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MÉDIU S
Carlos Bernardo loureiro
S MULHERES
"
EDIU S
2~edição
AS MULHERES MÉDIUNS
APRESENTAÇÃO
AS MULHERES MÉDIUNS
A literatura espfrita, tão rica na bibliografia sobre os
o Cristo de Deus, em sua Mensagem de ensinos e
exemplos, e o Consolador, em sua Doutrina de escla-
mais diversos assuntos de que se tem ocupado, não pos- recimentos e de consolações, mostraram o grande enga-
sufa, ainda, senão esparsamente, uma obra séria que cui- no do desprezo e da desqualificação da mulher, como se
dasse especificamente das personalidades femininas por- fosse um ser inferior ao seu companheiro de jornada
tadoras da mediunidade ostensiva. evolutiva.
Era a oportunidade, inclusive, de se reconhecer que Os tempos novos estão restabelecendo a verdade
as mulheres nada ficam a dever aos homens no que con- igualdade de valores entre os sexos, embora as fun-
cerne ao dom e ao exercfcio da mediunidade. sejam diferentes.
Feita a ponderação ao autor dos artigos, concordou O exercfcio e o dom da mediunkJade estão demons-
ele de imediato com a idéia, lançando-se às pesquisas e trando que, também nesse terreno, como nas demais ati-
à elaboração deste livro, baseado em vasta fonte de con- vidades humanas, não há superioridade masculina.
sultas. O livro de Carlos Bernardo Loureiro é mais uma
Ao lado de cerca de uma centena de traços biográfi- comprovação irretorqufvel de que a discriminação da mu-
cos de médiuns femininos de várias nacionalidades estão lher tem sido um grande equfvoco do homem, imposto
a análise e a apreciação. do fenômeno mediúnico apre- através de suas instituições e de suas leis, de usos e cos-
sentado pela personalidade focalizada. tumes consagra.dos pelas tradições. A evolução da Hu-
O leitor vai constatar, no decorrer da leitura, alguns manidade vai permitindo retificar esse lamentável erro.
fatos interessantes, como, por exemplo, (aJ o grande nú- Os leitores de '~s mulheres médiuns" vão enrique-
mero de médiuns praticamente desconhecidos no nosso cer seus cabedais de conhecimentos sobre fatos, perso-
nalidades e experiências relacionadas com os mais ex-
Movimento; (b) o extraordinário trabalho da mulher mé-
traordinários fenômenos de natureza mediúnica constata-
dium na fase de lançamento e de consolidação da Nova
dos por muitos cientistas e pesquisadores.
Revelação, esforço que Allan Kardec procurou preservar O estilo do autor torna a leitura muito agradável.
e defender de certas influências, através do anonimato; Soube ele sintetizar o que há de mais atraente e
(c) o uso de- pseudônimos, os quais apagaram a verda- importante em cada personalidade focalizada e ainda in-
deira identidade de diversas personalidades de médiuns. formar e apreciar, resumidamente, os mais variados fenô-
Há ainda a assinalar a manifestação da mediunida- menos espfritas, documentando-os com citações precisas.
de em personalidades ligadas à Igreja Católica, com to-
das as caracterfsticas do fenômeno estudada e reconhe- Rio de Janeiro, março de 1996
cido pela Doutrina Espfrita, embora a fidelidade à Igreja
tenha levado tais personalidades à utilização de lingua- Juvanir Borges de Souza
gem apropriada ao meio e à doutrina dos quais recebe- Presidente da Federação Espfrita Brasileira
ram direta e poderosa influência.
A história humana assinala profunda injustiça prati-
cada pelo homem contra a mulher, sua companheira, no
decorrer das civilizações e dos milênios.
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12 AS UUlHERES U~DIUNS
INTRODUÇÃO
AS MULHERES MÉDIUNS 15
os conflitos dão margem ao surgimento de terrfveis ob- toda. certeza, que o Cristo valorizou a Mulher em todos os
sessões. instantes da sua pregação.
Os representantes do sexo chamado forte, possuin- Se se analisar bem a questão, chega-se à conclu-
do mais força ffsica, colocam-se, na maioria das vezes, são de que o Homem, na verdade, sempre temeu a Mu-
como detentores do poder, relegando a Mulher a um nfvel lher, sem que se apercebesse deste sentimento. Para
inferior aos animais, esquecidos de que safram do ventre ele, o sexo oposto era um enigma e tinha o domfnio de
do ser que tanto menosprezam. algo que lhe causava profunda inveja: a percepção além
Mau grado as incompreensões, sofrimentos e des- do mundo material e o halo do mistério que o envolvia. A
prezo de que foi vItima, não se pode negar que, com refe- Igreja Católica, através dos seus sacerdotes, ambiciona-
rência à mediunidade e ao psiquismo, a Mulher sempre va ter as mesmas prerrogativas junto ao povo. Assim,
esteve na vanguarda. E isso efetivamente era reconheci- sem ter as qualidades inerentes ao sexo feminino, adotou
do pelo Homem, mesmo a contragosto. uma aparência feminil - a batina - querendo, com isso,
Estabeleceu-se, então, nesse campo, uma situação
conquistar os privilégios de que a Mulher desfrutava nos
esdrúxula: a Mulher era desprezada como ser humano e,
campos religioso e mfstico. Restava apagar as faculda-
em contrapartida, venerada como maga, consultada, em
des mediúnicas das suas rivais, o que foi feito através de
todos momentos, por homens vaidosos de suas posições
anátemas, da perseguição e da morte.
de mando. Percebiam eles que a Mulher tinha uma sensi-
Transcorreu o tempo e a Mulher, através de muitas
bilidade muito mais aguçada e que, no tra~o com o mundo
lutas, vem conquistando seu espaço na sociedade dos
invisfvel, ela apresentava, ao contrário do Homem, maio-
res possibilidades de desvendar mistérios, sondar o cha- homens. As perspectivas se ampliaram; apagaram-se as
mado· "Sobrenatural e provocar fenômenos fantásticos. fogueiras da Inquisição e, hoje, não se queimam mais
Através das chamadas profetisas, Apolo se manifestava. bruxas como antigamente. A Mulher, apesar da resistên-
Após defumações com ervas odorosas, bocas espumo- cia da ala masculina, conquistou o pleno direito de ir e vir,
sas, cabelos eriçados, gritos e grunhidos, prostravam-se de votar e ser votada e de exercitar as suas faculdades,
por dois meses, sobrevindo-lhes, em alguns casos, a sejam quais forem, livre da opressão.
morte. Fato curioso é que, mesmo entre os hebreus, onde Assim, temos notfcias, no transcorrer da história dos
a Mulher era desprezada e não tomava parte nas funções fenômenos psfquicos, de médiuns notáveis, em que as
sacerdotais, houve profetisas, como Maria, irmã de Moi- representantes do sexo feminino superam, em grande nú-
sés, Débora, Holda, enquanto que o "Novo Testamento" mero, os do sexo masculino.
registra Ana Maria eas quatro filhas de Felip6'iqo Evange- E esta obra de Carlos Bernardo Loureiro vem resga-
lista. tar, historicamente, o trabalho abnegado de mulheres mé-
desvalorização da Mulher no Mundo Ocidental diuns que muitocontribufram, até mesmo com o sacriffcio
atingiu o seu clfmax com o Catolicismo. A Igreja Católica da saúde, do conforte do lar e do lazer, para provar à Hu-
chegou ao cúmulo de pregar que a Mulher não possufa manidade que o Espfrito existe e é imortal.
alma e a realizar concl1ios para que seus representantes Em benefIcio da Ciência, mulheres entraram nos la-
decidissem sobre. tão ridfcula questão, ignorando, com boratórios e se submeteram aos maiores sacriffcios e hu-
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milhações, a fim de serem experimentadas por pesquisa- nesta obra, que foi conclufda (não por acaso, porque este
dores idôneos e competentes. não existe) no Ano Internacional da Mulher.
São tantas as personalidades femininas que coloca-
ram suas faculdades maravilhosas à mercê das vontades
de encarnados e desencarnados, que se torna diffcil, se- Salvador, Bahia, 3 de outubro de 1995.
não impossfvel, registrar a trajetória de todas elas em
urna só obra. Constituir-se-ia em uma enciclopédia, assim
mesmo incompleta, devido a determinados fatores. Lúcia Loureiro
Devemos lembrar que, infelizmente, no campo da
mediunidade, muitas médiuns se conservaram no anoni-
mato e desconhecidas suas realizações, ou porque não
foram pesquisadas ou porque os fatos extraordinários
que produziram não vieram ao conhecimento do público.
Existe, ainda, o problema da manutenção da privacidade.
Por exemplo, as meninas que colaboraram na Codifica-
ção da Doutrina Espfrita, lamentavelmente, não tiveram
divulgados os-seus dados pessoais, em prejufzo da pes-
quisa histórica do Movimento Espfrita Mundial. São, ape-
nas, citadas en passant na REVUE SPIRITE. Por que AI-
lan Kardec teria agido dessa forma? Por preservação da
pessoa diante da sociedade? Uma delas, Celina Bequet,
adotou o pseudônimo Japhet por pressão de sua própria
famma. Outras, também por questões pessoais, adotaram
nomes fictfcios, como Eva Carriere, Margery Crandon e
Elizabeth d'Espérance.
Talvez, por todos esses motivos, os relatos vão des-
de pequenas referências completamente lacunosas a re-
latórios pormenorizados, principalmente sobre as mé-
diuns do nosso Pafs, em que a pesquisa sobre os fenô-
menos mediúnicos e psfquicos não têm recebido o mere-
cido valor. Das poucas médiuns dedicadas à psicografia a
maioria dos dados biográficos é registrada por elas pró-
prias, enquanto das médiuns de efeitos ffsicos, que nem
sempre se apercebem do que se passa com a sua mediu-
nidade, conhecemos pouco ou nellJ sabemos de suas
existências. Daí, as lacunas, possivelmente encontradas
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ELlSABETH ESLlNGER
EUSÁPIA PALLADINO
AS MULHERES MÉDIUNS
"Pasqualina não é louca nem endemoniada: é mé-
dium e 'vê' aquilo que quase todos os seres huma- era transparente para Pasqualina Pezzola, qual ne-
nos não vêem." gativo fotográfico. Quando acordava, o que fazia
Os excepcionais poderes psíquicos de Pas- sem teatrais turbações, recordava tudo perfeitamen-
qualina Pezzola, naquele tempo ainda não maduros, te; descrevia, com exatidão, opiniões, o estado de
desenvolveram-se gradualmente. A princípio conse- ânimo, o estado físico. Em razão de ter feito somen-
guia ver somente gente próxima, depois, podia ver
te o terceiro ano primário e de nunca ter lido um livro
pessoas· a grande distância; enfim, pôde "visitar'
pessoas até na América do Norte, como um italiano sobre medicina, as suas descrições anatômicas pre-
no Brooklin (N.Y.), que desde muitos meses não cisavam ser interpretadas, embora fossem sempre
dava notícias aos parentes em S. Benedetto dei rigorosamente exatas.
Fronto, permanecendo no "sono" mediúnico por Normalmente, os pacientes não percebiam a
mais de uma hora e um quarto. presença da sensitiva; mas Pasqualina cita pelo me-
Com o passar do tempo, Pasqualina podia en- nos dois casos em que a sua presença fora "senti-
trar em transe, quando assim o desejasse. Antes de da" pela pessoa que visitava. Por exemplo, em
iniciar o trabalho ela orava, com fervor, solicitando a 1935, o caixa de um banco, cuja esposa estava mui-
proteção do Alto. Em seguida, lia em voz pausada o to doente em Tronto (Itália), fora pedir-lhe orienta-
nome e o endereço da pessoa que devia procurar, e ção e ajuda. Pasqualina caiu, como sempre, em
após fechar os olhos, reclinava a cabeça sobre o transe e soube identificar a moléstia. Dias após, o
peito, enquanto os braços eram sacudidos por um caixa, extremamente emocionado, foi informá-Ia de
tremor. Decorridos poucos minutos, os braços e as que sua mulher, no momento da experiência, havia
pernas se estendiam para a frente, em estado de sentido um mal-estar estranho e perguntara à mãe,
tensão, e o corpo começava a oscilar. Quando nes- que se encontrava à sua cabeceira: " - Mãe, quem
sa atitude, Pasqualina estava a caminho da perso- é que me está visitando? Sinto-me elevar... "
nagem a quem queria visitar. Chegada ao destino, Também um jovem de S. Benedetto dei Tronto,
sua fisionomia adquiria uma estranha luminosidade, que no momento se encontrava na adega, referiu ter
acenava e sorria, parecendo que estava pedindo ouvido uma voz que do alto da escada o chamava,
aos transeuntes informações sobre o caminho a quando não havia ninguém em casa...
percorrer. Uma vez alcançada a personagem procu- O Dr. PieroCassoli, neuropsiquiatra de Bolo-
rada, Pasqualina levantava-se, andava e a sua mí- nha (Itália) escreveu um trabalho sobre a faculdade
mica exprimia com extraordinária eficácia as fases psíquica de Pasqualina Pezzola, a que deu o título
de um diálogo. Não raro, com uma ponta de humo- de: Fenômenos de Bilocação, lido no Congresso da
rismo caricatural imitava as atitudes do entrevistado. Associação Italiana de Metapsíquica (1954) de que
Após a consulta, ela visitava o paciente, repetindo participou, entre outros estudiosos da fenomenolo-
os gestos de um médico: a percussão, a ausculta- gia supranormal, o Dr. Hubert J. Urban, diretor da
ção, a apalpação. Naquele momento, um homem cadeira,de Neuropsiquiatria da Universidade de Ins-
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nos nas mãos, pareciam .caixa~, ponqo em cima de
uma mesa. Havia uma cnança., DepOIS des~reveu ~
Os congressistas ouviram com especial aten- Or. Buscaroli: "Agradou-me. E bom, usa oculos, e
ção o relatório do Or. P. Cassoli, que apresentou, calvo e magro. "
também, um filme sobre a sensitiva, com o que de- Numa carta oficial, o Or. Buscaroli descreveu,
monstrou a ausência de qualquer sensibilidade depois, o que estava fazendo às 16 ~oras e 30 ~i
(analgesia) da mesma, quando em transe. O Or. nutos. Tendo de examinar uma menina que sofna
Cassoli espetou-lhe com um alfinetão na coxa es- de epilepsia, para convencer a criança a submeter-se
querda durante o sono; nem uma gota de sangue ao exame havia decidido idealizar um brinquedo,
saiu do furo; única reação obtida - um colorido tomando caixas de medicamentos, tiradas de vários
avermelhado na pele. Pasqualina, durante essas ex- armários dispondo-as sobre uma m.esa... .
periências, jamais demonstrou qualquer atitude ou Pasqualina Pezzola, mulher Simples e Ignoraf)-
gesto de dor ou de defesa. te se inscreve sem dúvida, entre as mulheres me-
O Or. Cassoli levou a efeito uma longa série de di~ns que enriqueceram, sem .quaisquer vantagens
experiências, controlando, uma por uma, todas as materiais o acervo das pesquisas que demonstram
reações da sensitiva. Mandou Pasqualina "visitar' a a imortalidade e a reencarnação!
Sra. Maria M., de 78 anos, de Bolonha. Quando
acordou do seu misterioso sono, disse textualmente:
"Encontrei a pessoa no leito, doente. Tem confusão
na cabeça, respira mal, o coração funciona mal.
Vejo nozes, como pequenas castanhas no ventre.
Não sara. Há muitos anos que está doente. Estava
presente uma senhora bastante moça." O relato de
Pasqualina era absolutamente exato. As "pequenas
castanhas" assinaladas pela sensitiva correspon-
diam ao seguinte: a paciente tinha sido operada an-
teriormente de anexiectomia e de histerectomia;
esta cirurgia deixa aderências e cicatrizes - as "pe-
quenas castanhas" vistas por Pasqualina.
Uma experiência particularmente interessante
foi efetuada a 2 de maio de 1953. O Or. Cassoli ha-
via combinado com o Or. Buscaroli, neuropsiquiatra
de Bolonha, que ele faria, em seu consultório, às 16
horas e 30 minutos, algo não habitual. Caída em
transe à hora aprazada, Pasqualina executou estra-
nhos movimentos; pela sua mímica, parecia dizer:
"Mas que estais fazendo? Não compreendo!" Ao
acordar, disse: "Ele ia e voltava com objetos peque- AS MULHERES MÉDIUNS 55
AS MULHERES MÉDIUNS
De onde provinha esta estranha força? Que
queria dizer essa agitação frenética de um móvel
sob seus dedos? Não estava preparada para obter
respostas a tais e inquietantes perguntas. Um dia, a
pedido do seu pai, juntou-se a um grupo de amigos
que em vão tentavam fazer girar uma mesa. Ela
simplesmente impôs as mãos e, contra todas as ex-
pectativas, a mesa como que adquiriu "vida", girou,
em princípio suavemente, depois, porém, como que
GEORGETTE BUSSAT possuída de inusitado frenesi.
A Doutrina Espírita para Georgette Bussat era
tão estranha como a mecânica ondulatória ou o pro-
cesso de desintegração do átomo. Quando chegou
Georgette Bussat era uma simples operária de ao fim de suas experiências ela ainda não tinha ou-
3D anos de idade, em 1951, mãe de três filhos, de vido falar em Allan Kardec. Praticava, porém, a mo-
boa saúde e aparência agradável. Além dessas rai das pessoas honestas e nunca lhe passara pela
qualidades originais, Georgette Bussat era médium. cabeça o problema da imortalidade e comunicabili-
Se punha as mãos levemente sobre uma mesa dade dos Espíritos. Os Espíritos ignorando, como
(mesa pé-de-galo), o móvel animava-se, estalava, sempre, as crenças ou descrenças dos médiuns, em
ondulava, parecendo derrogar as leis físicas conhe- qualquer latitude terrena, sentiram-se, naturalmente,
cidas. Coisa notável, o fenômeno se produzia em atraídos pela faculdade mediúnica de Georgette.
qualquer parte e em qualquer momento, na obscuri- Primeiramente, foi sua avó, depois sua mãe e, afi-
dade ou em plena luz. Bastava que impusesse as nai, um ex-jomalista que desencamou em França,
mãos e concentrasse a vontade. Tudo se passava, chamado Banabera. A conversação estabelecia-se
então, como se uma alavanca invisível levantasse o segundo as normas espíritas. O número de panca-
móvel. das corresponde às letras do alfabeto e algumas
Logo que teve a revelação fortuita de sua facul- abreviaturas convencionais aceleram a elaboração
dade mediúnica, Georgette não ficou positivamente das respostas.
encantada. A força misteriosa que fazia dela um ser Graças aos seus guias, Georgette pôde dar
especial, diferente, causava-lhe até um certo receio certas informações que seria impossível a qualquer
e teria abandonado todo o gênero de experiências, vivente no plano corpóreo: objetos perdidos, previ-
se o pai não a tivesse gradualmente incitado a tor- sões diversas, localização de pessoas desapareci-
nar-se uma espécie de traço de união entre o plano das, numa palavra, tudo que é causa de sofrimento,
físico e o transfísico. Contudo a ligação entre as pe- à exceção de perguntas relativas à vida sentimental
ripécias da mesa e o seu significado específico não dos consulentes. Em assuntos desse gênero Geor-
se estabeleceu, de imediato, no espírito da médium. gette não fazia intervir os seus guias, já porque não
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acreditava na infalibilidade deles (não se tratava, em
verdade, de entidades superiores), já porque com-
preendeu, por intuição, que a natureza das respos-
tas era sempre em função do teor moral da pergun-
ta formulada. Os seres invisíveis que se comunica-
vam com Georgette, se não eram superiores, eram,
pelo menos, orientados pelo bom senso, recusando-se,
firmemente, em satisfazer os simples curiosos de
atender os que sofriam dos males decorrentes de
amores frustrados ou os que iam em busca de palpi-
tes lotéricos. Em troca, aqueles que realmente esta- LAURA EDMONDS
vam sob o guante da dor e do desespero morais (ri-
cos ou pobres) podiam contar com seu apoio e a
sua generosidade. Não foi sem razão que Pierre
Neuville incluiu Georgette Bussat em sua obra "Os Em seu "Tratado de Metapsíquica", Charles Ri-
Melhores Curadores de França". chet (prêmio Nobel de Medicina de 1913) reporta-se
Georgette Bussat não se limitava a perguntar ao célebre episódio, "incontestavelmente autêntico"
aos Espíritos a natureza de uma doença ou lesão. ocorrido com Laura Edmonds, filha do Juiz John Ed-
Mais do que isso: punha o seu potencial fluídico a monds.
serviço dos doentes, ministrando-lhes passes de al- "Laura era católica fervorosa. Falava exclusiva-
tíssimo teor curativo. Georgette curou reumatismos, mente o inglês e aprendera na escola um pou-
doenças hepáticas, úlceras varicosas, bem como tu- co de francês. A isto se limitavam seus conhe-
morações pertinazes, que se iam desfazendo sob cimentos de línguas estrangeiras. Um dia
os efeitos da passeterapia. Sem jamais ter entrado (1859) o Juiz Edmonds recebeu a visita de um
numa sala de anatomia, punha no seu lugar nervos grego notável, o Sr. Evangelides, que pôde
e músculos deslocados, com impre~sionante perí- conversar em grego moderno com sua filha
cia. Quem lho ensinou? Ninguém! E um conheci- Laura. No curso dessa conversação a que as-
mento inato, associado à abençoada assistência es- sistiram diversas pessoas, o Sr. Evangelides
piritual, sempre presente quando se trata de traba- chorou, por lhe ter a médium participado a mor-
lho sério, desinteressado, altruísta. te do filho (ocorrida por aquele meio tempo na
Grécia). Ao que parece, Laura incorporava ?
Espírito de um amigo íntimo do Sr. Evangell-
des, o Sr. Botzzari, morto na Grécia. Segundo
o Juiz Edmonds, se sua filha conversou em
grego moderno co,!! Ev.angelkjes e s.e Ih.e part~
cipou a morte do filho, ISSO so se potlefl~ explI-
car admitindo-se que o defunto Bottzan fosse
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AS MULHERES MÉDIUNS 59
não compreender, quando em vigl1ía, o signifi-
realmente o outro interlocutor na conversação. cado das palavras que seus lábios auto-
E acrescenta: "Negar isto, de que fui testemu- maticamente proferiam, fato que demon~.!ra
nha, é impossível; o fato é de tal modo claro e positivamente achar-se ela, nessas ocaslOes
eloqüente que, negá-lo, equivaleria, logicamen- em fase parcial de incorporação durante a qual
te, a negar que o sol nos ilumina. Nem poderei, uma entidade espiritual extrínseca se servia de
certamente, considerar o fato de uma simples seus órgãos vocais, para exprimir-se. Esta é a
ilusão, visto que ele em nada difere de todas as única solução racional do enigma, visto que a
outras realidades com que deparamos em hipótese das 'personi!icações. ~on..scien~es',
qualquer período da nossa existência. Acresce combinada com a de 'cnptomnesla nao reSiste,
que tudo se passou na presença de oito ou dez de frente à circunstância de a· médium não
pessoas cultas e inteligentes. Nenhuma delas J. ... .. .... .
compreender a língua em que conversava.
