compressão na direcção perpendicular à direcção das vigas pode constituir um
problema sendo muitas vezes necessário recorrer a dispositivos que garantam uma eficiente
distribuição de tensões (Figura 82).

Figura 82 – Dispositivo metálico para distribuição de cargas nos apoios

Tal como indicado anteriormente C um dos aspectos que deve ser tido em atenção no
dimensionamento das ligações é a sua ductilidade. Estas devem ser dimensionadas de forma a

CONCEPÇÃO E PROJECTO 95
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maximiza-la. Como tal é preferível o uso de um número maior de ligadores de menor diâmetro
a um número menor de ligadores de maior diâmetro.

Na escolha do ligador a usar em determinada situação devem ser tidos em atenção vários
aspectos, nomeadamente a forças actuantes e o tipo de solicitação. As cavilhas e os parafusos
de porca garantem capacidades resistentes maiores com um menor número de ligadores mas
maiores custos e menor ductilidade. Os pregos e os parafusos garantem maior ductilidade e
regra geral custos mais baixos mas capacidade resistentes inferiores.

O parafuso e o prego diferem essencialmente ao nível da capacidade resistente axial que é


muito maior no caso dos parafusos. Em solicitações que requeiram resistência axial estes são
por isso preferíveis. Quando tal não acontece o prego pode ser uma solução mais económica e
com desempenhos semelhantes.

O parafuso de porca e as cavilhas diferem das cavilhas também na capacidade resistente axial
que é nula nas cavilhas e pode ser muito elevada nos parafusos. Além disso esteticamente a
cavilha é mais discreta e mais barata, pelo que em solicitações em que não requeiram
capacidade resistente axial ou limitação de deformações na direcção dos ligadores as cavilhas
são preferíveis. Estes dois tipos de ligadores são muitas vezes usados em conjunto (Figura 83).

Figura 83 – Ligação com cavilhas e parafusos de porca usados em associação

6.2 Durabilidade
6.2.1 Aspectos gerais

A durabilidade é um aspecto essencial nas estruturas de madeira. Uma durabilidade adequada


é essencial para garantir as boas condições de serviço das estruturas ao longo da sua vida útil.
Na Figura 84 é indicado um esquema possível para a análise de durabilidade de uma estrutura.
O esquema apresentada evidencia a importância central que a concepção tem nesta análise E.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 96
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Concepção
Risco, exigências,
materiais. Não
Durabilidade
Não Tratamento
natural suficiente ? possível ?

Sim Sim

Durabilidade Selecção do
garantida tratamento

Figura 84 – Análise de durabilidade de uma estrutura de madeira

Não existe um regulamento ou documento unificado que aborde todas as questões relativas a
durabilidade de madeira. A informação disponível encontra-se dispersa por diversas Normas.

O conceito base em termos de durabilidade é o de classe de risco, estas representão risco que
uma estrutura tem de ser atacada por agentes biológicos para determinadas condições de
aplicação.

As EN 335-1 definem 5 classes de risco:

Classe 1 – Corresponde a elementos de madeira aplicados sobre coberto, totalmente


abrigados das intempéries e sem qualquer exposição a focos de humidade.

Classe 2 – Corresponde a elementos de madeira aplicados sobre coberto, totalmente


abrigados mas onde humidades relativas elevadas podem conduzir a humidificação ocasional
mas não persistente .

Classe 3 – Corresponde a elementos de madeira que não estão sob coberto, logo expostos às
intempéries, mas não estão em contacto com o solo.

Classe 4 – Corresponde a elementos de madeira aplicados em contacto permanente com o


solo ou água doce.

Classe 5 – Corresponde a elementos de madeira aplicados em contacto permanente com água


salgada.

Para cada uma destas classes são definidas as probabilidades de ocorrência de ataques por
cada tipo de agente tal como indicado no Quadro 17.

Quadro 17 – Susceptibilidade da madeira aos diferentes tipos de agentes biológicos função da classe de risco

Classes de Teor de água Fungos Carunchos Térmitas Xilófagos

CONCEPÇÃO E PROJECTO 97
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risco superior a 20% marinhos


1 Nunca - U L -
2 Ocasionalmente U U L -
3 Frequentemente U U L -
4 Permanentemente U U L -
5 Permanentemente U U L U
U – Presente em toda a Europa; L – Presente em alguns locais da Europa
As condições específicas em que cada um destes agentes pode constituir risco são
características do tipo de agente tal como definido atrás C. No caso dos insectos,
nomeadamente as térmitas, o risco varia consoante a localização geográfica, o risco associado
a cada pais Europeu está definido no Quadro 5.

6.2.2 Durabilidade natural

A durabilidade natural é outro dos aspectos de grande importância na análise da durabilidade.


Esta pode ser definida como a resistência da madeira ao ataque de organismos biológicos
quando não foi sujeita a qualquer tipo de tratamento. Esta varia naturalmente com o agente
em causa e depende também de forma significativa da madeira em causa (espécie, borne,
cerne etc...).

A durabilidade natural está definida na EN 350-2 para as diferentes espécies e para os


diferentes agentes. A norma define classes de durabilidade que variam função do agente
agressivo.

Em termos de fungos a EN 350-2 define 5 classes de durabilidade, essas classes aplicam-se a


madeira de cerne pois a madeira de borne considera-se sempre não durável a não ser que
existam estudos que demonstrem algo diferente (Quadro 18).

Quadro 18 – Classes de durabilidade natural definidas na EN 350-2 para fungos

Durabilidade
Classe
Cerne Borne
1 Muito durável Não durável
2 Durável Não durável
3 Moderadamente durável Não durável
4 Pouco durável Não durável
5 Não durável Não durável
Em relação aos insectos a EN 350-2 define 3 classes de risco, quer para carunchos (Quadro 19)
quer para térmitas (Quadro 21).

