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ARTIGO DE REVISÃO

A febre nas doenças reumáticas


Cristiana de Paula Leite Cury'
Adil Muhid Samara2

RESUMO

o estudo da febre e de suas diversas características clínicas constitui valioso auxílio no diagnóstico
diferencial das doenças reumáticas. Neste estudo, destingüirar-se-á, dois grandes grupos: o das doenças
francamente inflamatórias, geralmente febris, e os das não inflamatórias, via de regra não febris. O grupo
das doenças febris apresenta diferenças clínicas básicas relacionadas a intensidade, freqüência, duração
e horário de aparecimento da elevação da temperatura. Este importante sinal clínico propedêutico,
associado a determinadas manifestações articulares (artralgia ou artrite), ou extra-articulares
(linfonodopatia, alterações cutâneas, alterações oftalmológicas, alterações gastrointestinais ou outras),
conduzem mais facilmente a um melhor diagnóstico do paciente reumático.
Ulli/ermos: febre, doenças reumáticas, artropatias.

HISTÓRICO e úmida, taquicardia, hipotensão, sopros cardíacos


sistólicos,polipnéia, língua saburrosa, anorexia, sensação
Os médicos da antiguidade já consideravam um de empachamento gástrico, sede excessiva, cefaléia,
sintoma importante, na doença, a elevação da temperatura insonia ou sono conturbado, às vezes transtornos febris
corporal. Entretanto, somente na última metade do (delírio febril). Excitabilidade e convulsões são mais
século passado, depois dos trabalhos de Traube Von frequentes em crianças de seis meses a quatro anos de
Barenoprurg e de Wunderlich foram desenvolvidos para idade.
medir a temperatura corporal e estabelecer os verdadeiros As infecções estão mais comumente associadas à
critérios da febre.
febre, porém diversas doenças não infecciosas podem
Os antigos, graças ao seu acurado método de também cursar com febre como sua apresentação clínica
observação, distinguiam a febre fisiológica (após primária. Embora a grande maioria de pacientes com
exercícios físicos violentos, durante a digestão no período temperatura corporal elevada apresentem febre, há casos
mestmal na fase de crescimento), da febre patológica como as síndromes de internação, certas doenças
ligada a processos mórbidos. metabólicas e a ação de agentes farmacológicos que
Como resultado de um complexo mecanismo de interferem na termoregulação nos quais a elevação da
equilíbrio entre produção de calore respectiva dispersão, temperatura não caracteriza a febre mas outra condição
a temperatura corporal representa sempre elevamento denominada hipertermia.
de extraordinária importância nas cogitações O centro termoregulador localizado no hipotálamo
diagnósticas1. anterior regula a temperatura interna em cerca de 37°C,
CONSIDERAÇÕES GERAIS principalmente pela sua capacidade de equilibrar a
produção de calor e a perda periférica de calor. O
Febre é uma complexa reação do organismo, mecanismo da febre pode ser melhor compreendido no
caracterizada pela elevação da temperatura corporal nível hipotalâmico se usarmos o termostato de uma
acima da variação diária normal, motivada pormúItiplas residência como analogia para o controle da temperatura
causas, geralmente infecciosas. A ascenção térmica corporal. Durante a febre, a regulação do termostato no
acompanha sintomas e sinais diversos como: pele quente centro hipotalâmico desloca-se para cima, por exemplo,
de 37 para 39°C. Isto resulta numa maior produção de
(1)Interna do 6~ Ano do Curso de M~dicina da faculdade de Ci~n<~as Mc.'dicas da PUCCAMP.
calor e diminuição da perda periférica do mesmo. A
(.!)Professor Titular do Departamento de ClíruC3 Mc.'dica da Faculdade de Ci~ndas MWi"3S da
PUCCAMP. produção de calor por tremor muscular e a conservação