"
°
livros de exegese bíblica, ela submeteu seus primei-
ros escritos. Reverendo, por sua vez, levou-os à
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an~lise d.e F.T.Hilliger, técnico em grafologia, o qual,
apos detidos exames, não foi capaz de distinguir os Deve-se observar que Grace Rosher era total-
textos o~ginais dos psicografados por Grace, embo- mente ignorante a respeito da grande reputação de Wil-
ra ele nao soubesse que tinha em mãos uma men- liam Crookes e apenas pensava nele nos termos de um
sagem ~o Além. Quando, entretanto, foi informado químico responsável por algumas invenções. Vaga-
quanto a estranha origem desses escritos insistiu mente, uma vez que ela pouco conhecia a respeito da
F.
~m assistir ao fenômeno. Em pouco tempo, T. HiI- história do Espiritismo, tinha a idéia de que, de certa fei-
IIger se convenceu da sobrevivência da alma e da ta, ele se interessara por assuntos psíquicos.
possibilidade da comunicação com os mortos. Com sua curiosidade aguçada, Grace Rosher
A mediunidade de Grace Rosher assumiu um procurou se informar a respeito de Florence Cook, a
sing~l?r desenvolvimento. A caneta-tinteiro de que ela médium com a qual Crookes trabalhara. Certa noite,
se utilizava passou a escrever sozinha, apenas apoia- depois de ter lido os artigos de um certo jomalista
da suavem~n!~ entre o seu polegar e o indicador. E chamado Trevor Hall, que difamavam o sábio des-
as extraordlnanas comunicações de William Crookes cobridor do "Ta/Hum", perguntou ao Espírito Gordon
foram tr~nsmitidas desse modo surpreendente. Burdick se ele sabia que Crookes estava sendo difa-
EXiste ~a Inglaterra um grupo de Espíritas que mado. E porque ela desejava saber algo a respeito,
trabal~a na Cidade de Aldermaston, o maior centro de Gordon prometeu-lhe que iria tomar informes no
pesquisas nucleares do Reino Unido. Esses cientis- Mundo Espiritual.
tas, !?':lando conhecimento das inusitadas faculdades " - Tentarei falar a Crookes" - Gordon escre-
medlunlcas de Gra~ Rosh,~r, solicitaram-lhe que pro- veu, "e pedirei a e/e as explicações que você dese-
movesse u~':. sessao espmta especial, a fim de que ja': Gordon escreveu mais: Que Crookes era reve-
trocas:>em Idelas com personalidades espirituais. Os renciado no mundo invisível como um mestre, pos-
p~sqUlsadores de Aldermaston tinham perguntas téc- suidor de um caráter inatacável. Esse diálogo foi in-
nicas a. fazer, e o Espírito Gordon (que se tomou um terrompido porque uma visita precisou falar a Grace.
d?s ~Ulas de Grace) disse que iria tentar trazer um Entretanto, duas horas depois, quando a visita se
clentl~ta par? atender-lhes às especiosas indagações. foi, Gordon voltou. Contou-lhe que Crookes sabia do
Dez dias mais tarde, o grupo se reuniu e o Espírito-cien- que se passava. Ele se entristecia com tudo aquilo,
tist~ convidado começou a escrever com a caneta mas não era aprimeira vez que se levantavam con-
apOiada nos dedos da médium. Durante todo o tempo tra ele calúnias e difamações, por causa das pesqui-
esperavam a pr~sen9a de Sir Oliver Lodge, que for~ sas que realizou, sob rigoroso critério científico, re-
pr?fessor ~~ Unlyersldade de Liverpool. Em seu lugar sultando na maravilhosa materialização do Espírito
veio o Espl nto .\A:'I.lliam Crookes. O fato punha por terra Katie King por três longos anos. E mais, informou
q.ualquer ~osslbllldade de telepatia, autenticando, as- Gordon: Crookes ia escrever alguma coisa a respei-
Sim, o fenomeno que atendia, sem dúvida às expec- to do assunto, através de sua mão. No dia seguinte,
tativas dos cientistas nucleares. ' Crookes escreveu um longo comunicado relembran-
do as sessões realizadas com Florence Cook e a
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AS MULHERES MÉDIUNS 85
caligrafia era a mesma das mensagens transmitidas
ao seleto grupo de Aldermaston.
Três dias mais tarde, o grande físico voltava a
se comunicar e já agora o seu impacto era de tal or-
dem, que a caneta escrevia sozinha: - "Sou-lhe
muito grato" - escreveu Crookes- "porque você
permite que eu use a sua faculdade mediúnica para
relembrar aos homens de seu tempo a minha histó-
ria. Tudo quanto se diz são calúnias e eu me sinto
feliz em poder refutá-Ias pessoalmente". O relatório AS IRMÃS UZZIE e MAY BANGS
foi longo e prosseguiu no dia 5 de setembro de
1957. Crookes dizia:
uÉ muito importante que eu estabeleça minha
própria identidade e isso procuro fazer o melhor que No acampamento Espírita de Chesterfield, de
posso. Sinto-me ansioso por estabelecer a verdade Indiana (EUA), existe a "Helt Memorial Gal.lery", que
dos fatos, tão erroneamente interpretados. Se eu for abriga uma coleção. de retratos que, pra:tlcamente,
capaz de me identificar corretamente por estes escri- pintaram-se por si mesmos. Entre eles figura o de
tos, ao mesmo tempo oferecendo a real versão dos Audrey Alford que foi "precipitado" na tela em 22
fatos, isso ajudará meu opositor a ver claro e a perce- minutos, pera~te numerosa assistência e, imediata-
ber que está errado em suas presunções de que hou- mente identificado pelos pais, que estavam presen-
ve fraude nas sessões. Eu mantenho a certeza de tes Aiémdo tempo exíguo em que fora pintado o
que havia extraordinárias faculdades psíquicas em quàdro, menos de meia-hora - e v~rdadeiramente
Florence Cook. " extraordinário o fato de que nem o artista nem o mo-
Disso tudo resultou que o Reverendo J. D. Pear- delo eram visíveis aos olhos humanos.
ce-Higgins, Vice-Presidente da "Church's Fellowship Os médiuns deste extraordinário fenômeno
for Psychical Study", decidiu-se a escrever uma exten- eram as irmãs Lizzie e May Bangs, de C~icago, que
sa introdução ao livro "Beyond the Horizon" (Além do alcançaram notáveis resultados atraves de sua
Horizonte), de autoria de Grace Rosher, onde ela re- mediunidade de escrita automática, durante dezes-
lata, com detalhes, os trâmites pertinentes ao exercí- sete anos. Depois surgiu a fa9uldad~ qu~ possibilit~
cio de sua mediunidade escrevente. va a pintura de retratos colondos, feitos a luz do dia
A principal característica da escrita automática e à vista de observadores assombrados. O fenôme-
de Grace Rosher é a perfeita reprodução caligráfica no é considerado, pelos pesquisadores, um do?
dos comunicantes. Particular atenção merecem os mais fantásticos da história da mediunidade. Os Crl-
autógrafos de Sir William Crookes, especialmente a ticos de arte mostram-se impotentes em descrever a
curvatura do C, que se observa em seu sobrenome. técnica empregada. Nos temP9s atu.ais e:'a po.de~a
Era hábito do grande físico, quando encamado. ser comparada à pintura a revolver, Isto e, projeçao
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por pressão de ar, através de um orifício.
aparelho tem de ser muito bem limpo a cada tistas costumam fazer,.ao iniciarem u'!1.qL!adro.
aplicação. Observe-se que o processo da pintura Os espaços depois eram cheios, primeiro de
por pressão só foi inventado cinco anos depois des- um lado, depois do outro, tomando-se a tela
tes retratos terem sido pintados. cada vez mais opaca, enquanto o trabalho
O método empregado pelos Espíritos é fasci- prosseguia. Pude, assim, observar tl?da a ope,-
nante. Colocavam-se os chassises de madeira, com ração, ao mesmo tempo que eJfam~nava. e VI-
a tela, dois de cada vez, face a face, sobre uma giava as médiuns. Não er~ posslvel inserir nem
mesa e as laterais eram seguras com a mão, por mesmo a ponta de um lapls entre as duas te-
cada uma das irmãs, de modo que as telas se toca- Ias."
vam. Desciam-se as cortinas sobre a janela até a al- As médiuns costumavam pedir aos· assiste!1tes
tura do alto dos chassises e duas cortinas penden- que trouxessem fotografias de parentes,ou a!mgos
tes, faziam um pequeno gabinete em torno das mé- desencamados, que pudessem s~r atraidos a ses-
diuns. A luz que atravessava as telas permitia aos são e retratados. Mas as foto.s so eram apresenta-
assistentes o exame durante todo o tempo. Come- das depois das sessões termlna~as, quando se fa-
çavam então a aparecer contornos, como se o artis- zia a comparação. Os retratos plntad,?s. g~ardavam
ta espiritual estivesse desenhando um esboço preli- flagrante semelhança com as f~tos o~g!nals,. ~mb_o
minar. Depois o processo ganhava intensidade e ra em poses diferentes. Procedla-s~ a Identlflcaçao
quando as telas eram separadas, os retratos sur- em m,eio à surpresa e inte~s.a em~ç~o.
giam aos olhos espantados dos assistentes. Os pin- As vezes as duas medlUns hmltavam-s~ a sen-
tores invisíveis retratavam os parentes e amigos tar-se e a segurar as telas enquanto os ~sslstent~s
mortos dos que se encontravam na platéia. Embora esperavam. Com o transcorrer das sessoes; as Ir-
a pintura se apresentasse ainda gordurosa eaderis- mãs Bangs não mais to~avam nas telas. Delx~v~m
se ao dedo quando tocada, não se .observavam a sala e iam para a cozinha prepararA un:'a refelçao,
manchas na.outra tela que lhe ficava justaposta. Na mas a pintura prosseguia em sua au~encla.
sala não se encontravam tintas nem acessórios de Freqüentemente as cores aVivavam-se n~s
pintura! dias que se seguiam à pintura, ganhando tons mais
Os técnicos em.arte, ao examinarem essas pin- fortes e profundos. Algumas d~s pe~soas que rece-
turas, esbarravam em um obstáculo intransponlvel: beram quadro~ afirf!lavam a?sJomall~tas que certos
elas não apresentavam, absolutamente, nenhum si- pormenores so haViam surgido depOIS que os retra-
nal de pincel. Uma testemunha do estranho e único tos estavam dependurados em suas casas. .
fenômeno na história das pesquisas espíritas, decla- O vice-almiranteW. Osbome Mo?re, 'pesqUisa-
rou: dor inglês, investigou demora~a e minuciosamente
- ':Através da face posterior da moldura, vi co- a faculdade mediúnica de Uzzle e May Bangs..Ele
meçarem a surgir, na outra tela, traços muito próprio preparava as telas ~ m.arcava-~s. Examina-
rápidos, semelhando um esboço, como os ar- va a casa e vistoriava os moveis, segUindo de perto
todos os movimentos das médiuns. Ele se declarou
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 89
A faculdade mediúnica das irmãs Uzzie. e ~ay
de público plenamente· convencido da autenticidade Bangs parece ter sido ~~ic~ no contexto hlstonco
dos fenômenos, provocados com extrema lisura, in- das manifestações espmtuals n~st~ no~so . o,
dependentes da participação consciente das mé- atribuindo-se-Ihe, assim, peculiansslma slngu anda-
diuns.
"Certa feita" - esclarece W. Osbome - "du- de.
rante os trabalhos de 'precipitação' de um retrato,
sugeri, mentalmente, que um broche de ouro, que já
tinha aparecido, fosse aumentado e decorado com
um monograma. O artista espiritual atendeu silen-
ciosamente à sugestão, proporcionando esse deta-
lhe adicional e irrefutável que prova a origem pura-
mente espiritual do fenômeno". Alguns desses retra-
tos, o pesquisador os apresentou, por volta de 1909,
na instituição espírita de Portsmonth Southea, Hants
(EUA), onde estiveram expostos por vários anos.
Outro espantoso e absolutamente exclusivo fe-
nômeno consistia em que, freqüentemente, os retra-
tos eram terminados mostrando os olhos fechados.
Quando se comentava essa circunstância, o toque
final do invisível· artista era fazer surgirem as pupilas
numa "pincelada" de baixo para cima. Parecia que
as pálpebras se abriam. Finalmente os olhos, a mais
individual e significativa.parte da fisionomia, asses-
tavam-se, como se vida realmente tivesse, sobre o
emocionado e admiradíssimo parente ou amigo.
Outro importante detalhe: os retratos sofriam,
depois de concluídos e retirados do local das sessões,
leves ou drásticas mudanças. Em tomo, por exem-
plo, do retrato da entidade espiritual laia, mentora
do vice-almirante W. Osbome Moore, pintado em 22
de janeiro de 1909, sob rigorosa condição de teste,
aconteceu um fenômeno considerado espetacular e
incompreensível pelas testemunhas: ao ser termina-
do, o belo perfil do jovem Espírito estava voltado
para a esquerda. Inesperadamente, surgiu ao con-
trário, olhando para a direita...
91
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
maticais, todas as regras de ~intaxe pró~rias dess~
língua ignorada. Os dois fenomenos senam, mani-
festamente, de ordem diversa, e não teriam nenhu-
ma analogia um com o outro.
lole Catera contava, em meados de 1942, 26
anos. Toda a família, ainda segundo o articulista da
Revue Métapsychique, gozava de excelente saúde;
em nenhum dos seus membros, nem nos ascenden-
tes nem nos colaterais, se notaram anomalias so-
IOLE CATERA máticas ou psíquicas. Era uma família saudável e
temente a Deus.
Até o fim de março de 1934, ninguém dessa fa-
mília se ocupara de fenômenos supranormais ou es-
A revista Ricerca Psichica, de Milão Itália e a píritas. Foi, por essa época, que pessoas amigas
Revue Metapsychique, de Paris, França, publicaram propuseram que se interrogasse a "mesa pé-de-galo".
extensos artigos sobre a "médium musical" lole Ca- Como o resultado não fosse brilhante, experi-
tera. Ela escrevia composições musicais para piano mentaram a escrita automática: entre as pes-
paTa; canto, para orquestra, o que evidentemente soas presentes foi lole Catera quem, com muita
eXigia um conhecimento das leis da harmonia e do surpresa sua, começou a escrever. Não tinha a
contraponto que o automatismo não pode dar e que menor idéia do que escrevia e só veio a sabê-lo
leva tempo a adquirir. E isso consegue lole Catera depois de o ler.
se!TI. ter ,~bsolutamente nenhum conhecimento de Algum tempo depois lole Catera começou a
mUSlca. Tra~a-se, em suma" - afirma o articulista "ver' e a "ouvir' pessoas desencamadas ou viven-
da .Revue Metapsychique - "de um fenômeno que tes ainda na Terra, mas ausentes. No mês de agos-
deixa a perder de vista as maravilhas da execução to de 1934, revelou-se-Ihe faculdade mediúnica
picturié!.! e musical autqmáticas, mesr:no nos 'sujets' mais rara e interessante.
qu~ nao. ~studaram pmtura nem musica. Pode-se, Depois de ter assistido, no cinema, à exibição
a~e, admitI( que se trata de um gênero inteiramente do filme "Angeli Senza Paradiso", cujo entrecho
diferente".
descreve a vida sentimental de Schubert e que na
A diferença é, aproximadamente, a que se dá tradução francesa tem o título de "Sinfonia Inacaba-
e!1 tre um analfabeto que, no estado de transe, faz da" - cerca de meia-noite - lole Catera viu, na
discursos, .nu.ma língua que mostra lhe ser familiar sua frente, uma folha de papel na qual estava músi-
- que sena Incapaz de fazer no seu estado normal ca escrita. Não obstante nada conhecer de música,
- e u,ma pess0i!l que pronuncie esses discursos sentiu-se impelida a pegar uma folha de papel em
numa hngua que Ignora completamente, empregan- branco, a traçar nela as cinco linhas da pauta musi-
do as palavras adequadas e todas as inflexões gra- cai e a copiar os sinais que viu. E, assim, copiou cin-
92
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 93
co pequenas p~gin~s:. No dia seguinte, ouviu repeti-
rem-Ih~ ao ouvido; 'tres por quatro, três por quatro", A escrita da música, ou antes, a cópia, fá-Ia, or-
dinariamente durante amanhã: de tarde e, sobretu-
mas. n~<? consegUl~ compreender o que isto pudes-
~e Significar. Na nOite desse mesmo dia, enquanto a do, à noite,' nada consegue. ou dificilmente logra
jovem ~ostrava a? Or. Salvador Guéli, pesquisador bom êxito. lole sente-se imeelld~ a pegar o p~el de
de Gatanea (que ja estava pesquisando a mediuni- música e numa caneta; entao, ve diante de SI a pau-
dade de lole) as cinco pequenas páginas e lhe rela- ta musical com os símbolos próprios. Logo que co-
tava o episódio, manifestando a sua surpresa e per- pia uma linha, outra linha lhe aparece - c0f!l0 po-
~u!1tando o que p~deria significar aquela expressão deria acontecer se a música estivesse escnta em
tres por quatro, tres por quatro",- o Or. Guéli ob- um cilindro que se moves~e d~ baixo para ~im~ - e
~eryou~he que nas cinco páginas escritas faltava a assim sucessivamente ate o fim. A produçao e qua-
Indlcaçao da clave e a do compasso (os "três por se sempre na clave de "Sol", com indicação do tom
quatro" que ela ouvira), bem como faltava a divisão e do compasso.. • . A
dos compassos e dos acidentes. A médium copia a ~USlca qu.e ve.na sua frente
Estas cinco folhas de música foram observadas em um pentagrama, delxan.do a Ir~edlata em br~m
~or peS::>0a competente, a qual declarou ao Dr. Gué- co. Depois, geralmente no dia segUl~t~, sente-se Im-
li que; ~ parte as lacunas mencionadas, o bocado pelida a completar o bocado de muslca que escre-
d~ m.uSlca que continha podia pertencer ao gênero veu na clave de "Sol", registrando no pentagrama,
por debaixo da primeira, os compassos correspon-
classlco. O compasso era três por quatro.
. .Em setembro de 1934, lole Gatera copiou, me- dentes à clave de "Fá". Se a música tem letra, qua-
dlunlcamente, uma espécie de "fantasia" para piano se sempre antes, às vezes depois de escrever o tre-
bem como ~ música e a letra de uma canção (ber~ cho musical, a médium ouve cantar 0l! tocar a,pro-
ceuse), c:onsl~er.ada como tendo sido composta por dução que lhe foi transmitida e chega ate a. trautea-~a.
um musICO distinto - . uma. senhora pouco tempo Nas composições de. canto, a letra e percebida
antes de morrer. Isto fOI confirmado pela irmã da au- pela médium. por cla~i~udiência, e escreve-a quase
tor~ da canção, Eva MiJano, de Gatânea. Desde sempre depOIS da muslca. Entretanto, acontecel!-~he
entao, as faculdades musicais supranormais de lole pedir à misteriosa personalidade que faça a muslca
. qatera pro~uziram manifestações sempre mais va- para o poemeto que indica ou que lhe propuseram;
nadas e mais numerosas. e isto se realiza.
Os !e!'lômenos. dav~m-se" sempre, em plena Foi o que acontece~, ~~r. exemplo,. com a letra
I~z. A medlu~ mantinha Inalteravel a sua consciên- de uma canção em patoa SICIliano, e~cnta pe~o Pro-
CI~ --:- quer dizer: não se lhe notava, no momento de fessor Pedro Guido Gesano, de Gatanea, Intitulada
objetivar sua faculdade mediúnica, nenhuma mu- "Sicilia", e cuja música, .obtida por .este processo,
dança nas. suas manifestações sensoriais e psíqui- proveio de uma personalidade que disse chamar-se
cas; e maiS, apenas acusa a percepção supranor- Giovanni Dele'Ora.
mal auditiva, ou visual, ou ambas ao mesmo tempo. Enquanto escreve a música, '?'e ouve,a con-
versação das pessoas que a rodeiam e ate toma
94
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 95
lole Catera foi considerada um ~os fenômenos
parte nela. De resto, é o que podem fazer, com mais maiores da supranormalidade nas decadas de 30 e
ou menos facilidade, todas as pessoas que copiam
música. Contudo, o trabalho é-lhe mais fácil se tiver 40.
um pouco mais de tranqüilidade. que lhe permita
concentrar melhor a atenção nas linhas de música
que vê e de onde copia; por isso, prefere estar só. A
duração da cópia varia entre dez e quinze minutos,
até meia hora; raramente se prolonga por uma hora,
porque isso a fatiga, sobretudo a vista. No que res-
peita a quantidade, em cada sessão, vai de apenas
alguns compas~os (o que é muito raro) até cerca de
duas páginas. As vezes,. a composição fica incom-
pleta para prosseguir, no dia seguinte, partindo exa-
tamente do último compasso escrito. A clave de "fá"
é, gerplmente, escrita de um jato.
E importante salientar que o estilo das compo-
sições varia, consideravelmente, segundo as entida-
des que as ditam, ao passo que é sempre idêntico
para cada composição. Entre os nomes dessas enti-
dades, figuram alguns completamente desconheci-
dos na literatura musical, como, por exemplo, o de
Giovanni Bruchi, especializado em gênero ligeiro;
outros nomes são muito conhecidos. O estilo das
entidades, que se atribuem nomes célebres, corres-
ponde ao que se conhece deles, embora - confor-
me o juízo unânime de especialistas - a produção
de lole seja absolutamente original.
A música ditada por Vicente Bellini foi julgada
por experts, aos quais fora mostrada sem lhes dize-
rem a origem. Reconheceram como composição do
começo do último século, atribuindo-a ao gênio belli-
niano. Bellini, por sinal, prometeu ditar uma ópera a
que deu o título de liA Dama dos Fariseus" e da qual
ditou um belíssimo coro: "O Coro dos Anjos".
97
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
dendo que poderia ser indício de mediunidade es-
crevente, propôs que ambos dedicassem, em cada
semana, algumas horas a sessões regulares, na
tentativa de se obter algum satisfatório resultado. A
jovem concordou. A partir daí, a faculdade mediúni-
ca de Rosemary desenvolveu-se rapidamente. A pri-
meira entidade que se apresentou, por meio da psi-
cografia, deu o nome de "Mariel", o Or: Y"0od sou-
be, mais tarde, que se tratava do Espmto de uma
IVY BEAUMONT mulher "quaker", que vivera na cidade de Liverpool
(Inglaterra). Esse Espírito, após inteligentes diálogos
com o pesquisador, declarou:
"Estamos preparando a médium para uma mis-
Após a desencamação de seu irmão, J. O. são importante. Quando tivermos concluído os
Wood em acidente numa rua de Londres, o doutor preparativos, virá substituir-me algl:Jém que po-
em música e notável cientista inglês Frederic H. derá dar mensagens de maior valor do. que as
Wood, autor do Livro "After Thirty Centuries" (Após minhas."