Quadro 19 - Classes de durabilidade natural definidas na EN 350-2 para carunchos

CONCEPÇÃO E PROJECTO 98
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Durabilidade
Classe
Borne Cerne
D Durável Durável
S Susceptível Durável
SH Susceptível Susceptível
Quadro 20 - Classes de durabilidade natural definidas na EN 350-2 para térmitas

Durabilidade
Classe
Borne Cerne
D Susceptível Durável
M Susceptível Moderadamente Durável
S Susceptível Susceptível
No caso dos xilófagos marinhos a EN 350-2 define também 3 classes de risco (Quadro 21).

Quadro 21 - Classes de durabilidade natural definidas na EN 350-2 para xilófagos marinhos

Durabilidade
Classe
Borne Cerne
D Susceptível Durável
M Susceptível Moderadamente Durável
S Susceptível Susceptível
Uma vez que a durabilidade natural da madeira está intimamente relacionada com o facto de
esta ser proveniente de borne ou de cerne a EN 350-2 apresenta também valores indicativos
para a largura do borne nos elementos de madeira.

Quadro 22 – Largura expectável do borne nos elementos de madeira

Classe Largura do borne Dimensão


mp muito pequena menor que 2cm
p pequena entre 2 cm e 5 cm
m média entre 5 cm e 10 cm
g larga maior que 10 cm
x sem distinção entre cerne e -
borne
(x) geralmente sem distinção -
entre cerne e borne

6.2.3 Durabilidade por tratamento químico

Com base na classe de risco correspondente às condições em que a madeira está aplicada e na
sua durabilidade natural podem ser definidos os tratamentos, medidas necessárias para
garantir uma adequada durabilidade do material.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 99
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Na NP EN 460 são dados guias de exigência de durabilidade na sua utilização para as diferentes
classes de risco. No Quadro 23 é apresentada a situação em termos de fungos.

Quadro 23 – Guia das classes de durabilidade para fungos nas diferentes classes de risco

Classe de Classe de durabilidade


risco 1 2 3 4 5
1 0 0 0 0 0
2 0 0 0 (0) (0)
3 0 0 (0) (0)-(x) (0)-(x)
4 0 (0) (x) x x
5 0 (x) (x) x x
Legenda:
0 – Durabilidade suficiente
(0) – durabilidade natural normalmente suficiente, mas para certas condições pode ser
recomendado um tratamento preservador
(0) – (x) a durabilidade natural pode ser suficiente mas, em função da espécie de madeira, da
sua permeabilidade e do seu emprego final, pode justificar-se a necessidade de um tratamento
preservador
(x) – o tratamento preservador é normalmente suficiente mas, para certas utilizações, a
durabilidade natural pode ser suficiente
x – o tratamento preservador é necessário
Em relação aos carunchos a Norma indica que nas condições de serviço onde há um risco
significativo, que pode conduzir a uma perda de resistência inaceitável ou a uma degradação
visual, as espécies de madeira classificadas como susceptíveis devem ser tratadas com
produto preservador.

Em relação às térmitas a Norma indica que apenas o cerne de madeira de espécies


classificadas como D-durável ou M-moderadamente durável podem ser aplicadas sem
tratamento. A escolha entre madeira da classe D ou M deve ter em atenção aspectos como a
função, a utilização final, a duração de serviço e as consequências da rotura.

Em relação aos xilófagos marinhos a Norma indica que apenas o cerne de madeira de espécies
classificadas como D-durável ou M-moderadamente durável podem ser aplicadas sem
tratamento. A escolha entre madeira da classe D ou M deve ter em atenção aspectos como a
função, a utilização final, a duração de serviço e as consequências da rotura.

Sempre que se pretende aumentar a durabilidade da madeira por preservação química é ainda
necessário verificar se o tratamento é possível de ser aplicado a uma determinada espécie. A
permeabilidade das espécies ao tratamento é bastante variável existindo mesmo espécie em
que é impossível aplicar tratamentos em profundidade pelo que não pode ser aplicadas em
determinadas classes de risco.

A EN 350-2 define quatro classes de impregnabilidade (Quadro 24) que pode ser definida como
a facilidade com que a madeira pode ser penetrada por um líquido, por exemplo um produto

CONCEPÇÃO E PROJECTO 100


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preservador. Os parâmetros principais para a definir para uma determinada madeira, são a
profundidade de penetração do produto e a quantidade de produto retido.

Quadro 24 – Classes de impregnabilidade definidas na EN 350-2

Classe Impregnabilidade
1 Facilmente impregnável
2 Medianamente impregnável
3 Pouco impregnável
4 Não impregnável
n/d Dados disponíveis insuficientes
v Espécie com nível de variabilidade
anormalmente elevado

6.2.4 Tratamentos químicos

Uma das formas mais usadas para aumentar a durabilidade das estruturas de madeira, é o
recurso a tratamentos químicos. Estes distinguem-se não só pelos produtos usados, mas
também pela forma como são aplicados.

Um dado produto e o correspondente modo de aplicação deve estar certificado para garantir
uma determinada durabilidade, para determinada classe de risco, de acordo com a EN599-1.
Recentemente têm sido desenvolvidos térmicos (temperaturas elevadas associadas com
impregnação com vapor ou óleos) que melhoram significativamente a durabilidade e a
estabilidade da madeira. No entanto estes tratamentos degradam as propriedades resistentes
do material e não são eficazes em classe de risco 4.

Os produtos químicos podem geralmente ser enquadrados num dos seguintes tipos:

 Oleosos

 Aquosos

 Em solvente orgânico

O produto oleoso mais usado na preservação de madeira é o creosote. Tratamento eficaz, que
mantém um aspecto agradável por longos períodos (Figura 85). São necessárias grandes
quantidades de produto uma vez que perde em contacto com água. Têm cheiro intenso razão
pela qual não são geralmente usados em edifícios.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 101


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Figura 85 – Elemento de madeira tratado com creosote

Os produtos aquosos são geralmente produtos de tratamento superficial para aplicações


interiores. Os produtores de revestimentos para madeira (ex: pinturas) têm geralmente
marcas próprias para este tipo de tratamentos.

