Sunteți pe pagina 1din 8

Yale Law School

Yale Law School Legal Scholarship Repository


HeinOnline -- 24 Penn St. Int’l L. Rev. 752 2005-2006

Faculty Scholarship Series Yale Law School Faculty


Scholarship

Recommended Citation

Koh, Harold Hongju, "Why Transnational Law Matters" (2006). Faculty


Scholarship Series. Paper 1793.

http://digitalcommons.law.yale.edu/fss_papers/1793

1-1-2006

This Article is brought to you for free and open access by the Yale Law School
Faculty Scholarship at Yale Law School Legal Scholarship Repository. It has
been accepted for inclusion in Faculty Scholarship Series by an authorized
administrator of Yale Law School Legal Scholarship Repository. For more
information, please contact: julian.aiken@yale.edu

Harold Hongju Koh é Professor de Direito Internacional na Universidade de


Yale Law School. Professor Koh é um dos maiores especialistas do país em
direito público e privado internacional, lei de segurança nacional, e os direitos
humanos.

Por que o Direito Transnacional é Importante

Why Transnational Law Matters


Harold Hongju Koh1

O que é o direito transnacional e por que ele é importante? O direito


transnacional representa um híbrido entre o direito doméstico e o internacional,
que tem assumido uma crescente importância em nossas vidas. Deixe-me
abordar o porquê de o direito transnacional ser importante, e em seguida, voltar
para algumas considerações sobre tendências emergentes, que chamo de
processo transnacional jurídico, substância transnacional jurídica e a ascensão
do direito transnacional público. Irei encerrar ponderando sobre formas em que

1
Dean and Gerard C. & Bernice Latrobe Smith Professor of International Law, Yale Law School; Assistant
Secretary of Sate for Democracy, Human Rights and Labor, 1998-2001. This essay is a footnoted version
of remarks delivered at the plenary session on “What Is Transnational Law And Why Does it Matter?” at
the 2006 AALS Annual Meeting in Washington, D.C. on January 4, 2006 and shares thoughts with Harold
Hongiu Koh, The Ninth Annual John W. Harger Lecture, The 2004 Term: The supreme Court Meets
International Law, 12 Tulsa J. Comp. & Int’l. L. 1 (2005). I am very grateful to Kate Desormeau of the Yale
Law School class of 2008 for her outstanding research assistance.

1
a educação jurídica e as faculdades de direito americanas devem agir para
manter o ritmo com a ascendência do direito transnacional.
Em seu Storrs Lectures de 1956, o juiz Philip Jessup notoriamente
definiu “direito transnacional” como “toda a legislação que regula as ações ou
eventos que transcendem as fronteiras nacionais... [incluindo] ambos os
direitos internacionais público e privado... [mais] outras regras que não se
encaixam totalmente em tais categorias padrão.”2 Talvez a melhor síntese das
doutrinas existentes de direito transnacional possa ser encontrada no American
Law Institute’s Restatement (Third) of Foreign Relations Law3. Pode-se pensar
no direito transnacional como um direito que não é puramente doméstico e nem
puramente internacional, mas sim, um híbrido dos dois. Considere, por
exemplo, o sistema métrico ou o conceito de negócio da internet do
“ponto.com”. Esses conceitos são domésticos ou internacionais? É claro que a
resposta intuitiva é nenhum dos dois. Ambos são híbridos, ideias puramente
transnacionais.
Talvez a melhor definição operacional do direito transnacional, utilizando
figuras da era do computador, seria: (1) direito que é “baixado” do direto
internacional para o direito doméstico: por exemplo, um conceito de direito
internacional que é domesticado ou internalizado no direito nacional, tais como
as normas internacionais de direitos humanos contra o desaparecimento
forçado, agora reconhecida como direito nacional na maioria dos sistemas
jurídicos; (2) o direito que é “carregado e então baixado”: por exemplo, uma
regra que se origina de uma ordem jurídica interna, como a garantia de um
julgamento livre sob o conceito de devido processo legal nos sistemas
jurídicos ocidentais. E que então se tornam parte do direito internacional, como
na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional sobre
os Direitos Civis e Políticos. E de lá se torna internalizado em quase todos os
sistemas jurídicos no mundo; e (3) o direito que é emprestado ou
“horizontalmente transplantado” de um sistema doméstico para outro: por
exemplo, a doutrina do “unclean hands” (ficha limpa), que migrou do direito de
equidade britânico para muitos outros sistemas jurídicos.
Hoje, o conceito do direito transnacional envolve uma variedade de
cursos das faculdades de direito considerados como nem estritamente
domésticos ou internacionais, nem estritamente públicos ou privados, por
exemplo: Direito Comparado, Direito da Imigração e dos Refugiados,
Transações Comerciais Internacionais, Direito Comercial Internacional, Direito
do Comércio Internacional, Direito das Relações Exteriores, Lei de Segurança
Nacional, Lei do Ciberespaço, Direito e Desenvolvimento, Direito Ambiental, Lei
de Crimes Transnacionais. Em cada uma dessas áreas jurídicas, os padrões
globais se tornaram totalmente reconhecidos, integrados e internalizados nos
sistemas jurídicos domésticos.
Para entender como o direito transnacional funciona é preciso entender
o “Processo Jurídico Transnacional”: o processo transubstantivo em cada uma
dessas áreas em que os estados e outros agentes transnacionais privados
utilizam a mistura do processo jurídico doméstico e internacional para

