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Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 1

Universidade Federal do Espírito Santo


Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas
Departamento de Economia

BOLETIM Nº 57
DEZEMBRO DE 2017
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 2

APRESENTAÇÃO
O ano de 2017 no Brasil mostrou como a economia não
está sob o controle do governo ou mesmo que
expectativas empresariais mais favoráveis, por si só,
sejam capazes de fazê-la girar. É muito fácil derrubar as
taxas de crescimento de uma economia mas retomá-las
está longe de ser trivial. Notadamente, num contexto de
integração do país ao mercado externo, em particular
considerando a intensa integração financeira que o Brasil
apresenta desde fins da década de 1980.
A exigência de ajustes fiscais estruturais e as reformas
que lhes são correlatas, mesmo que de fato fossem
aplicadas, não são capazes de garantir o crescimento.
Por outro lado, as tradicionais politicas de corte
keynesiano tem também suas limitações, como se viu no
Governo Dilma. Seus efeitos tendem a ser vazados para
fora e para a esfera financeira, nos quais os agentes
econômicos encontram formas mais rentáveis de
aplicação de recursos próprios e recursos de
financiamento governamentais, tomados a taxas
subsidiadas. Criar condições para a retomada do
investimento produtivo privado se torna uma missão
quase impossível posto que a lógica econômica
prevalecente subordina a esfera produtiva à financeira.
Por outro lado, no plano político interno, o esgotamento
da base de apoio do governo na Câmara Federal,
acionada duas vezes para sustentar Temer no poder,
minou a força do mesmo em seguir com a agenda de
reformas estruturais por ele propostas. A incapacidade
de sequer colocar em votação ainda este ano a principal
reforma demandada pelos mercados, a reforma da
previdência, mostra tal exaustão. As barganhas com
deputados atingiram tamanha intensidade e
disseminação que terminaram por se tornar
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relativamente inócuas para garantir os interesses do


governo e de sua equipe econômica. Na esperança de
reunir forças com o tempo o governo promete retomar o
assunto após o carnaval.
Este Boletim 57 evidencia como a Economia Brasileira e
a Política Econômica se comportaram de janeiro a
outubro de 2017, dando uma mostra de qual tende a ser
o quadro que caracterizará esse ano.
A acurada análise de Fabricio de Oliveira, no item Política
Econômica, mostra que existem sinais de no máximo
uma estagnação da taxa de crescimento da economia em
patamares baixos, sequer atingindo 1% em 2017. Não
há motor que puxe o crescimento econômico e a fada
das expectativas tem sido frágil para revigorá-lo
conforme o prometido. O fundo do poço pode ter sido
ultrapassado e o descenso estancado mas o que se
avizinha é certa estagnação até no mínimo meados de
2019.
A inflação extremamente baixa neste ano denota,
segundo nossa interpretação, muito mais a paz dos
cemitérios do que sinais de saúde da economia. Mais do
que consequência da política monetária adotada é
ocasionada pelo quadro recessivo vivenciado não
passível de ser sustentado numa eventual recuperação
da economia.
Os poucos sinais de recuperação, muito mais assentados
na boa performance do setor agropecuário voltado para
a exportação de commodities, confirmam um quadro
ainda claudicante recuperação das taxas de crescimento
da economia. O mal desempenho do consumo e do
investimento, por outro lado, trazem certo ceticismo
acerca dos números que deixaram de piorar. No caso da
indústria, esses números são obtidos a partir de uma
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base de comparação extremamente desfavorável, que foi


o ano de 2016.
Também no mesmo, sentido a análise do emprego na
economia brasileira evidencia que a melhora é tímida,
apenas no terceiro trimestre de 2017, sendo localizada
na agropecuária e em serviços médicos e educação. O
comércio ainda não manifestou recuperação.
Outra variável a sinalizar a cautela na consideração de
uma eventual retomada do crescimento é o crédito. Ele
vem num recuo desde dezembro de 2015 e o segmento
que tem crescido é para pessoa física, em boa medida
associado a crédito consignado de aposentados e
servidores públicos. O crédito a pessoa jurídica mantem
sua trajetória de descenso, continuando o recuo no
crédito direcionado, notadamente o financiamento de
longo prazo associado ao BNDES.
No plano fiscal o que se percebe é uma piora sensível
das contas do governo Central, com a arrecadação
seguindo a tendência negativa do nível de atividade. O
déficit primário se ampliou em mais de dois terços com
relação ao mesmo período do ano passado ocorrendo de
positivo basicamente uma certa queda do patamar de
gastos com juros. A equipe econômica e o governo, ao
apostarem todas as fichas na aprovação da reforma da
previdência, o que não ocorreu esse ano, envereda por
um caminho complicado. A um passo de cair no
descrédito e já retomando o discurso de elevação da
carga tributária, vai reduzindo sua margem de manobra.
O quadro externo, finalmente, evidencia uma melhora na
balança comercial fruto da conjugação de um
desempenho favorável das exportações de commodities
com redução de importações face ao baixo crescimento.
A deterioração do perfil de fluxos de capital, todavia,
mantem as contas externas num perfil ainda deficitário.
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A Economia Brasileira, portanto, segue num quadro


preocupante de falta de rumos. Tais aspectos podem ser
melhor compreendidos com os detalhamentos que se
seguem.

1. POLÍTICA ECONÔMICA
O crescimento econômico de 2017 e as
perspectivas para 2018 - Fabrício Augusto de
Oliveira
O fato mais comemorado pelas autoridades econômicas
para demonstrar o acerto da política econômica do
governo Temer tem sido a saída da recessão decretada
pela Comissão de Datação de Ciclos Econômicos
(CODACE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), depois de
onze trimestres seguidos de queda do produto, iniciada
no segundo trimestre de 2014.
Embora tecnicamente seja mais fácil determinar o início
da recessão, que é determinado pelo crescimento
negativo do produto por dois trimestres consecutivos, a
saída deste quadro é mais difícil de ser definida pela
necessidade de se ter certeza sobre a continuidade do
desempenho de determinadas variáveis econômicas e de
não ter ele sido fruto de movimentos artificialmente
criados, que rapidamente esgotam seus efeitos.
Para determinar que o país finalmente saiu da recessão,
a CODACE, além do crescimento positivo do produto
registrado nos dois primeiros trimestres do ano, de 1%
no primeiro e 0,2% no segundo, considerou que os sinais
positivos dessa recuperação continuaram no segundo
semestre em quase todos os setores da atividade
econômica, refletindo-se em indicadores econômicos
importantes que confirmam essa tendência, como os que
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dizem respeito ao aumento do emprego e da


arrecadação do governo.
De fato, entre janeiro e outubro registrou-se,
liquidamente, a criação de 302 mil novos postos de
trabalho, com a taxa de desemprego recuando de 13,7%
no primeiro trimestre do ano para 12,4% no trimestre
fechado em setembro, mas, ainda assim, com 13
milhões de desempregados no país. Em relação à
arrecadação federal, ainda que o seu aumento, em 2017,
tenha sido de apenas 0,2%, em termos reais, até
setembro, revertendo um longo período de queda real de
dois anos, esse numero sobe para 1,1%, quando se
considera apenas as receitas que dependem da atividade
econômica, ou seja, que não são extraordinárias.
São resultados que não se pode ignorar nessa avaliação
e que podem melhorar ainda mais, neste final de ano,
por se tratar de um período de festividades que,
tradicionalmente, se traduz em aumento do consumo, do
emprego e da arrecadação, injetando oxigênio na
atividade produtiva. Não sem razão, as projeções do PIB
no ano têm melhorado e variado entre 0,5% e 1%,
deixando para trás as expectativas mais pessimistas
anteriores que indicavam um crescimento em torno de
0%.
Não é muito para uma economia que conheceu uma
contração de 8,6% entre 2014 e 2016 e que figura entre
as maiores recessões que o país conheceu no século XX
tanto em termos de intensidade quanto duração, mas,
de qualquer forma, um alento de que a mesma pode
estar deixando a cena. Por isso, é importante analisar se
os fatores que deram esse pequeno impulso à atividade
econômica são de fato sustentáveis e se, caso isso se
confirme, se estão colocadas as condições para mantê-la
em uma trajetória de crescimento nos próximos anos.
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A rigor, não se pode atribuir ao governo Temer nenhuma


medida importante para o relançamento da economia
numa trajetória de crescimento, a não ser a mudança de
humor do mercado ocorrida com a conclusão do processo
de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que pôs
fim às indefinições existentes no campo político que tal
processo causava.
Sua política econômica, sob o comando do ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, apenas deu continuidade à
que vinha sendo implementada anteriormente, desde
2015, pelo então ministro Joaquim Levy, de levar adiante
um rigoroso ajuste das contas públicas, visando reverter
o elevado nível de endividamento público para receber a
benção do mercado, sob o argumento de que os
investimentos produtivos só retornariam a economia
quando o Estado novamente se tornasse confiável para
os investidores do ponto de vista de sua capacidade de
solvência,
Para atingir este objetivo, foram adotadas várias
medidas exatamente contrárias ao crescimento
econômico, entre as quais podem ser destacadas: i) a
emeda constitucional de congelamento, em termos reais,
do teto dos gastos primários (EC 95/16); ii) a proposta
de reforma da previdência social, a qual, se aprovada,
deve retirar direitos dos aposentados e pensionistas,
enfraquecendo seu poder de compra; iii) a redução
considerável dos investimentos públicos, por meio de
contingenciamentos, para garantir o atingimento da
meta fiscal; iv) a proposta de mudanças tributárias na
Cofins, PIS e ICMS, com o objetivo explícito de
modernizar a tributação indireta, mas que pode elevar a
arrecadação; v) a implementação de uma política
monetária mais restritiva.
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Confiantes no lema e na lenda do pensamento


econômico ortodoxo de ser “necessário primeiro ajustar
as contas do governo para só depois voltar a crescer”, os
gestores da política econômica não adotaram, até o
momento, nenhuma medida favorável para estimular o
crescimento econômico, a não ser a que se refere à
redução da taxa nominal de juros Selic, que caiu de
14,25% para 7,5% devido à queda mais rápida da
inflação, o que se traduziu, de fato, em aumento do juro
real, e à liberação de recursos do FGTS, PIS/Pasep de
contas para seus titulares.
Os fracos sinais de recuperação da atividade econômica
devem-se, assim, à algumas medidas pontuais que
foram adotadas, mas que não devem se repetir daqui
para a frente, e também aos efeitos engendrados pela
própria recessão/estagnação da economia que se
traduziu na melhoria de alguns indicadores econômicos
mais relevantes para dar maior ânimo à atividade
produtiva.
No primeiro caso, a liberação das contas inativas do
FGTS, correspondentes a R$ 44 bilhões, somados à
liberação de R$ 16 bilhões de saques previstos para o
PIS/Pasep, representaram uma injeção de R$ 60 bilhões
para serem destinados ao consumo e/ou ao pagamento
de dívidas, sendo responsáveis, em alguma medida, pelo
crescimento do consumo das famílias captado pelos
números divulgados pelo IBGE para o PIB do segundo
trimestre do ano.
No segundo, principalmente como consequência do
quadro de recessão/estagnação da economia, a inflação
desabou de 9,26% no acumulado de 12 meses, em maio
de 2016 – época em que Temer assumiu interinamente o
governo, em substituição a Dilma Rousseff -, para 2,7%,
em outubro deste ano, melhorando o poder de compra
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dos salários, ao mesmo tempo em que propiciou a


redução da taxa nominal de juros Selic de 14,25% para
7,5%.
Combinados com a ligeira recuperação do emprego,
esses ganhos explicam, em boa medida, o crescimento
de 1,4% registrado no consumo das famílias no segundo
trimestre do ano, considerando que tanto o consumo do
governo, que recuou -0,9%, quanto o investimento, com
um crescimento negativo de -0,7%, atuaram em sentido
contrário, não podendo, assim, o desempenho positivo
registrado para o PIB ser considerado como resultado de
uma política econômica consistente implementada para a
retomada do crescimento, podendo seus efeitos se
enfraquecerem tão logo terminados os efeitos do final do
ano.
O fato é que para ser recolocado nos trilhos do
crescimento, como o governo parece convicto de ter
conseguido, pelo menos na sua intenção de vender essa
imagem à população, é necessário que o ensaio de
recuperação deste ano chegue também aos
investimentos, o que parece estar longe de acontecer.
Tendo representando apenas 15,5% do PIB nos últimos
cálculos divulgados pelo IBGE, sua expansão esbarra não
somente na elevada capacidade ociosa da indústria
brasileira, cujo grau de utilização atingiu 77% em
setembro, mas também nas incertezas que devem
marcar o ano de 2018 sobre o futuro da economia e do
país, devido ao calendário eleitoral presidencial, assim
como no elevado “custo-Brasil”, cuja redução depende
de um conjunto de reformas que sequer foram cogitadas
pelo atual governo.
É bem verdade que existem algumas condições
favoráveis, na economia, para o seu ingresso numa
trajetória de maior crescimento. A baixa inflação de
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menos de 3% ao ano, assim como a mais reduzida taxa


nominal de juros da Selic, de 7,5%, juntamente com o
menor déficit em conta corrente de 0,5% do PIB e com o
elevado nível de reservas externas de US$ 381 bilhões,
são indicadores de que o mesmo poderia ser retomado
com bem menos restrições.
Contrariamente, no entanto, a encrenca fiscal em que o
país se encontra mergulhado, com elevados déficits
primários e uma relação dívida/PIB em torno de 75%,
que deve continuar em crescimento, assim como a
fraqueza da demanda interna, tanto das famílias quanto
do governo e das empresas, juntamente com as
incertezas no tocante às perspectivas de solução para
estes problemas e ao cenário político, constituem
garantia de que dificilmente o ensaio de recuperação
deste ano se traduzirá em crescimento mais robusto em
2018.

2. INFLAÇÃO
A análise da trajetória da inflação no Brasil será feita
com base em diferentes índices: o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional
de Preços ao Consumidor (INPC), medidos pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); o Índice
Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) e o
Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), produzidos
pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da
Fundação Getúlio Vargas (FGV); bem como o Índice de
Custo de Vida (ICV) e o custo da cesta básica, medidos
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE).
Neste boletim, será considerada a dinâmica inflacionária
entre os meses de janeiro e outubro de 2017,
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contrastada com aquela verificada no mesmo período de


2016. De modo geral, a tendência à desaceleração
inflacionária se manteve ao longo deste ano, e os
principais índices atingiram patamares bastante baixos,
inferiores ao centro da meta de inflação, de 4,5% (que
será reduzida a 4,25% em 2019, e a 4% em 2020).
Por exemplo, a inflação acumulada entre janeiro e
outubro de 2017, segundo o IPCA, foi de 2,21%, inferior
à registrada no mesmo período do ano anterior, de
5,64%. Com base nos dados apresentados na sequência,
será visto que o grupo Alimentos teve um peso decisivo
na determinação dessa trajetória, em grande medida em
função de uma safra agrícola particularmente boa.
Dentre os fatores que impediram uma redução da
inflação ainda maior, pode-se constatar os reajustes nos
preços dos produtos farmacêuticos e dos planos de
saúde, bem como a liberação de saques do FGTS e do
PIS/PASEP. Ademais, a despeito da elevação das tarifas
de energia elétrica, por conta do acionamento da
bandeira vermelha no mês de outubro de 2017, bem
como da expectativa de uma safra agrícola menor no
próximo ano, no curto prazo não parece haver uma
tendência a uma expressiva aceleração inflacionária.
Antes de esboçar uma análise mais propriamente
qualitativa desse fenômeno, cabe considerar o que
registram os referidos índices.

IPCA e INPC
Dentre os principais indicadores na mensuração da
inflação no Brasil ganha destaque o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
tendo por base a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
feita em 2008/9. O IPCA abrange as famílias nas áreas
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urbanas com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos,


seja qual for sua fonte de rendimento. Ele é a principal
referência para as diretrizes da política monetária
baseada em metas de inflação.

2.1 – Inflação calculada pelo IPCA (em %)

Fonte: IBGE

A inflação acumulada de janeiro a outubro de 2017,


segundo o IPCA, totalizou 1,78%, muito inferior aos
5,38% registrados no mesmo período do ano anterior.
Observando os grupos de mercadorias e serviços que
constituem esse índice, ainda comparando o acumulado
nos meses de janeiro a outubro de 2016 com o mesmo
período de 2017, a desaceleração verificada no ano de
2017 refletiu de forma mais intensa nos grupos
“Alimentação e Bebidas” que caiu de 8,44% para -
2,03%; “Despesas Pessoais”, passando de 6,26% para
3,46%; bem como no grupo “Saúde e Cuidados
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Pessoais”, que recuou de 9,48% para 5,59%, e


“Vestuário”, que foi de 2,97% para 1,92%. Já os grupos
de "Habitação" e "Comunicação" apresentaram
aceleração, respectivamente, de 3,12% para 5,29% e de
1% para 1,71%.
Outro indicador na mensuração da inflação pelo IBGE é o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC),
que difere do IPCA em sua abrangência, já que considera
as famílias com rendimentos mensais de 1 a 5 salários
mínimos.

2.2 – Inflação calculada pelo INPC (em %)

Fonte: IBGE

O acumulado nos dez primeiros meses de 2017 foi de


1,61%, e é menor quando comparado ao mesmo período
de 2016, de 6,19%. Dentre os grupos que compõem o
índice geral, os que apresentaram maior queda dos
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preços foram o de "Alimentos", "Saúde" e "Educação".


Apenas o grupo de Habitação apresentou aceleração, em
comparação com 2016.