Trinta Séculos), voltou-se para as pesquisas espíri-
tas. Manteve contato com alguns médiuns britâni- Em outubro de 1928, escreveu:
cos, através dos quais estabeleceu fidedignas co- "Está aqui um Espírito que, de agora em dian-
municações com o seu querido irmão. O Or. Wood te, guiará a médium. O seu nome. entre os Es-
confessa que essas comunicações lhe for~m ~e píritos é Lady N,ona. Viveu no Egito, em tempo
muita utilidade durante os tristes anos da pnmelra muito remoto. E um Espírito elevado e podero-
guerra mundial (1914-1918). so; parece de natureza estranha e fria. como a
Relata o Prof. Francisco Valdomiro Lorenz, um
água fresca de uma fonte clara e perfeitamente
dos maiores divulgadores do Esperanto no Brasil,
em sua obra, "A Voz do Antigo Egito" (FEB), que pura."
dedica a outro vulto do esperantismo no Brasil, o Então começaram as comunicações de Nona,
Prol. Ismael Gomes Braga, que anos depois de sua psicografadas por Rosemary. Duas semanas de-
militância no movimento espírita inglês, o Or. Wood pois, Lady Nona, em manifestação psicofônica, re-
encontrou a jovem Ivy Beaumont, que adotara o comendava ao Or. Wood: pedia calma e concentra-
pseudônimo de ROSE MARY. Ela, à época, não es- ção física e espiritual,. e Fxplicou .que vinha de~e.m
tava nem um pouco interessada pelos fenômenos penhar importante mlssao; depOIS falou de vanos
espiríticos, mas pela músiGa. Um dia, entretanto, assuntos ligados, pessoalmente, ao Or. Wood, e
nos finais de 1927, sentiu um forte tremor no braço
direito, na presença do Or. Wood, o qual, compreen- passou a dizer:
AS MULHERES MÉDIUNS 99
98 AS MULHERES MÉDIUNS
o Or. Wood, certa ocasião, perguntou ao Espí-
"Deus atinge as Suas próprias decisões por rito: "Como é que escreves e falas o inglês com tan-
meios puramente espirituais. Os seus cami- ta perfeição, apesar de teres passado a vida terres-
nhos são os do Espírito. Se viveis honestamen- tre no Egito?"
te e orais a Ele de todo o coração, não vos fal- Lady Nona respondeu:
tará o Seu auxílio... Nós teremos que passar "Tenho estado em contato com o teu país por
juntos por muitos caminhos. Eu cuidarei desta tempo suficiente para falar a tua língua. Ao
filha (Rosemary). Vós e ela tendes o tempera- mesmo tempo eu podia, por meio de um forte
mento necessário para esta espécie de traba- médium, escrever na língua dele, até mesmo
lho. Não percais a coragem.. !' se eu não compreendesse essa língua; mas,
neste caso eu imprimiria no seu cérebro uma
Em outra oportunidade Lady Nona esclarece: ima9':Jm das minhas,idéias, e o médiLJm a tra-
"Eu faço uso da mente d{1 médium, mas sou eu duzma em suas proprias palavras. As vezes
mesma quem vos fala. As vezes a médium re- acontece assim, porém isso pode produzir con-
cebe minha impressão, e sua própria mente se cepções errôneas, porque um médium descre-
expressa por palavras suas e de sua própria ve sempre o que ve, a seu próprio modo e com
maneira. Em tais casos facilmente ocorrem er- palavras que lhe sUflerem suas próprias expe-
ros na comunicação; e por isso é necessário riências. Por isso e preferível que o Espírito
escolher com cuidado a palavra que deve ser que se comunica, dê as 'palavras', e não ape-
escrita.. .Eu coloco a minha mão esquerda na nas os símbolos, através do cérebro do mé-
dium. Na escrita 'psicográfica' vencemos a difi-
testa da médium, e com a direita guio o lápis. culdade, porque simplesmente tomamos da
Em todas as sessões aglomeram-se muitas en- mão do médium e fazemos com ela o que fa-
tidades espirituais em redor do respectivo mé- ríamos com a nossa própria. "
dium e desejam escrever pela mão deste; mas
é claro que não se podem admiti-Ias todas. Te- Interrogada sobre as impressões que sentia
mos de tomar precauções contra abusos; se antes de entrar em transe, durante o mesmo e de-
fossem admitidas todas as entidades que dese- pois de recuperar o seu estado normal, explicou
jam comunicar-se, perder-se-ia muito tempo que, em princípio, sentia, durante dois até cinco mi-
nutos, entregando-se a completo silêncio, uma cres-
sem utilidade. As que compreendem quando se
cente relaxação da mente, do corpo e das faculda-
lhes explica o motivo de não serem admitidas a des volitivas; depois sucedia a escrita ou a fala do
dar comunicações, retiram-se; mas há algumas Espírito:
obstinadas. Os vossos guias formam, por isso,
em vosso redor uma corrente de força e assim "Quando eu mesma falo, penso antes de pro-
conseguem impedir qualquer rompimento por nunciar as palavras. E depois de falar lembro-me,
parte de estranhos e intrusos. " ao menos por algum tempo, do que falei; po-
AS MULHERES MÉDIUNS 101
100 AS MULHERES MÉDIUNS
rém, quando fala Nona pela minha boca, eu foi permitido que o meu corpo fosse dignamen-
não penso; os meus lábios se movem e pro- te sepultado. Mais tarde, o Faraó descobriu
nunciam as palavras sem que eu possa dizer que eu tivera razão e então sentiu fortes remor-
como; e depois, quando o Espírito me deixa re- sos. Eu, entretanto, no Mundo Espiritual, dormi
tomar o meu estado normal, não posso repetir por muito tempo e, quando acordei e reconheci
as palavras, ditas durante meu. transe, nem di- que estava viva, os meus sofrimentos aumen-
zer de que tratam elas. 11 taram pela separação daquele que ainda me
A 28 de junho de 1930, estava o Or. Wood no era caro. Não me queixava dele, mas dos mali-
gabinete mediúnico da clarividente Sra. Mason, sen- ciosos conselheiros que, ciumentos por causa
do ele desconhecido da médium, quando esta co- do grande amor que ele me votava, o engana-
meçou a descrever o Espírito-guia de Rosemary: ram para conseguirem que me abandonasse.
Ele sofreu muito devido a esse erro, em sua
"É uma senhora que foi princesa egípcia; ouço vida terrestre, e ainda no Mundo Espiritual.. .. 11
o nome ana, Mona ou Nona. Ela é de bela for-
ma corporal, esguia; tem a face delgada, a tes- Pesquisas posteriores desenvolvidas pelo Or.
ta alté!; traja um vestido folgado e sem mangas; Frederic H. Wood, no Museu Britânico e em outros
um cmto de ouro. a vestido e as sandálias são lugares, chegaram à conclusão que o Faraó, ao
de cor azul; um capuz comprido cai-lhe sobre qual Lady Nona se referia, era Am~nhotep III! q~e
os ombros. 11 reinara nos anos 1406-1370 a.C. Alem do maiS, In-
formações outras prestadas pelo Espírito confirma-
Após dois meses de trabalhos com a médium ram o resultado das pesquisas. Disse Lady Nona
Rosemary, Lady Nona, narrou, através da psicogra- que o Faraó construíra muitos monumentos, orde-
fia, a história de sua vida na Terra: nando que pusesse suas estátuas às portas desses
"Há muito tempo, vivia no Egito um certo Fa- edifícios. E é verdade histórica que, dentre os Fa-
raó, e eu era sua rainha. Naqueles dias estava raós que obtiveram a fama de construtores de s~n
o. Egito cheio de astrólogos e sábios que predi- tuários, Amenhotep 111 foi o que ma~dou construir o
zIam o futuro. Um deles era mau conselheiro, e maior número deles, de uma extremidade a outra do
eu avisei a~ Faraó que desconfiasse dele, por- Egito destacando-se os de Luxor, Kamak, Sakka-
que eu sabia que aquele homem estava cons- rah, EI-Kah. Nona declarou que o seu nome babilô-
pirando secretamente, não só contra a minha nico era Telika, e que no Egito lhe fora acrescentado
vida, como também contra sua vida. a Faraó, o apelido Ventiú, isto é "Asiático". A veracidade des-
porém, não acreditou nas minhas palavras, e ta comunicação é confirmada pelas tábuas de argila,
declarou que aquele homem era honesto. Em achadas nas escavações em Tel-EI-Amama, no Egi-
desespero, encarreguei meus criados de matar to em 1887. Essas tábuas contém uma carta que o
esse meu inimigo; mas tudo foi descoberto, e o rei da Babilônia, Kadaxman Bel, dirigiu ao Faraó
meu Faraó ordenou que eu fosse afogada no Amenhotep 111, em que se referia a uma irmã que
Nilo. Foi um trágico fim de uma vida feliz; nem fora dada por esposa ao Faraó e que desaparecera.
102 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 103
Essa princesa teria sido Telika ou Lady Nona, elimi-
nada por força das intrigas palacianas...
A partir de 8 de agosto de 1931, iniciam-se as
comunicações de Lady Nona em Egípcio faraônico.
Quatro anos decorridos (1935), Lady Nona já havia
falado em egípcio rápida e corretamente por algum
tempo. No dia 4 de maio de 1936, o Dr. Wood apre-
sentou-se, com a médium, no Internacional Institute
for Psychical Research, em South Kemington, Lon-
dres, e Lady Nona pronunciou aí, por Rosemary, em HElENSMITH
egípcio faraônico, um interessante discurso (fenô-
meno de xenoglossia), que foi gravado em disco,
destinado ao estudo e à análise dos egiptólogos.
Uma segunda prova fonográfica ocorreu no mesmo
instituto, no dia 14 de julho de 1938. Entre os fenômenos espíritas que sempre têm
despertado a atenção e os cuidados dos pesquisa-
dores está o da xenoglossia. Têm-se levantado, a
respeito, uma série de hipóteses que tentam, infruti-
feramente, explicar tal fenômeno, assim como acon-
teceu com René Sudre, da França, em sua "Introdu-
ção à Metapsíquica Hum,ana"; com Flournoy, da
Suíça, em sua obra "Das Indias ao Planeta Marte",
e com Hartmann, da Alemanha, em seu livro "O Es-
piritismo", todos refutados, respectivamente, por Er-
nesto Bozzano em sua obra "Metapsíquica Huma-
na", por Chevreuil, no livro "Não se Morre" e por
Alexandre Aksakoff, em sua obra "Animismo e Espi-
ritismo".
René Sudre, com a sua "prosopopéia-metag-
nomia" (com a qual pretende tudo explicar e nada
explica) tratando dos fenômenos de xenoglossia
que se deram com a médium Helen Smith, pesqui-
sada pelo Dr. Theodor Flournoy, Professor de Psico-
logia da Universidade de Genebra (Suíça), assim se
expressa:
AS MULHERES MÉDIUNS 105
104 AS MULHERES MÉDIUNS
"O caso em que o médium em transe se põe a traimente refutada por Aksakoff, oferece a seguinte
falar em língua que diz não conhecer deve e insustentável hipotese sobre XENOGLOSSIA:
sempre ser examinado com a presunção de se "Os sonâmbulos podem pronunciar e escrever
estar diante de um caso de criptomnesia (me- palavras e frases em línguas que não com-
mória oculta)." preendem, se o magnetizador ou uma outra
Helen Smith teria, segundo Sudre, assimilado o pessoa qualquer, posta em relação com eles,
que manifestava do ~ânscrito (antiqüíssima língua pronunciam essas palavras e essas frases,
sagrada e literária da India) folheando uma gramáti- mentalmente, com o intuito de sugerir... "
ca ou outro qualquer documento escrito (!). E quando os sonâmbulos falam de assuntos e
Entretanto, é o próprio Floumoy, autor das ex- se expressam em línguas desconhecidas de todos,
periências com Helen Smith, que declara: até mesmo do magnetizador? ..
'~ Srta. é verdadeiramente muito surpreenden-
te em seus sonambulismos hindus. Pergunta-se,
com assombro, de onde vem a esta filha das
margens do Lémano, sem educação artística,
sem conhecimento especial do Oriente, uma
perfeição de jogo, que nenhuma atriz alcança-
ria, sem dúvida, senão à custa de estudos pro-
longados qu uma estada nas margens do Gan-
ges ("Das Indias ao Planeta Marte")."
Helen Smith, em estado de transe, afirmava ter
sido a princesa Samandini, filha de um Sheique ára-
be e mulher de um príncipe indiano chamado Si-
vrouka Nayaca. Esse príncipe residia em Kanara e
ali construiu, em 1401, a fortaleza de Tchandragh.
Floumoy teria confirmadas as informações da
médium Helen Smith quando lhe caiu às mãos uma
9bra raríssima de François Marlis "Historia Geral da
India Antiga", editada em 1828, que veio demons-
trar, de maneira mais do que evidente, a verdade
sobre a existência da princesa Samandini e de sua
saga!
Por sua vez Eduard von Hartmann, em sua
obra "O Espiritismo", dada a lume em 1885, magis-
106 AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 107
a fisionomia da genitora da Sra. Fletcher, que lhe
apareceu em forma de camafeu. Um dos seus ami-
gos já falecido, materializou-se tão perfeitamente
bem que deu para perceber, na sua face direita, um
grande sinal natural que o caracterizara.
Os fenômenos que mais surpreenderam a to-
dos foi a materialização de uma figurinha com a al-
tura de 14 polegadas (cada polegada equivale a
25,40 mm), cercada de longo manto flutuante, a
ADA BESSENET qual se pôs a dançar na mesa, entre a Sra. Fletcher
e o Or. Carrington. (Estavam sentados um em frente
do outro.)
Como explicar este fenômeno? 'Talvez",
Anne Louise Fletcher, em sua obra "Oeath Un- lembra a Sra. Fletcher, - "tenhamos percebido pela
veiled", citada pelo Prof. Ernesto Bozzano, relata os visão inversa (como quando se olha em um binóculo
trâmites das experiências a que se submeteu a mé- ao contrário) esta pequena figura que dançava ao
dium norte-americana Ada Bessenet, das quais par- ritmo da música, iluminada por sua própria luz". O
ticipou o conhecido metapsiquista Or. Hereward certo é que era uma mulherzinha viva, perfeitamente
Carrington, autor do livro "The History of Psychic normal, salvo no que concerne as suas proporções
Science". minúsculas. A pesquisadora admitiu, por outro lado
Relata a Sra. Fletcher: (ante, provavelmente, o surpreendente e inacreditá-
"Em Washington, O. C., tive a oportunidade de vel fenômeno), que poderia se tratar da projeção de
assistir, em casa de um amigo, a uma sessão uma "imagem psíquica", graças às ondas elétricas,
com a conhecida médium Ada Bessenet, de assim como se faz pela "televisão". Por último, con-
Toledo, Ohio (EUA). A sessão realizou-se em siderou a possibilidade de que o Espírito em ques-
completa obscuridade, mas o Or. Hereward tão, por um ato de sua vontade, tenha querido mate-
Carrington estava sentado à direita da médium rializar-se, em proporções diminutas. A verdade é
e lhe vigiava atentamente todos os movimen- que, nos fenômenos de materialização, os Espíritos
tos. Não tardamos em ver aparecer as habi- se manifestam, mais ou menos bem, segundo o
tuais luzes que iam e vinham à altura do teto; grau de intensidade com o qual chega a concentrar
em seguida, vozes diretas masculinas e femini- o pensamento sobre o fenômeno que se propõe a
nas se fizeram ouvir no alto, cantando 'solos' e produzir. Isto parece explicar porque várias vezes as
'duos'." materializações·· de desencarnados não correspon-
Quando as primeiras formas materializadas dem, no que diz respeito a sua altura e compleição,
apareceram, iluminando a si mesmas, identificou-se à expectativa dos experimentadores.
108 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 109
o episódio registrado pela Sra. Annie Louise
Fle.tcher ~uarda analogia com o relatado pela Ora.
Juhette BI~?0!1, ao investigar .~ extraordinaria facul-
dade medlumca d~ .Eva_Carnere, investigação que
contou com a partlclpaçao da Doutora Marie Curie
notável cientista, ganhadora do prêmio Nobel de Fí~
sica e de Química.
CORA l. V. RICHMOND
KATHlEEN GOllGHER
206
AS MULHERES MÉDIUNS 201
AS MULHERES MÉDIUNS
A Sra. Hayden chegara à Inglaterra no final de "entre os quais o célebre estadista inglês
1852, com seu marido, respeitável proprietário e di- Henri Brougham, obteve, por meio de pancadas
retor de um jornal de Boston (EUA). Eis alguns tra- tidas pela mesa, várias e interessantíssimas comu-
ços do caráter da médium: "Desvanecia toda sus- nicações de extintas personalidades ilustres, entre
peita com a natural ingenuidade de suas palavras; e elas aquele que lhe foi grande amigo, em vida, o
muitos, que vinham divertir-se à sua custa, ficavam Duque de Kent, pai da célebre Rainha Vitória, o que
envergonhados ante a brandura e o excelente cará- o levou a publicar, em 1854, um curioso livro com o
ter de que ela dava mostras, e acabavam por tratá-Ia título: "O futuro da Raça Humana, ou Grande, Glo-
com respeito e cordialidade. riosa e Pacífica Revolução, anunciada e cumprida
"Invariavelmente deixava naqueles que a expe- por intermédio das almas de uma sociedade de mu-
rimentavam, a impressão de que, se os fenômenos lheres e de homens notáveis pelo saber e pela pro-
manifestados por sua intervenção pudessem ser bidade".
atribuídos à fraude, ela seria então - segundo a A Sra. Hayden converteu à teoria espírita ou-
observação de Oickens - a mais perfeita artista tras importantes personalidades inglesas, como o
que se possa imaginar. "
Or. Ashbumer, famoso médico da Real Academia,
Sir Arthur Conan Ooyle, em sua obra "The His-
tory of Spiritualism", refere-se à Sra. Hayden nestes Sir Charles Isham, o Prof. Augusto de Morgan, reno-
termos: "Merecia um monumento, ainda que fosse mado matemático e filósofo, a escritora Catarina
só por ter conseguido a conversão de Robert Stevens Crowe, o Or. John Elliotson, membro das
Owen. " Este célebre reformador social inglês, cujas mais importantes associações médicas de Londres,
idéias afrontavam os espíritos religiosos de sua épo- presidente da Real Sociedade de Medicina e Cirur-
ca, proclamou, em um histórico manifesto: "O Espíri- gia, e que foi intimorato defensor do emprego do
to do homem, em lugar de morrer com o corpo, magnetismo animal no tratamento de certas afecções
como eu acreditava, passa, ao separar-se dele, a tidas por incuráveis e como poderoso anestésico
uma outra existência mais luminosa, mais pura e nas operações cirúrgicas.
mais feliz." Em uma carta do Sr. M. Goupy, datada Assistiram às sessões mediúnicas com a
de Londres (20 de maio de 1853), Robert Owen ex- Sra. Hayden, convencendo-se da veracidade dos
plicava que "o objetivo das manifestações observa- fenômenos obtidos, Lady Combermere; o Or. John
das por toda parte era preparar a reforma do mun- Malcom; Sir Henri Thompson; o escritor Colley Grattan;
do, convencer todos os homens da realidade de o Reverendo A. W. Hobson, do St. John's College,
uma existência imortal após a que vivemos; inspirar-lhe de Cambridge (que se acredita ter sido o primeiro
a caridade, a benevolência e a mansidão sem limi- sacerdote britânico a ocupar-se dos fenômenos es-
tes". E, reportando-se às mesas glrantes, estava píritas); o grande físico Sir David Brewster; o Conde
certo de que o movimento delas, sob a cadeia de d'Eglinton, então Governador da Irlanda e outros
mãos, se deviam à ação de seres espirituais. "Reu- não menos ilustres representantes da Sociedade de
nindo-se com alguns amigos" - narra Z. Wantuil --- Londres.
208 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
Em um longo artigo publicado no jomallondrino
Critic, 1853, o Reverendo A. W. Hobson chamava a
atenção dos religiosos sobre os fenômenos espiri-
tualistas que tomavam conta da Inglaterra, conver-
tendo "muitos homens cultos e inteligentes". Enfati-
zava estar plenamente convencido de não ter havi-
do nenhuma farsa nas sessões com a Sra. Hayden,
cuja honestidade assegurou.
Entretanto (e como sempre), levantaram-se
contra a médium norte-americana, a imprensa, os
púlpitos e instituições de classe, sendo tratada como ÉMllE DE GIRARDIN
vulgar aventureira. Tudo isso sofreu essa intérprete
dos Espíritos, que por seu intermédio tentavam (e
ainda tentam) demonstrar aos homens a realidade
da sobrevivência do ser e de sua manifestação no o poeta e romancista Victor Hugo, desterrado
plano corpóreo. depois do golpe de Estado de Napoleão 111 (sobrinho
Sir Conan Doyle informou que. enquanto a Sra. de Napoleão Bonaparte), em 2 de dezembro de
Hayden semeava as suas primeiras sementes. em 1851, fixara residência na ilha de Jersey, onde che-
Londres, aconteciam, no Yorkshire, na cidade de gara, com a família, em 5 de agosto de 1852.
Keighley, manifestações espirituais por meio das Foi naquela ilha inglesa que o autor de "Os Mi-
mesas, sob o controle de um americano e do inglês seráveis" realizou memoráveis sessões com as me-
David Wealherhead, que fundou o primeiro periódi- sas girantes, onde despontou a fantástica "Sombra
co espírita inglês, o Yorkshire Spiritual Telegraph. do Sepulcro", enigmática entidade espiritual que ter-
Em fins de 1853, a Sra. Hayden retoma aos çou armas, armas de alto nível intelectual, com Victor
Estados Unidos da América, certa de ter escrito, em Hugo.
letras indeléveis, mais um capítulo do Grande Livro No final do verão de 1853, aos 6 de setembro,
das pesquisas sobre "o problema do ser' neste pIa- a Sra. Émile Girardin chegou à ilha de Jersey, a fim
no de provas e expiações. de passar breve temporada junto à família Hugo.
Poetisa e romancista, a Sra. de Girardin granjeara
celebridade desde a adolescência, com o cognome
de "Musa da Pátria", privilégio, segundo Edmond
Texier, cronista de L'lIlustration, até então usufruído
por Victor Hugo e Alfred de Musset.
Em Marine-Terrace, na Ilha de Jersey, a Sra.
de Girardin, nos dez dias que passou com Victor
Hugo e família, conheceu de perto o dedicado e fiel
amigo do ilustre exilado, o poeta e dramaturgo Au-
<210 AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 211
gusto Vacquerie, "homem que morreu sem ter dese-
jado ser nem senador, nem deputado, nem acadê- pria foi comprar, numa loja de brinquedos, uma
mico, nem condecorado". mesinha redonda, com um único pé terminado
"Foi esse literato francês, cujo irmão Carlos por três garras. Colocando-a sobre a mesa
morrera tragicamente" - informa Zêus Wantuil (in: grande igualmente não a conseguiu animar. A
"Mesas Girantes", FEB) - "com a esposa Leopoldi- Sra. de Girardin não esmoreceu, e disse que
na, filha de Victor Hugo, ambos afogados no rio os Espíritos não eram cavalos de tipóia, que
Sena, entre Candebac e Víflequier, quem primeiro esperam pacíentemente, mas sim seres livres e
relatou publicamente as experiências com as mesas de vontade própria que só vinham quando lhes
girantes, introduzidas no lar hugoano pela Sra. de aprazia.