2
Philip C. Jessup, Transnational Law 2 (1956).
3
See, e.g., Restatement (Third) of the Foreign Relations Law of the United States (1987).

2
internalizar as normas jurídicas internacionais para o direito doméstico4. Como
já argumentei em outro momento, os elementos-chave na promoção deste
processo de domesticação incluem empreendedores de normas
transnacionais, patrocinadores de normas governamentais, redes de questões
transnacionais e comunidades interpretativas5. Nesta história, um desses
agentes provoca uma interação em nível internacional, trabalha em conjunto
com outros agentes de internalização para forçar uma interpretação de norma
jurídica internacional, e, em seguida continua a trabalhar com esses agentes
para convencer um estado-nação resistente, de internalizar essa interpretação
para o direito doméstico. Através de ciclos repetidos de “interação-
intepretação-internalização”, interpretações de normas globais aplicáveis,
eventualmente, são internalizadas na ordem jurídica nacional dos demais
Estados.
Para ilustrar, considere o direito antigo da Lei do Mercado ou do
Comerciante (“lex mercatoria”6). Originalmente desenvolvida como uma forma
de regulamentação de negócios entre os comerciantes no Mediterrâneo, os
mercadores ingleses trouxeram os costumes, os princípios e as regras da lex
mercatoria para a Inglaterra, onde passaram a ser incorporadas ao Common
Law inglês7. Deste ponto, este corpo jurídico migrou para o novo mundo para
se tornar parte da Common Law norte-americana8. Por meio da promulgação
do Código Comercial Uniforme, que procurou codificar o costume mercantil
existente, nos Estados Unidos, em quarenta e nove estados e no Distrito de
Colúmbia, a lex mercatoria entrou para a lei estatutária do estado. Em seguida,
tornou-se direito de tratados como parte da Convenção das Nações Unidas
sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias, que entrou
em vigor para os Estados Unidos em 01 de janeiro de 19889. Assim, a história
do processo jurídico transnacional da lex mercatoria mostra que ela foi
domesticada por meio de um processo histórico, no qual ela começou como
costume transnacional, se transformou em direito comum doméstico, foi
transplantada para outro sistema nacional, codificada na lei estatutária

