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Caro estudante,

Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do que


preparação técnico-científica e que nossa missão como Universidade é proporcio-
nar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhe-
cimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É
proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo.

Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente


do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar
de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfren-
tar os desafios que se coloquem ao longo de sua vida e de sua trajetória profissio-
nal, e de aprender permanentemente e de forma autônoma.

Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nos-


so Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadê-
micas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desen-
volvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso
Unifacs; como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho.

Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir:

‚‚ Disciplinas de Formação Humanística: oferecidas em todos os cursos de gradua-


ção da Unifacs;

‚‚ Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns


aos cursos de uma mesma área do conhecimento, para o futuro exercício profissio-
nal;

‚‚ Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desen-


volvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso;

‚‚ Atividades integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos tra-


balhados em sala de aula, através do desenvolvimento de projetos específicos;

‚‚ Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conheci-


mento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias,
programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Junio-
res, entre outras;

‚‚ Estágio Supervisionado;

‚‚ Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas.


As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel
fundamental na consecução desse perfil. Preparam uma sólida base de conheci-
mentos gerais que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica
de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para
as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como
cidadão e profissional; motivando à busca do saber perene.

Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcio-


nada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Forma-
ção Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes:
aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores,


cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo
melhor.

Cordialmente,

Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho

Chanceler
Formação Humanística Unifacs

Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as dis-


ciplinas de Formação Humanística têm como objetivo:

Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da


sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao
processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para
a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes
aos direitos humanos, à ética, às questões sócio-ambientais
que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políti-
cos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a
formação cidadã.

As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são:

1. Comunicação

Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma


autônoma, adequando-se às diversas situações comunicativas presentes no dia-a-
dia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua
vida pessoal e profissional.

2. Introdução ao Trabalho Científico

Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do


conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solu-
ção de questões cotidianas.

3. Sociedade, Direito e Cidadania.

Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que


garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de for-
ma a interferir positivamente na sociedade.

4. Conjuntura Econômica

Habilitar à compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas


diversas variáveis e características no dia-a-dia de países, empresas e cidadãos.
5. Arte e Cultura

Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e


culturais e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissio-
nais de qualquer área do conhecimento.

6. Meio Ambiente e Sustentabilidade

Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas


relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estu-
dantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos.

7. Psicologia e Comportamento

Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fa-
zem parte, e avaliar papeis e funções nas relações pessoais e profissionais.

8. Filosofia

Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diver-


sas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.

9. Empreendedorismo

Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para


o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como em-
presário.

10. Saúde e Qualidade de Vida

Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter uma
melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos
pessoais e profissionais.
CONJUNTURA ECONÔMICA
Autor: Gustavo Cassebi Pessoti - Adaptação: Carlos Mauricio Castro.
© 2013. Universidade Salvador – UNIFACS – Laureate International Universities
É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.
Disciplina: Conjuntura Econômica.

Universidade Salvador – UNIFACS

Diretor Presidente
Marcelo Henrik

Chanceler
Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho

Reitora
Marcia Pereira Fernandes de Barros

Pró-reitor de Educação Corporativa e EAD


Adriano Lima de Barbosa Miranda
Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Comunitária
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Coordenadora do Eixo de Formação Humanística
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EAD UNIFACS
Coordenador Geral
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Coordenador de Processos Operacionais
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Coordenadora Pedagógica
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Coordenadora Acadêmico-Administrativa
Rita de Cássia Beraldo

Coordenador de Tecnologia da Informação


Guna Alexander Silva dos Santos

Coordenadora do Laboratório de Mídias


Agnes Oliveira Bezerra

Designers
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José Archimimo Costa Conceição
Daniel Sousa Santos

Apoio do Laboratório de Mídias


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Coordenadora SPACEAD
Renata Lemos Carvalho

Revisão / estrutura
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Sonildes de Jesus Sousa

Contato: www.unifacs.br | UNIFACS Atende: 3535-3135 - Demais Localidades: 0800 284 0212
SUMÁRIO
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA UNIFACS................................................................................................................................................3

CONJUNTURA ECONÔMICA............................................................................................................... 5

AULA 01 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA............................................................................................................................................9


AULA 02 - ANÁLISE DA DEMANDA E OFERTA DE MERCADO................................................................................................. 23
AULA 03 - INFLAÇÃO............................................................................................................................................................................ 37
AULA 04 - ANÁLISE DAS POLÍTICAS ECONÔMICAS NO BRASIL............................................................................................. 53
AULA 05 - CRESCIMENTO X DESENVOLVIMENTO....................................................................................................................... 65
AULA 06 - O PRODUTO INTERNO BRUTO E A ANÁLISE DA ECONOMIA BAIANA............................................................ 77
AULA 07 - FRAGILIDADES DA ECONOMIA BAIANA E A DEPENDÊNCIA EXTERNA.......................................................... 95
AULA 08 - ANÁLISE DA QUESTÃO DA DESIGUALDADE E DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DOS
NEGROS NA ECONOMIA BRASILEIRA E BAIANA.......................................................................................................................111
AULA 01 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA 9

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Mauricio Castro.

Olá!

O objetivo, nesta primeira aula de Conjuntura Econômica, é instrumentalizá-lo


de conceitos relativos à avaliação da atividade econômica, com base no conhecimento
da teoria econômica. Vamos conhecer a dinâmica do sistema econômico (principais
teorias) e as relações das variáveis econômicas, como forma de estabelecer um pré-
requisito para a análise da conjuntura econômica, alvo desse programa.

CONCEITO DE ECONOMIA

A palavra economia, etimologicamente vem de uma dupla combinação do


grego (oikos nomos), significando, ao pé da letra, aquele que administra uma casa. De
forma mais generalizada, a economia pode ser entendida, dentro dessa questão de
semântica, como a administração da “coisa pública” ou o conjunto de decisões norma-
tivas utilizadas para administrar recursos.

A economia passou por muitas evoluções na sua concepção teórica até que
se pudesse amplificar o seu conceito e adequá-lo ao ramo das ciências sociais. O ter-
mo foi estudado pelas mais diversas escolas do pensamento econômico, até que se ________________________
chegasse a um denominador comum e universal sobre a proposta real de análise das ________________________
ciências econômicas. ________________________
________________________
Para efeitos do nosso estudo, vamos simplificar e dizer que economia é uma
________________________
ciência social que estuda a maneira pela qual os homens decidem empregar recursos
________________________
escassos, a fim de produzir diferentes bens e serviços a atender às necessidades de
________________________
consumo.
________________________
Paulo Sandroni, em seu Novíssimo Dicionário de economia (1999) – material ________________________
obrigatório para todos aqueles que querem aprender as principais expressões do ________________________
“economês” -, corrobora a definição anterior. Segundo esse autor, a economia é assim ________________________
definida: ________________________
________________________
Ciências que estudam a atividade produtiva. Focaliza estritamente ________________________
os problemas referentes ao uso mais eficiente de recursos materiais ________________________
escassos para a produção de bens (SANDRONI, 1999, p.107). ________________________
________________________
________________________
Essa ciência também estuda as variações e combinações na alocação dos fa- ________________________
tores de produção (terra, capital e trabalho), na distribuição de renda, na oferta e ________________________
procura e nos preços das mercadorias. Sua preocupação fundamental refere-se à men- ________________________
suração e análise da atividade produtiva, recorrendo, para isso, aos conhecimentos ________________________
matemáticos, estatísticos e qualitativos (históricos). ________________________
________________________
De forma geral, esse estudo pode ter por objetivo a unidade de produção (em-
________________________
presa), a unidade de consumo (família) ou então a atividade econômica de toda a so-
10 ciedade. No primeiro caso, os estudos pertencem à microeconomia e, no segundo, à
macroeconomia.

conjuntura
econômica A QUESTÃO DA ESCASSEZ

Um dos princípios fundamentais da Economia é a chamada “lei da escassez”,


segundo a qual as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto que os recursos
necessários à produção dos bens, capazes de satisfazer a essas necessidades são es-
cassos, ou seja, existem em quantidades limitadas.

As necessidades humanas variam desde as mais elementares, tais como alimen-


tação, segurança, moradia etc., até as mais sofisticadas, como a cultura e o lazer. Além
disso, são consideradas ilimitadas, basicamente, por dois motivos:

a) porque se renovam no dia a dia, exigindo contínuo suprimento de bens para


atendê-las (por exemplo, alimentação, vestuário, transporte etc.);

b) porque tendem a seguir uma escala de sofisticação - a cada dia surgem no-
vos desejos e novas necessidades, motivadas pelas perspectivas de aumento do pa-
drão de vida da sociedade (por exemplo, cultura, lazer, moda etc.).

Para atender à imensa gama de desejos humanos, é preciso que sejam produ-
zidos certos bens. Entende-se o conceito de bem como sendo tudo aquilo capaz de
________________________ atender a uma necessidade humana. Os bens podem ser materiais (quando é possível
________________________ atribuir-lhes características físicas, tais como tamanho, forma e cor) e imateriais (os
________________________ chamados bens intangíveis como, por exemplo, os diversos tipos de serviços).
________________________
A produção dos bens, por sua vez, exige o uso de certo conjunto de recursos,
________________________
também chamados fatores de produção, que podem ser classificados em três grandes
________________________
grupos:
________________________
________________________ ‚‚ O fator de produção “Terra”, incluindo o solo e os diversos recursos naturais - miné-

________________________ rios, florestas, recursos hídricos etc.;

________________________ ‚‚ O fator de produção “Trabalho”, representado pela força de trabalho humano, seja
________________________ ele físico ou intelectual;
________________________
‚‚ O fator de produção “Capital”, que corresponde às máquinas, aos equipamentos, às
________________________ ferramentas, aos instrumentos, à infraestrutura, enfim, bens que foram produzidos an-
________________________ teriormente e que continuam a ser utilizados durante algum tempo para a produção de
________________________ outros bens.
________________________
________________________
________________________ Ocorre que toda sociedade, num dado momento, possui um estoque limitado
________________________ desses recursos ou fatores de produção. Isto significa que não é possível produzir uma
________________________ quantidade infinita de bens, porque os recursos são limitados.
________________________
Assim, surge o problema econômico da escassez: de um lado, as necessidades
________________________
humanas são ilimitadas; do outro, os recursos ou fatores de produção que devem ser
________________________
utilizados para produzir os bens (que irão atender a essas necessidades) são limita-
________________________
dos.
________________________
Ou seja, não é possível produzir todos os bens de que a sociedade necessita, 11
mas é possível utilizar os recursos da melhor maneira possível, para produzir o máximo

conjuntura
econômica
de bens e, desse modo, atender à maior gama possível de necessidades. Isso nos leva a
uma das ideias-chave na Economia, que é a ideia da eficiência: maximizar a produção
de bens e serviços, dadas as restrições colocadas pela quantidade limitada de
fatores de produção.

Assim, a sociedade como um todo se organiza de modo a tentar produzir os


bens e serviços de forma eficiente, ou seja, empregando de forma racional os recur-
sos disponíveis, visando a otimizar seus resultados, maximizando o nível de bem-estar
da população. Nesse contexto, a Economia se apresenta como a ciência social que se
ocupa da administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competi-
tivos.

Para fins didáticos, costuma-se “dividir” a Ciência Econômica em áreas específi-


cas, dentre as quais se destacam a Microeconomia, – o estudo do comportamento das
unidades produtivas, dos indivíduos, dos mercados, etc. – e a Macroeconomia – o es-
tudo do comportamento dos grandes agregados econômicos: produto interno bruto,
inflação, desemprego, etc.

A Macroeconomia trata do estudo dos agregados econômicos (conjunto de to-


das as atividades econômicas), de seus comportamentos e das relações que guardam
entre si. Tenta-se avaliar o desempenho da economia no sentido de satisfazer as ne-
cessidades da sociedade. ________________________
________________________
Assim, uma das questões fundamentais da Macroeconomia – nosso objeto de
________________________
estudo daqui por diante – é justamente avaliar esse desempenho econômico. Em ou-
________________________
tras palavras, como “medir” a quantidade total de bens e serviços que estão sendo dis-
________________________
ponibilizados à sociedade e verificar as relações econômicas que estão na base desse
________________________
processo produtivo.
________________________
A Macroeconomia nos fornece um conjunto de variáveis que permitem saber ________________________
se a economia de um país, num certo momento, está “crescendo” ou está em “reces- ________________________
são”, se existe “desemprego de fatores” ou “pleno emprego”, como está o “nível geral ________________________
de preços” etc. Assim, o ponto de partida é medir o desempenho da economia através ________________________
de algum indicador. Normalmente, os mais utilizados são: o Produto (bens e serviços ________________________
produzidos ao longo de um ano), a Renda (todo rendimento que é gerado na econo- ________________________
mia, sob a forma de salários, lucros, aluguéis etc.) e a Despesa (todos os gastos que são ________________________
realizados em consumo, investimento, importações etc.), para se mensurar o nível de ________________________
atividade econômica de um país, de uma região ou cidade. ________________________
________________________
________________________
PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS
________________________
________________________
A Ciência Econômica, como vimos anteriormente, é conhecida como “ciência
________________________
da escassez”. Ela parte do princípio que as necessidades humanas são ilimitadas, en-
________________________
quanto que os recursos necessários para que as empresas produzam os bens e servi-
________________________
ços capazes de satisfazer a essas necessidades são escassos, ou seja, existem em quan-
________________________
tidades limitadas.
________________________
12 As sociedades humanas, de modo geral, se defrontam com três problemas eco-
nômicos fundamentais:

conjuntura
econômica
‚‚ O QUE e QUANTO produzir?

Significa que produtos deverão ser produzidos (feijão, televisores, sapatos etc.)
e em que quantidades deverão ser colocadas à disposição dos consumidores. O sis-
tema econômico precisa se organizar para que as unidades produtivas – as empresas
– passem a gerar esses bens, nas quantidades desejadas pela população.

‚‚ COMO produzir?

Esta questão diz respeito à tecnologia a ser empregada na produção dos diver-
sos bens e serviços. As empresas devem escolher, dentre vários processos técnicos,
aquele que for mais eficiente, ou seja, que seja capaz de gerar a máxima produção
possível a partir de certa quantidade de recursos (terra, trabalho e capital).

‚‚ PARA QUEM produzir?

Este problema diz respeito ao modo como serão os bens e serviços “distribuí-
dos” à população, na medida em que será necessário, de alguma forma, estabelecer
um preço para os itens produzidos pelas empresas.

________________________
________________________ Diante de tudo o que foi visto até aqui, percebe-se que a Economia é uma ciên-
________________________ cia preocupada com problemas de escolha. Quando o sistema econômico se defronta
________________________ com os problemas de “o que e quanto”, “como” e “para quem” produzir, é necessário
________________________ fazer escolhas entre várias opções possíveis.
________________________
A escolha é necessária porque o “estoque” de fatores de produção (terra, tra-
________________________
balho e capital), no curto prazo, é dado, é limitado, enquanto que existem diversas
________________________
demandas por bens e serviços. Assim, as empresas têm que decidir sobre a forma de
________________________
alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre milhares de diferentes possíveis li-
________________________
nhas de produção. Quantos hectares de terra deverão ser utilizados para o cultivo de
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milho? E quantos para a criação de gado? Quantos televisores devem ser fabricados
________________________
por ano? E quantos caminhões? E quantos navios? etc.
________________________
________________________ Dadas as limitações dos recursos produtivos e do nível tecnológico, os diversos
________________________ países tentam organizar suas economias, a fim de resolver os problemas do quê, quan-
________________________ to, como e para quem produzir, de forma eficiente, isto é, com o menor desperdício
________________________ possível.
________________________
Numa economia de mercado (aquela em que não há intervenção econômica
________________________
do Estado), os três problemas fundamentais são resolvidos de forma descentralizada,
________________________
pelo livre jogo de demanda (ou procura) e oferta nos diversos mercados de bens e ser-
________________________
viços. Nenhum agente econômico (indivíduo ou empresa) se preocupa em desempe-
________________________
nhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Preocupam-se
________________________
em resolver isoladamente seus próprios negócios.
________________________
________________________ As empresas, todo o tempo, estão lutando para somente sobreviver, num am-
biente altamente competitivo, graças à concorrência imposta pelos mercados (tanto 13
na venda de produtos finais, quanto na compra dos fatores de produção). Esse jogo

conjuntura
econômica
econômico é todo baseado nos sinais dados pelos preços.

Tudo é realizado através dos ajustes nos preços das mercadorias, em que se
procura compatibilizar o preço desejado pelos indivíduos (o mais baixo possível) com
o preço desejado pelas empresas (o mais alto possível). O desejo dos indivíduos deter-
minará a magnitude da demanda e as intenções das empresas determinarão a mag-
nitude da oferta.

O equilíbrio entre a demanda e a oferta será sempre atingido pela flutuação


do preço do produto em questão. Se a demanda for maior do que a oferta, o preço
tende a subir. Se a oferta for maior do que a procura, o preço tende a cair. Se houve
coincidência entre oferta e demanda, o preço tende a ficar estável – que corresponde
à situação de equilíbrio de mercado.

Assim, o mecanismo de preços se torna um grande sistema de ajustes, de modo


que ao final de várias interações entre produtores (do lado da oferta) e de consumido-
res (do lado da demanda), surge o preço de equilíbrio, determinando as quantidades
a serem transacionadas no mercado.

Dessa forma, numa economia de mercado, os problemas básicos da economia


– o que, quanto, como e para quem produzir - podem ser resolvidos pela concorrência
dos mercados e pelo mecanismo dos preços. O consumidor tentará maximizar a sua
________________________
satisfação e o produtor, o seu lucro. O gráfico, a seguir, demonstra a interação das for-
________________________
ças de oferta e demanda, resultando no preço e na quantidade de equilíbrio.
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Gráfico 1 - Interação das forças oferta e demanda
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Os consumidores estabelecem os preços máximos que estão dispostos a pagar ________________________
pelos produtos colocados no mercado. Essa avaliação é subjetiva (individual a cada ________________________
consumidor) e deriva do conceito de utilidade (uma espécie de saciedade) que o con- ________________________
sumidor procura maximizar. Assim, a curva de demanda de mercado delimita o preço ________________________
máximo. ________________________
14 Por sua vez, os produtores estabelecem o preço mínimo que estão dispostos a
receber por cada quantidade ofertada, diante de todos os seus custos e seu objetivo

conjuntura
econômica
de maximizar lucros. Assim, a curva de oferta representa o limite mínimo.

Dessa forma, o equilíbrio será no ponto E. As leis do mercado econômico, de


oferta e demanda, garantem a maneira mais eficiente, para que consumidores e pro-
dutores possam maximizar os seus objetivos, o que é a essência dos problemas eco-
nômicos.

A ORGANIZAÇÃO E O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA ECONÔ-


MICO

O sistema econômico é formado a partir da interação entre a demanda e oferta


da economia. Veremos, exatamente na Aula 02, as principais características da intera-
ção entre oferta e demanda da sociedade, de forma a complementar os ensinamentos
do sistema econômico.

Por ora, é importante que saibamos que, nas relações de troca que envolvem
a economia, existe sempre uma mão dupla: de um lado, estão aqueles que são pro-
dutores e que vão até o mercado colocar à disposição aquela quantidade de recursos
que não é utilizada na sua própria subsistência; de outro, estão aqueles para quem a
produção da economia vai ser dirigida para a satisfação de suas necessidades. Esta-
________________________ mos falando dos agentes que compõem as diversas transações da vida econômica.
________________________ São eles: as famílias de consumidores, os produtores (empresas), o governo e um
________________________ agente, até muito pouco tempo atrás desprezado pelos manuais de economia, o resto
________________________ do mundo.
________________________
Os consumidores são todos aqueles que têm necessidades básicas e para aten-
________________________
dê-las têm que se dirigir para o mercado econômico para realizar operações de troca.
________________________
Devem possuir, no mínimo, um fator de produção, isto é, a sua força de trabalho, por
________________________
meio do qual estão aptos a participarem da vida econômica de um país.
________________________
________________________ Numa economia moderna, as unidades familiares ativas participam do apare-
________________________ lho produtivo por meio das empresas, para as quais convergem os seus recursos indi-
________________________ viduais de produção (como o trabalho) e outros ativos (como a poupança), destinados
________________________ não só à produção corrente de bens e serviços, como também à formação e expansão
________________________ da capacidade instalada de produção.
________________________
Por sua participação no processo econômico de produção ou por seu acesso
________________________
aos benefícios previdenciários existentes, convergem para as unidades familiares di-
________________________
ferentes tipos de rendas, como salários, aluguéis, juros, lucros e dividendos, além de
________________________
outros tipos de transferências.
________________________
________________________ Nas unidades produtoras, enquadram-se todas as unidades que compõem o
________________________ aparelho de produção da economia nacional. Reúnem-se, aqui, as empresas que se de-
________________________ dicam a atividades primárias, secundárias ou terciárias, produzindo os bens e serviços
________________________ que atendam às necessidades de consumo e de acumulação da sociedade.
________________________
A característica principal das empresas, do ponto de vista da contabilidade so-
________________________
cial, é o fato de que reúnem, organizam e remuneram os fatores de produção forneci-
dos pelas unidades familiares. Cada uma das empresas integradas no processamento 15
da produção é um centro de convergência e de aplicação de recursos, de cuja ativida-

conjuntura
econômica
de resulta a oferta agregada dos mais diferentes tipos de bens e serviços.

Assim, pode-se afirmar que as empresas produzem para que as famílias possam
consumir os bens e serviços produzidos. Mas, o que garante que esses bens e serviços
se revertam para o consumo das famílias é o fato de que os consumidores, ou seja, as
famílias, são também proprietários dos fatores de produção. As famílias “cedem” esses
fatores às empresas, para que eles possam ser utilizados na produção. E fazem isso jus-
tamente para obter, em troca, a garantia de sua participação na divisão dos produtos
resultantes.

Para intermediar esse processo e evitar que os produtores queiram se sobre-


pujar aos consumidores, ou para defender, criar condições favoráveis ao pleno fun-
cionamento do sistema econômico, aparece o seu terceiro elemento, o governo. O
governo destaca-se como um dos mais importantes agentes ativos do sistema, devido
às particularidades que envolvem suas ações econômicas.

O governo deve ser entendido como um agente coletivo que contrata direta-
mente o trabalho de unidades familiares e que adquire uma parcela da produção das
empresas para proporcionar serviços úteis à sociedade como um todo. Apesar de ter
uma capacidade limitada para a contração de membros das unidades familiares, o
governo também participa do sistema econômico realizando políticas públicas que
devem (ou deveriam) ser direcionadas para os grupamentos mais necessitados das ________________________
unidades familiares. ________________________
________________________
O governo representa um centro de produção de bens e serviços coletivos. Suas
________________________
receitas resultam majoritariamente da retirada compulsória de poder aquisitivo das
________________________
famílias e empresas; e suas despesas são caracterizadas pelos pagamentos efetuados
________________________
aos agentes envolvidos no fornecimento dos bens e serviços públicos à sociedade.
________________________
Finalmente, é importante lembrar que nem tudo que é produzido em uma eco- ________________________
nomia fica restrito ao espaço físico interno. Uma parte dessa mercadoria é exporta- ________________________
da e outra, em função de nossas necessidades complementares, é importada, isto é, ________________________
comprada de outros produtores que não estão localizados no mesmo país de nossos ________________________
produtores. ________________________
________________________
Então, surge o quarto dos nossos agentes do sistema econômico: o resto do
________________________
mundo. Esta categoria destina-se a registrar as transações econômicas entre unida-
________________________
des familiares, empresas e governo do país com semelhantes agentes pertencentes a
________________________
outros países. Aqui, citam-se, como exemplo, os fluxos de importações e exportações,
________________________
os pagamentos pelos serviços internacionais e as transferências unilaterais de toda
________________________
espécie com que os residentes de um país beneficiam os de outros países.
________________________
Esses quatro agentes são responsáveis por todo o funcionamento e a organiza- ________________________
ção do sistema econômico. Todas as relações econômicas que veremos ao longo deste ________________________
curso derivam do comportamento de cada um desses agentes econômicos. ________________________
________________________
________________________
________________________
16 A EVOLUÇÃO DA TEORIA ECONÔMICA

conjuntura
econômica
A partir de agora, você vai conhecer o percurso histórico da teoria econômica.

Antiguidade: gregos e romanos

Alguns autores defendem que a economia constitui um conjunto de preceitos


ou de soluções adaptadas a problemas particulares, a exemplo de Pinho e Vasconcelos
(2003). Por isso, na antiguidade, surgiram apenas algumas ideias econômicas, muito
fragmentadas. Tanto na Grécia como em Roma, a unidade econômica foi mantida por
redes de estradas e navegações em que, do centro de afluência, os produtos eram dis-
tribuídos para suas províncias, estimulando, assim, transações comerciais e a criação
de companhias mercantis.

Idade média

Já na Idade Média, surgiram atividades econômicas intra e inter-regionais mui-


to importantes, que foram as feiras periódicas organizadas por corporações de ofícios
e impulsionadas pelo comércio no Mar Mediterrâneo. Porém, a doutrina econômica
medieval era dependente da filosofia ou da prática de subordinação à moral cristã,
que condenava as taxas de juros e defendia os “preços justos”, como equilíbrio dos
________________________ agentes econômicos.
________________________
________________________
Mercantilismo
________________________
________________________
Essa doutrina econômica caracterizava o período histórico da Revolução Co-
________________________
mercial, entre os séculos XVI a XVIII, marcado pela desintegração do feudalismo e pela
________________________
formação dos Estados Nacionais. Teve como premissa básica o acúmulo de divisas em
________________________
metais preciosos pelo Estado por meio de um comércio exterior de caráter protecio-
________________________
nista.
________________________
________________________ Os princípios básicos do mercantilismo foram:
________________________ ‚‚ O Estado deve incrementar o bem-estar nacional, ainda que em detrimento de seus
________________________ vizinhos e colônias.
________________________
‚‚ A riqueza da economia nacional depende do aumento da população e do aumento do
________________________
volume de metais preciosos no país.
________________________
________________________ ‚‚ O comércio exterior deve ser estimulado, pois é por meio de uma balança comercial
________________________ favorável que se aumenta o estoque de metais preciosos.

________________________ ‚‚ O comércio e a indústria são mais importantes para a economia nacional que a agri-
________________________ cultura.
________________________
Essa concepção levava a um intenso protecionismo estatal e a uma ampla in-
________________________
tervenção do Estado na economia. Todo esse processo se desenvolveu com uma forte
________________________
autoridade central, tida como essencial para a conquista de novos mercados e para a
________________________
proteção dos interesses comerciais.
________________________
Essa doutrina era constituída por um conjunto de concepções desenvolvidas 17
na prática por uma classe dominante formada por administradores e comerciantes,

conjuntura
econômica
com objetivos não só econômicos, como também político-estratégicos. Sua aplicação
variava conforme a situação do país, os recursos e o modelo de governo. Vale ressaltar
que, na Holanda, o poder do Estado era subordinado às necessidades do comércio,
enquanto que, na França e na Inglaterra, a iniciativa econômica estatal constituía ou-
tro braço das intenções militares do Estado, geralmente, agressivas em relação a seus
vizinhos e colônias.

O liberalismo: escolas, princípios comuns

Essa doutrina econômica tinha um caráter ideológico das revoluções antiab-


solutistas que ocorriam na Europa, principalmente na Inglaterra e na França, nos sé-
culos XVII e XVIII, e da luta pela independência dos Estados Unidos. Correspondia aos
anseios da classe em ascensão, a burguesia, que consolidava a sua força econômica
frente à aristocracia em decadência amparada pelo absolutismo monárquico.

Os princípios básicos do liberalismo foram:

‚‚ Ampla liberdade individual;

‚‚ Democracia representativa com separação de poderes (Legislativo, Executivo e Judi-


ciário);
________________________
‚‚ Direito inalienável à propriedade;
________________________
‚‚ A livre iniciativa e a concorrência como forma de alcançar o progresso social. ________________________
________________________
________________________
Dessa forma, deve-se destacar o princípio do laissez-faire, laisser-passer (Dei- ________________________
xar fazer, deixar passar), que proclamou a mais absoluta liberdade de produção e co- ________________________
mercialização de mercadorias, condenando toda intervenção do Estado na economia, ________________________
pois a função do Estado era a de garantir a propriedade privada e a livre concorrência, ________________________
caso sofressem qualquer ameaça. ________________________
________________________
Cabe destacar, nesse rápido passeio pela ciência econômica, os doutrinadores
________________________
econômicos que influenciaram com suas teses e concepções ideológicas as ciências
________________________
econômicas.
________________________
________________________
________________________
Adam Smith, divisão internacional do trabalho e a “mão invisível”
________________________
Adam Smith, economista escocês, tem em sua obra mais célebre, A Riqueza das ________________________
Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, o marco inicial dos autores clás- ________________________
sicos. Smith reconhece o trabalho como a verdadeira origem da riqueza e distingue o ________________________
valor de uso (as mercadorias consideradas do ponto de vista da capacidade que elas ________________________
têm de satisfazer as necessidades humanas) e o valor de troca (a proporção em que ________________________
elas são trocadas umas pelas outras). Para ele, o valor de troca não se fundamenta na ________________________
utilidade de uma mercadoria e sim no trabalho, ou seja, o tempo necessário para sua ________________________
produção. Dessa forma, Smith inicia a análise dos efeitos da divisão do trabalho sobre ________________________
18 a produtividade, demonstrando, contrariamente ao ponto de vista dos mercantilistas,
que, à medida que o comércio aumenta a divisão do trabalho, todos se beneficiam do

conjuntura
econômica
consequente aumento da produtividade.

Outra tese defendida por Adam Smith é o individualismo, considerando que os


interesses individuais livremente desenvolvidos seriam harmonizados por uma “mão
invisível” e resultaria no bem-estar coletivo. Essa “mão invisível” entraria também em
jogo no mercado dos fatores de produção enquanto imperasse a livre-concorrência.
A apologia do interesse individual e a rejeição da intervenção estatal na economia se
transformariam nos princípios básicos do liberalismo.

Malthus: População X Crescimento da Produção de Alimentos e Lei dos


Rendimentos Decrescentes

Economista e clérigo inglês é autor da obra Ensaio sobre o Princípio da Popula-


ção. Defendia a tese de que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética,
enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica, o que levaria
a pobreza e a fome generalizada. Essa tese foi contestada por outros economistas da
época, uma vez que Malthus ignorava a estrutura social da economia e as possibilida-
des criadas pela tecnologia agrícola.

A sua concepção sobre a renda diferencial da terra é semelhante a outros auto-


________________________ res da época, a exemplo de Ricardo, através da aplicação da Lei dos Rendimentos De-
________________________ crescentes, que admitia que o proprietário rural ocupava áreas menos férteis à medida
________________________ que a população crescia.
________________________
________________________
________________________ Ricardo: renda diferencial da terra, teoria das vantagens comparativas de custo
________________________
________________________ Economista inglês, assim como Malthus, David Ricardo acreditava que a maior

________________________ demanda, acarretada pelo aumento da população, exigia o cultivo de terras menos

________________________ férteis, nas quais os custos de produção sejam mais elevados dos que nas terras mais

________________________ férteis. Entretanto, os custos e lucros deveriam ser mantidos no mesmo nível nos dois

________________________ casos, pois, de outro modo, as terras de pior qualidade deixariam de ser cultivadas.

________________________ Porém, a grande contribuição de Ricardo foi à formulação da Lei dos Custos
________________________ Comparativos, ou Lei das Vantagens Comparativas, com que procurou demonstrar a
________________________ vantagem de um país importar determinados produtos, mesmo que pudesse produzi-
________________________ los por preço inferior, desde que sua vantagem, em comparação com outros produtos,
________________________ fosse ainda maior. Essa lei constitui atualmente uma parte importante da teoria do
________________________ comércio internacional.
________________________
________________________
________________________ Stuart Mill: teoria do valor e estado estacionário
________________________
________________________ Filósofo e economista clássico inglês, ao analisar a teoria do valor, procurou de-
________________________ monstrar como o preço é determinado pela igualdade entre a demanda e a oferta
________________________ e como a demanda recíproca de produtos afeta os termos do intercâmbio entre os
países. Lançou a ideia da elasticidade da demanda, expressão introduzida mais tarde
pelos neoclássicos, para analisar possibilidades alternativas de comércio. 19
Assim como Ricardo e Malthus, Mill previa a ocorrência de um “estado estacio-

conjuntura
econômica
nário”, fruto do crescimento populacional e responsável pelo cultivo de terras cada vez
menos férteis. Ao chegar a determinado limite, o lucro seria tão baixo que a acumula-
ção de capital simplesmente acabaria, prejudicando o desenvolvimento econômico.

Marx: teoria de mais valia — consequências e causas

Filósofo e economista alemão, Marx foi o mais eminente teórico do comunismo,


cuja obra mais conhecida, O capital, teve seus dois últimos volumes acabados, após
sua morte, pelo amigo Friedrich Engels. O conceito de mais-valia consiste no valor tra-
balho não pago ao trabalhador, isto é, na exploração exercida pelos capitalistas sobre
seus assalariados.

Marx, assim como outros teóricos clássicos, considerava que o valor de toda
mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para
produzi-la. Sendo a força de trabalho uma mercadoria cujo valor é determinado pelos
meios de vida necessários à subsistência do trabalhador (alimentos, roupas, moradia
transporte etc.) e se este trabalhar além de um determinado número de horas, estará
produzindo não apenas o valor correspondente a sua força de trabalho, que é pago
pelo capitalista sobre forma de salário, mas também um valor a mais, um valor exce-
dente sem contrapartida, denominado mais-valia. ________________________
________________________
________________________
Os Marginalistas ou Neoclássicos: o conceito de utilidade ________________________
________________________
Com a mudança na definição dos problemas econômicos da determinação das ________________________
causas do desenvolvimento da riqueza, os economistas passaram a se preocupar com ________________________
a alocação de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de maximizar a uti- ________________________
lidade ou a satisfação dos consumidores. ________________________
Essa teoria econômica define o valor dos bens a partir de um fator subjetivo ________________________
denominado utilidade, isto é, sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas. ________________________
Como a necessidade é uma característica subjetiva, também a utilidade de um bem ________________________
terá sua avaliação subjetiva. Assim, um mesmo bem ou serviço terá diferentes utili- ________________________
dades e, portanto, valores diferentes, de acordo com a satisfação de cada indivíduo. ________________________
Por isso, cada indivíduo diferente deve saber como maximizar sua satisfação. Essa ma- ________________________
ximização de negócios não seria possível se houvesse uma autoridade armada que ________________________
colocasse dificuldade no desenvolvimento dos negócios econômicos. ________________________
________________________
A Teoria Neoclássica se destacava ao colocar o mercado como principal agente ________________________
econômico. Sob a influência de Smith, seus teóricos defendiam a mínima participação ________________________
do estado na economia, uma clara alusão ao Estado absolutista que tolhia as liberda- ________________________
des individuais e impedia a maximização dos lucros. ________________________
O Neoliberalismo contemporâneo tem suas raízes nessa concepção teórica, por
________________________
defender o livre mercado e a interferência do governo restrita à defesa da propriedade
________________________
privada e da segurança nacional.
________________________
20 Keynes: A Revolução Econômica

De todos os filósofos que se preocuparam com a formulação de teorias para

conjuntura
econômica
explicar o comportamento econômico, talvez o de maior importância tenha sido John
Maynard Keynes, considerado como o pai da macroeconomia. Em seu mais importan-
te legado, o livro que escreveu durante a grande depressão da economia mundial de
1929 - Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda -, Keynes destacava que a formula-
ção das teorias anteriores, classificadas por ele como clássicas, já não davam conta de
explicar os problemas da superprodução e do desemprego estrutural que assolava a
economia norte-americana. É justamente por isso que, a despeito de suas influências
teóricas, vai formular uma nova lei econômica, defendendo a intervenção do governo
como a principal forma de alavancar a economia de um país, em substituição à clássica
ideia de que as livres forças de mercado (Adam Smith) eram capazes que conduzir a
economia ao equilíbrio de pleno emprego.