IGP-DI e IGP-M
O Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) é o órgão da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) responsável pelo cálculo
do Índice Geral de Preços. Esse índice é muito
importante, pois separa os setores da economia e afere
quais áreas estão sendo mais afetadas pela inflação. O
Índice Nacional de Custo de Construção (INCC)
representa 10% do cálculo do IGP, e mede a variação de
preços na construção civil, tanto da mão de obra, como
dos materiais utilizados. O Índice de Preços ao
Consumidor (IPC) possui um peso de 30% do IGP e
mede a variação de preços dos produtos consumidos por
famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos, com base
na POF de 2008/9. O que tem maior influência é o Índice
de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com um peso de
60% no cálculo do IGP, e que mede a variação de preços
do mercado atacadista.
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-
DI) registra a inflação do primeiro ao último dia do mês
de referência. Esse índice é muito importante, pois mede
a inflação global da economia, dos produtos agrícolas
básicos, passando por todos os processos produtivos até
os bens e serviços finais.
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2.3 - Evolução do IGP-DI (em %)

2.0%

1.5%

1.0%

0.5%

0.0%

-0.5%

-1.0%

-1.5%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

2016 2017

Fonte: IBRE-FGV

Entre janeiro e outubro de 2017, o IGP-DI registrou uma


deflação de -1,94%, que contrasta fortemente com a
elevação de 6,24% ocorrida no mesmo período de 2016.
Já com o índice desagregado vê-se que o IPA-DI
acumulado no ano registrou uma queda de -4,57%, fator
decisivo para entender a deflação do índice global; no
mesmo período do ano anterior, o IPA-DI registrou uma
elevação de 6,57%. Com exceção dos "Bens
intermediários’’, todos os itens que compõe este índice
apresentaram variação negativa, com destaque para
"matérias-primas brutas" (-14,01%), no que tange aos
estágios da produção; para os "produtos agropecuários"
(-13,78%), e para os "produtos industriais" (-1,06%), no
que tange à origem dos produtos. O INCC-DI e o IPC-DI
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apresentaram pequena aceleração, mas em comparação


com o mesmo período do ano anterior apresentaram
redução. Para o IPC-DI o acumulado no ano de 2017
registrou 2,64% frente a 5,65% em 2016.
Os subgrupos registraram os seguintes acumulados:
"Alimentação" (-0,65%), "Habitação" (3,90%),
"Vestuário" (1,49%), "Saúde e cuidados pessoais"
(5,33%), "Educação" (5,43%), "Transportes" (3,0%),
"Despesas diversas" (3,53%) e "Comunicação" (1,78%).
Em relação ao INCC o período de janeiro a outubro de
2017 registrou um acumulado de 3,85%, frente a 5,59%
registrado em 2016.

2.4 – Variação do IGP-DI desagregado (em %)

1.5%
1.0%
0.5%
0.0%
-0.5%
-1.0%
-1.5%
-2.0%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

IPA-DI IPC-DI INCC-DI

Fonte: IBRE-FGV

A trajetória deflacionária do IGP-DI é condicionada por


múltiplos fatores e, de certa forma, dá continuidade ao
processo retratado no Boletim nº 56. Os meses de
agosto e setembro romperam a trajetória descendente e
apresentaram variações de 0,24% e 0,62%,
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respectivamente. Esse movimento ainda não representa


uma possível retomada inflacionária, dado outros
condicionantes, como, por exemplo, o cenário de crise da
economia brasileira, o ainda elevado nível de capacidade
ociosa e de desemprego, e uma dificuldade recuperação
de tomada de crédito por parte das empresas.
Os principais condicionantes da abrupta queda do IGP-DI
do ano de 2016 para o ano de 2017 foram o
arrefecimento dos preços dos alimentos e produtos
industrializados, muito por conta da recessão econômica
e da evolução da taxa de câmbio, que apresentou
relativa estabilidade em um patamar mais valorizado,
quando comparado ao verificado no ano anterior.

2.5 – Variação do IGP-M (em %)

2.0%
1.5%
1.0%
0.5%
0.0%
-0.5%
-1.0%
-1.5%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

2016 2017

Fonte: IBRE-FGV

Em relação ao Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-


M), ainda no período compreendido entre janeiro a
outubro de 2017 registrou-se variação de -1,91%. No
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mesmo período de 2016 o índice registou variação de


6,63%.

ICV e Cesta básica


Baseado em uma Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
realizada entre 1994 e 1995, e elaborado pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE), o Índice de Custo de Vida
(ICV) mede a variação do custo de vida das famílias com
renda de 1 a 30 salários mínimos do município de São
Paulo. Esse índice também diferencia três estratos de
renda, cada qual composto por um terço das famílias1.
A variação acumulada do ICV no período compreendido
entre janeiro e outubro de 2017 foi de 2,01%, inferior ao
mesmo período do ano anterior, que foi de 5,73%. Ainda
comparando ambos os períodos, observa-se que essa
diminuição do ICV se deve, sobretudo, à redução de
preços no grupo de "Alimentação" (de 8,72% para -
1,82%) e à forte desaceleração no grupo de "Despesas
Pessoais" (de 10,44% para 2,02%), de "Transporte" (de
4,17% para 0,47%), de "Recreação" (5,55% para
0,94%), de "Saúde" (5,28% para 4,59%), bem como a
deflação verificada no grupo de "Equipamentos
Domésticos" (0,34% para -3,83%). O único aumento no
período deu-se no grupo de "Habitação" (1,93% para
5,91%). Diga-se de passagem, entre setembro e outubro
de 2017 há um aumento significativo causado pelo
reajuste da energia elétrica (15,58%) e do gás de
botijão (9,99%), que conduziu a uma ligeira aceleração
da inflação.

1
O primeiro estrato é composto pelas famílias mais pobres, com renda média de R$
377,49; o segundo estrato possui uma renda média de R$ 934,17, e o terceiro
estrato reúne as famílias de maior poder aquisitivo, com renda média de R$
2.792,90.
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2.5. Variação do ICV (em %)

2.10%

1.60%

1.10%

0.60%

0.10%

-0.40%
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Var/2016 Var/2017

Fonte: DIEESE

Cabe destacar que no acumulado do ano, a inflação que


incidiu sobre as famílias mais pobres, que compõe o
estrato 1 de acordo com a metodologia do DIEESE,
atingiu 1,60%; no estrato 2, de renda intermediária, a
inflação atingiu 1,62%; já para o estrato 3, o índice foi
de 2,3%.
O DIEESE também disponibiliza os preços da Cesta
Básica Nacional com o objetivo de acompanhar seu
comportamento através de pesquisas mensais nas
capitais brasileiras. Considera-se que a Cesta Nacional
Básica é constituída por treze gêneros alimentícios,
porém a quantidade dos gêneros pode variar de acordo
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cada região. Os produtos que a compõem são: Arroz,


Açúcar, Banana, Batata, Café, Carne, Farinha, Feijão,
Leite, Manteiga, Óleo, Pão, Tomate.

2.6 - Variações mais expressivas da cesta básica anual

470

450

430

410

390

370

350

330

310

Porto Alegre Rio de Janeiro Vitória


Cuiabá Campo Grande Goiânia
Salvador

Fonte: DIEESE

A partir do mês de novembro de 2016 observa-se uma


tendência de decrescimento no custo da cesta básica. No
próprio mês de novembro o valor da cesta básica
abaixou em 25 capitais onde o DIEESE realizou a
pesquisa, e Vitória ocupou a quinta posição no valor mais
elevado da cesta R$ 438,852.

2
O acompanhamento do custo da cesta básica foi interrompido em Palmas, Rio
Branco e Teresina, em agosto de 2017. Já em setembro deste ano, ele deixou de ser
realizado em Macapá, Boa Vista e Porto Velho.
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Em outubro de 2017 as maiores quedas foram


observadas em Maceió (-2,52%), Manaus (-1,77%), e
vale ressaltar Goiânia, que apresentou a maior queda (-
2,79%). Em 12 meses, o valor da cesta apresentou
redução em todas as cidades pesquisadas. As taxas
negativas variaram entre 16,10%, em Cuiabá, e 6,53%,
em Porto Alegre. Segundo o levantamento feito pelo
DIEESE, a cesta mais cara no mês de outubro foi a de
Porto Alegre (R$ 446,87), e a cesta mais barata em
Salvador (R$ 318,31); já a de Vitória correspondeu a R$
393,71.
O DIEESE também calcula o salário mínimo necessário
para a manutenção mensal de uma família com quatro
pessoas, com base na realidade de São Paulo. Em
outubro 2016 o salário mínimo necessário para
manutenção de uma família de quatro pessoas deveria
equivaler a R$ 4.016,27, ou 4,56 vezes o salário mínimo
de R$ 880,00. Em 2017, o mínimo necessário
correspondeu a R$ 3.754,16, o que é equivalente a 4
vezes o salário mínimo atual, de R$ 937,00.
***
Depois da terrível experiência inflacionária que teve seu
auge nos primeiros anos da década de 1990 e do Plano
Real, que a debelou, tornou-se comum tratar a inflação
de modo maniqueísta e como fenômeno isolado, como se
fosse a fonte de todos os males econômicos, e como se
houvesse a possibilidade de compreendê-lo por si só,
sem considerar sua articulação com outros
determinantes conjunturais e estruturais da economia.
Assim, uma aceleração inflacionária logo provoca reações
virulentas, sendo tomada como sinônimo de
irresponsabilidade e incompetência dos governos, que
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 22

penalizaria fortemente as camadas mais pauperizadas da


população. Do mesmo modo, uma desaceleração
inflacionária é cantada em prosa e verso como prova dos
acertos governamentais e como indicativo de um futuro
luminoso para a economia.
A trajetória fortemente descendente da inflação no
último período tornou-se uma poderosa peça de
propaganda governamental. Resta saber se tal
desaceleração é realmente um indicador de um resultado
da ação estatal, no sentido da mobilização de um
conjunto de políticas econômicas consistentes, e também
se, dentro de um contexto mais amplo, essa trajetória
indica um quadro virtuoso, ou se existem aí elementos
problemáticos.
Destaca-se a seguir dois exemplos das tratativas
otimistas sobre a inflação atual, ambos de origem
governamental. Na abertura da edição de setembro de
2017 da Carta de Conjuntura do IPEA, lê-se que "ao
longo dos últimos meses, o processo de desinflação da
economia brasileira continuou a surpreender
positivamente". Além disso, que "a expectativa para o
restante do ano é de uma inflação bem comportada, em
patamar próximo a 3,5%". No entanto, esse tom
entusiástico contrasta com a explicação dessa trajetória:
"o aumento da oferta de alimentos e o baixo dinamismo
da demanda doméstica vêm possibilitando uma queda
contínua dos preços de bens e serviços livres".
Com base em um arcabouço analítico mais completo,
recente relatório de inflação do Banco Central, publicado
em setembro último, comemora uma "recuperação
gradual da atividade econômica", uma "situação robusta"
do balanço de pagamentos e um "ambiente com inflação
baixa". Dentre os fatores que explicariam essa
promissora situação, fala-se de uma expansão
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 23

significativa do consumo das famílias"; de um "aumento


da massa de rendimentos reais"; de um recuo da taxa de
desemprego; de um ambiente internacional favorável,
com a retomada do crescimento econômico em termos
globais; e de um aumento na confiança do
empresariado.
Não obstante, ao desenvolver essa análise, o mesmo
relatório apresenta informações que complexificam tal
diagnóstico: a) o crescimento do PIB brasileiro no
segundo semestre de 2017 foi de apenas 0,2% em
relação ao trimestre anterior, depois daquela que tem
sido considerada a pior recessão da história do país; b)
houve uma queda de 6,5% dos investimentos no
segundo semestre de 2017 em comparação com o
primeiro semestre do ano; c) a Formação Bruta de
Capital Fixo recuou 0,7% nesse período, acumulando
uma queda de 29,7% desde o terceiro trimestre de
2013; d) a balança comercial favoreceu o balanço de
pagamentos devido ao bom desempenho das
commodities exportadas pelo Brasil, mas também a um
forte "recuo nas importações de bens de capital"; e) o
Nível de Utilização da Capacidade Instalada da indústria
de transformação manteve-se relativamente estável, em
um patamar bastante elevado, registrando uma média
de 74,3% entre junho e agosto de 2017; f) o saldo das
operações de crédito do sistema financeiro diminuiu
0,3% no trimestre encerrado em julho".
Em suma, no limite, ambos os documentos dão conta de
que a redução das taxas de inflação decorre
fundamentalmente do péssimo desempenho da economia
brasileira, que apresenta um nível de atividade
baixíssimo num contexto de grandes constrangimentos
estruturais, expressos na dependência em relação à
produção de commodities e em pífios níveis de
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 24

investimentos produtivos, questões que serão objeto de


análise em outras sessões deste boletim.
Logo, a inflação não pode ser considerada de modo
independente de outras características da economia
brasileira, e tampouco tratada de modo binário; muito
mais do que um motivo para se comemorar, a recente
trajetória da inflação parece ser motivo de apreensão, e
indica a necessidade de mudanças estruturais na
economia brasileira, que não despontam no horizonte.

3. NÍVEL DE ATIVIDADE
PIB
A economia brasileira apresentou tênues sinais de
recuperação econômica no primeiro semestre de 2017,
permanecendo na trajetória de recessão iniciada em
meados de 2014. Essa recessão é considerada uma das
mais graves enfrentadas pelo país nos últimos anos.
Destaca-se o fato de que, no período de dois anos, a
atividade econômica despencou 7,2%, pior número
desde a década de 1930, de acordo com a série histórica
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para alguns analistas, a retomada do crescimento
econômico não poderá ser viabilizada por atalhos e
reformas emergenciais. O país, nesse sentido, terá um
árduo caminho a seguir no que tange a mitigação de
suas vulnerabilidades socioeconômicas com o intuito de
alçar um desenvolvimento econômico sustentado.
Apesar dos esforços governamentais implementados nos
últimos dois anos, no tocante a recuperação do
crescimento nacional, tais como as reformas em curso, a
conjuntura econômica não vem respondendo de forma
enérgica aos estímulos.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 25

O Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, obteve


variação nula na comparação do primeiro semestre de
2017 com igual período de 2016. Essa estagnação do
PIB, todavia, veio precedida de uma contração de 2,7%
observada no semestre encerrado em dezembro de
2016. Nessa base de comparação, o destaque fica para o
desempenho positivo da Agropecuária, com expansão de
15,0%, apresentando a maior variação entre os
subsetores do PIB. Já a Indústria e os Serviços caíram,
respectivamente, 1,6% e 1,0%.
Dentre as atividades industriais, a Extrativa mineral
cresceu 7,8%, seguida pela atividade de Eletricidade e
gás, água, esgoto e limpeza urbana com variação
positiva de 1,9%. Já a Construção Civil apresentou
retração de 6,6% e a Indústria de transformação, um
dos setores mais estratégicos para a dinamização da
economia, amargou uma redução de 1,0%, sendo que
ambos os setores apresentaram queda no primeiro
semestre do ano.
A agropecuária, por outro lado, apresentou significativa
expansão no primeiro semestre (15%), de acordo com
as Contas Nacionais do IBGE. Esse saldo positivo desse
subsetor viabilizou a variação nula do PIB, uma vez que
a maior parte dos demais subsetores que compõe o PIB
apresentaram ou resultados negativos ou resultados
positivos tênues, incapazes de contrabalancear as
demais quedas. Deve-se destacar, todavia, que a
agropecuária mostrou variação nula (0,0%) na
comparação do segundo trimestre com o primeiro
trimestre de 2017, mas também se elevou 14,9% na
comparação com segundo trimestre deste ano com o do
ano passado, evolução que se deve aos aumentos
verificados nas produções de soja (19,7%), milho
(56,1%), algodão (9,8%) e arroz (16,3%).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 26

Nos Serviços, apenas as Atividades imobiliárias, com


variação positiva de 0,1%, não apresentou resultado
negativo. A maior queda se deu em Intermediação
financeira e seguros (3,1%).

Tabela 3.1 - Brasil: Produto Interno Bruto variação em volume em relação ao


mesmo período do ano anterior – (%)

Setor de
2016.II 2016.IV 2017.I 2017.II
Atividade

Agropecuária 84.464 52.871 93.402 82.444

Indústria 287.320 298.643 291.051 298.660

Serviços 975.698 1.058.919 996.362 1.041.658


Valor adicionado
preços básicos 1.347.481 1.410.433 1.380.814 1.422.761
Impostos líquidos
sobre produtos 210.241 220.161 213.648 216.549
PIB a preços de
mercado 1.557.722 1.630.594 1.594.462 1.639.311
Despesa consumo
das famílias 985.004 1.042.210 1.003.618 1.023.279
Despesa consumo
(Adm. Pub) 308.973 369.297 307.636 336.058
Formação bruta de
capital fixo 260.049 254.786 248.569 253.869
Exportação
bens/serviços 208.412 185.014 192.516 216.497
Importação
bens/serviços(-) 193.256 184.451 180.263 180.378
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.

Na análise da demanda interna, considerando a


comparação semestral com igual período do ano
anterior, destaca-se a queda de 5,1% da Formação Bruta
de Capital Fixo. A Despesa de Consumo das Famílias caiu
0,6%. O que chama a atenção nesse momento de
recessão é o recuo acentuado desses dois componentes
da demanda que são os principais motores do
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 27

crescimento. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF),


que se caracteriza por ser um indicador de crescimento
sólido da economia, recuou pelo terceiro ano seguido,
afetada pela queda da produção interna e da importação
de bens de capital, como máquinas e equipamentos.

A taxa de investimento do país recuou para 16,4%,


abaixo do nível de 2015 (18,1%) e o menor número
desde 1996. Para alçar taxas de crescimento mais
vigorosas, o patamar desejável, segundo analistas, seria
de cerca de 20%.

Já o componente Despesa com Consumo das Famílias


vinha apresentando uma trajetória de declínio, com
retração de 1,9% nos últimos quatro trimestres em
relação ao mesmo período do ano anterior. Essa queda
de 0,6% na comparação semestral ocorreu, dentre
outros fatores, devido às taxas de juros ainda altas,
apesar do ciclo de cortes da Selic. A restrição ao crédito
é um dos fatores que também contribuiu para esse
declínio. Além disso, o que mais impactou negativamente
foi a queda da renda e o aumento do desemprego.

Deve-se levar em consideração que o consumo das


famílias foi um dos principais catalisadores do
crescimento nos últimos anos, subsidiado pela redução
dos impostos como IPI para automóveis e para a linha
branca de eletrodomésticos. Os saques ao FGTS
disponibilizados pelo governo do presidente Michel Temer
este ano, por sua vez, não se mostraram suficientes para
reaquecer o consumo interno.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 28

Gráfico 3.1 - PIB - Taxa de variação do semestre contra igual semestre do


ano anterior

4 3.4
2.7 1º semestre 2º semestre
3

2 1.5

1
0
0
2013 2014 2015 2016 2017
-1 -0.5

-2

-3 -2.4
-2.7
-4

-5 -4.5
-5.1
-6

Fonte: Contas Nacionais Trimestrais – IBGE – Elaboração própria.