4
See generally Harold Hongju Koh, The 1994 Roscoe Pound Lecture: Transnational Legal Process, 75
Neb. L. Rev. 181 (1996); Oona Hathaway & Harold Hongju Koh, Why do Nations Obey International
Law?, 106 and Politics 173-204 (2006).
5
O processo jurídico transnacional destaca as interações entre cidadãos privados, a quem chamo de
“empreendedores de normas transnacionais”, e funcionários públicos, a quem chamo de
“patrocinadores de normas governamentais”. A interação entre empreendedores de normas
transnacionais e patrocinadores de normas governamentais cria redes transnacionais e fóruns de
declaração do direito, que criam novas normas jurídicas internacionais, que são construídas por
comunidades interpretativas. Por meio do trabalho desses “agentes de internalização”, estas normas
jurídicas internacionais descem do nível internacional e tornam-se domesticadas no direito nacional.
6
Lex Mercatoria seria um conjunto de princípios, instituições e regras provenientes de diversas fontes,
que nutre constantemente as estruturas legais e a atividade específica da coletividade dos operadores
do comércio internacional.
7
See Harold J. Berman & Colin Kaufman, The Law of International Commercial Transactions (Lex
Mercatoria), 19 Harv. Int’l L. J. 221, 224-29 (1978)
8
See Swift v. Tyson, 41 U.S. (16 Pet.) 1 (1842) (clarifying that the bill of Exchange rules derived from lex
mercatoria constituted parto f the “general common law” to be interpreted by federal courts sitting in
diversity jurisdiction).
9
United Nations Convention on Contracts for the International Sale of Goods, Apr. 11, 1980, 1489
U.N.T.S. 3 [herenafter CISG]. By operation of the Supremacy Clause, the CISG overrides the UCC with
respect to contracts for the sale of goos between parties whose places of business are in different
contract states.

3
doméstica e, finalmente foi adicionada à lei de tratados internacional, que é
também lei federal nos Estados Unidos.
O direito transnacional é importante porque cada vez mais influencia as
leis e políticas que nos governam, particularmente quando as leis e as políticas
internacionais tornam-se internalizadas pelas leis e políticas dos Estados
Nacionais. Tomem como exemplo, o recente e intenso debate público sobre a
internalização da norma internacional contra a tortura. A administração Bush
lutou com a possibilidade ou não de uma norma contra a tortura ser de fato
internalizada na prática executiva; mas o presidente Bush reconheceu
recentemente que, como uma questão política do poder executivo, o presidente
não pode, de fato, ordenar tortura10. No plano legislativo, a emenda McCain
para o mais recente Department of Defense Authorization Act internalizou de
forma explícita a norma contra a tortura11. Além disso, desde 1980, os tribunais
federais dos Estados Unidos consideram que a tortura constitui um ato ilícito
em violação dos direitos das nações12. Não obstante aos diversos esforços, até
o momento, uma controvérsia ainda reina sobre se o governo dos Estados
Unidos tem realmente renunciado ao uso da tortura como um dispositivo de
interrogatório na guerra contra o terror e até que ponto o tem feito.
Uma controvérsia semelhante é a ocorre em relação às utilizações
permitidas do direito internacional na interpretação do direito interno dos
estados. Ao longo das décadas, os juízes americanos contribuíram para
internalizar normas jurídicas internacionais para o direito interno dos E.U.A por
meio de uma série de técnicas interpretativas, incluindo: (1) interpretação
constitucional13, (2) interpretação de tratados14, (3) incorporação do direito
internacional consuetudinário ao direito doméstico, (4) interpretação da lei
direta dos estatutos que expressamente incorporam o direito internacional, (5)
interpretação da lei indireta, em conformidade com o chamado “Charming
Betsy”, que exige que os tribunais interpretem os estatutos federais ambíguos