Keynes, ao analisar a situação de colapso da economia mundial, concluiu que o


desemprego era uma dos principais problemas para a insuficiência de demanda. Des-
sa forma, defendia que o governo deveria intervir na economia a partir de seus gastos
para estimular o consumo. A lógica keynesiana era bastante intuitiva: quando o go-
verno gastava na contratação de funcionários públicos, trazia de volta para o mercado
de trabalho uma série de consumidores que estavam alijados do sistema econômico.
Esses trabalhadores públicos, voltando a consumir, sinalizam para os investidores que
está ocorrendo uma retomada no crescimento, estimulando que as empresas voltem
________________________
a realizar novos investimentos em novos produtos para essa nova fatia de consumido-
________________________
res. Dessa forma, a intervenção governamental acabou estimulando o investimento
________________________
privado. A esse fenômeno Keynes batizou de efeito multiplicador dos gastos governa-
________________________
mentais, pois um aumento da participação do governo na economia significou tam-
________________________
bém uma elevação dos gastos privados, de forma que toda a sociedade ganhava com
________________________
essa intervenção.
________________________
________________________ A “era keynesiana” foi rica em contribuições em todos os espectros da econo-
________________________ mia, sobretudo aos ligados à macroeconomia, e vigorou como expressão dos aconte-
________________________ cimentos mundiais até o final da década de 1970.
________________________
O período moderno
________________________
________________________ A partir das sistematizações oferecidas pela teoria keynesiana, começaram a
________________________ surgir contrapontos interessantes, evidenciando que não existe, na ciência econômica,
________________________ uma só teoria capaz de explicar todos os fenômenos do mundo moderno.
________________________
Muitas das considerações aventadas pelos pensadores econômicos não podiam
________________________
trabalhar com a hipótese do desenvolvimento e da internacionalização do mundo,
________________________
com a velocidade como ocorreram o processo de globalização e a financeirização das
________________________
economias mundiais. A revolução tecnológica encurtou as distâncias entres os países
________________________
de forma jamais imaginada pelos autores que descrevemos anteriormente.
________________________
________________________ Isso, em hipótese alguma, inviabiliza suas considerações teóricas, muitas delas
________________________ válidas até hoje e defendidas por um conjunto de economistas que ainda acreditam
________________________ na retomada do desenvolvimento econômico no século XXI, com base em uma po-
________________________ lítica keynesiana. A crise mundial, vivenciada em 2008, é uma prova inequívoca de
que o sistema de livre mercado, pressuposto da corrente neoliberal que se instalou no 21
mundo pós Consenso de Washington (1989), já está em fase de esgotamento, assim

conjuntura
econômica
como esteve em 1929.

Todo o escopo teórico da economia avançou consideravelmente. Hoje, a análi-


se econômica engloba quase todos os aspectos da vida humana e os impactos desses
estudos na melhoria do padrão de vida e no bem-estar de nossa sociedade são con-
sideráveis. O controle e planejamento macroeconômico permitem antecipar muitos
problemas e evitar algumas situações desnecessárias. A teoria econômica passou a ter
um conteúdo empírico que lhe conferiu uma prática maior.

Hoje, as novas frentes de trabalho direcionam-se para as áreas de finanças em-


presariais. A incorporação de algumas técnicas econométricas, conceitos de equilíbrio
de mercado e hipóteses sobre o comportamento dos agentes econômicos revolucio-
naram a teoria econômica. Essa explosão de negócios internacionais colocam, a todo
momento, a economia no cerne das discussões contemporâneas.

Síntese
O objetivo desta aula foi mostrar uma visão evolutiva da ciência econômica,
com definições, conceitos, interação de fatos e a contribuição de doutrinadores eco-
nômicos que se destacaram no decorrer dos tempos. Com isso, demos o primeiro pas- ________________________
so, no sentido de conhecer a dinâmica do sistema econômico e suas relações, como ________________________
forma de estabelecer um preâmbulo para a análise da conjuntura econômica. ________________________
________________________
questão para Reflexão
________________________
Com base nas diversas correntes do pensamento econômico, qual deve ser
________________________
o papel do Estado na economia: intervenção para o desenvolvimento ou regulação
________________________
complementar ao equilíbrio de mercado?
________________________
________________________
Leituras indicadas ________________________
________________________
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia princípios de micro e ________________________
macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Thomson, 2007. ________________________
________________________
Site Indicado ________________________
________________________
Dicionário de Economia: http://economiabr.net/teoria_escolas/monopolio.html
________________________
________________________
________________________
Referências ________________________
________________________
O’ SULLIVAN, Arthur. Princípios de Economia. Rio de Janeiro: LTC, 2000. ________________________
________________________
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Org.). Manual de Economia. Equipe de Profes- ________________________
sores da USP. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ________________________
22 SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

conjuntura
econômica
VASCONCELOS, Marco Antônio S.; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Sarai-
va, 2006.

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Aula 02 - ANÁLISE DA DEMANDA E OFERTA 23
DE MERCADO

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Mauricio Castro

Olá!

Dando continuidade à nossa disciplina, vamos estudar, nesta aula, a análise da


demanda e da oferta de mercado, com o objetivo de demonstrar como se dá o equilí-
brio econômico no mercado.

Esta aula será um primeiro passo para que você possa conhecer a dinâmica dos
mercados e suas estruturas. Para isso, precisamos entender bem os conceitos dessas
variáveis e seu comportamento no mercado.

INTRODUÇÃO

________________________
Antes de iniciarmos o estudo da demanda e da oferta, será interessante en-
________________________
tendermos o Fluxo Circular da Renda de uma economia, que é uma espécie de gran-
________________________
de mercado onde interagem dois dos principais agentes do sistema econômico, que
________________________
apresentamos em nossa Aula 01. A lógica de funcionamento desse fluxo é bastante
________________________
simplória e vai nos ajudar a estabelecer as relações entre a oferta e a demanda de uma
________________________
sociedade.
________________________
________________________
________________________
De um lado, estão as empresas que são as responsáveis pela produção de to-
________________________
dos os bens e serviços que são colocados à disposição da economia. Nessa produção,
________________________
estão incluídos bens de consumo, como alimentos e artigos de vestuário; os bens de
________________________
capital, como carros, eletrodomésticos e casas; e os serviços que são prestados na so-
________________________
ciedade, como aulas de economia, serviços de manutenção, música etc. Enfim, as em-
________________________
presas ofertam para a sociedade todo o conjunto de bens e serviços que processam no
________________________
interior de seus processos produtivos.
________________________
________________________
________________________
De outro lado, estão as famílias (consumidores) que participam ativamente do
________________________
fluxo econômico. Como as famílias são formadas por seres humanos, o primeiro pré-
________________________
requisito desse agente é que ele tenha uma série de necessidades básicas, que devem
________________________
ser atendidas para que a vida aconteça. Por exemplo, as famílias precisam comer, ves-
________________________
tir-se, transportar-se, etc. Assim sendo, vão demandar os bens e serviços que serão co-
________________________
locados no mercado econômico pelas empresas. Vejamos, no esquema a seguir, como
________________________
acontece o fluxo de recursos entre empresas e famílias.
________________________
24 Figura 1 - Fluxo de Bens e Serviços.

conjuntura
econômica

O fluxo circular da renda é assim chamado porque o processo se inicia em um


determinado ponto e retorna para ele, como podemos ver nos esquemas indicados
por setas que vão e voltam para cada um dos elementos constituintes da vida econô-
mica. Vamos entender como funciona a economia de uma maneira bastante intuitiva,
pois, apesar de ser uma representação gráfica, os elementos aí presentes são total-
mente reais e as relações estabelecidas são a base do nosso sistema capitalista.
________________________
O fluxo se inicia quando os indivíduos procuram as empresas para trabalhar.
________________________
A premissa é que qualquer indivíduo que participa da vida em sociedade possui um
________________________
fator de produção a oferecer em troca de salários. Uns possuem terras, capital guar-
________________________
dado em banco, máquinas, equipamentos. Outros não possuem nada disso, mas têm
________________________
os seus braços e sua inteligência para oferecer. Munidos de qualquer um desses itens,
________________________
que chamamos de fatores de produção (fatores que são empregados na produção
________________________
para que ela aconteça), as famílias se direcionam para o mercado de fatores de produ-
________________________
ção para vendê-los para as empresas capitalistas (vide esquema). Portanto, as firmas
________________________
compram o uso dos fatores de produção dos indivíduos, no mercado de fatores.
________________________
________________________ De posse dos fatores de produção, as firmas vão realizar uma série de atividade
________________________ que vai culminar com a produção de todo o conjunto de bens e serviços que são ofer-
________________________ tados para a sociedade. Repare que os dois agentes têm igual importância no fluxo:
________________________ primeiro, as famílias vendem seus talentos ou posses para as empresas; depois, dis-
________________________ pondo de tecnologia apropriada, as empresas empregam esses fatores para produzir
________________________ os bens e serviços que serão vendidos no mercado de bens e serviços.
________________________
Como dependem de itens que são oferecidos no mercado de bens e serviços
________________________
para sobreviverem, as famílias, que agora têm um salário, por sua participação no pro-
________________________
cesso produtivo, passam a comprar esses bens e serviços. Esse esquema, que começa
________________________
e termina nas famílias, representa o Fluxo Circular da Renda, elemento fundamental
________________________
para se compreender o funcionamento de um determinado sistema econômico e
________________________
compreender os conceitos de demanda e oferta.
________________________
________________________
________________________
DEFINIÇÃO DE DEMANDA 25

conjuntura
econômica
Oferta e demanda são duas expressões que nós, economistas, usamos com
muita frequência e que estão por trás de todos os fatos econômicos que acontecem no
mercado econômico. Por trás de um vendedor, tem que existir, antes, um comprador,
para que o negócio aconteça. Como define Mankiw (2005, p. 64) oferta e demanda são
as forças que fazem as economias de mercado funcionar. São elas que determinam a
quantidade produzida de cada bem e o preço pelo qual este será vendido. Se alguém
quiser saber como a economia será afetada por essa crise financeira internacional,
como esta que marcou a conjuntura econômica mundial em 2008, precisa antes en-
tender os movimentos sobre a oferta e a demanda da sociedade.

Assim, há que se esclarecer uma coisa: os conteúdos expostos nesta aula são
uma sistematização dos principais manuais de economia que estão colocados nas
referências bibliográficas do nosso curso. No caso desta aula, não há como fugir do
curso de explicar como se dá o equilíbrio de mercado. Dessa forma, precisaremos nos
apoiar em conceitos que são, há muito, estudados e sistematizados pelos pensadores
econômicos.

E para entender a lógica de funcionamento dos mercados e, por conseguinte,


os conceitos de oferta e demanda, basta olhar o fluxo circular da renda que apresenta-
mos na seção anterior. Os termos oferta e demanda se referem àquela lógica de com-
portamento dos agentes envolvidos na visa econômica de uma sociedade. A intera-
________________________
ção entre famílias, que aparecem, para nós, como os compradores, e as empresas, que
________________________
ofertam bens e serviços, irá definir o conceito de demanda e oferta.
________________________
Vamos voltar ao fluxo: a sua ideia é a de que existe uma interação entre dois ________________________
mercados (vide Figura 1): o de fatores de produção e o mercado de bens e serviços. ________________________
Então, o mercado aparece, para nós, como o espaço (que, hoje em dia, pode ser até ________________________
virtual) onde compradores e vendedores se relacionam, objetivando maximizar a sua ________________________
satisfação. De um lado, os compradores querem comprar o máximo possível ao menor ________________________
preço e melhor qualidade; de outro, estão os vendedores, interessados em maximizar ________________________
suas vendas para aumentar o lucro. Sem perceber, estamos falando de demanda e ________________________
oferta a todo o momento. ________________________
________________________
A demanda ou procura é a quantidade de um bem qualquer (ou uma cesta de-
________________________
les) que os compradores desejam e podem comprar (alocação de sua renda). A quanti-
________________________
dade demandada pelo consumidor é a quantidade de produto que ele vai procurar no
________________________
mercado, de acordo com suas preferências, sua renda e outros fatores.
________________________
Dentre esses fatores, está a qualidade dos bens necessitados, mas, sobretudo, ________________________
há um determinante que, no caso de nós consumidores, é fundamental para que a ________________________
compra efetivamente aconteça: o preço. Se você está com uma vontade tremenda de ________________________
tomar um sorvete e, ao passar em frente a uma sorveteria, descobrir que cada bola de ________________________
sorvete custa R$ 20,00, muito provavelmente, se você for um consumidor de classe ________________________
média vai preferir abrir mão da vontade, em função do preço. Assim sendo, por incrível ________________________
que pareça, nesse exemplo simplório, já definimos uma complexa relação econômica: ________________________
quanto maior o preço de um bem ou serviço, tanto menor será a demanda (procura) ________________________
por esse bem ou serviço. Dito, conforme nós, economistas, gostamos de fazer, a quan- ________________________
26 tidade demanda é negativamente relacionada com o preço.

Essa relação entre o preço e a quantidade demandada da maioria dos bens é tão

conjuntura
econômica
válida e aceita universalmente pela economia que chamamos essa relação entre preço
e procura de Lei da Demanda. Então, para complicar um pouco (como nós adoramos
fazer), a formulação da lei da demanda fica assim enunciada: tudo mais permanecendo
constante (coeteris paribus), quando o preço de um bem aumenta, a demanda diminui;
quando o preço do bem diminui, sua quantidade demandada aumenta.

Coeteris Paribus é uma expressão muito utilizada por nós, pois a economia como
ciência também faz muitos testes antes de determinar uma lei de funcionamento eco-
nômico. Assim, essa expressão significa, simplesmente, que todas as demais variáveis
são tomadas como constantes para que se possa entender apenas o comportamento
de determinada variável. Assim, dizemos que: coeteris paribus, a demanda de um bem
é afetada unicamente pelo seu preço. Ou seja, estamos dizendo que, supondo inal-
terados a renda e os gostos ou preferências dos consumidores, sua demanda sofrerá
influência em função da variação do preço do bem ou serviço em questão.

É por isso que quando analisamos o gráfico, a seguir, que mostra a demanda
de um produto qualquer, podemos perceber uma reta negativamente inclinada. No
gráfico, um dos eixos é a quantidade demandada e o outro é o preço. A reta indica
que todo aumento no preço significa diminuição na quantidade demandada por esse
produto. Vejamos o gráfico que evidencia a lei da demanda, conceito universalmente
________________________ aceito por qualquer corrente do pensamento econômico.
________________________
________________________
________________________ Figura 2 - Gráfico da Lei de demanda.

________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________ A interseção de P1 - Q1 representa o ponto de equilíbrio na demanda desse
________________________ bem. Significa que: dada uma restrição orçamentária (isto é, dado seu nível de renda)
________________________ ao preço 1, a sociedade aceita adquirir a quantidade 1. Esse é o ponto de equilíbrio da
________________________ demanda.
________________________ A restrição orçamentária mencionada refere-se ao poder de compra dos con-
________________________ sumidores. Esse gráfico foi uma simples esquematização de um bem qualquer, mas,
na vida real, nós consumidores temos muitos desses gráficos em nosso imaginário, 27
pois, para atender às nossas necessidades, precisamos de uma combinação de vários

conjuntura
econômica
bens e serviços que são ofertados pelas empresas. A combinação dessa cesta de bens
vai depender de duas variáveis principais: do tamanho da minha restrição orçamen-
tária (renda) e da minha preferência por qualquer tipo de bem ou serviço. Tendo um
orçamento limitado, ou seja, um determinado nível de renda, o consumidor procurará
distribuir esse seu orçamento (renda) entre os diversos bens e serviços, de forma a
alcançar a melhor combinação possível, ou seja, aquela que lhe trará maior nível de
satisfação ou utilidade.

Percebemos, agora, que a demanda não é só influenciada pelo preço. Existe


uma série de variáveis que afetam direta ou indiretamente a procura pela composição
da melhor cesta de bens por parte dos consumidores. A formulação econômica a esse
respeito diz o seguinte: saindo da condição de coeteris paribus e analisando as relações
do mundo real, cada consumidor busca alocar sua renda na aquisição de uma cesta de
produtos (uma combinação de bens e serviços) de acordo com: o nível de sua renda,
suas preferências (gosto), o preço do bem e de seus similares ou substitutos e de suas
expectativas em relação ao comportamento da economia.

A ideia subjacente a essa formulação é a de que cada consumidor é um agente


extremamente racional e sabe perfeitamente, dada a sua restrição orçamentária, isto
é, sua renda, maximizar a aquisição de bens e serviços de acordo com a utilidade que
esses bens e serviços vão atender na sua vida em sociedade. A análise de quão im-
________________________
portante é cada uma dessas variáveis na determinação da demanda vai depender do
________________________
perfil de consumidor que estamos analisando.
________________________
Assim sendo, tomando Antônio Erminio de Moraes (dono do grupo Votoran- ________________________
tim) como referência, certamente as variáveis que vão mais influenciar no seu padrão ________________________
de demanda serão as suas preferências e as expectativas em relação ao comportamen- ________________________
to do mercado econômico, dado que sua restrição ao consumo é muito baixa. Assim, ________________________
analisando o perfil de consumidor do qual esse seu professor faz parte, as variáveis ________________________
que mais afetam o nosso padrão de consumo são os preços dos bens e a existência ou ________________________
não de substitutos. ________________________
________________________
Para esse perfil de consumidor, existe uma dupla alternativa quando o preço
________________________
de um bem sobe: ou ele troca de marca e passa a consumir produtos similares (como
________________________
substituir o consumo de manteiga por margarina, quando o preço da primeira sobe,
________________________
ou carne de primeira por carne de segunda na mesma situação), ou reduz o consumo,
________________________
até que o preço desse produto volte a encaixar na sua restrição orçamentária.
________________________
Quanto mais baixo o padrão de vida (menor nível de renda), mais as demais ________________________
variáveis, como gosto e expectativas, tendem a se tornar nulas na determinação da ________________________
demanda, isto é, maior a relação entre a demanda e o preço do bem. Quanto maior o ________________________
padrão de vida, maior importância é conferida à preferência de um bem que maximize ________________________
o prazer daquele que o adquire, em detrimento do nível de preço, que acaba assumin- ________________________
do importância menor. ________________________
________________________
________________________
________________________
28 DEFINIÇÃO DE OFERTA

conjuntura
econômica
Vamos, agora, analisar o que acontece do lado dos produtores, ou seja, das em-
presas que produzem e vendem os diversos tipos de bens no mercado. A definição é
similar à da demanda com a mudança de uma palavra, senão vejamos: a quantidade
ofertada de um bem ou serviço é a quantidade que os vendedores querem e podem
vender.

E olha que coisa interessante é a análise econômica! A oferta do bem depende


basicamente do próprio preço desse bem. Admitindo-se a hipótese coeteris paribus,
podemos afirmar que, quanto maior for o preço do bem, mais interessante será produ-
zi-lo e, portanto, a oferta é maior. Ou seja, a análise entre oferta e demanda é bastante
parecida, só mudando o foco dos compradores (caso da demanda) para os produtores
(que são responsáveis pela oferta de bens e serviços no mercado econômico).

Relacionando a quantidade ofertada de um bem com seu preço, obteremos,


portanto, a curva de oferta, ilustrando uma relação crescente entre preços e quanti-
dades:

Figura 3 - Gráfico de Curva de Oferta.

________________________
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Reparou que, apesar de parecida com a curva da demanda, no caso da oferta, a
________________________
curva é positivamente inclinada? É que, nesse caso, estamos analisando a ótica de um
________________________
produtor. Assim sendo, quanto maior o preço de mercado, maior será a possibilidade
________________________
de lucro desses produtos e, assim, mais ele vai querer ofertar. Aumentos nos preços
________________________
provocam maior interesse em oferecer produtos para a sociedade, pois aumenta a ex-
________________________
pectativa de lucros dos empresários.
________________________
________________________ Com isso, podemos também definir a Lei da Oferta, aceita universalmente por
________________________ toda a corrente do pensamento econômico e traduzida no seguinte enunciado: com
________________________ tudo mais mantido constante (coeteris paribus), quando o preço de um bem aumenta,
a quantidade ofertada desse bem também aumenta; quando o preço de um bem cai, 29
a quantidade ofertada desse bem também cai.

conjuntura
econômica
Como já entendemos que a lógica de funcionamento é a mesma, só invertendo
os papéis, podemos passar logo para entender quais são os fatores que afetam a ofer-
ta, no mundo real, isto é, quando as demais variáveis não são tidas como constantes.

Como a oferta está condicionada ao produtor, as variáveis são menos subjeti-


vas, como no caso do consumidor em que, por exemplo, os gostos podem interferir na
demanda. No caso do produtor, o nível de oferta vai depender: do preço do bem que
ele se propõe a produzir; do preço dos demais bens e serviços produzidos por outros
produtores; do custo de produção (insumos e mão de obra); do nível de tecnologia e
capital de que o produtor dispõe; do número de vendedores concorrentes e das ex-
pectativas em relação ao comportamento da economia.

Assim, o número de variáveis que interfere, direta ou indiretamente, na ofer-


ta é muito maior e pode excluir muitos pretensos vendedores do mercado. Se, por
exemplo, o número de vendedores de um determinado produto for muito grande,
eles terão que oferecer o mesmo produto com preços diferenciados. A depender do
custo de produção e da escala de vendas, pode acontecer que determinados produ-
tores tenham que ofertar a um preço mais alto. Certamente, o consumidor vai preferir
aqueles produtos com preços mais baixos, obrigando o ofertante a baixar o preço ou
a sair desse mercado.
________________________
Em outra análise, o preço das demais mercadorias também influencia a produ-
________________________
ção de um determinado bem qualquer. Suponha um fabricante de derivados de açú-
________________________
car que produz x quantidades de chocolates e y quantidades de sorvetes. Se o preço
________________________
do sorvete no mercado econômico for mais alto do que o chocolate, esse fabricante,
________________________
na busca de maximização dos lucros, vai direcionar sua fábrica para fazer mais sorvete
________________________
e menos chocolate, pois as expectativas de lucros serão maiores no mercado do sor-
________________________
vete do que no de chocolate. A mesma formulação, agora dita no vocábulo do econo-
________________________
mista, diz que: se os preços dos demais bens subirem e o preço de um bem x qualquer
________________________
permanecer idêntico, sua produção será menos atraente em relação à produção dos
________________________
outros bens, consequentemente, diminuirá a sua oferta.
________________________
Se sobre os consumidores impera uma lei da racionalidade para maximização ________________________
da sua satisfação, dada a sua restrição orçamentária, os produtores maximizam sua uti- ________________________
lidade, intensificando a produção daqueles bens e serviços que têm vantagens com- ________________________
parativas aos demais produtores da sociedade, isto é, vai aumentar a oferta, quanto ________________________
maior o preço de mercado e menor o seu custo de produção. ________________________
________________________
Essa lógica funciona para todo o entendimento das relações econômicas. Se
________________________
um agricultor acreditar que o preço da soja estará elevado no próximo ano, aumenta o
________________________
plantio já este ano. Caso contrário, substitui a sua produção por de outro produto mais
________________________
rentável, até que o preço volte a aumentar e estimular a sua produção.
________________________
A lógica do consumidor é maximização de satisfação ao menor preço de merca- ________________________
do; a do produtor é maximizar o seu lucro ao maior preço de mercado. ________________________
________________________
________________________
30 O EQUILÍBRIO DE MERCADO

conjuntura
econômica
A aula já teria acabado se os ofertantes e os demandantes não interagissem
em um mesmo ambiente econômico, o mercado. Assim sendo, precisamos entender,
agora que já conhecemos o comportamento da oferta e demanda, como se dá o equi-
líbrio entre esses dois agentes que têm a mesma lógica de atuação, mas objetivos
completamente diferentes.

Em economia, a palavra equilíbrio define uma situação em que diversas forças


estão em igualdade. Trazendo essa definição para nosso estudo do mercado econômi-
co, o equilíbrio ocorreria em uma situação em que, a determinado preço, a quantida-
de de um bem que os compradores desejam e podem comprar é exatamente igual à
quantidade que os vendedores desejam e podem vender. Nesse caso, o mercado está
satisfeito e maximizado: os compradores compram tudo o que desejam e os vende-
dores maximizam seus lucros. O gráfico, a seguir, mostra a interação entre as forças de
oferta e a demanda.

Figura 4 - Gráfico de equilíbrio entre Demanda e Oferta.

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________________________ Observe a interseção das curvas no ponto E, pois este é o único ponto em que o

________________________ mercado está em equilíbrio. Nele, consumidores e vendedores conseguem maximizar

________________________ a sua função utilidade. Uma vez que o mercado atinja o seu equilíbrio, todos os com-

________________________ pradores e vendedores ficam satisfeitos e não há pressão nem para cima nem para

________________________ baixo dos preços.

________________________ Analisado o ponto de equilíbrio, vejamos, agora, os casos em que não ocorre
________________________ equilíbrio entre oferta e demanda. Isso também pode ser visualizado nesse mesmo
________________________ gráfico.
________________________
________________________ Para qualquer preço superior a P1, a quantidade que os ofertantes desejam
________________________ vender é maior que aquela que os consumidores desejam comprar. Em linguagem
________________________ técnica, dizemos que existe excesso de oferta. De outra parte, para qualquer preço
inferior a P1, surgirá excesso de demanda. Em qualquer dessas situações, não existe
equilíbrio pela incompatibilidade de desejos entre os agentes econômicos. Vejamos o 31
que acontece em cada uma dessas situações.

conjuntura
econômica
Quando existe excesso de demanda no mercado por um produto, significa
que o preço desse bem está compatível com a restrição orçamentária de toda a socie-
dade. Nesse caso, os consumidores estão dispostos a pagar mais de suas receitas para
conseguirem quantidades adicionais de determinado produto. A consequência ime-
diata é que os vendedores, percebendo essa situação, passam a fabricar mais desse
produto, de modo a suprir o excesso de demanda e trazer a economia de volta para o
equilíbrio. Se não for possível produzir quantidades extras do produto, que atendam à
demanda da sociedade, a consequência natural é que os produtores subam o preço do
produto, de forma a restringir o consumo e trazer de volta a economia ao equilíbrio.

Quando existe excesso de oferta, significa que diversos produtores ofertaram


produtos no mercado e a resposta do público foi uma retração no consumo. Isso indica
que, pela maior concorrência e pela grande quantidade de produtos no mercado, os
preços dessa mercadoria deverão cair, de modo a sugerir um aumento no consumo.
Suponha que você vá ao mercado para comprar um saco de pão e perceba que a lata
de leite saiu de R$ 5,00 para R$ 1,99. Mesmo que não precise, naquele momento, como
você precisará de leite no futuro, será induzido pela queda no preço a aumentar a sua
demanda de leite. Assim sendo, o ajustamento do equilíbrio, no caso de um excesso
de oferta, se dará pela queda no preço, que estimula o consumo e faz a economia vol-
tar para o equilíbrio de mercado.
________________________
________________________
________________________
ESTRUTURAS DE MERCADO ________________________
________________________
Infelizmente, ainda não podemos encerrar esta aula, pois, embora já saibamos ________________________
de muitos elementos que caracterizam a oferta e a demanda de mercado, o equilíbrio ________________________
a que nos referimos na seção passada vai depender justamente do tipo de merca- ________________________
do em que as relações econômicas acontecem. Se só existisse uma situação em que ________________________
compradores e vendedores pudessem ajustar a produção e o preço de equilíbrio, a ________________________
própria lei da oferta ou da demanda se encarregaria de colocar a economia no nível de ________________________
equilíbrio. Entretanto, a depender do número de ofertantes, o mercado pode ser mais ________________________
ou menos competitivo. E quanto menos competitivo, maior a dificuldade para chegar ________________________
ao equilíbrio. ________________________
Os mercados assumem diferentes formas. Às vezes, são altamente organizados, ________________________
tais como os mercados de produtos agrícolas. Neles, compradores e vendedores se en- ________________________
contram em lugares e horários determinados. Os preços quase todos são conhecidos e ________________________
as vendas são organizadas nas feiras. Mas, existem também mercados completamente ________________________
desorganizados, onde os compradores estão em diferentes pontos do mundo e os ________________________
vendedores oferecem seus produtos diferenciados. Cada vendedor estabelece o seu ________________________
preço e cada comprador escolhe onde comprar. ________________________
________________________
Cada estrutura de mercado se destaca pela interação entre a oferta e a deman- ________________________
da, e se diferencia uma da outra pela observância de uma ou de todas as caracterís- ________________________
ticas observadas em mercados existentes, tais como: a quantidade e o tamanho das ________________________
empresas; o grau de diferenciação dos produtos; o grau de transparência do mercado;
32 a possibilidade da entrada de novas empresas etc. Assim, os mercados podem ser mais
competitivos (concorrência perfeita) ou menos competitivos (oligopólio e monopó-

conjuntura
econômica
lio).

Um mercado competitivo é aquele em que há muitos compradores e muitos


vendedores, de modo que cada um deles, individualmente, tem impacto insignifican-
te sobre o preço de mercado. Cada vendedor tem um controle limitado sobre o preço
porque os outros produtores oferecem produtos similares. Nesse mercado, um vende-
dor não tem motivos para realizar promoções e se cobrar mais caro, os compradores
vão fazer suas compras em outro lugar. Da mesma forma, comprador algum pode in-
fluenciar os preços de mercado, porque cada um deles compra uma pequena quanti-
dade em relação ao total comercializado no mercado. Nesse caso, estamos diante de
um mercado perfeitamente competitivo ou em concorrência perfeita.

O mercado em concorrência perfeita é estudado por muitos economistas, den-


tro da ideia do que seria uma estrutura ideal de funcionamento para beneficiar, sobre-
tudo, a classe de consumidores. Mankiw (2005, p.64) define as seguintes característi-
cas de uma estrutura de concorrência perfeita:

‚‚ existe grande número de compradores e vendedores;

‚‚ os produtos são homogêneos, isto é, são substitutos perfeitos entre si;


________________________ ‚‚ existe informação completa sobre o preço do produto (e todo mundo sabe onde é
________________________ mais barato comprar e vender);
________________________
‚‚ a entrada e a saída das firmas no mercado é livre, não havendo barreiras para quem
________________________
quiser participar (compradores e vendedores);
________________________
________________________ ‚‚ os compradores e os vendedores precisam aceitar o preço de equilíbrio do mercado,

________________________ por isso ambos são tomadores de preço - o mercado determina e eles assumem.

________________________
________________________
________________________ Além disso, esse mercado de concorrência perfeita assume a ideia de que firmas
________________________ que apresentarem custos de produção superiores àquele que é imposto pelo mercado
________________________ fecharão suas portas. Do mesmo modo, se um mercado apresentar elevados ganhos
________________________ para suas empresas, essa situação vai atrair novas firmas para esse mercado e eventu-
________________________ ais ganhos adicionais tendem a desaparecer, de modo que a economia nunca sai do
________________________ equilíbrio, sendo a oferta exatamente igual à demanda.
________________________ Há mercados em que o conceito competição perfeita se aplica perfeitamente.
________________________ Isso acontece normalmente nos mercados agrícolas. No mercado produtor de mandio-
________________________ ca, que é um produto com baixa capacidade de exportação para exterior, há milhares
________________________ de agricultores que vendem mandioca e outros tantos consumidores que a utilizam
________________________ como subsistência. Como não há um comprador ou vendedor específico, que seja ca-
________________________ paz de influenciar o preço da mandioca, cada um deles aceita o preço como dado.
________________________
________________________ Mas nem todos os bens e serviços são negociados em mercados plenamente
________________________ competitivos. Alguns mercados têm um só vendedor, que é quem determina o preço.
________________________ Um mercado nessas condições é chamado de monopólio. Em alguns casos, o mono-
pólio pode acontecer porque a entrada de mais firmas encareceria demais, para os
consumidores, os preços das mercadorias. Vejamos, como exemplo, o transporte ferro- 33
viário. Imagine se houvesse duas firmas que ofertasse esse serviço. Cada uma teria que

conjuntura
econômica
construir sua própria via férrea e isso terminaria por encarecer os serviços para toda a
sociedade. Nesses casos, em que a entrada de mais concorrentes encarece o preço dos
bens ou serviços produzidos por uma economia, dizemos que existe um monopólio
natural.

Assim, as características de um monopólio são completamente diferentes da


concorrência perfeita. Nesse caso, basta negar as características contempladas na con-
corrência perfeita que entenderemos bem a ocorrência de um monopólio. No mo-
nopólio, o setor é a própria firma, porque existe um só produtor que realiza toda a
produção. Dessa forma, a oferta da firma é a oferta da economia. Negando as demais
características da concorrência perfeita, chegamos ao pleno entendimento de mono-
pólio, senão vejamos:

‚‚ o setor é constituído de uma única firma;

‚‚ existem barreiras à entrada de novas firmas;

‚‚ a firma produz um produto para o qual não existe substituto próximo;

‚‚ existe concorrência entre os consumidores;

‚‚ a firma não é “tomadora”, mas sim “formadora do preço de mercado”.


________________________
________________________
________________________
Alguns mercados ficam entre o extremo da concorrência perfeita e do monopó-
________________________
lio. Um mercado nessas condições é chamado de oligopólio e é caracterizado por ser o
________________________
meio termo entre uma e outra estrutura de mercado. Um oligopólio tem um pequeno
________________________
número de empresas produzindo ou uma grande quantidade de empresas, mas ape-
________________________
nas as maiores dominam a maior parte do mercado. Suas características o aproximam
________________________
mais de um monopólio do que da concorrência imperfeita, mas os empresários nesse
________________________
mercado não têm tanto poder de mercado como os monopolistas.
________________________
Segundo Vasconcelos (2006, p. 78), as estruturas oligopólicas das quais o mer- ________________________
cado aéreo brasileiro faz parte têm as seguintes características: ________________________
________________________
________________________
‚‚ existência de empresas dominantes, com poder de influência e, portanto, de fixação ________________________
do preço de mercado; ________________________
________________________
‚‚ baixo poder de reação dos consumidores às variações do preço;
________________________
‚‚ existência de barreiras à entrada de novas firmas no mercado; ________________________
‚‚ persistência dos lucros extraordinários, no longo prazo, como consequência das bar- ________________________
reiras à entrada de novas firmas. ________________________
________________________
________________________
Outra estrutura de mercado que está entre a concorrência perfeita e o monopó- ________________________
lio é a concorrência imperfeita. Tal como oligopólio, esta estrutura está no meio termo, ________________________
34 mas, diferente do oligopólio, que se aproxima mais das características do monopólio,
no caso da concorrência imperfeita (também chamada de concorrência monopolísti-

conjuntura
econômica
ca), as características são um pouco mais parecidas com as da concorrência perfeita.

De modo semelhante à concorrência perfeita, a concorrência monopolística


(ou competição imperfeita) apresenta um elevado número de empresas; todavia, a
grande diferença entre os dois modelos é que, na concorrência monopolística, as em-
presas produzem produtos ligeiramente diferenciados, embora substitutos próximos
(isto é, existe diferença na forma e na qualidade de empresa para empresa, de marca
para marca). Por isso, essa estrutura é mais próxima da realidade que a concorrência
perfeita, na qual se supõe um produto homogêneo, produzido por todas as empresas
(aqui se supõe que não há diferenças na qualidade entre os produtos).

A existência de substitutos próximos confere aos consumidores muitas alter-


nativas para reagirem a eventuais aumentos de preços. Outra característica da con-
corrência monopolística que a aproxima da concorrência perfeita é o fato de que não
existem barreiras à entrada de novas firmas no mercado. Isso significa que, diferente-
mente dos sistemas de monopólio e oligopólio, onde os lucros tendem a ser potencia-
lizados, na concorrência imperfeita, pelo menos a longo prazo, há uma tendência de
lucros normais, isto é, mais repartidos entre todas as firmas que participam do sistema
econômico.

Por fim, é importante destacar, ainda, outras estruturas de mercado, como o


________________________ monopsônio, onde existem muitos vendedores, mas um único comprador pode defi-
________________________ nir o preço de compra e a qualidade esperada.
________________________
As estruturas de mercado mais conhecidas podem ser sistematizadas da se-
________________________
guinte forma, conforme indica Vasconcelos (2006, p.85):
________________________
________________________
________________________
________________________ Quantidade de Barreiras à
Estrutura de Mercado Produto
________________________ Firmas entrada

________________________ Concorrência Perfeita Infinita Homogêneo Não existem


________________________
________________________ Sem substitutos
Monopólio Uma única firma Existem
________________________ próximos

________________________ Concorrência Monopolística Grande número de


Diferenciado Não existem
________________________ (Imperfeita) firmas
________________________ Poucas firmas
Homogêneo ou
________________________ Oligopólio dominam o Existem
Diferenciado
________________________ mercado
________________________
________________________
________________________
Dessa forma, as estruturas de mercados impõem condicionantes para o equilí-
________________________
brio das forças de mercado, entrando a lei da demanda e a lei da oferta. Quanto mais
________________________
competitiva é uma estrutura de mercado, maior o poder da demanda e dos consumi-
________________________
dores; quanto mais concentrado, maior o poder dos empresários..
________________________
SÍNTESE 35

conjuntura
econômica
Esta aula foi de extrema importância para entendermos um conjunto de re-
lações econômicas que podem ser modificadas ou potencializadas pela conjuntura
econômica. Aqui, conhecemos os conceitos e o comportamento das variáveis oferta
e demanda.