Girardin, a cujo espírito de perseverança e fé se de- "No dia seguinte, renovada a experiência, ape-
veu o descortino de novos e mais largos horizontes nas o sífêncio respondeu. Ela perseverou, mas
para os proscritos de Jerse;('. a mesa embirrou.
Em "Les Miettes de I Histoire"(1863), escreveu "Era talo ardor de propaganda da parte da Sra.
Augusto Vacquerie: de Girardin, que esta, certo dia, jantando em
"(...) No momento em que todos a invejavam, a uma casa da ilha, fez a família interrogar em
Sra. de Girardin sabia-se doente, e morreu no vão, uma mesa redonda, de pé central. Os re-
ano seguinte (em 29 de junho de 1855, com 51 petidos resultados infelizes não a abalaram; ela
anos de idade) permaneceu calma, confiante, risonha, indul-
"Seria sua morte próxima que a levara a inte- gente diante da incredulidade.
ressar-se pela vida extraterrestre? Ela andava Na antevéspera véspera de sua partida, ela
preocupadíssima com as mesas falantes, e nos pediu que lhe concedêssemos, como des-
logo me perguntou se eu acreditava nisso. Ela pedida, uma última tentativa. Eu não havia as-
cria firmemente nessas coisas, e passava as sistido às tentativas precedentes; não sou dos
noites evocando os mortos. Sua preocupação que fazem cara feia às novidades, mas aquela
refletia-se, sem o saber, até em seu trabalho; o experiência escolhera má ocasião, por desviar-me
tema de 'La Joie fait peur não se refere a um de pensamentos que eu, pelo menos, supunha
morto que volta? Queria porque queria que mais urgentes. A minha rejeição fora até então
acreditassem no que ela acreditava e, no dia o meu protesto. Desta vez, porém, não pude
mesmo de sua chegada a Jersey, foi difícíf recusar assistir à última prova, mas fui com a
fazê-Ia aguardar o fim do jantar! Após a sobre- firme resolução de só crer no que fosse bem
mesa levantou-se e levou comigo um dos con- evidente.
vivas ao 'parloir, onde atormentaram uma
'~ Sra. de Girardin e um dos assistentes, con-
mesa, que permaneceu muda. Ela imputou o
juntamente, colocaram as mãos sobre a mesi-
mau resultado à mesa, cuja forma quadrada
contrariava o fluido. No dia seguinte, ela pró- nha. Durante um quarto de hora, nada! Mas ha-
víamos prometido ter paciência. Cinco minutos
212 AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 213
depois ouvimos leve estalido na madeira; isto
poderia ser o efeito de uma pressão involuntá- "Após ter sido apenas testemunha, tive por mi-
ria produzida por mãos fatigadas, mas, sem de- nha vez que ser ator; estava tão pouco conven,-
mora, o estalido se repetiu, seguindo-se febril cido, que tratei o milagre como a um asno sa-
agitação. De repente, uma das garras do pé da bio a quem se manda adivinhar qual a 'donzela
mesa se ergueu, e a Sra. de Girardin disse: mais casta da sociedade'; disse eu à mesa:
"- Está aí alguém? Se há alguém e se deseja 'adivinha a palavra que penso'. Para fiscalizar
falar-nos, bata uma pancada. mais de perto a resposta, tomei lugar à mesa
"- A garra caiu, produzindo ruído seco. com a Sra. de Girardin. A mesa forneceu uma
palavra, e era exato! Minha tenacidade res,ístiu.
"- Há alguém! - exclamou a Sra. de Girardin Pensei comigo rnesmo que o acaso podIa ter
- Fazei perguntas. inspirado a palavra à Sra. de Girardin e que
"Fizeram-se perguntas e a mesa a elas respon- esta podia tê-Ia comunicadp à mesa. Já me
deu. A resposta era breve, uma ou duas pala- acontecera, num baile da Opera, dizer a uma
vras quando muito, bastante indecisa, às vezes mulher de dominó que eu a conhecia, e, per-
ininteligível. Defeito, talvez, de nossa interpre- guntando-me ela seu nome de batismo, proferi
tação? O modo de traduzir as respostas presta- ao acaso um nome que ela reconheceu ser o
va-se ao erro? Eis como se procedia: enuncia- verdadeiro. Sem mesmo invocar o acaso, eu
va-se uma letra do alfabeto: a, b, c, etc, a cada poderia muito bem, à passagem das letras da
batimento do pé da mesa. Quando esta se deti- palavra, ter tido, inconscientemente nos olhos
nha, anotava-se a última letra pronunciada. ou nos dedos, um estremecimento que as de-
Mas, muitas vezes, a mesa não parava nitida- nunciasse. Recomecei a prova; mas, para estar
mente numa letra, enganava-se, sendo consig- seguro de não me trair quando da passagem
nada a precedente ou a seguinte; por efeito da
nossa experiência e porque a Sra. de Girardin das letras, nem por uma pressão maquinal nem
quase não intervinha, a fim de que o resultado por olhar involuntário, deixei a mesa e lhe_per-
fosse menos suspeito, tudo se atrapalhava. guntei, não a palavra, mas a sua traduçao. A
mesa respondeu: 'Queres dizer sofrimento' . Eu
"Em Paris, empregava, disse-nos ela, um pro- pensara em amor!...
cesso mais seguro e mais rápido; mandara ex-
pressamente fabricar uma mesa com um alfa- "Ainda assim não fiquei persuadido. Supus que
beto em quadrante, no qual um ponteiro desig- a mesa teria sido favorecida, pois, sendo o so-
nava por si mesmo a letra. frimento de tal forma o fundo de tudo, achei
"Apesar da imperfeição do meio, a mesa forne- que a tradução podia aplicar-se a qualquer pa-
ceu, entre respostas equívocas, algumas que lavra em que houvesse pensado. Sofrimento
me impressionaram. teria traduzido grandeza, maternidade, poesia,
patriotismo etc, tão bem quanto amor.
214 AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 215
"Ademais, eu poderia estar sendo vítima de um sentia claramente a presença daquela que duro
logro, mas isso seria admitir que a Sra. de Gi- golpe de vento arrebatara. Onde estava? Ama-
rardin, tão nobre, tão amiga, com os pés na se- va-nos ainda? Era feliz? Satisfazia ela a todas
pultura, tivesse transposto o mar para ludibriar as perguntas quando não declarava ser-lhe ve-
os proscritos. dado responder. A noite corria, e ficamos ali,
com a alma presa à invisível aparição. Final-
"Outros interrogaram a mesa e esta adivinhou mente, ela nos disse:'Adeus'; e a mesa não
os pensamentos ou incidentes só deles conhe- mais se moveu.
cidos; de repente, ela pareceu impacientar-se
com as perguntas pueris; recusou responder, "Rompia a madrugada. Subi para o meu quarto
continuando, porém, a agitar-se, como se tives- e, antes de me deitar, escrevi o que acabara de
se alguma coisa a dizer. Seu movimento tor- ocorrer, como se aquelas coisas pudessem ser
nou-se brusco e voluntário como uma ordem. esquecidas! No dia seguinte, não mais foi ne-
cessário a Sra. de Girardin convidar-me; fui eu
"- É ainda o mesmo Espírito que está aí? - quem a levou à mesa, junto da qual passamos
perguntou a Sra. de Girardin. a noite...
'~ mesa bateu duas pancadas, o que, na lin-
'~ Sra. de Girardin partiu no dia imediato.
guagem convencionada, significa 'não'.
Acompanhei-a até a bordo, e, quando largaram
"- Quemés? as amarras, ela me gritou: 'Até a vista'! Não
'~ mesa deu o nome de uma morta, presente mais a revi. Mas tornarei a vê-Ia...
na memória de todos. Leopoldina, filha de Victor "Ela voltou à França, onde aguardou o fim de
Hugo, desencarnada em 4 de setembro de
sua vida terrena. Seu salão era bem diferente
1843, e que segundo o escritor Jules Bois, cita-
do que era alguns anos antes. Não mais esta-
do por Zêus Wantuil, "inaugurou as revelações vam lá seus verdadeiros amigos. Uns se acha-
dos Espíritos, em Jersey, e foi anunciadora de- vam fora da França, como Victor Hugo; outros
les". mais longe, como Honoré de Balzac; outros
"Aqui não havia lugar para desconfiança"; - mais longe ainda, como Lamartine... Ela substi-
admitiu AUfJusto Vacquerie· - "ninguém teria tuía os ausentes, pondo-se à mesa pé-de-galo
tido a audacia, o atrevimento de, à nossa fren- com um ou dois amigos. Os mortos acudiam à
te, fazer do túmulo um teatro de saltimbancos. sua evocação; ela, desse modo, tinha reuniões
Já era bem difícil aceitar a mistificação, e muito que se equivaliam às melhores de outrora, e
menos uma infâmia! A suspeita seria despreza- onde os gênios eram substituídos pelos Espíri-
da por si mesma. O irmão (Charles Hugo) inter- tos. Seus convidados de então eram: Sedaine,
rogou a irmã que saía da região da morte para a Sra. de Sévigné, Moliere, Shakespeare... Foi
consolar os exilados; a mãe chorava; inexprimí- entre eles que ela morreu. Partiu sem resistên-
vel emoção constrangia todos os peitos; eu cia e sem tristeza; essa imortalidade tinha-a fei-
216 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 217
to perder toda a inquietação. Coisa tocante:
para ~u...avizarem a esta nobre mulher a penosa
translçao, esses grandes mortos vieram procu-
rá-Ia!...
'~ partida da Sra. de Girardin, de Jersey, não
me arrefeceu o entusiasmo pelas mesas. Preci-
p!te~-me de corpo e alma para essa grande cu-
nos/dade que a morte entreabriu!".
AS MENINAS MÉDIUNS
LAURA PEREIRA
1. Por volta de 1847, o coronel Henry Steel Olcott conheceu Helena Pe-
trovna Blavatsky. Identificando-se com seus ideais, fundou com ela, em 1875,
The Theosophical Society. Em 1878 viajou com a Sra. B1avatsky ãíndia,'insta-
lando-se primeiro em Bombaim (1879) e depois em Adyar (1882). De 1879 a
1907 foi editor da revista The Theosophist juntamente com Annie Besant.Fundou
em Benáres, índia, o "Central Hindu ColJege".
sua experiência ainda na adolescência: revelia, em ~essoes de que participou como assis-
"Fiz, assim, um grande aprendizado de prática tente. Este tipO de mediunidade não lhe interessou
espírita desde a adolescência, o qual muito tem vali-
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
314
Evangelho e a Doutrina Espírita que não há hora
muito, não participando das mesmas em cabine ou nem dia para se exercer o bem.
com outra qualquer formalidade. (REFORMADOR, janeiro, 1982.)
Yvonne Pereira sempre seguiu as orientações Em certa época de sua vida, no Rio de Janeiro
dos livros básicos da Codificação e, também, os Yvonne Pereira morou apenas com uma amiga e~
conselhos de seus guias espirituais. Entre os orien- um pequeno apartamento no bairro Uns de Vascon-
tadores encarnados, ela destaca o eminente espírita celos. Por esse tempo, ofereceu sua colaboração
de Barra Mansa, Zico Horta, que a instruiu no início como espírita e médium a algumas instituições espí-
de sua mediunidade. E foi através dessa tarefa, ritas. Mas não foi aceita por nenhuma delas. Então,
exercida sem interrupção, que ela, durante 54 anos organizou o que denominou Posto Mediúnico em
e meio, exerceu o receituário e os passes de cura. sua própria residência, provendo-o de remédio~ ho-
Praticou a cura de obsidiados, não s6 em recintos meopatas a sua própria custa. Passou a trabalhar
espíritas em sessões preparadas, como, auxiliada sozinha. Fazia o culto do Evangelho do Lar diaria-
por outros médiuns, na pr6pria casa dos doentes. mente, acompanhada de seus guias espirituais,
Amava os obsessores e era por eles respeitada. uma vez que a companheira de apartamento abomi-
Sempre orou muito por eles. A respeito de sua for- nava o Espiritismo. Além disso, aplicava injeções em
ma de encarar o Espiritismo e a sua mediunidade, doentes pobres, costurava para eles. e fornecia-lhes
ela declara: medicamentos, tudo gratuitamente. Durante 8 anos
Conservei-me sempre espírita e médium muito desenvolveu este trabalho assistencial, principal-
independente, jamais consenti que a direção dos mente com os moradores de uma favela próxima do
núcleos onde trabalhei bitolasse e burocratizesse as bairro em que residia.
minhas faculdades mediúnicas. Consagrei-as aos Yvonne Pereira trabalhou como médium em
serviços de Jesus e apenas obedecia, irrestritamen- vários centros: .ainda bem jovem no Centro Espírita
te, à Igreja do Alto, e com elas exercia a caridade a de Lavr8;s (mais tarde Centro Espírita Augusto Sil-
qualquer dia e hora em que fosse procurada pelos va), da Cidade de Lavras, em Minas Gerais' no Grê-
sofredores. Para isso aprofundei-me no estudo se- mio Espírita de Beneficência, de Barra do Piraí Es-
vero da Doutrina, a fim de conhecer o terreno em tado do ~i~ de Jan~iro; durante longo tempo na
que caminhava e conservar com razão a minha in- Casa Espmta, de JUIZ de Fora, em Minas Gerais'
durante dois anos no Centro Espírita Luiz Gonzaga;
dependência. No entanto, observei a rigor o critério
de Pedro Leopoldo; na União Espírita Suburbana
e os horários fixados pelos poucos centros onde
servi, mas jamais me submeti à burocracia mantida
do Rio de Janeiro, antigo Estado da Guanabara. No
ambulat6rio, ~nexo desta última instituição, dirigido
por alguns. Se não me permitiam atender necessita- pelo Dr. OtavIo Fernandes, serviu, ainda como mé-
dos no centro, por isso ou por aquilo, em determina- dium de atração de obsessores de indi~íduos com
dos dias, eu os atendia em qualquer outra parte, perturbação psíquica caracterizada por assédio de
fosse em minha residência ou na deles, e assim Espíritos.
consegui curas significativas, pois aprendi com o
AS MULHERES MÉDIUNS 311
316 AS MULHERES MÉDIUNS
Yvonne Pereira desenvolveu, igualmente, a diunicamente, ao Espírito Camilo Castelo Branco
mediunidade oratória. Como tal, esteve presente na que queria dar uma importante mensagem sobre o
tribuna espírita no local onde residia do ano de 1927 suicídio e os suicidas. Segundo declaração da pró-
até o ano de 1971, afastando-se deste setor, segun- pria Yvonne Pereira, ela trouxera a incumbência de
do ela mesma declara mas não explica a razão, por se prestar a esse trabalho, antes de reencarnar
ordem dos mentores espirituais. Dedicou-se à pro- pois se afinava com o problema por ter praticadô
dução de obras mediúnicas em livros, através de esse ato tresloucado em vidas anteriores. Seria,
crônicas, contos, crônicas, novelas e romances. portanto, uma forma de resgatar suas faltas.
Além de reproduzir textos enviados pelos Espí- Camilo Castelo Branco escreveu, então, atra-
ritos, Yvonne Pereira produzia de sua própria lavra. vés da psicografia, o livro "Memórias de um Suici-
Como jornalista, colaborou em vários jornais leigos da", em 1926, mas só publicado, em ª edição, 30
e espíritas brasileiros, nesta última categoria com o anos depois, ou seja, em princípios de 956. Atual-
pseudônimo de Frederico Francisco, numa homena- mente, essa obra é considerada um monumento da
gem ao seu amigo espiritual Frederico Francisco bibliografia mediúnica no Brasil. Pode ser considera-
Chopin. Este Espírito, segundo ela mesma declara, da um tratado sobre suicídio na visão espírita.
já a visitava, mesmo antes de se aproximar da mé- Além desse, recebeu, também: "Nas Telas do
dium musical inglesa Rosemary Brown. Assim, ela Infinito", dos Espíritos Bez~rra de Menezes e Camilo
colaborou em O Clarim, de Matão, São Paulo, no Castelo Branco; "Amor e adio", do Espírito Charles,
tempo de Cairbar Schutel, de quem foi grande ami- que ~firmou ter sido seu pai em vida anterior; "A
ga; em Luz e Verdade, de Lavras, este fundado por Tragedla de Santa Maria", romance brasileiro do Es-
ela mesma e mais três amigos espíritas (Eduardo pírito Bezerra de Menezes; "Nas Voragens do Peca-
Gomes Teixeira Coelho, Antenor Barbosa, João do", de Chartes; "Devassando o Invisível", sob a as-
Barbosa) e que os adversários do Espiritismo cha- sistência do Espírito Chartes e a supervisão do Es-
mavam de Trevas e Mentiras, em REFORMADOR, pírito B~zerr~ de Menezes; "Ressurreição e Vida",
órgão de divulgação da Federação Espírita Brasilei- do Espmto Leon Tolstol; "Dramas da Obsessão" do
ra. Infelizmente, muitos artigos seus publicados na Espírito Bezerra de Menezes; "Recordações da Me-
imprensa leiga se perderam. Ainda muito jovem, ~iunidade", sob a assistência e supervisão do Espí-
Yvonne Pereira não teve o devido cuidado de os co- ~to Bezerra de .Menezes; "A Família Espírita",
lecionar. E em muitos jornais profanos ela colabo- Evangelho aos Simples", "A Lei de Deus", "Contos
rou, como: A Tribuna, da cidade de Lavras; O Cru- Ami~?s" e "O Livro de Eneida", sob a supervisão do
zeiro, da cidade de Cruzeiro, Estado de São Paulo; Espmto Bezerra de Menezes e assistência dos Es-
A Coluna, de Campo Belo, Estado de Minas Gerais; píritos Charles e Léon Tolstoi; "O Drama da Breta-
Brasil Jornal e Jornal do Povo, de Barra do Piraí, nha" e "O Cavaleiro de Numiers", do Espírito Char.;
Estado do Rio de Janeiro. les; "Sublimação", dos Espíritos Léon Tolstoi e
Ainda em sua juventude, Yvonne Pereira rece- Chartes, e ainda, "Pontos Doutrinários", uma coletâ-
beu sugestão dos Espíritos para se submeter, me- nea de crônicas publicadas em REFORMADOR.
318 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDiUNS
Sobre o processo de como se realizou a recep- como se eu fora também desencamada, ou quase
ção das obras mediúnicas, explica Yvonne Pereira: isso, e revi muitos trechos do passado histórico eita-
A fim de receber esses livros, os romances dos em meus livros, como se se tratasse do presen-
principalmente, e também "Memórias de um Suici- te. pepois. de todas essas visões os autores espiri-
da", seus autores espirituais retiravam meu espírito tU8lS dos livros mostrados voltavam e os escreviam,
do corpo material. Levavam-me com eles para o e eu o~ transmitia com grande facilidade, porque já
Além ou para o país em que se desenrolaria a ação: conheCIa o enredo e os detalhes." (Anotações feitas
Portugal, Espanha, França, Alemanha, Rússia e pela médium em 30 de julho de 1973, e publicadas
também alguns ambientes do Mundo Invisível. Co- no REF9RMADOR de fevereiro. de 1982.)
nheci, assim, algumas paisagens do Mundo Espiri- Enfim, por tudo o que realizou em sua vida de
tual e países estrangeiros terrenos, onde a ação ro~ médium espírita, Yvonne Amaral Pereira pode ser
mântica se desenrolava, em diferentes épocas e sé.. considerada como uma das maiores médiuns sob
culos. Nesses locais, eu assistia à peça a ser escrita todos os aspectos, dotada de valiosas faculdades
pelos autores espirituais, com todos os detalhes, sempre postas a serviço do Bem e dentro do bom
sentia as emoções de todas as personagens, con- senso. Exigente e desconfiada quando o fato se re-
templava colorações belíssimas, via-me em todas lacionava com o mundo espiritual, nunca aceitou
as cenas, mas nada fazia ou dizia, e ouvia uma voz nada à primeira vista, sem um exame dentro da lógi-
desconhecida a narrar o drama com uma precisão e
ca conforme preceitua a Doutrina Espírita. O matri~
um encanto indescritíveis, mas sem ver o narrador,
e ouvia ainda tudo quanto diziam as suas persona- mônio não fez parte de sua última programação ter-
rena.
gens. Assisti, dessa forma, à célebre "Matança dos
Huguenotes", na França, no ano de 1572, com deta- No dia 9 de março de 1984, às 22 horas aproxi-
lhes inimagináveis por todos nós. Assisti a cenas da madamente, dese~carnou Yvonne Pereira no Hospi~
Inquisição de Portugual, no século XVI. Visitei caste- tal da Lagoa, no RIO de Janeiro, onde havia sido in~
los medievais e da Renascença. Penetrei o Palácio temada poucas horas antes.
do Louvre, em Paris, como ele devia ser ao tempo O sepultamento de seu corpo ocorreu no dia
de Catarina de Médicis. Perlustrei os· gelos da Rús- seguinte, 10 de março de 1984, às 16 horas, no Ce-
sia, conheci a vida de seus camponeses e o esplen- mitério de.lnhaúma. Ao ato, compareceram diversos
dor da nobreza ali existentes durante o Império. Co- confrades e ~migos, .entre os quais Juvanir Borges
nheci antros de miséria e dor de toda a parte. Pene- de ~o~za, vice-presidente da Federação Espírita
trei regiões sombrias do astral inferior e ambiências Brasileira, representando esta instituição e o seu
consoladoras do astral intermediário etc., etc. Posso presidente Francisco, Thiesen. Na oportunidade,
dizer que o Além-Túmulo se assemelha à nossa usaram ~apalavra Cesar Augusto Lourenço Filho,
Terra, porém, mais belo nas regiões intermediárias ~eu sobn.n~o, e o r~presentante da Federação Espí-
e boas. Nestas, tudo é agradável e belo, e artístico. nta Brasileira. Apos, uma prece foi proferida pelo
Convivi, finalmente, com meus Guias Espirituais, confrade Lauro de OliveiraSãoThiago.
320 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 321
através de sua mediunidade. Além disso, Helena
com sua bondade, auxiliou muitas pessoas. '
Aos vint~ anos de idade, foi informada de que,
e~ sua localidade chamada Alagoinhas Velha, resi-
dia uma mulher que já abortara seis crianças e esta-
va pretendendo abortar a sétima. Pediu a uma ami-
g.a que a levasse à infe.liz criatura. Lá chegando, ini-
CIOU uma conversa amistosa com a mulher, tentan-
do convencê-Ia de desistir da prática de ato tão he-
HELENA VIEIRA COSTA ~iondo .. A tar~f~!oi dificmma, Rois a mulher não que-
na aceitar a Idela de levar adiante a gravidez inde-
sejada.