Os produtos em solvente orgânico são geralmente os mais usados em aplicações exteriores.


Este são bastante eficazes em termos de tratamento, têm no entanto a desvantagem de em
muitos casos apresentarem uma cor esverdeada, esteticamente pouco apelativa (Figura 86).

Figura 86 – Exemplo de tratamento com produtos em solvente orgânico

O tipo de aplicação dos produtos preservadores é também um parâmetro da maior


importância para a sua durabilidade. Um tratamento superficial corre o risco de ser ineficaz se
existir humidificação, ainda que superficial, da madeira pela “lavagem” dos produtos activos
por parte da água. Quando existe risco de humidificação deve ser sempre utilizado um
tratamento em profundidade, de forma a garantir que os produtos activos continuam a existir
e ser eficazes, mesmo se existir degradação das concentrações de produto activo na camada
superficial.

Em termos de tipo de aplicação podemos distinguir entre aplicações superficiais e aplicações


em profundidade. As aplicações superficiais (ex: pincelagem, aspersão, imersão rápida), são
eficazes para aplicações em classes de risco baixas. As aplicações em profundidade (ex:
pressão, vácuo, difusão, substituição de seiva), são eficazes mesmo em aplicações em classes
de risco elevadas.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 102


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Ao nível da aparência existem também tratamentos, no entanto apesar dos avanços


significativos que se têm verificado estes ainda não são tão eficazes como os tratamentos de
durabilidade. A deterioração de aspecto é um problema sensível essencialmente ao nível de
exteriores em que os elementos de madeira estão sujeitos à acção da humidade e dos raios
violetas em simultâneo (Figura 88).

Figura 87 – Aspecto ao fim de 5 anos de dois elementos de madeira provenientes da mesma árvore aplicados em
ambiente exterior e interior

A deterioração do aspecto, apesar de não colocar em causa a segurança da estrutura, é


importante pois afecta negativamente o aspecto da estrutura, podendo estar em causa a
utilização da mesma pelo desconforto que pode introduzir nos utilizadores.

Este problema pode ser minimizado recorrendo a tratamentos, superficiais (ex: velaturas,
vernizes), no entanto estes têm uma eficácia limitada, pelo que devem ser sempre
complementados com uma manutenção adequada. Em ambientes exteriores esta manutenção
terá de ser efectuada com uma periodicidade de 2-5 anos.

Regra geral este tipo de degradação na madeira é superficial pelo que a remoção dessa
camada (ex: lixagem) permite recuperar o aspecto inicial (Figura 88).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 103


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Figura 88 – Remoção da camada superficial deteriorada

Só a exposição a condições severas ao longo de períodos muito longos pode conduzir a


degradações mais significativas (Figura 89).

Figura 89 – Degradação da madeira ao longo do tempo (Wood handbook, 1999)

A exposição solar sem contacto com humidade não leva a uma degradação tão significativa
mas provoca o escurecimento da madeira, que pode ser revertido através de lixagem.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 104


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Figura 90 – Madeira aplicada em ambiente interior com e sem exposição solar directa

Além da exposição prolongada aos raios solares e humidade, também certos tipos de fungos
podem alterar/degradar a aparência da madeira (ex: azulamento). Este problema ocorre muito
frequentemente em processos de secagem lentos em que as peças de madeira estão sujeitas a
um teor de água relativamente elevado, por períodos relativamente prolongados. Para
ultrapassar este problema podem ser usados tratamentos superficiais de fácil aplicação. Estes
ataques podem ocorrer em profundidade tornando-se por isso irreversíveis.

6.2.5 Concepção para a durabilidade

Com as tecnologias disponíveis actualmente, nomeadamente em termos de produtos


preservadores e métodos de tratamento, na maioria das situações a prescrição de um
tratamento químico adequado permite garantir uma durabilidade adequada para todo o tipo
de estruturas. Apesar disso o recurso a tratamento químico também tem desvantagens. De
entre estes destacam-se: os problemas ambientais associados ao uso de produtos químicos
com níveis de toxicidade potencial elevada, custos acrescidos e impossibilidade de recurso a
algumas espécies para as classes de risco mais elevadas.

Uma correcta concepção de uma estrutura permite em muitas situações garantir adequados
níveis de durabilidade sem necessidade de recurso a tratamentos químicos, ou com recurso a
tratamentos químicos de mais fácil aplicação e menos tóxicos.

A filosofia subjacente a uma adequada concepção consiste em diminuir as condições de risco a


que os elementos estão sujeitos, essencialmente através de uma correcta pormenorização
construtiva. Este tipo de pormenorização varia consoante o agente biológico que constitui o
risco, pois cada tipo de agente necessita de condições específicas para se desenvolver C - 2.6.

De seguida são apresentados alguns exemplos de pormenorizações adequadas para evitar o


desenvolvimento dos vários tipos de agentes biológicos.

Os fungos são muito sensíveis à humidade, em madeira com teores de água inferiores a 20%
estes têm grande dificuldade em se desenvolver. Por esse motivo concepções adequadas
devem procura evitar que a madeira esteja de alguma forma em contacto com a humidade.

As zonas de contacto entre a madeira e a alvenaria constituem sempre pontos críticos uma vez
que a humidade pode sempre chegar à madeira através da alvenaria, quer seja a través de
condensações ou de capilaridades (Figura 91).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 105


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Figura 91 – Exemplo de degradação da madeira no contacto entre a alvenaria e a madeira (P.H. Kirkegaard –
Aalborg University)

Nestas situações e conveniente garantir uma boa ventilação dos elementos de madeira de
forma a permitir uma secagem rápida dos mesmo, evitando a existência de teores de água
elevados por períodos longos na madeira (Figura 92).