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Revista de Ciências Médicas PUCCAMP, Campinas, 3(3): 69.75, setembro/dezembro 1994
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70 c. P. L. Cury c A. Muhid Samara

de calor por vasoconstrição continuam até que a positivas, drogas em indivíduos sensibilizados e
temperatura do sangue, que supre o hipotálamo, iguale derivados sanguíneos incompatíveis. A endotoxina e
à regulação mais alta do termostato. Em constrate com outras substâncias que produzem febre são denominadas
a febre, a regulação do centro termoregulador durante a pirogênios exógenos. Os pirogênios exógenos não tem
hipertermia permanece inalterada em níveis normo- uma estrutura fisicoquímica comum, são derivados de
térmicos, enquanto que a temperatura corporal eleva-se várias fontes de origem microbiana e não-microbiana e,
de forma descontrolada e sobrepuja a capacidade de em geral, não afetam diretamente o hipotálamo,
perder calor. A exposição a calor exógeno e a produção produzindo febre através da ação de moléculas
endógena de calor são dois mecanismos pelos quais a mediadoras, chamadas de pirogênios endógenos6.
hipertermia pode acarretar temperaturas internas
I)irogênios endógenos
perigosamente altas, daí a importância de fazer adistinção
Os pirogênios endógenos são polipeptídeos
entre febre e hipertermia. A hipertermia é a elevação da 1
produzidos pelo hospedeiro que causam febre por sua
temperatura corporal, não ligada a causas infecciosas. A
capacidade de estimular as prostaglandinas hipota-
síndrome febril está presente, porém é menos intensa. A
lâmicas. Oprimeiro pirogênio endógeno foi descrito por
hipertermia pode ser rapidamente fatal e seu tratamento
difere do da febre6. Beeson, em 1948eem 1953. Nas três décadas seguintes,
pensou-se que havia apenas um pirogênio endógeno que
Denomina-se febrícula, a febre contínua baixa (não
causava febre; contudo, outros polipeptídeos, derivados
-
ultrapassando 37,5 38°C) devida a causa infecciosa.
do hospedeiro são produzidos durante as infecções ou
Acometimento geral: palidez, desnutrição, etc.
ferimentos e atualmente são considerados pirogênios
A diatermia apresenta como característica mais
endógenos. O primeiro pirogênio endógeno descrito é
importante a hipertermia não supcrior a 38°C, curso
atualmente identificado como interleucina-I (IL-I). Há
prolongado (até anos) e bem tolerada, sem se acompanhar
duas IL-I, alfa e beta, e cada uma tem uma sequência de
de sinais biológicos de infecção, não respondendo a aminoácidos distinta. As IL-I humanas recombinantes
antitérmicos. A elevação da temperatura se deve a um
produzem febre em animais de laboratório em doses de
comprometimento desordenado, atáxicodos mecanismos
50nglKg. Outras interleucinas como interferons (alfa e
de eliminação de calor9.
beta), produzidos em consequência de uma infecção
Distingue-se vários tipos de febre, onde são