10
In January 2006, President Bush stated unambiguously: “I don’t think a presidente can... order torture,
for example... Yes, there are clear red lines...” Interview by Bob Schieffer, CBS News, with President
George W. Bush, in Washington, D.C. (Jan. 27, 2006), avaliable at
http://www.cbsnews.com/stories/2006/01/27/eveningnews/main1248952_page3.shtml. For a review
of the effort to internalize the norm against torture into U.S. law see Harold Hongju Koh, “Can the
President Be Torturer in Chief?” 81 Ind. L. J. 1145 (2005).
11
National Defense Authorization Act for Fiscal Year 2006, Pub L. No. 109-148, Div. A, tit. X, § 1003, 119
Stat. 2680, 2739-40 (2005) (“No individual in the custody or under the physical controlo f the United
States Government, regardless of nationality or physical location, shall be subject to cruel, inhuman, or
degrading treatment or punishment.”) The previous Defense Authorization Act stated that “[i]t is the
policy of the United States.” Ronald W. Reagan National Defense Authorization Act for Fiscal Year 2005,
Pub. L. No. 108-375, §1091 (b)(1), 118 Stat. 1811, 2068 (2004).
12
Filartiga v. Pena-Irarla, 630 F. 2d. 876 (2d. Cir. 1980)
13
See e.g., Roper v. Simmons, 543 U.S. 551 (2005) (referencing international norms and pratices in
holding unconstitutional executions of offenders who were under the age of eighteen when their crime
was committed); Sosa v. Alvarez-Machain, 542 U.S. 692 (2004) (discussing status of customary
international law as federal common law); Olimpyc Airways v. Husain, 540 U.S. 644 (2004) (interpreting
the Warsaw Convention); Lawrence v. Texas, 539 U.S. 558 (2003) (referencing interational norms and
practices in holding unconstitutional the criminalization of consensual, adult, private same-sex somody);
Atkins v. Virginia, 536 U.S. 304 (2002) (referencing international norms and practices in holding
unconstitutional executions of mentally retarded offenders).
14
See e.g., Olimpyc Airways v. Husain, 540 U.S. 644 (2004); Gonzales v. O Centro Espirita Beneficiente
Uniao do Vegetal, 126 S. Ct. 1211 (2006).

4
para atuar com as regras que regem o direito internacional15, e finalmente (6)
interpretando a lei nacional tendo em conta as regras do direito internacional.
Através das diversas técnicas interpretativas, os juízes federais tornaram-se
um elo cada vez mais crítico entre as esferas jurídicas internacionais e as
nacionais. Durante os últimos termos, os tribunais nacionais norte-americanos
ouviram mais casos envolvendo questões jurídicas transnacionais do que
nunca, refletindo a crescente globalização das nossas atividades jurídicas
nacionais16.
Ao abordar estas questões, como já mencionei anteriormente, a
Suprema Corte dos Estados Unidos da América está agora dividido em facções
transnacionalistas e nacionalistas, as quais mantêm atitudes fortemente
divergentes em relação ao direito transnacional17. A facção transnacionalista –
que inclui os juízes Breyer, Souter, Steves, Ginsburg, e às vezes, o juiz
Kennedy – tende a seguir uma abordagem sugerida pelo juiz Blackmun no final
da década de 1980: que os tribunais dos E.U.A devem olhar para além do
interesse nacional, para os “interesses mútuos de todas as nações em um bom
funcionamento do regime jurídico internacional” e devem “ponderar se existe
um campo que promove, ao invés de impedir, o desenvolvimento de um
sistema internacional ordenado.”18 Em contraste, um outro grupo de juízes, que
inclui um novo Chefe de Justiça, John Roberts, e os juízes Scalia, Thomas, e
Alito19, parece comprometido em um campo mais nacionalista.
De um modo geral, os transnacionalistas tendem a enfatizar a
interdependência entre os Estados Unidos e o resto do mundo, enquanto os
nacionalistas tendem a se concentrar mais em preservar a autonomia
americana. Os transnacionalistas acreditam e promovem a mistura do direito
internacional e doméstico; enquanto os nacionalistas continuam a manter uma
rígida separação entre o direito doméstico e o estrangeiro. Os
transnacionalistas visualizam os tribunais domésticos como tendo um papel a
desempenhar na domesticação do direito internacional em direito dos E.U.A,
enquanto os nacionalistas argumentam que apenas os órgãos políticos podem
internalizar o direito internacional. Os transnacionalista acreditam que os
tribunais dos E.U.A podem e devem usar seus poderes interpretativos para
promover o desenvolvimento de um sistema jurídico global, enquanto os
nacionalistas tendem a afirmar que os tribunais dos E.U.A devem limitar sua
atenção para o desenvolvimento de um sistema nacional. Finalmente, os
transnacionalistas insistem que o poder do órgão executivo deve ser limitado
por revisão judicial e pelo conceito de cortesia internacional, enquanto os
nacionalistas tendem a acreditar que os tribunais federais devem dar uma
extraordinária ampla deferência ao poder executivo em assuntos externos.