Numa abordagem keynesiana, em cenários econômicos


recessivos como esse que o país enfrenta, deveriam ser
utilizadas políticas de estímulo ao investimento (FBKF) e
ao consumo das famílias. Desse ponto de vista o governo
seria o único agente econômico capaz de ativar a
demanda agregada. Entretanto, essa não é a visão que
orienta a atuação do governo desde 2014. O componente
que mensura o gasto do governo chamado Despesa de
Consumo do Governo, que inclui as esferas municipais,
estaduais e federal, apresentou recuo de 1,9% no
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 29

segundo semestre de 2017 comparado com o mesmo


período do ano anterior. Além do mais, a EC 95, que
limita os gastos públicos, reflete uma politica fiscal num
sentido oposto desse.

No que se refere ao setor externo, entretanto, os


indicadores tiveram resultado positivo, as Importações
de Bens e Serviços apresentaram uma expansão de
2,9%, enquanto que as Exportações de Bens e Serviços
cresceram 2,2%.

Indústria
A indústria brasileira vem apresentando pequenos sinais
de recuperação, em meio à recessão que se abateu
sobre a economia do país desde 2015. Se, no acumulado
do primeiro semestre do ano, de janeiro a julho de 2017,
a produção física industrial havia crescido 0,8%, no
acumulado até agosto essa taxa de crescimento passou
para 1,5%, até setembro, para 1,6%, e no acumulado
dos dez primeiros meses do ano, ou seja, até outubro, o
acréscimo do volume produzido pelo setor atingiu 1,9%,
todas as comparações levando-se em conta iguais
períodos de 2016.

No entanto, tais resultados devem ser analisados com


extremo cuidado, levando-se em conta a baixíssima base
de comparação, ou seja, o ano de 2016. Nele houve uma
queda de 7,4% na produção industrial no acumulado de
janeiro a outubro. Assim, pequenas melhoras hoje, como
as mencionadas, devem ser relativizadas, pois se trata
de tímidos passos rumo a uma longa trajetória de
recuperação ainda por trilhar.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 30

Na pesquisa mensal da indústria por produção física,


referente ao mês de outubro de 2017 e divulgada pelo
IBGE, setores importantes da atividade industrial, como
bens de consumo duráveis e bens de capital,
apresentaram taxas de crescimento da ordem de 11,4%
e 5,6% no acumulado do ano quando comparado com
igual período de 2016. Destaque para a produção de
veículos automotores, reboques e carrocerias, que
registrou a segunda taxa positiva consecutiva no ano,
acumulando alta de 1,1% nos dez primeiros meses.
As principais baixas no acumulado do ano até outubro
ficaram por conta da produção de Coque, derivados de
petróleo e biocombustíveis, com queda de 0,7%,
produtos Farmoquímicos e famacêuticos (-0,2%), e
outras pequenas quedas na produção de alimentos,
bebidas, outros equipamentos de transporte e máquinas
aparelhos e materiais elétricos.
No resultado positivo da indústria de bens de capital o
destaque ficou por conta da produção de equipamentos
de transporte industrial e caminhões, ambos crescendo
acima de 5% no acumulado do ano até outubro, quando
comparado com igual período do ano anterior.
Importante frisar a grande força do mercado externo
puxando positivamente os números desses subsetores,
mas também de uma contribuição mercado interno,
porém de menor monta.
Na Tabela 3.1, tem-se o quantum da produção física da
indústria brasileira por grandes categorias econômicas e
pode-se observar que a indústria geral aponta para um
pequeno crescimento da ordem de 1,5% quando
comparados os resultados do acumulado dos últimos
doze meses com igual período anterior.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 31

Tabela 3.2 - Produção Física (quantum) da Indústria-Grandes Categorias


Econômicas Outubro/2017

Grandes Categorias Variação (%)


Econômicas
Out 17 Out 17 Acumulado
/Set 17 /Out 16
No Ano 12
meses

Bens de Capital 1,1 14,9 5,6 6,0

Bens Intermediários -0,8 3,1 0,9 0,7

Bens de Consumo 1,0 7,2 2,9 2,1

Duráveis -2,0 17,6 12,4 11,4

Semiduráveis e Não 2,0 4,9 0,7 0,0


Duráveis

Indústria Geral 0,2 5,3 1,9 1,5

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria


(*) Série com ajuste sazonal

Comércio
O comércio varejista brasileiro apresentou, de acordo
com o IBGE, no acumulado do ano de janeiro a julho de
2017, um crescimento de 0,3%, sendo esse o primeiro
índice positivo desde janeiro de 2015. Tal resultado dá
continuidade a uma diminuição no nível de quedas, o que
talvez retrate o início de uma lenta retomada na
economia.
Esses números foram impulsionados, principalmente,
pelos subsetores de tecidos, vestuário e calçados e de
móveis e eletrodomésticos, que demonstraram um
crescimento de 7,1% e 6,8%, respectivamente.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 32

Em relação ao acumulado de 12 meses, julho de 2016 a


julho de 2017, o índice ainda é negativo em 2,3%.
Entretanto, apesar de todos os subsetores novamente
apresentarem taxas negativas, há uma tendência de
crescimento, especialmente, quando se avalia os
mesmos subsetores que tiveram resultados positivos no
acumulado do ano. Quando comparado aos meses
imediatamente anteriores, é perceptível que o ritmo de
quedas vem reduzindo, sendo esse o melhor resultado
desde setembro de 2015.
Analisando o comércio varejista ampliado, no acumulado
do ano de janeiro a julho deste ano, observa-se também
um avanço positivo, de 1,1%, mostrando uma
continuidade no crescimento, iniciado em junho, quando
apresentaram os primeiros índices positivos do ano.
Apesar de o subsetor veículos, motocicletas, partes e
peças ter caído 2,6%, o subsetor de material de
construção, que apresentou um crescimento da ordem
de 5,6%, conseguiu aumentar o índice geral.
Já no acumulado de 12 meses, o comércio varejista
ampliado ainda apresentou queda, de 2,8%. No entanto,
é a menor queda desde janeiro de 2015. Avalia-se
também o fato de que, no acumulado de 12 meses,
ainda há influência negativa dos dados de 2016.
A mídia otimista avalia os bons resultados do acumulado
do ano como um sinal de retomada sustentada do
crescimento da economia. Além disso, apontam
influências positivas como a liberação de parcelas do
FGTS e o crescimento da massa real de rendimentos,
divulgado pelo IBGE. Tais fatores podem ter estimulado
as vendas no varejo, principalmente dos subsetores que
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 33

mais dependem dos trabalhadores assalariados, como


tecidos, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos
e artigos de uso pessoal e doméstico. Ainda, a queda da
inflação e a baixa da taxa de juros também são
apontadas como motivos para a melhoria do comércio.
Quando se avalia, separadamente, o comércio de
eletrodomésticos, que, no acumulado do ano, teve um
crescimento bastante expressivo, 7,2%, apontam-se
motivos diversos. Relacionam-se à queda nos preços do
eletroportáteis, que substituem alguns equipamentos de
maior valor, e ao desligamento do sinal analógico de TV,
iniciado em 2016, que estimulou a compra de
televisores.
Observando o volume de vendas por região, no sudeste,
Minas Gerais foi o único estado a apresentar, no
acumulado do ano, índice positivo, 3,8%. No nordeste,
apenas três unidades federativas obtiveram alta,
Maranhão, 2,4%, Pernambuco, 3,9%, e Alagoas, 7,5%.
Nas regiões norte e centro-oeste, somente Amapá,
Amazonas e Mato Grosso apontaram resultados
positivos, 2,7%, 5,5% e 2,1%, respectivamente. Já na
região sul, todos os estados apresentaram índices
positivos, com destaque para Santa Catarina, que
mostrou um crescimento de 13,1%.
A receita nominal do comércio, no acumulado do ano e
dos 12 meses, também cresceu em relação ao mesmo
período do ano anterior, 1,8% e 2,8%, respectivamente.
No entanto, comparando-se aos resultados anteriores,
há uma redução no crescimento das receitas, que pode
estar atrelado a uma queda real no nível de preços.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 34

Segundo o IBGE, a utilização dos resultados de 2014


como base de comparação, um ano atípico para o país e
a para a economia em geral, pode influenciar os
resultados gerais.

Tabela 3.3 – Taxa de Variação no volume de vendas para as principais


atividades – Brasil (variação real relação ao mesmo período do ano anterior)

Atividades Julho/17/ Acum Acum. 12


Julho/16 ano meses

Comércio varejista 3,1 0,3 -2,3

Combustíveis e lubrificantes -0,9 -3,1 -5,4

Hipermercados, supermercados, 0,3 -0,5 -1,7


produtos alimentícios, bebidas e fumo

Hipermercados e supermercados 0,2 -0,3 -1,5

Tecidos, vestuário e calçados 15,5 7,1 -1,2

Móveis e eletrodomésticos 12,7 6,8 -1,2

Móveis 6,1 -10,1 -10,8

Eletrodomésticos 14,8 7,2 -0,8

Artigos farmacêuticos, médicos, 2,4 -0,4 -2,2


ortopédicos, de perfumaria e
cosméticos

Livros, jornais, revistas e papelaria 0,2 -3,3 -8,1

Equipamento e material para 11,6 -0,6 -3,6


escritório, informática e computação

Outros artigos de uso pessoal e 4,0 -0,2 -3,0


doméstico

Comércio varejista ampliado 5,7 1,1 -2,8

Veículos, motocicletas, partes e peças 6,5 -2,9 7,3

Material de construção 11,0 5,6 -0,2


Fonte: IBGE - Pesquisa Mensal do Comércio (PMC)
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 35

Economia Capixaba
A reação positiva esboçada pela economia capixaba,
desde o primeiro trimestre de 2017, após quatro
trimestres consecutivos de resultados negativos, parece
ter permanecido. No segundo trimestre de 2017, o PIB
do Espírito Santo obteve resultados positivos em três das
quatro medidas de desempenho, a saber: 1,4% frente ao
mesmo trimestre de 2016, 3,1% na comparação com o
trimestre imediatamente anterior e 1,6% no acumulado
do ano. Os dados foram publicados pelo Instituto Jones
dos Santos Neves (IJSN).

Gráfico 3.2 - Indicador do PIB Trimestral do Espírito Santo

5.0 3.9
3.1
1.9 2.3
1.4 1.6 1.4 1.6
0.0 0.0
0.0
-0.5
-1.1 -1.5
-1.9 -1.7
-5.0 -3.3
-3.9

-6.7 -6.9

-10.0
-9.6

-13.1 -12.2
-15.0 -13.2 -13.8 -13.5 -13.9
-14.5

-20.0
2015.II 2015.III 2015.IV 2016.I 2016.II 2016.III 2016.IV 2017.I 2017.II
Trimestre / mesmo trimestre do ano anterior
Acummulado no ano

Fonte: Coordenação de Estudos Econômicos – CEE/IJSN. Elaboração própria.


Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 36

Apesar de uma melhora do desempenho da economia


capixaba, os resultados devem ser encarados com
cautela, uma vez que, são obtidos a partir de uma base
de comparação deprimida. O único resultado negativo
foi registrado no confronto do acumulado em quatro
trimestres contra os quatro trimestres anteriores.
Em 2017, a economia do Espírito Santo cresceu 1,6%. O
resultado foi influenciado, em parte, pela boa
performance da indústria, em especial, a indústria
extrativa, que teve aumento de 6,9% na produção. A
indústria de transformação cresceu 2,1%. O comércio,
por sua vez, apresentou queda significativa de 7,7%, no
varejo restrito, enquanto o varejo ampliado se manteve
estável com variação de 0,2%.
As projeções do Levantamento Sistemático da Produção
Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram que, das dez principais
culturas do estado, apenas duas apresentaram variação
negativa, em relação à produção apurada em 2016. A
pesquisa realiza previsão mensal da produção agrícola
para o ano corrente.
A LSPA estima que a produção de café Conilon, em 2017,
crescerá 18,3%. Os produtores estão investindo na
recuperação das lavouras, após o Estado ter enfrentado
condições climáticas adversas, incentivados pelos preços
elevados das sacas. O Espírito Santo é o maior produtor
da variedade. A produção capixaba corresponde a 57,7%
da produção nacional e pode chegar a equivaler 37,6%
da produção agrícola do estado.
Segundo a mesma fonte a safra de café Arábica deve
cair 14,6%, em 2017. Isso deve ocorrer em
consequência da bienalidade, que causa alterações na
produtividade das lavouras de café Arábica. Tal
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 37

característica faz com que em um ano a lavoura produza


muito, esgote sua capacidade produtiva e produza
menos no ano subsequente. Estima-se que o café
Arábica poderá representar 19,5% do total da produção
agrícola do Espírito Santo. O estado é o terceiro maior
produtor do país.
Outro produto agrícola que se destaca nas previsões de
produção para este ano da LSPA é a pimenta-do-reino.
Espera-se que, em 2017, a produção dessa cultura tenha
a expressiva variação de 190,9%. Isso em virtude da
alta dos preços da especiaria, que fez com que
produtores optassem pelo plantio da pimenta-do-reino, e
também em função da produção baixa em 2016 devido à
estiagem que assolou o Estado.
No que concerne ao comércio exterior capixaba, no
acumulado do ano de 2017, as exportações exibiram
incremento de 25,8%, ao passo que as importações
cresceram 14,1%, elevando a corrente de comércio do
Estado em 21,9%. Tais resultados positivos denotam a
reação do comércio exterior capixaba frente à frenagem
da piora da economia brasileira e a um cenário mais
favorável da economia global.
Embora a recuperação não seja completa, em
decorrência do crescimento baixo de regiões menos
desenvolvidas, a economia mundial cresce em ritmo
mais acelerado do que em anos anteriores. Estados
Unidos, China e União Europeia, que estão inseridos no
rol de principais destinos das exportações capixabas,
vêm apresentando crescimento estável.
Insta salientar que a melhora dos resultados do comércio
exterior também pode estar associada às fortes perdas
notadas neste setor em 2016, sendo o crescimento visto
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 38

agora uma consequência de uma base de comparação


baixa.

Indústria Capixaba
De acordo com dados da Pesquisa Industrial Mensal
Produção Física – Regional (PIM-PF) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
acumulado nos nove primeiros meses de 2017, a
indústria capixaba apresentou um crescimento de 3,0%,
frente a igual período de 2016, com destaque para a
indústria extrativa, que exibiu expansão de 3,8% e para
produção de alimentos, com o expressivo aumento de
12,6%.

Tabela 3.4 - Produção física industrial por tipo de índice e seções e


atividades industriais (Variação % acumulada em relação à igual período do
ano anterior)
Set/17- Acumulado Acumulado
Seções e atividades industriais / Mês
Set/16 no ano 12 meses
1.Indústria geral 2,6 1,6 0,4
2.Indústria extrativa -2,2 6,1 4,6
Brasil
3.Indústria de 0,9
2,6 -0,2
transformação
1.Indústria geral 2,7 3,0 0,4
2.Indústria extrativa -3,6 3,8 -0,7
Espírito Santo
3.Indústria de 2,2
-1,9 1,4
transformação
Fonte: IBGE / Sidra – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF)

Segundo o relatório metodológico das Contas Nacionais


Trimestrais do IBGE, entende-se por indústria extrativa a
extração de carvão mineral e de minerais não metálicos,
extração de petróleo e gás (inclusive atividades de
apoio), extração de minério de ferro (inclusive
beneficiamentos e a aglomeração), extração de minerais
metálicos não ferrosos (inclusive beneficiamentos).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 39

Destaca-se que tal crescimento da indústria extrativa foi


puxado, principalmente, pelos itens de minério de ferro
pelotizado. Isso coincide com recorde de produção para o
segundo trimestre das plantas de pelotização de Tubarão
– Tubarão 3, 4, 5, 6, 7 e 8 – que juntas produziram
7.748 mil toneladas, correspondendo a uma produção
3,1% maior em relação ao trimestre anterior e 16,4%
maior do que no mesmo trimestre de 2016. A produção
foi impulsionada principalmente pela melhor
disponibilidade e performance da planta Tubarão 8.
Embora tenha sofrido ligeira queda (0,9%), a produção
de pelotas do sistema sudeste, no terceiro trimestre de
2017 (7.700 mil toneladas), permaneceu em linha com a
do segundo trimestre deste ano.
Não obstante as usinas de aço chinesas estejam se
preparando para cortes de produção durante o inverno,
segundo dados alfandegários, em setembro de 2017 as
importações chinesas de minério de ferro cresceram
11% ante setembro de 2016. Segundo dados da
Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (SECEX/MDIC), o
minério de ferro aglomerado por processo de pelotização
foi o produto capixaba mais exportado, em setembro e
outubro, com participações de 24,9% e 25,07%
respectivamente, no total das exportações do Estado.
A fabricação de produtos alimentícios também
apresentou resultado bastante relevante (crescimento de
12,6%) em decorrência do aumento da produção de
carnes bovinas frescas ou refrigeradas, açúcar cristal e
massas alimentícias. No que refere à carne bovina,
apesar da Operação Carne Fraca do governo federal, a
exportação da carne brasileira parece ter sobrevivido.
Isso após a suspensão da importação do produto por
inúmeros países, em virtude da deflagração dessa
iniciativa.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 40

Papel e produtos de papel e Metalurgia também


obtiveram resultados positivos. O primeiro cresceu 2,5%,
enquanto o segundo expandiu 0,3%. O destaque
negativo ficou por conta de produtos minerais não
metálicos, que retraiu 4,2%.

Comércio Capixaba
No acumulado dos nove primeiros meses de 2017, o
comércio capixaba sofreu retração de 3,6% no volume
de vendas, segundo dados da Pesquisa Mensal do
Comércio, realizada pelo IBGE. Por outro lado, neste
mesmo período, o comércio varejista ampliado, que
inclui além dos setores do comércio varejista, Veículos,
motocicletas partes e peças e Materiais de construção,
apresentou variação positiva de 4,5%.