De um lado, estão os vendedores que querem aumentar preços para maximizar


suas receitas e seus lucros. De outro, estão os compradores que fazem parte das famí-
lias de consumidores. Estes participam do mercado cedendo seus fatores de produção
para as empresas, por isso têm direito a uma determinada renda que os condiciona
a participar diretamente do fluxo circular da economia. Seu papel é maximizar a sua
satisfação através de uma cesta de produtos que atendam às suas necessidades.

No jogo entre ofertantes e demandantes, é a estrutura de mercado que vai de-


finir o ponto de equilíbrio, situação em que tanto as empresas como os consumidores
estão satisfeitos com os níveis de preços e quantidades transacionadas no mercado
econômico.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Em que sentido a estrutura de um mercado pode interferir no equilíbrio entre
a oferta e a demanda?
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SITE INDICADO ________________________
________________________
Dicionário de Economia: http://economiabr.net/teoria_escolas/monopolio.html ________________________
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REFERÊNCIAS ________________________
________________________
DORNBUSCH, Rudiger; FISCHER, Stanley. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1991. ________________________
________________________
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2005. ________________________
________________________
PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. ________________________
________________________
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Org.). Manual de Economia. Equipe de Profes- ________________________
sores da USP. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ________________________
________________________
VASCONCELOS, Marco Antônio S; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Sarai-
________________________
va, 2006.
________________________
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36

conjuntura
econômica

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AULA 03 - inflação 37

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Maurício Castro

Olá!

Agora que já passamos pela análise conceitual e pela ótica microeconômica,


vamos nos dedicar mais às análises macroeconômicas. A inflação é um dos principais
problemas da macroeconomia atual do Brasil. O objetivo desta nossa aula é compre-
ender o conceito de inflação, seus indicadores e sua ligação com os problemas socioe-
conômicos vivenciados no dia a dia da população, enfatizando, também, as consequ-
ências e os principais tipos de inflação encontrados no Brasil.

Vamos entender que a inflação é um dos principais problemas econômicos e


que seu combate pode significar em aumento na taxa de desemprego e diminuição
no crescimento econômico, causando um grande conflito para os formuladores de
políticas econômicas.

CONCEITO DE INFLAÇÃO

Segundo Sandroni (2005, p. 222), o conceito de inflação é “aumento persisten-


te dos preços em geral, de que resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da ________________________
moeda”. ________________________
________________________
Assim, deve ficar claro que esse aumento no índice de preços deve ser gene- ________________________
ralizado e contínuo, ou seja, os movimentos inflacionários não podem ser confundi- ________________________
dos com altas ocasionais de preços, em função de fatores sazonais ou outros que acon- ________________________
tecem em períodos limitados. De acordo com Lanzana (2001), é importante destacar ________________________
que a inflação é: ________________________
________________________
(a) Um processo e não um fato isolado; ________________________
________________________
(b) Envolve aumentos contínuos e não esporádicos de preços; e ________________________
________________________
________________________
(c) Aumentos generalizados de preços e não isolados. (LANZANA,
2001, p. 302)
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De um modo geral, não se pode padronizar as fontes que ocasionam a ocor-
________________________
rência de um processo inflacionário em um país. Isso vai depender das condições do
________________________
momento econômico e de outros fatores que envolvem:
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‚‚ O tipo de estrutura de mercado (oligopolista, concorrencial etc.), que condiciona a ca-
________________________
pacidade dos vários setores repassarem aumentos de custos aos preços dos produtos;
________________________
‚‚ O grau de abertura da economia ao comércio exterior - quanto mais aberta a econo-
38 mia à competição externa, maior a concorrência interna entre fabricantes e menores os
preços dos produto;

conjuntura
econômica
‚‚ A estrutura das organizações trabalhistas - quanto maior o poder de barganha dos
sindicatos, maior a capacidade de obter reajustes salariais acima dos índices de produti-
vidades e maior a pressão sobre os preços.

Portanto, a inflação é definida como sendo uma alta persistente e generalizada


dos preços na economia. A alta dos preços deve ser generalizada, ou seja, todos os
produtos da economia devem sofrer acréscimos em seus preços. Se apenas alguns dos
bens e serviços produzidos na economia apresentarem elevações de preços, enquan-
to outros apresentarem redução, isso não é inflação. Esse fenômeno pode decorrer
simplesmente do mecanismo de ajuste dos respectivos mercados em virtude de alte-
rações da demanda ou da oferta.
Figura 1 - Variação anual da inflação segundo diferentes medidas

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________________________ Fonte: IBGE (2010)

________________________ Figura 2 - Taxa de inflação mensal por regiões

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Fonte: IBGE (2012)
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EFEITO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA 39

conjuntura
econômica
O processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por elevadas ta-
xas, promove profundas distorções na estrutura produtiva de um país. Dentre os efei-
tos mais nocivos provocados por taxas elevadas de inflação, destaca-se a diminuição
relativa do poder aquisitivo das pessoas. Esse efeito ocorre principalmente nas clas-
ses de assalariados que dependem de rendimentos fixos e com reajustes fixados em
prazos estabelecidos por meio da política salarial instituída pelo governo. Nesse caso,
quanto maior for o intervalo de reajuste, maior é a redução do seu poder de compra,
que só é restabelecido a partir de novo reajuste.

Os governos contemporâneos colocam a redução da inflação entre as princi-


pais metas de sua política econômica. Isso ocorre porque a inflação provoca alguns
efeitos na economia. O principal deles é a perda do poder aquisitivo dos salários e de
outras rendas fixas, como é o caso dos aluguéis e dos lucros do sistema capitalista.

A classe trabalhadora é, sem dúvida, a que mais perde com a elevação das taxas
de inflação, principalmente os trabalhadores de baixa renda, que não têm condições
de se proteger, por exemplo, com aplicações financeiras, visto que consomem pratica-
mente a totalidade de sua renda com a sua própria subsistência (alimentos, moradia
e transportes).

Se os assalariados não sofrerem reajustes nominais em seus vencimentos ou


se esses reajustes forem inferiores ao nível do índice de preços, todos perderão com a ________________________
inflação, pois a elevação continuada dos preços reduzirá paulatinamente seus salários ________________________
reais, ou seja, a quantidade de bens e serviços que eles podem adquirir. ________________________
________________________
Já os empresários, que podem reajustar seus preços de venda de seus produtos
________________________
e, consequentemente, seus lucros, têm melhores condições de se proteger desse efei-
________________________
to danoso da inflação.
________________________
Outros efeitos provocados por esse fenômeno, a inflação, segundo Pinho e Vas- ________________________
concelos (2003, p.337), podem promover profundas distorções na estrutura produ- ________________________
tiva, devem aqui ser destacados. ________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Efeito sobre a balança de pagamentos ________________________
________________________
A balança de pagamentos, como veremos na Aula 04, é o registro de todas as ________________________
transações que um país realiza com outros do mundo. Mede o fluxo global das expor- ________________________
tações de bens e serviços e as importações que o país realiza. ________________________
________________________
Um país que tenha inflação significativamente maior do que a dos seus parcei- ________________________
ros poderá ter seus fluxos de comércio exterior seriamente prejudicados, pois a eleva- ________________________
ção contínua dos preços internos diminui a competitividade e o volume das exporta- ________________________
ções. De outro lado, a inflação interna faz com que as mercadorias importadas fiquem ________________________
cada vez mais baratas. Isso causa um efeito bastante negativo para o país, pois tende a ________________________
desestimular a produção interna, uma vez que os consumidores vão preferir comprar
40 produtos vindos de fora com preços mais em conta. Além disso, com importações em
alta e exportações em baixa, gera-se um déficit nas relações externas do país que pode

conjuntura
econômica
comprometer as políticas públicas desse país.

Efeito sobre o mercado de capitais

Tendo em vista o fato de que, num processo inflacionário intenso, o valor da


moeda se deteriora rapidamente, ocorre um desestímulo à aplicação de recursos no
mercado de capitais financeiros. As aplicações em poupança e títulos devem sofrer
uma retração. Por outro lado, a inflação estimula a aplicação de recursos em bens de
raiz, como terras e imóveis, que costumam se valorizar.

No Brasil, essa distorção foi bastante minimizada pela instituição do mecanismo


da correção monetária, pelo qual alguns papéis, como os títulos públicos, cadernetas
de poupança e títulos privados, passaram a ser reajustados (ou indexados) por índices
que refletem aproximadamente o crescimento da inflação. Em épocas de aceleração
da inflação, isso contribui para um verdadeiro desvio de recursos de investimentos no
setor produtivo, para aplicação no mercado financeiro.

________________________
Outros efeitos
________________________
________________________
Outra distorção provocada por elevadas taxas de inflação prende-se à forma-
________________________
ção das expectativas sobre o futuro. Particularmente, o setor empresarial é bastante
________________________
sensível a esse tipo de situação, dada a relativa instabilidade e imprevisibilidade
________________________
de seus lucros. O empresário fica num compasso de espera. Enquanto a conjuntura
________________________
inflacionária perdurar, ele dificilmente tomará iniciativas no sentido de aumentar seus
________________________
investimentos na expansão da capacidade produtiva. Assim, a própria capacidade de
________________________
produção futura e, consequentemente, o nível de emprego pode ser afetado pelo pro-
________________________
cesso inflacionário.
________________________
________________________ Embora os trabalhadores sejam os maiores prejudicados, as perdas salariais fa-
________________________ rão com que os capitalistas também percam, porque venderão menos, além do gover-
________________________ no, que, com as quedas de renda dos trabalhadores e das vendas, terá a arrecadação
________________________ de impostos reduzida.
________________________
No âmbito do poder público, vale destacar o efeito de altas taxas de inflação
________________________
sobre as finanças públicas. De acordo com o chamado Efeito Oliveira Tanzi, a inflação
________________________
tende a diminuir o valor real da arrecadação fiscal do governo, pelo hiato de tempo
________________________
existente entre o fato gerador e o recolhimento efetivo do imposto (VASCONCELOS,
________________________
2003, p. 340). Nesse caso, quanto maior inflação, menor a arrecadação real do gover-
________________________
no.
________________________
________________________ Uma vez discutidas as distorções provocadas por elevadas taxas de inflação,
________________________ torna-se necessário analisar a inflação a partir dos fatores.
________________________
CAUSAS DA INFLAÇÃO 41

conjuntura
econômica
Esta seção vai destacar as causas da inflação, ressaltando os principais tipos de
inflação.

Inflação de Demanda

Essa inflação refere-se ao excesso de demanda em relação à produção dispo-


nível de bens e serviços na economia. A inflação de demanda ocorre quando a eco-
nomia está próxima de sua capacidade máxima, ou seja, não pode aumentar substan-
cialmente a oferta de bens e serviços em curto prazo para acompanhar o crescimento
da demanda.

A inflação de demanda, considerada o tipo mais “clássico” de inflação, diz res-


peito ao excesso de demanda agregada em relação à oferta de bens e serviços. Nor-
malmente, a inflação de demanda tem a sua origem em três fatores:

‚‚ Aumento da renda disponível em decorrência de reajustes salariais ou da redução da


carga tributária, ocasionando um aumento no poder aquisitivo e pressionando o con-
sumo em níveis maiores do que a capacidade de expansão da produção, gerando um
desequilíbrio no mercado e induzindo os preços a se elevarem;

‚‚ Expansão do crédito ao consumidor que, mesmo com limitações na sua renda dispo-
________________________
nível, passa a dispor de um mecanismo de compra; ________________________
________________________
‚‚ Diminuição das taxas de juros, que impulsiona as compras, principalmente a prazo, o
________________________
que estimula a inflação.
________________________
________________________
________________________
________________________
Inflação de Custos
________________________
Esse tipo de inflação é causado pelo aumento no custo de produção. O au- ________________________
mento das despesas com os fatores de produção, tais como; o trabalho, os recursos ________________________
naturais e o capital, ocasiona este tipo de inflação. Com relação ao trabalho, caso haja ________________________
um aumento na sua remuneração (salário), haverá inflação, pois esse aumento normal- ________________________
mente é repassado para o preço final das mercadorias. ________________________
________________________
No que se refere aos recursos naturais, caso das matérias-primas, um aumento ________________________
em seus custos — decorrente, por exemplo, de aumento nos preços internacionais ou ________________________
por problemas nas condições climáticas — ocasionará aumento nos custos de produ- ________________________
ção, que, por sua vez, será repassado para o preço final. ________________________
Por último, com relação ao capital, caso haja uma elevação dos juros, haverá
________________________
uma restrição no acesso a financiamentos; o dinheiro torna-se mais caro com os juros
________________________
elevados, repassando, portanto, esse alto custo para o preço das mercadorias.
________________________
________________________
A inflação de custos, também conhecida como “inflação de oferta”, ocorre ________________________
quando o nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos dos fatores de pro- ________________________
dução aumentam. Essa situação provoca uma queda na produção induzindo um au-
42 mento dos preços de mercado.

Podem-se detectar como principais causas da inflação de custos:

conjuntura
econômica
‚‚ Aumento do custo da mão de obra;

‚‚ Aumento do custo das matérias-primas e materiais secundários;

‚‚ Aumento da taxa de juros (que ocorre quando as empresas utilizam capital de tercei-
ros sobre o qual pagam remuneração);

‚‚ Aumento da carga tributária.

Cabe aqui destacar outros tipos de inflação, normalmente, não muito estuda-
dos nos cursos de introdução à economia.

Inflação Inercial

A inflação inercial ocorre em função da indexação da economia, portanto, de


forma independente das pressões de demanda ou de custos. Normalmente, o proces-
so inflacionário é autoalimentado pelo reajuste pleno de preço, tomando como base a
inflação do período anterior. De acordo com Lanzana (2001):
________________________
________________________
________________________
________________________ [...] o aspecto mais negativo da indexação é o fato de a mesma tor-
________________________ nar a inflação rígida para baixo, isto é, mesmo sem pressões de de-
________________________ manda e de custos a inflação não cede. (LANZANA, 2001, p. 311)

________________________
________________________
________________________ Um dos grandes responsáveis pela inflação inercial é a indexação da economia.
________________________ A indexação consiste em se corrigir as rendas recebidas pelos agentes econômicos e
________________________ o valor dos ativos de sua propriedade com base na variação de um índice de preços
________________________ que reflita a taxa de inflação no período de tempo entre os reajustes. Desse modo, os
________________________ salários dos trabalhadores, os aluguéis de imóveis, a taxa de câmbio da economia, o
________________________ capital emprestado pelo poupador, os títulos da dívida pública emitidos pelo Governo,
________________________ entre outros, são reajustados periodicamente com base na inflação passada. Dessa
________________________ forma, a indexação acaba perpetuando a inflação, pois os agentes econômicos criam
________________________ expectativas acerca do nível dos preços e sempre tenderão a reajustar os rendimentos
________________________ pela inflação passada, impedindo que a taxa de inflação venha a cair no futuro.
________________________
É necessário lembrar que essa diferenciação de tipos de inflação se dá no plano
________________________
teórico. Na realidade, há um entrelaçamento variado entre todos esses tipos de infla-
________________________
ção.
________________________
________________________ O Brasil foi um dos países pioneiros no uso da indexação para “corrigir” a infla-
________________________ ção. Porém, desde a aplicação do Plano Collor 2, esse mecanismo como medida de
________________________ correção monetária foi oficialmente abolido.
Inflação de Lucros 43

conjuntura
econômica
Neste tipo de inflação, é importante considerar a inserção da empresa no mer-
cado. Empresas que têm força de mercado podem elevar o preço de suas mercadorias
sem enfrentar maiores obstáculos, dado que essas empresas possuem o poder de es-
tabelecer preços (principalmente no caso dos monopólios e oligopólios que vimos na
aula passada). No caso de existir um grande número de empresas com essas caracte-
rísticas, há a possibilidade de elas entrarem em acordo para elevação conjunta dos
preços com o intuito deliberado de aumentar a taxa de lucro. É exatamente esse tipo
de acordo que caracteriza os cartéis econômicos.

INFLAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

O cenário econômico do Brasil em 2012 favorece a discussão do trade-off, infla-


ção e crescimento econômico. Com o aumento nos preços das principais commodi-
ties agrícolas e do petróleo no mercado internacional, há expectativa em relação ao
retorno da inflação a patamares indesejáveis, o que poderá ocasionar desaceleração
no desempenho da economia brasileira para os próximos anos. Considerando o cres-
cimento econômico como algo distinto de controle inflacionário, evidencia-se, nessa
questão, uma assimetria, pois uma inflação baixa estimula a estabilidade no setor fi-
nanceiro e a combinação dos dois promove o crescimento. ________________________
________________________
Essa discussão é muito importante e muito rica na história econômica do Brasil. ________________________
Não por acaso estamos propondo, ainda nesta aula, a discussão dos Planos e Progra- ________________________
mas que abriram mão de uma política voltada para o crescimento e desenvolvimento ________________________
para se concentrarem em medidas de combate à inflação. Particularmente no país, ________________________
a partir de 1980, os índices de inflação atingiam níveis astronômicos (hiperinflação) ________________________
e impediam o desenvolvimento, porque afetavam principalmente a renda dos mais ________________________
pobres. Assim, a estabilidade dos preços é o primeiro passo para um país que objetive ________________________
gerar crescimento econômico de suas atividades produtivas. ________________________
A inflação baixa estimula o crescimento, segundo Wood (2001, p. 2), de três ma-
________________________
neiras:
________________________
________________________
________________________
‚‚ Quando a inflação passa a ser alta, cresce a impopularidade do governo (se o país é ________________________
uma democracia) e da elite rica (no poder em países não democráticos), junto à opinião ________________________
pública. Em ambos os casos, os governantes tentam deter a inflação promovendo um ________________________
aperto monetário, provocando pelo menos um desaquecimento econômico e, possivel- ________________________
mente, uma recessão. Essa perspectiva se constitui em obstáculo aos investimentos, o ________________________
que compromete o crescimento.
________________________
________________________
________________________
‚‚ A inflação gera confusão em torno do significado das variações nos preços. A mudan-
________________________
ça de preço de uma mercadoria em relação a outras, uma alteração de preços relativos,
é o que afeta a alocação de recursos. Se o preço de uma mercadoria sobe em relação
________________________
ao de uma mercadoria substituta, então, os consumidores provavelmente comprarão a ________________________
44 alternativa mais barata, ao passo que os produtores incrementarão a produção da mer-
cadoria cujo preço aumentou. Os consumidores gastam suas rendas de modo a maximi-

conjuntura
econômica
zar seu bem-estar, ao passo que os produtores buscam aumentar a eficiência com que
empregam seus recursos. Essas ações conjuntas melhoram a economia e o bem-estar
das pessoas que vivem e trabalham nelas.

‚‚

‚‚ Inflação baixa estimula a estabilidade financeira. A estabilidade financeira, por sua vez,
estimula o crescimento. Se as instituições financeiras ficam vulneráveis ou perdem sua
vitalidade, não funcionam bem na transmissão de capital de poupadores para investi-
dores. Com isso, não se concretizam muitos investimentos em projetos perfeitamente
viáveis e o crescimento deixa de acontecer.

Então, quando sobe o nível geral de preços de uma economia, a maior parte da
população perde muito dinheiro e a diminuição do poder de compra dos seus ativos
provoca retrações nos negócios que são realizados na economia. Mesmo os investi-
dores perdem, pois praticamente não conseguem fazer com que seus lucros sejam
suficientes para honrar todos os compromissos, como por exemplo, os empréstimos
bancários e os salários de seus funcionários, que têm que aumentar, para que possam
adquirir produtos os quais ele (empresário) coloca à disposição no mercado.

Além disso, a inflação provoca efeitos nocivos a uma série de outras estruturas -
________________________ como as que foram descritas anteriormente - no caso do nível da arrecadação pública
________________________ (Efeito Tanzi), sobre o balanço de pagamentos, sobre a distribuição de renda e, portan-
________________________ to, provoca distorções em todos os setores produtivos, pois prejudica o funcionamen-
________________________ to de inter-relações entre os agentes econômicos que vimos na aula passada: famílias,
________________________ empresas, governo e resto do mundo.
________________________
As dificuldades de interação entre esses agentes provocam distorções sobre a
________________________
demanda e oferta da economia, levando a uma diminuição nos negócios realizados e
________________________
uma paralisação na atividade econômica, desestimulando o crescimento. Com infla-
________________________
ção em alta e lucros menores, certamente, os empresários vão ofertar menores postos
________________________
de trabalho, gerando desemprego na economia. As pressões sobre o governo também
________________________
serão maiores e este, ao invés de investir em uma política de desenvolvimento nacio-
________________________
nal, terá que se preocupar com programas emergenciais e assistenciais.
________________________
________________________ Assim, todos perdem com a inflação. Se as medidas de combate, muitas vezes,
________________________ são “dolorosas”, o seu descontrole significa a “morte do paciente”, pois, no Brasil, quem
________________________ mais perde com a inflação é a classe trabalhadora, que depende, basicamente, de um
________________________ salário mínimo. Isso, para não falar dos trabalhadores informais, que, invariavelmente,
________________________ nem chegam a este patamar. E isso vale para qualquer país do mundo, não só para o
________________________ Brasil. Sugiro que você pesquise na Internet como a inflação, vez por outra, ameaça a
________________________ estabilidade econômica de países como Estados Unidos, Alemanha ou Itália.
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
PRINCIPAIS PROGRAMAS DE COMBATE À INFLAÇÃO DA HIS- 45
TÓRIA BRASILEIRA RECENTE

conjuntura
econômica
Como já mencionado anteriormente, a história brasileira é riquíssima e foram
muitos os fenômenos econômicos que assolaram a nossa economia – e que estão por
trás da grande inflação que enfrentamos. Tais fenômenos estão relacionados à con-
juntura interna e externa, como por exemplo, a crise da dívida externa, os choques do
petróleo etc. A expansão inflacionária e os graves problemas decorrentes de medidas
econômicas inadequadas, ocorridas em sucessivos governos a partir dos anos 1980,
certamente, extrapolariam os objetivos desta aula. Para se aprofundar no tema, sugiro
a consulta de qualquer um dos manuais de economia que anexei nas referências bi-
bliográficas desta aula.

A inflação sempre preocupou muito as autoridades brasileiras ao longo da


nossa história econômica. Particularmente na década de 1980, isto é, no pós segun-
do choque do petróleo, houve uma pluralidade de planos econômicos, que estavam
mais comprometidos com a estabilização macroeconômica dos preços do que com o
crescimento econômico propriamente dito. A seguir, faremos um breve resumo desses
principais programas de combate à inflação dos últimos 20 anos.

As medidas de estabilização tomadas no período entre o ano de 1981 e 1985, já


no final do governo Figueiredo, foram baseadas em um rigoroso controle monetário e
em esforço para reduzir o déficit público (isto é, a participação do governo na econo-
________________________
mia). O objetivo era retirar a grande quantidade de moeda que estava em circulação,
________________________
principalmente pela elevação dos gastos públicos em anos anteriores.
________________________
Entretanto, parafraseando nosso exemplo anterior, a dose do remédio foi tão ________________________
forte que o paciente morreu. A redução dos investimentos públicos e a contração mo- ________________________
netária provocaram fortes recessões na economia brasileira (períodos consecutivos ________________________
em que a taxa de crescimento da economia ficou negativa), com grande diminuição ________________________
do PIB, sem que isso significasse diminuição também nos níveis de preços. Entre 1981 ________________________
e 1983, a inflação brasileira passou de um patamar de 100 para 200% ao ano. ________________________
________________________
Como não conseguiu sucesso, o governo tentou retomar o projeto desenvol-
________________________
vimentista, aumentando os gastos públicos em 1984 e 1985, para pelo menos fazer o
________________________
país voltar a crescer, no entanto, os indicadores inflacionários alcançaram níveis altíssi-
________________________
mos, não gerando o crescimento econômico que se desejava. Assim, o déficit público
________________________
e a inflação cresceram de tal forma que o país entrou em uma severa recessão.
________________________
Com o fracasso da política anterior, que foi comandada por Delfim Neto, assu- ________________________
me o poder, em um processo histórico, o presidente José Sarney e, em fevereiro de ________________________
1986, anuncia o Plano Cruzado, composto das seguintes medidas: ________________________
________________________
________________________
‚‚ Congelamento de preços e salários, aluguéis e taxas de câmbio; ________________________
________________________
‚‚ Substituição do cruzeiro pelo cruzado à razão de mil por um;
________________________
‚‚ Extinção do sistema de indexação generalizada de impostos, salários, aluguéis e ativos ________________________
financeiros existentes no país. ________________________
46 As medidas introduzidas pelo Plano Cruzado foram recebidas pelos brasileiros
com grande entusiasmo e euforia, mas logo encontraram um conjunto de obstáculos

conjuntura
econômica
impostos pela teoria econômica, principalmente relacionados ao congelamento de
preços (LEITE, 2000, p. 620):

‚‚ Iniciou-se um processo de desabastecimento, com o sumiço das mercadorias das pra-


teleiras dos supermercados;

‚‚ Instalou-se um mercado paralelo (mercado negro), com alimentos básicos sendo ven-
didos às escondidas com preços superiores aos tabelados;

‚‚ Revelou-se a insuficiência de fiscais para impor e acompanhar o congelamento dos


preços (apesar do clamor do presidente Sarney para que todos os brasileiros fossem
fiscais do plano);

‚‚ Iniciou-se uma especulação com os estoques secretos das mercadorias em falta;

‚‚ Tornou-se necessária a importação de alimentos (carne, arroz, leite) costumeiramente


produzidos e até exportados pelo país.

Ao final de 10 meses, o Plano Cruzado foi “sepultado” com o descongelamento


de preços e retorno da inflação aos níveis anteriores. Ágio e Câmbio Negro foram ex-
pressões que melhor caracterizaram o Plano Cruzado.
________________________
________________________ Em função do fracasso do Plano Cruzado, assume o cargo de ministro da eco-
________________________ nomia Luis Carlos Bresser Pereira (renomado economista brasileiro), que julgava ter
________________________ entendido os erros do Plano Cruzado. Em junho de 1987, é lançado no Brasil o Plano
________________________ Bresser, que também centrou seu plano no congelamento de preços, salários, aluguéis
________________________ e taxa de câmbio, bem como num sistema de indexação defasada de salários e preços.
________________________ Entretanto, desta feita, o congelamento foi precedido de um reajustamento das tarifas
________________________ públicas, de uma minidesvalorização da moeda nacional e da promessa de uma po-
________________________ lítica monetária restritiva e política fiscal de diminuição da participação do Estado na
________________________ economia.
________________________
Conforme destaca Leite (2000, p. 621), o Plano Bresser não contou com o apoio
________________________
público que beneficiou o Plano Cruzado. Em vez de contar com boa vontade popular,
________________________
o plano enfrentou forte reação dos setores prejudicados, especialmente as pressões
________________________
por aumentos salariais da parte das empresas estatais e do próprio governo federal.
________________________
O aumento dos salários dos funcionários terminou por impedir a contenção do déficit
________________________
público, que aumentou brutalmente. O governo teve também que “afrouxar” os con-
________________________
troles monetários para evitar a recessão e, como resposta, a inflação alcançou incríveis
________________________
400% no ano de 1987. É obvio dizer que o Plano Bresser foi abandonado em dezembro
________________________
de 1987 com a demissão de seu criador.
________________________
________________________ Diante ao momento de recessão e forte elevação nos preços, o governo Sarney
________________________ desistiu das investidas mirabolantes e passou a utilizar mecanismos mais tradicionais
________________________ de controle da inflação, combinando políticas monetárias e fiscais restritivas (esse as-
________________________ sunto será retomado em nossa próxima aula). O Plano que entrou em vigor em 1988,
________________________ na gestão de Maílson da Nóbrega como ministro da economia, foi, por isso mesmo,
batizado de Feijão com Arroz. 47
O Plano Feijão com Arroz até conseguiu diminuir o déficit público e gerar uma

conjuntura
econômica
contenção monetária, mas a economia não deu respostas positivas e entrou de vez
em recessão, com forte retração de 5% na taxa do PIB e inflação que atingiu 1000%
ao ano.

Em 1989, novo plano, dessa vez batizado de Plano Verão, com novo congela-
mento de preços, salários, aluguéis e câmbio. O Plano veio acompanhado de uma re-
forma monetária, caracterizada pelo surgimento de uma nova moeda, denominada de
Cruzado Novo, valendo mil cruzados antigos.

O Plano Verão até foi bem intencionado e propôs, inclusive, um corte no núme-
ro de ministérios, autarquias e cargos públicos, demissões de funcionários públicos
não concursados e privatizações de empresas públicas deficitárias, objetivando conter
a escalada do déficit público e do aumento na dívida externa, que engessava a ação
do governo brasileiro com o pagamento de muitos milhares de dólares com credores
internacionais.

Entretanto, a sociedade brasileira não tolerava mais os congelamentos de pre-


ços e as expectativas inflacionárias aceleravam ainda mais a tendência inflacionária.
Quando a taxa de inflação batia em 25% ao mês, os empresários já tomavam medidas
defensivas, esperando um novo congelamento, e aumentavam, para acima de seus
custos, os preços das mercadorias comercializadas, principalmente os gêneros alimen-
________________________
tícios.
________________________
O fracasso do Plano Verão foi tão evidente que a inflação chegou a bater em ________________________
50% ao mês e a pressão eleitoreira, em função das campanhas presidenciais e de reno- ________________________
vação do congresso, fez com que se flexibilizasse a política em relação aos funcioná- ________________________
rios públicos e às empresas estatais, retomando, dessa maneira, a escalada do déficit ________________________
público. ________________________
________________________
Os índices econômicos pioraram tanto no final do governo Sarney que, além
________________________
da inflação que já atingia 1200% ao ano, o governo foi obrigado a deixar de pagar os
________________________
compromissos da dívida externa, decretando moratória da dívida e comprometendo
________________________
o futuro do país com a diminuição de financiamentos externos.
________________________
Está claro, com essas rápidas passagens da análise da economia brasileira entre ________________________
1980 e 2008, que muitos foram os programas de combate à inflação nesse período. ________________________
Uma análise mais detida sobre as especificidades desses planos, bem como a conjun- ________________________
tura econômica da época, deve ser realizada nos livros de economia colocados nas ________________________
referências bibliográficas de cada aula. Aqui nos interessa apenas analisar algumas ________________________
medidas do combate à inflação, bem como evidenciar como a inflação causou males ________________________
para a histórica econômica do Brasil. ________________________
________________________
Dentro desse clima extremamente adverso de inflação descontrolada, de cri- ________________________
se na dívida externa, de decretação de moratória, de baixo crescimento do PIB, de ________________________
aumento do déficit público, a democracia brasileira, após anos de ditadura militar, ________________________
colocou à frente do país o presidente Fernando Collor de Melo, com o objetivo de ________________________
restabelecer a confiança na economia brasileira, retomar o crescimento econômico e ________________________
controlar a hiperinflação.
48 Ao tomar posse em 15 de março de 1990, o governo Collor, com uma só medi-
da, resolveu, pelo menos no curto prazo, os problemas da hiperinflação, pagamento

conjuntura
econômica
da dívida e o déficit público ao longo dos últimos 20 anos, ao decretar o bloqueio de
70% dos ativos financeiros do setor privado por 18 meses com devolução posterior em
12 parcelas ajustadas com a correção monetária e taxas de juros de 6% ao ano. Essa foi
a principal medida do governo Collor, que prometera acabar de vez com a inflação.

Figura 3 - Presidente Fernando Collor de Mello.

________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fernando_collor.jpg
________________________
________________________
________________________ Partindo do princípio de que a inflação era sustentada pelo desequilíbrio orça-
________________________ mentário (déficit público) e alimentada pelo volume de ativos financeiros indexados e
________________________ de liquidez imediata, o Plano Brasil Novo, lançado pelo governo e conhecido na mídia
________________________ como Plano Collor I, tinha as seguintes premissas:
________________________
________________________
________________________ ‚‚ Promoveu nova reforma monetária, como a readoção do cruzeiro (Cr$) como moeda
________________________ oficial (Cr$1,00 = NCz$1.000,00);
________________________ ‚‚ Determinou o bloqueio da maior parte dos ativos financeiros;
________________________
________________________ ‚‚ Estabeleceu congelamento temporário de preços e salários e reajustou as tarifas pú-
blicas;
________________________
________________________ ‚‚ Implementou um programa de privatização com o propósito de reduzir a participação
________________________ do Estado na economia.
________________________
________________________
________________________ O choque inicial do Plano Collor I provocou uma redução imediata no poder de
________________________ compra da população e, em consequência, maior retração das atividades econômicas.
O PIB brasileiro sofreu uma forte queda em 1990, com retração de 4,3%, valor mais 49
baixo registrado pela economia desde 1981. O setor industrial foi o mais atingido com

conjuntura
econômica
queda de 8,6% em relação a 1989 e a taxa de emprego da economia brasileira caiu 4%
naquele mesmo período.

Apesar desse mau resultado, em relação ao equilíbrio orçamentário, as medidas


de privatizações de empresas estatais (no seio do Programa Nacional de Desregula-
mentação), bem como a demissão de funcionários públicos estáveis e, aliada a estas
medidas, a venda de imóveis e veículos do governo, ocasionaram a redução do valor
da dívida referente ao setor público.

A inflação, no primeiro ano do plano, não recuou, mas se estabilizou no patamar


de 11% ao mês. Entretanto, com a crise do petróleo no Oriente Médio, as importações
provocaram a retomada da escalada de preços. Com uma inflação de 500% no ano de
1991, o plano Collor I chegava ao seu final, com total desaprovação pela população
brasileira e com a inflação totalmente fora de controle.

Um novo Plano foi preparado ainda na vigência do governo Collor, batizado


como Plano Collor II. Este previa a desindexação da economia, o tabelamento para a
cesta básica e o congelamento de preços e salários. As políticas monetária e fiscal con-
tinuaram austeras, com juros altos e crédito restrito para inibir o consumo na época do
descongelamento dos preços.

O rigor da política do governo teve como primeiro impacto uma aumento ex-
________________________
pressivo de desemprego (5,8% em relação ao ano anterior) e um crescimento quase
________________________
nulo do PIB brasileiro, próximo a 0,3% em 1992. A inflação não se estabilizou e chegou
________________________
a patamares de 50% ao mês, atingindo, no final de 1992, uma taxa acumulada de qua-
________________________
se 2000% ao ano.
________________________
Para sorte dos brasileiros, o governo Collor foi interrompido antes do seu fim. ________________________
Marcado por uma corrupção muito grande, o presidente recebeu um grande veto ao ________________________
seu mandato pelo povo e sofreu o impedimento de continuar à frente do país, tendo ________________________
que renunciar ao mandato. ________________________
________________________
A partir de 1993, com a queda de Collor, assume Itamar Franco e estabelece
________________________
um novo plano econômico, dessa vez tendo como ministro da fazenda o sociólogo
________________________
Fernando Henrique Cardoso. Cabe, aqui, apenas um registro de que o Presidente Ita-
________________________
mar Franco não conseguiu acertar a economia de primeira. Antecederam ao ministro
________________________
Fernando Henrique três outros ministros que continuaram a ciranda da inflação alta
________________________
nos primeiros cinco meses do governo. Estamos apenas reduzindo um pouco os fatos
________________________
históricos, pois esse assunto deve ser melhor explicado em um curso específico sobre
________________________
economia brasileira, o que não é o nosso objetivo principal.
________________________
O plano econômico, lançado pelo então ministro Fernando Henrique, ficou ________________________
conhecido como Plano de Ação Imediata (PAI), aprovado em julho de 1993. Entre os ________________________
principais fatos que marcaram esse plano, podemos destacar: ________________________
________________________
________________________
‚‚ Retomada do controle inflacionário - ainda elevado, mas em níveis já bem mais baixos ________________________
(150% em 1993); ________________________
50 ‚‚ Abertura da economia em bases liberais com a diminuição do papel do Estado na
economia;

conjuntura
econômica
‚‚ Progressiva melhora nas contas públicas com a recuperação de confiança externa
(abalada desde a moratória do governo Sarney);

‚‚ Austeridade no gasto público, mantendo os gastos com programas sociais;

‚‚ Privatizações de empresas estatais;

‚‚ Saneamento do sistema bancário (envolvendo bancos federais e estaduais).

O PAI ou Plano FHC, como ficou popularmente conhecido, definiu como seu
objetivo principal assegurar a retomada do crescimento econômico em bases susten-
táveis e com baixo índice de inflação.

Assim, embora não tenha mitigado a inflação, o Plano FHC foi fundamental
para criar as bases necessárias para que a inflação invertesse a sua trajetória ascenden-
te. Ainda em 1994, é lançado o Plano Real.

