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RESENHA: Políticas do Espaço: Arquitetura,

Gênero e Controle Social.

Luís Filipe Mendes


Universidade de Lisboa
luis.mendes@ceg.ul.pt

CORTÉS, José Miguel G. Políticas do Espaço: Arquitetura, Gênero e Controle Social, São Paulo: Editora Senac,
2008, 215 p. ISBN: 9788573597639

As alterações dos quadros conceptuais e das análise complementar de posturas teóricas críticas,
formas de pensamento que se têm vindo a constituir intercaladas por exemplos empíricos concretos e
como sinais distintivos da pós­modernidade nos muito pertinentes, em que medida pode a arquitectura
estudos urbanos, não só produziram importantes da cidade contemporânea assumir conteúdos
implicações sociais e epistemológicas, em geral, como hegemónicos que representam o discurso do poder
também reforçaram o questionamento do papel e da social e económico. O autor propõe­se a desvendar a
função do espaço público, não raras vezes reprodutor linguagem metafórica da cidade, cujo entendimento, a
de uma visão etnocêntrica, sexista e limitada da seu ver, favorecerá a realização de propostas
realidade social. Contrapondo­se a este espectro libertadoras ou, pelo menos, a construção de um
monocultural e reducionista de concepção de espaço discurso e de acções produtoras de um espaço urbano
urbano, a perspectiva pós­moderna dos estudos de mais plural e democrático.
cultura urbana (no âmbito do 'cultural turn') vem dar A primeira parte do livro – os espaços docéis –
corpo a uma leitura de compromisso ético e analisa a capacidade da arquitectura de contribuir para
sociocrítico das várias ciências que se debruçam sobre a configuração de uma ordem social (e para a
a análise da cidade e do urbano. Seguindo esta forma configuração de uma representação da autoridade) ao
de pensamento, o mais recente livro de José Cortés mesmo tempo que é capaz de camuflar as suas
“Políticas do Espaço: Arquitetura, Género e Controle ligações com essa mesma ordem e surgir sob um
Social”1 pretende inscrever­se nos debates suscitados discurso de neutralidade técnica, desprovida de
pelos estudos de cultura urbana que questionam o qualquer carga ideológica. Não são só os contributos
sentido hegemónico do espaço (público) urbano e a de Foucault que são centrais, também os
configuração e desenho das cidades, entendidas como posicionamentos de Georges Bataille se revelam
uma acumulação de usos, fluxos, percepções, sistemas fulcrais na construção teórica da obra 'Políticas do
simbólicos e elementos de representação, cuja Espaço'. Ambos compartilham o princípio crítico de
relevância se modifica e se transforma em função do que a arquitectura actua como instrumento repressivo
tempo e das formações socioeconómicas que e autoritário que imprime sobre os corpos um controle
produzem o espaço social, ao abrigo de discursos social. O livro de Cortés desenvolve mais a proposta
dominantes com interesses económicos e sociais de Foucault, através do estudo de experiências
subjacentes. arquitectónicas e artísticas (públicas e privadas)
A obra conduz o leitor – especialista ou não em muitos diferentes, nas quais ordens distintas, como a
estudos urbanos – pela descoberta de diferentes família, a moral estabelecida, o poder político e
experiências arquitectónicas e artísticas, em que os económico, procuram dominar e controlar o espaço.
factores como a família, a moral estabelecida e o Centra­se numa arquitectura em termos de
poder político ou económico dominam o ambiente planeamento espacial e de institucionalização do
urbano. Num tom bastante crítico e quase pós­ território, que olha, espia, controla, vigia e pune, uma
estruturalista o livro trata da relação do espaço da arquitectura voltada para o interior, não para o
cidade com o poder económico, político e social, e de exterior, que é apetrechada de objectivos disciplinares
como a nossa postura enquanto moradores, e de tecnologias de poder subtis que pretendem
trabalhadores, consumidores e cidadãos é, com transformações mais profundas nos grupos sociais e
frequência, de submissão a esse espaço e a esse poder. nos indivíduos. Uma microfísica de poder tão fina
Por meio de uma revisão muito completa da literatura, quanto eficiente, desenvolve uma máquina disciplinar
Cortés procura explicar o processo de subordinação, que produz sujeitos que se vigiam e reprimem
simbolizado nas formas urbanas, descortinando numa mutuamente.