Tabela 3.5 – Volume de vendas no varejo por atividade – Espírito Santo


(variação real% em relação ao mesmo período do ano anterior)
Set/17- Acumulado Acumulado
Atividades Set/16 no ano 12 Meses
Comércio Varejista 8,7 -3,6 -5,0
Combustíveis e Lubrificantes -4,7 -9,5 -11,6
Hiper., Super., Alim., Beb. E
Fumo -2,7 -12,1 -9,3
Supermercados e Hipermercados -1,1 -10,8 -8,4
Tecidos, vestuário e calçados 24,6 13,5 3,2
14,4
Móveis e eletrodomésticos 51,5 3,0
Móveis 97,2 35,0 19,7
Eletrodomésticos 25,5 -7,3 -13,2
Artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e 21,4 9,3 7,0
cosméticos
Outros artigos de uso pessoal e
doméstico 3,3 -4,6 -2,9
Comércio Varejista Ampliado 15,6 4,5 0,1
Veículos, motos, partes e peças 33,8 26,1 14,4
Material de Construção 11,7 -24,5 -20,6
Fonte: Sidra – Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 41

Apesar de ser negativo, o resultado do volume de vendas


demonstra uma tendência de recuperação (em julho o
indicador acumulado do ano apresentou recuo de 5,0% e
em junho, retração 6,2%). Essa suavização das perdas
pode ser efeito dos primeiros sinais de estancamento do
declínio da economia, com queda nos níveis de
desemprego e a atividade econômica apresentando
alguma recuperação. Vale destacar a contribuição da
liberação dos recursos das contas inativas do FGTS e a
desinflação para a melhoria desses resultados. Já a
receita nominal apresentou aumento de 2,8%, no varejo
ampliado e queda de 3,4% no varejo restrito.
O segmento Móveis e eletrodomésticos obteve melhor
desempenho no acumulado de 2017, com crescimento
de 14,4%. Esse crescimento foi puxado pelo aumento de
35,0% no volume de vendas de móveis no estado.
Tecidos, vestuários e calçados (13,5%) e Equipamentos
e materiais para escritório, informática e comunicação
(20,4%) também tiveram bons resultados.
No acumulado durante os nove meses de 2017 também
se destacou o segmento Artigos farmacêuticos, médicos
e ortopédicos, de perfumaria e cosméticos com expansão
de 9,3%. O comércio varejista farmacêutico tem
apresentado um desenvolvimento acelerado, no estado e
em âmbito nacional.
Na contramão dos resultados positivos estão
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo, com retração de 12,1% e Combustíveis
e lubrificantes, retraindo 9,5%. No que diz respeito ao
comércio varejista ampliado, nota-se crescimento de
26,1% em Veículos, motocicletas, partes e peças, ao
passo que Material de construção recuou 24,5%.
3. NÍVEL DE ATIVIDADE
. INFLAÇÃO
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 42

4. EMPREGO E SALÁRIOS
Introdução
Como indicado no último Boletim Conjuntura no 56, de
julho 2017, a reforma trabalhista aprovada no Brasil, no
contexto de um mercado de trabalho em que ao menos
40% da população ocupada é composta de trabalhadores
informais, faz parte de um conjunto amplo de reformas
flexibilizadoras no mundo e que tem como um dos
objetivos a tentativa de reanimar o sistema econômico
em crise. Os cortes nos direitos sociais e do trabalho,
conquistados historicamente, recairão, como não é
novidade, sobre a classe trabalhadora.
Porém, algo mais deve ser levado em consideração com
estas mudanças atuais: a dicotomia entre trabalho
formal e informal ficará ainda mais indistinguível, se é
que algum dia foi distinguível, portanto, complexa, em
que pese suas particularidades e características.
Refere-se, por exemplo, aos vários contratos de curto-
prazo, intermitentes, parciais, temporários - alguns
desses já aprovados em anos anteriores -, em que
alguns são por tempo determinado, sem garantias de
qualquer proteção social, como no caso do intermitente.
Tais contratos poderão ser considerados como formais
segundo a visão legalista que é predominante. Em outras
palavras, eles atenderão aos requisitos legais, instituídos
pelas mudanças flexibilizadoras antigas e recentes. Isso
implica que trabalhos altamente degradados, precários,
estarão engrossando ainda mais as estatísticas oficiais,
formais, do mercado de trabalho.
Assim, a visão setorialista sobre formalidade e
informalidade adquire novos contornos na atualidade,
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 43

diminuindo ainda mais a ideia de que a relação formal de


trabalho, o “ser fichado” na linguagem corrente do
trabalhador, representar garantia efetiva e duradoura de
proteção social. Não, definitivamente não, sobretudo no
bastião atual do negociado prevalecendo sobre o
legislado. O quantitativo das diversas estatísticas oficiais
poderá até ser melhorado, funcionando como ferramenta
ideológica de defesa desses princípios, mas o qualitativo,
certamente não. O mundo do trabalho dos ”informais
que são formais” tende a se reproduzir ainda mais daqui
para frente.

IBGE – PNAD CONTÍNUA


Calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) contínua é um cálculo realizado a
partir de duas bases: fixa e normal. A divulgação dos
dados é feita mensalmente pela normal, que levanta os
dados da média do mês da pesquisa e dos dois
imediatamente anteriores, e trimestralmente pela média
fixa, que analisa os quatro trimestres fixos (janeiro a
março, abril a junho, julho a setembro e outubro a
dezembro) e que, portanto, só é disponibilizada quatro
vezes por ano. A análise deste Boletim se concentrará
nos resultados do ano de 2017, em comparação aos
anos de 2016 e 2015.
É possível identificar, pelo Gráfico 4.1, um aumento
significativo do desemprego no país desde 2015, saindo
de 7,9% no primeiro trimestre de 2015 para 13,7% no
mesmo período em 2017, uma elevação de expressivos
5,8 pontos percentuais. Porém, em 2017, nota-se uma
tendência de redução da diferença desse indicador,
atingindo 12,4%, no terceiro trimestre, índice menor
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 44

mas ainda assim superior aos demais indicadores de


igual período nos anos anteriores.

Gráfico 4.1: Evolução do índice de desemprego – PNAD (%)

Fonte: IBGE – PNAD Contínua. Elaboração própria.

Como indicado em boletins anteriores, as maiores taxas


de desemprego em 2015 e 2016 foram puxadas
principalmente pela diminuição no emprego com carteira
assinada no setor privado, que é a categoria mais
relevante dentre as que o IBGE divide a pesquisa.
Adicionalmente, por um mercado enfraquecido nas
contratações de setores como Construção civil, Indústria,
Comércio, Serviços e Agropecuária. No primeiro
trimestre de 2016 foram registrados 34,6 milhões de
desempregados e, em 2017, 33,4 milhões; no terceiro
trimestre de 2016 existiam 34,1 milhões de
desempregados e, no mesmo período em 2017, 33,3
milhões.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 45

Já refletindo o aumento de postos de trabalho informais,


a categoria dos trabalhadores sem carteira assinada
apresentou um significativo acréscimo, pois no primeiro
trimestre de 2016 e 2017 o total saiu de 9,7 milhões
para 10,2 milhões, respectivamente. Este crescimento
está relacionado principalmente aos pequenos comércios
ou prestação de serviços, representando o quadro de
informalidade no país, sendo também reflexo da falta de
políticas eficazes para geração de trabalho, além de
conviver com a precarização no mercado de trabalho no
Brasil.
Para o Estado do Espírito Santo (Gráfico 4.2) a situação
não é diferente. Ela sinaliza tendências semelhantes ao
do cenário nacional, com taxas crescentes ao longo de
2016 e primeiro trimestre de 2017, com redução no
segundo e terceiro trimestres do ano corrente. Mesmo
com esta recente diminuição, as taxas de desemprego
em 2017 permaneceram elevadas, ao redor de 13%.
Como na situação nacional, esta redução está
diretamente relacionada ao aumento no trabalho
informal que, mesmo sendo heterogêneo, possui, para a
ampla maioria dos trabalhadores, características
precárias.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 46

Gráfico 4.2: Evolução do índice de desemprego - Espírito Santo - PNAD (%)

Fonte: IBGE – PNAD Contínua. Elaboração própria.

A elevação na taxa de desemprego capixaba ocorreu,


principalmente, nos setores da Indústria Geral,
Construção, Comércio, Serviços, exatamente por serem
subsetores de elevada importância na geração de
emprego e renda no estado do Espírito Santo.

DIEESE - PED
Na análise dos dados da Pesquisa de Emprego e
Desemprego (PED), as taxas de desemprego
permaneceram com tendência de aumento até julho de
2017, com certa redução até setembro corrente. As
regiões avaliadas foram as de São Paulo, Distrito
Federal, Porto Alegre e Salvador, caracterizando uma
PEA de aproximadamente 17 milhões de trabalhadores.
O índice médio de desemprego destas regiões avaliadas
se manteve alto em todo o primeiro semestre de 2017,
mantendo a mesma tendência nos três primeiros meses
do segundo semestre.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 47

O último dado publicado apresentou uma taxa de


desemprego da ordem de 17,63%, ante a taxa
registrada de 17,7% em agosto de 2017. É importante
destacar que a taxa de desemprego avaliada pelo
DIEESE contempla o desemprego oculto (pelo trabalho
precário e pelo desalento), ampliando sua abrangência
metodológica. Há destaque para a região metropolitana
de Salvador, cujo desemprego chegou a atingir a taxa de
23,7% no mês de setembro, índice composto por 16,7%
de trabalhadores em situação de desemprego aberto
mais 7% em desemprego oculto. Esse fato é um
importante ponto para analisar a dificuldade da
população em encontrar emprego fixo e a necessidade
de recorrer aos trabalhos esporádicos para a obtenção de
alguma renda.
A taxa de desemprego em Salvador é a mais alta dentre
as regiões avaliadas tanto para o desemprego aberto
quanto para o oculto. Já no Distrito Federal, a taxa de
desemprego foi de 17,8% (3,3% de desemprego oculto).
Em contraposição, a taxa registrada em Porto Alegre foi
a mais baixa entre as regiões avaliadas, totalizando
10,3%, número que também não deixa de ser elevado.
A região metropolitana de São Paulo, importante centro
industrial e polo financeiro do país, acompanha a mesma
tendência nacional com taxa de desemprego de 17,8%,
evidenciando a estagnação da economia brasileira. Estes
dados indicam que há poucos indícios de investimentos
por parte do setor privado e a permanência desses altos
índices é reflexo da baixa criação de postos de trabalho.
Isso também evidencia a desconfiança dos empresários
com o cenário político e econômico nacional, apesar das
constantes afirmações do governo Temer sobre o fim da
crise no país.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 48

Gráfico 4.3: Taxa de desemprego – PED (%)

20.00%

18.00%

16.00%

14.00%

12.00%

10.00%

8.00%

6.00%

4.00%

2.00%

0.00%
Feb.16

Apr.16

Okt.16
Nov.16
Dez.16

Feb.17

Apr.17
Mär.16

Mär.17

Sep.17
Sep.16
Aug.16

Aug.17
Jän.16

Mai.16
Jun.16

Jän.17

Mai.17
Jun.17
Jul.16

Jul.17
Fonte: DIEESE – PED. Elaboração própria.

A pesquisa sobre o valor do salário mínimo necessário


para uma família de quatro pessoas, sendo dois adultos
e duas crianças aponta um salário de R$ 3.754,16 para o
mês de outubro, uma alta de 2,33% em relação aos mês
de setembro, que foi de R$ 3.668,55. É importante
ressaltar a disparidade entre o valor do salário mínimo
necessário e o valor salário mínimo oficial, sendo o
primeiro quatro vezes maior que o salário mínimo
vigente, que é de R$ 937,00.

CAGED - MTE
A análise dos dados referentes aos três primeiros
trimestres, tanto de 2016, quanto de 2017, mostrou, no
acumulado, um saldo negativo de 549.613 postos de
trabalho. Enquanto todos os trimestres de 2016
apresentaram saldos negativos, nos de 2017 observa-se
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 49

saldos positivos no segundo e terceiro trimestres,


restando saber se são sinais de retomada sustentável ou
não. De toda forma, o número de contratações
temporárias de final de ano pode ajudar a manter estes
saldos positivos. Como indicado na introdução, a
observação que se faz é essa: trabalhos temporários que
não são garantia de trabalho por duração indeterminada,
significando, mesmo na formalidade, um tipo de trabalho
instável e sem durabilidade.

Tabela 4.1: Brasil – Evolução do emprego formal por setor de atividade


econômica
Ind. Constr. Total
Transf. Civil Com Serviços Agropec. Outros¹ Setores
jan/16 -16.553 -2.588 -69.750 -17.159 8.729 -2.373 -99.694
-
fev/16 -26.187 -17.152 -55.520 -9.189 -3.661 7.127 104.582
-
mar/16 -24.856 -24.184 -41.978 -18.654 -12.131 3.027 118.776
abr/16 -15.982 -16.036 -30.507 -9.937 8.051 14.827 -49.584
mai/16 -21.162 -28.740 -28.885 -36.960 43.117 13.840 -58.790
jun/16 -31.102 -28.149 -26.787 -42.678 38.630 -946 -91.032
jul/16 -13.298 -27.718 -16.286 -40.140 4.253 -1.535 -94.724
ago/16 6.294 -22.113 888 -3.014 -15.436 -572 -33.953
set/16 9.346 -27.592 3.939 -15.145 -8.175 -1.655 -39.282
jan/17 17.501 -775 -60.075 -9.525 10.663 1.347 -40.864
fev/17 3.949 -12.857 -21.194 50.613 6.201 8.900 35.612
mar/17 -3.499 -9.059 -33.909 -17.082 -3.471 3.396 -63.624
abr/17 13.689 -1.760 5.327 24.712 14.648 3.240 59.856
mai/17 1.433 -4.021 -11.254 1.989 46.049 58 34.254
jun/17 -7.887 -8.963 -2.747 -7.273 36.827 -136 9.821
jul/17 12.594 724 10.156 7.714 7.055 -2.343 35.900
ago/17 12.873 1.017 10.721 23.299 -12.412 -41 35.457
set/17 25.684 380 15.040 3.743 -8.372 -2.083 34.392
Saldo - - -
Total -57.163 229.586 352.821 -114.686 160.565 44.078 549.613
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores. *O item “outros” refere-se aos
setores extrativa mineral, serviço industrial de utilidade pública e
administração pública.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 50

O setor que apresentou maior saldo no somatório dos


trimestres foi o de Agropecuária, apresentando saldo de
160.565 admissões. Pode-se observar que tal setor
também é marcado pela sazonalidade, concentrando
saldos positivos, sobretudo nos meses de maio e junho.
Commodities como o milho, com safra entre fevereiro e
maio; soja, neste mesmo período, e etanol em maio,
contribuíram para isso. Por outro lado, o setor de
Construção civil, com fortes encadeamentos para frente
e para trás, teve saldo acumulado de 229.586
desligamentos.
A correlação com esses dados pode ser feita pelos cortes
de gastos em infraestrutura, em obras públicas e em
programas do Governo como, por exemplo, o PAC e o
“Minha casa minha vida”, os quais afetam as
expectativas de investimento no setor. É de se destacar
que, mesmo em 2017, este setor manteve resultados
negativos, apresentando saldos positivos somente no
último trimestre da série, apesar de baixos.
Analisando o setor de Serviços, observa-se considerável
melhora nos três primeiros trimestres de 2017 em
comparação aos de 2016, ainda que tenha apresentado,
no acumulado do período, 114.686 demissões. Essa
melhora em 2017 deve-se primordialmente às admissões
nos subsetores de Serviços médicos, odontológicos e
Serviços de ensino. Entretanto outros subsetores
aparentam não apresentaram melhoras, como por
exemplo, os Serviços de alojamento e alimentação,
Administração de imóveis, além de Transportes e
comunicação.
Já o Comércio apresentou o maior saldo negativo da
série com 352.821 desligamentos. Comparando-se os
trimestres, o setor mantém sua retração, com saldos
negativos nos três trimestres analisados em 2016 e nos
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 51

dois primeiros trimestres de 2017. Esses últimos podem


ter sido influenciados pela baixa atividade do subsetor de
Varejo. No entanto, nota-se uma tímida melhora no
terceiro trimestre de 2017, com 35.917 admissões, as
quais se devem à pequena recuperação deste referido
subsetor.
Comparado ao primeiro trimestre de 2016, o setor de
Indústria de transformações obteve saldo positivo no
mesmo período em 2017. Além disso, esse setor vem
apresentando saldos na criação de empregos formais
desde o terceiro trimestre de 2016. Essa melhora pode
ser explicada pelo fato de que esses números são
puxados, no período, pelos subsetores das Indústrias
química, Metalúrgica, Materiais de transporte, Têxtil e
vestuário, e, principalmente, pela produção de Alimentos
e bebidas.
Por sua vez, o subsetor da Indústria mecânica ainda tem
apresentado saldos negativos na criação de postos de
trabalho formais. Em outro ponto de vista, conforme a
Tabela 4.1, é possível perceber que tal setor teve uma
melhora no saldo da evolução de postos de trabalhos
formais no primeiro semestre de 2017, comparado ao
mesmo período em 2016. Porém, essa melhora não é
expressiva e nem deve ser tão comemorada haja vista
que as 25.168 admissões entre janeiro e julho de 2017
não recuperaram a margem negativa de 135.842
demissões no mesmo período em 2016.
O Espírito Santo parece não se distanciar da expressão
dos dados conjunturais a respeito da evolução da oferta
de trabalho formal no Brasil. Teve saldo negativo em
todos os setores da economia exceto o de Agropecuária,
com saldo positivo somente de 35 postos de trabalho.
Assim como o resultado do país, o Espírito Santo
apresentou seu maior saldo negativo no setor Comércio,
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 52

11.898 demissões, influenciado pela atividade do varejo


capixaba. Curiosamente, o setor de Serviços apresentou,
nos dois primeiros trimestres de 2017, sinais de melhora
devido aos subsetores de Serviços médicos e
odontológicos, após apresentar acumulados negativos
nos trimestres analisados em 2016. Mas, este setor
demitiu 1.068 trabalhadores formais no terceiro
trimestre de 2017, relacionados ao subsetor de Comércio
e administração de imóveis. De outro modo, o setor
Construção civil apresentou mínima melhora nos
segundo e terceiro trimestres de 2017, a qual aparenta
estar relacionada à tímida retomada das atividades pelas
grandes construtoras atuantes no Estado.
Tabela 4.2:ES:Evolução do emprego formal por setor de atividade econômica
Ind.
Tr Con.
Civil Com Serv Agrop Outros¹ Total
jan/16 -62 -100 -1.437 -1.100 -210 -24 -2.933
fev/16 -161 -786 -2.341 -934 63 -6 -4.165
mar/16 -923 -210 -659 -1.462 -405 -9 -3.668
abr/16 264 164 -869 -794 1.647 54 466
mai/16 -205 12 -908 -1.380 3.645 62 1.226
jun/16 -874 -374 -1.219 -1.147 -2.743 -71 -6.428
jul/16 -553 -431 -922 -831 -1.206 -430 -4.373
ago/16 -917 -603 -820 -1.043 -1.454 -25 -4.862
set/16 -483 -518 546 -641 -652 -161 -1.909
jan/17 1.192 71 -1.259 432 263 27 726
fev/17 -750 -1.033 -1.142 449 296 103 -2.077
mar/17 -175 605 -784 -329 115 -226 -794
abr/17 1.365 300 120 561 1.083 119 3.548
mai/17 -31 183 -257 18 4.231 -27 4.117
jun/17 -56 4 -218 164 -1.354 -6 -1.466
jul/17 -273 -262 140 -163 -1.228 -328 -2.114
ago/17 352 329 -434 -1.329 -1.719 -46 -2.847
set/17 -263 -68 565 424 -337 3 324
Saldo
Total -2.553 -2.717 -11.898 -9.105 35 -991 -27.229
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
1. O item “outros” refere-se aos setores extrativa mineral, serviço industrial de
utilidade pública e administração pública.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 53

Já a Indústria de transformação indicou saldos positivos


residuais somente em meses espaçados ao longo de
2017, como o caso de janeiro, abril e agosto. Em 2016 e
nos demais períodos, os saldos foram todos negativos
que se expressaram em vários subsetores, como o da
Indústria mecânica.