O Plano Real foi montado por uma equipe de especialistas e implementado com
grandes diferenças em relação aos anteriores: primeiro, não houve qualquer tentativa
de congelamento de preços, salários e muito menos bloqueio de ativos financeiros;
segundo, o plano real foi antecipado para a sociedade antes mesmo de acontecer, de
________________________ forma a ganhar o apoio popular, fator subjetivo, mas muito importante para o sucesso
________________________ do plano. Além disso, o sucesso da abertura comercial, iniciada no governo Collor e
________________________ continuada no governo de Itamar Franco, possibilitaram uma reestruturação na eco-
________________________ nomia brasileira e maior internacionalização nas relações econômicas.
________________________
A ideia da equipe econômica era criar uma unidade monetária forte, de forma
________________________
a evitar a sua corrosão e a explosão no processo inflacionário. Em entrevista ao portal
________________________
UOL, o cientista político e ex-assessor do Ministério da Fazenda, Sérgio Fausto, assim
________________________
definiu o processo de implementação do Plano Real:
________________________
________________________
________________________
________________________ O Plano Real se desdobrou em três fases e, diferentemente dos an-
________________________ teriores, foi anunciado antecipadamente à sociedade. Em nenhum
________________________ momento houve congelamento de preços. A primeira fase, que du-
________________________ rou do final de 1993 a fevereiro de 1994, consistiu na batalha por
aprovar no Congresso medidas que assegurassem um mínimo de
________________________
controle sobre as contas públicas. Essa foi uma lição aprendida com
________________________
os planos anteriores: como a inflação alta ajudava o governo a fe-
________________________ char as suas contas, se o objetivo era derrubá-la e mantê-la no chão,
________________________ era preciso tomar as rédeas das contas públicas.
________________________
________________________
A segunda fase transcorreu de fevereiro a junho de 1994 e foi marca-
________________________ da pela progressiva cotação dos preços em URV, uma unidade real
________________________ de valor, ou seja, uma referência estável de valor. O cruzeiro novo
________________________ não saiu de cena de imediato. A cada dia, o Banco Central fixava
________________________ uma taxa de conversão da URV em cruzeiros, baseada na média de
três índices diários de inflação.
A URV era uma quase moeda, porque servia de unidade de conta, de 51
reserva de valor, mas não de meio de pagamento. Ou seja, os bens

conjuntura
econômica
e serviços continuavam a ser pagos em cruzeiros novos, mas passa-
ram a ter referência numa unidade de valor estável, mais ou menos
como se fosse um substituto do dólar. Assim, a URV permitiu o ali-
nhamento dos preços sem necessidade e as inconveniências do con-
gelamento. A terceira fase começa com a emissão da nova moeda, o
Real, em lugar dos cruzeiros novos. A URV foi a parteira do Real.

(http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/plano-real.jhtm)

Em primeiro de julho de 1994, o governo procedeu à reforma monetária, ado-


tando o real como moeda corrente, de valor equivalente à URV do dia anterior (Cr$
2.750,00) e mantendo a paridade com o dólar de US$1,00 para R$0,93. A valorização
da moeda foi um trunfo para combater a inflação.

Com a forte valorização da moeda (além de todas as medidas anteriores, da


época de Itamar Franco, como as privatizações para diminuir a participação do se-
tor público e a abertura da economia), houve um aumento nas importações de bens
de consumo do exterior, de forma que os empresários brasileiros foram obrigados a
baixar os preços internos para continuarem vivos na concorrência pelo consumidor
brasileiro.
________________________
Com maior controle dos gastos públicos, uma política fiscal e monetária austera ________________________
e com a retomada da confiança na economia brasileira, o que parecia impossível acon- ________________________
teceu: a inflação recuou ainda em 1994, atingindo cerca de 50% ao ano, para nunca ________________________
mais atingir patamares como esse. Em 1995, a economia brasileira cresceu 4,3% e o ní- ________________________
vel de preços permaneceu num patamar jamais observado de 10%. Em 1996, o índice ________________________
de preços ao consumidor chegou a menos de 2%. ________________________
________________________
Hoje em dia, o patamar de inflação é determinado pelo Banco Central dentro ________________________
de um determinado intervalo, normalmente situado em um mínimo de 4,5% ao ano ________________________
até no máximo 6,5%. Com toda turbulência ocorrida em 2002, quando houve a troca ________________________
do governo FHC pelo governo Lula e a possibilidade de descontinuidade na política ________________________
econômica, a inflação se descontrolou um pouco e atingiu 9,8%. Um verdadeiro alento ________________________
se considerarmos os 2000% já registrados no governo Collor. ________________________
________________________
________________________
Síntese ________________________
________________________
Percebemos, nesta aula, que a inflação é um fenômeno relacionado ao aumen- ________________________
to generalizado dos preços dos diversos produtos de uma economia. Suas consequ- ________________________
ências são extremamente prejudiciais para o funcionamento do sistema econômico ________________________
e podem barrar ou mesmo impedir o crescimento econômico. Uma inflação descon- ________________________
trolada pode, inclusive, prejudicar as relações de um país com o resto do mundo, ao ________________________
tornar caras as exportações e baratas as importações. É por essa razão que, a partir da ________________________
década de 1980, quando o nível de preços no Brasil atingiu o status de hiperinflação, ________________________
começaram a ser desenvolvidos planos e programas de combate à inflação. Nenhum
52 deles logrou sucesso, até que, em 1994, o Plano Real, no final do governo Itamar Fran-
co, conseguiu reduzir os níveis inflacionários para patamares jamais observados na

conjuntura
econômica
história econômica do Brasil.

questão para Reflexão


Por que a inflação pode comprometer todas as metas do crescimento econômi-
co da economia brasileira?

Leitura indicada
FILGUEIRAS, Luis. História do Plano Real. São Paulo: Boitempo, 2000, 232p.

Sites Indicados
Dicionário de Economia: http://economiabr.net/teoria_escolas/monopolio.html

Fundação Getúlio Vargas (FGV): www.fgvdados.br

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE): www.


dieese.org.br

Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE/USP): www.fipe.org.br/


________________________
________________________ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br/
________________________
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): www.sei.ba.gov.br/
________________________
________________________ Referências
________________________
________________________
DORNBUSCH, Rudiger; FISCHER, Stanley. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1991.
________________________
________________________
FAUSTO, Sérgio. Fim da inflação e conquista da estabilidade econômica. Disponível em: <http://educa-
________________________
cao.uol.com.br/historia-brasil/plano-real.jhtm>. Acesso em: 25 nov. 2008.
________________________
________________________ LANZANA, Antonio E. Teixeira. Economia brasileira: fundamentos e atualidades. São Paulo: Atlas, 2001.
________________________
________________________ PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Org.). Manual de Economia. Equipe de Profes-
________________________ sores da USP. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
________________________
________________________ SACHS, Jeffrey; LARRAIN, B. F. Macroeconomia. São Paulo: Makron, 1992.
________________________
________________________ SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.
________________________
________________________ VASCONCELOS, Marco Antônio S.; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Sarai-
________________________ va, 2006.
________________________
________________________ WOOD, Geoffrey E. Controle de inflação e crescimento. São Paulo, 2001.
________________________ www.ibge.gov.br/
AULA 04 - aNÁLISE DAS POLÍTICAS ECONÔ- 53
MICAS NO BRASIL

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Mauricio Castro

Olá!

Como vai você? Espero que bem e principalmente estudando os assuntos passados!
Esta é uma aula muito importante sobre políticas econômicas, com destaque para as
políticas fiscal, monetária e cambial. A análise desses instrumentos é a chave para
entender como as decisões econômicas de um governo são diretamente afetadas pela
conjuntura interna e externa, e como elas interferem em nosso dia a dia, no nosso bolso
e nos nossos planos.

A política econômica é o conjunto de todos os instrumentos de que dispõe


um governo para sua intervenção na economia. Essa intervenção pode se dar com o
propósito de aumentar o desenvolvimento econômico ou simplesmente gerar cresci-
mento da atividade econômica e estabilidade nos preços. Esses assuntos serão com-
plementados em nossa aula seguinte. Por hora, entendamos que o Estado assume
a função importante na economia, buscando alocar os recursos escassos na direção
de projetos que diminuam as desigualdades econômicas, promovam o aumento do
emprego e da renda circulante na economia, gerando bem-estar social. E isso é feito
através das políticas econômicas.

Até antes de 1980, as políticas econômicas do Brasil tinham como objetivo


________________________
maior a criação de um ciclo econômico sustentável e necessário para o desenvolvi-
________________________
mento econômico. Se pesquisarmos alguns planos e programas implementados como
________________________
o Plano de Metas de Juscelino, o Plano SALTE e os Programas Nacionais de Desenvolvi-
________________________
mento da era militar, perceberemos que o foco da participação do governo na econo-
________________________
mia era acabar com os gargalos que impediam o desenvolvimento do país. As políticas
________________________
econômicas daquela época visavam investimentos pesados por parte do setor público
________________________
em setores considerados estratégicos como a infraestrutura, energia, transportes e na
________________________
indústria de base (metalurgia e siderurgia).
________________________
Não por acaso, o final dos anos 1960 e início dos 70 é batizado como a época do ________________________
milagre brasileiro, período em que a economia nacional crescia a taxas superiores a 5% ________________________
anual, expandindo a oferta de trabalho e gerando maior volume de renda, traduzido ________________________
por grande expansão no PIB per capita do Brasil. Essa era a época em que as políticas ________________________
econômicas tinham um propósito desenvolvimentista. ________________________
________________________
A partir da segunda metade da década de 1980, a economia brasileira entra ________________________
num colapso jamais percebido ao longo de toda a sua história contemporânea. A crise ________________________
da dívida externa, em função do aumento dos gastos públicos do governo em épocas ________________________
anteriores, fez com que o país enfrentasse uma grande dificuldade de financiamento ________________________
do seu desenvolvimento. Em paralelo, observa-se uma grande explosão nos níveis da ________________________
inflação interna. O desemprego em alta, a inflação e o baixo dinamismo da economia ________________________
brasileira nesse período batizaram os anos 1980 como a década perdida. Nessa época, ________________________
o PIB per capita despencou e as relações do Brasil com o resto do mundo reduziram-se ________________________
a quase nada. Naquela época, todo o comércio internacional do Brasil representava ________________________
apenas 1% da corrente de comércio do mundo, uma taxa muito insignificante para um ________________________
país com tanto potencial econômico como o Brasil.
54 Como resposta desse período conflituoso, diminuíram-se os investimentos ex-
ternos no país e o governo brasileiro passou por uma necessidade: priorizar as políti-

conjuntura
econômica
cas econômicas para o controle da inflação. Nessa época, a intervenção das políticas
econômicas tinha um novo foco: as políticas saíram do propósito de propiciar as con-
dições para o desenvolvimento e passaram a enfatizar o controle macroeconômico.
Essas políticas são as que hoje em dia são aplicadas pelo governo brasileiro. Vamos
agora entender um pouco mais de cada um desses instrumentos, pois eles nos ajudam
a entender a dinâmica da atuação do governo na economia.

Para tentar atingir os principais objetivos econômicos traçados, quais sejam,


um crescimento econômico, com equidade e controle do nível de preços, o governo
do país utiliza três políticas econômicas principais: a política fiscal, a política mo-
netária e a política cambial.

Cada uma dessas políticas econômicas tem seu próprio objetivo e seu meca-
nismo de intervenção. A política fiscal, por exemplo, é aquela em que o governo
utiliza com programas sociais e econômicos, os recursos que arrecadou de toda
a sociedade por meio de impostos e tarifas. Gastar seus recursos com programas e
assistências e arrecadar tributos sob a atividade econômica significa que o governo
está exercendo o seu mecanismo fiscal de intervenção. Na política monetária, o gover-
no controla a quantidade de moeda em circulação com o objetivo de evitar o aumento
nas transações econômicas e segurar o nível dos preços.

________________________ Assim, quando o governo retira a moeda de circulação, por exemplo, subindo
________________________ a taxa de juros e tornando as aplicações financeiras mais rentáveis, ele o faz por meio
________________________ de sua política monetária. Já na política cambial, o governo fixa “níveis ótimos” na
________________________ relação entre o valor de face do Real (moeda brasileira) em comparação ao valor
________________________ de outras moedas mundiais (normalmente o dólar e Euro são os valores de refe-
________________________ rência). Esse controle objetiva regularizar o fluxo de entrada e saída de divisas do
________________________ país, por meio de exportações e importações.
________________________
Toda vez que o governo gastar com suas diversas políticas públicas mais do
________________________
que arrecadar com todos os impostos diretos (aqueles que incidem diretamente sobre
________________________
a renda o patrimônio, tipo o imposto de renda, o IPTU e o IPVA) e indiretos (aqueles
________________________
que incidem sobre os preços das mercadorias que consumimos, dos quais o ICMS é o
________________________
principal), dizemos que ele produziu um déficit orçamentário ou déficit público. Quan-
________________________
do os déficits públicos são elevados, isso significa que o governo gasta mais do que
________________________
arrecada, por tanto tem uma grande importância na renda que é gerada internamente
________________________
em um determinado país.
________________________
________________________ Imagine que o déficit do governo esteja atrelado ao programa Bolsa Família.
________________________ Diminuir esse déficit significaria reduzir o volume de famílias beneficiadas, diminuin-
________________________ do dessa forma o consumo da economia e sinalizando para os investidores, de forma
________________________ negativa, que o momento deve ser de cautela. Assim, nesse caso extremo, observa-
________________________ mos que nem todo o déficit público é prejudicial à economia. Isso depende não só
________________________ da natureza do gasto e dos programas implementados pelo Estado, mas também da
________________________ capacidade futura de pagamento desse déficit.
________________________
A medida de referência para indicar o déficit público, e por tabela o endivida-
________________________
mento do governo, é a relação dívida/PIB. Se esse percentual for muito elevado, esta-
remos diante de uma situação de que o país terá dificuldade de financiamentos para 55
outras atividades e programas, pois uma parte de toda a sua produção econômica

conjuntura
econômica
será necessária para honrar compromissos “velhos”. Então, devemos ver com cautela
o aumento do déficit público, pois como vimos nos conceitos anteriores, essa dívida
que fica passa por uma correção monetária e pela atualização de taxas de juros, dificul-
tando que novas ações sejam tomadas antes do pagamento aos devedores. Um alto
endividamento do setor público foi a razão do insucesso da economia brasileira na
década de 1980, que apresentou baixo dinamismo econômico e alta inflação.

Falando em inflação, é importante mencionar que o volume de dinheiro inje-


tado na economia através das políticas econômicas tem também a possibilidade de,
longe de alcançar um objetivo positivo, acabar por incentivar o aumento de preços.

Voltemos ao nosso caso da Bolsa Família e suponhamos que o governo decida


continuar com uma política fiscal expansionista, aumentando gastos com programas,
independente do volume de impostos arrecadados. Nesse caso, teríamos uma situ-
ação prejudicial ao governo, pois com o aumento do déficit ele terá dificuldade de
implementar novos programas. Mas, além disso, com uma quantidade muito grande
de dinheiro em circulação, há uma tendência de que as pessoas comecem a gastar
mais e mais e isso provoque um aumento nos preços dos diversos itens da economia,
gerando a inflação. Assim sendo, um descontrole nos gastos públicos pode ter como
efeito colateral um aumento da inflação na economia.

Para evitar que isso aconteça, surge um novo instrumento de política econô- ________________________
mica que tem como objetivo fazer com que a economia cresça, mas sem com isso ________________________
aumentar também o nível de preços gerando inflação. Estamos falando da política ________________________
monetária, isto é, a intervenção do governo controlando a liquidez (volume de moeda ________________________
em circulação) do sistema econômico de forma racional e equilibrada aos demais ob- ________________________
jetivos das políticas econômicas. Nesse sentido, ganha uma importância cada vez mais ________________________
crescente a política monetária, como principal instrumento econômico para combate ________________________
à inflação e aumento da renda sem necessariamente aumentar a participação do setor ________________________
público na economia, como o faz a política fiscal. ________________________
________________________
A política monetária do governo é desenhada por uma instância governamen-
________________________
tal chamada de Conselho Monetário Nacional e executada pelo principal órgão com-
________________________
ponente desse conselho que é o Banco Central do Brasil. O Banco Central, no controle
________________________
monetário tem as seguintes funções: emissão de moeda; depositário de reservas in-
________________________
ternacionais que chegam das relações do país com o resto do mundo; guardião das
________________________
reservas monetárias dos bancos comerciais como Bradesco, Itaú, etc. é responsável
________________________
pelos empréstimos para instituições financeiras com problemas de caixa; é responsá-
________________________
vel pelo controle seletivo do crédito que é disponibilizado no Brasil pelos bancos de
________________________
investimento, como o BNDES. É também o banqueiro do governo, pois é depositário
________________________
dos recursos captados pela União sob a forma de receitas tributárias (isto é, os impos-
________________________
tos arrecadados pelo governo ficam no Banco Central).
________________________
No Brasil, principalmente depois do Plano Real, o grande objetivo da política ________________________
monetária é a estabilização dos preços, mesmo que isso signifique diminuir um pouco ________________________
a intensidade do crescimento econômico. Traumatizado com a época em que a infla- ________________________
ção atingia 2.000% (isso mesmo, dois mil pontos percentuais ao ano, como na época ________________________
56 do governo Collor, em 1991), o governo brasileiro não flexibiliza a política monetária
brasileira, de forma que, se for preciso sacrificar o crescimento econômico para manter

conjuntura
econômica
a meta de inflação, a equipe econômica do governo não vai pensar duas vezes. A meta
de inflação do Brasil é de 4,5% ao ano, com uma flexibilidade de dois pontos percen-
tuais, podendo no máximo atingir 6,5% ao ano. Em 2002, a inflação no Brasil atingiu
10% o que significou uma mudança no rigor da política monetária desde os inícios do
governo Lula.

Para realizar a política monetária, o Banco Central utiliza instrumentos quali-


tativos e quantitativos. Os primeiros são aqueles que modificam a disponibilidade de
crédito para as agências de fomento e bancos de desenvolvimento. Os segundos são
aqueles que têm como missão regular a oferta de moeda na economia. Entre esses
instrumentos estão as taxas de juros, as operações de open market (compra e venda
de títulos públicos) e as operações de controle das reservas dos bancos comerciais,
para que estes não emprestem dinheiro para a sociedade acima do permitido para
não gerar inflação.

No Brasil, o principal instrumento de controle monetário é a taxa de juros. Todos


os meses, nós, economistas, aguardamos ansiosamente qual será a decisão do Banco
Central em relação às taxas de juros cobradas no sistema financeiro. A depender do
comportamento da Taxa SELIC, que é a taxa que serve de referência para o sistema
financeiro brasileiro, sabemos se o Banco Central quer aumentar a liquidez da eco-
nomia para incentivar o consumo ou se o objetivo é segurar os preços da economia,
________________________
de forma a evitar a inflação. E o instrumento para isso é a taxa de juros. Entendamos a
________________________
lógica desse instrumento.
________________________
________________________
________________________
________________________ O que é a taxa juros?

________________________
________________________
De maneira bastante simplificada, podemos dizer que é a remuneração que o
________________________
sistema financeiro paga para que você, consumidor, abra mão de ter seu recurso de
________________________
imediato para realização de transações ou o deixe aplicado em poupança ou em outro
________________________
tipo de aplicação. Assim, quando a taxa de juros se eleva, aqueles que têm dinheiro
________________________
aplicado conseguem um ganho adicional no mercado financeiro.
________________________
________________________ O que o Banco Central faz é bastante intuitivo. Quando ele quer restringir a
________________________ oferta de moeda na economia para evitar a alta nos preços, aumenta a taxa de juros.
________________________ Esse aumento faz com que muitas pessoas deixem de comprar e passem a poupar
________________________ para ganhar no mercado financeiro. Quando esses compradores diminuem o volume
________________________ das compras, os empresários não têm outra saída senão abaixar os preços para não
________________________ provocar uma queda no consumo. Além disso, quando as taxas de juros estão altas, as
________________________ pessoas têm mais dificuldade de conseguir empréstimos bancários, pois estes ficam
________________________ muito caros e diminuem a procura pelo dinheiro de forma a causar pouca pressão
________________________ sobre a inflação.
________________________
Assim, quando o Banco Central quer elevar o consumo da sociedade ou au-
________________________
mentar a disponibilidade de crédito, basta que diminua a taxa de juros. Todos aqueles
________________________
poupadores vão se sentir desestimulados a manterem o dinheiro parado e voltarão a
realizar gastos na economia, pois com a queda na taxa de juros pode ser que o custo 57
de deixar o dinheiro parado seja muito alto e valha mais a pena realizar aquele gasto

conjuntura
econômica
que você gostaria, em relação a um bem ou serviço da economia.

Perceba, dessa forma, que quando as taxas de juros aumentam e o consumo


diminui, há uma pressão sobre o desempenho da economia que pode ter uma baixa
taxa de crescimento em função do maior estímulo à poupança em detrimento do con-
sumo. No caso contrário, quando as taxas de juros baixam o consumo é incentivado e
com isso aumenta a possibilidade de o país apresentar uma taxa de crescimento eleva-
da. Isto é, o governo tem que escolher entre crescimento e inflação. No caso do Brasil, a
ideia é do crescimento sem inflação. Caso a inflação ameace a estabilidade econômica,
a equipe do governo aumenta a taxa de juros, pois o objetivo da política monetária do
Plano Real é a estabilização nos preços, custe o que custar.

No Brasil, as taxas de juros sempre estiveram sujeitas a algum tipo de interfe-


rência governamental, por causa da prevenção existente, em certos setores, contra a
rentabilidade do capital financeiro. Durante muito tempo, houve uma lei de Usura que
estabelecia limites para as taxas de juros. Ainda hoje, a Constituição Federal estabele-
ce um teto de 12% a.a. para os juros, embora tal teto não tenha sido obedecido, nem
mesmo pelo governo federal, em suas operações da dívida interna.

Principais Taxas de Juros do Mercado Brasileiro ________________________


________________________
Para Sandroni (1999, p. 316), “[...] juro é toda a remuneração que o tomador de ________________________
um empréstimo deve pagar ao proprietário do capital emprestado”. Cada corrente do ________________________
pensamento econômico atribui o juro a um fator econômico. São várias as taxas de ________________________
juros do mercado brasileiro. Veja, a seguir, as principais taxas existentes. ________________________
________________________
‚‚ Taxa Referencial (TR): é uma taxa básica criada com o propósito de estabelecer um ________________________
patamar móvel para fundamentar as demais taxas de juros. A variação da TR decorre ________________________
tanto de modificações na inflação esperada, quanto no custo básico do capital. ________________________
‚‚ Taxa Básica Financeira: corresponde à média das taxas de juros do CDBs das 30 maio- ________________________
res instituições financeiras do país, sendo as duas extremas (a maior e a menor) expur- ________________________
gadas do cálculo. ________________________
________________________
‚‚ Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP): é fixada pelo BACEN e aplicável às operações
financeiras de longo prazo realizadas pelo BNDES. ________________________
________________________
‚‚ A taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) expressa na forma
________________________
anual, é a taxa média ponderada pelo volume das operações de financiamento por um
________________________
dia, lastreadas em títulos públicos federais e realizadas no SELIC, na forma de operações
compromissadas. É a taxa básica utilizada como referência pela política monetária.
________________________
________________________
‚‚ Taxa Over/CDI: é a taxa referente às transações de um dia realizadas com os Certifica-
________________________
dos de Depósitos Interbancários
________________________
‚‚ Taxa CDB: é a taxa dos Certificados de Depósitos Bancários, principal taxa de captação ________________________
de recursos dos bancos comerciais, incidindo sobre os depósitos de alto valor e de prazo ________________________
fixo (30/60 dias). Influencia decisivamente as taxas dos empréstimos bancários. ________________________
58 Assim, as taxas de juros desempenham um papel fundamental na política eco-
nômica, não somente porque influenciam o investimento, consumo e a poupança,

conjuntura
econômica
internamente influenciando o produto, o emprego e o crescimento econômico, mas
também porque podem servir de instrumento para o combate à inflação de demanda.
Os juros influenciam ainda na determinação do déficit operacional do governo e no
estoque da dívida pública (aquela dívida que o governo ainda não pagou e sobre a
qual incide a correção monetária e a taxa de juros), engessando o efeito de uma polí-
tica fiscal expansionista.

As políticas econômicas do governo terão também como objetivo incentivar o


aumento da produtividade e a expansão tanto do mercado interno quanto do nosso
volume de comércio com o exterior, reduzindo a vulnerabilidade da economia brasi-
leira a choques externos. Por isso, uma nova modalidade de política que tem como
principal atribuição tornar mais competitivos os produtos nacionais no exterior, ganha
importância na determinação do equilíbrio econômico: a política cambial.

O avanço do comércio internacional possibilita aos países que se inserem com


maior ou menor intensidade uma série de vantagens econômicas, das quais destaca-
mos algumas:

‚‚ especialização na produção de bens com maior vantagens comparativas (menor custo


de produção) de forma que o comércio entre os países potencializa o ganho da eficiên-
cia produtiva;
________________________
________________________ ‚‚ diversificação de produtos que o cidadão tem acesso;
________________________
‚‚ diversificações de opções de investimentos (em bolsa de valores ou produtivos,) redu-
________________________ zindo-se o risco do negócio;
________________________
‚‚ ampliação da concorrência, limitando o poder de oligopólios nacionais; e
________________________
________________________ ‚‚ controle da inflação em função da concorrência com o produto internacional (normal-
________________________ mente mais barato) que obriga um rebaixamento dos preços nacionais para não perder
________________________ mercado.

________________________
________________________ As transações internacionais são influenciadas pelos preços internacionais. Os
________________________ dois preços internacionais mais importantes são a taxa de câmbio nominal e a taxa
________________________ de câmbio real.
________________________
________________________
‚‚ Taxa de câmbio nominal: é a taxa pela qual se pode trocar a moeda de um país pela
________________________
moeda de outro país;
________________________
________________________ ‚‚ Taxa de câmbio real: é a taxa pela qual se pode trocar os bens e serviços de um país
________________________ pelos bens e serviços de outro país, ou seja, compara o preço de bens domésticos e in-
ternacionais na economia doméstica. A taxa de câmbio real é o preço em reais de uma
________________________
cesta de bens estrangeiros, em relação a uma cesta brasileira.
________________________
________________________
________________________ A taxa de câmbio real é um fator chave na determinação de quanto um país
________________________ exporta e importa. Ela é dada pela seguinte fórmula. (Não se assuste com a fórmula,
________________________ pois nós vamos exemplificar como ela funciona e qual o seu significado).
59

conjuntura
econômica
Exemplo:

Preço de um automóvel produzido no Brasil = R$ 15.000,00

Preço de um automóvel produzido nos EUA = US$ 12.000,00

e = taxa de câmbio nominal = R$ 1,00/US$ 1,00

R = taxa de câmbio real = (1,00 X 12.000) / 15.000 = 0,8

Conclusão: o automóvel norte-americano é 20% mais barato que o brasileiro. Nesse


caso, a depender dos custos de transação (frete, seguro, necessidade do bem, imposto
de importação) valeria a pena comprar o produto norte-americano em detrimento da
produção nacional. Exatamente por isso a política de câmbio tenta impedir que esse
produto nacional fique mais caro que o importado, para que não percamos mercado
consumidor externo. Num caso como esse, a melhor forma de garantir o aumento nas
vendas externas é desvalorizar o câmbio nominal (e), pois com isso o carro brasileiro, deste ________________________
exemplo em particular, ficaria mais barato aos preços da moeda internacional. Assim, o
________________________
governo teria que agir para que a paridade real/dólar aumentasse (desvalorização), isto é,
________________________
R$2,00 = US$1,00.
________________________
________________________
________________________
Não por acaso, os setores exportadores estão “sangrando” com a atual valori- ________________________
zação da moeda nacional que, desde o início de 2008, antes da crise mundial, esteve ________________________
com uma cotação média de US$1,00 = R$1,65. Quanto mais forte a moeda melhor ________________________
para importar produtos do exterior, pior para exportar. Quando exportamos recebe- ________________________
mos divisas do resto do mundo; quando importamos, mandamos divisas para o resto ________________________
do mundo. ________________________
________________________
Existem diversos tipos de câmbio, mas apenas dois tipos são mais usados, são
________________________
eles o câmbio fixo e o flutuante. No regime de taxas fixas, o Banco Central tem a função
________________________
de comprar ou vender moeda estrangeira, que muitas vezes é o dólar em um preço
________________________
fixo em moeda nacional. No regime flutuante, a taxa de câmbio se altera de acordo
________________________
com a oferta e a necessidade do mercado.
________________________
Apesar de a definição da taxa de câmbio flutuante não mencionar a participa- ________________________
ção do governo na determinação da taxa de câmbio de equilíbrio que é determina- ________________________
da pelo mercado de divisas (oferta e de demanda de moeda estrangeira), na prática, ________________________
podem ocorrer duas situações em que esta atuação do governo acaba acontecendo ________________________
mesmo com o câmbio flutuante: ________________________
________________________
________________________
‚‚ Dirty Floating: (mais adotado) regime de câmbio flutuante, mas com intensa atuação
60 do Banco Central, na venda e na compra, que procura mantê-la em níveis relativamente
estáveis;

conjuntura
econômica
‚‚ Minibanda Cambiais: o regime é flutuante, porém dentro de limites fixados pelo Ban-
co Central.

No caso brasileiro, o regime atualmente vigente é o de câmbio flutuante (sujo),


pois quando a cotação da moeda brasileira começa a disparar em relação ao dólar, o
Banco Central começa a comprar ou vender dólares de suas reservas internacionais
para equilibrar uma paridade que seja adequada para sua política cambial, mas que
também não provoque inflação.

A inflação do Brasil também está relacionada com o Dólar? Sim, infelizmente


está só para mostrar como são complexas as relações do sistema econômico. Para res-
ponder a essa pergunta da maneira mais trivial possível, lembremo-nos de que o Bra-
sil não é autossuficiente em uma série de produtos que são consumidos diariamente
pela população brasileira.

Para simplificar vamos pegar o exemplo do pãozinho francês. Para fabricar


pães, as indústrias brasileiras (panificadoras) precisam importar grandes quantidades
de trigo, principal insumo do pãozinho. Uma vez que a produção de trigo no Brasil é
insuficiente para dar conta de toda a demanda, o país importa da Argentina a quanti-

________________________ dade complementar de trigo de que necessita. Mas, para importar não se pode pagar

________________________ em Real, produtos que são comprados no exterior, mesmo no caso de países vizinhos,

________________________ como é o caso da Argentina. Para concretizar essa operação, o país tem que efetivar

________________________ suas compras em dólar que é a moeda internacionalmente usada para essas transa-

________________________ ções.

________________________ Agora suponha as seguintes informações: que o Brasil tenha uma paridade de
________________________ R$1,00 para US$1,00 (ou seja, um real vale um dólar), e que compre mensalmente 100
________________________ quilos de trigo com esse custando US$1,00 o quilo. Assim, para adquirir os 100 quilos
________________________ mensais, o Brasil gastaria o equivalente a R$100. Suponha agora que, por medidas que
________________________ envolvam as relações internacionais, houve uma desvalorização na moeda brasileira e
________________________ esta passou agora para uma relação de US$1,00 para R$2,00 (isto é, agora o mesmo 1
________________________ dólar vale 2 reais). Com essa mudança cambial, para que o Brasil adquira os mesmos
________________________ 100 quilos, vai precisar não mais de R$100, e sim de R$200, em função, simplesmente,
________________________ da modificação no câmbio. Resultado é que tendo que pagar o dobro que pagava an-
________________________ tes para obter os mesmos 100 quilos de trigo, a indústria que faz os pãezinhos vai ter
________________________ que repassar esse custo para o consumidor, elevando a inflação.
________________________
________________________ Esse mesmo exemplo vale para toda a indústria brasileira de eletro-eletrônicos,
________________________ que importa a maior parte dos insumos que precisa para produzir os produtos que
________________________ chegam até a casa dos consumidores. O Banco Central tem desta forma que regular as
________________________ operações de entradas e saídas de divisas do país e não perder de vista que a política
________________________ cambial também é forte aliada do controle inflacionário. O Brasil do Plano Real, logo
________________________ no início, em julho de 1994 sobrevalorizou a taxa de câmbio em US$1,00 valia R$0,92
________________________ (1 dólar valia 0,92 centavos de real), de forma a facilitar a importação, pois com a maior
________________________ importação de produtos similares aos que são produzidos aqui, o aumento da concor-
rência faz com que os preços dos produtos baixem para estimular o consumo.
Além de tudo isso, a política cambial também interfere diretamente na balança 61
comercial do país e, por tabela, no balanço de pagamentos que são de fundamental

conjuntura
econômica
importância para o equilíbrio externo do país.

Mas você sabe o que é balança comercial e balança de pagamentos?

Para entendermos esses conceitos e ao mesmo tempo podermos finalizar os


aprendizados desta aula, precisamos, agora, fazer a inter-relação entre as políticas eco-
nômicas e o setor externo.

O instrumento macroeconômico que registra todas as operações financeiras


que um país realiza com o resto do mundo é chamado de Balanço de Pagamentos.
O Balanço de Pagamentos é um registro contábil de todas as transações de um país
com o resto do mundo. Envolve tanto transações com bens e serviços como transa-
ções com capitais físicos e financeiros. O Balanço de Pagamentos apresenta dois tipos
de transações:

 
‚‚ correntes: associadas aos fluxos de bens e serviços

‚‚ movimento de Capitais: associadas aos direitos e obrigações, principalmente relacio-


________________________
nadas com o investimento e o endividamento.
________________________
________________________
A estrutura do Balanço de Pagamentos de qualquer país do mundo é dada pelo ________________________
seguinte conjunto de contas: ________________________
________________________
A – Balança de Transações Correntes (BTC ou Saldo em Conta Corrente do BP = A1 + A2
________________________
+ A3) ________________________
________________________
‚‚ A1 – Balança Comercial ________________________
________________________
‚‚ A1.1 – Exportações (FOB): débito
________________________
‚‚ A1.2 – Importações (FOB): crédito ________________________
‚‚ A2 – Balança de Serviços e Rendas
________________________
________________________
‚‚ A2.1 – Transportes (fretes, etc.) e Seguros
________________________
‚‚ A2.2 – Viagens Internacionais e Turismo ________________________
________________________
‚‚ A2.3 – Rendas de Capital (lucros, juros, dividendos, lucro
________________________
‚‚ reinvestido pelas multinacionais) ________________________
‚‚ A2.4 – Royalties e licenças
________________________
________________________
‚‚ A2.5 – Diversos (serviços governamentais – embaixadas, ________________________
‚‚ consulados, representações no exterior, etc.) ________________________
________________________
‚‚ A3 – Transferências Unilaterais Correntes (donativos)
62 B – Conta Capital e Financeira (Balança de Capitais)

conjuntura
econômica
‚‚ B1 – Investimentos direto líquido (instalação e participação do capital de multinacio-
nais no país)

‚‚ B2 – Reinvestimentos (reinvestimentos de multinacionais já instaladas no país)

‚‚ B3 – Empréstimos e Financiamentos a Longo e Médio Prazo (Banco Mundial, etc.).

‚‚ B4 – Empréstimos a Curto Prazo

‚‚ B5 – Amortizações de Empréstimos e Financiamentos

‚‚ B6 – Empréstimos de Regularização do FMI (problemas de liquidez)

‚‚ B7 – Capitais a Curto Prazo (aplicações no mercado financeiro)

C – Erros e Omissões

D – Saldo do Balanço de Pagamentos (A + B + C)

A Balança Comercial aparece classificada dentro das transações correntes do


balanço de pagamentos e se refere à diferença de tudo aquilo que exportamos em
valores monetários e aquilo que importamos. Quanto maior esse saldo, maior será
________________________ o desempenho positivo do país e maiores fluxos financeiros vão entrar na conta de
________________________ reservas internacionais do Banco Central. Essas reservas são a garantia de que o país
________________________ pode honrar compromissos assumidos em moedas estrangeiras.
________________________
________________________
________________________ Mas o que tudo isso tem a ver com a política cambial?
________________________
________________________
________________________ A resposta é fácil e, de certa forma, já estava implícita em nossas discussões an-
________________________ teriores. Quanto mais desvalorizada estiver a taxa de câmbio, maior serão as exporta-
________________________ ções e menor as importações, pois a moeda nacional fica mais barata de ser comprada
________________________ pela moeda estrangeira e, por conseguinte, o volume do que se pode comprar tendo
________________________ moeda estrangeira aumenta em grandes proporções. Assim, é importante que o Ban-
________________________ co Central avalie a possibilidade de mexer na taxa de câmbio todas as vezes que o seu
________________________ valor prejudicar muito a comercialização com o resto do mundo.
________________________
________________________ O volume de importações de um país depende do nível da atividade econômi-

________________________ ca (renda nominal) e da taxa de câmbio real, que reflete a competitividade da produ-

________________________ ção doméstica em relação à externa. Quanto maior o nível de renda, maiores serão as

________________________ importações. Mas as importações do país somente se elevarão se o câmbio real estiver

________________________ valorizado, tornando o produto doméstico mais caro que o “estrangeiro”.

________________________ Já as exportações dependem da renda do resto do mundo, uma vez que quanto
________________________ maior o nível de atividade dos demais países, maior será a demanda por nossos pro-
________________________ dutos, que só se traduzirá em ampliação das vendas se o preço dos produtos nacionais
________________________ for mais barato que os internacionais (câmbio real). Nesse caso, é uma desvalorização
do câmbio real que barateia os produtos nacionais cotados em moeda estrangeira. 63
Não precisa ser especialista no assunto para saber que o Brasil é um país sub-

conjuntura
econômica
desenvolvido e que, portanto, depende muito do comércio exterior para escoar a sua
produção interna. Mas é preciso ficar alerta, também, para o fato de que uma gran-
de parte da economia brasileira depende de importações do resto do mundo. Uma
taxa de câmbio muito desvalorizada encarece muito as importações e pode gerar uma
grande inflação interna. Como vimos, as decisões da equipe econômica do governo,
quanto ao rumo das políticas econômicas, não são nada fáceis.