Enfim, Helena comprometeu-se em adotar a
Helena Vieira Costa, mais conhecida pelos criança, assumindo toda a responsabilidade até
baianos como "Mãe Helena", nasceu na cidade de mesmo pelo seu futuro. E a mulher aceitou a pro-
Alagoinhas, Bahia, em 31 de outubro de 1918. Sua posta.
mãe, D. Adélia, que era viúva ao casar-se com seu Em 3 de junho de 1938, nasceu a criança que
pai, Mário Nascimento Vieira, tinha uma filha do pri- lhe foi entregue imediatamente. Recebeu o nome de
meiro casamento. Deste segundo consórcio, nasce- Heloísa, apelidada, mais tarde, de Lóis. Esta criança
ram quatr~ filhos, sendo Hele~a a Rrimo~ênita. ... vem lhe dar, posteriormente, uma prova incon-
A infancia de Helena nao fOi mUito tranqUlla, testável da reencarnação.
em virtude dos problemas de saúde e, já àquela No dia 1Q de janeiro de 1943, Helena se prepa-
época, associados a problemas espirituais. Aos sete rava para. passar o dia .?om uma amiga que morava
anos de idade ficou, temporariamente, cega e para- ~m Alagol~ha Velha. LOI.s demonstrou o desejo de ir
lítica. Na adolescência, os problemas de ordem es- junto, porem Helena disse que chovia torrencial-
piritual se intensificaram. Daí, resolveram levá-Ia a m~nte e não era bom para sair com aquela frieza.
um centro espírita, onde foi adquirindo o equilíbrio e LOls se zangou com a negativa da mãe adotiva e
desenvolvendo a sua mediunidade, apesar dos con- disse:
flitos com o pai. Este odiava o Espiritismo e não - Quero ver a outra mãe!
gostava que a filha freqüentasse o centro espírita. Helena ficou bastante surpresa, pois jamais lhe
Com o decorrer do tempo, Helena foi demons- houvera falado da existência da mãe verdadeira e
trando as diversas faculdades mediúnicas que pos- muito menos, que morava em Alagoinha Velha. En~
suía: de cura, incorporação, vidência, audiência e ~~ fim, resolveu levar Lóis.
efeitos físicos. Tornou-se conhecida, entre os esptn- . Lá chegando, ao atingirem determinado local,a
tas, por provocar perfumes e transportar flores, obje- cnança se desprende da mão de Helena e corre em
tos e remédios. Diversas pessoas foram curadas direção a um casebre. Sempre seguida pela mãe
322 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
adotiva, Lóis empurra a porta e diz para alguém que Em certa ocasião, Maria Augusta pega Helena
se encontrava no interior da casa: pela mão e a leva até o quarto dos fundos da casa
- Só vim olhar sua cara, mãe feia! em que moravam. Para surpresa de Helena, a crian-
Realmente, lá se encontrava sua verdadeira ça diz, apontando para um baú velho, onde estavam
mãe. A infeliz mulher, apontando para Helena diz: as coisas que foram de Lóis, como vestidos, brin-
- Não tenho filhos. Sua mãe é esta aí. quedos etc.:
Após este fato, Helena se dirigiu com Lóis à - Eu quero as minhas coisas que estão guar-
casa da amiga que pretendia visitar. dadas aí.
No dia seguinte, Lóis teve um ataque repentino E Helena não teve dúvidas. Comprovou emo-
de congestão. Apesar de medicada conveniente- cionada que Lóis tinha voltado na pessoa de Maria
mente, a crise se repete, paralisando o funciona- Augusta.
mento dos intestinos e dos rins. Embora tivesse a A partir de então, não era mais Maria Augusta.
assistência de dois médicos competentes, Lóis não Outras crianças foram chegando, Josefa, Maria Cé-
apresentou nenhuma melhora. Pela madrugada, se- lia, Maria de Lourdes...
gurando a mão de Helena, Lóis diz quase murmu- Foi quando um grupo de senhoras, formado
por Germínia A. Batista, Alderina Magalhães, Eduar-
rando:
- Vou dizer uma coisa: não quero que chore. da S. Novais e Maria dos A. Nogueira, resolveu fun-
Eu vou embora amanhã. Quero um vestido branco dar uma instituição beneficente para albergar crian-
bem bonito. Você "fazeu" mainha? ças órfãs. O ideal foi concretizado em 8 de maio de
E Helena responde: 1945, em homenagem ao aniversário de Maria Au-
- Sim, minha filha, mas para onde você vai? gusta e ao Dia das Mães.
Lóis responde, num fio de voz: A instituição recebeu, inicialmente, o nome de
- Não sei, sei que vou embora. Não chore Casa Mãe Helena. Ao se fazer o seu estatuto e le-
que em maio eu volto. galizar a sua situação como pessoa jurídica, rece-
Lóis desencama no dia imediato, aos quatro beu o nome lar Espírita Mãe Helena.
anos e alguns meses de idade. Em 8 de dezembro de 1945, Helena se casa
Passados vinte meses da desencarnação de com Osmar Ferreira Costa, conservando consigo as
Lóis, criam uma feira livre no centro da cidade de crianças e continuando a profissão de parteira que
Alagoinha. Certo dia, aí aparece uma mulher com já exercia desde os dezessete anos de idade. Até
uma criança de seis meses, oferecendo-a a quem a desencarnar fizera mais de 10.000 partos, a maior
quisesse criar. Sabendo disso, Helena toma a crian- parte deles registrados em um livro da Maternidade
ça, que se chamava, na certidão de batismo, de Ma- de Alagoinhas. Este livro foi queimado, dolosamen-
ria Augusta, nascida a 8 de maio de 1944. te, por uma funcionária da maternidade. Helena a
Fato notável acontece quando Maria Augusta partir desse acontecimento, deixou de registrar 'os
está com dois anos de idade. partos que realizava.
ANGÉliQUE COTTIN
tempos. Por quarenta anos, dos 75 que viveu, dedi- consequencla do aCidente com o trenó ou segundo
cou-se à mediunidade e a ser pesquisada pelos o.utras i~~ormações, por causa de um tumor. Ele fa-
mais famosos cientistas de sua época. Atribui-se a z~a. reunloes sempre aos domingos. No dia em que
ela a conversão de Sir Oliver lodge, Dr. Richard VISitava o doutor C~cke, ela entrou, inesperadamen-
Hodgson, Prof. James Hyslop e muitos outros inte- te, em tran?e: S~ntlu, como ela própria descreve, o
lectuais à crença na sobrevivência dos Espíritos e s~u r?sto diminUindo de tamanho até perder a cons-
na comunicação com os mortos. ClenCla do que estava a seu redor. Mais tarde com
Tem-se notícia de que sua mediunidade foi o repetir das reuniões, tinha convulsões e, a seguir,
despertada de forma curiosa; tudo começou a acon- estupor e estertores, antes de cair em transe profun-
tecer depois que sofreu um acidente de trenó, em do. Em estado aparente de inconsciência total ela
1884, que lhe causou um ferimento na cabeça. Con- rt:.vel~u possuir diversas faculdades, como: clárivi-
ta-se, entretanto, que quando tinha oito anos de ida- dencla~ t~lepatia, xenoglo~ia, emissão de diagnósti-
de, sentiu um sopro agudo no ouvido direito e, logo co~ me.dl~os corretos, alem de psicografia com as
a seguir, a formação da letra S acompanhada da maos direita e esquerda simultaneamente.
frase: Tia Sara não morreu, ela ainda está com Charles Richet observou a Sra. Piper, da pas-
você. leonore ficou muito assustada. Sua mãe ano- sag~m do estado normal para o estado de transe, e
tou o dia do acontecimento e, muitos dias mais tar- assim se expressou:
de, chegou a notícia que Tia Sara houvera desen- "E~a precisa, l~ara entrar em transe, segurar a
camado exatamente naquele dia e naquela hora. mao de alguem. Então, aperta-a durante al-
Outros fenômenos continuaram a ocorrer com a guns minutos ficando silenciosa. Ao fim de cin-
AS MUUIERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 341
co ou quinze minuto~, .é tomada de p~quenas assistiram a uma sessão e ficaram surpresas com
convulsões espasmodlcas, que se vao aa::n- as revelações de fatos íntimos quesõ elas conhe..
tuando, terminando por uma peque~a. cnse ciam e das mensagens de amigos mortos provando
epileptiforme, muito demorada. Ao salf de~a sua identidade, e que a· médium desconhecia total-
crise, cai em estado de estupor, com respIra- mente. E, quando a Sra. Gibbins, sogra do Prof. Ja-
ção um tanto estert0rosa, que dur~ cerca de mes, a convidou, ela, por razões inexplicáveis, acei-
dois minutos; depoIs, de repente, sal desse en- tou de bom grado.
torpecimento com um clamor. A sua ,voz muda; De inícIo, WilIiam James se mostrara incrédulo,
já não é mais a Sra. Piper quem esta presente, chegando a sorrir e a afirmar que a Sra. Piper era
mas outra personagem, o Or. PhJnuit, que fala, uma embusteira e que todos os fatos que revelava
com voz grossa, com acentuaçao em que.. ha tinham sido coletados em cemitérios e livros de en-
uma mistura de língua de negro, de frances e
dereços. Declarou, até, que estava decidido a pro-
de dialeto americano."
var a sua afirmativa. Assim pensando, realizou 12
Na segunda visita ao Dr. Cocke, Leonore co- sessões com a Sra. Piper, no outono de 1885. Nes-
meçou a desenvolver sua mediunidade que se en- sa época, apenas o Dr. Phinuitcontrolava os traba-
contrava em estado latente. Induzida ao transe pelo lhos espirituais. Eis as impressões pessoais de
Dr. Cocke, ela voltou a ter a visão que teve ~a infân- William James a respeito das faculdades da Sra. Pi-
cia a da luz que envolvia pequenas faces. Ainda em per:
tra~se levantou da cadeira, foi até a mesa, pegou
papel 'e lápis e escreveu em poucos minutos uma "Minha impressão, após a primeira visita, foi de
mensagem que ela mostrou para um membro do que a Sra. Piper era portadora de poderes su-
círculo e voltou para seu lugar. Este membro era o pranormais ou conhecia os membros· da faml1ia
Juiz Frost, de Cambridge, um notável juri;st?, par? de minha esposa pela visão e tinha, por algu-
quem seu filho já desencamado em um traglco a~l ma coincidência, conhecido com eles uma va-
dente enviara uma mensagem. Este deu provas tao riedade de suas circunstâncias domésticas
minuciosas que não deixaram dúvidas quanto a ~ua para·produzir O impacto.da impressão que ela
identidade. A notícia desse fato se espalhou rapida- fazia. Meu último conhecimento sobre suas
mente e a Sra. Piper passou a ser requisitada para reuniões e contatos pessoais com ela levam-me
sessões. Entretanto, tal notoriedade a des.agra?ou e absolutamente a rejeitar a última hipótese e a
ela passou algum tempo sem querer ver OIngue~. crer que ela tem poderes supranormais."
Entretanto, o primeiro a conse9uir pesqUisar, O resultado das pesquisas de William James
criteriosamente, a Sra. Piper, atraves de metodos está contido no relatório que ele apresentou à So-
científicos foi o célebre psicólogo e filósofo William ciety for Psychical Research (Sociedade para Pes-
James (1842-1910), professor da Universidade de quisas Psíquicas), de Londres. Aí, ele narra como
Harvard. Ele tomou conhecimento das faculdades procedeu desde o início de seu trabalho. Referindo-se,
da Sra. Piper através de umas parentas suas que principalmente, ao primeiro período de experiências,
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
William James escreveu, em 1890, no seu Procee- à perplexidade e ao espanto. Um dos fatos que ele
dings, no volume VI: narra é o do talão de cheques que sua sogra houve-
"E eu repito novamente o que disse antes, que, ra perdido, tendo Phinuit indicado o lugar exato em
tomando tudo o que eu conheço da Sra. Piper que o mesmo se encontrava. Em outra reunião, Phi-
no relatório, o resultado é me sentir tão absolu- nuit repreende William James em razão de um ato
tamente certo, como eu estou de qualquer fato praticado contra um animal. Visivelmente aborreci-
pessoal no mundo, que ela sabe de coisas du- do, Phinuit disse: O Senhor acaba de matar um gato
rante seus transes que ela não poderia em ne- com éter. Ele tinha o pêlo cinzento e branco. O infe-
nhuma hipótese ter ouvido em seu estado de liz animal andou à volta longo tempo antes de mor-
vigl1ia, e que a filosofia definitiva de seus tran- rer, fato recente que a médium desconhecia. Outra
ses está ainda por ser encontrada. " importante revelação foi a referente à morte de uma
Consta em seu relatório como ele procedeu em tia da Sra. James, chamada Kate. Disse Phinuit que
seu contato inicial com a Sra. Piper. Fora incógnito, a dita senhora morreria dentro de duas horas. Sobre
acompanhado da esposa, conhecer a médium como o fato, testemunha William James em seu relatório:
qualquer curioso comum. Logo que a Sra. Piper caiu '~O chegar em casa, encontramos um telegra-
~m t~~nse sonambúlico, apre~entou-se um Espírito ma que continha a seguinte notícia: 'Tia Kate
Identificando-se como tendo sido em vida Dr. Jean faleceu alguns minutos depois da meia-noite'. "
Phinuit Scliville, um médico francês que era orienta- O mais notável dessa revelação é que Phinuit
dor do Dr. Cocke e que agora orientava os trabalhos dissera ainda, à esposa de William James que ela
mediúnicos daquela médium. Era o chamado con- receberia uma carta de despedida de sua tia, pre-
trole. Este Espírito tinha uma voz grave e profunda,
vendo também o seu conteúdo. Tudo isso foi com-
m~ito. diferente da voz da !TIédi~m. Antes, porém, o
pn~elro controle da Sra. Plper tinha sido uma jovem
provado posteriormente.
mdla com o estranho nome de Chlorine. Outros Es- Como ocorre com todo aquele que se dedica a
píritos desencarnados já se tinham comunicado comprovar a veracidade dos fenômenos espíritas,
através da sua mediunidade, entre outros: Commo- William James também não ficou a salvo das calú-
dore Vanderbilt, Longfellow, Lorette Penchini, J. Se- nias e dos deboches. Após a apresentação do seu
bastian Bach e a Sra. Siddons, a atriz. relatório à Sociedade para Pesquisas Psíquicas de
Ainda bastante incrédulo e para ter certeza de Londres, não faltou quem declarasse que ele fora
que não se constituía numa farsa, chegou ao absur- ludibriado e que tudo o que presenciara não passou
do, mas com o consentimento dePhinuit, de dar um de embuste arquitetado pela Sra. Piper. Seu relató-
Re:queno corte no pulso esquerdo da Sra. Piper, ve- rio foi muito discutido pelo conselho da Instituição,
nflcando que o transe era autêntico, uma vez que constituída por homens considerados sábios, mas,
ela não sentiu nenhuma dor. que, infelizmente, não admitiam a existência do Es-
A partir desse dia, as provas da idoneidade da pírito e, muito menos, que eles pudessem se comu-
Sra. Piper se multiplicaram, levando William James nicar com os vivos e atuar no plano terrestre.
350 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 351
Não satisfeitos, portanto,. com o trabalho de sarnento, ele colocou, abruptamente um frasco
William James, procuraram outro cientista, a fim de aberto que continha amoníaco, sob aS narinas da
atingir os objetivos propostos, ou seja: desmascarar Sra. P~p.er. Ela nem piscou. os olhos. A seguir, foi
Leonore Piper. Para isso, o mesmo conselho enviou uma sene de revelaçoes. Phlnuit se manifestou com
a Boston o Dr. Richard Hodgson (1855-1905), um sua voz característica e desmascarou o cientista re-
australiano que conhecia, profundamente, a técnica velando o seu verdadeiro nome. Depois foi citado o
utilizada pelos mágicos profissionais em seus tru- nome da mãe de um seu primo chamado Fred com
ques. Ele era formado pela Universidade de Cam- guem Ho~gson estudara em um colégio da Austrá-
bridge e veio para continuar as pesquisas de William lia, a. ~egUlr os de seu pai e do irmão mais jovem, to-
James. Ele era o mais cético dos caçadores de frau- dos, Ja desenC8:rn~dos. Este foi o mais importante
dulentos. penodo da me~lunldade de Leonore Piper.
Iniciando seu trabalho na primavera de 1887, Entre as diversas faculdades mediúnicas e aní-
Hodgson logo colocou um detetive para seguir os micas a Sra. Piper possuía a aloscopia, que é uma
passos da Sra. Piper, a fim de obter dados sobre a faculdade paranormal ou psíquica. Consiste em
sua vida pessoal e de que maneira ela obtinha os conseguir ver os órgãos internos das pessoas sa-
dados íntimos sobre as pessoas. Nos primeiros três b~r q~al. deles se ençontra lesionado e estabeiecer
dias da semana em que se realizaram as sessões, o dla~nostlcos e prognosticos de doenças, e, o que é
Dr. Hodgson proibiu Leonore de ler os jornais matu-
tinos. Os membros da reunião eram desconhecidos
da Sra. Piper e seus nomes não eram mencionados.
se encontram a distância. °
mais surpreendente, muitas vezes de pessoas que
Dr. Richard Hodgson
teste~unhou, durante doze anos, a manifestação da
Enfim, os membros das sessões eram, geralmente, Sra. Plper nesse campo.
improvisados e, se alguma vez o nome de alguém .0 próprio Hodgson relata vários fatos que pre-
era citado, utilizava-se um pseudônimo. Eram reali- sencIou durante suas investigações com essa mé-
zadas duas reuniões por dia, com pessoas prove- dium extraordinária e que demostram a sua mediu-
nientes de diversas partes do mundo convidadas nid~de polimorl~. Encontram-se em "Anna/es des
pelo Dr. Hodgson. Sc/ences Psych/ques" (Anais das Ciências Psíqui-
Chegando a Boston, o Dr. Hodgson procurou cas), do ano de 1906, dois casos narrados por
Hodgson:
William James e solicitou que o apresentasse à Sra.
Piper, mas o apresentasse com o nome fictício de "Primeiro
Mr. Smith. Tal pedido mostra que o Dr. Hodgson Na primavera de 1888, uma pessoa do nosso
nem mesmo acreditava na faculdade telepática. A conhecimento, M. S., sofria de uma doença do-
sessão foi realizada, entretanto Mr. Smith não con- /o!osa, sem probabilidade de cura; tinha-se, po-
seguiu realizar a sua missão. Curiosamente, elees- rem, esperanças de que suas torturas diminuís-
tava seguindo as mesmas etapas do processo em- sem.. Uma consLf/ta a9s médicos havia diag-
pregado por William James. Para ele tudo não pas- nosticado a contmuaçao dos seus sofrimentos
saria de uma farsa desde o transe. Com esse pen- durante muitos anos ainda e com probabilidade
352 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
353
de decadência mental. A filha de M. S., presa
de inquietação e de vigílias, estaya a pont~ d.e Marguerite Brown, e lhe dei como endereço o
cair doente. Eu perguntei,. en,tao, a PhmUlt: dos meus amigos... Antes de entrar na cabine
'Como deverei fazer para ajuda-Ia a encontrar escura, peguei três envelopes lacrados, cada
um pouco de repouso?' E/~ me resfondeu: 'Ela um contendo um maço de cabelos, e os colo-
não abandonara a cabecetra do paI, mas os s~ quei num livro; um, no começo do livro, outro
frimentos não durarão por muito tempo. Os me- no meio e o terceiro no fim. Eu sabia que aque-
dicos se enganaram. Ele dentro em pouco ~o le do meio pertencia à minha mãe; era uma
frerá uma mudança; morrerá antes que tecmme mecha que eu lhe havia tirado de surpresa,
o verão.' Com efeito, M. S. faleceu no mes de porque ela não daria jamais seu consentimen-
junho de 1888. to. No que conceme aos outros, 'eu ignorava
Segundo tudo'. Eles me haviam sido enviados por Fred
Day, um amigo, em envelopes lacrados. Depo-
Uma profecia foi feita, a da mf?rtfJ de um dos sitei em suas mãos o maço de cabelos que eu
meus irmãos, o qual nunca a?slstlU a uma_ses-
A
havia posto no começo do livro. Imediatamen-
são Ele sofria de asma cromca. Na sessao de te, Phinuit exclamou:
10 de maio de 1892, Phinuit disse qUf! seus ' - Fred! Oh! Sim, Fredl Um jovem muito ma-
rins estavam atingidos e que ele morreria den- gro; ele usa óculos, tem pouca barba. É vosso
tro de seis meses ou um ano, e, ,em respo?t? a grande amigo. Eu nunca tive cabelos desde
um nosso pedido, acrescentou; Ele dormtra, e Fred, contudo sua 'influência' não me é nova.
quando acordar se ~ncontrara no '!',undo dos
espíritos' seu coraçao descansara. ~ 22 de 'Eu vim em seguida a saber que Fred havia,
maio, a data da morte foi fixada p~a, 'seIs mesf!s anteriormente, assistido a sessões com a Sra.
ou pouco antes ou um pouco maIs. Com e!elto Piper e Hodgson.
ele morreu durante o sono, de parada cardlaca, ' - Quem é Imogene?
no dia 3 de setembro. " ' - Eu não sei - respondi-lhe.
No mesmo Annales, do ano de 1906, encontra-se '-Sim, Imogene; uma jovem senhora, amiga
relatado outro fato extraordinário por demonstrar de Fred .. Influência muito forte. Quem é?
não somente que as informações dadas pela Sra.
Piper não eram produto do seu in~<?nscien~e, com~ ' - Eu não sei nada - repliquei.
envolvia, em um único caso, v~n.?s fenomeno~. ' - Ele nunca me disse que tinha uma amiga
diagnóstico, clarividência, pre~ogmçao e retrocogm- com esse nome. Creio mesmo que ele nem a
ção. Quem dá o testemunho e Hodgson, e Gertrude tenha.
Savage é quem relata: "- Sim, ele a tem: não me contradiga! Este
"Eu marquei uma sessão com a Sra. Piper F,red é filho único; a mãe tem ótima disposição.
apresentando-me sob um nome falso, o de E uma bela senhora, porém, não permanecerá
por muito tempo neste mundo. Este senhor
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
-se a um regime de duchas quentes; lem-
Fred partirá para uma longa l(iagem atrav~~ do bre-se. Ao que me parece ela e sua parenta.
oceano dentro de um ou dOIs anos. Ele)a fez Espere... é sua mãe... eu creio. Sim, sim, é sua
duas grandes; uma sobre o mflr e outra sobre a mãe; e ela tem uma, duas, três, quatro crian-
terra. Não é verdade? E posslvel? ças, dois meninos e duas meninas.