5. POLÍTICA MONETÁRIA
Crédito
O saldo total envolvendo as operações de crédito obteve
desde dezembro de 2015 um recuo com dada
estabilidade no ano de 2017. O acumulado de janeiro até
o mês de setembro de 2017 apresentou, assim, uma
tênue queda de aproximadamente 1%. No mesmo
período de 2016, observou-se uma queda de 2,7%
(Gráfico 5.1).
Com poucos movimentos que fugissem da tendência
negativa, esse resultado corrobora a manutenção do
momento recessivo da economia brasileira, com crédito
ainda em contínuo recuo. O único contraste foi o mês de
junho, com alta de 0,4% comparado a maio. Justificativa
para tal movimento estaria em um aumento de 4% nas
concessões de crédito em relação ao mês anterior3.

3
Fonte: Valor Econômico. Disponível em https://goo.gl/uiMCJp acessado em 14 de
novembro de 2017.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 54

Gráfico 5.1 – Saldo total das Operações de Crédito (em R$


bilhões)

3 190.0
3 170.0
3 150.0
3 130.0
3 110.0
3 090.0
3 070.0
3 050.0
3 030.0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

2016 2017

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Quando dividido em Pessoa Física e Jurídica, o saldo de


crédito exibiu movimentos opostos. Para Pessoa Física,
observou-se um avanço de 4,7%, no saldo em 12
meses, inclusive em maior patamar em 2017. No
acumulado até setembro de 2017, obteve-se um
crescimento de 3,2%, ante 2% observados no mesmo
período em 2016. Tal segmento encerrou o mês de
setembro com o saldo de R$ 1,65 trilhão.
No outro plano de análise, tem-se o crédito destinado à
Pessoa Jurídica, que, distintamente, obteve uma queda
de 8,7%. O recuo no período de janeiro até setembro foi
de 5,07%, apresentando intensidade menor quando
comparado ao mesmo período do ano anterior, no qual a
queda foi de 6,8%. As operações que envolvem Pessoa
Jurídica encerraram setembro com um saldo de R$ 1,43
trilhão.
O nível de endividamento das empresas é um fator
explicativo para tal situação. O fim do Plano Safra, que
anualmente se encerra em Junho, segundo o Banco
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 55

Central, também é motivo para ter-se queda no nível de


crédito depois de Junho. É a partir desse mês que os
bancos passam a cobrar suas exigibilidades feitas no
momento de obtenção desse crédito rural4.

Gráfico 5.2 – Saldo Crédito – P. Física X P. Jurídica (em R$ milhões)

1 650.0

1 600.0

1 550.0

1 500.0

1 450.0

1 400.0

P. Jurídica P. Física

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Além da divisão entre Pessoa Física e Jurídica, as


operações de crédito são classificadas em recursos livres
e crédito direcionado. Esse último, como o próprio título
já diz, é destinado a determinados setores ou atividades
da economia, como o crédito rural, o financiamento
imobiliário e o crédito com recursos do BNDES. O crédito
de recursos livres envolve empréstimos nos quais as
instituições financeiras têm autonomia sobre o destino
dos recursos. Dentre os quais se encontram o
Financiamento de veículo à pessoa física, e
financiamento de importações à pessoa jurídica.

4
Fonte: Isto É. Disponível em: https://goo.gl/3erJSF. Acessado em 25 de novembro
de 2017
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 56

O crédito com recursos livres totalizou R$ 1,53 trilhão,


representando certo equilíbrio de janeiro a setembro,
com variação de -0,2%. No mesmo período de 2016 a
queda foi mais relevante, 4,15%. Nos recursos livres à
Pessoa Jurídica tem-se um recuo de 3% - diminuição em
menor escala ante os 8% no ano anterior.
Houve desaceleração nas operações com cartão de
crédito. De janeiro a setembro de 2017, o avanço foi de
3%, enquanto em 2016 o crescimento era de 8% no
período em questão. Determinante para tal movimento
foi o recuo das operações com Rotativo e parcelado (-
13,3% no acumulado), enquanto no ano anterior houve
crescimento de 5,4%.
Nos recursos livres à Pessoa Física observou-se a
redução no cheque especial, -6%, ante 0,7% no período
do ano passado. Ainda neste segmento, pode-se
destacar o contínuo aumento do crédito consignado 5 (em
5,9%), sendo puxado pelos trabalhadores do setor
público e beneficiários do INSS (3,8% e 10,5%,
respectivamente). No acumulado até setembro de 2016,
o crescimento do crédito consignado foi de 4,4%.
Os recursos direcionados encerraram setembro com
saldo de R$ 1,52 trilhão, representando uma queda de
1,5% ante janeiro de 2017. Em igual período do ano
anterior, observou-se certa estabilidade. Destaque para
o recuo no crédito com recursos do BNDES. No
acumulado janeiro-setembro de 2017, nesse mesmo
segmento, a queda é de 7%. Em 2016, no mesmo
período, o recuo era um pouco mais expressivo, 8,7%. O
crédito rural direcionado à Pessoa Jurídica também
apresentou queda, 12,3% em 12 meses. De janeiro a
setembro de 2016, houve certa estabilidade neste setor

5
Movimento também visto e analisado no Boletim nº 55.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 57

(0,93%). Entretanto em 2017 no acumulado no mesmo


período tem-se um recuo de 12,2%. O credito rural
direcionado à Pessoa Física avançou 8,6% em 12 meses,
financiando o gasto para novas safras de grãos.
Distinguindo os setores de atividade econômica, o crédito
destinado a indústria6, recuou aproximadamente 6% em
2017. Em 2016 a queda no período foi de 7%. Para o
setor de serviços também nota-se um recuo de 4,4%
para este ano. O recuo de 2016 foi de 6,4%.

Taxa de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão colegiado
do Banco Central do Brasil, promoveu – conforme o
esperado pelo mercado financeiro – mais uma redução
da meta da Taxa Selic7, nos dias 24 e 25 de outubro do
presente ano. A Selic foi reduzida em 0,75 p.p.,
recuando a meta operacional de 8,25% ao ano para 7,5
% a.a. O índice é o menor desde abril de 2013, quando
as taxas alcançaram 7,25% ao ano.
No regime de metas de inflação adotado pelo Copom,
considera-se que a taxa Selic é um dos principais
instrumentos para controlar a inflação da economia. De
acordo com esse regime, o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) é usado como parâmetro
oficial para análise de inflação, tendo como principal
objetivo a sua manutenção no centro da meta, 4,5% a.a.

6
Queda de 14,4% para as indústrias da construção civil, 12,34% para as de
transformação e 24,6% para as extrativas. Todas análises de 12 meses.
7
Conforme o Banco Central do Brasil: “Define-se Taxa Selic como a taxa média
ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia (Selic) para títulos federais. Para fins de cálculo da taxa, são considerados
os financiamentos diários relativos às operações registradas e liquidadas no próprio
Selic e em sistemas operados por câmaras ou prestadores de serviços de
compensação e de liquidação (...)”. Disponível em https://goo.gl/FGYJ9S acessado
em 14 de novembro de 2017
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 58

No mecanismo exposto, é estabelecida uma relação


entre a taxa básica e o controle da inflação, porém a
conjuntura indica que não é bem assim.
O momento em que vive o Brasil é bem peculiar. A
inflação, medida pelo IPCA, caiu de 10,7%, em 2015,
para 6,3%, em 2016, sendo a expectativa do mercado
para a inflação de 2017 de 3,08% 8 . Conforme
evidenciado no item Inflação, essa significativa redução
pode ser explicada por aspectos que independeram da
autoridade monetária: o momento de recessão,
observado pelo alto nível de ociosidade dos fatores de
produção, o baixo consumo agregado das famílias e uma
alta taxa desemprego; além disso, pode-se observar a
queda dos preços administrados, especificamente
falando da energia elétrica; e, por fim, evidencia-se o
boom da agricultura por conta do que se pode chamar de
“bônus climático”. Diante desses fatores, pode-se
argumentar que os choques causados na taxa de inflação
foram advindos de motivos exógenos à própria redução
da Taxa Selic.
A Taxa Selic, dada a queda da inflação, entrou em um
processo de redução: em menos de um ano caiu 6,25
p.p., o que representou uma queda de aproximadamente
42%. Enquanto a inflação (IPCA) caiu, no mesmo
período, aproximadamente 68%. Esse movimento gerou
um aumento significativo na taxa real de juros ex-ante
acumulada9 que, em setembro, estava em 5,71% a.a.
Ao analisar o Gráfico 5.3, pode-se observar a
manutenção das taxas reais de juro ex-ante no Brasil em
níveis elevados, quando comparado com patamares

8
Projeção do Boletim Focus de 27 de outubro de 2017. Disponível em
https://goo.gl/57Tb1a acessado em 14 nov. 2017.
9
A taxa de juros real ex-ante é a diferença entre a taxa nominal de juros (Meta Selic)
e a inflação acumulada (IPCA) observada no período.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 59

internacionais 10 . Em meados de 2013, o Copom iniciou


um longo ciclo de aumentos da taxa Selic, que continuou
até mesmo quando a economia brasileira já sofria com
uma enorme recessão. Manteve-se essa política de taxa
de juros altas até a segunda metade do ano de 2016.
Durante esse período, a queda da inflação se deu
principalmente pelos motivos destacados anteriormente.
Um terceiro elemento a ser analisado, no âmbito da
análise da taxa de juros, é a taxa de juros implícita real
acumulada ex-ante11, que é o custo de carregamento da
dívida líquida do setor público (DSPL). Fazendo a
comparação do mês de setembro do ano de 2016, com o
mesmo mês em 2017, ela aumentou de 11% para
12,5%, em termos reais.
A taxa implícita capta, é importante ressaltar, uma
média das taxas de juros incidentes sobre os ativos e os
passivos da dívida líquida do setor público. Em outras
palavras, explicita a taxa de juros que é efetivamente
paga pelo governo, em média, aos detentores da
mesma.

10
A título de exemplo, a referida taxa encontra-se, na Rússia, em 5,55% a.a.; na
Índia, em 2,72% a.a.; na China, em 2,45% a.a.; na África do Sul em 0,62% a.a.; nos
Estados Unidos, em -0,95% a.a.; no Japão, em -0,80% a.a.; na Zona do Euro em -
1,4% a.a.; no Reino Unido, em -2,5% a.a.; conforme os dados do site Trading
Economics. Disponível em https://goo.gl/iiECke acessado em 14 de novembro de
2017.
11
A taxa de juros implícita real é calculada a partir da diferença entre a taxa de juros
implícita da dívida pública (acumulado em 12 meses) e a inflação acumulada
observada no período.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 60

Gráfico 5.3 – Taxa de juro real acumulada (% a.a.), Taxa de juro nominal
(Meta Selic % a.a.), Taxa de juros implícito real acumulado (% a.a.)

20

15

10

Taxa de juros nominal (Meta Selic % a.a.)


Taxa de juros real acumulada (% a.a.)
Taxa de juros implícita real (taxa acumulada % a.a.)
Fonte: Banco Central do Brasil/IBGE. Elaboração própria.

A tendência esperada pelo mercado é que a taxa Selic


caia ainda mais até o fim de 2017, terminando o ano em
7% a.a. A última reunião do Copom, em dezembro, deve
decidir por um último corte de 0,50 p.p. na taxa básica
de juros.
Analisando agora a taxa média de juros das operações
de crédito do sistema financeiro, computando as
contratações com recursos livres e direcionados, pode-se
observar que atingiu 27,0% a.a., em setembro de 2017,
com queda de 5,9 p.p. se comparado com janeiro do
presente ano. Essa queda da taxa de juros pode ser
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 61

observada tanto para pessoas físicas como jurídicas, nos


segmentos de crédito livre e direcionado.
No crédito livre a taxa média de juros alcançou em
setembro 43,3% a.a., queda de 9,9 p.p. comparando-se
janeiro de 2017, quando a taxa se situava em 53,2%
a.a.
Nas contratações utilizando recursos direcionados,
analisando a variação do mês de setembro de 2017 vis a
vis o mês de janeiro do mesmo ano, tem-se 9,3% em
setembro contra 11,3% em janeiro, um recuo de 2,0
p.p.
Tabela 5.1 – Taxa de Aplicação (% a.a.) em 2016/2017

Pessoa Pessoa
Período Total
Jurídica Física
Jan 22,5 39,6 31,4
Fev 22,6 40,3 31,9
Mar 22,2 41,0 32,1
Abr 22,0 41,8 32,6
Mai 21,6 42,2 32,7
Jun 21,5 41,9 32,5
Jul 22,1 42,1 33,0
Ago 22,0 42,2 33,0
Set 21,3 42,9 33,1

Jan 21,1 42,2 32,9


Fev 20,3 41,6 32,3
Mar 20,0 41,4 32,1
Abr 19,2 38,7 30,2
Mai 19,2 37,3 29,5
Jun 18,7 36,5 28,8
Jul 18,9 36,6 28,4
Ago 18,7 35,6 28,4
Set 17,5 33,9 27,0

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.


Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 62

Observando o segmento de pessoa física, a taxa média


de juros de aplicação chegou a 33,9% a.a. em setembro
de 2017, com queda de 8,3 p.p. comparando-se janeiro
de 2017. A taxa das contratações por recursos livres
chegou a 59,2% a.a. no mês de setembro, destacando-
se retração em crédito rotativo não-regular12, de 106,8
p.p., recuando de 506,2% para 399,4%. No cartão de
crédito rotativo não regular, a queda verifica foi de 4,6
p.p., e no crédito pessoal não consignado recuou 3,1 p.p.
No mês de setembro de 2017 vis a vis com janeiro,
pode-se observar a queda da taxa em 14,0 p.p., de
73,2% em janeiro para 59,2% em setembro. Tais recuos
podem ser os responsáveis pela queda na taxa de
aplicação de setembro de 2017 frente à mesma taxa em
janeiro.
No segmento de pessoas jurídicas, a taxa média de juros
de aplicação chegou a 17,5% a.a., em setembro, com
queda de 3,6 p.p. comparando-se o mês de setembro
com o mês de janeiro, em que a taxa verificada foi de
21,1% a.a. Nas operações com recursos livres, a taxa
chegou em 23,2% a.a. A taxa de contratações por
recursos direcionados em setembro chegou a 10,7%
a.a., com queda de 2,0 p.p. vis a vis a janeiro, em que
se verificou uma taxa de 11,3% a.a. A queda foi
motivada principalmente pelo recuo de 1,8 p.p. nos
financiamentos para investimentos com recursos do
BNDES.
Outro aspecto importante para a análise é a mudança
institucional no que se diz respeito à taxa TJLP (Taxa de
Juros de Longo Prazo). Foi sancionada, no dia 21 de
agosto de 2017, a Lei 13.483, que institui a TLP (Taxa de

12
O rotativo não regular inclui operações em que o pagamento mínimo da fatura não
foi realizado ou há atraso no pagamento.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 63

Longo Prazo) em substituição à TJLP a partir de janeiro


de 2018.
A nova taxa começará a valer, de início, com o mesmo
valor da TJLP. A TLP será composta com base na soma
do IPCA e também será paga, além da inflação, uma
taxa real de juros, fixada em leilão pelo mercado. Como
os juros reais da TJLP são inferiores aos empregados nos
empréstimos do governo, será calculado um fator que
corresponde aos juros pagos pelo governo das Notas do
Tesouro Nacional – Série B (NTN – B)13 no prazo de cinco
anos. Ou seja, ao fim de um período de cinco anos, a TLP
será idêntica a taxa de juros das NTN – B, atualmente
um dos títulos do Tesouro Direto, que historicamente é
maior que a TJLP.
A escolha da variação da NTN-B para indexar os créditos
da TLP, que incide sobre os créditos do BNDES, é uma
deliberação que efetivamente gerará alguns efeitos
negativos. O primeiro efeito está relacionado à elevação
dos custos para o financiamento de longo prazo.
A consequência da elevação desse custo é a perda da
funcionalidade do BNDES como mecanismo de
desenvolvimento no que se diz aos investimentos
produtivos e a sua atuação pró-cíclica. Dessa forma, o
BNDES perderá sua função como um mecanismo de
amparo ao investimento produtivo frente à instabilidade
macroeconômica.
A partir do exposto, cabe destacar que, no cenário atual,
a substituição da TJLP pela TLP não parece ser uma ação
adequada diante das condições em que se encontra a
economia brasileira. Em especial, porque promoverá o
recuo do crédito direcionado para pessoa jurídica,

13
A NTN – B reflete o custo de captação de recursos pelo Tesouro
Nacional junto ao mercado.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 64

contribuindo para deprimir o investimento produtivo.