viral, também são pirogênios endógenos. O interferon
diferenciadas a intensidade, frequência e duração.
alfa humano recombinante, produz calafrios e febre em
Na febre contínua, as oscilações diárias máxima c
seres humanos após injeções de InglKg. O fator de
mínima não atingem a um grau. A febre remitente
necrose tumoral, também denominados caquectina, é
caracteriza-se por oscilações superiores a um grau,
um polipeptídeoproduzido durante infecções bacterianas
porém não atingindo a temperatura basal. Na febre
e parasitárias e recentemente demonstrou-se que é um
intermitente encontra-se paciente febril nos intervalos
pirogênio endógeno; pois quando injetado em seres
dos acessos febris. A ascenção e declínio da temperatura
humanos, lOOnglKg produz febre. Tais substâncias
são bruscas. A febre recorrente é caracterizada por
exercem extensos efeitos biológicos sobre muitos tecidos,
alternância de períodos de febre contínua por dois a
porém sua capacidade de iniciar a febre os identifica
cinco dias, seguidos por uma fase afebril. Paciente
como pirogênios endógenos.
apresenta na febre ondulante, séries de ondas febris,
Os pirogênios endógenos são indutores potentes de
separadas por intervalo onde o paciente mostra-se afebril prostaglandinas no cérebro e produzem febre de maneira
e apresenta febrícula. Na febre inclusa tem-se cifras I
delineada nas seguintes etapas: I) pirogênios endógenos
máximas durante a noite e pela manhã. A febre em
produzidos em decorrência de uma infecção ou lesão
corcova de camelo caracteriza-se pelos estágios inicial,
atingemárea hipotalâmica anteriorpor meio da circulação
de latência, pré-paralítico e paralítico, onde os estágios arterial; 2) nessa área, estimulam o endotélio de órgãos
inicial e pré-paralítico/paralítico representam os picos 1
vasculares a começar a síntese de prostaglandinas; 3) as
febris (respectivamente cabeça e corcova do animal) e
prostaglandinas recém-sintetizadasentram na substância
o estágio de latência representa temperatura basal (o
cerebral através de grandes espaços entre as células I
dorso do animal)16.
endoteliais e 4) essas prostaglandinas ativam neurônios
PATOGÊNESE termorreguladores por intermédio de aumento dos níveis
de AMP dclico. Acredita-se que a área pré-óptica do
Além dos agentes infecciosos, diversas substâncias hipotálamo contenha a concentração mais alta de
sabidamente causam febre, entre estas, a endotoxina de neurônios termossensíveis e a proximidade dos órgãos
bactérias gram-negativas. A endotoxina produz febre vasculares a esses neurônios, em particular eventos
em seres humanos quando apenas 2nglKg são injetados hemorrágicos, podem produzir prostaglandinas que
por via intravenosa. Dentre as outras substâncias que ativam independentemente os neurônios termossen-
produzem febre incluem-se: toxinas de bactérias gram- síveis6.
I
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A FEBRE NAS DOENÇAS REUMÁTICAS 71