15
Murray v. The Schooner Charming Betsy, 6 U.S. (2 Cranch) 84, 118 (1804) (“An act of Congress ought
never to be construed to violate the law of nations if any other possible construction remains.”).
16
See cases cited in Koh, Harger Lecture, supra note *, at 3-4, from which this discussion is drawn.
17
Id. At. 5-6.
18
Société Nationale Industrielle Aérospatiale v. U.S. Dist. Ct., 482 U.S. 522, 555, 567 (1987) (Blackmun,
J., concurring in part).
19
In their recent nomination hearings, both Chief Justice Roberts and Justice Alito were asked several
questions about the application of international and foreign law to U.S. law, and both suggested that
they were clearly in the nationalist camp. Confirmation Hearing on the Nomination of John G. Roberts,
Jr. To Be Chief Justice of the United States: Hearing on Samuel Alito To Be Associate Justice of the United
States: Hearing Before the Comm on The Judiciary, 109th Cong. 370 (2006)

5
Por que essa diferença de filosofias jurídicas importa? Primeiro, porque
o debate transnacionalista/nacionalista está ganhando visibilidade pública; veja,
por exemplo, o recente debate entre os juízes Breyer e Scalia sobre o assunto
na American University20. Em segundo lugar, esse debate público com cada
vez mais visibilidade não só explica grande parte da luta contínua em
determinados casos transnacionais, mas também parece apropriado para
decidir a futura orientação dos tribunais dos E.U.A em direção ao fenômeno da
globalização, tal como ela se apresenta em uma ampla gama de casos. E em
terceiro lugar, esta é uma questão que atravessa linhas político-partidárias.
Notavelmente, três dos juízes transnacionalistas – Steves, Souter e Kennedy –
são nomeados pelo partido republicano. Com os juízes Roberts e Alito agora
aparentemente prestes a se juntar ao campo nacionalista, a divisão
transnacionalista-nacionalista depende cada vez mais da votação crucial do
juiz Kennedy, com o próximo compromisso do Supremo Tribunal após o juiz
Alito provavelmente determinar o futuro rumo do tribunal sobre estas questões.
No entanto, estranhamente, embora nenhum dos juízes recém nomeados irá
desempenhar esse papel crucial no que diz respeito ao direito e à globalização,
as audiências de confirmação tanto de Roberts quanto de Alito foram
excepcionalmente ponderadas em direção ao impacto potencial dos novos
juízes nas “questões de ontem” – questões sociais e de federalismo como
aborto, direitos dos homoafetivos, religião e ações afirmativas – ao invés de
questões do amanhã, em particular o papel das leis dos E.U.A e dos tribunais
em uma era global de tecnologia e inovação.
E o que essas mudanças na evolução do direito americano prenunciam
para a educação jurídica americana? Como eu havia argumentado, se o direito
transnacional avultará tamanha importância em nosso futuro, precisamos
ensinar aos nossos alunos mais sobre direito transnacional, não apenas
processo transnacional jurídico, mas também aquilo a que eu chamo de
“Substância Transnacional Jurídica”21. Sabemos sobre o direito transnacional
privado que surgiu em uma variedade de áreas, tais como a nova lex
mercatoria, finanças internacionais, direito bancário internacional e a lei do
ciberespaço. Mas a tendência mais visível no direito transnacional material tem
sido o surgimento do que eu chamo de “direito transnacional público”. Da
mesma forma como o foco do curso de direito do século XX mudou
gradualmente a partir do ensino de direito privado para o ensino de direito
público, a grande mudança no século XXI será semelhante para tópicos de
direito transnacional público como lei da democracia global, lei da governança
global, lei de crimes transnacionais, lei de lesão e reparação transnacional, lei
de regulamentação dos mercados transnacionais, lei de resolução de litígios
transnacionais, para citar apenas alguns tópicos.
Para abordar estas tendências globais, os cursos de direito americanos
terão que modificar seu currículo jurídico, seus corpos docentes e suas bolsas
de estudo, seus alunos, e outros aspectos do ensino jurídico tradicional. Alguns
cursos têm abordado uma mudança curricular, exigindo disiciplinas de direito
internacional ou transnacional, mas na Yale Law School, a nossa abordagem