Isso num país que já passa por um momento delicado,
de crise e recessão, possivelmente perderá um
mecanismo de superação da crise, o BNDES, cuja função
histórica foi a aquela que seu próprio nome sugere:
Banco de Desenvolvimento Econômico e Social.

AGREGADOS MONETÁRIOS
A base monetária, que é constituída pela soma do papel-
moeda emitido mais reservas bancárias, apresentou um
crescimento de 0,1% no ano de 2017 contra 2,7% no
ano de 2016. Apresentando um saldo final de
aproximadamente R$ 262 bilhões, em setembro de
2017, sofrendo um aumento de 6,4% se comparado com
o mesmo período no ano imediatamente anterior.
A expansão da base monetária foi puxada pelo papel
moeda emitido, com uma ampliação de 2,8%, já as
reserva bancárias apresentaram uma retração de
11,24%. Vale ressaltar que geralmente o final do ano é
marcado por esse aumento no saldo da base monetária
em decorrência de bonificações de final do ano. Para fins
de clareza o período analisado será de janeiro a
setembro de 2016 e janeiro a setembro de 2017. Na
Tabela 5.2, é apresentado o saldo da base monetária, do
papel-moeda emitido e das reservas bancárias.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 65

Tabela 5.2 – base monetária e componentes: saldo em final de período -


jan/16 a set/16; jan/17 a set/17 (r$ milhões)
Base Papel-moeda Reservas
monetária emitido bancárias
Jan/2016 240 329 207 609 32 719

Fev/2016 252 560 205 134 47 426

Mar/2016 242 530 203 801 38 729

Abr/2016 242 143 202 066 40 076

Mai/2016 239 966 202 463 37 503

Jun/2016 234 678 201 407 33 271

Jul/2016 240 845 202 192 38 653

Ago/2016 235 769 202 033 33 736

Set/2016 247 036 209 291 37 745

Jan/2017 262 392 212 760 49 632

Fev/2017 266 325 217 875 48 450

Mar/2017 243 610 208 948 34 663

Abr/2017 263 655 214 126 49 529

Mai/2017 237 652 210 465 27 187

Jun/2017 260 239 213 570 46 669

Jul/2017 255 860 215 272 40 589

Ago/2017 252 160 213 951 38 209

Set/2017 262 770 218 721 44 049


Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria

Na Tabela 5.3 podem ser observados os


fatores condicionantes da base monetária no
período analisado, fazendo possível a
observação detalhada da variação da base monetária.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 66

Tabela 5.3 – Fatores condicionantes da base monetária - jan/16 a


set/16 e jan/17 a set/2017 (R$ milhões)
Op.título Op. Outra Variação
s setor Dep. Op. s da base
Conta públicos extern Redes instit deriva conta monetári
TN federais o c BC financ t s a
Jan/2016
-5 252 -28 721 527 0 866 16769 849 -14 960
Fev/2016 -
2 042 18 812 - 325 2 2 707 711 12 231
11718
Mar/2016 -18 -
8 517 34 819 0 8 052 251 -10 030
973 42697
Abr/2016 -
-5 077 -1 188 12 723 -4 5 188 305 - 387
12335
Mai/2016
4 611 -18 403 13 865 -0 -6 214 3054 910 -2 177
Jun/2016 14 -
7 551 -2 602 -0 -2 514 85 -5 288
928 22737
30
-48 446 19 234 293 1 920 1777 1 213 6 167
Jul/2016 176
Ago/201
5 464 -5 840 4 268 -296 -5 069 -4250 677 -5 046
6
Set/2016 23
-10 646 1 728 8 -2 288 -1118 426 11 267
158

Jan/2017
8 140 -6 429 267 -0 -5 752 -5116 995 -7 895
Fev/2017 17
-17 044 3 167 -0 1 891 -2102 789 3 933
233
Mar/2017
-3 323 -23 877 4 076 -0 -1 413 1240 582 -22 715
Abr/2017
-8 792 13 436 13 260 -0 1 258 558 323 20 044
Mai/2017 17
-39 845 774 -0 -3 841 614 - 832 -26 003
127
Jun/2017 18
4 815 219 -0 -2 264 546 696 22 587
577
27 -4
-32 461 4 394 -0 5 165 -5072 -4 379
Jul/2017 747 152
Ago/201
3 762 -7 201 327 -0 -5 368 30 4 751 -3 700
7
Set/2017
-7 674 16 835 249 -0 277 188 736 10 610

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.


Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 67

Dentre os condicionantes da base monetária, destacam-


se as operações com títulos públicos federais. Em janeiro
de 2017 apresentavam saldo de R$ -6,42 bilhões, contra
R$ 16,83 bilhões em setembro. O acumulado do período
foi de R$ -91,77 bilhões, contra R$ -52,064 bilhões em
2016, uma queda de 76,27%, puxada pelas operações
com títulos públicos. Vale também ressaltar as compras
líquidas de R$ 17,5 bilhões no mercado secundário e
colocações líquidas de R$ 635 milhões no mercado
primário.
Em contrapartida, as operações do setor externo
obtiveram um saldo de R$ 249 milhões. O acumulado
do período no ano de 2017 foi de R$ 26,73 bilhões,
contra R$ 30,44 bilhões, em 2016, evidenciando uma
contração de 12,18%. Outro fator que vale a pena citar é
a conta do tesouro nacional que apresentou resultado
negativo de R$ 7,67 bilhões em setembro de 2017.
Houve uma queda de 7,3% no resultado acumulado de
2016, R$ 78,56 bilhões, contra R$ 72,79 bilhões em
2017.
No Gráfico 5.4 pode ser observado o saldo em final de
período da base monetária do ano de 2016 e 2017,
evidenciando as diferenças da conjuntura econômica
entre os períodos em questão.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 68

Gráfico 5.4: Saldo mensal base monetária em final de período da–


2016/2017 (r$ milhão)
275 000
270 000
265 000
260 000
255 000
250 000
245 000
240 000
235 000

Base Monetária Linear (Base Monetária)

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

O grande responsável pelo aumento dos saldos


acumulados da base monetária no mês de setembro são
as reservas bancárias. Porém, o baixo
crescimento do período analisado foi puxado pelo papel-
moeda emitido. Vale ressaltar que, no ano de 2017, a
base monetária em nenhum momento alcançou o saldo
final de dezembro de 2016, e as grandes quedas em seu
valor no início do ano explicam as variações negativas
nos condicionantes da base monetária.
O M1, composto de papel moeda em poder do público e
depósitos à vista, resultou R$ 314,10 bilhões em
setembro de 2017. Desses aproximadamente R$
179,78 bilhões em papel-moeda em poder do público e
R$ 134,32 bilhões em depósitos à vista, uma expansão
de 0,5% no período. O saldo do M2, que corresponde ao
M1 mais depósitos de poupança e títulos privados, foi R$
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 69

2,43 trilhões, um aumento de 5% no período analisado,


uma variação de 5,1% nos depósitos de poupança e
6,1% nos títulos privados. O M3, composto pelo M2
somado às quotas de fundos de renda fixa e os títulos
públicos, que lastreiam as operações compromissadas
entre o público e o setor financeiro encerrou o ano de
2017 em R$ 5,69 trilhões, apresentando crescimento de
7%. Por fim o M4, que agrega o M3 e os títulos públicos
de detentores não financeiros, totalizou R$ 6,5 trilhões,
expansão de 5,8%.
5. POLÍTICA FISCAL

6. POLÍTICA FISCAL
Análise do Governo Central (dados acima da linha)
Desde o final do ano de 2014 as políticas de austeridade
fiscal vêm sendo aprofundadas no Brasil, como uma
estratégia de melhorar as contas do Governo Federal. Os
cortes podem ser sentidos de maneira mais evidente em
alguns serviços públicos disponibilizados para a
população, alguns segmentos dela voltando a vivenciar
uma vulnerabilidade social muito forte.
A argumentação que respaldava a profundidade do
ajuste fiscal para a camada mais baixa da sociedade era
a de que isso era necessário para a volta do crescimento
econômico. O governo não poderia gastar mais do que
arrecadava (fazendo uma simplória analogia com gestão
domiciliar).
Mas o que deveríamos nos perguntar é se o projeto de
sociedade que emergia era o que de fato a maioria
queria para o país. Infelizmente, não é mais possível
voltar no tempo, visto que até agora o custo arcado com
essas politicas de austeridade não trouxe nenhum dos
resultados citados anteriormente. A economia sofre para
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 70

alcançar crescimento abaixo de 1%. A classe empresarial


se encontra amplamente desconfiada com os rumos que
o país ainda pode tomar. O baixo crescimento estimado
pelas estatísticas oficiais e, além de tudo, tem como
bases comparativas momentos de retração do PIB
(verificados desde 2014). A dívida pública e os saldos
fiscais continuam na mesma tendência de degradação,
sendo que era em torno dessas duas variáveis que as
promessas de melhora tinham sido feitas pelo atual
governo.
Faz-se oportuno lembrar a recente revisão da “meta” de
déficit primário do Governo Central aprovada em agosto
de 2017, prevista para R$ 139 bilhões e ampliada para
R$ 159 bilhões. Isso demostra uma dificuldade em
controlar as contas públicas, que o Governo Federal
espera contornar com a Reforma da Previdência, para
qual ele une todas as forças para votá-la. Paralelamente,
os esforços para garantir essa aprovação tem resultado
em perdão de dívidas e ampliação de gastos que
aprofundam as dificuldades fiscais que se quer
ultrapassar. Ante o crescimento pífio da receita, a rigidez
de alguns gastos e a expansão de outros no âmbito da
relação espúria com o congresso, o resultado é uma
explosão do déficit primário.
A análise dos dados acima da linha do período que vai de
janeiro a outubro de 2017, em comparação a igual
período do ano passado, respaldará muitas das
afirmações levantadas até aqui, pois nela tem-se, em
suma, qual foi o comportamento do saldo fiscal do
Governo Central. É sempre necessário destacar que a
verificação será feita em valores nominais e, em alguns
casos, em valores reais (corrigidos pelo IPCA de outubro
de 2017). Assim sendo, a Tabela 6.1 auxiliar na análise
que se propõe fazer nessa seção.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 71

Tendo como ponto de partida o resultado primário do


Governo Central, nota-se que, no acumulado até outubro
de 2017, ocorreu um déficit primário de R$ 103,24
bilhões em valores nominais, 71,0% maior do que o
resultado de igual período de 2016.
Dão forma aos números expostos a receita líquida e a
despesa total, sendo que o destaque recai sobre a
intensificação dos gastos no período.

Tabela 6.1 - Resultado Primário do Governo Central (R$ Milhões correntes)

Jan –Out
Discriminação
2016 2017
I. RECEITA TOTAL 1.085.980,7 1.107.916,5
I.1. Receita Administrada pela RFB 687.930,6 687.378,4
I.2. Incentivos Fiscais -10,5 -19,6
I.3. Arrecadação Líquida para o RGPS 282.764,4 295.012,7
I.4. Receitas não Administradas pela RFB 115.296,2 125.545,1
II. TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 166.319,2 185.488,5
III. RECEITA LÍQUIDA (I-II) 919.661,5 922.428,1
IV. DESPESA TOTAL 980.023,6 1.025.671,3
IV.1. Despesas Obrigatórias Totais 768.874,6 836.335,3
IV.1.1 Pessoal e Encargos Sociais 201.449,5 228.888,2
IV.1.2. Benefícios Previdenciários 406.660,0 450.233,3
IV.1.3. Outras Desp. Obrigatórias 160.765,2 157.213,8
IV.2. Despesas Discricionárias 211.149,0 189.336,0
V. RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO -60.362,1 -103.243,2
CENTRAL (III-IV)
V.1. Tesouro Nacional 64.206,2 52.592,3
V.2. Previdência Social -123.895,6 -155.220,6
V.3. Banco Central -672,6 -614,9

VI. RESULTADO PRIMÁRIO/PIB (%) -1,2 -1,9

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional.

Sobre a receita líquida (receita total descontada as


transferências para os governos estaduais e municipais),
o que a Tabela 6.1 evidencia é uma ínfima melhora de
0,3% nos valores nominais, alcançando R$ 922,43
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 72

bilhões. O destaque positivo do desdobramento dessa


conta fica a cargo da receita não administrada pela
Receita Federal do Brasil (RFB), a qual teve um
acréscimo de 8,9%, enquanto a parte negativa fica por
conta da receita administrada pela (RFB), com uma
pequena retração nos valores nominais.
A melhora da receita não administrada pela RFB está de
acordo com a arrecadação favorável da cota parte de
compensações financeiras explicada pela maior utilização
dos recursos petrolíferos. A partir disso tem-se que, de
janeiro a outubro de 2016, o montante recolhido nessa
fonte foi de R$ 19,60 bilhões, enquanto o mesmo hiato
temporal de 2017 ela chegou a R$ 32,13 bilhões.
O mau desempenho da arrecadação administrada pela
RFB, apesar de não ser alarmante, provoca uma
surpresa àqueles que acompanham os dados acima da
linha. Desde a mudança na metodologia de divulgação
desses dados pela Secretaria do Tesouro Nacional, em
2016, não se observava tal movimento. Uma
argumentação para explicar tal piora parte da verificação
de algumas contas em valores reais, como o Imposto de
Renda que apresentou queda de 3,5%. Ela foi puxada
principalmente pelo imposto sobre pessoa jurídica,
passando de R$ 125,38 bilhões, nos primeiros dez meses
de 2016, para R$ 105,47 bilhões, no mesmo período de
2017.
Esse movimento ainda é consequência do nível de
atividade brasileiro, que trava uma dura batalha para
voltar ao crescimento econômico ainda, tendo em vista a
baixa confiança da camada empresarial. Tal afirmação é
potencializada quando se verifica outra fonte de
tributação que tem relação com a produção das
empresas, a Contribuição Sobre Lucro Líquido, que
recuou 1,2%.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 73

Do lado das despesas o que se tem é uma elevação


nominal de 4,6%, superior a da receita líquida, indicando
o motivo de tal déficit no resultado primário do Governo
Central. Como é de se esperar, a parte da despesa total
obrigatória aumentou em R$ 45,58 bilhões, de janeiro a
outubro de 2016 para janeiro a outubro de 2017.
Destaque para Pessoal e Encargos Sociais e os Benefícios
Previdenciários, acrescidos em 13,6% e 10,7%,
respectivamente. O aumento desse tipo de despesa
indicada está em consonância com a tendência de
elevação da massa de aposentados. Complementa o que
foi exposto os pagamentos antecipados de parte dessas
despesas no terceiro bimestre de 2017, num total de
cerca R$ 18 bilhões.
Não obstante, nos gastos em que o Executivo detém
margem para aplicar os cortes eles têm sido realizados.
As Despesas Discricionárias, que, como se observa na
Tabela 6.1, acumulavam R$ 189,34 bilhões até outubro
de 2017, apresentaram uma queda de 10,3% em
comparação a igual período de 2016. É justamente nesse
tipo de despesa que estão congregados os gastos com os
Ministérios da Educação e da Saúde e com o Programa
de Aceleração do Crescimento, por exemplo.
A mais surpreendente das reduções diz respeito ao
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com corte
de 38,6% frente ao ano passado, somando R$ 17,77
bilhões até outubro de 2017. Desde seu nascimento em
2007, o PAC foi de grande importância na melhoria da
infraestrutura e no âmbito social. Além de viabilizar a
execução do Programa Minha Casa, Minha Vida teve um
papel muito importante na geração de renda e de
emprego internamente, diante de um ambiente de crise
financeira internacional (2008/09).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 74

Uma outra redução a ser destacada é a dos gastos com


Ministério da Educação, que foi de R$ 26,85 bilhões para
R$ 24,18 bilhões. Verificando a quantidade de recursos
disponibilizada para a manutenção do MEC fica
percebível porque tantas Universidades Federais
brasileiras passam por dificuldades para manterem suas
atividades.
Infelizmente, as sinalizações que partem do Governo
Federal em relação ao âmbito fiscal e orçamentário do
Brasil não parecem direcionar para melhorias, tanto no
sentido de equilibrar as contas públicas quanto no de
manter as áreas sociais. Corrobora essa situação a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018, aprovada em
julho de 2017, e o Projeto de Lei Orçamentária Anual
(PLOA) de 2018, apresentado em setembro de 2017.
Sobre a LDO 2018, as “metas” fiscais para os anos
subsequentes, 2018, 2019 e 2020, não trazem nada de
diferente do que está sendo comum há alguns anos,
déficits, respectivamente de R$ 159 bilhões, R$ 159
bilhões e R$ 65 bilhões. O PLOA, que ainda está em vias
de aprovação, traz como ponto a se destacar o gasto
direcionado para Pessoal e Encargos Sociais. A
contratação de servidores tem como objetivo apenas
repor as vagas que serão disponibilizadas pela
aposentadoria de alguns trabalhadores.
Como forma de finalizar, cabe destacar dois fatores
importantes sobre o que foi argumentado. Primeiro, as
estimativas da equipe econômica do Poder Executivo
nacional tem como parâmetro a volta ao crescimento
econômico a partir do ano que vem, questão essencial
para melhorar o desempenho da arrecadação. Segundo,
o teto de gastos já está vigorando, sendo que ele será
baseado no gasto deste ano acrescido do IPCA.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 75

A partir desses dois pontos, pode-se levantar


argumentações importantes. Para se adequar ao teto dos
gastos, o governo pretende diminuir drasticamente os
gastos com Pessoal e Encargos Sociais no ano de 2018.
A comparação do Anexo V da LOA de 2017 com o do
PLOA de 2018 evidencia tal afirmação. O montante de
recurso direcionado ao provimento, admissão ou
contratação, em 2017, era previsto em R$ 1,07 bilhão,
já incluindo também a contratação de serviços
terceirizados. Para o próximo ano a quantidade de
recursos planejada para o gasto caiu em mais da
metade, previsão de R$ 406,18 milhões. A melhora do
cenário econômico não seria apenas uma questão de
auferir resultados entre 1% e 2% como previsto na LDO,
mas de alcançar meios sustentáveis, sendo uma delas a
volta da confiança dos empresários.