Alterações de fase aguda estado geral, a crise surge com febre alta, "rash",
Embora este mecanismo explique como os artralgias, pericardite fugaz e com acometimento ar-
pirogênios endógenos induzem a febre, eles podem ticular persistente.
induzir processos semelhantes em outros tecido. Deste Outras vezes, as manifestações extra-articulares
modo, as prostaglandinas, particularmente da série E, como iridociclite e pericardite podem preceder, em
são produzidas na pele, músculos, vasos sanguíneos e semanas ou meses, o ataque das juntas.
outros locais e, em consequência, acarretam sintomas A febre quandopersiste é geralmente diária, elevada,
como cefaléia, mialgias e artralgias. As alterações podendo atingir 40°C com dois picos, um matutino,
laboratoriais em pacientes febris incluem alterações nos outro vespertino. Pode apresentar-se em outras
leucócitos, proteínas hepáticas e certos hormôniosl6. combinações, porém, quase sempre é ondulante. É
achado frequente, e, às vezes, o único sinal da doença.
A FEBRE NAS DIVERSAS DOENÇAS Em certas ocasiões, acontece, em meses ou anos, o
REUMÁTICAS comprometimento articular. Na maioria das vezes se faz
A febre é sinal de grande importância propedêutica acompanharde "rash" cutâneo. Difere da hipertermia da
em reumatologia, pois permite distinguir, a grosso febre reumática, por ser esta quase sempre contínua,
modo, dois grandes grupos: o das doenças francamente sub-febril e de curta duraçãoll.
inflamatórias, geralmente febris, e o das não inflama- Febre reumática
tórias, via de regra não febris. É uma seqüela não supurativa da infecção
O grupo das doenças francamente inflamatórias respiratória por estreptococos do grupo A.
está sujeito a infecções oportunistas, numa frequência A febre pode estar presente, em geral moderada ou
maior que a população normal. Isto acontencendo, discreta, e mesmo quando elevada (38 a 39°C), não
modifica-se o quadro febril, sendo de difícil interpretação perdura por mais de dois a três dias nessa intensidade. É
clínica e mesmo laboratorial. caracteristicamente remitente, retomando ao normal
A febre será aqui representada com suas após uma ou duas semanas mesmo sem tratamento,
características e sinais relativos a doença relacionada, a aparecendo principalmente no período vespertino.
fim de facilitar o diagnóstico clínico no âmbito A febre contínua, ao lado da cardite e de outras
reumatológic016. alterações clínicas, impõe o diagnóstico diferencial
Artrite reumatóide com endocardite bacteriana subaguda.
A artrite reumatóide (AR) é um processo Outras patologias devem ser investigadas em
inflamatório, sistêmico, crônico que ocorre em todas as pacientescom febreprolongada sem outros sinais maiores
de febre reumática1.
raças e grupos étnicos. Devido ao seu caráter sistêmico,
sintomas como febrícula e linfonodopatia mínima, podem Febre familial do mediterrâneo
ser observadas na AR. A febrícula é vespertina ou
Éuma doença de caráter genético que atinge grupos
noturna, geralmente acompanhada de mal-estar geral,
étnicos bem diferenciados, apresenta crises abdominais
aumento da perspiração insensível, e mais raramente,
e/ou torácicas, febre persistente e comprometimento
taquipnéia e taquicardia. Em casos de infecção articuIar.
oportunística, principalmcnte no trato respiratório e As crises periódicas, apresentam-se com início
genitourinári017, há elevação da temperatura caracte- rápido, são de curta duração e finalizam sem deixar
rizando febre. A Síndrome de Felty apresenta além do seqüelas. Na maioria das vezes, há sinais prodrômicos
quadro articularjá rcferido,leucopenia e esplenomegalia.
vagos, como se fosse uma verdadeira "aura": náuseas,
Os pacientes quase sempre apresentam susceptibilidade astenia, tonturas e sensação abdominal não definida.
exacerbada as infecções, sendo mais comum os processos A febreconstante em um dado momento de evolução
infecciosos bacterianos atingindo a pele (em úlceras é um elemento importante para o diagnóstico, é de curta
cutâneas), mucosas e trato respiratórios. duração, de 12 a 24 horas, e raramente ultrapassa mais de
O uso de esteróides e agentes imunossupressores
72 horas. Na maioria das vezes é precedida por tremores.
podem ser responsáveis pela indução de neoplasias ou
Admite-se que a temperatura se eleva nas primeiras
infecções por germes de baixa virulência, ocasionando
horas que se seguemao aparecimentodasdorese retoma
febre de origem obscura de difícil diagnóstico clínico e
laboratoriaJS.
à normalidade antes do episódio abdominal torácico ou
articular. A febre varia entre 38°C e 40°C, guardando
Artrites crônicas da infância certa semelhança com à crise febril, daí também ser
Manifesta-se através de múltiplas formas clínicas chamada de febre pseudopalustre. Para maioria dos
que vão desde o acometimento poliarticular, com ou autores, um episódio febril isolado sem algias é
sem simetria, até o monoarticular, podendo ocorrer ou extremamente infrequente. Entretanto, há algias,
não manifestações sistêmicas. Quando há queda do especialmente as articulares sem febre2.