' - Eu não tenho certeza - respondi. O Or. Richard Hodgson, o mais materialista e
,_ Não importa, ele a ff!~; pergunte-lhe. Eu sei desconfiado dos pesquisadores, propôs um plano
o que digo. E-me permitido ler no futuro e e~ para testar as faculdades paranormais da Sra. Piper.
pus os fatos. Você poderá se assegurar se sao Ele já estava meio inseguro das suas convicções ma-
exatos. terialistas e arquitetou uma forma de experimentar a
médium, submetendo-a a experimentações na Ingla-
Eu peguei, então, do fim do livro, o 0i!tro maço terra, País com que ela não mantivera nenhum con-
de cabelos que me eram desconhecidos e lhe tato antes. Para surpresa de Or. Hodgson, a Sra. Piper
dei. Logo em seguida exclamou: aceitou o pedido. Na oportunidade, declarou aos
,_ Ufha! Dentro deste aqui há u'!1a doença. Eu amigos: Para provar que sou uma pessoa honesta
me sinto mal! Eu nada posso d/~er porque as preciso ir à Inglaterra.
influências estão misturadas. MUitas pessoas o No dia 9 de novembro de 1889, a Sra. Piper,
tocaram' ele não foi cortado perto da testa, de acompanhada de suas duas filhas pequenas, Alta e
sorte qJe o magnetismo do c.orpo pudesse pe- Minerva, embarcaram, em Boston, no navio Scythia,
netrá-Ia. Eu nada posso lhe dizer. da Companhia Cunard. Assim que desembarcaram
'Ora eu soube de maneira certa que os cabe- em Liverpool, foram encaminhadas à residência do
los pertenceram a uma t~a de F~ed, uma certa Prof. Frederick Myers, em Cambridge (1843-1901),
senhora Marie, que havia momdo no ,,!esmo e recepcionadas por Sir Oliver Lodge. Frederick
ano que os cabelos passaram pelas maos de Myers pedia desculpas pela ausência, em virtude de
divérsas pessoas e que haviam sido cortados estar realizando conferência em Edinburgh. Já se ti-
nham tomado os devidos cuidados, desde a véspe-
da ponta. ra da chegada das visitantes, para que não perma-
Eu peguei por último, do [11e~o do liv.!0' o maço necesse à vista nenhum dado sobre os habitantes
de cabelos pertencentes a mmha mae e lhe en- da casa: foram escondidos os álbuns de família, os
treguei. livros com nomes de pessoas e até a criadagem ti-
,_ Ela ela (exclamou Phinuit) me parece mui- nha sido substituída.
to avara de seus cabelos. Ela tem um d9 ce Frederick Myers, um dos fundadores da Socie-
temperamento, mas não goza de boa sai!df!. ty for Psychical Research, relatou suas experiências
Seus males estão na cabeça; sofre de temvels posteriormente:
dores de cabeça. Pqssui uma fraqueza m:;rvosa "Estou convencido de que a Sra. Piper, ao che-
no estômago; seu flgado funcIOna mal. Diga-lhe gar à Inglaterra, não conhecia o nosso País nem
que fui médico e a aconselho a submeter-
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
356
os seus habitantes. A criada que devia servi-Ia
fora escolhida por mim. Era rapariga boçal, po- Assim prometeu, assim cumpriu. George
rém muito fiel, e eu tinha todos os meios de jul- Iham desencamou a 17 de fevereiro de 1892 e, a
gar sua honestidade. E para maior segurança de março, transmitiu, através da Sra. Piper, a pri-
tive o cuidado de não revelar, de antemão, os meira mensagem escrita, enquanto Phinuit dava ou-
nomes das pessoas que eu convidaria. Os as- tra mensagem psicofonada, usando a voz da mé-
sistentes foram escolhidos por mim, muitos não dium. Tais fenômenos derrubaram a teoria da tele-
residiam em Cambridge, e, quando não os patia na explicação da recepção de mensagens es-
apresentava com falsos nomes, eram introduzi- pirituais. Realmente, George Pelham provocou
dos depois de iniciado o transe. " grande alvoroço conforme prometera. Em uma úni-
ca sessão, compareceram 150 pessoas, entre as
Nessa primeira viagem à Inglaterra, a Sra. Pi- quais 30 foram reconhecidas pelo Espírito como
per permaneceu dois meses. Durante este período, suas amigas. Na ocasião, ele citou seus nomes e se
ela se submeteu a 88 sessões, observada por vá- referiu a fatos íntimos de suas vidas. Ao Dr. Richard
rios cientistas e convidados. As informações dadas Hodgson deu uma declaração que ficou célebre:
aos participantes a respeito de parentes longínquos
foram confirmadas posteriormente. "Eu não acreditava na sobrevivência da alma.
Ao retomar a Boston, houve significativas mu- Esta crença estava fora daquilo que a minha in-
danças no teor das comunicações recebidas pela teligência podia conceber. Hoje pergunto a mim
Sra. Piper. Uma delas foi a mudança do controle. mesmo como me foi possível duvidar dela. Te-
Dr. Phinuit, que permaneceu até março de 1892, ,,?os um duplo etérico do corpo físico, que per-
deixou de ser exclusivo, dividindo o controle com o Siste, sem qualquer alteração, depois da disso-
Espírito George Pelham, enriquecendo os fenôme- lução do corpo. 11
nos. Leonore Piper fez uma segunda viagem à In-
George Pelham morrera aos 32 anos, em virtu- glaterra em 1906. Ao retomar, passou a ser pesqui-
de de uma queda de cavalo. Era natural de Boston sada por James Harvey Hyslop (1854-1920), profes-
e descendia de famOia tradicional dos Estados Uni- sor de Etica e Lógica da Universidade de Colúmbia
dos, da qual fazia parte o inventor Benjamin Franklin. (Nova. Iorque). Era membro da American Society for
George Pelham era autor de duas obras filosóficas. Psychlcal Research. Com ele, a Sra. Piper realizou
Ele houvera assistido, quando encarnado, a uma 16 sessões, cujos resultados foram registrados em
sessão com a Sra. Piper, mas não se convenceu da at~s que constitueJ'!l um volume de 650 páginas.
veracidade dos fenômenos. Entretanto, quatro anos FOI, nessa mesma epoca, na manhã do dia i7 de
antes de morrer, prometeu ao Dr. Richard Hodgson: dezembro de 1906, que começaram os experimen-
"Se eu morrer antes de você e se me achar tos das correspondências cruzadas, também conhe-
ainda no gozo da existência, farei tamanhos cidas como mensagem lataina, em que três médiuns
esforços para revelá-Ia que a coisa há de fazer tomaram parte: a Sra. Verrall, a Srta. Verrall, resi-
barulho." dentes em Cambridge, e a Sra. Piper. Nessas mani-
festações, o Espírito comunicante se utilizava das
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
mensagens de dois ou três médiuns para compor convencido da idoneidade da médium. Com ele con-
uma única mensagem. A interligação entre elas só corda Sir Oliver Lodge, que estudou demoradamen-
se verificava quando eram reunidas; separadas, não te a Sra. Piper e diz:
possuíam nenhuma correlação. Estas correspon- "",!o estado de transe, a personalidade da Sra.
dências foram criticadas por vários pesquisadores, Plper conhece, sem dúvida (emprego o termo
mas Sir Oliver Lodge, Sir William Barrett, Prof. Wil- em toda a sua força), muitas coisas que não
liam James, além de diversos membros da socieda-
de para Pesquisas Psíquicas de Londres, opinaram pode saber normalmente e que ignora por
favoravelmente. Sir William Barrett chegou a deda-. completo no estado de vigl1ia. Como chega ela
rar que certamente nenhuma inteligência encarnada a tal conhecimento?"
teria planejado, coordenado e dirigido-as. Sir. Oliver L?dge p~e em relevo a questão de
O Prot. Hyslop era um pesquisador severo, cri- que as Informaçoes ob!ldas pela Sra. Piper perten-
terioso e desconfiado ao extremo. Chegava ao cem, realmente, a alguem do mundo extrafísico e se
cúmulo de ir para a sessão em carruagem com as originam de personalidades invisíveis dotadas de in-
cortinas fechadas, usava uma máscara para não ser teligê~c~a e caráter próprios perfeitamente distintos
reconhecido por ninguém e, entrando sorrateira- da medium. Declara, entretanto, o ilustre pesquisa-
mente no local das sessões, sentava-se às costas dor em 1894 que:
da médium e, assim sendo, quando esta já se en-
contrava em transe profundo. "Ela própria (referindo-se a Sra. Piper), no es-
Mais tarde, a hipótese de fraude foi discutida, tado de transe, isto é, o seu 'controle' ou a par-
em seus diversos aspectos, pelo Dr. Hodgson, Prol. te dela qu~ se chama Or. Phinuit, afirma que
William James, Prol. Nelbold, da Universidade da ela as obtem falando com os amigos ou paren-
Pensilvânia, Dr. Walter Leaf e Sir Oliver Lodge. Em tes falecidos das pessoas presentes...; mas se
1898, o Prof. William James escreveu na Psycholo- a ~oz: muda e as mf!nsagens parecem vir dos
gical Review: propnos defuntos, nao quer dizer que eles sai-
"O Or. Hodgson considera que a hipótese de bam,o que se passa e o seu espírito consciente
fraude não pode ser mantida seriamente. Eu (se e que o tem) pode ser inteiramente alheio a
concordo com ele absolutamente. A médium este 'processus'."
tem estado sob observação, na maior parte do . Mas, a experiência adquirida nos anos poste-
tempo sob estrita observação, na maioria das n~re~, sobretudo nas experiências das correspon-
condições de sua vida, por um grande número df}'!clas cruzadas, persuadiram os investigadores
de pessoas, ansiosas, muitas delas, em sur- senos como ele de que há esforço consciente e deli-
preender qualquer circunstância suspeita, por berado da parte dos comunicantes invisíveis para
(aproximadamente) quinze anos. " nos convencer da sua sobrevivência.
O Professor James teve ocasiões únicas com a . A respeito da sua mediunidade, declara a Sra.
Sra. Piper. Em carta a Frederick Myers, ele diz estar Plper:
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
"Quando descobri que possuía um dom, poder,
ou o que desejarem, no qual o melhqr do meu.
conhecimento não toma parte, entao resolvI
que daria minha vida, se necessário for, para
descobrir sua verdadeira natureza. "
Quase 40 anos após essa declaração, ela de-
sabafou:
"Mas eu me surpreendo pelo fato de que, ago-
ra após todo esse tempo, não estamos sequer AGNES NICHOL
próximos da real solução como estávamos no
começo."
O Prof. William James conclui que nada eo:' .de- Nome de solteira da Sra. Samuel Guppy, céle-
sabono da mediunidade da Sra. Piper fora venf!ca- bre médium inglesa, especializada em aportes. Era
do pelos cientista~ qu~ a inv~s~igaram. A honestida- médium de efeitos físicos luminosos, desenhos me-
de e reputação, nao so da medlu~ como da pessoa, cânicos e transporte. Foi a primeira médium inglesa
estavam acima de qualquer suspeita. a produzir materializações de corpo inteiro, mesmo
antes de Florence Cook. Os relatos de trabalhos de-
senvolvidos pela Sra. Guppy são encontrados na
obra Mary Jane ou O Espiritismo explicado quimica-
mente através de Desenhos Espirituais, um livro pu-
blicado por autor anônimo, em 1863. Atribui-se a
Samuel Guppy, marido da médium, a autoria desta
obra.
o A Srta. Nichol casou-se com Samuel Guppy em
1867. Viveram por algum tempo no continente e,
quando voltaram, foram presenciados muitos fenô-
menos maravilhosos provocados pela sua mediuni-
dade.
Essa poderosa médium foi descoberta pelo Or.
Alfred Russel Wallace, êmulo de OalWin, que se tor-
nou convicto da imortalidade da alma depois que
testemunhou os fenômenos por ela provocados. Ele
não se preocupou com as materializações, que co-
meçaram a ser produzidas em 1872; o que desper-
tou o seu interesse foram os fenômenos de apports,
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
que já ocorriam desde.a déc?da de 1860. E~té!va tração do péssimo caráter da Sra. Guppy fez com
ele visitando sua irmã, a Sra. Shm, e soube da eXl5ten- que os espíritas da época, horrorizados, a repudias-
cia da Sra. Guppy. Havia um ano, ·ou seja, desqe 1865, sem de seu meio. Foi nesse período que se iniciou a
que ele se iniciara nas· investigações dos fenomenos ascensão de Florence Cook.
psíquicos e espíritas. ., . ., As reuniões com a Sra. Guppy eram realizadas
Ainda jovem, a garota, hlpnotlca profissional, no escuro. A médium segurava as mãos das suas ir-
produzia movimentos de objetos sem contato. O~ fe.: mãs; entretanto, ela era levantada várias vezes de sua
nômenos eram mais intensos quando ela e sua Irma cadeira para cima da mesa. Logo após, sons de
estavam sozinhas. música eram ouvidos por todos e fenômenos de trans-
O mais curioso de sua faculdade é que os fe- porte aconteciam.
nômenos mais notáveis ocorriam quando a sala Por vezes incontáveis, grande quantidade de
onde antes se reuniram se encontrava vazia. flores e frutos, cuja origem se desconhecia total-
Investigando sobre sua inf~ncia, o ilustre r:'atu- mente, era lançada em cima da mesa de reuniões.
ralista fica sabendo que, em criança, a Srta. Nlchol Além da abundância, ela atendia a pedidos específi-
via Espíritos. Também outros fatos singulares pas- cos. As irmãs das médiuns solicitavam o fenômeno
saram a acontecer, como batidas, movimentos de e eram atendidas quase sempre.
mesa seguidos de levitação. A Sra. Guppy era uma Quando um amigo do Dr. Wallace pediu um gi-
mulher de compleição física avantajada, de propor- rassol, um espécime de 72 centímetros de caule,
ções elefantinas, como diziam. Entretanto, seu peso com terra ao redor das suas raízes, caiu sobre a
não impedia que ela levitasse como uma pluma, fre- mesa.
qüentemente. Certa vez, na casa de Sargeant Cox, uma
Segundo informações dos que a conheceram grande quantidade de flores de estufas foram lança-
pessoalmente, Sra. Guppy era de um temperamenjo das. Estava presente, na ocasião, a Princesa Mar-
rancoroso e vingativo. Havia pesquisadores que nao garida de Nápoles que desejou receber amostras de
queriam saber dela de jeito nenhum, c~mo, por cactos espinhentos. Seu estranho pedido foi atendi-
exemplo, John William Strutt (Lord Raylelgh), ga- do prontamente e vários cactos caíram sobre a
nhador do Prêmio Nobel de Física. Ele chegou a de- mesa. Os espinhos tiveram de ser colhidos com pin-
clarar, em 1874: ças. Acompanharam a solicitação urtigas picantes e
"Creio que não conseguiria suportá-Ia, nem flores alvas bastante malcheirosas que tiveram que
mesmo pela causa da ciência." ser queimadas posteriormente. A Duquesa de Apri-
Tais eram a sua virulência e ciúme descontro- no, que também estava presente, desejou receber
lado, devidos, talvez, a seu aspecto grotesco, .que areia de praia. Imediatamente, espalhou-se pelo
nutria um ódio mortal contra a esbelta e graciosa ambiente, não só a areia solicitada, como água sal-
Florence Cook, chegando a demonstrar seus ~enti gada e estrelas do mar ainda vivas. O espantoso
mentos com o solicitár a seus aliados que arruinas- desses fenômenos é que o mar estava a cerca de
sem aquela cara de boneca com ácido. Tal demons- 3.600 metros do local da casa onde se realizavam
364 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
as sessões. Tais fenômenos, porém, não eram ra- Sra. Guppy se encontrava em sua casa em londres
ros. Freqüentemente, enguias vivas e lagostas eram organizando a contabilidade doméstica e, ao escre~
trazidas para a câmara escura das sessões. ver a palavra cebola, foi transportada, subitamente,
Caso curioso no caso das folhagens aportadas em estado de transe profundo, meio despida e sem
é que elas chegavam queimadas e tostadas. Expli- sapatos, e colocada sobre a mesa da sala de reu-
cou o dirigente espiritual da médium que tudo isso niões. Estavam presentes, além dos seus protegi-
era devido a Eletrícity was the potent nipper (A po- dos, Frank Heme e Charles William, oito participan-
tente tesoura usada fora a eletricidade). tes. E ela apareceu segurando o livro-caixa e de ca-
Mas tarde, com o decorrer das experiências, a misola.
Sra. Guppy foi capaz de produzir os mesmos f~nô O que mais fazia os pesquisadores crer na ido-
menos à luz. Era indispensável, entretanto, deixar neidade da Sra. Guppy era o total desinteresse por
um local separado, na obscuridade, daquele em que retribuições financeiras. O Sr. Samuel Guppy era
se encontravam as pessoas, onde seriam deposita- um homem muito rico. Isso desorientou completa-
dos os objetos transportados pelos Espíritos. mente Frank Podmore, autor da obra "Espiritualismo
Catherine Berry, em sua obra "Experiências so- Moderno". Ele considerava todo médium fraudulento
bre Espiritualismo", fala de muitos acontecimentos e interesseiro. A Sra. Guppy se lhe apresentava
surpreendentes proporcionados pelas faculdades da como uma exceção. E ele escreve:
Sra. Guppy.._ _ '~ Sra. Guppy, mesmo durante os poucos me-
Em certa ocaslao, durante uma sessao com a ses em que prat~cara hipnotismo profissional,
Sra. Guppy, na casa da Sra. ~erry~ um,g~to branco
A
enquanto Srta. Nlchol, raramente pôde ter en-
e um cão maltes, que pertenciam a medlum, foram contrado incentivo na esperança do lucro finan-
transportados para a sala de reuniões. Além des- ceiro. Supondo-se que seja fraude, o mero cus-
ses, três patos já preparados para entra~em no for- to das flores esbanjadas sobre os participantes
no foram trazidos para o grupo. A segUir, uma en- deve ter consumido qualquer lucro que ela ti-
xurrada de borboletas caíram do teto sobre os pre- vesse obtido. E, portanto, tais estímulos teriam
sentes. acabado após o casamento. "
Numa outra sessão, uma chuva de penas de Depois da morte de Samuel Guppy, sua viúva
pato caiu, formando um monte de vários centíme- casou-se pela terceira vez e logo ficou conhecida
tros. ~omo Sra. Guppy-Volckman. Era seu marido, Wil-
Todavia, o acontecimento mais impressionante liam Volckman, o mesmo que agarrara o Espírito
da sua carreira de médium foi o seu próprio trans- Katie King materializado. Apesar de todas as com-
porte da sua casa em Highbury para a rua Lamb's provações que testemunhou, ele continuou a afirmar
Candui, nº 61. Encontravam-se a uma distância, que Katie King e Florence Cook eram a mesma pes-
uma da outra, de mais de 4.800 metros. Tal fato soa.
ocorreu devido a um pedido inconseqüente e quase Agnes Michol desencamou em dezembro de
por brincadeira de um senhor chamado Harrison. A 1917.
366 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 361
Para Marie Mahé tratava-se de um pergaminho
muito velho, manchado de sangue, e não teve difi-
culdade em revelar a origem dele, indicando, com
datas, que o sangue era de uma pessoa falecida
num barco devido a um duelo. Depois da verifica-
ção, viu-se que os prognósticos da médium corres-
pondiam à verdade dos fatos. Depois, os seus triun-
fos se repetiram. Eis alguns exemplos: um senhor
fora consultá-Ia a respeito de sua mulher gravemen-
MARtE MAHÉ te doente ( o médico pretendia realizar uma delicada
cirurgia no ventre). Ela, de imediato, recomendou ao
consul~nte: " - Não permita que operem a sua es-
Marie Mahé sócia influente do Instituto Metap- posa. E um erro de diagnóstico. "
síquico de P?!is.(Françé!i), era médium de nascença. O visitante ficou impressionado e contou esta
Pequenina, ja tinha cnses surpreendentes de s~ conversa ao médico, que encolheu os ombros...
nambulismo. Lembrava-se perfeitamente de sua p~ . Passados alguns dias, o médico telefonou-lhe
meira vidência, durante a guerra de 1914. Uma nOi- a pedir a morada da vidente, para cumprimentá-Ia,
te, quando ajudava a pôr a "lesa em su~ casa, de- porque, afinal, ela tinha razão.
clarou inesperadamente: - Ponho I!!als um talher As suas vidências, ora são longínquas, ora são
para o tio que vai chegar'. Este familiar estava en- próximas. Em sessão pública, anunciou a certa pes-
tão servindo ao exército e nada f~zia supor .que pu: soa uma grande aflição causada pelo falecimento
desse sair de licença, o que a mae de Mane Mahe de um ente querido. Os fatos se deram conforme,
lhe fez notar, repreendendo-a: Entretan~o" alguns detalhadamente, previra Marie Mahé. A outro con-
minutos mais tarde, o tio, já de licença, batia a porta. sulente, que a interrogou, avisou-o, com insistência,
De outra feita, tinham-na levado ao teatro a ver que tivesse o maior cuidado com as pernas, dizen-
"A Boneca de Nurembergue", e ela, durante uma do-lhe textualmente: " - Veja bem onde põe os
crise de sonambulismo noturno, des~r~veu toda. a pés... "
peça, com os nomes dos atores, as replicas e os jO- Mal saiu à rua, o homem sofreu um grave aci-
gos de cena! dente, com dolorosas fraturas nas pernas. Os céti-
Como tantos outros, Marie Mahé de~envolveu-se cos chamarão a isto coincidência. Mas, que poderão
com o famoso Dr. Eugene Osty, do Ins!l~uto de M~ eles opor às visões que Marie Mahé fazia a distân-
tapsíquica de Paris, que formou uma plelade de me- cia, a lugares onde nunca esteve, chegando até a
diuns célebres. De início, o Dr. Osty entregava aos
precisar o número de degraus, o estado de uso da
pesquisados um sobrescrito com um documento
cuja origem ignoravam. Esta. era a base da expe- escada de entrada, descrevendo a desordem do in-
terior de uma casa e até o pormenor de um buraco
riência.
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 369
368
numa camisola de malha que a sua interlocutora só Marie Mahé não se envaidecia de suas extraor-
usava em casa?! ~inárias e polivalentes faculdades mediúnicas. Con-
Marie Mahé, para quem a vidência era uma ra- tinuou, por largo tempo, na sua modesta residência
zão de ser, considerava a sua atividade verdadeira- na velha rua Pierre-Lescot, em Paris, a desempe-
mente missionária e não profissional. O desinteres- nhar a abençoada tarefa de consolar os aflitos evi-
se que ela demonstrava por estas coisas é, sem dú- denciando-lhes as realidades da sobrevivência da
vida, a compensação do seu êxito. alma, que, no plano imponderável, preserva os seus
Profundamente crente, era sempre inspirada cara,cteres. r:norais e intelectuais, e aspira, quando
espiritualmente, razão pela qual dispensava o auxí- lhe e permitido, exortar aos seus entes queridos en-
lio de qualquer artifício material. camados, a que vivam, amem, sofram, e se prepa-
A médium possuía, também, faculdades pre- rem para outras e fecundas experiências no campo
monitórias. Assim, em 1937, predisse com impres- imenso da evolução!
sionantes detalhes, a eclosão da Segunda Guerra
Mundial e enunciou o pacto germano-russo quinze
dias antes de sua conclusão, apesar dos sarcasmos
de que era alvo por parte dos descrentes.
Outras vezes, Marie Mahé entrava em comuni-
cação com os mortos, de quem transmitia os conse-
lhos. A uma senhora que a veio consultar, disse,
simplesmente, mostrando o medalhão que trazia no
pescoço:
" - A pessoa que a senhora perdeu era sua
mãe, e el'a diz-lhe que não se aflija e que vá ver o
João."