20
See Justice Stephen Breyer & Justice Antonin Scalia, Discussion on Constitutional Relevance of Foreign
Court Decisions (Jan. 13,2005) (transcript available at
http://domino.american.edu/AU/media/mediarel.nsf/1D265343BDC2189785256B810071F238/1F2F7D
C4757FD01E85256F890068E6E0?OpenDocument).
21
See Harold Hongju Koh, The Globalization of Freedon, 26 Yale J. Int’l. L. 305 (2001)

6
tem sido de integrar um enfoque sobre a globalização ao nosso currículo
tradicional, adicionando módulos internacionais às disciplinas básicas de direito
processual, direito penal, direito constitucional e contratual.
Ao repensar o primeiro ano do currículo do ensino de direito, pode-se
imaginar uma disciplina sobre contratos que inclui, ao lado de uma doutrina
interna tradicional, uma discussão sobre Contratos Transnacionais: por
exemplo, acordos de desenvolvimento de petróleo entre empresas petrolíferas
multinacionais e nações em desenvolvimento regidos pela Convenção das
Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de
Mercadorias22. A disciplina de penal poderia adicionar uma discussão sobre
Crimes Transnacionais, tanto desastres em massa, como a tragédia de Bhopal
e litígios civis de crimes contra a humanidade como “crimes de violação do
direito das nações” sob o Alien Torts Claims Act23.24 A disciplina básica de
direito criminal poderia ser modificada para incluir um módulo sobre Crimes
Transnacionais, como o terrorismo, o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas e
litígios criminais internacionais em tribunais domésticos, tais como os casos
Lockerbie e Pinochet. Na minha própria disciplina básica, no primeiro semestre,
de direito processual, eu ensinei várias semanas sobre tópicos em Processos
Transnacionais, incluindo litígios25 de direito transnacional público e Princípios
ALI/UNIDROIT do Processo Civil Transnacional e Regras do Processo Civil
Transnacional, que representam regras processuais transnacionais
transversais em matéria de jurisdição, local, serviços do processo, obtenção de
provas e reconhecimentos das decisões26. Da mesma forma, as disciplinas
sobre propriedade poderiam incluir módulos sobre Propriedades
Transnacionais – por exemplo, a Organização Mundial do Comércio (OMC)
regula a proteção da propriedade intelectual – e já existe um rico conteúdo de
materiais didáticos sobre Direito Constitucional Comparado27.
Nos níveis mais avançados, recomendamos também que a maioria dos
nossos alunos façam a disciplina do primeiro ano, segundo período em Direito
Transnacional, para mudar as mentes dos alunos do currículo do primeiro ano
amplamente doméstico para uma mentalidade transnacional. Um currículo de
direito transnacional avançado mais abrangente incluiria disciplinas e
seminários de direito transnacional adicionais lidando com temas atuais do
interesse dos alunos e dos professores, disciplinas clínicas que preparam os
alunos para a prática jurídica global e o objetivo mais abrangente de aumentar
a consciência global dos alunos, exigindo que mais alunos com bacharelado
tenham fluência em língua estrangeira ou experiência de viagem para o
exterior, como qualificações para admissão.