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Espondiloartropatias A ocorrência de enfermidade granulomatosa


As espondiloartropatias soronegativas caracte- crônica, aparentemente inespecí~ca e localizada no
rizam-se pelo acometimento das articulações íIeo terminal, foi, em 1932, objeto de descrição por
sacroilíacas, artropatia inflamatória periférica e ausência Crohn, Gunzburg e Oppnheimer.
de fator reumatóide. Na doença de Crohn, inicialmente os sintomas
Incluem espondilite anquilosante, síndrome de podem ser discretos e atípicos, e a doença descoberta
Reiter, as artrites reativas, certos grupos de artropatia ocasionalmente. O início abrupto é sempre desencadeado
juvenil (espondilite anquilosante juvenil e a síndrome por "stress" psíquico ou físico, não sendo raro encontrar
da artropatia entesopática soronegativa), sacroileíte nesta eventualidade doença radiologicamente já
enteropática (colite ulcerativa e doença de Crohn) e avançada. Por vezes o quadro inicial simula apendicite
artropatia psoriásical5. aguda. Porém, na maioria dos casos a doença se instala
Convém destacar, as que cursam com febre, como de modo insidioso, com predomínio de sintomas 1
a artrite reativa, a espondilite anquilosante, síndrome de digestivosvagos, quepodem durar vários anos.
Reiter e a doença de Crohn. A hipertennia aparece, mesmo na ausência de
Embora existam controvérsias, as artrites relativas complicações sépticas, podendo deste modo se incluir a
podem ser entendidas como processos inflamatórios enterite regional no diagnóstico diferencial da febre de
articulares relacionadas com foco infeccioso a distância, etiologia desconhecida.
nas quais não existe invasão microbiana no espaço As enterites regionais cursam com febre de pequena
sinovial. Dentre as numerosas artrites reativas, intensidade, dificilmente referida, salva quando ela se
abordaremos as relacionadas com os enteropatógenos acentua nos períodos de agudização da doença,
como a Yersinia e Salmonella. frequentemente acompanhadas por quadro articulares
A artrite reativa por Yersinia enteroco/ítica inicia- semelhantes aos da AR.
se poucos dias ou até duas semanas após a infecção por Lupus eritematoso sistêmico
esta brucelótica e acomete número limitado de juntas. A Das doenças difusas do tecido conjuntivo, o lupus
infecção bacteriana cursa com febre, diarréia, dor abdo- eritematoso sistêmico (LES) constitui o primeiro e
minal, cólicas, cefaléia, mialgias e dor lombar. grande exemplo da doença febril e também a que mais
A artrite reativa por Salmonella apresenta diarréia freqüentemente favorece as infecções oportunísticas.
antecedendo o quadro articular, em geral começa de O LES é uma doença de etiologia desconhecida,
uma a duas semanas, após este período observa-se artrite caracterizada por inflamação em muitos sistemas do
de grandes articulações, acompanhada de febre não organismo associada com produção de anticorpos
muito elevada.
reativos, antígenos nucleares e outros.
A espondilite anquilosante caracteriza-se pelo A maioria dos pacientes exibe fadiga, febre e perda
acometimento das articulações sacroilíacas, artropatia
de peso, por ocasião do diagnóstico, fato que exige a
inflamatória periférica e ausência de fator reumatóide.
pesquisa necessária para excluir infecções.
Os sinais gerais podem estar ausentes ou ser de A presença de manifestações cutâneas ou
pouca importância. A astenia, com dores musculares acometimento multisistêmico, particularmente artralgia,
aos exercícios pouco intensos, diminuição do apetite, artrite e nefrite associados com febre e perda de peso,
leve ou moderado, comprometimento do estado geral, são sinais propedêuticos de maior evidência do LES na
são observados, principalmente quando há concomitante criança. A febre, geralmente baixa, costuma persistir I

perda de peso. A febre é rara e não costuma passar de por semanas.