Figura 92 – Pormenores construtivos com vista a garantir uma boa ventilação dos elementos de madeira (P.H.
Kirkegaard – Aalborg University)

Quando tal não é possível (ex: entregas de vigas) pode ser colocada uma barreira, por exemplo
tela asfáltica, que impeça a humidade de passar da alvenaria para a madeira.

Em zonas em que existe contacto directo com água, como zonas expostas a chuva ou cursos de
água, é essencial garantir um correcto e rápido escoamento, principalmente em zonas em que
estejam expostas caces na direcção das fibras nas quais a água penetra com grande facilidade.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 106


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Figura 93 – Pormenores construtivos com vista a um correcto escoamento da água (P.H. Kirkegaard – Aalborg
University)

No caso de elementos potencialmente sujeitos ao contacto com a chuva sempre que possível
deve ser prevista uma cobertura que evite o contacto com a água da chuva. Como boa regra o
ângulo formado entre o ponto mais exposto da madeira e a extremidade da cobertura deve
ser superior a 600 (Figura 94).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 107


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>30º

Figura 94 – Pormenorização com vista a evitar o contacto da água da chuva com os elementos de madeira

Quando não é possível evitar o contacto da humidade com a madeira pode ser prevista uma
camada superficial de madeira que quando estiver degradada possa ser facilmente substituída
por uma nova. Este tipo de solução é bastante eficiente desde que os elementos superficiais
sejam sempre substituídos antes de a degradação se alastrar aos elementos estruturais (Figura
95).

Figura 95 – Elemento superficial que serve de camada de protecção para os elementos estruturais

No caso dos carunchos a medida mais importante que pode ser tomada passa pelo evitar do
contacto entre madeira infectada e madeira não infectada.

As térmitas iniciam o seu ataque da madeira a partir de madeira infectada ou do solo. Como
tal deve ser sempre evitado o contacto entre a madeira e o solo, interpondo sempre que
possíveis, barreiras entre estes que não possam ser ultrapassadas pelas térmitas (ex: betão,
chapa metálica). As térmitas têm muitas dificuldades quando têm de se expor à luz solar, razão
pela qual a exposição dos diferentes caminhos solo - madeira à luz solar pode ser suficiente
para impedir o seu acesso à madeira.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 108


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

6.2.6 Ligações

Na maioria das situações as ligações incluem a utilização de elementos metálicos. Desde que a
madeira não esteja exposta a teores de água elevados que possam propiciar o contacto da
água com o aço não existem em princípio problemas de durabilidade significativos. Apesar
disso existem alguma espécies que possuem constituintes altamente corrosivos para o aço,
como por exemplo a madeira de carvalho ou de castanheiro.

No EC5 são apresentados no ponto 4.2 exemplos de especificações mínimas a exigir em termos
de protecção dos elementos metálicos das ligações (Quadro 25).

Quadro 25 – Exemplos de especificações mínimas a exigir em termos de protecção de ligadores metálicos em


relação à corrosão de acordo com a ISO 2081

Classe de serviço
Ligador
1 2 3
a
Pregos e parafusos d≤4mm Não exigido Fe/Zn 12C Fe/Zn 25Ca
Parafusos de porca e cavilhas d>4mm Não exigido Não exigido Fe/Zn 25Ca
Agrafos Fe/Zn 12Ca Fe/Zn 12Ca Aço inoxidável
a
Placas denteadas e chapas metálicas t<3mm Fe/Zn 12C Fe/Zn 12Ca Aço inoxidável
a
Chapas metálicas 3mm ≤t<5mm Não exigido Fe/Zn 12C Fe/Zn 25Ca
Chapas metálicas t>5mm Não exigido Não exigido Fe/Zn 25Ca
Se for usada zincagem a quente os tratamentos indicados devem ser substituídos, Fe/Zn 12c
por Z275 e Fe/Zn 25c por Z350
Nos casos de madeiras particularmente agressivas, ou outro tipo de condições particularmente
agressivas em relação ao aço as protecções apresentadas devem ser reforçadas ou usado aço
inoxidável.

6.3 Outros aspectos de natureza construtiva


Um aspecto essencial aquando da concepção e aplicação de elementos de madeira é o teor de
água. è essencial garantir que as variações dimensionais da madeira aplicada são limitadas,
não só por razões de desempenho mecânico mas também por razões estéticas. Obviamente
que a principal medida para evitar este problema é a aplicação da madeira com um teor de
água o mais possível próximo do teor de água de equilíbrio.

As variações dimensionais nos elementos de madeira podem ser suficientemente


problemáticas para conduzir à rotura das estruturas. Por exemplo, numa ligação de contacto
como as ligações de carpinteiro C uma variação dimensional pode conduzir facilmente á perda
de contacto entre os elementos de madeira com a consequente redução drástica da
capacidade resistente da ligação (Figura 97).

CONCEPÇÃO E PROJECTO 109


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Figura 96 – Exemplo de folga em ligação de carpinteiro de asna tradicional

Provavelmente a anomalia mais vulgar relacionada com variação de teores de água em


madeira aplicada são as folgas ou os levantamentos de pavimentos. O seu risco pode ser
substancialmente reduzido se existir uma correcta aplicação.

Os levantamentos podem ocorrer mesmo sendo a madeira aplicada com um teor de água
correspondente ao de equilíbrio. Se aplicação for realizada no Verão durante o ciclo climático
de Inverno a madeira irá tender a absorver água e aumentar o seu teor de água e respectivas
dimensões. Nessa situação se não existir folga para o movimento do pavimento este irá reagir
ao aumento de dimensões com um levantamento. Por este motivo deve existir sempre folga
para permitir a variação dimensional da madeira, pois com maior ou menor significado as suas
dimensões irão sempre variar. por exemplo num pavimento de madeira essa folga pode existir
nas extremidades sendo facilmente ocultada por um rodapé de madeira.