A próxima aula tratará sobre crescimento e desenvolvimento econômico para


melhor compreensão de aspectos evolutivos da economia Brasileira e Baiana.

Síntese
Assim, nesta aula, vimos como são complexas as decisões do governo brasileiro
para atingir os objetivos de crescimento econômico, de inserção externa e controle do
nível de preços. A utilização da política fiscal pode aumentar o crescimento, mas se a
dívida do setor público subir muito esse fato pode anular a eficiência da política.

Em relação à política monetária, estudamos quais são os principais instrumen-


tos de que dispõe a autoridade monetária para controlar o nível de preços e barrar a ________________________
inflação no país. ________________________
________________________
Por fim, percebemos que uma corrente de comércio para o país também advém
________________________
do exterior e que, portanto, a política cambial joga um importante papel para garantir
________________________
que esses fluxos melhorem o saldo de sua balança comercial e garantam o pagamento
________________________
das dívidas contraídas pelo país com o resto do mundo.
________________________
________________________
________________________
questão para Reflexão ________________________
________________________
Como vimos, o governo dispõe de três políticas principais para o alcance de ________________________
seus objetivos internos e externos. Por assim dizer, poderíamos definir as políticas fis- ________________________
cal e monetária como as responsáveis pelo equilíbrio interno e a política cambial mais ________________________
diretamente relacionada com o equilíbrio externo. E já que o governo dispõe dessas ________________________
possibilidades, qual a melhor política para garantir o equilíbrio interno: a fiscal ou a ________________________
monetária? ________________________
________________________
________________________
Leituras indicadas ________________________
________________________
Minicurso de Política Econômica: do economês ao português - Estudo encomendado ________________________
pela Universidade Federal do Espírito Santo. Disponível: www.ccje.ufes.br/ ________________________
peteconomia/apostilaeconomes.pdf ________________________
________________________
Sites Indicados
64 Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br

Ministério da Fazenda do Brasil: www.fazenda.gov.br

conjuntura
econômica
Ministério do Planejamento do Brasil: www.planejamento.gov.br

Centro de Estudos do Comércio Exterior: www.funcex.com.br

Referências

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia princípios de micro e macroeconomia. 5. ed. Thomson,


2007.

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Org.). Manual de economia. Equipe de profes-
sores da USP. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

VASCONCELOS, Marco Antônio S; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Sarai-
va, 2006.

________________________
________________________
________________________
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AULA 05 - CRESCIMENTO X DESENVOLVI- 65
MENTO

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Mauricio Castro

Nesta aula, conheceremos dois conceitos econômicos muito utilizados e tam-


bém confundidos, até mesmo por grandes especialistas: crescimento e desenvolvi-
mento econômico. Há alguma semelhança entre crescimento e desenvolvimento eco-
nômico? Quais seriam as principais características de cada um desses termos? Quais
contradições podem existir entre o aumento aferido pelo PIB e a efetiva melhoria da
qualidade de vida da população? Para responder a essas questões, vamos direto ao
assunto!

CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento deve ser entendido como um processo de transformação de


uma determinada sociedade que tem como “subprodutos” o crescimento econômico
e a melhora do bem-estar para determinada população de um determinado território.
________________________
Isso significa que crescer é uma condição necessária, mas não suficiente para se chegar
________________________
ao desenvolvimento. Se após o processo de transformação da estrutura produtiva não
________________________
houver uma melhor distribuição de renda entre todos aqueles que participam do teci-
________________________
do econômico, então, verdadeiramente, esse processo não ensejou desenvolvimento.
________________________
Dentro da teoria econômica, o termo desenvolvimento tem dividido opiniões ________________________
sobre os estágios que uma sociedade precisa alcançar para ser considerada desen- ________________________
volvida. Schumpeter (1982), por exemplo, associava o desenvolvimento à capacidade ________________________
de inovação de uma determinada economia. Para o pensador econômico, a inovação ________________________
constitui o determinante fundamental do processo dinâmico da economia e, ao mes- ________________________
mo tempo, fundamental para definir a competitividade econômica, especialmente em ________________________
nível regional e global. A seguir, veremos outras definições igualmente importantes, ________________________
de diversos pensadores que trabalharam com a dicotomia entre desenvolvimento e ________________________
crescimento econômico. ________________________
________________________
Uma comparação mais objetiva e clara entre desenvolvimento e crescimento
________________________
econômico de um país foi feita por Kindleberger (1967 apud GONZAGA DE SOUSA,
________________________
2004, p. 170), que afirmava:
________________________
________________________
________________________
Implicitamente no uso geral, e explicitamente no que se segue, o ________________________
crescimento econômico significa maior produção, enquanto desen- ________________________
volvimento econômico implica maior produção e mudanças nas ________________________
disposições técnicas e institucionais, pelas quais se chega a esta pro- ________________________
dução. O crescimento pode implicar, não só maior produção, como
________________________
também em mais insumos e mais eficiência, isto é, em um aumen-
66 to no produto, por unidade de tempo. O desenvolvimento vai mais
além, significando mudanças na estrutura da produção e na aloca-

conjuntura
econômica
ção de insumos, por setores. Numa analogia com o ser humano, en-
fatizar o crescimento significa focalizar a altura e o peso, enquanto
explicar o desenvolvimento é dirigir a atenção para a capacidade
funcional, para a coordenação motora, por exemplo, ou para a ca-
pacidade de aprender.

Para alguns autores, a exemplo de Baldwin (1979, p.2), o desenvolvimento


econômico é uma decorrência direta e imediata do crescimento econômico nacional,
quando se expressa dizendo que:

[...] a economia do desenvolvimento é o estudo do relacionamento


econômico-chave, que determina os níveis e taxas de crescimen-
to da renda per capita nas nações menos desenvolvidas. Existem
algumas diferenças na maneira em que vários escritores dividem
os países em nações desenvolvidas e menos desenvolvidas (ou em
desenvolvimento), mas, geralmente, segue-se à classificação que
divide todos os países em economias de mercado desenvolvidas,
economias centralmente planejadas, e economias de mercado em
desenvolvimento [...]
________________________
________________________
Já os trabalhos desenvolvidos por Hewlett (1981, p.15), sobre essa questão,
________________________
destacam a relação entre o desenvolvimento econômico e a melhora do bem-estar
________________________
medida pelo PIB per capita. Segundo ele,
________________________
________________________
________________________
________________________ [...] o desenvolvimento econômico é usualmente definido como um
________________________ aumento significativo na renda real per capita de uma nação. Seu
________________________ propósito fundamental é a obtenção de melhor alimentação, melhor
________________________ saúde, melhor educação, melhores condições de vida e uma gama
cada vez mais ampla de oportunidades de trabalho e de lazer para
________________________
as pessoas dessa nação. Em essência, desenvolvimento significa a
________________________
transformação das estruturas econômicas da sociedade a fim de se
________________________ atingir um novo nível de capacidade produtiva. Isto, por seu turno,
________________________ requer níveis sem precedentes de poupança e de investimento.
________________________
________________________
________________________
Poderíamos expor aqui um grande número de outras definições sobre essa
________________________
questão. Seja qual for o entendimento do verdadeiro significado sobre o desenvolvi-
________________________
mento econômico, mas, por ora, vamos nos ater a esta dupla associação, condição sine
________________________
qua non para o desenvolvimento: crescimento e distribuição de renda.
________________________
________________________
________________________
________________________
ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO 67

conjuntura
econômica
O desenvolvimento é um processo muito mais complexo do que o uso da fun-
ção de produção1. O desenvolvimento alcançado por muitos países ocorreu com par-
te do movimento da saída de uma economia agrícola para uma economia industrial
(DORNBUSCH; FISCHER, 1991). O essencial desse alcance positivo tem sido um aumen-
to extraordinário da produtividade agrícola, acompanhado pelos rápidos aumentos
da produtividade na manufatura. “A industrialização parece ser, portanto, a chave para
o desenvolvimento” (DORNBUSCH; FISCHER, 1991, p. 865).

Várias estratégias de desenvolvimento foram seguidas no período pós-Segun-


da Guerra Mundial. As economias em desenvolvimento mais bem-sucedidas, as novas
economias em processo de industrialização, têm seguido políticas direcionadas para
o setor externo e, após um período restrito ao protecionismo, expõem os produtores
domésticos à competição estrangeira.

O desenvolvimento econômico ocorre, também, como resultado da acumula-


ção de fatores de produção, incluindo capital humano, operando com um instrumen-
tal político e econômico estável. Isso geralmente envolve maior produtividade agríco-
la que permite que a população seja alimentada por apenas uma pequena parte da
força de trabalho, facilitando o processo de industrialização.

Hirschmann (1961) constata que, embora muitos pensadores, englobando vá-


rias áreas do saber, tivessem apontado caminhos para o desenvolvimento econômico ________________________
de países subdesenvolvidos, era preciso perceber que as prescrições não davam cer- ________________________
to porque a experiência demonstrava que as aptidões para desenvolver-se poderiam ________________________
existir em qualquer povo, raça ou grupo humano e que, mesmo não tendo recursos ________________________
naturais apropriados, nações pobres podem conseguir desenvolver-se. E acrescenta: ________________________
“O papel propulsor do capital é geralmente depreciado por aqueles que acentuam a ________________________
importância do espírito empreendedor e dos conhecimentos administrativos e técni- ________________________
cos.” (HIRSCHMANN, 1961, p.138). ________________________
________________________
Então, o capital não é garantia de desenvolvimento e sim a conjugação dele
________________________
com a capacidade que as pessoas têm de fazer a sua gestão. Isso pode ser definido
________________________
como empreendedorismo, algo que, segundo o autor, não falta aos países subdesen-
________________________
volvidos. Para analisar e criar estratégias de desenvolvimento, é necessário que o país
________________________
tenha capital, traduzido através de certos recursos e fatores de produção, mas tam-
________________________
bém seja capaz de organizar e aplicar corretamente tais recursos, o que só é possível
________________________
através da descoberta de aptidões das pessoas que habitam o local.
________________________
Hirschmann (1961) admite que o desenvolvimento seja gerado dentro do con- ________________________
texto local, embora possa receber contribuições externas, como capitais. Se um país ________________________
não tem condições materiais de buscar o desenvolvimento, pode receber capital de ________________________
outras nações. Entretanto, isso não pode ser determinante da concepção de cresci- ________________________
mento, ou seja, o capital precisa ser aplicado e gerido de acordo com as aptidões lo- ________________________
cais, que são constituídas pela cultura, espaço geográfico e necessidades do lugar e ________________________
não de acordo com a concepção de desenvolvimento de países que têm realidades ________________________
completamente diferentes dos países do “Terceiro Mundo”. ________________________
1 A função de produção é a relação existente entre a produção de um bem e os insumos ou fatores de produção necessários para ________________________
produzi-los. Uma função de produção pode ser apresentada da seguinte forma: Q = f(L,K,t), onde Q é o produto, L é a força de trabalho, K é o
capital e o t o progresso técnico.
68 Assim, ele reconhece que um país subdesenvolvido pode desejar o desenvolvi-
mento a partir da constatação de que outras nações o obtiveram. No entanto, crer que

conjuntura
econômica
somente por isso caminharão seguindo os mesmos passos é um equívoco, pois

[...] os países subdesenvolvidos vêem somente os frutos do progres-


so econômico e poucos sabem sobre as rotas que precisam perfazer
para alcançá-lo. Se desejarem os frutos, de qualquer forma se dis-
porão a procurá-los. Assim, descobrirão quais as modificações do
próprio meio social requeridas no curso do processo de desenvolvi-
mento, à medida que tomarem iniciativas erradas e as acertarem,
e superarão os sucessivos obstáculos. Dessa forma, melhor do que
a priori, determinarão quais de suas instituições e traços caracterís-
ticos são retrógrados e devem ser reformados ou abolidos. A tensão
do desenvolvimento não se manifesta, deste modo, tanto entre lu-
cros e sacrifícios conhecidos, quanto entre a meta e ignorância e as
idéias errôneas acerca das trilhas que conduzirão a esta meta (HIRS-
CHMANN, 1961, p.147).

No entanto, é preciso que cada país cometa acertos e erros, sem, necessaria-
________________________
mente, fazerem isso porque são retrógrados, mas porque trilham o próprio caminho
________________________
rumo às novas condições geradas pelo crescimento econômico, ou seja, é preciso te-
________________________
cer a nova realidade a partir da existente. Assim, não são as nações ricas, já desenvolvi-
________________________
das, que podem determinar o exato tempo em que o subdesenvolvimento é superado
________________________
pelo desenvolvimento. Elas não ditam o que é ou deixa de ser ultrapassado, mas sim
________________________
a própria nação subdesenvolvida, que descobre isso paulatinamente, durante o trans-
________________________
correr do processo. Quando Hirschmann (1961) considera as condições históricas para
________________________
explicar o subdesenvolvimento e entendê-lo como uma etapa necessária, quer dizer
________________________
que a experiência atual é levada em conta na elaboração das novas concepções cientí-
________________________
ficas sobre o assunto. Isso implica dizer que o desenvolvimento é uma etapa posterior,
________________________
que só é alcançada porque as condições e o tempo histórico para isso, presentes no
________________________
subdesenvolvimento, não foram desprezados.
________________________
________________________
________________________
________________________
CRESCIMENTO ECONÔMICO
________________________
________________________
Apenas para antecipar futuras discussões, a medida do crescimento econô-
________________________
mico é dada pelo PIB (vide a Aula 06 desta disciplina), que é a soma anual de todas
________________________
as atividades produtivas (bens e serviços) realizadas dentro do país. Ele representa o
________________________
desempenho econômico de uma nação, independentemente da nacionalidade das
________________________
empresas e das remessas de lucros feitas por elas ao exterior.
________________________
________________________ Quando a taxa do PIB é positiva, isso significa que a economia de um determi-
________________________ nado país está em crescimento, embora nem sempre o suficiente para gerar emprego
e elevar a renda média da população. Taxa próxima de zero revela uma situação de 69
estagnação econômica. Taxa abaixo de zero é um claro indicador de recessão econô-

conjuntura
econômica
mica do país, semelhante ao que ocorreu no Brasil dos anos 1980, na chamada década
perdida, que conjugou taxas negativas no PIB, com alto índice de desemprego e infla-
ção elevada.

Nesse conceito, está explícita a ideia do crescimento como a expansão da ati-


vidade produtiva de um país. Se um determinado país recebe investimentos de uma
fábrica de carros, que antes só produzia fora, os incrementos dos veículos, que agora
passam a ser produzidos internamente, fazem aumentar a quantidade de produtos
ofertados por essa economia. A sua capacidade produtiva aumenta e, dessa forma,
gera-se um aumento do PIB e, consequentemente, tem-se o crescimento econômico.

Entretanto, como essa indústria de carros é capital intensivo, isto é, tem como
principal ativo o capital empregado em máquinas e equipamentos, seguramente a sua
instalação não significará uma grande quantidade de empregos gerados, muito me-
nos a distribuição da renda, uma vez que a tendência global é o aumento dos lucros
dos grandes capitalistas. Assim sendo, em que pese o aumento na produção ter pro-
piciado ao país um crescimento de sua economia, essa estratégia não consegue gerar
desenvolvimento por concentrar os benefícios do crescimento em uma pequena faixa
da população. Não por acaso, como veremos a seguir, a Bahia é a sexta maior econo-
mia do país, mas só a 19ª quando o critério de análise é o desenvolvimento social.

Além disso, como destacou o pesquisador Cláudio Mendonça (2006, s.p.), no ________________________
portal da Internet UOL, o PIB como elemento para análise do desenvolvimento acaba ________________________
apresentando algumas distorções. ________________________
________________________
________________________
________________________
O PIB não é o reflexo apenas do lado construtivo da economia de um ________________________
país. Nele também são somadas mazelas, tragédias e desperdício. ________________________
Cada vez que um cidadão acelera o seu automóvel ele está contri- ________________________
buindo para elevar o PIB. Melhor ainda se ele bater o carro e tiver
________________________
despesas com funilaria e pronto socorro. Neste caso, quanto maior o
________________________
acidente melhor para o PIB. Na sua contabilidade entra tudo e, por
essa razão, são omitidos os custos ambientais, os problemas sociais ________________________
e o desperdício tão necessário à sociedade de consumo. ________________________
________________________
________________________
________________________
Apesar do “exagero” desse exemplo, fica bastante claro que o conceito de PIB e, ________________________
portanto, a associação ao crescimento econômico, acaba conjugando elementos que ________________________
vão de encontro ao desenvolvimento propriamente dito. Para desenvolver, é preciso ________________________
crescer, mas esse crescimento não pode passar por cima da melhoria do bem-estar da ________________________
população. Por isso, diz-se que o desenvolvimento é um processo, dando a ideia de ________________________
algo perene e só alcançado em longo prazo, com a conjugação de um conjunto de ________________________
fatores. ________________________
________________________
Assim, por exemplo, vejamos o caso da economia baiana que, ao longo dos úl- ________________________
timos anos tem apresentado taxas de crescimento do PIB sempre superiores às do Bra-
70 sil. Em 2004, por exemplo, o estado da Bahia apresentou um crescimento real do PIB
que chegou a 10%. Entretanto, a estratégia adotada na Bahia para estimular o cresci-

conjuntura
econômica
mento tem sido a atração de grandes empreendimentos industriais. De uns anos para
cá, é notória a chegada de grandes conglomerados internacionais e mesmo nacionais
oriundos de outros estados brasileiros. São exemplos a Ford, a Monsanto (fábrica de
fertilizantes), a Continental Pneus, a Aracruz Celulose, entre outras, como a Azaleia Cal-
çados e tantas outras menos conhecidas.

A característica principal da industrialização competitiva mundial é importar


o que há de mais moderno em termos de máquinas e equipamentos, para produzir
bens e serviços cada vez mais especializados e complexos. Quem conhece a fábrica
da Ford em Camaçari sabe do que eu estou falando. Praticamente, o homem fica com
a responsabilidade dos designs dos carros ou para alimentar o processo, para que o
robô faça todo o trabalho.

Isto é, boa parte da indústria que está instalada na Bahia (petroquímica, papel
e celulose, plástica, automobilística e metalúrgica) é intensiva em capital, ou seja, tem
como principal ativo o capital gerado nos processos produtivos. Especialistas calculam
que, para cada R$1 bilhão investido na indústria de celulose, são gerados apenas 3
empregos diretos com carteira assinada.

Assim, a chegada dessas indústrias para a Bahia permite um grande crescimen-


to econômico, com o aumento da produção de bens e serviços produzidos no estado.
________________________ Mas, por serem empreendimentos intensivos em capital, tanto a geração de empregos
________________________ é limitada, quanto a distribuição de renda, que acaba quase toda com os capitalistas
________________________ estrangeiros (até porque o comando acionário dessas empresas é quase todo de ma-
________________________ trizes do exterior). Por isso, muitas vezes essas estratégias pautadas em desenvolver
________________________ uma região através de industrialização terminam por conseguir gerar apenas uma das
________________________ pernas do desenvolvimento, que é o crescimento econômico.
________________________
Resumidamente, a partir de agora, entendemos que crescimento econômico é
________________________
o aumento da quantidade produzida de bens e serviços que atendam às necessidades
________________________
da população. No processo do desenvolvimento, esses bens e serviços produzidos têm
________________________
que proporcionar melhor qualidade de vida e possibilidade de usufruto por toda a
________________________
população, independentemente de idade, cor ou raça, de forma bastante distribuída e
________________________
não concentrada entre os partícipes da sociedade. Ou de maneira mais geral: o cresci-
________________________
mento é quantitativo; o desenvolvimento é qualitativo.
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________ ANÁLISE DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
________________________ (IDH) NO BRASIL E NA BAHIA
________________________
________________________ O debate sobre desenvolvimento no Brasil e, especificamente, na Bahia não

________________________ é tão recente. A partir da década de 1960, afloraram várias teorias que apontavam

________________________ caminhos para o desenvolvimento econômico do país e nas Unidades da Federação.

________________________ Atualmente, a expressão crescimento econômico tem ocupado lugar de destaque nos

________________________ debates econômicos, principalmente, pelo valor atribuído ao Produto Interno Bruto
- PIB. Partindo-se das premissas demonstradas ao longo desta aula, a exemplo das
principais características de cada um destes termos, tornou-se necessário discutir as 71
contradições entre o aumento aferido pelo PIB e a efetiva melhoria da qualidade de

conjuntura
econômica
vida da população. Com base nessas discussões, propõe-se trabalhar com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) como proposta para abarcar uma dimensão mais
abrangente dos benefícios alcançados pela população com o advento do crescimento
econômico.

O IDH é uma espécie de nota – de zero a um – que avalia a qualidade de vida em 177 países
com base nos critérios renda, escolaridade e longevidade da população. Quanto maior o
número, mais elevada é a qualidade de vida no país.

Não é raro que nos deparemos com artigos de jornais, revistas, artigos científi-
cos, dissertações, teses, entre outros, discutindo um assunto tão em voga atualmente.
Trata-se do tema crescimento econômico, ou simplesmente crescimento, mensurado
através da explicitação de índices como Produto Interno Bruto (PIB). Sobre isso se faz
oportuno observar o que diz o relatório da Unesco (1999, p. 28):

[...] o maior problema talvez surja do equilíbrio que automatica-


mente estabelece-se entre os níveis mais altos de produção — e por ________________________
inferência, de consumo — e o desenvolvimento. A economia e to- ________________________
das as outras disciplinas reconhecem que, na melhor das hipóteses,
________________________
trata-se de uma meia-verdade. O que é produzido e o fim que é dado
________________________
ao produto tem igual importância no processo que a quantidade fa-
bricada. Por outro lado, é evidente que o dólar que duplica a renda ________________________
de uma pessoa pobre, cumpre papel diferente do dólar de acrésci- ________________________
mo auferido por um milionário, para quem se trata de uma soma ________________________
insignificante. Entretanto, em geral, equipara-se o desenvolvimento, ________________________
quantificado em função de uma única medida técnica — habitual- ________________________
mente o PIB — com o progresso global da sociedade e do bem-estar.
________________________
Faz parte da mentalidade do século XX, que considera que o meio é
________________________
mais importante que o fim e o nível de atividade, mais importante
do que os objetivos para os quais ela serve. ________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Para Franco (2000 apud MARTINELLI, 2004, p. 15), “[...] não se pode mais aceitar ________________________
a crença economicista de que o crescimento do PIB representa tudo e vai resolver por ________________________
si só todos os problemas econômicos e sociais do país.” ________________________
________________________
O relatório da Unesco propõe como mecanismo aferidor do desenvolvimento
________________________
humano, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), do Programa das Nações Uni-
________________________
das para o Desenvolvimento (PNUD), “que procura considerar as numerosas dimen-
________________________
sões do bem-estar humano, já que a atenção concentrar-se-ia assim sobre os fins para
________________________
os quais o desenvolvimento deve servir, em vez de fazê-lo apenas sobre os meios, por
________________________
exemplo, para o aumento da produção” (UNESCO, 1999, p. 28-29).
72 Veiga (2005, p. 87) defende o uso do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
uma vez que “as decisões políticas muitas vezes demandam uma medida sumária que

conjuntura
econômica
incida mais claramente no bem-estar humano do que no rendimento”. Veiga (2005, p.
87) considera ainda que:

O PNUD admite que o IDH é um ponto de partida. Recorda que o


processo de desenvolvimento é muito mais amplo e mais complexo
do que qualquer medida sumária conseguiria captar, mesmo quan-
do completada com outros índices. [...] O IDH não é uma medida
compreensiva, pois não inclui, por exemplo, a capacidade de parti-
cipar nas decisões que afetam a vida das pessoas e gozar do respeito
dos outros na comunidade. [...] uma pessoa pode ser rica, saudável
e muito instruída, mas sem essa capacidade o desenvolvimento é
retardado.

Corroborando o pensamento de Veiga, Besserman (2005, p. 103) acrescenta


que:

[...] todo indicador, entretanto, tem grandes limitações. O IDH deixa


de considerar muitas variáveis importantes e combinam medidas
que podem mudar rápido (freqüência à escola, renda per capita)
com medidas que exigem mais tempo para mudar (analfabetismo,
________________________
esperança de vida).
________________________
________________________
________________________
________________________ Por esse motivo, acredita o autor (2005, p. 103), “muitas vezes o IDH é severa-

________________________ mente criticado”.

________________________ Veiga (2005, p. 100) complementa sua abordagem, corroborando o esforço de


________________________ sistematização acima proposto, quando afirma:
________________________
________________________
[...] o desenvolvimento pode ser medido e comparado a uma dada
________________________ configuração projetada, mediante cada um dos indicadores e de seu
________________________ conjunto. Ou seja, em vez de um duvidoso índice sintético, que pre-
________________________ tenda expressar em um único número a complexidade do desenvol-
________________________ vimento, é preferível ter um conjunto integrado de indicadores.

________________________
________________________
________________________ O fato de não haver consenso sobre o conceito de desenvolvimento não sig-
________________________ nifica que alguns esforços para sua mensuração não sejam realizados. O PNUD, como
________________________ foi dito anteriormente, realiza o cálculo do IDH que tem a particularidade de, na sua
________________________ avaliação da qualidade de vida da população, considerar critérios abrangentes dessa
________________________ população, pois considera os aspectos econômicos e outras características sociais, cul-
________________________ turais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana.
________________________
De qualquer forma e apesar de suas limitações, o IDH apresenta-se como um
________________________
avanço na questão da tentativa de mensurar o desenvolvimento a partir de uma pers-
________________________
pectiva mais humana e social. Como se não bastasse, evidencia também certa insatis-
fação em relação ao método limitado que vinha sendo proposto e até então aceito. 73

conjuntura
econômica
O IDH no Brasil

Dentro do Brasil, ocorrem diferenças em relação ao IDH, que avalia as condições


de vida das pessoas em nível geral ou particular. Então, existem regiões, estados ou
municípios com maior ou menor índice de IDH.

Através de estudos realizados pela PNUD, ficou constatado que, dentro do terri-
tório brasileiro, existem praticamente cinco países, ou seja, cinco realidades distintas.

De forma ordenada, podemos classificar em primeiro lugar a região que com-


preende o sul do país, em sua totalidade, abrangendo, ainda, São Paulo, Rio de Janeiro
e o Distrito Federal, que representam o melhor IDH. Em seguida, está a região inter-
mediária, que corresponde aos estados do Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, fazendo parte, ainda, Minas Gerais, Goiás e Amapá. Na terceira região, estão
presentes os estados de Tocantins, Pará, Amazonas, Rondônia e Roraima. O quarto gru-
po (ou quarta região) é formado pelo Acre, Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande
do Norte, e, por fim, o quinto grupo é composto pelos estados do Maranhão, Piauí,
Alagoas, Sergipe e Paraíba. O IDH desses últimos estados pode ser comparado ao dos
países mais pobres do mundo, como Bangladesh e Haiti.

O relatório do PNUD, com as estatísticas de 2006, deu ao Brasil a nota 0,803,


________________________
o que o situava entre as 75 nações de “alto desenvolvimento humano” — Colômbia,
________________________
Granada e Bósnia Herzegovina estavam entre seus vizinhos no ranking.
________________________
A promoção para o andar superior ocorre principalmente graças a um significa- ________________________
tivo ajuste estatístico. Ao atualizar a metodologia do cálculo do Produto Interno Bruto, ________________________
o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) descobriu que, em 2005, éramos ________________________
10,9% mais ricos do que imaginávamos. ________________________
________________________
Com esse incremento no PIB e na renda per capita, o IDH subiu para 0,803, o
________________________
bastante para o Brasil entrar no grupo de países com “alto desenvolvimento humano”.
________________________
Em 2006, o ranking do IDH era liderado pela Noruega (0,971), seguida de Austrália
________________________
(0,970) e Islândia (0,969). Na América do Sul, os mais bem posicionados nesse ranking
________________________
são o Chile (0,878), Argentina (0,866) e Uruguai (0,865).
________________________
A pobreza, a miséria e os efeitos nocivos dos constantes períodos de estiagem ________________________
ainda são características marcantes do Nordeste brasileiro. Os recentes dados relativos ________________________
ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculados para o Brasil, regiões, esta- ________________________
dos e municípios, expõem de maneira inequívoca a situação desta região. ________________________
________________________
Nesse sentido, considerando os dados do IDH calculados para o Brasil, em 2006,
________________________
pelo Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD), verificamos que
________________________
a Região Nordeste se sobressai apresentando o mais baixo IDH (0,733), quando com-
________________________
parado com as outras macrorregiões do país. Em 2006, essas estatísticas mostraram
________________________
que, dos 21 municípios com os piores índices de IDH do Brasil, 18 estão localizados no
________________________
Nordeste, apresentando valores até 0,500. Ou seja, após vários anos de “intervenção
________________________
planejada do Estado”, a Região Nordeste do Brasil ainda se apresenta como uma “re-
________________________
gião-problema” ou sendo, o que chamara Furtado, (1983): “o espelho onde a imagem
74 do Brasil se reflete com brutal nitidez”.

A partir dessas constatações é que se faz necessário discutir quais foram os ele-

conjuntura
econômica
mentos determinantes para o impedimento de um processo efetivo de desenvolvi-
mento na região Nordeste do Brasil, apesar da aplicação de políticas públicas explícitas
voltadas para a superação das desigualdades regionais, notadamente a partir do início
dos anos 1960, quando se criou toda uma moldura econômica, política e institucional
direcionada para esse fim.

O IDH na Bahia

O IDH, inferido pelo PNUD em 2006, apresenta um interessante referencial


comparativo. Atualmente, a Bahia continua a ocupar a 20ª posição no ranking do IDH
(0,742) do país entre as 27 unidades da federação. Já o IDH-M (o IDH Municipal) de
maior destaque em 2006 foi do município de Salvador, com 0,805. O menor, nesse
mesmo período, pertence ao município de Itapicuru com 0,521, situado na região nor-
deste do estado. Cabe ressaltar que, mesmo no município de Salvador, que apresenta
maior IDH-M do estado, existem distorções acentuadas entre suas localidades pesqui-
sadas.

Figura 1 - Mapa do Índice de Desenvolvimento Municipal 2000

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________________________ Fonte: PNUD (2008)
________________________
________________________
________________________ O Estado da Bahia é exemplo das contradições existentes entre desenvolvimen-
________________________ to econômico e crescimento. Apesar de ser sexta maior economia do país, com um PIB
________________________ medido pela SEI, em 2006, de aproximadamente R$96.559 bilhões, é um estado que
________________________ apresenta uma situação pouco favorável em relação aos indicadores sociais.
________________________
A grande concentração econômica registrada em sua região metropolitana e o
baixo dinamismo dos municípios da região semiárida do estado (ver Figura 1), onde 75
estão 2/3 dos 417 municípios baianos e estão a maioria das manchas de cor cinza, que

conjuntura
econômica
significa IDH menor, provocam grandes distorções para a inserção econômica e social
na Bahia.

SÍNTESE
Após esta aula, já é por demais conhecido o argumento de que desenvolvimen-
to econômico e crescimento não são sinônimos. Sinteticamente, podemos definir o
crescimento econômico como a elevação do produto agregado do país, que é avalia-
do a partir da mensuração de valores agregados de uma determinada economia em
um determinado período de tempo. Já o desenvolvimento econômico é um conceito
bem mais amplo, que leva em conta a elevação da qualidade de vida da sociedade e a
redução das diferenças econômicas e sociais entre seus membros.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


É possível gerar desenvolvimento em uma situação de estagnação da econo-
mia?

________________________
LEITURAS INDICADAS ________________________
________________________
FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril
________________________
Cultural, 1983. (Série Os Economistas).
________________________
PREBISCH, Raúl. Dinâmica do desenvolvimento latino-americano. Rio de Janeiro: ________________________
Fundo de Cultura, 1964. ________________________
________________________
________________________
SITES INDICADOS ________________________
________________________
Banco Mundial: www.worldbank.org ________________________
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): www.ipea.gov.br ________________________
________________________
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br/ ________________________
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): www.pnud.org.br/
________________________
________________________
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): www.sei.ba.gov.br/ ________________________
________________________
________________________
REFERÊNCIAS
________________________
________________________
BALDWIN, R. E. Desenvolvimento e crescimento econômico. São Paulo, Pioneira, 1979. ________________________
________________________
BESSERMAN, S. Indicadores. In: TRIGUEIRO, A. Meio Ambiente no Século 21. 4. ed. Cam-
________________________
pinas: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2005.
76 DORNBUSCH, Rudiger; FISCHER, Stanley. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1991.

conjuntura
econômica
FRANCO, A. de. Por que precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável? In: Separata da
Revista Século XXI, n. 3. Brasília: Millenium – Instituto de Política, 2000.

FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Série
Os Economistas).

GONZAGA DE SOUSA, Luís (2004) Ensaios de economia, edición electrónica. Disponível em: http://www.
eumed.net/cursecon/libreria/. Acesso em: 17 nov.2008.

HEWLETT, S. A. Dilemas do desenvolvimento. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1981.

HIRSCHMANN, Albert. Estratégia do desenvolvimento econômico. São Paulo: Fundo de Cultura, 1961.

MARTINELLI, D. P.; JOYAL, A. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e médias empresas. Barue-
ri: Manole, 2004.

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Orgs.). Manual de economia. 4. ed. Equipe de
Professores da USP. São Paulo: Saraiva, 2003.

PNUD. Brasil. Relatório de desenvolvimento humano 2007/2008. Combate à mudança do clima: solida-
riedade em um mundo dividido. Brasília: IBGE, 2008.
________________________
________________________ PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Atlas do desenvolvimento humano
________________________ no Brasil. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/>. Acesso em: 29 jun. 2008.

________________________
________________________ SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

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________________________ SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

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________________________ ROSTOW, William Wilber. Etapas do desenvolvimento. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1974.

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UNESCO. Educação para um futuro sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compartilhadas.
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Brasília: IBAMA, 1999.
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VASCONCELOS, Marco Antônio S; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Sarai-
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va, 2006.
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________________________
VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Aula 06 - O PRODUTO INTERNO BRUTO E A 77
ANÁLISE DA ECONOMIA BAIANA

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Maurício Castro

Olá!

Nesta aula, nós vamos analisar o comportamento do mais importante indicador


de conjuntura econômica, o Produto Interno Bruto (PIB). Com base neste indicador, va-
mos mergulhar na análise de conjuntura e estudar algumas características estruturais
da economia baiana que limitam e/ou potencializam uma grande gama de negócios
econômicos no estado da Bahia.

O Que é o Produto Interno Bruto (PIB)?