37,2 a 37,4°C. As manifestações gerais, constituídas por febre,
A síndrome de Reiter afeta principalmente pessoas
emagrecimento e astenia quase sempre estão presentes, I
jovens do sexo masculino. Esta aparente prevalência se sobretudo quando se considera todo o processo evolutivo
deve à dificuldade diagnóstica no sexo feminino, e não apenas uma fase da doença. A febre ou é baixa e
relacionada com a ocorrência de formas atípicas ou pelo
de duração prolongada ou atinge níveis elevados nas I
não reconhecimento das alterações cutâneo-mucosas crises lúpicas. A presença de gânglios não significa,
(uretrite, conjuntivite, etc.) não sintomáticas. necessariamente, bacteremia. É importante chamar a
A artrite geralmente predomina no quadro clínico. atenção que, nos pacientes sob tratamento intensivo,
A uretrite e a conjuntivite costumam ter duração efêmera, (com estenóides ou imunosupressores) seu aparecimento
às vezes não sintomáticas.
ou grandes elevações da temperatura devem fazer pensar
A doença pode se manifestar inicialmente com na possibilidade de uma infecção subjacente. A fadiga
sintomas de natureza sistêmica: astenia, anorexia, mal-
normalmente encontra-se presente em todos os pacientes
estar, emagrecimento e febre contínua, acima de 38°C. com lúpus, principalmente durante as fases de atividade
A febre pode aparecer no início e nos períodos de da doençal.
agudização da doença12.

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A FEBRE NAS DOENÇAS REUMÁTICAS 73

Polimiosite relacionada a infecções causadas principalmente por


Trata-se de doença inflamatória da musculatura estreptococos, hipersensibilidade a drogas (principal-
esquelética, caracterizada por fraqueza simétrica das mente antibióticos) e a alimentos. Tem febre somente no
cinturas escapular e pélvica, do pescoço e da faringe. princípio da moléstia.
Quando este quadro é acompanhado de comprome- Usualmente registra-se altas temperaturas quando
timento cutâneo, constitui a dermatopolimiosite. as infecções participam como causa. Também durante
Crianças, atingidas pela doença, pagam grande o curso da doença (geralmente de seis a dez semanas)
tributo a ela, pelas intensas agressões que apresentam. observam-seelevaçõesde temperatura, sobretudo quando
A febre nestes pacientes habitualmente é de pequena há aparecimento de novos surtos de púrpura, ou
intensidade, se bem que possa apresentar-se elevada em comprometimento renal, que ocorre em 10 a 30% dos
fases agudas, de comprometimento visceral. casos, complicando o prognóstico desta enfermidade.
A maioria das dermatopolimiosites que se iniciam A granulomatose de Wegener (forma clássica) é
de forma aguda evoluem para cronicidade, onde vasculite grave que cursa com granulomas pulmonares,
raramente se registram elevações de temperatura, e até infartos hemorrágicos do baço e acometimento do trato
mesmo surtos de erupções cutâneas sobre asjá existentes, respiratório alto. A de Churg-Strauss com asma,
estas últimas podem ter início após estados infecciosos eosinofilia de até 70-90% e hemip\cgia.
c/ou após uso de certos medicamentos, cursam com A febre, acompanhada de mal-estar geral e calafrios
febre alta e persistente, as vezes com vasculiles graves importantes, está presente nos episódios de agudização,
responsáveis por hemorragias extensas, principalmente completando um quadro que mais se assemelha ao de