Setor Público Consolidado (dados abaixo da linha)


Os indicadores fiscais do Setor Público Consolidado (SPC)
mensuram a evolução das finanças públicas no país e
permitem avaliar o desempenho fiscal do governo no seu
conjunto. Eles abrangem todos os níveis de governo, isto
é, correspondem ao governo central, governos
subnacionais e as empresas estatais (desconsiderando
Eletrobrás e Petrobrás). Envolvem o conceito “abaixo da
linha”, apurado pelo Banco Central do Brasil, o qual
analisa o resultado fiscal pela ótica do financiamento, ou
seja, através da variação do estoque da dívida líquida.
A Necessidade de Financiamento do Setor Público
Nominal, no acumulado de janeiro a outubro de 2017,
incorreu em um déficit de R$ 415,73 bilhões (7,70% do
PIB), contra um déficit nominal de R$ 377,15 bilhões
(7,34% do PIB) no mesmo período de 2016. O Governo
Central apresentou um déficit de R$ 384,66 bilhões
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 76

(7,12% do PIB) em 2017 contra R$ 308,71 bilhões


(6,01%), um aumento de 1,11% do PIB se comparado a
2016. Já os governos regionais, nesse mesmo período,
obtiveram um déficit de R$ 26,94 bilhões, em 2017,
contra R$ 62,92 bilhões, em 2016.
De acordo com o BACEN, a Necessidade de
Financiamento do Setor Público Primária, no acumulado
de janeiro a outubro de 2017, indicou um déficit de R$
77,35 bilhões (1,43% do PIB), contra um déficit de R$
45,91 bilhões (0,89% do PIB) no mesmo período de
2016. O Governo Central apresentou um déficit primário
de R$ 95,90 bilhões (1,78% do PIB), contra um déficit
de R$ 55,34 bilhões (1,08% do PIB) em 2016. Tal
resultado é considerável, haja vista as políticas de ajuste
adotadas pelo governo Temer. Já os governos regionais,
nesse mesmo período, obtiveram superávits primários de
R$ 17,97 bilhões, em 2017, contra R$ 10,31 bilhões, em
2016. No acumulado em 2017, as empresas estatais
tiveram um superávit primário de R$ 1,44 bilhão.
As despesas com juros nominais para o SPC, em 2017,
no acumulado de janeiro a outubro, foram de R$ 338,37
bilhões (6,27% do PIB), valor bem expressivo, tendo se
alterado pouco se comparadas a igual período de 2016,
quando alcançaram R$ 331,23 bilhões (6,45% do PIB).
Desse montante o Governo Federal contribuiu com a
maior parcela para esse aumento com R$ 322,88 bilhões
(5,98% do PIB), e R$ 261,12 bilhões (5,08% do PIB) no
mesmo período em 2016. Os governos regionais tiveram,
por sua vez, uma redução significativa nas despesas com
juros: de R$ 73,24 bilhões (1,43% do PIB) em agosto de
2016 para R$ 44,91 bilhões (0,83% do PIB) em agosto
de 2017.
A elevação das despesas com juros só não foi mais
expressiva devido à redução da taxa média de juros da
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 77

DLSP em 2017, comparada ao mesmo período em 2016


(taxa de juros implícita). Acumulada de janeiro a outubro
essa taxa se encontra em 11,6%, no mesmo período do
ano anterior era de 14,7%.
Tabela 6.2 – Necessidades de Financiamento do Setor Público Consolidado
(R$ milhões/PIB)
2016 2016 2017 2017
Discriminação Fluxos % Fluxos %
Jan - Ago PIB Jan – Ago PIB
I. Resultado Primário 45.912 0,89 77.352 1,43
I.1. Governo Central 55.348 1,07 95.908 1,78
I.2. Governos Estaduais -9.814 -0,19 -14.075 -0,26
I.2. Governos Municipais -497 -0,01 -3.896 -0,07
I.3. Empresas Estatais 875 0,02 -585 -0,01
II. Juros Nominais 331.238 6,42 338.378 6,27
II.1. Governo Central 253.364 4,91 288.752 5,35
I.2. Governos Estaduais 65.347 1,27 40.916 0,76
I.2. Governos Municipais 7.893 0,15 4.002 0,07
II.3. Empresas Estatais 4.634 0,09 4.708 0,09
III. Resultado Nominal 377.151 7.3 415.730 7.7
III.1. Governo Central 308.713 5,98 384.660 7,12
I.2. Governos Estaduais 55.533 1,08 26.841 0,5
I.2. Governos Municipais 7.396 0,14 106 0,001
III.3. Empresas Estatais 5.509 0,11 4.123 0,08
(+) déficit (-) superávit
Fonte: BCB – Notas para a imprensa de Outubro de 2017.

A Dívida Líquida do Setor Público Consolidado (DLSP)


tem apresentado um crescimento contínuo. Em outubro
2017, atingiu R$ 3,29 trilhões (50,7% do PIB), valor
4,3% maior do que os R$ 2,92 trilhões (46,4% do PIB),
em janeiro de 2017. O Governo Central também
aumentou em 4,3% a sua dívida líquida, atingindo R$
2,48 trilhões (38,1% do PIB) em outubro de 2017,
contra R$ 2,13 trilhões (33,8% do PIB) em janeiro deste
ano. Os Governos Regionais, entretanto, apresentaram
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 78

um aumento de R$ 21,08 bilhões em sua dívida líquida,


embora houvesse uma redução em relação ao PIB,
alcançaram R$ 759,80 bilhões (11,6% do PIB) em
outubro de 2017, contra R$ 738,72 bilhões (11,7% do
PIB) em janeiro de 2017. Essa redução explica-se pelos
impactos da renegociação da dívida dos estados e
municípios com a União, com alívio financeiro por
determinados períodos.
A elevação expressiva da DLSP se deve ao crescimento
da Dívida Interna Líquida que atingiu R$ 4,29 trilhões
(66,05% do PIB), em outubro de 2017, valor muito
maior do que o patamar alcançado em janeiro de 2017,
R$ 3,86 trilhões (61,3% do PIB). Já a dívida externa
líquida, negativa desde meados dos 2000, atingiu, em
outubro de 2017, -R$ 994,40 bilhões (15,3% do PIB),
contra -R$ 939,4 bilhões (14,9% do PIB), em janeiro de
2017.
A Dívida Bruta do Governo Geral, que abrange o Governo
Federal, Governos Estaduais e os Governos Municipais,
alcançou R$ 4,83 trilhões (74,4 % do PIB), em outubro
de 2017, bem acima do que apresentou em agosto de
2016, com R$ 4,33 trilhões (70,3% do PIB).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 79

Tabela 6.3 – Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) (em milhões R$)

2016 2017

Discriminação Dez/Saldo %PIB Out/Saldo %PIB

Dívida Líquida Total 2.892.913 46,16 3.298.565 50,7

Governo Central 2.090.134 33,35 2.480.655 38,1

Governos Estaduais 588.420 9,4 698.718 10,7


Governos Municipais 50.748 0,8 61.084 0,9

Empresas Estatais 58.277 0,8 58.109 0,9


Dívida Interna Líquida 3.856.985 61,54 4.292.969 66,0

Dívida Externa Líquida -964.071 -15,4 -994.405 -15,3


(+) déficit (-) superávit
Fonte: BCB – Notas para a imprensa de Outubro de 2017.

Dívida Mobiliária Federal


A dívida mobiliária federal é um elemento essencial para
análise da dívida pública do país. A Auditoria da Dívida
Cidadã considera que a dívida mobiliária a ser avaliada,
com impactos em termos de despesas financeiras, é o
total de títulos emitidos. Segundo esse critério, ela se
compõe dos diferentes títulos emitidos pelo Tesouro
Nacional, parcela destinada ao mercado (especialmente
NTNs, LTNs e LFTs) e parcela mantida na carteira do
Banco Central (BC).
Por outro lado, no critério usual, a dívida mobiliária
federal interna fora do Banco Central, avaliada pela
posição de carteira, totalizou R$ 3,31 trilhões (50,9% do
PIB) e o endividamento em títulos para operações
compromissadas do Banco Central 25,9% do PIB.
Os custos e prazos dos títulos emitidos pelo tesouro
estão associados às flutuações da taxa básica de juros,
dos índices de inflação, da taxa de câmbio e das
expectativas associadas aos títulos pré-fixados.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 80

Em outubro de 2017, a estrutura de vencimento da


dívida mobiliária em mercado, com vencimento nesse
ano, foi de 0,003% do total; 14,7% do total, com
vencimento em 2018; e 85,3% do total vencendo a
partir de janeiro de 2019.

Tabela 6.4 - Títulos Públicos Federais, operações de mercado aberto


(R$ milhões/%)
Discriminação dez/16 jan/17 out/17

Dívida Total (R$


4.012 804 4.422.994
bilhões) 4.061.291

Indexadores (%)

Over/Selic sem Swap 21,6 22,0 24,1

Over/Selic com Swap 19,5 20,0 22,4

Câmbio sem Swap 0,4 0,4 0,3

Câmbio com Swap 2,5 2,4 2,1

Prefixado 27,4 24,8 26,4

TR 0,3 0,3 0,2

Índice de preços 24,7 24,9 23,1

Oper. De Merc. Aberto 25,6 27,6 25,9

Fonte: BCB - Notas para imprensa de novembro de 2017

A remuneração dos títulos prefixados elevou-se 9,54%,


entre janeiro de outubro de 2017. A remuneração dos
títulos de índice de preços teve uma queda de 7,22%,
entre janeiro e outubro de 2017. Na remuneração dos
títulos indexados ao câmbio, com swap houve uma
queda de 4,16% e sem swap permaneceu relativamente
estável em relação a janeiro.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 81

Tabela 6.5 - Perfil dos Títulos Públicos Federais Emitidos pelo Tesouro
Nacional
(R$ milhões e %)
Discriminação dez/15 dez/16 jan/17 out/17

Títulos emitidos 3.936.681 4.509.262 4.510.876 4.950.444

Carteira do
1.286.515 1.522.848 1.572.321 1.639.000
BACEN

LTN 764.479 718.196 697.898 802.704

LFT 626.192 868.480 895.301 1.076.837

NTN 1.229.620 1.364.306 1.309.185 1.397.742

Div. Securitizada 7.693 8.391 8.115 7.745

CFT/CTN 19.711 24.823 25.842 24.484

TODA 2.472 2.218 2.214 1.931

Total fora do
2.650.165 2.986.415 2.938.555 3.311.443
BACEN

% do PIB 44,2 47,7 46,6 50,9

Fonte: BCB - Notas para imprensa de novembro de 2017

Em outubro deste ano, o Banco Central tomou recursos


por meio de leilões de venda de títulos com compromisso
de recompra em três e em seis meses. Nas operações de
três meses, foram vendidas LTN, NTN-B e NTN-F, nos
percentuais de 36,1%, 32,1% e 31,8%, respectivamente.
Quanto às operações de seis meses, liquidadas no mês,
foram vendidas NTN-F, NTN-B e LTN, nos percentuais de
53,3%, 24,6% e 22,0%, respectivamente. Naquele mês
o Banco Central não realizou leilões de swap cambial.
As Letras do Tesouro Nacional (LTNs) são títulos pré-
fixados de baixa volatilidade. A LTN de vencimento em
1º/10/2019 foi o título mais transacionado nessa
modalidade, registrando, em agosto, 35,8% do total das
suas operações definitivas.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 82

7. SETOR EXTERNO
Segundo dados do Banco Central, o saldo do Balanço de
Pagamentos brasileiro, no acumulado de janeiro a
setembro de 2017, foi de – US$ 3,31 bilhões, valor
44,6% menor do que o auferido no mesmo período de
2016. Isso aconteceu, principalmente, em virtude da
diminuição no déficit em Transações Correntes em 2017,
equivalente à US$ 2,70 bi, contra –US$ 13,59 bilhões no
ano anterior. Esse último comportamento pode ser
explicado devido à melhora do superávit da Balança
Comercial, de US$ 12,26 bilhões para US$ 26,89 bilhões
(Tabela 7.1).
A Conta Financeira, por outro lado apresentou retração
nas captações de investimento estrangeiro saindo da
captação líquida de US$ 7,40 bilhões, em 2016, para
cessão líquida de US$ 0,93 bilhão, o que pode explicar a
manutenção do déficit do Balanço de Pagamentos.

Tabela 7.1 – Balanço de pagamentos – acumulado jan-set 2016/2017


US$ bilhões

Jan-Set Jan-Set
Discriminação 2016 2017
Transações Correntes -13,59 -2,70
Balança Comercial 12,26 26,89
Serviços -21,93 -24,33
Renda Primária -27,93 -31,31
Renda Secundária 2,08 1,72
Conta Capital 0,19 0,32
Conta Financeira -7,40 0,93
Erros e Omissões 5,98 3,31
Resultado do Balanço -5,98 -3,31
Fonte: Banco Central. Elaboração própria.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 83

TRANSAÇÕES CORRENTES
O país apresentou uma redução no déficit de Transações
Correntes de US$ 10,88 bilhões, comparando-se o
acumulado de janeiro a setembro de 2017 com o mesmo
período de 2016. Ao se investigar as Transações
Correntes, observa-se que a única conta que apresentou
melhora foi a Balança Comercial. Se, por um lado, a
conta de Renda Secundária manteve-se superavitária,
por outro, as demais apresentaram ampliação dos
déficits. Através da análise dos dados na série histórica
percebe-se que, caso o ajuste externo persista, o
superávit em Transações Correntes poderá ser alcançado
em breve, sobretudo pelos já destacados resultados da
Balança Comercial.
A conta de Transações Correntes do Brasil,
historicamente deficitária, apresentou um déficit de US$
2,71 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de
2017, uma redução no déficit de 80,1% em comparação
com 2016 (Gráfico 7.1).
A balança comercial brasileira, por sua vez, continuou
com aumento do superávit. No acumulado de janeiro a
setembro de 2017 demonstrou uma melhora
significativa, com um saldo de US$ 51,22 bilhões, valor
49,8% maior que o mesmo período de 2016.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 84

Gráfico 7.1 – Transações correntes – acumulado de jan-set 2016/2017


US$ bilhões
60
50
40
30
20
10
0
-10
-20
-30
-40
Transações Balança Serviços Renda Primária Renda
Correntes Comercial Secundária

2016 2017

Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

BALANÇA COMERCIAL
A análise da balança comercial é feita a partir da coleta
de dados do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e
Comércio Exterior (MDIC). Por ser realizada a partir de
fonte diferente, pode apresentar variações em relação
àqueles dados encontrados no Balanço de Pagamentos.
Os dados cobrirão o acumulado do ano de 2017 até o
mês de outubro, comparados com o mesmo período de
2016.
Segundo o MDIC, a Balança Comercial brasileira no
período analisado apresentou um superávit de US$ 58,46
bilhões, elevação de 51,8% em relação ao mesmo
período de 2016. Este é o maior resultado apresentado
desde o início da série histórica do MDIC, em 1989.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 85

Nota-se uma melhora nos valores em dólares correntes


de exportação e importação, em 19,9% e 9,1%,
respectivamente (Gráficos 7.2 e 7.3). Quanto à corrente
de comércio, que é o somatório das exportações e
importações, houve uma elevação de 15,3% relativa ao
mesmo período de 2016. Isso aponta recuperação das
relações comerciais do país com o resto do mundo.
A taxa de câmbio traz impactos para a análise do setor
externo e, de acordo com os últimos dados sobre a taxa
de câmbio efetiva real brasileira apresentados pela
Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
(Funcex), houve valorização da moeda nacional de
11,5%. Esse dado leva em consideração os principais
parceiros comerciais brasileiros e suas respectivas taxas
de inflação, sendo uma média do acumulado até
setembro de 2017 com relação ao mesmo período de
2016.
Com a valorização da moeda nacional há tendência de
que os produtos brasileiros se tornem mais caros no
mercado externo, e exportações apresente elevação. Tal
fato se deve ao crescimento da comercialização
principalmente de produtos básicos, que são pouco
sensíveis às variações cambiais, por se tratarem de
produtos que dependem, principalmente, de fatores
externos, como a demanda e preços, que são negociados
nos mercados internacionais.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 86

Gráfico 7.2 – Exportações – valores mensais – janeiro de 2016 a outubro de


2017 – US$ bilhões FOB
25

20

15

10

0
JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2016 2017

Fonte: MDIC. Elaboração própria.

As exportações podem ser apresentadas por fator


agregado, que agrupa os produtos em três grandes
classes, sendo considerada uma maior ou menor
agregação de valor que o bem sofreu desde o início do
seu processo de produção até a etapa final. Os produtos
básicos têm menor valor agregado. Os
semimanufaturados são os que sofrem pouca
transformação industrial e os manufaturados são
produtos de maior transformação industrial, logo, de
maior valor agregado, como é o exemplo dos automóveis
e máquinas.
Houve aumento das exportações no período destacado,
quando comparado ao mesmo período de 2016. Porém,
através do Gráfico 7.2 percebe-se certa estabilidade na
trajetória das exportações ainda que em patamar mais
elevado. A melhoria das exportações foi puxada,
principalmente, pela comercialização de produtos
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 87

básicos, que cresceu 28,2%. Esse aumento está


relacionado não somente ao aumento dos preços médios
(19,0%), mas também ao aumento da quantidade
exportada (7,7%).
Dentre os principais produtos básicos, a variação mais
relevante foi a de soja mesmo triturada, que apresentou
aumento na quantidade exportada de 25,8%, seguido
por óleos brutos de petróleo, aumento de 32,2%, com
variação de preços médios de 34,1%. Minérios de ferro e
seus concentrados, apesar de não apresentarem grande
ascensão na quantidade exportada (3,0%),
demonstraram elevação significativa em US$ FOB
(57,0%), devido ao aumento dos preços médios
(52,4%).
As exportações de semimanufaturados cresceram em
15,0%, principalmente por conta dos valores totais das
exportações em US$ FOB dos semimanufaturados de
ferro ou aços (55,6%) e do açúcar de cana em bruto
(19,3%). Esse resultado foi alcançado, sobretudo, pela
elevação dos preços médios em 33,1% e 16,5%,
respectivamente. No caso de ferros ou aços também
houve elevação da quantidade exportada em 16,9%,
enquanto que no açúcar de cana o aumento foi menos
expressivo, em 2,4%.
Os produtos manufaturados também apresentaram
melhoria nas exportações, com um acumulado de US$
66,20 bilhões, que representou elevação de 12,1%. Esse
desempenho se deve, essencialmente, ao aumento em
52,7% da quantidade de automóveis de passageiros
exportada, que possui como destino principal a Argentina
e representa 69,9% da participação nesse item. Do
mesmo ramo dos veículos automotores, veículos de
carga apresentou aumento em suas exportações de
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 88

39,8% ao passo que os aviões foram reduzidos em


17,9%.
Em relação às transações comerciais entre Brasil e
Argentina, no período em análise, houve elevação de
31,8%, frente ao mesmo período de 2016. Manteve-se,
assim, sua posição de maior parceiro comercial do Brasil
na América Latina e de terceiro país mais relevante
(7,9%), se comparado com as demais economias
mundiais, como a China (22,5%) e os EUA (12,1%).
Vale ressaltar a importância do acordo de comércio
automotivo entre o Brasil e a Argentina, que foi
prorrogado até 2020, de acordo com o MDIC. Ele
mantém as expectativas de crescimento das relações
comerciais entre os dois países e, também, dos esforços
que vem sendo tomados para o fortalecimento das
relações comerciais regionais. Em setembro de 2017 foi
promovida a V Reunião da Comissão de Produção e
Comércio entre Brasil e Argentina. Seu intuito foi o de
garantir o dinamismo da integração entre os países e das
oportunidades de negócios bilaterais.
Esse desempenho revela o avanço do caráter
dependente que a balança comercial brasileira apresenta
frente ao mercado de commodities. Isso pode ser
confirmado, também, quando se observa que na lista dos
dez principais produtos exportados pelo Brasil, haja vista
que os únicos manufaturados são os automóveis de
passageiros.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 89

Gráfico 7.3 – Importações – valores mensais – janeiro de 2016 a outubro de


2017 – US$ bilhões FOB

15

10

0
JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2016 2017

Fonte: MDIC. Elaboração própria.