Os fatos são exatos, a pessoa existiu e a con-
sulente contou que só teve que abençoar o conse-
lho.
Nenhuma das manifestações que nos podem
provar a realidade imortalista escaparam a Marie
Mahé. Foi assim que, há algum tempo, ela, que nun-
ca escreveu um verso sequer em sua vida, compôs,
subitamente, espantosos e belos poemas mediúni-
cos que os especialistas (dentre os quais se destaca
o portentoso pesquisador Eugene Osty) em questões
supranormais admitiram como inquestionavelmente
verdadeiros.
370 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 371
A experiência não podia ser mais estranha.
Para obter esclarecimento, levou um dia essa pintu-
ra a uma mulher que passara por ter poderes me-
diúnicos, bem como conhecimentos extra-sensoriais
a respeito dos objetos que contemplava ou em que
tocava. Essa mulher lhe disse que Goya, o grande
pintor espanhol falecido em 1828, falara com ela:
'Ele me disse que, em tempos idos, você o recebeu
em sua casa, numa grande cidade do Sul da França
HENRIETTE WEISZaROOS e, então, você o ajudou a fugir do seu país e dos
seus inimigos. Goya ainda lhe era grato e queria
dar-lhe ajuda, mas sentia que você resistia. "Era a
Em fevereiro de 1972, a revista REFORMA- sua educação acadêmica, disse a médium, a razão
DOR noticiava a existência, na cidade de Nova Ior- da atitude rígida com que não aceitava a orientação
que, de uma senhora de 69 anos, "holandesa, baixi- do artista espanhol. "Foi por isso que ele a obrigou a
nha e morena, que se chamava outrora Henriette pintar no escuro, a fim de que você não percebesse
Roos". Ela mudou de nome, por se ter casado com
o que estava fazendo."
Até então, embora sendo pintora, a senhora
um homem chamado Weisz. Mais tarde, divorciou-se Weisz-Roos confessa que nada lera a respeito de
e, embora na Holanda as divorciadas voltem a ter o Goya. Nessa mesma noite, foi à casa de uma amiga
nome de solteira, preferiu não proceder dessa for- que possuía um exemplar de uma detalhada biogra-
ma. Sua mãe uma vez a repreendeu por causa dis- fia do artista. Lendo-a, com grande assombro des-
so, mas a filha respondeu-lhe: "Sinto-me mais à cobriu nesse livro a história de Rosário Weisz, em
vontade com esse nome". Acabou, porém, por assi- cuja casa, em Bordéus (Sul da França), Goya se
nar-se Henriette Weisz-Roos e ir viver em Paris, hospedara, durante o período em que esteve exila-
custeando a subsistência com sua pintura. Pintava, do, já ao fim de sua vida. A senhora Weisz-Roos
principalmente, retratos. Uma noite, no verão de acredita que sua experiência demonstra (através do
1963, fora se deitar muito cedo, esperando dormir processo mediúnico) a reencarnação, isto é, prova
logo. Mas alguns pensamentos insistentes a impedi- que ela é uma pessoa que, aparentemente, viveu
ram de conciliar o sono. Por isso, levantou-se e foi em época anterior, isto é, no século XIX!
pintar. Singularmente, pintou no escuro, por algum
tempo, de forma automática, sem ter a menor idéia
do que estava acontecendo. Depois, tranqüilamen-
te, foi deitar-se e dormiu. Pela manhã, um belo re-
trato de uma mulher jovem se encontrava em seu
cavalete.
312 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 313
contudo, encontrado qualquer objeto desse tipo no
leito, quando despertou. Mas, ao contar o caso a
sua mãe, esta profundamente admirada, disse-lhe
que tivera o mesmo sonho, mas que de fato, encon-
trara espetada nos lençóis uma agulha de que se
esquecera, quando costurava. No entanto, Mary, im-
buída de ideais materialistas, pouca importância
dava aos assuntos espíritas, até que por volta dos
40 anos de idade um colapso da sua saúde a levou
MARY CRAIG SINClAIR a estudar livros de psicologia e psicanálise e de in-
fluência, ação e efeito, que o Espírito pode ter sobre
a matéria. Esta curiosidade acabou por inteirá-Ia dos
Upton Sinclair, o grande escritor norte-america- fenômenos psíquicos e, em breve, concludentes ex-
no, ganhador do Prêmio Pulitzer, depois de um pe- periências foram efetuadas por ela e por seu cunha-
ríodo de intenso trabalho resolveu instalar-se na Ca- do Robert Irwin, casado com sua irmã mais nova.
lifórnia com sua esposa, Mary, mentalmente muito Assim, em hora certa de cada dia, Irwin, na sua
cansada e deprimida, a fim de recuperar forças, sob
C!i~a em Passadena (EUA), pegava no papel e np
o sol generoso e reconfortante do litoral. lapls e sentava-se com a mente concentrada. A
Mas, alguns 'dias depois que a Sra. Sinclair co-
meçou a dar mostras de grande nervosismo, afir- mesma hora, Mary Sinclair, sentada no seu lar de
mando que Jack London, o grande plumitivo da fic- Long Beach (EUA) e em estado de concentração
ção, se encontrava sob uma terrível pressão mental. tentava adivinhar o que Robert escrevia, pensava
Em vão Sinclair quis dissuadi-Ia de seus maus pres- ou desenhava. O primeiro desenho do cunhado foi
sentimentos, acabando por se oferecer para condu- uma cadeira e é a própria Mary Sinclair que nos
zi-Ia ao rancho de London para que ela relaxasse a conta o sucedido:
tensão sensorial a que estava submetida. Por ques-
tões supervenientes, desistiram da visita ao ficcio- 'í4s dez horas da noite ou um pouco antes, en-
nista. Dois dias depois ambos liam nos jornais a quanto costurava, foi-me dado ver Robert pe-
morte de Jack London, sabendo mais tarde que se gar no julgo ser um candelabro. Às 11:15 (ago-
suicidara. A influência deste episódio foi enorme so- ra já plenamente concentrada) voltei a ver meu
bre a mente do escritor que conta o ocorrido no seu cunhado (desta vez sentado na sala de estar
livro "Rádio Mental", um dos mais notáveis trabalhos com um prato ou qualquer outro pequeno obje-
publicados no domínio da telepatia. to defronte dele). Tentei então divisar bem o
Já na sua infância, Mary Craig Sinclair dava utensílio, sem o conseguir. Concentrei-me a
mostra desse alto sentido psíquico. Um dia sonhou seguir sobre o desenho que Robert fizera no
que se esquecera de uma agulha na cama, sem ter, papel e, por fim, vi claramente uma cadeira. ff
perturbavam o espírito. Nada disto acontecia com já não vive. O mundo está livre do opressor!". Pouco
Fathma Ben Romdane, que se concentrava e caía depois sabia-se qlJe, no momento em que Apolônio
num estado especial de transe que lhe permitia, ao tinha a visão em Efeso, o último dos doze Césares
cabo de alguns instantes, sem que lhe fizessem per- caía morto pelo punhal de um conspirador.
guntas, dizer, de repente: "Numa terra distante, que Fathma Ramdane, na opinião do pesquisador,
s~ en...contra de~telado - e com a mão designava a é um dos médiuns mais interessantes de sua época,
dlreçao - estao todos consternados pelo assassf- porque ao contrário de muitos outros, cujos poderes
nio de uma alta personalidade", ou ainda: "Numa foram reconhecidos pelos maiores cientistas, todas
grande cidade, com casas baixas e brancas, vejo as manifestações obtidas por seu intermédio foram
soldados que disparam sobre a multidão... Mas nin- espontâneas e sem a menor sugestão que influen-
guém faz caso defes." Fatos que se reconheceu se- ciasse a sua personalidade psíquica. Ao tomar con-
rem exatos, ao serem lidos nos jornais do dia se- tato com qualquer objeto, Fathma descreve toda a
guinte. sua história e origem por forma surpreendente. Faz
O que caracteriza estas experiências é o fato ressaltar, com pormenores particulares, fatos curio-
de Fathma captar a alma das multidões e ver o que sos e, mais ainda, nestas ocasiões a sua erudição
acont~ce nas regiões mais longínquas, contando deixa todos espantados. As suas qualidades psico-
que ai se encontre uma aglomeração considerável. métricas surpreendem e obriga o pesquisador a
:rudo p~r~ce de~onstrar que o d~plo (perispírito) da conduzir as experiências de modo especial. Por vá-
Jovem e InconSCientemente atraldo para os pontos rias vezes, o Or. Vitry pôs nas mãos de Fathma um
onde a multidão cria atmosfera de temor, de angús- sobrescrito selado, estava contendo um papel em
tia, de terror ou de alegria. Algumas de suas mani- que uma pessoa estranha à sessão havia escrito
festações ,podem ser comparadas, segundo o uma palavra, ou desenhado uma figura geométrica.
Or. Vltry, as de Emmanuel Swedenborg, o vidente Este procedimento demonstrava que nenhum dos
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
presentes conhecia o seu conteúdo. Fathma com os do sul da Tunísia, quando, de súbito, com voz forte
olhos bem abertos, fixando o espaço, apalpava fe- e decidida gritou: "Quero voltar a 'Sfax para ver me-
brilmente e com nervosismo o envelope e, depois, lhor!", contraindo ao mesmo tempo os músculos do
como não sabia ler, traçava com o lápis o que via. rosto e dando impressão de despender enorme es-
Os seus erros eram mínimos. Nunca se enganara, forço para se libertar dos laços materiais que a pren-
quando se tratava de fi!;juras geométricas ou de. ob- diam. No mesmo instante, todos notaram que os
jetos que conhecia, tais como garrafas, ~adelras, pés de Fathma haviam desaparecido... A princípio
uma flor um cacho de uvas, uma campainha, um pensou-se que os tivesse dobrado para se sentar
gato etc:.. Neste caso, so~ria r?diante ,e diz!a logo: neles, à moda árabe, mas em vão lhe ergueram
"Koursi, debbouza, quhanene, aneb, naquanes, qat-
tous" etc. A impressão era quase imediata e as visões bastante a saia bastante larga: Viram, apenas, os
colocavam-se sempre no presente, sem ter conta o joelhos. Ao tocar-lhes, o pesquisador verificou que
espaço. Nunca Fathma previu um fato que.. devesse mantinham a temperatura normal; mas, em compen-
acontecer em futuro próximo ou distante. As vezes, sação, desprendia-se deles fraca corrente elétrica,
exprimia-se de forma simbólica que devia ser inter- enquanto na sala se espalhava tênue cheiro de ozô-
pretada, tendo em vista a sua falta de instrução e a nio. O pai de Fathma, assustou-se e, temendo tal-
sua inteligência média. vez que o fato a prejudicasse, deixou-se cair numa
Mas o fenômeno que, mais do que nenhum ou- poltrona, ocultando o rosto nas mãos. O fenômeno,
tro, não deixará de chamar a atenção do mundo no entanto, durou apenas alguns instantes, porque,
científico era a desmaterialização visível dos mem- quase de súbito, circundados por uma espécie de
bros inferiores, à qual Fathma estava sujeita, quan- matéria vaporosa, os participantes da reunião viram
do se esforçava por conseguir ~ clarivi~ê~cia. as extremidades de Fathma reaparecerem gradual-
A primeira vez que ? D~. Vltry aS~lstlu a este,fe- mente. Tocando-lhe os pés, o pesquisador verificou
nômeno estranho que so fo! consegUido pelas cele- que estavam frios, quase gelados e que transmitiam
bres médiuns Elisabeth d'Espérance, Elisabeth
Compton e Carmine Mirabelli, foi no seu gabinete, uma espécie de frêmito elétrico de intensidade va-
em 1949. Estavam presentes muitas pessoas. Entre riável que todos constataram.
outros o pai de Fathma, um notável muçulmano, um Este fenômeno, seguido de muitos outros se-
professor de medicina e o jo~em .fotógrafo que:, ~ão melhantes de maior ou menor duração, não pode-
impressionado, não conseguIu disparar a objetiva riam deixar indiferentes os que tiveram a oportunida-
do seu aparelho, no instante preciso. de de testemunhá-lo, de visu.
Havia alguns instantes que Fathma se encon- As teorias mais estranhas, conclui o Or. Euge-
trava naquele estado concentrado e particular de ne de VilIegrande, têm sido apresentados para ex-
êxtase, com os grandes olhos árabes bem abertos, plicar as causas determinantes da clarividência. Alu-
fixos no espaço. O ~r. Vitry tinha ?uvido falar ge fa- cinação hipnótica? Alteração psíquico-sensorial? Fo-
tos singulares OCOrridos em Sfax, Importante Cidade tismo? Na realidade, nada se sabe.
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
No caso das experiências realizadas com Fath-
ma Ben Romdane, o controle mais rigoroso confir-
mou o seguinte pela forma mais positiva:
1) Que as visões foram sempre controladas e
confinnadas como verdadeiras. Portanto, não houve
alucinação.
2) Nunca foi exercida qualquer ação hipnótica
para provocar as manifestações de clarividência ou
psicometria.
3) Se houver alteração psicosensorial - o que
é provável, porque no estado normal não se verifica- JOANA THEREZA VIEIRA DE LIMA
ram tais fenômenos- essa alteração é inconscien-
te. O coração, a respiração e os reflexos são nor-
mais, enquanto a medium se encontrava nesse es- (ABIGAil LIMA)
tado especial. Do ponto de vista fisiológico, não se
trata do sono propriamente dito, mas de um estado
que se aproxima do êxtase, pois existe sempre a
tendência para manter leve rigidez plástica, conser- Joana Theresa Vieira de Lima, mais conhecida
vando a percepção sensorial, confonne ficou de- por Abigail Lima, nasceu a 21 de dezembro de
monstrado, às reações ténnicas e dolorosas. 1883, no Rio de Janeiro, desencamando na mesma
O fotismo explica-se pelo subconsciente que cidade no dia 21 de julho de 1969. De familia católi-
percebe as imagens reais das visões longínquas, ca, foi educada em colégio de religiosos, no bairro
que sobem à superfície do consciente para um me- de Lara!1jeiras. Apesar de obediente à religião de
canismo psicosensorial em que a inteligência instru- ~eus pais, er~ ~vessa aos dogmas do confessioná-
tiva desempenha papel fundamental. no e d~ eucanstla, tendo por isso recebido sérias re-
preensoes dos educadores. Sua aversão era tal
qu~, quando obrigada a se confessar, adoecia, e
mUitas vezes a comunhão era dada no leito. Tanto
que seus pais, sabedores do problema, foram obri-
gados a transferi-Ia de colégio, onde não houvesse
tal obrigatoriedade.
Conta ela em entrevista, datada de 1952 a
~mérico C~uvalho,. diretor do Jornal Espírita, já ex-
tmto, que fiCOU nOiva de Manoel da Mota Lima aos
17 anos de idade. Sendo seu noivo de faml1ia católi-
ca, ele fazia questão do casamento religioso. Depois
de tudo pronto, marcado o casamento, ela se recu-
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 381
sou a casar na igreja, para decepção geral, inclusive o Dr. Levindo Mello, Uns de Vasconcelos João Car-
do próprio noivo, que afinal cedeu à sua vontade. Ic:s .Moreira Guimarães e o~tros. '~bigail,' afirma An-
Abigail Uma tomou conhecimento dos fenôme- tonio de Souza Lucena, fOI uma verdadeira heroína,
nos mediúnicos através de sua própria mãe, que, exemplo de educadora, uma das mais abnegadas
sem qualquer conhecimento do Espiritismo, era "to- mulheres espíritas de sua época no Rio de Janeiro."
mada" por uma Entidade Espiritual, revelando uma
personalidade inteiramente diversa da sua. Porém,
por preconceito religioso, a família jamais procurou
contato com o Espiritismo.
Dias depois de casada, visitando uma amiga
enferma, foi envolvida por um Espírito e, inteiramen-
te inconsciente de tudo que se passava, aplicou-lhe
um passe e a amiga recuperou-se de imediato. O
marido, ao tomar conhecimento do ato, proibiu-a de
procurar uma Casa Espírita. Meses depois ela foi
acometida de uma crise nervosa, sendo tratada pelo
Dr. Filgueiras Uma, médico homeopata famoso, que
lhe aconselhou freqüentar a Federação Espírita Bra-
sileira e procurar o médium Manuel Quintão. Com
apenas uma receita, recuperou-se. Na FEB, conhe-
ceu Ignácio Bittencourt e passou a freqüentar o
Centro Espírita dirigido por ele, em Botafogo (RJ),
no qual desenvolveu a sua mediunidade e tomou
conhecimento total da Doutrina Espírita. A partir daí,
o marido rendeu-se à evidência dos fatos e passou
a colaborar com ela, na grande tarefa que lhe esta- ,
va destinada.
Fundou e dirigiu inúmeras casas espíritas. De-
dicou-se com muito amor à criança órfã e abando-
nada, fundando a instituição Pátria do Evangelho,
no bairro de Madureira (RJ), com um efetivo de 65
meninas, que criou e educou com muito amor. Mais
tarde juntou-se a ela D. Constança Carvalho, senho-
ra de muitas posses, dona da fazenda Madureira,
que se transformou numa comunidade espírita, com
a colaboração dos maiores nomes da época, como
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
levantou um barracão de madeira, destinado a abri-
gar todos os necessitados, desde crianças órfãs e
abandonadas até o doente mental e obsidiado.
Benedita Fernandes era possuidora de diver-
sas faculdades mediúnicas, aplicadas unicamente
em favor dos doentes e necessitados. A sua fama
cresceu, atravessou fronteiras, projetando-se em
decorrência do número de curas realizadas. Nesse
BENEDITA FERNANDES afã, enfrentou toda a sorte de tropeços; porém, com
fibra e decisão de ajudar os sofredores, soube con-
duzir a obra, ultrapassando as naturais dificuldades.
"A vida de Benedita Fernandes é a demonst~a. Procurada para resolver problemas corriqueiros, apro-
ção da grandeza e da redenção humana pelo Espm- veitava a ocasião para esclarecer e iluminar cons-
tismo - Divaldo Francd' ciências ignorantes de que os Espíritos bons não se
envolvem com coisas que cabe ao próprio homem
Benedita Fernandes nasceu a 27 de junho de resolver.
1883, em Campos Novos do Cunha, SP, e desen- Por sua atividade, era chamada a "Dama da
carnou em 9 de outubro de 1947, em Araçatuba, Caridade", em reconhecimento pelos trabalhos ár-
duos em prol dos sofredores. Posteriormente, foi er-
SP. b I guido o Sanatório Benedita Fernandes, na cidade
Vítima de pertinaz obsessão, per~m u ~~a, na
década de 20, pela cidade de Penapolas, reglao no- de Araçatuba, e em sua memória a Prefeitura deu o
roeste do Estado de São Paulo, ate que um ~rupo seu nome à rua onde estava situado o Nosocômio,
de espíritas, condoídos do seu estado, encam~nhou destinado a doentes mentais e obsidiados.
seu nome para uma reunião de desobsessao, e, O Prof. Leopoldo Machado, em O Clarim de
surpreendentemente, o socorro não se fez es~erar. 8-11-1947, referindo-se a uma visita que havia feito
Apresentou, de imediato, grande melhora, ate que a Benedita Fernandes, assim se expressou:
se restabeleceu completamente.
Após a sua recuperação, decidiu dedicar-se à "Quando voltávamos de Mato Grosso, estava
tarefa de auxOio às criaturas, que, como ela, esta- na estação, à nossa espera, a fim de insistir
vam presas da obsessão ou da loucur~. ~esse pro- para ficarmos um diazinho mais em Araçatuba.
pósito, fundou em Araçatuba a Assoclaçao de Se- Se cedêssemos, iria à Semana Espírita de Cru-
nhoras Cristãs, ajudada por um grupo de senhora~ zeiro. Não pudemos aceitar-lhe o convite, mas
da melhor sociedade local, evento que se concretI- ela foi a Cruzeiro, com aquele entusiasmo jo-
zou em 1932. Foi um trabalho pioneiro de obras ~o vem que a animava. E foi, merecidamente, alvo
ciais naquela região. Com o auxílio da populaçao, de todo o carinho dos irmãos semaneiros, que
a cercavam, ouvindo-lhe as experiências e rin-
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
do-se com suas observações. Muito sorriso
quando ela contou: "hou,ve um ~e,!!po em que
meus passes e minha agua flwdlflcada ançta-
ram curando muita gente. Quase me paf}omza.-
ram por isso. Minha santidade cresCia a medi-
da que as curas se operavam. E eu, embora .
passando por santa, já não tif!ha a~ mesmas
horas livres para tratar de mwta~ crianças, de
meus obsidiados. Acontece, amda, qu.e. os
doentes, só pensando na.. sua c,ura, egolstlpa- JOANA PEDRO PEREIRA
mente, em si mesmos, nao aceitavam explica-
ções não respeitavam horas de consultas.
Acabei com a santidade e com ~ passes e a
água fluidificada, vendo meus amigos que ser Joana Pedro Pereira, ou D. Joana Pedro,
santo é o diabo... " como era conhecida nos meios familiares e espíri-
tas, nasceu na cidade de Araçá, São Paulo, em 7
de janeiro de 1906 e aí desencarnou em 29 de ja-
neiro de 1991. Convertera-se ao Espiritismo nos
idos de 1931, quando da manifestação de notá-
veis faculdades mediúnicas, oportunidade em que
teve o privilégio de ser orientada e apoiada nesta
árdua e nobilitante missão por Caírbar Schutel, o
"bandeirante do Espiritismo".
Assim integrou o círculo íntimo e fraterno do
fundador da Revista Internacional de Espiritismo,
AlE, de Matão, SP, tendo participado dos traba-
lhos desenvolvidos no Centro Espírita Amantes da
Pobreza, e, sob a dileta direção de Caírbar Schu-
tel, desincumbiu-se de tarefas por ele designadas,
sempre em auxílio irrestrito ao próximo; punha, as-
sim, seus dons mediúnicos a serviço do Bem.
"O. Joana Pedro dignificou com sua presença
e atos" - informa o necrológio da AI E edição de
julho de 1991 - "os preceitos da Doutrina Espíri-
ta, seja no sinf/elo âmbito doméstico, promovendo
reuniões familiares de prática e estudo, como na
AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS
infatigável militância, na qualidade de cooperado- Rei~eran~o sua reta conduta espírita, aceitou
ra de instituições espíritas, sem esmorecimento, com reslgf!açao e coragem a breve, porém doloro-
com bom ânimo, desinteressada e resolutamente". sa, enfermidade que a levou à desencarnação.
Exemplificando sua atuação em prol do Espi- O necrológio finaliza com a sentença do
ritismo, cita-se o seu valioso empenho como uma Dr. Charles Richet - "Mors Janua Vitaf" - A morte
das fundadoras do Centro Espírita Ivan Santos de é a porta da vida!
Albuquerque, na cidade de Murutinga do Sul, Alta
Noroeste, São Paulo, em 1948, depois colabora-
dora do Lar Espírita Caírbar Schutel, além de ter
composto a equipe de médiuns de várias entida-
des espíritas, como o Centro Espírita Doze Após-
tolos, no Bairro da Penha de França, SP.