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 2, n. 1, p. 153-157, jan. / jul. 2011.
RESENHA: Políticas do Espaço: Arquitetura,
Gênero e Controle Social.

A economia do medo e o controle de aglomeração entender, analisar e criticar o conteúdo ideológico, por
da população pode ser alcançado com o auxílio vezes dissimulado, constante na produção do espaço
indispensável da arquitectura, estando presente nas urbano. Nesta tese reside uma das pontes, construída
políticas urbanísticas subjacentes aos três exemplos de nas ideias de Henri Lefebvre, para a produção de um
praças ilustrados pelo autor no seu livro, em Lyon, espaço urbano mais libertador e crítico. O urbano tem
Paris e Barcelona. O primeiro, o projecto da Place des de ser considerado na sua dimensão social,
Terreaux, no centro de Lyon, de 1994, que incorporou associando­se história e projecto político, forma e
nove pequenas fontes no solo que, ao serem abertas, práxis, uma vez que, como estrutura e realidade, é
evitam as concentrações usuais de árabes que sempre rico em diferenças e conflitos sociais, não
ocorriam nela. O segundo projecto é o de reabilitação possuindo nada do ideal harmonioso com o qual o
da Place Vendôme, em Paris, em 1992, cujo espaço poder o apresenta, mas sim a conjugação de forças
limpo, aberto e transparente, destaca a sumptuosidade diferentes no seu espaço, reforçando relações de
dos edifícios aristocráticos do século XVIII, dominação.
actualmente ocupados por hotéis e comércio de luxo. Pretende­se, assim, obter uma homogeneização
Finalmente, em Barcelona, a Plaça dels Països racional da cidade, uma nítida divisão entre a vida
Catalans, projecto de 1980, com mais de 10 mil pública e privada, bem como a criação de espaços
metros quadrados de espaço aberto cinzento, pretensamente assépticos e limpos, onde os corpos
desprovido de qualquer tipo de vegetação, permite possam ser submetidos à disciplina da banalização e
apenas a circulação dos transeuntes, impedindo a sua ao controle de seus desejos. E tudo isso através da
estadia pela ausência de mobiliário urbano acolhedor. construção de alguns lugares que não são inocentes a
Deste modo, Cortés reforça a sua inserção na esta ideologia comprometida com a dominação, mas
perspectiva pós­estruturalista que questiona o sonho que se configuram como meios para legitimizar e
moderno da racionalidade e da ordem técnica e reproduzir um certo ponto de vista, ideologia e poder e
científica das formas de produção, apropriação e que abarca várias escalas de intervenção: desde a
vivência da cidade. Fundamentando a sua postura estruturação da habitação até ao planeamento da
investigativa e metodológica, Cortés explica como, cidade. O controle do espaço público a favor de