22
See CISG, supra note 7.
23
A utilização da Alien Tort Claim Act para condenar às Corporações a reparar os atos ilícitos
internacionais cometidos em outros países começou a ser aplicada no início da década de noventa.
Contudo, a discussão acerca da aplicação da ATCA às pessoas privadas já vem ocorrendo desde o início
da década de oitenta, tendo sido distribuídas mais de 150 (cento e cinquenta) ações envolvendo autores
e pessoas privadas não estadunidenses que violaram os Direitos Humanos, por fatos ocorridos fora dos
Estados Unidos. Principalmente em países socialmente e economicamente dependentes, onde as
violações contra a dignidade da pessoa humana não foram devidamente reparadas.
24
28 U.S.C. §1350; see also Sosa v. Alvarez-Machain, 542 U.S. 692 (2004) (stating test for what kinds os
torts are actionable under this statute).
25
See Harold Hongju Koh, Transnational Public Law Litigation, 100 Yale L. J. 2347 (1991).
26
American Law Institute & UNIDROIT, Principles and Rules of Transnational Civil Procedure (2005).
27
See generally Vick C. Jackson & Mark Tushnet, Comparative Constitucional Law (1999).

7
Nós não devemos ignorar a necessidade de globalizar outros aspectos
do nosso programa do curso de direito: em especial, professores, bolsas de
estudo, e outros programas. Nossos cursos podem ser diversificados por meio
do aumento do número de professores estrangeiros visitantes, programas de
intercâmbio de alunos e professores, programas ampliados sobre direito
regional (na América Latina, Oriente Médio, China e Ásia), e mais
oportunidades para preparar os alunos para práticas globais. Podemos também
criar concentrações internacionais em nossos programas de pós-graduação,
como tributos estrangeiro e direitos humanos internacionais, e enfatizar a
importância de bolsas de estudo interdisciplinares e transnacionais. O nosso
objetivo maior é promover um desenvolvimento de uma rede mundial de
graduados – bacharéis, mestres e também doutores em direito, que retornam
para ensinar e praticar em seu país de origem – com o eventual objetivo de
utilizar essa rede de pessoas para avançar em direção a uma parceria mais
profunda e talvez até mesmo um programa em conjunto com cursos de direito
estrangeiros.
Finalmente, as redes de informação são uma parte essencial do futuro
global. Em nossa biblioteca, em Yale, por exemplo, estamos cada vez mais
com foco em banco de dados bibliográficos globais compartilhados com portais
comuns na rede de alcance mundial (WWW), como o nosso arquivo online de
direitos humanos (Diana Project)28. Da mesma forma, o nosso Centro Orville
Schell para Direitos Humanos29 também se juntou em parceria com várias
outras instituições para criar o Artemis Project for Truth Commission
Testimonies30, que foi projetado para criar um banco de dados unificado, onde
os pesquisadores podem encontrar dados de outras culturas sobre dezenas de
comissões de verdade e reconciliação que foram realizadas ao redor do
mundo.
Há muito mais que pode ser dito, mas deve ser óbvio nesse ponto que o
direito transnacional é claramente importante. O direito transnacional
representa uma espécie de híbrido entre o direito doméstico e o direito
internacional, que pode ser baixado, carregado ou transplantado de um sistema
nacional para outro. O direito transnacional é cada vez mais importante, porque
cada vez mais determina e influencia nossas vidas, especialmente durante uma
guerra cada vez mais controversa contra o terror. O direito transnacional não
só representa uma parte crescente no registro dos poderes judiciários de todos
os países, mas também em um novo milênio, o estudo do direito transnacional
em breve também vai afetar e refletir em todos os aspectos da nossa educação
jurídica.

28
See Project Diana, http://www.yale.edu/lawweb/avalon/diana/ (last visited Dec. 4, 2006).
29
See Orville H. Schell, Jr. Center for International Human Rights,
http://www.law.yale.edu/intellectuallife/abouttheschellcenter.htm (last visited Dec. 4, 2006).
30
See Artemis Project fot Truth Commission Testimonies, http://www.law.yale.edu/trc/artemis.htm
(last visited Dec. 4, 2006).

S-ar putea să vă placă și