Pelas razões apresentadas no ciclo de Verão a dimensão dos elementos e madeira tem
tendência a diminuir e logo a dar origem ao aparecimento de aberturas entre as tábuas. Para
diminuir a visibilidade deste problema uma opção consiste no uso de tábuas mais estreitas
logo conduzindo a um maior número de aberturas mas de menor dimensão que mais
facilmente passam despercebidas.

CONCEPÇÃO E PROJECTO 110


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7 Exemplos de Aplicação
7.1 Reabilitação de edifício de habitação
Introdução

Os problemas propostos compreendem a análise de diversos aspectos envolvidos no


dimensionamento de várias estruturas de madeira que compõe uma moradia unifamiliar que
se pretende reabilitar.

Com o enunciado dos diferentes problemas são fornecidos dados adicionais necessários para
os resolver. Esses dados e pressupostos poderão ser alterados sempre que tal se justifique
tendo em atenção as condições que seriam de esperar numa situação real, tais alterações
carecem de justificação adequada. Sempre que necessário devem ser assumidas as opções que
sejam tidas como mais razoáveis para a situação em causa.

Aspectos gerais

O edifício apresentado corresponde a uma moradia unifamiliar que está a ser restaurada de
forma a colmatar alguma deficiências existentes (Z2) bem como introduzir alguns elementos
novos (Z1, Z3, Z4) para melhorar as suas funcionalidades.

O edifício existente tem paredes externas de alvenaria de pedra com cerca de 60cm de
espessura sobre as quais poderão ser apoiados os elementos estruturais a dimensionar.

Zonas e seus aspectos particulares

Zona 1

Localização

Toda a estrutura da zona de alpendre indicada (Figura 97) como Cob.1

Outros aspectos

Alpendre externo coberto com a cota de soleira 50mm acima da cota do solo circundante. A
cobertura será realizada com telha canudo sem que exista a colocação de qualquer forro ou
revestimento, os elementos de madeira estão totalmente visíveis.

Zona 2

Localização

Toda a estrutura elementos principais e secundários da cobertura indicada (Figura 97) como
Cob.2

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO 111


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Outros aspectos

A cobertura da zona 2 será realizada com telha lusa. Este sótão é acessível mas somente para
vistorias limpezas ou reparações. A estrutura de madeira sobre a qual apoia a telha não tem
qualquer forro ou revestimentos. Entre o sótão e primeiro andar existe um forro de
revestimento constituído por madeira com 10mm de espessura sem qualquer isolamento, este
deverá ser substituído por gesso cartonado sobre o qual se irá aplicar um isolamento
constituído por lã de rocha com 100mm de espessura (120kg/m3)

Zona 3

Localização

Zona interior da casa (usada para habitação).

Outros aspectos

A cobertura será realizada com telha lusa. Entre as telhas e a zona interior da casa será
colocado isolamento constituído por poliestireno exturdido, com uma espessura entre 50-
100mm. Pretende-se que os elementos estruturais de madeira sejam sempre que possível
visíveis para se tirar partido do valor estético da madeira. Dado existir um pé direito alto
pretende-se construir um piso intermédio que possa dar maior aproveitamento a essa divisão,
para servir como zona de estar e/ou zona de arrumos.

Zona 4

Localização

A zona 4 corresponde a uma pérgula externa.

Outros aspectos

Esta estrutura servirá de suporte a plantas que serão plantadas futuramente. Prevê-se que
estas sejam suportadas por arames que terão que ser apoiados no mínimo em cada 50 cm.

7.1.1 Problema Nº1

Para cada uma dessas zonas seleccione as duas propriedades resistentes que considere
relevantes em cada situação e determine os correspondentes valores de cálculo para uso em
termos de dimensionamento aos ELU. Considere os seguintes materiais/ espécies para cada
uma das zonas:

 Zona 1 – Madeira maciça da espécie Pinus pinaster (Maritime pine)


 Zona 2 – Lamelado colado combinado produzido com madeira da espécie
Piceas Alba (Spruce)

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO 112


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 Zona 3 – Lamelado combinado de Pinus Sylvestris (Pine - Redwood)


 Zona 4 - Madeira maciça da espécie Milicia excelsa (Iroko)

7.1.2 Problema Nº2

Dimensionar aos ELU os seguintes elementos:

 Vigas e respectivo solho do pavimento intermédio a executar na zona Z3,utilize


madeira de Espruce para vigas e pilares e madeira de Pinho marítimo para o solho de
revestimento.
 Pilares da pérgula externa existente na Zona 4, utilize madeira de Câmbala (Iroco).

7.1.3 Problema Nº3

Dimensionar aos ELU a viga V2 da cobertura assumindo que é constituída por madeira de
lamelado colado e que tem uma largura de 80mm. Assuma os seguintes valores de
carregamento:

 Vento – 0,60 kN/m2 (pressão - em plano horizontal)


 Peso próprio – 1,0 kN/m2 (telhas, revestimentos e elementos estruturais)
 Sobrecarga - 0,3 kN/m2
Verificar em relação aos ELS as vigas do pavimento da zona Z3 bem como a viga de cobertura
V2.

7.1.4 Problema Nº4

Admita que a viga de extremidade no pavimento transmite a carga directamente ao pilar tal
como indicado na Figura 97. Determine o número efectivo de ligadores que têm de ser usados,
admitindo os seguintes tipos de ligador:

 Pregos
 Cavilhas
 Parafusos de porca
 Parafusos

Verificar qual o deslocamento elástico que pode ser esperado em cada uma das situações.