desde finais do século XVIII, segundo Foucault, se lógicas de mercantilização e de governos urbanos
desenvolveu um lento mas importante processo de neoliberais e neoconservadores que fazem vingar os
domesticação da vida social, de normalização dos interesses de apenas alguns e não de todos (cidade
espaços e dos comportamentos e de moralização da revanchista) tem criado profundas transformações na
população, processo totalmente baseado em técnicas vida urbana, na qual, por exemplo, as ruas começam a
de controle de impulsos e de canalização dos desejos perder a sua função e convertem­se em simples
para o ciclo de produção­consumo­reprodução. Trata­ lugares de passagem ao serviço do mundo de
se da arquitectura ao serviço de um projecto de consumo. Cortés explora nesta primeira parte do livro
carácter político, económico e social, para obter as obras do arquitecto Melvin Charney e do artista
algumas medidas de controle, de domínio e de Isidoro Medina que insistem numa arquitectura que,
implicação da população no espaço urbano. O entorno ao invés de procurar fomentar a adaptação social e a
construído não expressa em si opressão ou libertação, universalidade das normas, preocupa­se em expor as
mas condiciona as diferentes formas de prática social e necessidades dos diferentes sectores que habitam a
emoldura a vida quotidiana. Todo o elemento cidade, tanto favorecidos, quanto desfavorecidos, na
construído ajuda a estabilizar uma ordem e uma perspectiva de descobrir as contradições e conflitos
identidade espacial e, inevitavelmente, envolve entre interesses divergentes.
autoridade e capital simbólico. As formas urbanas são No ver do autor, contudo, estas últimas
um espelho social e por meio dele ajudam a constituir, intervenções críticas são enclaves, ilhas muito
reproduzir ou a transformar a realidade sócio­espacial. pontuais, constratando num “oceano” onde a
Cortés desmonta de que forma as cumplicidades da apropriação do espaço público colectivo se faz por
arquitectura com as formas de poder são, na verdade, disseminação da cultura de consumo, celebrada hoje
inevitáveis, mesmo quando se vangloriam de uma por toda a sociedade, e cujo protótipo reside nos
pretensa autonomia face ao poder. Na realidade, a centros comerciais como produtos imobiliários que
aparente e suposta neutralidade acaba por revelar­se recriam o consumo muito para além da função de
útil para as formas e práticas de poder, no silêncio que comércio, mas como experiência e ambiente de vida e
promove e no poder que possui em convencer sem bem­estar que funciona, por intermédio da sedução,
gerar reclamações ou questionamentos. Por isso, o como grande regulador, quer da totalidade, quer do
autor insiste no quão importante é reconhecer, miscroscópico da vida social. Apesar de sugerir ao