O PIB é a expressão monetária do conjunto de todos os bens e serviços finais


que são gerados em uma economia em determinado período de tempo. Bens finais
são aqueles que já passaram por todas as transformações produtivas e estão aptos
a chegarem até a casa dos consumidores. Como não é possível somar carros com bi-
cicletas ou com horas de aula de um professor, transforma-se essa produção total de ________________________
uma economia em um valor, atribuindo um preço a cada bem ou serviço gerado e ________________________
depois agregando todos sob a forma de um único indicador. ________________________
________________________
O PIB, por agregar todos os setores da economia, acaba se transformando no
________________________
mais poderoso indicador de tendência de uma economia. Pela sua expressão é pos-
________________________
sível examinar se as políticas públicas implementadas por um determinado governo
________________________
surtiram o efeito esperado. Incrementos positivos no PIB significam que a soma das
________________________
riquezas de um país são cada vez maiores. Uma queda no valor do PIB significa que a
________________________
atividade econômica do país está enfrentando dificuldades.
________________________
Apesar de ser um indicador importante, por medir o desempenho da atividade ________________________
econômica, é muito importante que se mencione que o cálculo do PIB é feito por uma ________________________
metodologia específica, estudada e debatida entre o IBGE, órgão responsável pela sua ________________________
medição no Brasil, os demais órgãos de estatística do país e mesmo outros organismos ________________________
mundiais como a Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso, para estabelecer ________________________
uma metodologia robusta e confiável que possa ser comparada no tempo e no espaço ________________________
com as informações dos outros países do mundo. ________________________
________________________
É válido que se diga que, por se tratar de um indicador de tendência, o PIB não
________________________
consegue dar conta de explicar todas as relações econômicas que se estabelecem no
________________________
mundo real. Ele capta movimentos do desempenho macroeconômico, mas não con-
________________________
segue dar resposta dos porquês. Isso quer dizer que por trás do número gerado pelo
________________________
computador, existem as análises de conjuntura que dão respaldo ao resultado e que
________________________
ajudam a explicar o porquê de um aumento na atividade setorial ou a razão que expli-
________________________
ca a diminuição na atividade em queda no nível de emprego.
________________________
78 PIB, dessa forma, não explica, ou melhor, não se propõe a analisar o desenvolvi-
mento econômico, conceito que já trabalhamos na aula anterior. O PIB apenas mede o

conjuntura
econômica
tamanho do crescimento econômico gerado em um determinado momento. A forma
como este processo de crescimento é distribuído pela população não pode ser enten-
dida pela análise do PIB. Por isso, quando falamos que o PIB do Brasil cresceu 6% em
2008, isso quer dizer que a riqueza brasileira, o total do produto gerado no Brasil cres-
ceu 6%. Mas isso não quer dizer que todos os brasileiros se beneficiaram igualmente
desse crescimento econômico. Para medir o nível de melhora do padrão de vida das
pessoas, são usados indicadores sociais, dos quais o IDH, também analisado na aula
anterior, é o principal.

Mesmo assim, não se pode diminuir a importância do PIB, pois ele funciona
como um “termômetro” do desempenho econômico de um país. Sua medida frequen-
temente é usada como fator político, por governos que, usando a bandeira do cresci-
mento econômico acabam conseguindo benefícios junto à população mais carente. O
PIB é também usado por nós pesquisadores, professores, consultores ou acadêmicos e
mesmo pelas equipes de planejamento estadual que fixam seus objetivos orçamentá-
rios em relação à magnitude do PIB.

O PIB normalmente é usado para medir o desempenho macroeconômico de


um país, mas, hoje em dia, as pesquisas avançaram tanto que já é possível medir o
nível de atividade do pequeno município de Cabaceiras do Paraguaçu no recôncavo
baiano e comparar seus resultados com a grande cidade Campos no Rio de Janeiro.
________________________
________________________
________________________
________________________ A mensuração do PIB
________________________
________________________
________________________ Mas como é que o IBGE faz para calcular o PIB de todos os estados do Brasil?
________________________
________________________
Existem três óticas diferentes para se mensurar o PIB: a ótica do dispêndio ou da
________________________
despesa, a ótica do produto e a ótica da renda.
________________________
________________________
________________________ ‚‚ Ótica do Dispêndio: avalia o produto de uma economia considerando a soma dos
valores de todos os bens e serviços produzidos no período que não foram destruídos
________________________
(ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços. Possui esta de-
________________________
nominação, pois avalia o que a economia despendeu para consumo, investimento e ex-
________________________ portação líquida.
________________________
‚‚ Ótica do Produto: calcula o valor que cada unidade produtiva agregou (adicionou) a
________________________
determinada mercadoria.
________________________
________________________ ‚‚ Ótica da Renda: é calculada através da soma de todas as remunerações monetárias
________________________ pagas aos fatores de produção em um determinado período de tempo. Por exemplo, a
remuneração do trabalho é o salário, a remuneração da terra é o aluguel e etc.
________________________
________________________
________________________ Os cálculos podem ser realizados pelas três distintas óticas, mas o resultado será
________________________ sempre o mesmo, ou seja, existe uma identidade entre produto, dispêndio e renda.
Embora existam essas três diferentes maneiras de se calcular o PIB de um país, a 79
forma mais habitual é relacionar o PIB com a demanda agregada de um país (riqueza).

conjuntura
econômica
Desta forma a equação básica de cálculo seria a seguinte:

PIB = Consumo das Famílias + Investimentos Privados + Gastos Governamentais + Saldo


Externo da Balança Comercial

Consumo das Famílias:

O consumo corresponde à parcela da renda destinada à aquisição de bens e


serviços para a satisfação das necessidades dos indivíduos. Para tal, os indivíduos ad-
quirem vários tipos de bens que podem ser classificados em quatro categorias: Bens
de consumo leves: aqueles que são consumidos rapidamente, como por exemplo, os
alimentos e o vestuário; Bens de consumo duráveis: aqueles que são consumidos du-
rante um longo período de tempo: materiais elétricos, carros, eletrodomésticos; Ser-
viços: tais como educação, saúde, habitação; e, Bens públicos: que são aqueles que
financiamos com nossos impostos e que servem a toda a coletividade (produzidos
pelo governo na função de Estado).

________________________
________________________
Investimento das Empresas:
________________________
________________________
O investimento corresponde à aquisição de bens de capital, máquinas, equipa-
________________________
mentos e estoques com o objetivo de gerar maior produção futura. Pode ser dividido
________________________
entre formação bruta de capital fixo (investimentos que têm vida útil superior a um
________________________
ano como, por exemplo, os apartamentos, terrenos, carros, etc.) e variação de estoques
________________________
em que a vida útil define a sua classificação.
________________________
O investimento é uma das variáveis mais importantes para o desempenho do ________________________
PIB de um país. Ele é o “motor” que vai permitir aumentar a capacidade de produção, ________________________
gerar novos empregos e aumentar a circulação de recursos monetários na economia. ________________________
Quando os empresários optam por fazer investimentos produtivos, isto é, aqueles que ________________________
são realizados no processo de produção, toda a economia cresce. Quando optam por ________________________
fazer investimentos financeiros, isto é, na aquisição de papéis de outras empresas nas ________________________
bolsas de valores, acabam restringindo a possibilidade de gerar efeitos multiplicadores ________________________
para a economia que possam desencadear em aumento do bem-estar da população. ________________________
________________________
________________________
________________________
Gasto público: ________________________
________________________
O gasto público está associado à intervenção do governo na economia. Suas ________________________
políticas públicas, a forma como o orçamento estabelecido se converte em benefícios ________________________
para a população, fazem parte dos chamados gastos públicos. Vimos em aulas ante- ________________________
riores que quando o governo gasta com os recursos que ele arrecada dos tributos e
80 impostos indiretos, ele está utilizando uma política fiscal expansionista para aumentar
o bem-estar da população. Além das despesas de custeio, isto é, o pagamento dos fun-

conjuntura
econômica
cionários públicos que movimentam as economias regionais e dos gastos para manter
a máquina pública (água, luz material de escritório), o governo é um importante aliado
do setor privado na questão de financiar a infraestrutura (estradas, pontes, aeroportos,
etc.). Assim, ao lado do setor privado, o governo também é um importante agente que
realiza investimentos na economia, objetivando aumentar a capacidade produtiva da
economia e incentivar que a iniciativa privada também eleve os seus investimentos.

Saldo Externo da Balança Comercial

Esta questão já é trivial para nós, pois a estudamos na aula 4, quando falamos
do setor externo. Mesmo assim vamos fazer aqui essa revisão! Esse saldo externo da
balança comercial é a diferença entre as exportações e as importações do país. Quanto
maior o saldo, maior a produção em território nacional e, por conseguinte, maior o
nível de emprego e de crescimento econômico. Em contraposição, quanto menor o
saldo, menor o nível de emprego, pois com a crescente participação das importações
há um desestímulo à produção nacional. É óbvio que nenhum país se exclui totalmen-
te do comércio internacional, mas o ideal é manter um superávit na balança comercial.
Vale ressaltar que nenhuma economia mantém-se sempre superavitária, havendo a
________________________
necessidade de um mercado interno bem estruturado para que não ocorra uma redu-
________________________
ção na taxa de crescimento do PIB quando as exportações diminuírem.
________________________
________________________
________________________
________________________
Outras Medidas Relacionadas ao PIB
________________________
________________________
Antes de passarmos para a análise que estou propondo nesta aula, evidenciado
________________________
a inter-relação entre o PIB e a economia baiana, acho que é importante mencionar as
________________________
derivações que podem ser feitas com o PIB. Isto é, o PIB possibilita a criação de uma sé-
________________________
rie de outras medidas de análise do desempenho da economia. As principais medidas
________________________
estão discriminadas a seguir:
________________________
________________________
________________________
________________________ PIB nominal X PIB real
________________________
________________________
Quando se analisa o resultado do PIB, verifica-se “[...] o valor agregado de todos
________________________
os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico do país, indepen-
________________________
dentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens
________________________
e serviços.” (SANDRONI, 1999, p. 459). Já falamos que para poder somar carros com la-
________________________
ranjas, precisamos, antes, converter os produtos gerados em valores econômicos (isto
________________________
é, atribuir preços). Assim, quando calculamos todo o PIB gerado em uma economia,
________________________
estamos diante de um valor nominal, isto é, uma quantidade total multiplicada por um
________________________
preço. Então, para sabermos quanto foi o crescimento somente da parte “física da eco-
nomia”, da quantidade produzida, precisaremos retirar a influência dos preços. Quan- 81
do dividimos o valor do PIB por um deflator (um índice de preços estabelecido em

conjuntura
econômica
metodologia), nós retiramos deste valor aquela parte que foi dada pelo aumento de
preços e ficamos apenas com parte das quantidades produzidas (questão meramente
matemática). Este valor, descontado da inflação, é chamado de PIB real. Este é o valor
real que é utilizado para dizer se o país cresceu ou não em um ano em comparação
com o período anterior. O PIB real leva em conta apenas as variações nas quantidades
produzidas dos bens, e não nas alterações de seus preços de mercado.

PIB X PNB

Qual a diferença entre os dois conceitos? O PIB é o valor de toda a produção de


bens e serviços finais, ocorrida dentro das fronteiras do país, sem considerar a nacio-
nalidade do capital que gera essa produção e nem se preocupar com o destino que
será dado a ela. O PNB considera o processo de geração de riquezas por empresas de
capital nacional, mesmo que elas sejam produzidas fora do país No PNB o critério de-
cisivo é a origem do capital que gera a produção; no PIB, o fato decisivo é a localidade
da produção (interna).

Vamos simplificar para facilitar o entendimento: suponha o caso da Ford que


opera em Camaçari e da Petrobrás que está na Bolívia. No caso da Ford, apesar de estar ________________________
produzindo carros em “solo baiano”, ela é uma empresa estrangeira e, portanto, reme- ________________________
te lucros para o exterior. Assim sendo, a Ford faz parte do PIB do Brasil, mas não faz ________________________
parte do PNB, uma vez que envia renda ao exterior, isto é, lucro. Vejamos agora o caso ________________________
da Petrobrás que é uma empresa de capital nacional operando em solo estrangeiro. ________________________
Assim, o valor que ela produzir lá na Bolívia é contabilizado no PNB do Brasil, por ser ________________________
uma empresa de capital nacional, mas não será computado no PIB, pois a produção ________________________
não é realizada internamente no Brasil. ________________________
________________________
O PIB difere do produto nacional bruto (PNB) basicamente pela renda líquida
________________________
enviada ao exterior (RLEE): ela é desconsiderada no cálculo do PNB, e considerada no
________________________
cálculo do PIB. Esta renda representa a diferença entre recursos enviados ao exterior
________________________
(pagamento de fatores de produção internacionais alocados no país) e os recursos
________________________
recebidos do exterior a partir de fatores de produção que, sendo do país considerado,
________________________
encontram-se em atividade em outros países. Assim, temos a seguinte fórmula:
________________________
________________________
________________________
PNB = PIB – Renda Enviada ao Exterior + Renda Recebida do Exterior. ________________________
________________________
________________________
No caso brasileiro, uma vez que é grande o número de empresas multinacionais ________________________
operando nos vários estados brasileiros e é baixa a presença de empresas brasileiras ________________________
operando em solo estrangeiro, o PIB é sempre maior do que o PNB. Raciocínio diferen- ________________________
te temos para os Estados Unidos que têm o PNB maior do que o PIB. ________________________
________________________
82 PIB Per Capita

conjuntura
econômica
Trata-se de um indicador muito utilizado para definir as metas das políticas pú-
blicas. Basta dividir o PIB de um país pela população, obtém-se um valor médio per
capita:

O valor per capita foi o primeiro indicador utilizado para analisar a qualidade
de vida em um país. Atualmente, usam-se outros índices — que revelam o perfil da
distribuição de renda de um país (tais como o Índice de Desenvolvimento Humano)
— para se obter uma avaliação mais precisa do bem-estar econômico desfrutado por
uma população.

Países podem ter um PIB elevado por serem grandes, mas por terem muitos ha-
bitantes, seu PIB per capita pode ser baixo, já que a fórmula mostra que é a renda total
dividida pela população. Assim, são exemplos de países com PIB alto e PIB per capita
baixo: a Índia e a China. Países como a Noruega e a Dinamarca exibem uma situação
exatamente oposta: possuem um PIB moderado, mas que é suficiente para assegurar
________________________
uma boa qualidade de vida a seus poucos milhões de habitantes. Daí seu PIB per capita
________________________
ser alto.
________________________
________________________ Entretanto, analisada de maneira incorreta, a medida do PIB per capita pode
________________________ não ter significado algum. O PIB per capita do Brasil em 2008 era de aproximadamente
________________________ R$14.000. Isso, como já sabemos, não significa que todos os habitantes do Brasil ga-
________________________ nhem R$14 mil. Muito pelo contrário!
________________________
________________________
________________________
Leia mais sobre essa questão no artigo LEITURA DA ECONOMIA BAIANA PELA ÓTICA DO PIB:
________________________
1975-2007 que publiquei na Revista de Desenvolvimento Econômico (RDE) da UNIFACS,
________________________ cuja leitura indico no final desta aula.
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Período 1 (1975–1986): transformações estruturais e crescimento
________________________
acelerado
________________________
________________________
O período que vai de 1975 até 1986 tem como característica principal a trans-
________________________
formação estrutural do PIB da Bahia, que deixa de ter como carro-chefe a agropecu-
________________________
ária, passando a ser impulsionado pela indústria. Crescimentos acelerados (em torno
________________________
de 6,5% ao ano) foram a tônica dessa época, marcada pela expansão do segmento
________________________
industrial baiano, que apresentou taxas de crescimento de aproximadamente 9%.
________________________
Este processo teve origem em meados dos anos 1950, embora, até o início dos 83
anos 1970, a estrutura produtiva da economia baiana ainda estivesse fundada no setor

conjuntura
econômica
primário-exportador, que se complementava com a economia de subsistência prati-
cada em quase todas as suas regiões. Durante décadas, esta dinâmica foi comanda-
da pelo agrobusiness do cacau, que era o principal produto agrícola estadual e o seu
maior gerador de divisas.

Contudo, a renda gerada pela cacauicultura foi em parte alocada no próprio


setor, aprofundando e mantendo a monocultura do cacau, sendo o restante canaliza-
do para consumo ou investimentos fora do Estado, principalmente em imóveis. Esse
setor, por sua vez, devido às suas características estruturais, era incapaz de irradiar
seu dinamismo para a economia baiana como um todo. A partir dos anos 1970, com
o avanço da industrialização, essa estrutura produtiva começa a mudar e perde sua
feição agroexportadora.

Alguns fatores, a seguir comentados, podem ser apontados como principais


para o desenvolvimento desse processo. Em primeiro lugar, as políticas macroeconô-
micas adotadas no país a partir da década de 1930, que alteraram profundamente a
divisão nacional do trabalho no Brasil. O principal projeto era o de substituições de
importações e é a partir da sua implantação, juntamente com a do processo de des-
concentração da economia — promovido pelo Governo Federal e incentivado pelos
estados periféricos, dentre eles a Bahia, para reduzir desequilíbrios regionais — que,
finalmente, nos anos 1970, a Bahia se insere na matriz industrial brasileira, com a cha-
________________________
mada “especialização regional”. Tal especialização levou o Estado a voltar-se para uma
________________________
industrialização centrada no setor químico, especialmente na petroquímica e na me-
________________________
talurgia.
________________________
Ainda no âmbito de medidas macroeconômicas, é importante salientar os in- ________________________
centivos fiscais e financeiros criados pelo Governo Federal para atrair investimentos ________________________
para outras regiões brasileiras que não o Centro-Sul. Esse sistema de incentivos fiscais ________________________
beneficiou o processo de reestruturação da dinâmica econômica da região Nordeste, ________________________
observando-se que tais incentivos foram, em sua grande maioria, alocados no Estado ________________________
da Bahia. Isso se deu pela proximidade da Bahia em relação ao Centro–Sul, e pelo fato ________________________
de a produção nacional não oferecer alguns insumos básicos demandados pela indús- ________________________
tria de transformação do Sudeste. Entre os fatores sistêmicos da competitividade, a ________________________
Bahia contava ainda com as vantagens de ser, à época, a maior produtora de petróleo ________________________
do país e de já possuir uma refinaria, a Landulfo Alves. ________________________
________________________
Em relação ao poder local, foi montada uma explícita política industrial, setorial
________________________
e regional. Além de participar diretamente de alguns empreendimentos, com estudos,
________________________
investimentos e infraestrutura, o Governo Estadual concedeu um amplo conjunto de
________________________
incentivos fiscais e financeiros, o que possibilitou ao capital privado reduzir drastica-
________________________
mente o risco de sua participação no processo produtivo e garantiu vantagens com-
________________________
parativas à Bahia em relação aos demais Estados do Nordeste.
________________________
Em decorrência das medidas acima descritas, vários projetos foram implanta- ________________________
dos, destacando-se os localizados no Centro Industrial de Aratu (CIA), nos Distritos In- ________________________
dustriais do interior do Estado e no Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC). ________________________
________________________
84 Tabela 1 - Composição Setorial do PIB Baiano

conjuntura
econômica

Fonte: SEI/Coordenação de Contas Regionais (2006)

Essas alterações estruturais na economia baiana incrementaram fortemente


seu produto interno. Em termos de taxas de crescimento real do PIB, a Bahia supera
o Nordeste e o Brasil ao longo da década de 1970. No período entre 1975 e 1986, a
indústria cresce acumuladamente 156,4%, a agricultura 30%, o comércio 117% e as
comunicações 1.383%. Esse crescimento fez com que a economia baiana aumentasse
sua participação na economia nacional — de menos de 4% em 1975 passa a 5,4% em
1985 — e contribuiu de forma positiva para a expansão do setor terciário da econo-
________________________
mia (em média 7,6% ao ano), particularmente na Região Metropolitana de Salvador
________________________
- RMS.
________________________
________________________ É importante destacar que a consolidação da indústria de transformação no
________________________ processo de desenvolvimento econômico estadual, na primeira metade da década de
________________________ 1980, ocorreu num período de grande recessão e crise da economia brasileira, da qual
________________________ poucos Estados lograram escapar. A Bahia, exatamente pelo avanço da sua indústria,
________________________ estava entre estes últimos, ou seja, apresentou, malgrado a crise, crescimento do nível
________________________ de atividade econômica.
________________________
Nos anos 1980, inicia-se uma política de desvalorização cambial que torna caros
________________________
os produtos importados. Esses fatores macroeconômicos fizeram com que aumentas-
________________________
se a demanda, por parte das indústrias instaladas no Centro-Sul, pelos petroquímicos
________________________
produzidos na Bahia.
________________________
________________________ Apesar de a economia ter se concentrado principalmente na RMS, outras áre-
________________________ as do interior do Estado também apresentaram significativo crescimento no final da
________________________ década de 1970. Entre os destaques têm-se: produção de feijão na região de Irecê;
________________________ expansão do pólo cafeeiro na Chapada; extração de minérios em determinadas áreas
________________________ do Estado (Caraíba Metais etc.); rápida ocupação do Vale do Iuiú (pecuária e algodão) e
________________________ desenvolvimento de regiões como o Extremo-Sul, com a extração de madeira.
________________________
________________________
Período 2 – 1986 a 1992: inflexão do crescimento e crise econômica
________________________
________________________
A partir da segunda metade dos anos 1980, o vigoroso crescimento ocorrido
________________________
entre 1975 a 1985 sofre um forte processo de inflexão. Entre 1986 e 1992, o ritmo de
crescimento do PIB cai de 6,5% ao ano para aproximadamente 0,1%. 85
Em dez anos, ou seja, de 1975 a 1986, o PIB baiano, sob o efeito do Pólo Petro-

conjuntura
econômica
químico de Camaçari, cresceu 92% acumuladamente. Entretanto, no período subse-
quente, entre 1986 e 1992, o crescimento acumulado foi de apenas 0,9%. Em que pese
à diferença quantitativa dos anos entre os dois períodos, essa comparação tem como
único objetivo salientar que entre 1986 e 1992 a economia baiana praticamente se
estagnou.

A figura 1, a seguir, evidencia claramente este processo. Entre 1986 e 1992, o


cenário apresentado foi de recessão, com variação negativa do nível de atividade nos
três últimos anos desse período.

Figura 1 - Evolução do PIB da Bahia segundo taxa anual de crescimento – 1976-2005

________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Fonte: SEI/Coordenação de Contas Regionais (2006) ________________________
________________________
Os fatores que explicam essa crise podem ser encadeados da seguinte forma: ________________________
________________________
‚‚ A crise da economia nacional nos anos 1980 (a chamada década perdida), capitaneada ________________________
pela crise fiscal e financeira do Estado brasileiro, levou à falência o modelo anterior, no ________________________
qual o Estado era o motor da acumulação capitalista e sob o qual se pautou o crescimen- ________________________
to da economia baiana entre 1975 e 1986. O endividamento interno e externo do Estado ________________________
inviabilizou os investimentos projetados e a manutenção da acumulação capitalista, na
________________________
forma até então vigente.
________________________
________________________
________________________
‚‚ A queda no ritmo de crescimento da economia ocasionou altas taxas de inflação,
índices crescentes de desemprego e elevação das taxas de juros, o que desencadeou
________________________
a chamada “ciranda” financeira e teve, portanto, efeitos negativos diretos na demanda ________________________
86 agregada da economia brasileira, principalmente no consumo das famílias e nos gastos
do Governo.

conjuntura
econômica
‚‚ Deu-se um redirecionamento da economia brasileira para o mercado externo: incen-
tivaram-se, assim, as exportações que geravam divisas, garantiam o fechamento do ba-
lanço de pagamentos e mantinham o nível da atividade econômica.

Os efeitos dessa crise para o Estado da Bahia foram altamente negativos, po-
dendo-se destacar alguns deles como os mais graves, como se pode verificar a seguir:

‚‚ Foram paralisados os investimentos previstos para o Pólo de Camaçari e, assim, não


foram geradas cadeias produtivas, a terceira geração da petroquímica. Dessa forma, a
economia baiana permaneceu apenas como produtora de bens intermediários e o Com-
plexo Petroquímico não recebeu novos investimentos.

‚‚ Diminuiu o ritmo de crescimento da produção da indústria química baiana, tendo esse


segmento, nos anos de 1988, 1990 e 1991, apresentado taxas negativas, de 3,6%, 6,8% e
7,6%, respectivamente. Pelo elevado peso que a indústria química tem na estrutura do
segmento industrial baiano, os reflexos negativos sobre o PIB eram inevitáveis.

________________________
________________________ ‚‚ Foi gerada, com a paralisação do processo de investimentos, uma economia dupla-
________________________ mente concentrada na formação do PIB: na agricultura, o cacau, em crise, continuava a
ser o principal produto de exportação. Na indústria, deu-se uma elevada concentração
________________________
em torno do gênero químico. Em termos macroeconômicos, a geração espacial da renda
________________________
concentrou-se na RMS e no litoral, principalmente na área de influência dos municípios
________________________ de Ilhéus e Itabuna.
________________________
________________________
________________________ ‚‚ Cresceu a taxa de desemprego na RMS, consequência da forte migração — em parte
________________________ derivada do fato de a Bahia possuir uma população rural muito grande (ainda hoje a
________________________ maior do país em termos absolutos, e vivendo de forma precária no semi-árido) — para
________________________ essa região, atraída pelo Pólo. Esse processo fez de Salvador a terceira mais populosa
cidade do país, com uma das maiores taxas de desemprego dentre as cidades estudadas
________________________
pelos institutos de pesquisas brasileiros.
________________________
________________________
________________________
‚‚ Finalmente, identifica-se um último efeito, que se manifestou em meados dos anos
________________________
1980, decorrente da reestruturação produtiva mundial: a crise nos produtos tradicionais
________________________ de exportação da agricultura baiana. A partir desse período, registraram-se sucessivas
________________________ quedas nos preços internacionais dessas commodities, resultantes do crescimento da
________________________ sua oferta mundial, com a entrada, no mercado, de novos países produtores, com meno-
________________________ res custos médios e maiores rendimentos por hectare. Dentre os produtos baianos, cujos
________________________ preços caíram, citam-se: o cacau, que também foi atingido pela grave doença conhecida
como “vassoura de bruxa”, a mamona, o sisal, o fumo, o café e o algodão. O forte declínio
________________________
do cacau, principal cultura agrícola do Estado na segunda metade dos anos 1980, ocorre
________________________
sem que outra lavoura a substitua de imediato.
________________________
Assiste-se, assim, a uma total desestruturação do Estado da Bahia: suas finanças 87
desorganizam-se; seu patrimônio público — estradas, escolas, hospitais etc. — passa

conjuntura
econômica
por um processo de desgaste; seu funcionalismo tem grandes perdas em termos re-
ais.

Os fatores sistêmicos da competitividade baiana seguem na mesma direção da


situação financeira do setor público acima mencionado. A educação não apresenta
grandes avanços, a concentração da renda aumenta, as estradas pioram de situação, o
crescimento dos setores de serviços e comunicações é lento etc.

Em conclusão, esse período, diferentemente do anterior, é marcado por uma


redução da participação do PIB baiano no PIB nacional, em consequência de ter-se
estagnado o ritmo de crescimento da economia baiana (na comparação com o perí-
odo anterior, 1975/1985) e de se terem expandido fortemente outras áreas no Brasil,
como o Centro-Oeste, incentivadas pela produção pecuária e agroexportadora, prin-
cipalmente de grãos.

Período 3: anos 1990 e a retomada do crescimento econômico

O período compreendido entre 1992 e 2000 tem algumas características mar-


cantes, como:

‚‚ Crescimento econômico acompanhando a média nacional; ________________________


________________________
‚‚ Consolidação e ampliação da indústria montada no primeiro período, ou seja, petro-
________________________
química e metalurgia;
________________________
‚‚ Consolidação de setores que se beneficiaram com a política nacional de incentivo às ________________________
exportações e que tiveram vantagens comparativas no estado, a exemplo da silvicultura, ________________________
da produção de papel e celulose, dos frutos e grãos;
________________________
‚‚ Alcance, pela agricultura, de um novo patamar de produção, com base na política na- ________________________
cional de incentivo às exportações iniciada no segundo período; ________________________
‚‚ Esgotamento dos produtos tradicionais, a exemplo do fumo, que chegam ao fundo do
________________________
poço, e esboço de recuperação dos níveis de produção de outros, graças às políticas dos ________________________
Governos Estadual e Federal; ________________________
________________________
‚‚ Surgimento de novos setores industriais, notadamente de bens finais, portadores de
mudanças futuras na estrutura do Estado e promotores de sua inserção na divisão na-
________________________
cional do trabalho; ________________________
________________________
‚‚ Maior preocupação com o turismo local, que passa a operar em um patamar mais
________________________
elevado, a partir de investimento do Governo Estadual e de programas nacionais com
________________________
parceiros internacionais, a exemplo do PRODETUR.
________________________
________________________
O crescimento médio do PIB baiano correspondeu a 3,1% a.a. ou, em taxa acu- ________________________
mulada, foi de 27,5%, no período de 1992 a 2000. Os setores agropecuário e indus- ________________________
trial cresceram no mesmo patamar: 3,1% e 2,9% respectivamente. Outros segmentos, ________________________
como o comércio e a comunicação, foram de grande destaque nesse período, alcan- ________________________
çando um crescimento acumulado de 28,3% e 255,7% respectivamente. ________________________
88 A mudança na política econômica nacional, o Plano Real, a abertura do mer-
cado brasileiro e a reestruturação do Governo Estadual fizeram a economia voltar a

conjuntura
econômica
crescer. Abriu-se um novo período de investimentos produtivos e a perspectiva de
outro ciclo sustentado de crescimento, agora menos concentrado.

Antes de tudo, verifica-se um forte crescimento do comércio e do consumo nos


primeiros três anos do Plano Real, em função da estabilidade econômica e das facili-
dades de financiamento. Este processo beneficiou mais fortemente as classes menos
favorecidas, que representam a maioria da população baiana.

No que diz respeito ao comércio exterior, a competitividade da economia baia-


na fica evidente ao se verificar o significativo incremento do valor das exportações
baianas, da ordem de quase 50% entre 1991 e 1998, apesar das dificuldades com que
se defrontaram as exportações brasileiras no período. A conta de comércio (exporta-
ção + importação) cresce mais de 50%.

Tabela 2 - Balança Comercial – Bahia (em U$ bilhões - FOB)

________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________ Fonte: PROMO – Centro Internacional de Negócios da Bahia (2001)

________________________
Na esfera governamental, a Bahia passou por um processo de reforma do Esta-
________________________
do desde 1991 e promoveu um ajuste administrativo, fiscal e financeiro. Os primeiros
________________________
resultados foram o equilíbrio das finanças públicas estaduais — o que levou à recu-
________________________
peração do crédito público nacional e internacional — e o fato de o Estado passar a
________________________
ter capacidade de gerar poupança interna e externa, abrindo assim a possibilidade de
________________________
investimentos e de contar com programas de incentivos fiscais e financeiros.
________________________
________________________ Em conjunto, esses fatores viabilizaram múltiplos investimentos privados em
________________________ novas áreas da atividade econômica, a exemplo dos segmentos industriais de bens
________________________ de consumo populares, automobilístico, cerâmico e madeireiro/moveleiro, turismo
________________________ etc. Esse movimento tem contribuído para a expansão e diversificação da economia,
________________________ proporcionando uma maior integração industrial, com a abertura de novos horizontes
________________________ que indicam um novo ciclo de crescimento.
________________________
________________________ Concluindo, é possível afirmar que, do ponto de vista da geração do PIB, esse

________________________ período se constitui no momento histórico em que foram lançadas as bases para um

________________________ novo ciclo de expansão do produto baiano e para que se reestruture a composição

________________________ desse indicador, sobretudo no que concerne ao peso que aí têm a agropecuária e a
indústria.
Período 4 – 2000-2007: manutenção do crescimento e consolidação 89
industrial

conjuntura
econômica
A partir do ano 2000 começam a ser observadas mudanças na estrutura produ-
tiva do Estado da Bahia oriundas de dois fatores principais:

‚‚ a) pela austera política macroeconômica colocada em prática pelo Governo Federal,


priorizando a proteção da moeda contra desvalorizações, buscando uma meta inflacio-
nária extremamente baixa. Utilizando-se do instrumental de controle da taxa de juros,
a política econômica do Brasil priorizou o curto prazo, pondo fim definitivo ao projeto
nacional desenvolvimentista. Esse fato tem grande relevância para a análise da evolução
do PIB, pois, como já mencionado, a Bahia como unidade da federação brasileira passou
por grandes problemas nos setores demandantes de recursos (atrelados ao crédito de
longo prazo, praticamente inexistente nesse período). Essa conjuntura prejudicou muito
o desempenho do setor de serviços baianos que, aos poucos, perdeu participação.

‚‚ b) pela política de atração de indústrias que se consolidou no Estado, atraindo uma


montadora de veículos e seus sistemistas, grande geradora de valor agregado, e ou-
tras tantas indústrias calçadistas, grande geradoras de emprego. O empreendimento do
Complexo Amazon que trouxe uma unidade da Ford para a Bahia gerou efeitos multipli-
cadores para a economia estadual. Como decorrência desse processo, vários sistemistas,
inclusive de outros países, vieram para a Bahia e começaram a consolidar a indústria
________________________
automobilística no Estado. Em menos de cinco anos de operação, a montadora baiana
________________________
já bateu recordes de produção, e antecipou etapas, inicialmente previstas para 2006.
A despeito disso, a “baianização” dos veículos ainda é pequena tal qual o montante de
________________________
empregos diretos gerados vis a vis o montante dos investimentos, devido a grandes ________________________
recursos tecnológicos utilizados na produção. ________________________
________________________
________________________
A reformulação das atividades industriais baianas, como parte de um plano, da ________________________
diversificação produtiva, alcançou maior impulso, a partir de 2001, com o lançamento ________________________
de uma política de atração de investimentos para estimular fluxos de produção e renda ________________________
no Estado. Segundo dados da Secretaria de Indústria e Comércio e Mineração do Es- ________________________
tado (2005), foram realizados na Bahia no período 2000-2007 cerca de R$30,7 bilhões ________________________
em investimentos industriais, responsáveis por aproximadamente 135 mil empregos ________________________
diretos. Merece destaque o fato de que 80% desses investimentos foram destinados à ________________________
implantação de novas plantas industriais no Estado, sendo, portanto, 20% outros des- ________________________
tinados à reativação de plantas já existentes. Desta forma, vieram para a Bahia entre ________________________
2000 e 2007, diversas indústrias de diversas áreas. Delas destacam-se, seja pelo valor ________________________
do investimento, seja pela elevada geração de emprego e valor agregado: a FORD e ________________________
seus sistemistas de produção, a VERACEL CELULOSE, atualmente maior produtora de ________________________
celulose do mundo, a MONSANTO, com produção de fertilizantes e diversas indústrias ________________________
calçadistas, que são grandes geradoras de empregos. O destaque deste último empre- ________________________
endimento deve ser dado ao fato de ter permitido uma ”interiorização” pelo território ________________________
baiano. ________________________
________________________
________________________
90 Tabela 3: Investimentos Industriais Realizados no Estado da Bahia no período de 2000 a 2007

conjuntura
econômica

Fonte: SICM (2008)

O PIB da Bahia alcançou, nesse período, uma taxa média de 3,8% de crescimen-
to, acumulando 20,3%. Ainda em relação à taxa acumulada os grandes destaques fi-
caram por conta da indústria de transformação (40,5%), agropecuária (31,4%) e, em
menor fôlego, o setor de serviços (11,6%).

Um outro aspecto que pode ser observado com a implementação dos novos
________________________
arranjos produtivos é a mudança no perfil industrial da Bahia, que em 2001 chegou a
________________________
concentrar mais de 57% da estrutura de sua indústria de transformação no segmen-
________________________
to químico. A geração do valor agregado de uma indústria automobilística, além dos
________________________
investimentos nas indústrias de papel e celulose e alimentos, têm contribuído para a
________________________
diminuição na participação dessa estrutura, que passa, ainda que timidamente, por
________________________
um processo de desconcentração industrial.
________________________
________________________
________________________
________________________ A Bahia apresentou nesse período um crescimento médio do PIB superior ao

________________________ do Brasil (na média — 3,8% Bahia e 2,2% Brasil — no acumulado, 20,3% Bahia e 11,4%

________________________ Brasil). Os investimentos alocados no Estado proporcionaram uma elevação da base

________________________ produtiva e da geração de valor agregado. Tais investimentos, além de se constituírem

________________________ em impulso à indústria de transformação, foram fundamentais para a competitividade

________________________ — inclusive internacional — do Estado.

________________________
________________________
________________________ Em relação a esta última observação, é importante destacar a evolução do co-
________________________ mércio exterior da Bahia nesse período. Somente em 2005, o Estado da Bahia atingiu o
________________________ recorde de sua história econômica recente, quando suas exportações somaram apro-
________________________ ximadamente U$6 bilhões, expandindo-se 48% em relação a 2004. A título de infor-
________________________ mação, apenas para que se perceba a relevância do resultado estadual, nesse mesmo
________________________ período as exportações brasileiras expandiram-se 23%.
________________________
________________________
Tabela 4: Balança Comercial da Bahia - 2000-2005
91

conjuntura
econômica
Fonte: MDIC/SECEX (2006)

Em 2001, a economia baiana apresentou uma taxa de crescimento apenas satis-


fatória (aproximadamente 1,0%), como reflexo de uma conjuntura bastante conflituo-
sa. Crise de energia, desaceleração da economia norte-americana, crise na Argentina,
ataques terroristas, desvalorização do Real marcaram negativamente este período. Na
Bahia, houve ainda uma intensa seca, que atingiu praticamente todos os estados da
região Nordeste e prejudicou sensivelmente o desempenho do setor agropecuário,
não podendo esquecer da posição de destaque que o mesmo tem na estrutura do
PIB.