7.1.5 Problema Nº5

Identifique a classe de risco em termos de durabilidade, seleccione uma madeira e tipo de


tratamento para cada uma das seguintes estruturas:

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO 113


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 Pavimento e escadas do piso intermédio


 Estrutura da cobertura
 Pilares da pérgula exterior
7.1.6 Problema Nº6

Admita que as estruturas apresentadas na figura correspondem a estruturas existentes que


apresentam alguns danos mas que se pretendem recuperar. Para cada uma das zonas
indicadas em baixo, e mediante os dados apresentados em cada caso proponha a intervenção
que considera indicada a cada caso.

Pavimento intermédio:

 Madeira de castanho (sweet chestnut)


 Solho com 30mm de espessura com ataque de caruncho bastante limitado
 Vigas de pavimento com 120x240mm em bom estado mas 40% destas têm a zona dos
apoios junto das paredes bastante degradadas devido a ataque de fungos (esse ataque
prolonga-se para fora da parede 10-20mm).
 Viga principal onde se apoiam as vigas de pavimento e que está apoiada sobre o pilar
P2 (200x350mm), com ataque bastante significativo por caruncho no borne mas
ataque insignificante ao nível do cerne.
Cobertura:

 Madeira de espécie desconhecida, mas que aparenta ser folhosa. Após remoção de
uma das vigas determinou-se uma massa volúmica aproximada de 380kg/m3. Os
elementos têm algum ataque por caruncho mas que não parece colocar em causa a
capacidade resistente das mesmas. As vigas têm uma secção de 120x200mm e não
apresentam deformação significativa. A ripa tem secção 25x40mm e apresenta
deformações significativas nalgumas zonas.
Pilares exteriores:

 Os pilares exteriores são numa espécie desconhecida que apresenta ser folhosa e tem
uma massa volúmica alta (>650kg/m3). Têm uma aparência bastante degradada, mas
apresentam grande resistência à perfuração em todos os pontos e não apresentam
quaisquer indícios por ataque de carunchos ou de térmitas.

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO 114


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

6.0m 1.5m 4.9m

2.4m
P1
V1 V1 P2
A B 1.7m
A1 P2
6.0m 1.7m

1.0m

P1 V2
1.0m
16.0m
6.0m
Solho de madeira
A2

2.6m
P2
P1 V1 V1
Corte A-B

P3 P3
A1, A2 – Asnas de cobertura
4.0m V1, V2 – Vigas principais
P1, P2, P3 – Pilares
P3 P3

1.2m

1.0m

1.0m

0.6m 1.0m

2.50m 2.6m

Figura 97. Esquema de edificação

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO 115


DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Bibliografia
Carvalho, A. “Madeiras Portuguesas”. Instituto Florestal , 1996

Dias, A.M.P.G.. (2005), Mechanical behaviour of timber-concrete joints, Ph.D thesis, Delft
University of Technology, Delft

EN 14081 “Timber structures - Strength graded structural timber with rectangular cross
section- Part 1, 2, 3, 4”. CEN, 2005.

EN 1912 “Structural timber. Strength classes. Assignment of visual grades and species”. CEN,
2004.

EN 26891, “ Timber structures - Joints made with mechanical fasteners - General principles for
the determination of strength and deformation characteristics”, CEN 1991.

EN 338, ”Structural Timber- Strength Classes”. CEN 2003

EN 350-2, “Durability of wood and wood-based products. Natural durability of solid wood.
Guide to natural durability and treatability of selected wood species of importance in Europe”.
CEN 1994.

EN 383, “Timber structures – Test methods – Determination of the embedding strength and
foundation values for dowel type fasteners”. CEN, 1993.

EN335-1, “Hazard classes of wood and wood-based products against biological attack.
Classification of hazard classes”. CEN 1992.

EN 1194 (2002), “Timber structures. Glued laminated timber. Strength classes and
determination of characteristic values”, CEN 1999.

ENV 1995 – 1-1 - “Eurocode 5 - Design of timber structures - Part 1-1 – General – Common
rules and rules for buildings”, CEN 2003.

ENV 1995 – 1-2 - “Eurocode 5 - Design of timber structures - Part 1-2 – General rules -
Structural fire design”,2000.

ENV 1995 – 2 - “Eurocode 5 - Design of timber structures - Part 2 – Bridges”, CEN 2004.

Ficha M9 - Madeira para Construção: Humidade da madeira. LNEC, 1997

NP 4305, “Madeira serrada de pinheiro bravo para estruturas. Classificação visual.” IPQ, 1995.

P.H. Kirkegaard, “ Architectural detailing”. Department of Civil Engineering of Aalborg


University, 2008.

Simpson-Tie – www.strongtie.com

BIBLIOGRAFIA 116
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

STEP “Timber Engineering ”, First Edition Netherlands 1995.

Therlandansen, S. and Larsen, H.J. “ Timber Engineering”. John Wiley & Sons, LTD, 2003.

Wood handbook “Wood handbook - Wood as an engineering material”. U.S. Department of


Agriculture, Forest Service, Forest Products Laboratory, 1999.

BIBLIOGRAFIA 117
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Anexos
Quadro A - 2 – Valores habituais para os coeficientes de variação das propriedades da madeira

Coeficiente de
Propriedade variação
(%)
Resistência à flexão 16
Módulo de elasticidade 22
Flexão por impacto 25
Compressão paralela à direcção das fibras 18
Compressão perpendicular à direcção das fibras 28
Resistência ao corte 14
Tracção paralela às fibras 25
Massa volúmica 10

ANEXOS 118
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 3 – Valores de pesos volúmicos para madeira e produtos derivados de madeira