do trato digestivo1. uma infecçãograve do queao das angiites. Curiosamente,
Esc\eroderm ia a princípio, alguns atravessam fases sub-clínicas,
próximas da normalidade, onde uma só manifestação
Doença rara, que se caracteriza por fibrose do
pode estar presente, o estado sub-febril mencionado
tecido conjuntivo da pele e dos órgãos viscerais.
como sensação de desconforto, mal-estar geral, etc.
Trata-se de enfermidade febril nos estágios finais
Finalmente, temos as angiites de células gigantes,
da doença, com úlceras das extremidades, disseminação
ou arterite temporal, adoença de Takayasu e polimialgia
de infestações e infecções do trato digestivo durante as arterítica.
síndromes desabsortivas, pneumonites, nefroangio-
A de Takayasu, também conhecida por "Doença
escIerose, clcl.
de pulsos ausentes", acomete o cajado da aorta, podendo
Al1giites l1ecrosal1tes também envolver a descendente abdominal. A arterite
Dentre as doenças difusas do tecido conectivo, as de células gigantes compromete o território da artéria
angiites necrosantes ocupam o segundo lugar como temporal, que se apresenta sinuosa, com cefaléia,
doenças febris, não obstante sua menor prevalência em cegueira súbita e mialgia, principalmente do cinturão
relação ao LES. Nas vasculites, a frequência, assim pélvico e escapular.
como a febre, podem aparecer no princípio da moléstia Dos três grupos de angiites, a doença de Takayasu
como única manifestação, por vezes durante semanas ou e a artrite temporal são as menos febris. Pelo contrário,
meses, superando todas as outras doenças fracamente a polimialgia arterítica é a que mais frequentemente se
inflamatórias. apresenta com febre e, embora não seja a regra, tem um
A poliarterite l1odosa é uma afecção inflamatória comportamento clínico semelhante ao da febre que
difusa, acometendo preferencialmente as artérias de acompanha a AR4.
médio e pequeno calibre com lesões em várias fases de Doença mista do tecido conjuntivo
evolução, que se localizam perto das bifurcações arteriais O conceito de doença mista do tecido conjuntivo
e tendem a causar aneurismas.
Uma das características clínicas é o acometimento (DMTC) foi estabe\ccido por SHARP et a1.18.Antes
dessa época já se reconhecia em, ao mesmo tempo,
de múltiplos sistemas simultaneamente, o que lheconfere
aproximadamente 5% dos casos com doenças difusas do
o aspecto de doença sistêmica por excelência. Os
tecido conjuntivo, a superposição de aspectos comuns a
sintomas iniciais podem ser inespecíficos, como febre,
duas ou mais enfermidades do colágeno.
indisposição, emagrecimento, mialgias e astenia, ou Com a DMTC, também denominada de síndrome
resultado do comprometimento simultâneo de vários
de Sharp, procurou-se aclarar estes achados. Passou-se
sistemas, órgãos ou de um órgão isoladamente.
a diagnosticar e individualizar como portadores de
Já nas angiites de hipersensibilidade os sintomas
DMTC os casos que apresentavam uma combinação de
gerais são menos marcantes, dentre estas a púrpura características semelhantes ao LES, à ESP, à
anafilatóide ou púrpura de Henoch-Schoenlein, é
dermatopolimiosite e à artrite reumatóide, que exibiram
caracterizada ora por manifestações purpúricas, ora por
altos títulos, de anticorpos dirigidos contra antígenos
melena, por dor articular ou pelo conjunto de todas, é nucleares extraíveis (ENA)