Nesse cenário, o governo brasileiro foi obrigado a agir, primeiro, para tentar
separar as imagens do Brasil e da Argentina; em segundo lugar, para manter a meta
inflacionária, grande âncora do Plano Real e condição obrigatória dos acordos de aju-
da monetária com o FMI. Esses compromissos praticamente congelaram a ação da
política macroeconômica brasileira em 2001.
________________________
Para tentar equilibrar a economia frente a tantos problemas, o Governo foi
________________________
obrigado a manter elevadas as taxas de juros internas. Na macroeconomia básica, um
________________________
aumento na taxa de juros, em que pese à diminuição da liquidez da economia com re-
________________________
dução na inflação, tem como reflexo imediato uma retração nos investimentos produ-
________________________
tivos que, por sua vez, diminuem a demanda agregada e paralisam a atividade interna.
________________________
Em um cenário como esse, diminui a procura pelo crédito e a inadimplência aumenta.
________________________
Sofrem os impactos dessa situação o comércio, que depende muito dos financiamen-
________________________
tos de médio e longo prazo; a indústria, que é fomentada pelos investimentos produ-
________________________
tivos e que, praticamente em sua totalidade, utiliza insumos importados (comprados
________________________
em dólar); e outros setores, como os serviços que, inevitavelmente, apresentaram di-
________________________
minuições nos indicadores de emprego e renda.
________________________
Em 2003, com a eleição do novo presidente que ao longo de sua história políti- ________________________
ca tinha posições contrárias à política econômica que vigorava até então, esperava-se ________________________
uma mudança nesse quadro de juros altos para combater a inflação e segurar o câm- ________________________
bio. Esperava-se também o reinicio de um projeto nacional desenvolvimentista capaz ________________________
de fomentar o crescimento econômico para todas as regiões do Brasil. Entretanto, o ________________________
que se tem acompanhado é a manutenção das “regras do jogo” em que o mercado ________________________
continua imperando de forma absoluta e o cumprimento das metas de inflação o úni- ________________________
co objeto de política econômica. Nesse cenário, fica difícil fazer qualquer prognóstico ________________________
sobre o desempenho macroeconômico do país, que apresentou crescimento da eco- ________________________
nomia ao longo dos anos 2000, muito mais pela insuficiência da demanda agregada ________________________
do que pelo projeto colocado em prática. ________________________
________________________
O Brasil, e particularmente a economia baiana (e nordestina de maneira geral),
________________________
carece de um projeto nacional de desenvolvimento mais engajado em diminuir os
92 desequilíbrios regionais do Brasil desenvolvido do Sul e Sudeste, e o empobrecido do
Norte e Nordeste. Ou seja, enquanto vigorar essa política econômica, a agricultura da

conjuntura
econômica
região Nordeste vai continuar a depender das chuvas para apresentar bons resulta-
dos e as atividades que dependem do crédito e do investimento de longo prazo vão
continuar subordinadas ao “nervosismo do mercado” e à tradicional pouca vontade da
iniciativa privada brasileira.

Finalmente, e esperando-se ter alcançado o objetivo proposto inicialmente,


qual seja, mostrar os principais fatos que proporcionaram ou limitaram o crescimento
econômico da Bahia entre 1975 e 2007 — poder-se-ia dizer que política industrial, crise
e recessão, retomada do crescimento e nova configuração industrial são as expressões
que, respectivamente, melhor caracterizam cada um dos períodos aqui delimitados:
1975/1986, 1986/1992 e 1992/2000, 2000/2007.

Síntese
Como ficou demonstrado, nesta aula, o PIB é um indicador macroeconômico
que permite identificar como se dá a geração da riqueza (mas não a sua distribuição)
de um determinado local em um determinado período de tempo. Na Bahia, existem
distintas formas de analisar o comportamento do PIB ao longo do tempo. Particu-
larmente em 2007 esse indicador mensurou um montante de R$109 bilhões, o que
________________________ representa aproximadamente 4,2% da economia brasileira. Apesar disso, a economia
________________________ baiana é extremamente concentrada espacialmente e setorialmente e apresenta uma
________________________ série de problemas econômicos e sociais de difícil equacionamento.
________________________
________________________ questão para Reflexão
________________________
________________________ E então? Depois de ter estudado esse material e de ter refletido sobre o seu
________________________ conteúdo, você acha que crescimento no PIB significa desenvolvimento econômico?
________________________
________________________
Leituras indicadas
________________________
PESSOTI, Gustavo Casseb. Uma leitura da economia baiana pela ótica do PIB –
________________________
1975/2005. Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, a. VIII, n. 14, p. 78-89,
________________________
jul. 2006.
________________________
________________________ Sites Indicados
________________________
________________________ IBGE – Departamento de Contas Nacionais do Brasil:
________________________
www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasnacionais/
________________________
referencia2000/2004_2005/default.shtm
________________________
________________________ Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI:
________________________
www.sei.ba.gov.br
________________________
________________________
________________________
Referências 93

conjuntura
econômica
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELOS, Marco Antônio S. (Org.). Manual de Economia. Equipe de Profes-
sores da USP. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. O PIB da Bahia: 30 anos em análise.


Série de estudos e pesquisas. Salvador: SEI, nº 72, 2006.

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94

conjuntura
econômica

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Aula 07 - FRAGILIDADES DA ECONOMIA 95
BAIANA E A DEPENDÊNCIA EXTERNA

conjuntura
econômica
Autor: Gustavo Casseb Pessoti, adaptada por Carlos Mauricio Castro

Nesta aula, vamos apresentar um pouco da economia baiana atual. Vamos ver
que, se do ponto de vista econômico, o estado vai muito bem como sexta maior eco-
nomia do país, do ponto de vista social, há muitas carências. Este estudo é de funda-
mental importância para a sua compreensão do mercado de trabalho. É imprescindí-
vel que você conheça as possibilidades e limitações do “espaço territorial” onde habita
e onde será alocado, no futuro, como profissional.

PANORAMA ECONÔMICO E SOCIAL DA BAHIA NO SÉCULO


XXI

Como já vimos na Aula 06 da nossa disciplina, essa é a característica estrutural


da economia baiana dos últimos 50 anos:

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Tabela 1 - Composição Setorial do PIB Baiano
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Fonte: SEI (2006) ________________________
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Até 1960, o estado era dependente da produção agrícola, principalmente rela- ________________________
cionado com a atividade cacaueira do sul do estado. A partir da década de 1970, com ________________________
o surgimento do Pólo Petroquímico de Camaçari (1978), esse panorama começa a mu- ________________________
dar. Observe que, já em 1980, o setor secundário da economia dobra de participação, ________________________
atingindo 31,6% de participação econômica. Ainda assim, em função do surgimento ________________________
desse complexo, diversas atividades de serviços auxiliares surgiram, como os serviços ________________________
de alojamento e alimentação, comércio, transporte e armazenagem, e passaram a atu- ________________________
ar a reboque do pólo petroquímico, logrando grande expansão econômica. ________________________
96 A partir de 1990, na época do Governo Collor, poucas alterações ocorreram na
estrutura produtiva da Bahia, até porque a abertura econômica desmedida, a alta in-

conjuntura
econômica
flação do período e a grande corrupção, foram as marcas dessa época. Não veio para
a Bahia nenhum grande empreendimento industrial e pequena foi a participação do
estado brasileiro para diminuir as desigualdades regionais entre o sudeste desenvolvi-
do e o norte e o nordeste excluídos do cenário nacional.

Por isso, no final da década de 1990 e início dos anos 2000, o governo da Bahia
começou com um programa de atração de investimentos industriais através de isen-
ções fiscais e doações de terreno e infraestrutura de apoio. Nesse período, e através
dos incentivos, vieram para a Bahia uma série de novas indústrias dos mais variados
gêneros: calçados, fertilizantes, plásticos, químico e petroquímico, mas o grande em-
preendimento dessa época foi a chegada da Ford e suas empresas auxiliares de com-
ponentes para veículos.

A resposta foi imediata no PIB. Nesse período, a economia baiana cresceu mui-
to. Em 2004, o PIB cresceu quase 10%, o dobro do crescimento da economia brasileira.
Assim, a indústria, ou setor secundário da economia, passou a ser o mais importante
da estrutura produtiva do estado da Bahia.

Mas, será que esse fato é positivo ou negativo? Vamos passar para a próxima
informação para começarmos a formular essa resposta.

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________________________ Gráfico 1- Distribuição Percentual do PIB e da população ocupada por setores produtivos, Bahia, 2005

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________________________ Fonte: SEI (2006)
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________________________ Observe que a estratégia adotada pelo governo baiano, carente de maior su-
________________________ porte do governo federal – que estava preocupado apenas com o controle da infla-
________________________ ção e com os ajustes econômicos deixados pelo governo Collor –, acabou produzindo
________________________ um grande crescimento, mas não houve, em contrapartida, uma geração de empre-
________________________ gos para a economia baiana. Adotar uma estratégia de dar isenção fiscal para atrair
________________________ indústrias foi uma boa alternativa para tornar o estado mais equipado do ponto de
________________________ vista industrial, mas observe que são a agropecuária e o setor de serviços os grandes
responsáveis pela geração de empregos na Bahia. A indústria que é responsável por 97
mais da metade do PIB da Bahia é responsável por apenas 14% do emprego gerado

conjuntura
econômica
na economia baiana.

Agora, olhe que coisa impressionante: a indústria de transformação gera a mes-


ma quantidade de empregos que o trabalho doméstico: 8,7% um e 8,8% o outro. Ou
seja, indústria não foi feita para gerar emprego. Quem gera emprego são os pequenos
negócios e o setor de serviços. Mas isso não aparece politicamente, ou se aparece, de-
mora muito para dar frutos, se é que você me entende. Na Bahia, uma oportunidade
de emprego está no setor turístico, mas demorou muito para que o governo percebes-
se que turismo não é só carnaval, e mais: que a Bahia não é apenas Salvador.

Gráfico 2 - Distribuição dos Ocupados na RMS


Dezembro - 2007

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Fonte: SEI (2007)
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Mas, então, essa estratégia de industrializar-se foi um equívoco, não é mesmo, professor? ________________________
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Infelizmente, não posso concordar com essa resposta e veremos agora o por- ________________________
quê. Observe a pauta de exportações do estado da Bahia. Como você sabe, o comércio ________________________
exterior exerce grande importância na dinamização econômica de um determinado ________________________
local. A partir dele, pode-se lucrar com a venda de produtos e, ao mesmo tempo, com- ________________________
plementar a produção interna, ao importarmos aquilo que não temos condições de ________________________
produzir localmente ou que temos, mas com um alto custo de produção. Reparou bem ________________________
a nossa pauta? Totalmente concentrada em poucos produtos e liderada pela produção ________________________
petroquímica. Se retirarmos também o segmento automotivo, papel e celulose e a me- ________________________
talurgia, o que sobra para todas as demais atividades é extremamente pulverizado. ________________________
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98 Tabela 2 - Principais Segmentos de Exportação da Bahia: 2006 e 2007
VALORES (US$ 1000
VARIAÇÃO PARTICIPAÇÃO
SEGMENTOS FOB)

conjuntura
econômica
2006 2007 % %
Químicos e Petroquímicos 1.351.022 1.580.387 17,0 21,3
Metalúrgicos 1.029.267 1.076.532 4,6 14,5
Petróleo e Derivados 1.099.312 1.003.710 -8,7 13,5
Papel e Celulose 715.376 897.384 25,4 12,1
Automotivo 920.652 761.556 -17,3 10,3
Soja e Derivados 270.403 392.559 45,2 5,3
Minerais 221.742 222.487 0,3 3,0
Cacau e Derivados 209.561 224.650 7,2 3,0
Borracha e suas Obras 75.985 246.847 224,9 3,3
Café e Especiarias 111.100 118.187 6,4 1,6
Couros e Peles 92.372 108.997 18,0 1,5
Sisal e Derivados 82.840 84.330 1,8 1,1
Algodão e seus Subprodutos 107.654 153.150 42,3 2,1
Móveis e Semelhantes 71.502 65.563 -8,3 0,9
Calçados e suas Partes 62.489 82.542 32,1 1,1
Frutas e suas Preparações 115.469 138.252 19,7 1,9
Maq., Apars. e Mat. Elétricos 57.670 74.975 30,0 1,0
Fumo e Derivados 24.614 22.480 -8,7 0,3
Pesca e Aquicultura 12.067 7.597 -37,0 0,1
Demais Segmentos 142.202 146.544 3,1 2,0
Total 6.773.299 7.408.729 9,38 100,00
Fonte: MDIC/SECEX, Dados Coletados em 12//11/2007
Elaboração: PROMO - Centro Internacional de Negócios da Bahia

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________________________ Para tentar transformar esse quadro de dependência da produção química é

________________________ que aquela política de atração de investimentos industriais premiava com isenção,

________________________ por período mais longo, aqueles empreendimentos ligados à indústria de bens finais,

________________________ complementares da cadeia petroquímica. Por isso, o estado insistiu tanto com a tenta-

________________________ tiva de dinamizar outros municípios e outras atividades econômicas.

________________________
________________________ Ah, então, a atração de investimentos industriais conseguiu ao menos dinamizar a
________________________ economia baiana?
________________________
________________________ Vejamos como é rica e complexa a análise da economia baiana. Para que essa
________________________ dinamização ocorresse, era preciso, já que a nossa pauta de exportações é concentrada
________________________ no segmento químico, pelo menos, que as nossas importações fossem complementa-
________________________ res à produção química, mostrando que nós, para dinamizarmos o nosso parque in-
________________________ dustrial, importássemos máquinas e equipamentos. Mas, o que revela a tabela é que a
________________________ maior parte das nossas importações é também de produtos químicos, para nossa frus-
________________________ tração. Para produzir os produtos petroquímicos, a Bahia necessita da matéria-prima,
________________________ ou seja, nafta. Como a Petrobras da Bahia não produz tudo aquilo que nossa produção
________________________ necessita, temos que importar. Resultado da ópera: exportamos petroquímicos e im-
________________________ portamos petroquímicos!
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Tabela 3 - Importações baianas por categorias de uso 2006/2007
99

conjuntura
econômica
Então, para analisar a economia baiana, precisaremos apresentar outros indi-
cadores. Dessa forma, teremos condições de fazer o nosso julgamento final sobre a
estratégia recente de tentativa de desenvolver a economia baiana. Comecemos pelo
PIB, indicador que mede o desempenho da atividade econômica de local em determi-
nado período de tempo.
Gráfico 3 - Desempenho do Valor Agregado da Agropecuária, da Indústria de Transformação e do Comércio, Bahia: 2003-2007

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Fonte: SEI (2008) ________________________
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Como podemos observar, com base no gráfico, a despeito de, até esse momen- ________________________
to, não podermos formar uma opinião concreta a respeito da atual economia baiana, ________________________
as atividades econômicas do estado têm mostrado uma evolução bastante favorável ________________________
nos últimos anos, principalmente no setor industrial! Por isso, um efeito positivo da ________________________
atração dos investimentos industriais foi alavancar a indústria, que, desde 2000, vem ________________________
crescendo em ritmo progressivo. Mas, você reparou que, mesmo sem incentivos, a ________________________
agropecuária, que gera bastante emprego, é quem teve o melhor desempenho nessa ________________________
série considerada. Em 2004, cresceu mais de 24%. Também o setor comercial, que gera ________________________
bastante emprego, tem um comportamento ascendente ao longo da série, exceto nos ________________________
anos de mudança eleitoral (2003), pois, com medo do efeito Lula, FHC teve que au- ________________________
mentar muito a taxa de juros para combater a inflação. ________________________
100 Em 2007, foram quase R$5 bilhões em investimentos industriais e a previsão
para o período de 2008-2012, é de quase R$20 bilhões em novos investimentos indus-

conjuntura
econômica
triais.
Tabela 4 - Investimentos industriais previstos por atividade econômica no Estado da Bahia - Ano 2008-2012

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________________________ Apesar da expectativa de se gerar 81 mil novos postos de trabalhos com os
________________________ projetos industriais, esse número é bastante longe do ideal, frente ao “estoque de
________________________ desemprego” que temos acumulado. Ou seja, vamos continuar com um contingente
________________________ grande de desempregados que não vão conseguir acesso ao mercado de trabalho.
________________________ Senão, vejamos:
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________________________ Tabela 5 - Indicadores do Mercado de Trabalho - Bahia, 2005-2006

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Fonte: IBGE - PNAD (2007)
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A tabela divulgada em 2007 demonstra que os indicadores não eram favorá- 101
veis. Como se pode notar, a população da Bahia estava situada em torno de 14 milhões

conjuntura
econômica
de pessoas. Desse contingente, pouco mais de 7,1 milhões são os chamados economi-
camente ativos, isto é, aptos e querendo trabalhar. Mas, na limitada economia baiana,
só há espaço para 6,5 milhões. Isto é, cerca de 700 mil pessoas que querem e podem
trabalhar não conseguem emprego. Vamos entender isso melhor ao refletirmos: será
que esse contingente de desempregados tem preparo técnico necessário para a nova eco-
nomia do século XXI? Uma economia marcada pela globalização e pela internacionaliza-
ção das comunicações?

Gráfico 4 - Taxa de Analfabetismo funcional - Bahia, 1993/2006

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Fonte: IBGE - PNAD (2007)
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As informações do grau de instrução da população baiana deixam qualquer ________________________
economista estarrecido e o pior, sem solução de curto prazo para resolver esse pro- ________________________
blema estrutural. Mais de 35% da população baiana são analfabetos funcionais (isto é, ________________________
sabem ler e assinar o nome, mas não conseguem compreender o que leem)! É muita ________________________
gente! Como colocá-los no mercado de trabalho? Você contrataria para sua empresa ________________________
uma pessoa dessas? Pois é, os grandes empresários que têm investido na Bahia tam- ________________________
bém não querem! ________________________
E a tabela a seguir não deixa qualquer dúvida sobre a questão que estamos ________________________
querendo enfatizar. Repare os dados propositalmente assinalados em vermelho. 30% ________________________
da população economicamente ativa da Bahia, situada na zona rural, são analfabetos. ________________________
Se considerarmos aqueles que não têm sequer o nível fundamental completo, eles ________________________
atingem 86% da população economicamente ativa da zona rural da Bahia. Só 3% dos ________________________
baianos têm mais de 15 anos de ensino. ________________________
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102 Tabela 6 - População economicamente ativa por situação do domicílio segundo grupos de anos de estudo - Bahia, 2006

conjuntura
econômica

Fonte: IBGE - PNAD (2007)

Essa informação é relevante, pois, quanto mais baixo o grau de instrução da


população, menor o seu nível de renda. Então, você, quando formado, vai trabalhar
________________________ num mercado limitado e bastante concentrador de rendas. Vejamos um pouco mais
________________________ de perto alguns números que evidenciam quão limitada e concentrada é a economia
________________________ da Bahia.
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________________________ Tabela 7 - PIB Municipal: Produto Interno Bruto a preços correntes por região econômica - Bahia, 2009
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Fonte: SEI/IBGE (2010)
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Tabela 8 - PIB Municipal: dez maiores municípios - Bahia, 2009
103

conjuntura
econômica
Fonte: SEI/IBGE (2010)

Pelos números disponíveis na tabela 8, podemos ver que apenas três muni-
cípios (Salvador, Camaçari e São Francisco do Conde) respondem por cerca de 41%
da economia baiana. A importante cidade de Feira de Santana só representa 4,6% da
economia baiana. Dá a impressão de que essa informação está errada, não é? Apesar ________________________
de ser a “porta de entrada” da capital baiana, Feira de Santana, com tantos serviços, só ________________________
pesa 4,6% do PIB baiano. Queria ser animador e dizer que realmente esse dado está in- ________________________
correto, mas a verdade é que a economia baiana é a Região Metropolitana de Salvador. ________________________
O restante da economia baiana é bastante pulverizado e sem grande expressividade. ________________________
Vejamos um número ainda mais curioso. ________________________
Tabela 9 - PIB Municipal: dez menores municípios - Bahia, 2009 ________________________
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Fonte: SEI/IBGE (2010)
104 A tabela 9 demonstra os municípios mais pobres da Bahia e nela se pode cons-
tatar que, dos 417 municípios da Bahia, os 57 mais pobres juntos chegam um pouco

conjuntura
econômica
além de 1% do PIB do estado. Percebe-se, a partir daí, a questão da desigual distribui-
ção da riqueza gerada no Estado da Bahia.

Infelizmente, moramos em um estado pobre, composto, em sua grande maio-


ria, de pessoas com baixas taxas de alfabetização, e grande concentrador de rendas,
com uma enorme população desempregada e sem perspectivas de ingresso no mer-
cado de trabalho local.

Para finalizar esta aula, vejamos alguns mapas econômicos da Bahia segundo
atividades econômicas. A legenda permite uma visualização objetiva das realidades
desiguais da distribuição da produção.
Figura 1 - Mapa do PIB Municipal a preços correntes, Bahia - 2007

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Fonte: SEI (2008)
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Figura 2 - Mapa do Valor adicionado dos serviços, Bahia - 2007
105

conjuntura
econômica
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Fonte: SEI (2008)
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É fácil observar que existe um grande vazio econômico na região semiárida da ________________________
Bahia, que ocupa 2/3 do território baiano, ou 70% da população. Retirando a Região ________________________
Metropolitana de Salvador, é a região Oeste que tem destaque na produção do agro- ________________________
negócio e o extremo sul do estado que se destaca por conta da produção de celulose, ________________________
quase a totalidade dos demais espaços apresenta atividades econômicas rudimenta- ________________________
res, de subsistência e de baixa penetração no mercado internacional. ________________________
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Se analisarmos o mapa a seguir, agora analisando apenas os espaços do territó-
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rio que são mais industrializados, a concentração é ainda mais brutal e restrita à Região
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Metropolitana de Salvador, principalmente em Camaçari, onde está o Pólo Petroquí-
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mico, e São Francisco do Conde, em função da refinaria da Petrobrás.
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106 Figura 3 - Mapa do Valor adicionado da indústria, Bahia - 2007

conjuntura
econômica

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________________________ Fonte: SEI (2008)

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Como não podia deixar de ser, do ponto de vista da agropecuária, há uma maior
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harmonia dos espaços, evidenciando que a grande vocação econômica do estado está
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na agricultura, a despeito das políticas econômicas do estado nos últimos 20 anos
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terem sempre privilegiado a industrialização. Observe a uniformidade das regiões de
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produção agropecuária no mapa que se segue:
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Figura 4 - Mapa do Valor adicionado da agropecuária, Bahia - 2007
107

conjuntura
econômica
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Fonte: SEI (2008) ________________________
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Esses mapas, assim como as informações contidas nas tabelas anteriores, não
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deixam a menor dúvida de que o processo de desenvolvimento econômico acontece
________________________
muito lentamente na Bahia. O desenvolvimento, já definido em aulas anteriores, é um
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processo de transformação da estrutura produtiva de um determinado local em que,
________________________
após esse processo, há uma melhoria na qualidade de vida da população desse local.
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O que nós observamos é que as políticas econômicas adotadas na Bahia, nos ________________________
últimos anos, realmente geraram crescimento econômico, tanto sim que o PIB acu- ________________________
mula ano após ano taxas positivas, muitas vezes superiores às registradas pela própria ________________________
economia brasileira. Entretanto, não houve uma distribuição justa desse crescimento ________________________
entre as mais longínquas áreas do estado. A riqueza concentrou-se basicamente em 20 ________________________
municípios dos 417 municípios existentes. ________________________
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A maior parte desses municípios é pequena, e sem qualquer viabilidade econô-
108 mica. Eles sobrevivem graças às transferências constitucionais, principalmente advin-
das da distribuição do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e

conjuntura
econômica
o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Nesses municípios, os pesos da admi-
nistração pública e dos recursos do INSS (aposentadoria e pensões) são fundamentais
para o giro dos negócios, pois a renda oriunda das atividades econômicas é extrema-
mente pequena e quase sempre concentrada na produção da subsistência.

Do ponto de vista dos serviços, a atividade econômica na Bahia também é bas-


tante limitada. Embora disponha de uma vasta possibilidade de exploração de ativida-
des culturais, o governos da Bahia, erroneamente sempre associou turismo ao carna-
val, o que jogou por terra possibilidades de desenvolvimento regional. Só agora, em
pleno desenvolvimento do século XXI, é que começam a se desenvolver alternativas
de roteiros turísticos pelo interior do estado (principalmente pela costa do descobri-
mento), mas a exploração do chamado turismo de eventos ainda é bastante incipien-
te. Na contramão de nossas belezas naturais, estão a falta de planejamento do desen-
volvimento, o nosso limitado mercado interno e o despreparo técnico e científico de
nossa população, principalmente a do interior do estado.

Com uma população despreparada para os novos desafios impostos pela glo-
balização mundial e pelo atraso econômico e social que nós temos em relação aos
centros mais desenvolvidos do país, que estão localizados no Sul e no Sudeste, cabe
à Bahia, assim como ao Nordeste, um papel apenas secundário na dinamização eco-
nômica do país. Sem um planejamento do desenvolvimento, uma política de cunho
________________________
nacional que repense os gargalos e os desequilíbrios das economias regionais, conti-
________________________
nuaremos a depender de políticas assistencialistas e continuar elegendo os governan-
________________________
tes que, ao invés de defender uma reforma estrutural no país, continuam oferecendo
________________________
para a população remédios apenas paliativos. Por isso, o tema da aula é a fragilidade
________________________
do desenvolvimento baiano, mas poderia ser perfeitamente a inexistência do referido
________________________
processo.
________________________
________________________
________________________ SÍNTESE
________________________
________________________ A economia baiana apresenta, em pleno desenvolver do século XXI, uma forte
________________________ concentração espacial e setorial. Do ponto de vista setorial, sua atividade está concen-
________________________ trada na produção química e petroquímica, sobretudo por empresas fortemente liga-
________________________ das ao mercado internacional como a Braskem e a Petrobras. Na pauta de exportações
________________________ e importações do estado, os segmentos químicos e derivados sempre figuram como
________________________ os mais importantes. Do ponto de vista espacial, a economia baiana está concentrada
________________________ em aproximadamente 20 municípios, que juntos representam mais de 80% do PIB do
________________________ estado. Apenas para lembrar, no total, 417 municípios compõem o estado da Bahia.
________________________ Somente os municípios da Região Metropolitana de Salvador são responsáveis por
________________________ mais de 50% das riquezas produzidas no estado.
________________________
Do ponto de vista social, o estado apresenta problemas estruturais de difíceis
________________________
soluções. Uma taxa de analfabetismo muito alta e um grande desemprego de sua po-
________________________
pulação. Segundo os dados do IBGE, somente em 2006, eram cerca de 700 mil desem-
________________________
pregados.
________________________
Objetivando mudar esse quadro e realizar um processo de desenvolvimento, 109
o governo do estado “apostou” na estratégia de atração de investimentos industriais.

conjuntura
econômica
Longe de alcançar o objetivo, que só pode ser feito com o apoio do governo federal e
a criação de um projeto nacional desenvolvimentista, houve grande crescimento do
PIB, mas não houve, nesse mesmo período, melhoria na qualidade de vida da popula-
ção, que continua marginalizada, em sua grande maioria, e dependente de medidas
assistencialistas, como os programas Bolsa Família, Vale Gás etc.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Quais são os principais fatores que justificam o baixo dinamismo da economia
baiana quando comparados com os principais centros, localizados nas regiões Sul e
Sudeste do país?

LEITURAS INDICADAS
PESSOTI, Gustavo Casseb. Uma leitura da economia baiana pela ótica do PIB –
1975/2005. Revista de desenvolvimento econômico, Salvador, a. VIII, n. 14, p. 78-89,
jul. 2006.

GUIMARÃES, José Ribeiro Soares. Panorama social da Bahia com base na


PNAD 2007. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
On-line, disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_c ________________________
ontent&view=article&id=303:panorama-social-da-bahia-com-base-na-pnad- ________________________
2007&catid=3:destaques>. ________________________
________________________
________________________
SITES INDICADOS ________________________
________________________
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br
________________________
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): www.sei.ba.gov.br ________________________
________________________
________________________
REFERÊNCIAS ________________________
________________________
ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA, 1, 2, 3 e 4. Salvador. Anais... Salvador: SEI, 2005, 2006, 2007 e 2008. 4 ________________________
CD-ROM. ________________________
________________________
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. O PIB da Bahia: 30 anos em Análise. ________________________
Série de Estudos e Pesquisas. Salvador, SEI, n. 72, 2006. ________________________
________________________
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Economia Brasileira e Baiana no pós- ________________________
Real. Revista Bahia Análise & Dados, Salvador, SEI, n.4, v. 16, 2007.
________________________
________________________
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Revista Conjuntura & Planeja-
________________________
mento. Salvador, SEI, 2008.
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110

conjuntura
econômica

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AULA 08 - ANÁLISE DA QUESTÃO DA DESI- 111
GUALDADE E DO DESENVOLVIMENTO SO-

conjuntura
econômica
CIOECONôMICO DOS NEGROS NA ECONO-
MIA BRASILEIRA e BAIANA
Autor: Carlos Maurício Castro

Prezado aluno, em aulas anteriores foram abordados os tópicos relativos a as-


suntos que deram a dimensão ampla sobre Teoria Econômica e Formação econômica
da Bahia e do Brasil.

Desta forma, não poderíamos deixar de tratar sobre um tema de fundamental


importância para um país que cresce e quer se tornar grande, que é o de combater as
desigualdades sociais tratadas em aulas anteriores mais precisamente nas aulas de nú-
mero 05 e de número 07 em que foram abordadas questões sobre Crescimento e De-
senvolvimento Econômico, e sobre as desigualdades existentes no Estado da Bahia.

Nesta aula, versaremos sobre o papel do negro na formação econômica do Bra-


sil, as contradições do processo abolicionista que libertou os escravos sem ter dado a
eles as perspectivas de inclusão social e analisaremos as consequências decorrentes ________________________
deste processo excludente. Trataremos, também, sobre os resultados das ações das ________________________
chamadas políticas de ações afirmativas ou reparatórias e seus resultados socioeconô- ________________________
micos que têm por objetivo uma integração mais justa como forma de combater uma ________________________
das maiores desigualdades ocorridas tanto no Brasil quanto na Bahia. Deste modo, ________________________
veremos que estas ações nada mais são que uma tentativa de reparação da distorção ________________________
socioeconômica que ocasionou uma grave exclusão racial. ________________________
________________________
Esse estudo é extremamente importante para entender, de forma mais pontual,
________________________
a desigualdade entre negros e brancos, e para que possamos ter uma maior dimensão
________________________
sobre o tema da desigualdade em suas várias faces.
________________________
________________________
________________________
________________________
A DESIGUALDADE SOCIAL NO MUNDO E NO BRASIL
________________________
A desigualdade social é uma questão mundial que assola as nações em diferen-
________________________
tes proporções. A desigualdade ainda é uma das maiores preocupações da humanida-
________________________
de e em aulas anteriores aprendemos um pouco sobre um dos principais indicadores
________________________
para mensurar a desigualdade existente no mundo, o IDH (Índice de Desenvolvimento
________________________
Humano), que é periodicamente divulgado pela ONU.
________________________
________________________
Segundo Dias (2010, p. 188), “a expressão ‘desigualdade social’ descreve uma ________________________
condição na qual os membros de uma sociedade possuem garantias diferentes de ri- ________________________
queza, prestígio ou poder.” Para o autor, a “igualdade é uma impossibilidade social”, ________________________
pois do mesmo modo que toda sociedade possui indivíduos com diferenças de idade, ________________________
sexo, força, inteligência, beleza, etc., as comunidades também apresentam diferenças
112 de oportunidades.

Entender o pensamento de Karl Marx é de extrema importância para compre-

conjuntura
econômica
ender a origem das desigualdades dentro do sistema capitalista. Para Marx, a questão
da análise das classes é o elemento central ao se avaliar os indivíduos. Para ele, a so-
ciedade capitalista tem como regente a relação existente entre o capital e o trabalho
assalariado.

No entender de Marx existem duas classes fundamentais nesta relação: os ca-


pitalistas personificados na burguesia e o proletariado que são os trabalhadores as-
salariados. Essas duas classes, ao mesmo tempo em que se opõem, se complemen-
tam, pois uma não existe sem a existência da outra. No entanto, ambas vivem sob
um constante conflito que contrapõe interesses e formas de enxergar o mundo. Marx
considera que a estrutura de classes na sociedade capitalista é o próprio movimento
interno desta estrutura e que a oposição entre a burguesia e o proletariado é a base
da transformação social. A esta oposição e divergências e a busca pela prevalência do
direito de um acima do outro é chamada de luta de classes. Essa luta não é travada em
movimentos somente violentos e com confrontos armados, mas cotidianamente nos
procedimentos institucionais, políticos, policiais, legais e ilegais dos quais as classes
dominantes se utilizam para manutenção do status quo, ou seja, a manutenção
dos privilégios. A finalidade desse embate era para determinar a organização do pro-
cesso de trabalho e da forma de dividir socialmente a riqueza gerada pelo processo de
produção pelo lado dos burgueses e de combater essas desigualdades distributivas, a
________________________
exploração, a dominação, e as injustiças sociais por parte dos trabalhadores.
________________________
________________________ Outra questão importante para entender a desigualdade moderna é a compre-
________________________ ensão do chamado processo de globalização. Esse processo é associado à chamada
________________________ quebra das fronteiras de produção e de consumo entre as nações e traz também con-
________________________ sigo a intensificação das desigualdades e o distanciamento entre países mais ricos e
________________________ mais pobres, aumentando, assim, o fosso entre essas nações. As nações mais frágeis,
________________________ que não têm condições competitivas, acabam por se tornarem reféns de produtos ma-
________________________ nufaturados de países industrializados e transferem parte significativa de suas ren-
________________________ das, nas relações desiguais de trocas, para as nações desenvolvidas, acentuando as
________________________ desigualdades, transferindo postos de trabalho e criando dependência tecnológica e
________________________ disparidades econômicas graves.
________________________
Outro fator que tem contribuído para a intensificação das desigualdades, in-
________________________
clusive em nações em que existe um menor distanciamento entre ricos e pobres, tem
________________________
sido o desmonte das funções sociais do Estado, vivenciada em Países em que o cha-
________________________
mado Welfare State ou Estado de Bem Estar Social era praticado, com intuito de
________________________
manter condições sociais mais adequadas e justas aos cidadãos. A justificativa para a
________________________
desarticulação dessas políticas é a atual crise fiscal vivida em grande parte pelas na-
________________________
ções da Europa, abalada pela crise econômica mundial que desarticulou as econo-
________________________
mias desenvolvidas e que, até os dias de hoje, deixou suas sequelas. Uma das soluções
________________________
apresentadas para a solução desta situação são as chamadas medidas de redução de
________________________
despesas que nada mais são que a adoção de práticas liberais com cortes de gastos em
________________________
áreas sociais (saúde, educação, previdência social etc.), além de cortes de empregos
________________________
nos quadros do próprio Estado nestas nações.
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A atual conjuntura social e econômica no mundo tem se mostrado desfavorável 113
quando se avalia a distribuição do resultado social da produção nos países mais de-

conjuntura
econômica
senvolvidos. Essas nações, inclusive, tinham nos seus indicadores sociais um modelo a
ser copiado e perseguido por parte dos demais países.

O que se enxerga hoje é uma mudança na distribuição da riqueza gerada no


mundo e na criação de postos de trabalho em nações que até 30 anos atrás, não figu-
ravam em indicações de preferência por parte de investidores estrangeiros. Isso seria
positivo para as nações que receptam estes postos de trabalho, se isso também não
viesse com a precarização dessas funções bem como a mobilidade destes postos que
se vão à medida que os incentivos fiscais (tributários) acabam ou à medida que outras
nações oferecem vantagens melhores e custos de produção menores.