Uma de suas características era o permanen-
te auxílio que prestava anonimamente aos neces-
sitados, tanto de natureza espiritual e moral, como
material, sendo atitude típica de D. Joana oferecer
livros doutrinários, pois foi uma assídua leitora,
tendo dado preferência às obras básicas, aos li-
vros de Caírbar Schutel e os psicografados por
Francisco Cândido Xavier.
De forma intensa, prestou serviços no campo
mediúnico até a avançada idade de 84 anos, ten-
do, com o imprescindível concurso dos Espíritos
Protetores, alcançado êxito em delicadas tarefas
de cura e de testemunho dos princípios da Imorta-
biiidade.
'j/\ serenidade e a convicção espírita de D.
Joana Pedro" - acrescenta o necrológio da RIE
- "quais sementes promissoras, germinaram no
seio de sua numerosa faml1ía (sete filhos, vinte e
três netos e vinte bisnetos), sempre apontando o
"Caminho, a Verdade e a Vida "(Jesus), comple-
mentado e elucidado pelos ensinamentos espíri-
tas".
Casou-se, em 1910, com Agripino Th~ophllo da Ceci Costa retomou ao plano espiritual ainda
Costa e dessa união nasceram quatorze filhos. muito jovem, dois dias após completar 38 anos de
Pouco depois de casada, em reunião fa~mar, idade, em conseqüência de uma hemorragia inter-
começou uma brincadeira para ver quem ficava na, no parto do décimo-quarto filho.
mais tempo sem pestanejar. Em dado momento, ela
entrou em transe sob o olhar de seu cunhado Eucli-
des Pereira da Costa. Ninguém con~ecia_o Espiritis~
mo, Hipnotismo. Acharam aquela ~Ituaçao ~e Ce<;:1
anômala, mas interessante, e repetiram a brincadei-
ra várias vezes. Numa dessas vezes, apresentou-se
uma entidade com o nome de Bittencourt Sampaio,
dizendo-se seu guia espiritual e aconselhando a to-
dos que estudassem os livros de Allan Kardec e es-
AS MULHERES MÉDiUNS 397
AS MULHERES M~DIUNS
publicações atuou como verdadeiro bálsamo, !Jf"B'f'JH.
chendo uma grande lacuna naquele Espírito DOjrIO!)-
so e. abnegado".
Aurora começou, então, a levar seus filhos a
pequenos Centros Espíritas que existiam nas cida-
des de Rivera e Livramento, na fronteira entre o Bra-
sil e Uruguai. No dia 5 de julho de 1955, transferiu
seu domicilio para Montevidéu, na busca de melho-
res dias. Certa ocasião, cansada de tanta luta e se
AURORA A. DE lOS SANTOS DE SILVEIRA sentindo deprimida, pediu ao seu filho Baltazar que
abrisse "O Evangelho segundo o Espiritismo" lesse
uma de suas luminosas mensagens, quando ~e ma-
nifestou um ESf?írito q~e!. diante ~o assombro do jo-
Aurora A. de los Santos de Silveira, pioneira vem, a~~nas. 9lsse: Nao temals, venho para aju-
espírita uruguaia, nasceu no dia 28 de agosto de dar-vos, solicitou que procurassem reunir três ou
1890 e desencamou no dia 10 de agosto de 1969, quatro pessoas, quando, então, voltaria.
em Montevidéu, república Uruguaia. . . Ao retomar do transe, aurora tomou conheci-
Filha de José Fabrício das Santos, brasileiro, e mento do Q.'::!e aconteceu, e, no dia seguinte, promo-
Petrona Tejera, espanhola, Auro!a. morav~ no de- veu a reumao, segundo a recomendação do Espíri-
partamento de Rivera, na Republlca Onental do to, que se deu o nome de "Bon Ajou". Após a reali-
Uruguai, motivo que a levou a cu~ar apenas ~f!l zaçao dessa sessão, a faculdade mediúnica de Au-
ano da escola primária. Sua vida fOI repl.~ta de difi- rora desabrochou insopitavelmente, passando a fa-
culdades e sacrifícios junto a seus familiares, nos zer curas .no.táveis de cegos, paralíticos, cancero-
afazeres da agricultura. Desde pequena revel~ sos, a malona desenganada pela medicina oficial
ram-se-lhe fenômenos de vidência, que seus pais que teima, diga-se de passagem, em se eSpirituali~
procuravam reprimir, por desconhecerem sua verda- zar, conforme preconizava o Dr. Alexis Carrel. Auro-
deira causa e temerem que ela enveredasse pelo ra começou a ser procurada por multidões de de-
caminho da loucura. sesperados, em busca do alívio de seus males físi-
Em 1933 desencamou o seu segundo esposo, cos.
Gervásio Silveira, deixando-a na m~lior penúria, o Por esse tempo, o Espiritismo no Uruguai era
que a levou, juntamente com seus filhos, a passar desconhecido e Aurora foi acusada de exercício ile-
por angustiosa fase. g~1 da Medicina, sendo presa e recolhida a uma pri-
"Nesses momentos de grande aflição" - infor- sao de mulheres, onde permaneceu por seis meses.
ma o seu biógrafo Paulo Alves Godoy - "conheceu Seus filhos, desamparados, sofreram horrores.
uma senhora de nome Valentina, que lhe deu al- Cumprida a sentença, Aurora saiu da prisão
guns folhetos e revistas espíritas. A leitura dessas debilitada e triste; entretanto, e por se tratar de umà
398 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 399
atividade verdadeiramente abençoada pelo Alto, .f'u-
rora reinicia seu mediunato, socorrendo, através tios
Espíritos bondosos, os seus semelhantes e, simulta-
neamente, divulgando os postulados espiritistas.
Depois de tantas lutas, a médium conseguiu
fundar, em 31 de maio de 1944, o Centro Evangéli-
co Espiritual Hacia la Verdad, sociedade beneficen-
te, com sede na Avenida Flores, 4.689, em Montevi-
déu. ADElE MARGINOT
Eis o que o escritor e orador espírita Newton
Boechat escreveu, em outubro de 1966, quando Au-
rora ainda se encontrava no plano material:
"O. Aurora de los Santos de Silveira, pioneira
no Movimento Espírita Uruguaio, médium notá- o nome, de Adele Marginot, jovem médium
vel e destemida, hoje repousando das lutas de francesa, esta fundamentalmente ligado a Louis
antanho, quando era vigoroso seu orf}anismo Alphonse Cahagnet, notável magnetizador nascido
físico. Enfrentou, vezes inúmeras, o carcere, a em 1809, em Caen, na França,
perseguição, os ataques de adversários terrí- .Anos ante~ ~e surgirem os fenômenos de Hy-
veis, para evidenciar a Mensagem Espírita: o desvllle, na Amenca do Norte, já Louis Alphonse Ca-
'Hacia la Verdad' é o fruto de seus labores em hagnet mantinha relações com os seres de além-tú-
função do Bem, obtendo, finalmente, personali- Tulo. Desse inte~câmbio resultou a publicação de
'Arcan~s de la vle Future Oévoilés", cujo primeiro
dade jurídica desde 1944."
tomo fOi dado a lume em 1847,
"O. Aurora" - sentencia Paulo Alves Godoy '~ 27 de nc:vembro de 1848"- informam Zêus
- "quando mais tarde for escrita a História do Espi- Wantull e F,~anclsco Thiesen, em "Allan Kardec" vo-
ritismo Uruguaio, em seus pródromos, aparecerá lume 11 - Cahagnet reunia em Argentevil (arredo-
como inesquecível pioneira que, quase só, não pou- res de Versalles) um grupo de dezesseis a dezoito
pou esforços na hora do testemunho." home'}s que hayiam testemunhado os fatos obtidos
a!raves da sonambuJé! AdeJe Marginot. Propôs, en-
ta~! fundar umé3; Sociedade Espiritualista, sugerida,
alias, pelo Esplrito Emmanuel Swedenborg. Todos
concorqara,m, e a, 27 de dezembro de 1848 foi cria-
da é3; primeira Sociedade dos Magnetizadores Espiri-
tualistas. Quatro anos mais tarde, exatamente há 29
de março de 1852, essa Sociedade continuava seus
estudos sob uma outra denominação: "Sociedade
AS MULHERES MÉDIUNS 401
400 AS MULHERES MÉDIUNS
dos Estudantes Swedenborguianos", aproximando--se, e Francisco Thiesen _. "que afirmaram reconhecer
mais tarde, do Espiritismo codificado por AllanKar- os Espíritos que a médium descreveu". O abade AI-
dec." .
Por volta de 1852, Cahagnet publicou "Santuai- mignana, doutor em Direito Canônico, assistiu, com
re du Spiritualisme", ou o estudo da alma humana e entusiasmo, às sessões de Alphonse Cahagnet, tor-
de suas relações com o Universo segundo o sonam- nando-se adepto do Magnetismo e desenvolvendo,
bulismo e o, êxtase. Em 1851, surgia "Lumiere des até, as suas possibilidades mediúnicas.
Morts ou Etudes Magnétiques, Philosophiques et No tomo 111 de "Arcanes de la Vie Future Dévoi-
Spiritualistes", e "Traitement des Ma/adies", obra lés', Alphonse Cahagnet, mediante diálogos-refuta-
que expressa um estudo notável das propriedades ções, responde, com ênfase e muito talento aos
de 150 plantas que a médium Adele Marginot trans- seus opositores, que se contavam entre homens de
mitira a Alphonse Cahagnet ciência, religiosos, materialistas etc., evidenciando o
Ao tomo I de "Arcanes de la Vie Future Dévoi- processo de comunicação entre as dimensões cor-
/és", seguiram-se os tomos I e 111. 'Tudo o que a ig- póreas e incorpóreas, a ponto de o barão du Potet,
norância, o fanatismo, a tolice reeditaram posterior- em uma carta a ele dirigida, afirmar: "Tratais dessas
mente contra nossa Doutrina foi então despejado questões com o avanço de 20 anos; o homem ainda
sobre o pobre magnetizador" - afirma Gabriel De- não está preparado para compreendê-Ias". Ao que
lanne, referindo-se ao trabalho pioneiro de Alphonse Alphonse Cahagnet, antecipando-se às concepções
Cahagnet, através da portentosa faculdade mediúni- espíritas, replicou no volume 111 de "Arcanes'~ ''Ah!
ca de Adele Marginot. Por esse tempo, Cahagnet respondemos então por que o vemos banhar com
funda, juntamente com um grupo de idealistas, a suas lágrimas as cinzas daqueles que julga haver
Sociedade dos Magnetizadores Espiritualistas, onde perdido para sempre? Em que momento da existên-
seriam veiculados os resultados decorrentes, atra- cia podemos chegar mais a propósito para dizer a
vés da mediunidade, do intercâmbio entre o plano esse homem: - 'consola-te, irmão, aquele que pre-
corpóreo e.incorpóreo, além de acolher colaborações sumes separado de ti para sempre, acha-se ao teu
oriundas de várias partes do mundo relativas ao lado, a te asseverar, por meu intermédio, que ele,
Magnetismo. vive, que é mais feliz do que na terra, e que aguarda
Os dois primeiros volumes de "Arcanes de la nas esferas próximas para continuar o convívio con-
Vie Future Dévoi/és", divulgam os relatos das expe- tigo'."
riências desenvolvidas com oito médiuns que pos- ''A leitura de 'Arcanes de la Vie Future Dévoilés
suíam a faculdade de ver e conversar com os Espíri- - informam Zêus Wantuil e Francisco Thiesen -
tos. Adele Marginat destacou-se dentre todos os "foi proibida em todos os países católicos, por deci-
sensitivos rigorosamente selecionados pelo ilustre e são do Tribunal Supremo, chamado 'Sagrada Con-
pioneiro pesquisador da fenomenologia espiritual. gregação', tribunal cristícola e não cristão, diz Ca-
"Mais de 150 (cento e cinqüenta) fatos foram ratifi- hagnet, tribunal que - informa ainda o autor - 'JUl-
cados por testemunhos" - informam Zêus Wantuil gou sem nos ouvir e condenou sem outro motivo
402 AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS 403
que o de prazerosamente arremessar três de nos-
sas obras, num só dia, no fogo... "
Em 1856, um ano antes de aparecer "O Livro
dos Espíritos", Alphonse Cahagnet dava lume às
"Révélations d'outre-tombe", pelos Espíritos de Gali-
leu, Hipócrates e Franklin, tendo como médium
Adeje Marginot, obra que redimensiona o conceito
de Deus e trata de problemas ligados à Física, Botâ-
nica, Medicina e Metafísica, o mundo espiritual, ana-
lisando, ainda, o processo relativo às aparições e EMIUE COlUGNON (NASCIDA BRÉARD)1
manifestações de Espíritos na primeira metade do
século XIX.
Esse gênio, contemporâneo de Allan Kardec,
publica, ainda: "Encyclopédie Magnétique Spiritua- Emilie Collignon desencamou aos 25-12-1902
liste (1854-1861); "Etude ~ur le Matérialisme et sur em Quimper,Finistere, França. Foi mãe de um dos
le Spiritualisme" (1869); "Etude sur f'âme et le libre p.refeitos de Paris. Médium mecânica. A partir da vi-
arbítre" (1880); e, por último: "Thérapeutique du sita qu~ lhe fez Jea~-.Ba~tiste Roustaing, iniciou a
Magnétisme et du Sonnambulisme", publicada em recepçao da obra, onglnarlamente em três volumes
1883. "Os Quatro Evangelhos" ou "Revelação da Revela~
O papel exercido por Adele Marginot, no âmbi- ção", ditada pelos próprios evangelistas (Espíritos).
to das pesquisas desenvolvidas por Alphonse Ca- Os escritos mecanicamente obtidos foram coorde-
hagnet, é preponderante, despontando, então, como nados pelo advogado Roustaing (REFORMADOR
uma das mais autênticas medianeiras da sua era, 1974, p. 32~) .. "Reformador" de 1903, p. 172, co~
ao nível de Ermance Dufaux, Celina Bequet (nome menta a lacoOlca notícia de Revue Spirite sobre a
verdadeiro de Srta. Japhet); Aline Carlotti, Caroline sua desencamação.
Baudin, extraordinárias meninas que os espíritas, de Em Bordéus, o Sr. Sabô realizava sessões me-
todos os tempos, reverenciam. diúnicas a que compareciam, entre outros, pelo me-
nos desde 1862, o Sr. Ch. Collignon e sua esposa
Sra. Emilie Collignon. O casal vivia de suas rendas:
EDITH HAWTHORNE
INGEBORG DAHL
L Numa sessão em que funcionava como médium a Sra. Anna Wick- Esforcei-me por desacreditá-Ia e de uma feita quase a matei; mas não me
preocupei muito com isso na ocasião. Quero reparar o mal que lhe fiz. Ela é um
land (esposa do Or. earl Wicldand), Houdini. após haver-se comunicado através
médium realmente extraordinário". Vide: 'The Gateway Df Understanding" (O
do médium Arthur Ford. na presença de sua esposa Beatrice. quando revelou a Pórtico do Entendimento) de autoria do Or. Carl WicIdand. também auloc de
senha que combinara com ela. confessou: "Trinta Anos Entre os Mortos".
A. W. Verrall. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
Abby Wamer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 224
Abigail Lima (Joana Thereza Vieira de
Lima) 387
Ada Bessenet. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 108
Ada Emma Deane . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 113
Adela Albertelli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 430
Adelaide Câmara (Aura Celeste) 288
Adele Marginot. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 401
Agnes Nichol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 363
Alice Fleming. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
Alcina 74
Anne-Catherine Emmerich . . . . . . . . . . .. 170
Ana Prado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 255
Angélique Cottin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 339
Ann Novak . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 126
Argemira de Oliveira Costa
(Ceci Costa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 396
Aura Celeste (Adelaide Câmara) 288
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
Irmãs Fox. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 117 Grace Rosher " 83
Aurora A. de los Santos de Silveira 398 Harriet Elizabeth Beecher-Stowe. . . . . . .. 132
Benedita Femandes " 390 Helen Fleming . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
Blanche Cooper . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 342 Helen Smith . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 105
Bullock (Sra.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 77 Helena Petrovna Blavatsky .... o. . . . . .. 292
Catarina de Siena " 170 Helena Vieira Costa (Mãe Helena) . . . . .. 322
Ceci Costa (Argemira de Oliveira Henriette Weisz-Roos . . . . . . . . . . . . . . .. 372
Costa) " .. " " 396 Hilda Negrão 247
Cora L. V. Richmond " 111 e 271 Ingeborg Dahl. o. . . . . . .. 441
Dinorah Azevedo de Simas Enéas " 202 lole Catera " 92
Dolores Bacelar " 298 Ivy Beaumont o " 98
Edith Hawthome " 421 Joana d'Arc . o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 173
Eileen GarreU. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 330 Joana Pedro Pereira. . . . . . . . . . . . . . . .. 393
Elizabeth Blake . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 196 Joana Thereza Vieira de Lima
Elisabeth Eslinger . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 21 (Abigail Lima) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 387
Elisabeth J. Compton 265 John H. Curran (Sra.) " 66
Elizabeth d'Espérance. . . . . . . . . . . . . . .. 141 Joy Snell o. . . . . .. 159
Émile de Girardin 211· Kathleen Goligher o 181
Emilie Collignon " 405 Laura Edmonds . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 59
Emily S. French . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 196 Laura Pereira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 251
Ermance Dufaux . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 177 Lay Fonvielle o " 77
Eusápia Palladino . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 39 Leonore Piper o. . . . . . . . . . . .. 187 e 346
Eva Carriêre (Marthe Béraud) . . . . . . . . .. 234 Linda Gazzera " 28
Fathma Ben Romdane 379 Lizzie (As irmãs) o.. " 87
Florence Cook . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 410 M. B. Hayden (Sra.) . o. . . . . . . . . . . . . . .. 207
Fox (irmãs) " 117 Maria da Paixão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 170
Fraya (Mme.) 156 Maria de Jesus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 168
FredericaHauffe o' .. o 308 Maria de Jesus d'Agreda. . . . . . . . . . . . .. 169
Georgette Bussat. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 56 Marie de Moerf. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 169
Geraldine Cummins . . . . . . . . . . . . . . . . .. 137 Marie Mahé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 368
Gladys Osbome Leonardo 34 Marthe Béraud (Eva Carriêre) . . . . . . . . .. 234
456 AS MULHERES MÉDIUNS AS MULHERES MÉDIUNS 451
Mary Craig Sinclair. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 374
Mary Hollis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 195
Mary Marshall. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 199
May Bangs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 87
Mercia M. Swain. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 196
Mick Micheyl. . . . . .• . . . . . . . . . . . . . . . . .. 129
Mina (Margery) Crandon 447
Ophelia Corrales . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 305
Otília Diogo .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 275 SUGESTÃO DE LEITURAS ADICIONAIS
Pasqualina Pezzola . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 50
René Boulet (Sra.) . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 150
Stanislawa Tomczyk 229 Oferecemos ao leitor um rol de publicações que objetivam subsi-
diar informações e dados expressos nesta obra, conduzindo-o a estudos
Teresa de Jesus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 164 mais amplos e profundos sobre a vida e obra dessas extraordinárias
Teresa Neumann 63 mulheres médiuns:
Verrall, A. W. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
1- "Eles Conheceram o Desconhecido"
Yvonne do Amaral Pereira. . . . . . . . . . . .. 311 Martin Ebon
Willett (Sra.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187 Editora Pensamento - São Paulo
2 - "Mediunidade e Sobrevivência"
Wriedt(Sra.). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 194 Alan Gould
Zilda Gama. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 435 Editora Pensamento - São Paulo
3 - "Grandes Vultos do Espiritismo"
Paulo Alves Godoy
Editora FEESP - São Paulo
4 - "Dicionário Ilustrado de Espiritismo,
Metapsrquica, Parapsicologia"
João Teixeira de Paula
Editora Bels - São Paulo
5 - "As Mesas GirantEls e o Espiritismo"
ZêusWantuil
Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
6 - "Reencarnação Baseada em Fatos"
Karl E. Müller
EDICEL - Brasflia - DF
7 - "Memórias Históricas do Espiritismo na
Bahia"
Lúcia Loureiro
Editora Talma
AS MULHERES MÉDIUNS
AS MULHERES MÉDIUNS
8- "Allan Kardec" 21 - "Seareiros da Primeira Hora"
(Pesquisa biobibliográfica e ensaio de Ramiro Gama
interpretação) Editora ECO - Rio de Janeiro - RJ
Zêus Wantuil e Francisco Thiesen 22 - "Grandes Esplritas do Brasil"
Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ ZêusWantuil
9- "Fatos Esplritas" Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
Prof. William Crookes 23 -"Falando à Terra"
Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ Francisco Cândido Xavier (Autores Diversos)
10 - "Mediunidade" Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
Prof. J. Herculano Pires 24 - "A Reencarnação"
EDICEL - Brasllia - DF LuIs di Cristóforo Postiglioni e José
11 - "Casos e Coisas Esplritas" S. Fernandes
Francisco Klõrs Werneck Editora ECO - Rio de Janeiro - RJ
Editora ECO - Rio de Janeiro - RJ 25 - "O Mundo do Paranormal"
12 - "Fatos da Parapsicologia" Editora Três - São Paulo
Joe Heydecker 26 - "Animismo e Espiritismo"
Livraria Freitas Basbs - Rio de Janeiro - RJ Alexandre Aksa.kof
13 - "O Problema do Além e do Destino" Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
Alberto Seabra 27 - •A Predição Parapsicológica Documentada"
Editora Pensamento - São Paulo Adelaide Petters Lessa
14 - "Fenômenos de Psicocinesia Editora IBRASA - São Paulo
Espontânea" 28 - "O Novo Mundo do Esplrito"
Dr. Carlos Alberto Tinoco Joseph Banks Rhine
Manaus -'1978 Bestseller - Importadora de Livros SA
15 - "O Espiritismo e as Manifestações Pslquicas" -São Paulo
Ernesto Bozzano 29 - "Crônicas Esplritas"
Editora ECO - Rio de Janeiro - RJ Francisco Klõrs Werneck
16 - "O Fenômeno Esplrita" 30 - "O Espiritismo à Luz dos Fatos"
Gabriel Delanne Carlos Imbassahy
Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
17 - "O Oculto" - Volumes I e 11 31 - "Otllia Diogo e a Materialização de Uberaba"
ColinWilson Jorge Rizzini
Editora Francisco Alves EDICEL - Brasllia - DF
18 - "O Espiritismo" 32 - "Mecânica Pslquica"
Jacques Lantier W. J. Crawford
Edições 70 - Lisboa - Portugal Editora LAKE - São Paulo
19 - "Dos Raps à Comunicação 33 - "Kardec, Irmãs Fox e outros"
Instrumental" Jorge Rizzini
Carlos Bernardo Loureiro Eme Editora - São Paulo
Sociedade Editora Esplrita F. V. 34 - "O Espiritismo"
Lorenz - Rio de Janeiro - RJ ("o faquirismo ocidental")
20 - "A Levitação" . Dr. Paul Gibier
Albert de Rochas Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ
Editora FEB - Rio de Janeiro - RJ