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Um diálogo crítico com Alípio de Sousa Filho

Alípio de Sousa Filho, doutor em sociologia e professor da UFRN,


publicou um texto no site Carta Potiguar sobre a parada LGBT de
2015 que achei no mínimo interessante; nele, o autor faz uma crítica
ao tema escolhido para o evento, chamando-o de capitulação ao
conservadorismo religioso que tem tido ascensão em nosso país nos
últimos anos. Contra julgamentos que pretendem apenas aceitar ou
rejeitar en bloc as ideias de Alípio, pretendo fazer uma análise
racional para concluir o que há de aproveitável ou não na obra.

Alípio diz que

Depois de Freud, Foucault e Deleuze, falar de biologia do sexo ou do


gênero (“nasci assim, cresci assim”) é voltar a cair em enganos
obscurantistas. O ser humano não se orienta por instintos, direção
biológica ou determinantes genéticas. O ser humano, por sua falta de
especialização e direção biológicas, é um criador de instituições
sociais. Ele é somente social e desejo, e boa parte desse desejo
fundado no social que o governa. Quantas vezes mais vão ser
necessárias repetir que sexo e gênero não são realidades biológicas
mas construções culturais, sociais e históricas e, por isso mesmo,
realidades inteiramente modificáveis, substituíveis, revogáveis?
Mas isso faz mesmo sentido? A começar, que se quer dizer por
''biologia do sexo'', p. ex.? Seria uma ciência das características
morfológicas que diferenciam os corpos sexuados (ou melhor, uma
ciência dos fatores determinantes -- genes, hormônios etc. -- das
diferenças específicas entre os corpos sexuados)? Ou uma ciência do
coito, um estudo da fisiologia da prática sexual? Por ''biologia do
gênero'', que se entende também? Uma ciência dos fatores que
levam à comportamentos específicos, esses culturalmente
identificados como masculinos ou femininos (em nosso modelo
binário de gêneros)? Não vejo sentido em dizer que falar de tais
coisas seja ''voltar a cair em enganos obscurantistas'', e não é preciso
mais que os exemplos tão simples do viagra e da testosterona para
isso.

O autor fala que o ser humano ''é somente social e desejo'', e que
''sexo e gênero não são realidades biológicas mas construções
culturais, sociais e históricas''; ao fazer isso, parece querer ignorar
estupidamente o aspecto mais material de nós, nossos próprios
corpos, cheios de genes e hormônios. Seria racional supor que tais
elementos, com profunda influência sobre uma série de
características nossas (como a cor dos olhos ou o tamanho dos
dedos) não tenha influência alguma sobre a agressividade ou o desejo
erótico? Que a socialização de um indivíduo do sexo masculino como
menina em nossa sociedade (como na verdade já aconteceu [1]) dar-
lhe-á seios, vagina e um desejo erótico direcionado a outros
indivíduos do sexo masculino?

É quase inevitável aí esquecer do que Terry Eagleton falou em seu As


Ilusões do Pós-Modernismo:
[Afirmar que x ou y é 'biológico' é o] tipo de declaração que os pós-
modernistas tendem a achar assaz problemática, uma vez que
acreditam com um dogmatismo de tirar o fôlego que toda referência à
natureza, pelo menos nas questões humanas, representa uma
ameaça de 'naturalizar'. O natural, segundo essa visão, constitui
apenas uma palavra mistificadora para aquelas práticas culturais
discutíveis com que acabamos por acostumar-nos. É fácil ver como
isso se aplica à visão de que a civilização humana entraria em
colapso se não houvesse a parada do dia de São Patrício, mas mais
difícil de ver como se aplica a eventos como respirar e sangrar.
Também não é verdade que 'naturalizar' se aplica a toda ideologia,
como quase todo mundo, de Georg Lukács a Roland Barthes, parece
ter presumido. O próprio pós-modernismo invectiva contra
'naturalizar' quando ele mesmo às vezes torna absoluto o sistema
atual. Ele se arroga o título de 'materialista' e depois,
compreensivelmente cauteloso em relação aos biologismos racistas
ou sexistas, passa a suprimir a parte dos seres humanos mais
obviamente materialista, sua constituição biológica [2].