Produto Peso volúmico


(kN/m3)
Madeira maciça (Classe resistente)
C14 3,5
C16 3,7
C18 3,8
C22 4,1
C24 4,2
C27 4,5
C30 4,6
C35 4,8
C40 5,0
D30 6,4
D35 6,7
D40 7,0
D50 7,8
D60 8,4
D70 10,8
Lamelado-colado (classe resistente)
GL24h 3,7
GL28h 4,0
GL32h 4,2
Gl36h 4,4
GL24c 3,5
GL28c 3,7
GL32c 4,0
Gl36c 4,2
Contraplacado
Contraplacado de madeira resinosa 5,0
Contraplacado de bétula 7,0
laminboard and blockboard 4,5
Aglomerado de partículas
Aglomerados de madeira 7,0 a 8,0
Aglomerados madeira-cimento 12,0
Painéis de fibras orientadas (OSB) 7,0
Aglomerados de fibras
Painéis duros 10,0
Painéis de média densidade 8,0
Painéis macios 4,0

ANEXOS 119
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 4 Coeficientes de segurança dos materiais M

Acções fundamentais M
Madeira maciça 1,3
Madeira lamelada colada 1,25
LVL, contraplacado e OSB 1,2
Ligações 1,3
Combinações envolvendo acções acidentais 1,0

Quadro A - 5 Factor de modificação da resistência

Norma Classe Classe de duração das cargas


Material Perman Longa Média Curta Instan
serviço ente duração duração duração tânea
EN 14081-1 1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Madeira maciça 2 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90
EN 14080 1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Madeira
2 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Lamelada Colada 3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90
EN 14374, 1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
LVL EN 14279 2 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90
EN 636 - Parte 1 1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
Painéis de
EN 636 - Parte 2 2 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10
contraplacado EN 636 - Parte 3 3 0,50 0,55 0,65 0,70 0,90
EN 300
OSB/2 1 0,30 0,45 0,65 0,85 1,10
OSB
OSB/3, OSB/4 1 0,40 0,50 0,70 0,90 1,10
OSB/3, OSB/4 2 0,30 0,40 0,55 0,70 0,90

kmod = kmod ,1kmod ,2 Correspondendo kmod,1 e kmod,2 aos dois materiais


Ligações
ligados

ANEXOS 120
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 6 Factor de deformação

Norma Classe de Serviço


Material
1 2 3
Madeira maciça EN 14081-1 0,60 0,80 2,00
Lamelado-colado EN 14080 0,60 0,80 2,00
LVL EN 14374, EN 14279 0,60 0,80 2,00
EN 636 - Parte 1 0,80 - -
Painéis de EN 636 - Parte 2 0,80 1,00 -
contraplacado EN 636 - Parte 3 0,80 1,00 2,50
EN 300
OSB OSB/2 2,25 - -
OSB/3, OSB/4 1,50 2,25 -
kdef = kdef ,1kdef ,2 Correspondendo kdef,1 e kdef,2 aos
Ligações
dois materiais ligados
Quando a madeira for aplicada com um teor de água próximo do
correspondente ao ponto de saturação das fibras C e se espera que
esta venha a secar em serviço estes valores devem ser aumentados
de 1.0 C.

ANEXOS 121
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 7. Propriedades mecânicas da madeira maciça EN 338

ANEXOS 122
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 8. Propriedades mecânicas da madeira Lamelada Colada EN 1194

Lamelado-colado homogéneo C GL24h GL28h GL32h GL36h


Flexão fm,g,k N/mm2 24 28 32 36
Tracção paralela ao fio ft,0,g,k N/mm2 16.5 19.5 22.5 26
2
Tracção perpendicular ao fio ft,90,g,k N/mm 0.4 0.45 0.5 0.6
2
Compressão paralela ao fio f N/mm 24 26.5 29 31
c,0,g,k
Compressão perpendicular ao fio fc,90,g,k N/mm2 2.7 3.0 3.3 3.6
2
Corte Fv,g,k N/mm 2.7 3.2 3.8 4.3
Mód. elasticidade paral. (médio) E0,g,mean kN/mm2 11.6 12.6 13.7 14.7
Mód. elasticidade paral. (0.05) E kN/mm2 9.4 10.2 11.1 11.9
0,g,05
Mód. de elasticidade perp. (médio) E90,g,mean kN/mm2 0.39 0.42 0.46 0.49
Módulo de Distorção (médio) Gg,mean kN/mm2 0.72 0.78 0.85 0.91
Massa volúmica g,k Kg/m3 380 410 430 450
Lamelado-colado combinado C GL24c GL28c GL32c GL36c
Flexão fm,g,k N/mm2 24 28 32 36
Tracção paralela ao fio ft,0,g,k N/mm2 14 16.5 19.5 22.5
Tracção perpendicular ao fio f N/mm2 0.35 0.40 0.45 0.5
t,90,g,k
2
Compressão paralela ao fio f N/mm 21 24 26.5 29
c,0,g,k
Compressão perpendicular ao fio fc,90,g,k N/mm2 2.4 2.7 3.2 3.3
Corte Fv,g,k N/mm2 2.2 2.7 3.2 3.8
2
Mód. elasticidade paral. (médio) E kN/mm 11.6 12.6 13.7 14.7
0,g,mean
Mód. elasticidade paral. (0.05) E kN/mm2 9.4 10.2 11.1 11.9
0,g,05
Mód. de elasticidade perp. (médio) E90,g,mean kN/mm2 0.32 0.39 0.42 0.46
Módulo de Distorção (médio) Gg,mean kN/mm2 0.59 0.72 0.78 0.85
Massa volúmica g,k Kg/m3 350 380 410 430

ANEXOS 123
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 9 Propriedades mecânicas do LVL – Kerto