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74 c. P. L. Cury e A. Muhid Samara

Os antígenos nucleares extraíveis englobam A artrite piogênica aguda geralmente tem início
basicamente dois antígenos, o RNP (ribonucleoproteína) súbito, apresentando rapidamente dor intensa e limitação
e o Sm. Na DMTC predomina o anti RNP e não se dos movimentos articulares. Em alguns casos, tem-se
identifica o Sm. Muitosenfermoscom anti-ENA positivos descrito uma fase de poliartralgia moderada, com
evoluem posteriormente para um polo ou doença difusa localização posterior e definitiva em mais de duas
do tecido conjuntivo melhor definida, em particular articulações (meningococos e gonococos); entretanto,
ESP eLES. na maioria dos casos é monoarticular.
Deve-se ressaltar, ainda, que têm sido observados Freqüentemente ocorrem os sinais clássicos da
casos com características clínicas indistinguíveis de inllamação na articulação afetada, assim como bloqueio
DMTC e anti-ENA circulante ausente. Por outro lado, doloroso dos movimentos ativos e passivos, geralmente
em investigações controladas, evidencia-se um estão presentes, febre, calafrio, prostação e queda do
comprometimento renal mais frequente, embora poucas estado geraJl3. t
vezes estes pacientes desenvolvam glomerulonefrite A artropatia gonocócica representa a infecção
proliferativa difusa. metastática dos tecidos articulares consequente à septi-
O quadro clínico inicial é o de uma doença sistêmica cemia pela Neisseria gononllOcae.
que exibe discretas alterações gerais como artralgias, Dez a vinte dias após a infecção gonocócica aguda,
mialgia, febrícula, fenômenos de Raynaud, esofagite, inicia-se bruscamente um quadro de estado infeccioso
dedos em salsicha e resposta eficaz ao esteróide3. febril, com calafrios e envolvimento de várias
Artrose articulações e tecidos periarticulares, que se apresentam
entumescidos, hiperemiados, quentes e extremamente
A osteoartrose (OA) primária é um processo doloridos.
patológico afebril, porém, as formas secundárias podem
Podem surgir lesões cutâ neas maculares, vesiculares
oferecer dificuldades diagnósticas, quando apenas a
ou pustulares, com ou sem centro necrótico. A
propedêu tica rad iológica é u tili zad a para su a
temperatura axilar é elevada, ou oscilando em torno de
caracterização, imagens císticas com reações osteóides, 40QC7.
redução da fenda articular com osteofitose, corpos
O quadro articular da rubéola apresenta nítida
estranhos, etc. São inespecíficos e podem ser encontrados
preferência pelo sexo feminino, no período pós-puberal.
em certas hemopatias (hemofilia, siclemia, leucoses
Pode anteceder as manifestações dermatológicas ou
crônicas), em infecções articulares de curso lento
constituir-se mesmo numa alteração isolada.
(tuberculose, brucelose, etc), em doenças metabólicas
O comprometimento é simétrico, apresentando-se
(gota, condrocalcionose articulardifusa) e inllamatórias com características semelhantes às da artrite reuma-
(artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico). As
tóide, febre reumática ou ainda sob a forma de
osteoartrites secundárias, às doenças como as já citadas,
tenossinovite ou de síndrome do túnel do carpo. Qua-
não raramente apresentam episódios febris, cujo torze a vinte e um exantema com sintomas constitucionais
comportamento clínico é pertinente a cada uma delasl6.
levesde mal-estare eventual odinofagia. Febre moderada,
Gota coriza e conjuntivite leve podem acompanhar o
Gota é um termo que representa um grupo exantema 10.
heterogêneo de doenças genéticas e adquiridas que se A hepatite a vírus apresenta quadro clínico que
manifestam por hiperuricemia e uma característica artrite pode simular artrite reumática. As manifestações
inllamatória aguda induzida por cristais de monoidrato articulares chegam a anteceder de seis semanas o início
de urato monossódico. das decorrentes do comprometimento hepático
Na artrite gotosa aguda tem-se os sinas sistêmicos desaparecendo quando se inicia a icterícia.
de inllamação que incluem febre, leucocitose e elevação O quadro é geralmente poliarticular, simétrico,
da velocidade de hemossedimentaçãol6. aditivo, algumas vezes migratório e afeta grandes e
pequenas articulações.
Artropatias relacionadas a processos infecciosos
Mal estar, fadiga, náuseas e vômitos também fazem
Dentro das artropatias que podem ser causadas por
parte do quadro inespecífico. Classicamente, o paciente
proeessos infecciosos tem-se as artrites piogênicas, a
pode descrever uma perda do paladar para café ou
artropatia gonocócica, a tuberculose osteo-articular, as
cigarros. A febre, se presente, geralmente é baixa.
artropatias sifilíticas, artropatias causadas por fungos,
Linfonodopatia envolve os nodos pós-auriculares e
por vírus, a ósteo-artropatia da hanseníase e da
suboccipitaisl4.
toxoplasmose. Convém destacar asprincipais quecursam
com febre, como as artrites piogênicas agudas, as
artropatias gonocócicas e asvirais, melhor representadas
pela rubéola e hepatite.

Revista de Ciências Médicas - PUCCAMP, Campinas. 3(3): 69-75, setembro/dezembro 1994

J
r

A FEBRE NAS DOENÇAS REUMÁTICAS 75

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