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indivíduo­consumidor­cidadão sensações de libertação reprimida a sexualidade no espaço e o conservou


e transgressão (centros comerciais como espaços esterilizado como uma economia técnica sob o
liminares), as experiências de consumo assumem­se controle do mito da arquitectura moderna e
como elementos primordiais na manutenção da ordem projectista. No mundo ocidental, a subordinação
social do capitalismo tardio e pós­fordista. Os centros cultural do feminino por parte da masculinidade
comerciais são espaços privados, mas de fruição hegemónica define­se, no caso específico da produção
pública, transferindo a convivência e a vida social das do espaço social, mais por tudo aquilo que se nega do
praças e das ruas para um espaço hermético, previsível que por aquilo que se diz. O espaço urbano estebelece
e seguro, totalmente vigiado, onde tudo está – na sua distribuição, utilização, transferência e
direccionado para o consumo feliz e para uma simbolismo – hierarquias e prioridades que favorecem
atmosfera festiva, típica de uma comunidade ideal, de determinados valores e anulam outros. Assim,
uma vida urbana dócil. baseando­se nos trabalhos de Diana Agrest, Beatriz
Mas não são só os centros comerciais que se Colomina, Linda McDowell e Jane Rendell, Cortés
assumem como espaços docéis na visão de Cortés da argumenta que são o trabalho e as actividades
cidade contemporânea. Quase todo o espaço urbano se masculinas, com as suas necessidades e prioridades,
apresenta hoje como uma grande simulação e ficção que organizam a casa e planeiam a cidade, adaptando­
do espaço público, quer na arquitectura e formas se ambos aos movimentos, tempos e desejos da
urbanas dos parques temáticos, quer na dos masculinidade. Tudo isto de maneira a que a
condomínios privados de luxo ou noutros produtos organização espacial ajude a construir uma
imobiliários privados de habitação. É neste sentido representação das relações de género que apresentam
que Cortés apela para o princípio de que o ambiente os privilégios e a autoridade da masculinidade como
construído e as formas do desenho urbano não são algo natural. Por conseguinte, Cortés advoga que é
arbitrárias, muito menos inocentes. Os conteúdos e preciso tentar desconstruir as visões da cidade como
significantes de um lugar são constantemente um espaço neutro e sem história, na qual é subjacente
construídos e reconstruídos por meio da acção diária e uma concepção atemporal e deslocalizada que tem a
da (re)produção social do espaço. Cada projecto pretensão de criar categorias universais de validação.
constrói significado, não existindo zonas autónomas Essa ideia implica uma falta de percepção das
ou neutras. diferentes identidades e das diferenças entre elas, ao
Ainda na primeira parte do livro, e fazendo mesmo tempo que é uma aposta decidida na
adivinhar o conteúdo do próximo capítulo, o autor globalidade e na totalidade, valores profundamente
surpreende­nos com a sua perspectiva sexista de que a masculinos e típicos da racionalidade moderna.
cidade é masculina. Recorre, com efeito, a uma série Nesta parte do texto dedicada ao conceito de
de elementos referenciais da arquitectura mundial e cidade viril, Cortés desenvolve o estudo do arranha­
explora em que medida torres ou arranha­céus, a título céus e da sua imagem arquitectónica emblemática do
de exemplo, se traduzem em manifestações simbólicas século XX, como a representação mais icónica da
e fálicas do poder. O mais surpreendente na obra de globalização da economia, do poder corporativo, do
Cortés não consiste em saber de que modo a avanço tecnológico e da realização da modernidade. O
arquitectura e o urbanismo podem contribuir para a arranha­céus (a torre contemporânea), convertido num
(re)produção de uma ordem social, mas sim nas logotipo instantaneamente reconhecido de muitas
relações que o autor estabelece entre espaço e poder, cidades actuais, é entendido como metáfora que se
aprofundando a compreensão que Michel Foucault nos insere na temática do controle social do olhar, de uma
trouxe da visão panóptica de controle. Este capítulo masculinidade controladora, um ego e sua erecção
partilha também da tese lefebvriana, que é transversal, projectados no espaço, paradigma do símbolo
aliás, a toda a obra, de que o espaço urbano não é falocêntrico, uma presença icónica baseada num
imutável. O espaço não é uma entidade neutra, vazia modelo bipolar de poder que procura manter uma
de conteúdo social, nem um mero cenário ou palco. posição de domínio. Os arranha­céus enquanto
Cada sociedade produz os seu espaços, determina os representação do poder masculino, da autoridade
seus ritmos de vida, modos de apropriação, social e personificação enérgica do poder fálico,
expressando a sua função social, pelas formas através outorga a força, a fertilidade viril e a violência
das quais o ser humano se apropria e que vão masculina sobre tudo o que lhe é perpendicular na
ganhando o significado dado pelo uso. superfície terrestre. São os casos abordados por Cortés
Já na segunda grande parte do livro – os corpos das Torres Petronas, em Kuala Lumpur; da Torre
ausentes – o grosso do texto de Cortés incide sobre a Agbar, de Barcelona; e, por último, da Torre 30 St.
forma de como a arquitectura tradicional manteve Mary Axe, em Londres.

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Neste contexto, o panóptico de Foucault, enquanto heteronormativismo. Tanto os grupos sociais