As importações, no acumulado do ano até outubro de


2017, apresentaram ampliação em relação ao mesmo
período em 2016, porém em proporção menor do que as
exportações. Apesar dos resultados quantitativamente
melhores, ao se verificar a composição da importação
brasileira e sua tendência, é possível visualizar
elementos que apontam para uma condição desfavorável
para o país.
A importação de bens de capital, que já apresentava
redução relativa a períodos anteriores, manteve sua
trajetória em 2017, manifestando uma queda de 15,5%
em relação ao mesmo período de 2016. Este fato é
reflexo da baixa recuperação do nível de atividade
brasileiro e, principalmente, das expectativas
desfavoráveis de investimento.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 90

A Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), desde julho de


2017, tomou medidas para reduzir os custos de
investimentos através da desoneração da atividade
econômica produtiva. Para tanto, reduziu à zero os
impostos de importação sobre bens de capital e bens de
informática e telecomunicações que não são produzidos
no Brasil, considerados em regime de ex-tarifários,
porém a efetividade ou não dessa política só poderá ser
verificada futuramente.
Para além da queda na importação dos bens de capital,
houve crescimento na importação de combustíveis e
lubrificantes (38,6%), bens intermediários (11,1%) e
bens de consumo (6,2%).
Ressalta-se a relação entre a exportação de óleos brutos
de petróleo, que aumentou 77,2% em dólares correntes
e o resultado da importação de combustíveis e
lubrificantes descrito acima. Conforme comparação nota-
se maior dependência da importação dos setores
relacionados com o refino de petróleo.
O aumento da participação das importações do setor de
refino de petróleo pode ser entendido como um reflexo
da política de preços da Petrobrás, que os tornou
elevados no mercado interno se comparado aos preços
internacionais. Essa perda de competitividade, portanto,
levou à redução ainda maior da operação das refinarias
internas. Ademais, estas medidas tendem a facilitar a
entrada de agentes externos no mercado de
combustíveis brasileiros e atrair interesse sobre suas
refinarias, tendo em vista que, segundo notícias
veiculadas na mídia, a Petrobrás pretende incluí-las no
plano de venda de ativos ainda em 2017, constituindo
uma das operações do plano de desinvestimento da
empresa.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 91

Quanto aos resultados apresentados pelas importações


brasileiras, há reafirmação da fragilidade que a
recuperação econômica interna apresenta e, atrelada à
composição da exportação, majoritariamente de
produtos básicos, explicitam a vulnerabilidade comercial
que o Brasil apresenta perante o mercado mundial.
SERVIÇOS E RENDAS
O Brasil apresentou aumento no déficit da Renda
Primária, que representa a remuneração dos fatores de
produção entre residentes e não residentes, como juros,
lucros e aluguéis. Comparando-se o acumulado de
janeiro a setembro de 2017 com o mesmo período do
ano anterior tem-se um aumento de 12,1% no déficit,
atingindo o um saldo negativo de US$ 31,32 bilhões em
2017. Esse crescimento é explicado, principalmente,
pelos aumentos dos déficits de lucros e dividendos
(17,2%) e juros (7,9%) e redução do superávit de
remuneração de empregados (12,3%) (Gráfico 7.4).
A Renda Secundária, antiga Transações Unilaterais, ou
seja, transações entre residentes e não residentes sem
contrapartida, também apresentou uma redução em seu
saldo. Ela continuou superavitária, porém com um
decréscimo de US$ 0,36 bilhão, ou seja, de US$ 1,72
bilhões, em 2017, contra US$ 2,08 bilhões, em 2016.
Apesar de apresentar um valor pouco expressivo,
quando comparado com as demais contas, trata-se de
uma redução de 17,3%.
Assim como a conta de Renda Primária, a conta de
Serviços alcançou uma expansão em seu déficit em
10,9% nos períodos em comparação, atingindo – US$
24,33 bilhões em 2017.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 92

Gráfico 7.4 – Conta Serviços e suas rubricas – acumulado jan-set 2016/2017


– US$ bilhões
0

-5

-10

-15

-20

-25

-30
Serviços Aluguéis Viagens Transportes

2016 2017

Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

Aluguéis de equipamentos, que tradicionalmente


apresentam maior peso dentro da conta de Serviços,
manifestaram uma melhora em seu saldo no período em
análise. No acumulado de 2017 houve um saldo de –US$
12,34 bilhões, ou seja, valor 14,9% menor que o do
mesmo período do ano de 2016
A conta Viagens teve um aumento em seu déficit de
68,3% na comparação de igual período, atingindo
montante de –US$ 9,78 bi em 2017. Tal variação pode
ser explicada por uma redução de 6,6% nas receitas e
um aumento de 35,0% nas despesas nessa conta. Isso
representa um aumento de gastos de brasileiros no
exterior e uma queda de gastos de estrangeiros em
território brasileiro, o que pode estar relacionado com a
retomada, ainda que limitada, do consumo,
principalmente pelos estratos mais elevados de renda,
bem como pela valorização cambial.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 93

A conta de Transportes, por sua vez, apresentou uma


ampliação em seu déficit. No acumulado de janeiro a
setembro de 2017 esse item apresentou um déficit de
US$ 3,51 bilhões, valor 31,4% maior que o déficit do ano
imediatamente anterior.
CONTA CAPITAL E FINANCEIRA
A Conta Capital, por registrar um volume pouco
significante de transações, não é de grande relevância
para a análise de conjuntura. A Conta Financeira, por
outro lado, registra quase que a totalidade das
transações financeiras do Brasil com o restante do
mundo e é, por isso, o objetivo central dessa análise.
Na comparação entre o acumulado de janeiro a setembro
de 2016 com o mesmo período de 2017 observa-se que
o saldo total (montante em que as captações superam as
concessões) da conta financeira caiu de U$ 7,41 bilhões
para US$ -0,92 bilhão, ou seja, houve cessão líquida de
capital estrangeiro no período mais atual.
As captações via Investimento Direto aumentaram entre
os períodos analisados, de US$ 48,82 bilhões ante US$
39,84 bilhões (um aumento de 22,5%). Todavia, elas
não foram suficientes para cobrir o aumento no déficit
nas concessões via Outros Investimentos em 2017,
equivalente a US$ 31,66 bilhões, contra um déficit de
US$ 9,76 bilhões em 2016; bem como a conta ainda
deficitária em Investimentos em Carteira, saldo de –US$
6,71 bilhões, em 2017, ante –US$ 15,88 bilhões, em
2016. Além disso, a redução nas captações líquidas via
Derivativos, com US$ 0,13 bilhões ante US$ 1,49 bilhões
o aumento dos Ativos de Reserva, com US$ 11,50
bilhões ante US$ 8,32 bilhões contribuíram também para
a redução do saldo da conta financeira (Tabela 7.2).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 94

Tabela 7.2 - Captações de investimento estrangeiro – acumulado jan-set


2016/2017 - US$ bilhões
Jan - Set Jan - Set
Descrição
2016 2017
Conta Financeira (captação - concessão) 7,41 -0,92
Investimentos Diretos (captação -
concessão) 39,84 48,82
Investimentos em Carteira (captação -
concessão) -15,88 -6,71
Derivativos (captação - concessão) 1,49 0,13
Outros Investimentos (captação -
concessão) -9,72 -31,66
Ativos de Reserva* -8,32 -11,50
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração Própria.

Variações autônomas do nível de reservas (que


independem do resultado do balanço de pagamentos),
como a observada no período, são, em sua maioria,
explicadas por operações compromissadas de recompra,
levadas a cabo pelo Banco Central, de títulos indexados
em dólar como swaps cambiais. Já a variação observada
na conta Outros Investimentos é explicada,
principalmente, pela maior concessão de empréstimos e
adiantamentos comerciais (Tabela 7.3).

Tabela 7.3 – conta Outros Investimentos detalhada – acumulado jan-set


2016/2017 –US$ bilhões
Jan - Set Jan - Set
Descrição
2016 2017
Outros Investimentos (captação - concessão) -9,72 -31,66
Outras participações em capital (captação -
concessão) -0,17 -0,01
Moeda e Depósitos (captação - concessão) -2,63 -1,43
Empréstimos (captação - concessão) 0,73 -10,11
Seguros, Esquemas de pensão e fundos de
garantia (captação - concessão) 0,05 0,09
Créditos comerciais e adiantamentos (captação -
concessão) -7,87 -20,15
Outras contas a pagar/receber (captação -
concessão) 0,16 0,03
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração Própria.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 95

Ao detalhar a conta de Investimento Direto percebe-se


que a elevação do saldo nos períodos analisados não foi
resultado da instalação de nova capacidade produtiva no
Brasil. Ela representou, em primeiro lugar, a compra de
participação acionária por parte de investidores
estrangeiros. Isto é percebido através da elevação do
volume da conta Participação no capital - total – passivo
(que expressa a quantidade de capital nacional que foi
comprada por estrangeiros) que se elevou para US$
40,19 bilhões ante US$ 33,80 bilhões, o que denota o
avanço da desnacionalização do parque industrial
brasileiro.
E, em segundo lugar, a elevação do investimento direto
é fruto da perda de participação acionária por parte de
brasileiros no exterior, como mostra o menor volume da
conta Participação no capital - total – ativo (que expressa
a quantidade de capital estrangeiro comprada por
brasileiros), com US$ 2,94 bilhões ante US$ 7,33 bilhões
(Tabela 7.4).
Tabela 7.4 - Participação no capital (ativo e passivo) – acumulado jan-set
2016/2017 - US$ bilhões
Jan - Set Jan - Set
Descrição
2016 2017
Participação no capital - total –
passivo 33,80 40,19
Participação no capital - total –
ativo 7,33 2,94
Fonte: Banco Central Brasil. Elaboração Própria.

A redução das captações, expressa pela piora do saldo


da conta financeira, sempre incita debates acerca de
uma possível “fuga de capitais”, muito embora este tema
não esteja circulando nos veículos da mídia. A análise
anterior do investimento direto, no entanto, não
corrobora essa asserção – apesar de evidenciar outros
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 96

problemas, conforme discutido anteriormente. Uma


análise mais aprofundada da conta Investimentos em
Carteira deve também contribuir para elucidar essa
questão.
Através da Tabela 7.5 observa-se que o movimento de
redução do saldo dos investimentos em carteira acontece
em virtude de um aumento dos Investimentos em
carteira — ativos, ou seja, investimentos de brasileiros
no exterior, com US$ 8,90 bilhões ante – US$ 0,11
bilhões. Apesar de uma elevação na captação de
investimentos do exterior — expressa através da conta
Investimentos em Carteira – passivos, que atualmente
está em US$ 2,18 bilhões ante – US$ 16 bilhões em
2016. Ou seja, o movimento está mais atrelado à saída
de capitais de origem brasileira do que os de origem
estrangeira (Tabela 7.5).
Tabela 7.5 - Investimentos em carteira (ativos e passivos) – acumulado jan-
set 2016/2017 - US$ bilhões
Jan - Set Jan - Set
Descrição
2016 2017

Investimentos em carteira - ativos -0,11 8,90


Investimentos em carteira - passivos -16,00 2,18
Fonte: Banco Central Brasil. Elaboração Própria.

COMÉRCIO EXTERIOR CAPIXABA


O saldo comercial capixaba, que representa a diferença
entre exportações e importações do comércio de bens e
serviços do Espírito Santo com o resto do mundo, somou
US$ 2,87 bilhões no acumulado de janeiro a outubro de
2017, valor 25,5% superior ao mesmo período do ano de
2016.
No acumulado até outubro, as exportações capixabas
apresentaram um aumento de 26,5%, em relação ao
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 97

mesmo período de 2016. O valor das exportações passou


de US$ 5,24 bilhões para US$ 6,62 bilhões (Gráfico 7.5).
Em relação à composição das exportações, por fator
agregado, os produtos básicos apresentaram um
aumento de 53,6%, somando US$ 2,91 bilhões. Em
2016 o Estado enfrentou forte crise hídrica e sofreu com
os impactos ambientais no Rio Doce causados pelo
rompimento da barragem da SAMARCO, em Mariana/MG.
Os semimanufaturados também indicaram um
crescimento em relação a igual período de 2016, com
26,9%. Os manufaturados, por outro lado, registraram
uma queda de 2,1%.

Gráfico 7.5 – Exportações capixabas – valores mensais – janeiro de 2016 a


outubro de 2017 – em US$ milhões FOB
800

700

600

500

400

300

200

100

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2016 2017

Fonte: MDIC. Elaboração própria.

O principal produto na pauta de exportação capixaba foi


minérios de ferro aglomerados, representando 25,1% do
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 98

total valor exportado, num montante de US$ 1,66


bilhões no período em análise. Em seguida, pasta
química de madeira (12,9%), Óleos brutos de petróleo
(11,7%) outros produtos semimanufaturados do
ferro/aço (11,2%), outros granitos trabalhados (7,9%),
outros tubos flexíveis de ferro ou aço (5,3%), produtos
semimanufaturados de outras ligas de aço (3,6%), e
café em grão (2,9%).
Dentre os principais destinos das exportações capixabas,
encontram-se os Estados Unidos (34,9%), Países Baixos
(Holanda) (7,6%), China (4,9%), Argentina (4,7%) e
Itália (3,9%). Comparativamente ao mesmo período do
ano anterior, cabe destacar que os Estados Unidos
elevaram sua participação em 6,5 p.p. ao passo que os
Países Baixos (Holanda) reduziram em -7,9 p.p..
Por outro lado, no Espírito Santo as importações
registraram US$ 3,76 bilhões, de janeiro até outubro de
2017, aumento de 27,3% se comparado com o mesmo
período do ano imediatamente anterior (Gráfico 7.6).
Por grandes setores das contas nacionais, observa-se um
crescimento de 132,2% em combustíveis e lubrificantes.
As importações de bens de capital elevaram-se em
45,0%, o que pode ser explicada pelo desempenho de
equipamentos de transporte de uso industrial (368,4%).
Os bens de consumo reduziram-se em 3,5%, sendo
puxada pelos bens de consumo duráveis (-9,5%). Os
bens intermediários, por sua vez, tiveram queda de
4,1%.
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 99

Gráfico 7.6 – Importações capixabas – valores mensais – janeiro de 2016 a


outubro de 2017 – US$ milhões FOB
500

400

300

200

100

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2016 2017

Fonte: MDIC. Elaboração própria.

A China, com US$ 712,25 milhões, ocupou o primeiro


lugar na lista dos principais países que o estado mais
importou, ultrapassando a economia estadunidense.
Logo após os EUA, com US$ 663,82 milhões, e, por
sequência, a Austrália, com US$ 433,19 milhões. Por
blocos econômicos, a principal região que exportou para
o Espírito Santo foi a Ásia (exclusive Oriente Médio), com
29,9%.
Os principais produtos importados no acumulado de
janeiro a agosto de 2017 foram: Hulha betuminosa (US$
958,77 milhões), Automóveis (US$ 169,45 milhões),
outros aviões/veículos aéreos (US$ 148,81 milhões) e
leite integral (US$ 78,52 milhões).
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 100

Por fim, cabe lembrar que o Estado do Espírito Santo


dispõe de portos que funcionam como receptores de
produtos internacionais que são distribuídos para outras
partes do território nacional, irrigados por meio de
incentivos fiscais. Isso justifica a singularidade de certos
itens da pauta de importação capixaba frente à estrutura
de consumo interna do Estado.
7. SETOR EXTERNO
Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 57 – Página 101

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

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Sabadini, Vinícius Vieira Pereira

POLÍTICA ECONÔMICA: Fabrício Augusto de Oliveira

PARTICIPARAM DESTE NÚMERO:

Adamário Almeida Dias; Ana Quézia de Jesus Silva; Ana Clara Raft; Eloah
de Jesus Fassarella; Fabio Santos do Sacramento; Felipe Carvalho Souza
Santos; Iasmin Ribeiro; Isadora Andrade; José Tarcísio Ribeiro Pinto; José
Marcos de O. Redighieri; Lays Hesse; Leonardo Págio; Letícia Bastos de
Aguiar; Letícia Simão Hofmann; Luan Magalhães; Maria Amélia Santiago
Ataíde; Maria Gertrudes Deboni; Maria Luiza; Mateus Guimarães Rosa;
Matheus Avila; Matheus Neves; Pedro Mozer; Rafael Coutinho; Ramon
Schneider; Thais Caroline M. dos Santos; Thalia da Silva Pupa; Vinicius
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