Propriedade Símbolo Unidade Kerto-S Kerto-Q Kerto-Q


Espessura Espessura Espessura
21-90mm 21-24mm 27-69mm
Flexão
Altura fm,0,edge,k N/mm2 44.0 28.0 32.0
Coef. Efeito de escala s (-) 0.12 0.12 0.12
Largura fm,0,flat,k N/mm2 50.0 32.0 36.0
Tracção
Paralela às fibras ft,0,k N/mm2 35.0 19.0 26.0
Perpendicular às fibras, altura ft,90,edge,k N/mm2 0.8 6.0 6.0
Perpendicular às fibras, largura ft,90,flat,k N/mm2 - - -
Compressão
Paralela às fibras fc,0,k N/mm2 35.0 19.0 26.0
Perpendicular às fibras, altura fc,90,edge,k N/mm2 3.4 9.0 9.0
Perpendicular às fibras, largura fc,90,flat,k N/mm2 1.7 1.7 1.7
Corte
Altura fv,0,edge,k N/mm2 5.7 5.7 5.7
Largura fv,0,flat,k N/mm2 4.4 1.3 1.3
Módulo de elasticidade
Paralelo às fibras (médio) E0,mean N/mm2 13500 10000 10500
Paralelo às fibras (caract.) E0,k N/mm2 11600 8300 8800
Módulo de distorção
Altura (médio) G0,mean N/mm2 600 600 600
Altura (caract.) G0,k N/mm2 400 400 400
Largura (médio) G0,mean N/mm2 600 - -
Largura (caract.) G0,k N/mm2 400 - -
Massa volúmica m Kg/m3 510 510 510

ANEXOS 124
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 10 – Coeficientes efectivos de encurvadura para vigas em flexão para outras situações de
carregamento e apoio

ANEXOS 125
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 11. Rigidez de ligações madeira madeira

Tipo de ligador Rigidez elástica - Kser


Cavilhas
Parafusos de porca com ou sem folga mean 1,5d
Parafusos 23
Pregos com pré-furação
Pregos com pré-furação mean 1,5d 0,8
30
Agrafos mean 1,5d 0,8
80
Anéis mean dc
Placas circulares com rebordo 2
Placas denteadas
1, 5mean dc
Ligadores do tipo C1 a C9 (EN 912) 4
mean dc
Ligadores do tipo C10 e C11 (EN 912) 2
Os diâmetros devem ser considerados em mm e a massa volúmica da
madeira deve ser considerada em kg/m3

ANEXOS 126
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 12 – Dimensões de pregos comerciais NP280

ANEXOS 127
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 13 – Indicações específicas para pregos

Pregos sem pré-furação Pregos com pré-furação


fh – (MPa)
f h,k  0, 082k d 0,3 f h,k  0, 082 1  0, 01d  k
Pregos redondos Pregos quadrados
My,Rk – (Nmm) f f
M y,Rk  u,k 180d2,6 M y,Rk  u,k 270d2,6
600 600
Pregos lisos Outros
 f ax,k dt pen f ax,k dt pen
Fax,Rk  min  Fax,Rk  min 
f ax,k dt  f head,k d h
2 2
 f head,k d h
Fax,Rk – (N) f ax,k  20  106 2k t pen  12d
 t pen  Determinado a partir de
f ax,k  20  106 2k   2  8d  t pen  12d
 4d  ensaios
6 2
f head,k  70  10 k
max (Fax,Rk/4)- Pregos redondos Pregos quadrados Outros (ex:estriados)
(%) 15% 25% 50%
k ef
Sem pré- Com pré-furação
furação
nef n ef  n kef a1  14d 1,0 1,0
a1  10d 0,85 0,85
a1  7d 0,70 0,70
a1  4d - 0,50
a1 é o afastamento dos ligadores segundo a direcção das fibras da madeira e, no caso de pregos
desfasados na direcção perpendicular à direcção das fibras de um diâmetro o valor a considerar
deverá ser a distância entre ligadores no mesmo alinhamento

d Fax,Rk

tpen

dh Fax,Rk

ANEXOS 128
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Figura A 1 – Capacidade resistente axial de pregos

Quadro A - 14 – Indicações específicas para parafusos

d≤6 mm d>6 mm
fh – (MPa)
Tal como para os pregos Tal como para os parafusos de porca

f u,k
My,Rk – (Nmm) M y,Rk  180d2,6
600
6 mm≤d≤ 12 mm e 0,6 ≤d1/d≤ 0,75
Fax,Rk – (N) 0, 520k,8 d 0,5lef 0,9 d 
Fax,Rk   min  ; 1 
1, 2 cos   sen 
2 2
8 

max (Fax,Rk/4)- (%) 100%

d≤6 mm d>6 mm
nef
Tal como para os pregos Tal como para os parafusos de porca

ANEXOS 129
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Quadro A - 15 – Indicações específicas para parafusos de porca e cavilhas

fh – (MPa) f h,k  0, 082 1  0, 01d  k

f u,k
My,Rk – (Nmm) M y,Rk  180d2,6
600
Parafusos de porca Cavilhas
 f u,k d2 
Fax,Rk – (N) 
Fax,Rk  min  4 0
3, 0f
 c,90 ,k A w

Parafusos de porca Cavilhas


max (Fax,Rk/4)- (%)
25% 0%
Direcção da força
 = 0º 0º < < 90º  = 90º

 n

nef n ef  min  0,9 a 1
n 4 Interpolação linear 1
 13d

Fax,Rk
d d

3fc,90,k
fu fu

dh dh
Fax,Rk
Figura A 2 – Capacidade resistente axial de parafusos de porca

Quadro A - 16 – Dimensões a usar na pré-furação

ANEXOS 130
DEC – FCTUC – 2014/2015 ESTRUTURAS DE MADEIRA E ALVENARIA

Ligador Pré-furação (máximo) Folga (máximo)


Prego 0,8d 0mm
Parafuso 0,7d* 0mm
Cavilha 1,0d 0mm
Madeira - d+1mm 1mm
Parafuso de porca d  2mm 2mm
Aço - máximo  máximo 
 1 ,1d  0 ,1d
* - Diâmetro interno da rosca, para madeiras com massas volúmicas
superiores a 500 kg/m3 o diâmetro da pré-furação deve ser
determinado através de ensaios

ANEXOS 131

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