máquina de visão total, é utilizado por Cortés de forma minoritários, quanto vários artistas e arquitectos
muito apropriada para analisar o papel do implicados criticamente, desenvolveram, nas últimas
heterossexismo e o poder da visão exclusivamente quatro décadas, uma série de propostas que
masculina na organização dos espaços sociais. Se o questionam os valores sociais, as identidades sexuais e
panóptico é como uma máquina de visão total, que as políticas do corpo e a sua relação com o espaço.
tudo capta e tudo vê, e portanto tudo controla, a visão Um desses grupos foi a comunidade gay que de forma
masculina tem uma função muito semelhante, pois inovadora soube apropriar­se de uma série de lugares
funciona como um instrumento de coacção ideológica de resistência, por via de estratégias de sedução,
com claros objectivos de controle hegemónico, ocupando áreas de espaço urbano público para fins
revelando internalizados uma misoginia e uma privados de intimidade. Esta atitude não só constitui
homofobia contundentes. um claro ataque a uma concepção binária e antagónica
Na terceira e última parte do livro, no epílogo que de espaço social (privado vs. público; social vs.
se enuncia sobre a forma de uma questão retórica – os pessoal), como supõe igualmente um importante
espaços queer são possíveis? –, o autor comprova desafio às concepções da cultura dominante em
como as cidades ocidentais promoveram uma estrutura relação às fronteiras e aos limites que marcam o que é
urbana que criou separações rígidas baseadas em apropriado ou não para cada uma das áreas de vida da
diferenças de classe, de etnia, de género e de que modo cidade (e tipos de uso do solo urbano).
elas conformaram as divisões espaciais nas diferentes As espacialidades e temporalidades queer estão
esferas de lazer e trabalho, ou seja, no traçado dos presentes nas «arquitecturas violadas e nos espaços
bairros, dos espaços de trabalho, nas áreas comerciais e transgredidos» (p.180) nos ditos bairros gay, onde
de lazer, etc. Contribui também para a compreensão de este grupo minoritário, segregado do resto da
como essas divisões (re)produzem uma visão sociedade, tenta levar uma vida relativamente
capitalista hierárquica, branca e heterossexual dos autónoma e desenvolver uma cultura própria. São
valores emocionais, físicos e materiais que estruturam exemplos referidos por Cortés: nos Estados Unidos da
socialmente a cidade. América, o East Village de Manhattan; o distrito
O autor defende que, em virtude da acumulação Castro de São Francisco; o South End, em Boston; e
dos abusos desta visão monolítica de espaço urbano, noutras cidades europeias, o Soho de Londres, o Le
começam a surgir nas últimas décadas novos conceitos Marais de Paris, ou o Chueca de Madrid. Cortés
espaciais que se apropriam das ordens clássicas e defende que os espaços queer, longe de se deterem
abrem caminho a outras visões que durante todo o confinados à noção de bairro gay ou mesmo à carga
período moderno se encontraram periféricas e sexual do adjectivo, são relativamente incertos,
marginalizadas. O final da década de 1960 e o início da desconcertantes e livres dentro dos limites que o poder
de 1970 foi profícuo na produção de um enfrentamento dominante permite e das fronteiras que o zonamento
drástico com as estruturas de poder cultural e funcional urbano estabelece. Sem recorrer de forma
ideológico, no que diz respeito à possibilidade de directa ao seu uso, o autor acaba por desenvolver este
construção de alternativas criativas, que conceito tendo por base o discurso das liminariedades
transgredissem as normas, os comportamentos e as e de heterotopias: «Seria um espaço que não deseja
convenções culturais e sociais mais tradicionais. ter nenhuma moral nem uso específico concreto, que
Subvertendo a visão clássica em novas e libertadoras vive apenas para as experiências e que se apropria
propostas que perturbassem o olhar masculino, dos códigos da cidade para pervertê­los; um espaço
tentavam­se modificar as configurações das fronteiras [...] que se recusa a aceitar uma única condição, e
espaciais, pois só assim as contradições binárias de que que admite estar sempre em trânsito, no meio,
dependem os códigos narrativos e as teorias inacabado» (Cortés, 2008: 207). São espaços de
convencionais do espaço podem ser desestabilizadas, intervenção na cidade, que reagem contra os processos
ao mesmo tempo que se possibilita a criação de novos de dominação, guiam a construção de novos espaços
modos de olhar que permitem a produção de um democráticos, abertos às nossas diversas
espaço urbano mais plural, aberto, democrático e especificadades e necessidades subjectivas e
crítico. colectivas. Os espaços queer não correspondem a
A partir daqui, o autor descola para o lugares, mas a atitudes de apropriação de parte da
vislumbrar de alguns espaços feitos de dúvidas e cidade contemporânea, numa permanente ideia de
ambiguidades, alguns lugares ricos na exposição às/das autoconstrução.São, por isso, efémeros. A sua força
diferenças, lugares de resistência que não desejam ser libertadora reside somente na medida e no momento
assimilados no processo de normalização pelo em que estão a ser criados. A sua institucionalização

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faz com que percam essas características libertárias


que os informaram, no início, como espaços
diferenciais de resistência.

__________________________
1 Cortés, José, 2008, Políticas do Espaço:
Arquitetura, Género e Controle Social, São Paulo,
Editora Senac, p.215.

Recebido em 01 de fevereiro de 2011.


Aceito em 08 de março de 2011.

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