Penso não ser necessário dedicar mais tempo a defender a tese de


que, por sermos seres materiais, da matéria sofremos influência
(antes fôssemos conceitos rodopiando na história do pensamento
humano...).

Dedico-me, então, a analisar outra tese sua: a de que o tema da


Parada LGBT paulista desse ano representou uma concessão ao
pensamento conservador e patologizante, sendo ''uma total
irresponsabilidade política e profundamente deseducativo quando se
trata de pretender a emancipação cultural e política da sociedade
brasileira''. Concordo com ele, e explico o porquê: o ''nasci assim''
tenta retirar os julgamentos de valor sobre as identidades LGBT por
meio da retirada de uma possível culpa pessoal (por escolha) ou de
''má-criação''; restaria à sociedade, então, apenas aceitar os LGBTs,
uma vez que estes seriam ''filhos da pródiga natureza'', ''parte do
plano do Criador'' ou algo assim.

Oras, isso não retira o momento algum o estigma de que sofrem as


identidades LGBT! Dizer que a homossexualidade é genética,
hormonal ou epigenética não retira das instituições e da opinião
popular a noção de que ela é, de alguma forma, moralmente ilegítima
ou inferior à heterossexualidade; não elimina o conceito de que a
obediência às normas de gênero (i.e., às regras de comportamento
para os corpos sexuados) é melhor que sua transgressão,
representada pelas transgeneridades. A defesa dos inatismos e do
determinismo biológico, por mais cientificamente correta que seja (e
é provável que esteja bem melhor nesse quesito que o determinismo
social, seu antagonista [3]), não retira dos LGBTs a pecha de
anormalidades, gente inferior cuja orientação sexual (no caso de
gays, lésbicas bissexuais) talvez deva ser eliminada no futuro da
história da humana, por meio de tratamentos epigenéticos ou coisa
do tipo, enquanto a própria heterossexualidade (e também a
cisgeneridade) segue sem ter pesquisas questionando sobre sua(s)
causa(s).

Em vez (ou pelo menos além) disso, o que se deve fazer é questionar
o que tornaria o desejo homossexual inferior, moralmente ilegítimo,
ou por que deveriam os indivíduos sexuados comportarem-se de
forma a obedecer as teleologias de gênero; e mostrar o direito que
todo amor e toda relação consensual têm de serem respeitados e
admirados. Como disse o próprio Alípio em outra ocasião,

(...) a aceitação da homossexualidade deve acontecer na sociedade


por sua mudança de conceitos, paradigmas, valores e não por
acomodação a uma pretendida 'verdade' que estaria na 'própria
constituição genética' dos homossexuais... [Sua luta] pela cidadania
plena (direito ao reconhecimento pelo Estado e pela lei de suas
uniões conjugais, direitos de herança, direito à adoção por casais
gays, entre outros direitos que se tem conquistado em diversos
países) não é um ingênuo 'desejo de normalização', uma queda na
ideologia (burguesa ou outra), mas um nível de luta política em que
se questionam as ideias de normalidade e de democracia, quando
esta se limita a direitos que excluem significativos segmentos da
população em diversos países [4].

E para mais uma vez citar o autor, ''que se danem todos os


reacionários (e principalmente os cães de guarda da reação
conservadora no Brasil, hoje: esses senhores e senhoras das igrejas e
seitas evangélicas!), ao não admitirem a liberdade dos indivíduos!''

Notas

[1] http://www1.folha.uol.com.br/bbc/2010/11/835267-documentario-
conta-drama-de-gemeo-criado-como-menina-apos-perder-penis.shtml

[2] http://www.filoczar.com.br/filosoficos/Eagleton/EAGLETON,
%20Terry.%20As%20Ilus%C3%B5es%20do%20P%C3%B3s-
Modernismo.pdf

[3] http://climatologiageografica.com/atualizado-biologia-e-psicologia-
a-verdadeira-origem-da-homossexualidade/

[4] http://boradiscutir.blogspot.com.br/2015/05/teorias-sobre-genese-
da.html

Postado por allefy m. às 18:22


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