No Brasil, a desigualdade é multifacetada e ainda é uma barreira a ser trans-


posta. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011, o indicador
de desenvolvimento humano brasileiro é de 0,718, (numa escala de 0 a 1), e coloca o
Brasil atualmente na 84ª posição no ranking medido pela organização das nações
unidas. Ainda que tenhamos algumas percepções positivas a respeito destes núme-
ros já que o Brasil tem subido no ranking, ainda temos muito a resolver em relação
a estes indicadores, e muitos passivos sociais a serem combatidos já que nossos in-
dicadores internos nos estados e municípios brasileiros, nos trás um país totalmen-
te desigual. O relatório mais recente com o IDH dos estados brasileiros foi publicado
em 2010, com os dados do Censo 2007-2009. Segundo o site brasileiro do Progra-
________________________
ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.
________________________
aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH), o Censo com os dados de 2010 serão publicados
________________________
em 2013.
________________________
Vejamos, a seguir, a tabela de IDH divulgada dos estados brasileiros para com- ________________________
pararmos essa dimensão. ________________________
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Tabela1 - IDH por Estados Brasileiros
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Distrito Federal 0,900 Rondônia 0,784
Santa Catarina 0,860 Roraima 0,782
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São Paulo 0,857 Pará 0,782 ________________________
Rio de janeiro 0,852 Acre 0,780 ________________________
Rio Grande do Sul 0,847 Sergipe 0,770 ________________________
Paraná 0,846 Bahia 0,767 ________________________
Mato Grosso do Sul 0,830 Rio Grande do Norte 0,753 ________________________
________________________
Minas Gerais 0,825 Paraíba 0,752
________________________
Goiás 0,824 Ceará 0,749
Espírito Santo 0,821 Pernambuco 0,742 ________________________
Mato Grosso 0,808 Piauí 0,740 ________________________
Amapá 0,800 Maranhão 0,724 ________________________
Amazonas 0,796 Alagoas 0,722 ________________________
Tocantins 0,784     ________________________
Tabela criada pelo autor. Fonte dos dados: PNDU - Sistematizados pela SEI
________________________
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114 A tabela demonstra os indicadores de desenvolvimento humano dos estados
brasileiros, que leva em consideração alguns aspectos da vida dos brasileiros, desde o

conjuntura
econômica
nascimento até a expectativa média dos anos de escolaridade e renda nacional bruta
per capta. Deste modo, percebe-se que o Brasil possui várias contradições em suas
regiões.

Temos vários “Brasis”. Podemos afirmar isso através dos indicadores de desen-
volvimento humano brasileiro, sinalizados nessas duas tabelas. Os dados nos dão uma
dimensão destas contradições contidas a partir das distinções desses índices, bem
como uma qualidade de vida totalmente distinta em regiões da federação. É impor-
tante ressaltar que são nas regiões norte e principalmente nordeste do país onde estão
os piores indicadores, tendo os estados do Maranhão e Alagoas os piores indicadores
do IDH no país.

Tabela 2 - IDH por Regiões do Brasil

Região Sul 0,850


Região Sudeste 0,847
Região Centro-Oeste 0,838
Região Norte 0,786
Rgião Nordeste 0,749

________________________ Tabela criada pelo autor. Fonte: PNDU - Sistematizados pela SEI

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O mapa a seguir também nos dá uma dimensão visual do IDH disperso entre as
________________________
varias regiões do Brasil, avaliando a partir do desempenho de IDH entre estados que
________________________
tem um nível de IDH elevado, médio alto e médio baixo, de acordo com os indicadores
________________________
de desenvolvimento humano apurados pela Organização das Nações Unidas.
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________________________ Figura 1 - Figura construída pelo autor com base nos dados da tabela 2
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________________________ Fonte IBGE (2007)
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________________________ Os indicadores acima expostos nos trazem uma clara dimensão da concentra-
ção das desigualdades dispersas entre as várias regiões do país. Estudaremos a seguir
como a formação econômica do Brasil contribuiu para acentuar as desigualdades ra- 115
ciais e sociais do país.

conjuntura
econômica
A FORMAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA A PARTIR DA
OCUPAÇÃO TERRITORIAL ESCRAVISTA E DE IMIGRAÇÃO

No Brasil, o elemento racial está estreitamente conjugado à questão da forma-


ção econômica da sociedade brasileira. A escravidão já era uma prática existente e
recorrente no continente africano desde a antiguidade, e ela ocorria por motivações
variadas tais como: ter sido prisioneiro de guerra, punições por crimes, pagamento de
dívidas, etc.

A partir do século XV é configurado um novo modelo de escravidão com carac-


terísticas mais capitalistas na sua estrutura já que uma das principais finalidades era
o acúmulo de riquezas decorrentes desta “prática econômica”. Este tipo de atividade
ganha um substancial impulso quando os europeus começam a entrar intensamente
nesta empreitada. O interesse do lucro resultante deste “comércio humano” e que se
consistia fundamental para a acumulação de capital, era a justificativa para os chama-
dos negócios escravos.

De acordo com Klein (1987), mais de onze milhões de escravos entre homens,
mulheres e crianças, foram capturados e levados compulsoriamente para as regiões
intituladas de novo mundo entre os séculos XVI e XIX. Sendo que neste período, o Bra- ________________________
sil foi o território que mais recebeu escravos africanos (cerca de 40% do contingente ________________________
de negros), sendo o último país a abolir a escravidão. A justificativa para tal volume de ________________________
escravos no território se explica pelo modelo de exploração da colônia portuguesa. A ________________________
necessária ocupação espacial do território, constantemente ameaçado por invasores ________________________
estrangeiros, e as motivações econômicas da metrópole que necessitava obter retor- ________________________
nos imediatos da empreitada colonial, incentivaram Portugal a agir com mais celerida- ________________________
de na sua ocupação nas terras brasileiras. ________________________
________________________
O primeiro grande produto brasileiro que cumpria a missão de exploração agrí-
________________________
cola foi a produção açucareira, que cumpria na verdade duas grandes finalidades. A
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primeira era a missão territorial e estratégica, visto que o cultivo da cana de açúcar
________________________
exigia um adequado contingente de Portugueses na colônia e também exigia um
________________________
grande número de trabalhadores para o seu cultivo. O segundo era por uma motiva-
________________________
ção econômica, o açúcar era um produto caro e totalmente aceito na Europa, gerando
________________________
lucros imediatos para Portugal, que passava neste período por uma crise econômica
________________________
decorrente de excessivos gastos nas ações exploratórias e que carecia de recursos para
________________________
tocar os seus projetos. Desta forma, a cana de açúcar propiciou a resolução destes
________________________
problemas enfrentados pela metrópole portuguesa e como podemos observar dessas
________________________
características, os escravos caíram como um elemento de solução para resolução do
________________________
problema da mão de obra inexistente em Portugal de acordo com o modelo de pro-
________________________
dução escolhido.
________________________
Geograficamente, dentro destas escolhas, o norte e o nordeste do territorial co- ________________________
lonial foram as regiões escolhidas e as capitanias de Pernambuco e da Bahia, foram as ________________________
mais importantes, pois reuniam as características apropriadas em relação à qualidade ________________________
116 do solo e à posição estratégica de proximidade com a metrópole para o escoamento
da produção e da riqueza por ela gerada. A atividade produtiva colonial tinha, então, a

conjuntura
econômica
mão de obra escrava como elemento essencial para garantir a geração de riquezas e os
lucros decorrentes da atividade econômica colonial. Assim sendo, durante um longo
período da história econômica brasileira, os escravos cumpriram essa missão e mesmo
com o declínio da produção açucareira, eles continuaram servindo para outras ativida-
des, como a mineração e a produção do café que também tiveram os seus momentos
de apogeu nos ciclos econômicos do Brasil, tempos mais tarde.

Deste modo, percebe-se que a atividade de escravização africana atendeu a


alguns interesses, tais como: o de amenizar os conflitos entre os missionários jesuítas
e os senhores de engenhos; solucionar economicamente o problema da mão de obra;
garantir uma fonte de lucro adicional para a metrópole portuguesa com a atividade de
comercio dos escravos que era intensa e que atingia várias regiões e povos Africanos,
como ilustra a figura a seguir.

Figura 2 - Atlas Histórico do Brasil

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________________________ Fonte: Campos (1998, p.9)

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________________________ As condições dos escravos africanos eram as piores possíveis. O martírio come-
________________________ çava no próprio aprisionamento já que eram caçados como animais e fugiam para o
________________________ interior do continente para tentar escapar desta possibilidade. Os que eram aprisio-
________________________ nados eram encaminhados ao chamado novo mundo em embarcações conhecidas
________________________ como navios negreiros em uma longa viagem de dois meses, amontoados em porões
________________________ em terríveis condições higiênicas e alimentares. Uma grande parcela destes escravos
________________________ perecia durante esta viagem, os que chegavam vivos eram desembarcados e vendidos
________________________ de maneira dispersa por grupos a fim de evitar identidade comum por parte de grupos
________________________ de mesma região.
________________________
Após chegarem em solos brasileiros, os escravos eram comercializados como
________________________
mercadorias pelos senhores de engenho, iniciando uma nova tortura, já que além
de todo esse sofrimento pelo qual passaram anteriormente, os escravos que não se 117
enquadrassem na empreitada, estabelecida pelos seus “proprietários”, sofriam maus

conjuntura
econômica
tratos e torturas, pois trabalhavam sobre o rígido controle dos representantes dos se-
nhores de engenho,

Pode-se constatar que a situação dos escravos era terrível. Entretanto, mesmo
com todas estas adversidades e fugindo ao rótulo de passivos, que durante muito
tempo prevaleceu na história oficial brasileira, vários grupos resistiram e se rebelaram
contra toda esta situação de opressão, realizando fugas, incêndios, rebeliões alguns
inclusive se agrupando em acampamentos intitulados de quilombos que continham
vida social e econômica próprias. O mais famoso de todos estes quilombos foi o qui-
lombo de palmares, na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas, liderado pelo gran-
de líder Zumbi dos palmares, o maior personagem da resistência e das lutas contra
a escravidão negra no Brasil e que abrigado neste quilombo conseguiu desenvolver
no início do século XVII uma comunidade composta por aproximadamente mais de
20.000 negros, e que era autossuficiente e produtora de milho, mandioca, cana de
açúcar entre outras culturas e que durante um bom período chegou a comercializar
seus excedentes com regiões vizinhas.

Palmares resistiu por várias décadas e conseguiu derrotar diversas expedições


militares realizadas por holandeses, portugueses e fazendeiros que viam a comunida-
de como uma ameaça aos seus negócios. Por fim, em 1695, uma expedição comanda-
da pelo bandeirante Domingos Jorge Velho derrotou o quilombo de Palmares. Zumbi
________________________
foi assassinado no dia vinte de novembro, e sua cabeça foi levada como troféu para
________________________
Recife, já sob domínio da metrópole portuguesa. Entretanto, o advento de Palmares
________________________
foi o prenúncio do declínio do modelo de sociedade escravista que existia até então.
________________________
O declínio do modelo escravista iniciou a partir do século XIX, mesmo com a so- ________________________
ciedade brasileira mantendo sua ordem econômica baseada neste modelo e a aristo- ________________________
cracia mantendo uma cultura baseada nestas relações escravocratas. O mundo passa- ________________________
va por transformações importantes e os ingleses, que, durante um bom tempo, foram ________________________
os principais beneficiários deste tipo de atividade, foram os primeiros a tentarem con- ________________________
vencer o mundo da necessidade de supressão do modelo escravocrata. Logicamente, ________________________
o interesse primordial seria, basicamente, econômico, todavia o discurso tinha um viés ________________________
humanitário já que o fim desta prática reverteria em capital que traria benefícios para ________________________
a indústria britânica, e além do mais, os ingleses estavam também interessados em ________________________
manter a mão de obra nos seus empreendimentos coloniais no continente africano. ________________________
________________________
Os ingleses pressionaram de várias maneiras e dada a existência da manuten-
________________________
ção do tráfico negreiro, eles radicalizaram instituindo o decreto Bill Aberdeen em 1845,
________________________
que era uma lei que autorizava a marinha inglesa a prender qualquer navio negreiro
________________________
que traficasse escravos no Atlântico, não importando a nacionalidade da embarcação e
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a julgar os traficantes de acordo com as leis inglesas, mesmo que se confrontasse com
________________________
as leis Brasileiras. Lembramos que a Inglaterra estava em pleno processo de revolução
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industrial e neste período vigorava com força o chamado liberalismo econômico. Em
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alinhamento com essa forma de pensar, governo inglês combateu o tráfico negreiro,
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já que este modelo ia contra o livre comércio e contra o trabalho livre. Além do mais, o
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trabalho escravo aumentava os custos dos produtos coloniais ingleses e desta forma
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justificava-se o grande empenho dos ingleses para encerrar as práticas de trabalho
118 escravo no Brasil. Internamente, o governo imperial reconhecia a superioridade militar
e econômica dos ingleses, entretanto, sofria imensa pressão interna já que os que se

conjuntura
econômica
utilizavam do trabalho escravo, sabiam que o fim do trafico também definiria o próprio
fim da escravidão como modelo interno de produção.

Nesse período, o Brasil já vivia um paradoxo, o governo pretendia fazer uma


transição lenta para o trabalho escravo do presente, que era hegemônico, para o tra-
balho livre do futuro. Contudo, a sociedade brasileira já convivia com suas contradi-
ções internas, de um lado no campo um país predominantemente agrário, por outro,
um modelo urbano liberal e capitalista, o que efetivamente não combinava com o
modelo da mão de obra escrava.

Em 1850, dado o grande contingente de escravos africanos em território Brasi-


leiro, é aprovada a Lei Eusébio de Queirós que na prática abolia o tráfico de escravos
vindos do continente africano e que servia também para minimizar o temor por re-
voltas internas. Após a aprovação desta lei, efetivamente, o governo passa a agir de
maneira mais direta para repressão e supressão do tráfico e a instituição do chamado
trabalho livre. Apesar de esta lei se constituir um avanço, na prática, isso atinge de
maneira direta a economia brasileira, que carecia de mão de obra dentro do projeto
de produção nacional que sempre esteve intimamente ligado a uma produção que
se voltava para lógica de dentro para fora. Neste sentido, a extinção do tráfico foi o
primeiro forte golpe na cafeicultura, pois, limitava a possibilidade de expansão da pro-
dução deste produto, importante no ciclo econômico nacional.
________________________
________________________ Para resolução deste problema, estimulou-se a vinda de trabalhadores estran-
________________________ geiros para o Brasil que em substituição aos escravos, cumpririam a mesma missão, a
________________________ de possibilitar a expansão das fronteiras produtivas do modelo de grandes extensões
________________________ de terra necessárias nos modelos açucareiro e cafeeiro. Todavia, com um ingrediente
________________________ novo, que é a remuneração pela execução das atividades. A criação do chamado tra-
________________________ balho assalariado surge em substituição ao modelo escravocrata, até então vigente,
________________________ criando, assim, uma nova dinâmica das relações internas de produção nacional.
________________________
Outras iniciativas legais são aprovadas nos rumos da finalização da escravidão,
________________________
uma delas é a chamada Lei do Ventre Livre de 1871, que determinou que em face à
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pressão da sociedade pelo fim da escravidão, todos os filhos de escravos nascidos no
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Brasil estariam livres a partir daquele momento. Na prática, os barões do café ainda
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assim continuavam reativos a qualquer tipo de lei que fosse contrária aos seus inte-
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resses, e o Brasil ainda era um dos últimos países do mundo a conviver com modelo
________________________
de produção com uso de mão de obra escrava dentro das suas fronteiras. Chegamos à
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beira do século XX e ainda convivíamos com esse modelo arcaico e desumano.
________________________
________________________ Foi justamente esse processo de produção econômica do Brasil que propiciou o
________________________ alto nível de desigualdades sociais e raciais nas regiões norte-nordeste e sul-sudeste.
________________________ Enquanto o nordeste continuava com a mão de obra escrava, mesmo após a aboli-
________________________ ção, as regiões sul e sudeste receberam os imigrantes de vários países, que recebiam
________________________ salários pela sua mão de obra. Deste modo, é fácil compreender o alto nível de con-
________________________ centração dos negros na região nordeste, por exemplo, assim como os altos índices de
________________________ desigualdades e oportunidades.
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O tópico a seguir versará sobre a desigualdade social e de oportunidades en-
frentadas pelos negros no Brasil em decorrência da formação da mão de obra e da 119
população do país.

conjuntura
econômica
A DESIGUALDADE ENTRE BRANCOS E NEGROS E AS CON-
TRADIÇÕES DO PROCESSO ABOLICIONISTA E DE INCLUSÃO
SOCIAL

No Brasil, o elemento racial está intimamente ligado à questão da desigualda-


de. O Brasil foi, entre os séculos XVI e XIX, um dos maiores receptadores de escravos
africanos, sendo responsável aproximadamente por cerca de 40% do contingente de
negros vindos do continente africano. O trabalho escravo explorado pelos colonizado-
res europeus contribuiu muito para que os negros enfrentassem posição social políti-
ca e econômica inferior aos dos outros grupos da população. Após a abolição, o negro
não foi tão favorecido como é divulgado em alguns livros de história. Como conseguir
crescer financeiramente e viver de forma digna se poucos conquistavam o mercado
de trabalho remunerado? Muitas escravas, por exemplo, continuavam nas casas em
troca de moradia e comida. A sociedade via os ex-escravos como sujeitos não dignos
de oportunidades iguais aos dos brancos. O preconceito cresceu, pois a sociedade não
admitia que ex-escravos tivessem as mesmas oportunidades e frequentassem os mes-
mos lugares que eles, que se julgavam de raça superior e privilegiada.

Deste modo, é fácil notar que os negros, embora não fossem mais escravos,
continuavam em posição de imenso desprestígio. Como fazer que eles integrassem a
________________________
população economicamente ativa se não lhes eram dadas oportunidades de trabalho
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de remuneração digna e justa. Os negros continuavam à margem da comunidade e
________________________
desenvolviam atividades que não eram de interesse dos brancos, como cozinheiros,
________________________
carregadores de água, serviçais domésticos e agrícolas em lavouras ainda exploradas
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pelos colonizadores e posteriormente, pelos coronéis e latifundiários.
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A história avançou e a sociedade pouco fez para que a situação econômica ________________________
social do negro fosse alterada. Os tempos modernos chegaram e poucos (em relação ________________________
ao número de brancos) foram os negros que conseguiram se destacar e vencer econo- ________________________
micamente. Deste modo, a população negra continuou exercendo as funções menos ________________________
almejadas pelo restante da sociedade. Poucos tinham acesso à educação básica e mui- ________________________
to menos à universidade. Os gráficos abaixo, já em uma época mais recente, ilustram ________________________
como os negros continuam enfrentando desigualdade de escolaridade. ________________________
Gráfico 1 - Gráficos de produção do autor ________________________
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Fonte IBGE (2007) ________________________
120
Ao analisar os gráficos, é possível observar que a maior taxa de analfabetismo

conjuntura
econômica
da população está entre os negros, afirmando a herança desigual de oportunidades ao
longo da história da formação econômica e social da população brasileira. Percebe-se
que a classe branca dominante preferiu (e, infelizmente, ainda prefere) fechar as portas
que pudessem colocar os negros e muitos mulatos em patamar de igualdade ao dos
brancos. Deste modo, o negro não conseguia emprego porque não tinha educação e
não podia criar e educar seus filhos porque não possuía trabalho. O “acorrentamento”
do passado continua maltratando e deixando os negros em situação de inferioridade
em muitos níveis da sociedade, embora alguns críticos acreditem que os negros não
sofrem discriminação racial, mas sim de classe social. Fica aí, uma questão para refle-
xão e discussão. A tabela a seguir demonstra a taxa de analfabetismo por faixa etária e
a região de acordo com o Censo mais recente.

Tabela 3 - Taxa de analfabetismo da população de 15 anos por faixa etária e região - 2009

População Negra População Total


CARACTERÍSTICA Total 15 a 29 30 a 64 65 anos Total 15 a 29 30 a 64 65 anos
anos anos e mais anos anos e mais
REGIÃO
Norte 10 2 12 42 9 2 10 39
Nordeste 21 6 24 57 19 5 22 51
Sudeste 8 2 8 33 6 1 5 21
________________________
Sul 10 2 10 39 5 1 5 20
________________________ 9 1 10 43 8 1 8 35
Centro-Oeste
________________________
Brasil 13 3 15 45 10 2 10 31
________________________
________________________ Tabela elaborada pelo autor. Fonte: Observatório do Negro (2012)1

________________________
________________________
A miscigenação do povo brasileiro fez com que os mulatos e pardos disfarças-
________________________
sem o preconceito, e muitos mestiços acabaram por ocupar cargos de confiança e des-
________________________
taque na sociedade. A população afrodescendente ainda encontra dificuldade para se
________________________
posicionar na sociedade e exercer cargos de destaque. Esse fato faz com que grandes
________________________
decisões, como as do legislativo e judiciário, por exemplo, não tenha alguém que in-
________________________
terfira em decisões que privilegiem a população afro-brasileira.
________________________
________________________ Desta forma, percebe-se que a desigualdade econômica e social provocada por
________________________ cor de pele ou por etnia é algo que ainda é presente no país, embora o Brasil seja
________________________ mundialmente conhecido como nação multirracial. As desigualdades econômicas e
________________________ sociais são consequências da exclusão e da discriminação social gerada pela história
________________________ da formação do país. Contudo, os governantes tentam, agora, mudar um pouco essa
________________________ realidade, e através de políticas públicas procuram promover ações que reparem as
________________________ desigualdades.
________________________
Embora o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre tenha defendido a ideia de
________________________
que o Brasil é um país de mestiços e que o brasileiro não discrimina ninguém pela raça,
________________________
essa não é a realidade que vivemos. As estatísticas comprovam que a maioria da popu-
________________________
lação preta e parda do Brasil possui uma qualidade de vida inferior à da porção branca
________________________
e que os negros continuam com baixos índices de oportunidades de ascensão social.
1 Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), excluindo o norte Rural.
Analise o quadro a seguir e perceba o abismo racial de oportunidades no Brasil 121
no início do século XXI.

conjuntura
econômica
Tabela 4 - Taxas de analfabetismo, pobreza e habitação básica entre brancos e negros.

Proporção de Domicílios com


Analfabetismo Pobres banheiro e água
encanada.
BRASIL 12,9 32,8 77
Brancos 8,3 22,2 87
Negros 18,3 45,5 65,1

Tabela elaborada pelo autor. Fonte: Escócia (2010, p.4)

A desigualdade entre negros e brancos foi tratada anteriormente em vários as-


pectos, entretanto, foram escolhidas três variáveis práticas: a educação, a renda e o
trabalho para continuarmos nossa análise. Essas informações nos permitem ter uma
dimensão comparada de como pretos e pardos (que compõem a raça negra) sofrem
uma desigualdade social em relação aos brancos. Essas informações tabuladas e com-
paradas entre brancos e negros no Brasil nos facilitam a compreensão dos desníveis e
do distanciamento entre esses dois grupos. A tabela a seguir ilustra dados do último
censo publicado em 2010.

________________________
Tabela 5 - Participação dos Negros no mercado de trabalho
________________________
População Negra População Total________________________
CARACTERÍSTICA Total 15 a 29 30 a 64 65 anos Total 15 a 29 30 a 64 65 anos
________________________
anos anos e mais anos anos e mais
REGIÃO ________________________
Norte 68 63 78 20 68 63 78 ________________________
20
Nordeste 67 66 76 27 66 65 75 25
________________________
Sudeste 71 73 77 21 68 73 76 18
72 75 78 23 72 75 79
________________________
25
Sul
Centro-Oeste 73 72 79 28 72 71 79 ________________________
27
Brasil 69 69 77 24 69 70 77 ________________________
22

________________________
________________________
Tabela elaborada pelo autor. Fonte: Observatório do Negro (2012) 2

________________________
________________________
O deslocamento de classes, conhecido também como mobilidade social, é uma ________________________
forma de permitir que oportunidades se tornem de fato mudanças e que permitam ________________________
o acesso a condições que antes não eram possíveis, com alguns pré-requisitos que ________________________
anteriormente eram bloqueados por esses grupos sociais. ________________________
Para alterar essa situação, é necessário que se conheça, com o maior rigor, todas
________________________
as “faces” destas diferenças. Desta forma, pode-se, a partir das informações sobre es-
________________________
colaridade, renda e postos de trabalho, traçar uma reflexão e observar se efetivamente
________________________
tem ocorrido, de verdade, alguma mudança na estrutura social do Brasil, no que se re-
________________________
fere a aspectos de raça, a partir de políticas encampadas pelo governo, para minimizar
________________________
a distância entre brancos e negros no país.
________________________
________________________
2 Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), excluindo o norte Rural.
122 Inicialmente, vamos observar comparativamente as informações sobre a pers-
pectiva da educação, mais precisamente sobre a alfabetização no país, comparando

conjuntura
econômica
dados de 1995 a 2006 sobre a população alfabetizada. Podemos perceber, a partir do
gráfico a seguir, a redução do número de analfabetos no país. Essa é uma informação
positiva, entretanto, há ainda um grande número de pretos e pardos analfabetos em
comparado com o número de brancos para esta mesma situação. Estes dados não são
tão satisfatórios assim, visto que a partir desta tendência, imagina-se uma clara distin-
ção de raças no que se refere à alfabetização. Isso nos leva a concluir que, em longo
prazo, esta distinção se reproduza em estágios posteriores da educação, refletindo-se
para os níveis fundamental, médio e superior. Vejamos o gráfico que representa essa
análise.
Gráfico 2 - População residente de 15 anos ou mais analfabeta segundo o grupo de cor ou raça (branca e preta & parda), Brasil,
1995 e 2006 (em número de pessoas).

________________________
________________________
________________________
________________________ Fonte: Relatório Anual das Desigualdades no Brasil; 2007- 2008 (UFRJ).

________________________
________________________
Outra informação importante sobre educação, diz respeito à taxa de alfabetiza-
________________________
ção funcional que é produzida a partir dos primeiros anos de educação e que permite
________________________
a inserção de pessoas no mercado de trabalho. Para essa taxa percebe-se uma evolu-
________________________
ção maior de pretos e pardos em relação à evolução para brancos. Essa transformação
________________________
é positiva para diminuir a distância existente entre as raças. Contudo, é necessário sa-
________________________
lientar que a evolução desta taxa não determinará uma condição de vida melhor para
________________________
os negros em longo prazo, pois a capacidade evolutiva educacional é influenciada por
________________________
fatores internos e externos à estrutura da educação, como por exemplo, a evasão es-
________________________
colar devido à necessidade de trabalhar para sobreviver. Isso pode ser evidenciado
________________________
quando se compara o tempo de permanência entre as raças nas escolas. Isso pode ser
________________________
percebido no gráfico a seguir, que ilustra de maneira bem clara o tempo de permanên-
________________________
cia destes dois grupos na escola. O tempo das pessoas nas escolas também determina
________________________
uma perspectiva de inserção no mercado de trabalho.
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Gráfico 3 - Evolução da taxa de alfabetização funcional da população residente (15 anos ou mais) segundo os grupos de cor ou raça
(branca e preta & parda), Brasil, 1995-2006 (em %).
123

conjuntura
econômica
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades no Brasil; 2007- 2008 (UFRJ).

O próximo gráfico ilustra a quantidade de anos em que pessoas de 15 anos


de idade, de diferentes raças, permanecem na escola. Os dados comprovam que os
pretos e pardos passam menos tempo na escola do que os brancos. Isso ocorre devi-
do ao fato dos pardos e pretos precisarem, mais do que os brancos, evadir da escola
para trabalhar e ajudar a sobrevivência da família, uma vez que as oportunidades são
diferenciadas.
________________________
________________________
Gráfico 4 - Anos de estudo da população residente de 15 anos de idade ou mais segundo os grupos de cor ou raça (branca e preta & ________________________
parda), Brasil, 1995-2006 (em anos de estudo).
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades no Brasil; 2007- 2008 (UFRJ).
________________________
________________________
Ainda sobre educação é importante salientar o atual estágio evolutivo da edu- ________________________
cação superior no Brasil. É inegável a contribuição das políticas sociais de ações afirma- ________________________
tivas no país para a redução da distância social entre negros e brancos no Brasil. Essas ________________________
políticas começaram a ser aplicadas há algum tempo no país e já podemos observar ________________________
transformações importantes, embora tímidas, quando comparamos os números de ________________________
brancos e negros com nível superior. O gráfico abaixo ilustra com maior clareza a situ- ________________________
ação descrita. ________________________
________________________
________________________
124
Gráfico 5 - Evolução de pessoas com Nível Superior Completo por Raça (%).

conjuntura
econômica

Fonte: IBGE: Síntese de indicadores Sociais, 2007

Quando observamos a evolução da participação de negros em instituições de


educação superior públicas percebe-se ainda um déficit proporcional ao número total
de negros que compõe a população dos estados em relação ao número de negros que
entram nas universidades públicas. Analisemos o caso do estado da Bahia. O gráfico a
seguir informa que os negros representam 74,95% da população do estado, mas ape-
nas 42,6% de negros ocupam as vagas das universidades federais sediada na Bahia.

________________________ Tabela 6 - Distribuição dos estudantes, segundo a cor (UFRJ, UFPR, UFMA, UFBA, UNB e USP)-2001

________________________
________________________
UFRJ UFPR UFMA UFBA UNB USP
________________________
________________________ Branca 76,8 86,5 47 50,8 63,7 78,2
________________________ negra 20,3 8,6 42,8 42,6 32,3 8,3
________________________ amarela 1,6 4,1 5,9 3,0 2,9 13,0
________________________
Indígena 1,3 0,8 4,3 3,6 1,1 0,5
________________________ % de negros
44,63 20,27 73,36 74,95 47,98 27,4
________________________ no estado
déficit 24,33 11,67 30,56 33,55 15,68 18,94
________________________
________________________
________________________ Fonte: Guimarães (2003, s.p.)
________________________
________________________
________________________ Deste modo, podemos concluir, que embora a taxa de inserção dos negros nas
________________________ faculdades tenha aumentado, ela continua baixa na Bahia, se levarmos em conside-
________________________ ração que a maior parte da população do estado é composta por negros e não por
________________________ brancos. Isso nos leva a perceber que, embora em minoria, os brancos ocupam a maior
________________________ parte das vagas do ensino superior do estado. O fato de haver um menor número de
________________________ negros com formação superior em relação aos brancos afeta diretamente na questão
________________________ das oportunidades de emprego qualificado.
________________________
O emprego é outra variável muito significativa quando observamos a desigual-
________________________
dade entre negros e brancos. Os indicadores comparativos de ocupação e emprego
________________________
entre brancos e negros no país revelam a desigualdade de maneira bem clara. Vejamos
os gráficos a seguir para que possamos entender este cenário. 125

conjuntura
econômica
Gráfico 6: Taxa de desemprego segundo cor/raça e sexo – Brasil, 1996-2004.

Fonte: IBGE (1996 e 2004)

O gráfico demonstra que o desemprego entre negros é maior que entre os bran-
cos, mesmo que comparado em relação ao gênero masculino e feminino. O cenário de
desigualdade continua no que diz respeito ao rendimento médio da população entre
as raças. A tabela 7 ilustra que em todas as regiões do Brasil, os pretos e pardos pos-
________________________
suem salários inferiores aos dos brancos. Já a tabela 8, demonstra a evolução da renda
________________________
entre brancos e negros, homens e mulheres. Ao analisarmos essa evolução, percebe-
________________________
mos que há uma grande diferença não somente entre os salários em si, mas também
________________________
no próprio processo de aumento. Um destaque especial, para a questão das mulheres
________________________
negras, que de acordo com os dados da tabela são as que possuem menores salários.
________________________
________________________
Tabela 7 - Rendimento real médio mensal da PEA residente ocupada segundo os grupos de cor ou raça (branca e preta & parda) ________________________
nas regiões geográficas do Brasil (em R$, set. 2006)
________________________
Regiões Brancos Pretos e pardos ________________________
Norte 801,51 502,01 ________________________
Nordeste 610,80 363,41
Sudeste
________________________
1.124,71 608,46
Sul ________________________
882,53 548,46
Centro-Oeste ________________________
1.140,11 694,12
________________________
Fonte: Relatório Anual das Desigualdades no Brasil; 2007- 2008 (UFRJ).
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
________________________
126 Tabela 8 - Média da renda da ocupação principal por sexo, segundo cor/raça Brasil 1996-2007.

conjuntura
econômica

Fonte: IBGE/PNAD (2007)

Após as análises das tabelas, é possível perceber que há de fato um aumento


nas oportunidades de escolaridade, emprego e renda dos negros. Fatores estruturais
como escola e trabalho têm melhorado para a raça negra devido às políticas afirmati-
vas de inclusão social dos afrodescendentes, Isso faz com que mais brasileiros se reco-
nheçam como negros no Brasil, pois eles passam a se sentir mais valorizados e opor-
tunizados. A renda tem crescido mais entre negros e pardos, proporcionando assim
algumas mudanças de desigualdade de renda e consequente redução das diferenças
econômicas entre as raças. Contudo, as diferenças continuam acirradas.
________________________
________________________ Quando há discussão acerca das políticas de promoção da igualdade dos ne-
________________________ gros, sempre surge o questionamento: e os brancos pobres? Os críticos que são contras
________________________ as chamadas “ações afirmativas” (ações emergenciais que visam promover oportuni-
________________________ dades sociais, econômicas e educacionais para grupos que sofrem de discriminação e
________________________ intensificar sua aceleração social) defendem que essas ações deveriam favorecer cotas
________________________ sociais e não raciais, como o caso das cotas para afrodescendentes no ensino superior,
________________________ pois assim estaríamos presenciando a discriminação dos brancos pobres. A polêmica
________________________ continua e a população segue discutindo se as cotas raciais são justas ou não, embora
________________________ o Supremo Tribunal Federal já tenha julgado que as políticas de ações afirmativas não
________________________ contrariam o princípio de igualdade existente na Constituição Brasileira. É notório o
________________________ fato de que a implementação das cotas não é e não será a única forma de combater as
________________________ desigualdades raciais e sociais no Brasil, seja na educação ou em qualquer outra área
________________________ que permita ascensão social e/ou econômica. O importante é que se criem condições
________________________ de oportunidades iguais para todos, a começar pela educação básica, educação, saúde
________________________ e moradia. E a partir de medidas mais igualitárias e menos excludentes, o país poderá
________________________ sim dizer que é um país sem preconceitos e discriminações.
________________________
Terminamos aqui as nossas aulas de Conjuntura Econômica. Continue se atua-
________________________
lizando sobre economia através de leituras de jornais, revistas e pela Internet. Afinal,
________________________
a Ciência Econômica não é estanque, e os dados das diferentes áreas da economia
________________________
mudam a cada dia.
________________________
________________________
________________________
________________________
Síntese 127

conjuntura
econômica
Esta aula tratou sobre a história da desigualdade racial e social do Brasil e a
sua interferência nos índices de oportunidades socioeconômicas. Através da contex-
tualização histórica foi possível perceber que a posição inferior do negro em grandes
partes da sociedade e da economia do país foi oriunda do estabelecimento da mão de
obra no processo de produção econômica da nação. Mas, é hoje, no século XXI que se
pensa em políticas públicas que possam favorecer os negros e lhes darem melhores
condições de vida do país, como as cotas para afrodescendentes no Ensino Superior.

questão para Reflexão


De acordo com o que foi tratado nesta aula, responda: o processo de exclusão
do negro é oriundo de preconceito racial ou social? Por quê?

Leituras indicadas
AVELAR, Idelber. Sobre algumas vitórias recentes da luta afro-brasileira. Revista
Fórum, São Paulo, SP. n° 15 p. 22-23, jun. 2012.
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sites Indicados ________________________
________________________
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): www.sei.ba.gov.br ________________________
________________________
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): www.ipea.gov.br
________________________
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br ________________________
________________________
________________________
Referências ________________________
________________________
________________________
CAMPOS, F; DOLHNIKOFF, M. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1998.
________________________
________________________
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
________________________
________________________
ESCÓCIA, Fernanda. “Raças ocupam posições díspares e negro sofre mais”. Folha de São Paulo, 3 out 2003.
________________________
Caderno Especial Qualidade de Vida, p A-4. IN: DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pear-
son Prentice Hall, 2010.
________________________
________________________
G1 - São Paulo: Globo notícias, 02.11.2011. Disponível em:‹ http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/11/ ________________________
brasil-ocupa-84-posicao-entre-187-paises-no-idh-2011.html. Acesso em: 15 set 2012. ________________________
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GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Acesso de negros às universidades públicas in Cadernos de Pesqui- ________________________
sa n° 118, São Paulo, 2003.
128 IBGE - Disponível em: ‹http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 set 2012.

conjuntura
econômica
KLEIN,Herbert. Tráfico Negreiro. In: Estatísticas Históricas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1987, p. 60.

OBSERVATÓRIO DO NEGRO. Disponível em ‹ http://www.observatoriodonegro.org.br>. Acesso em: 24 out


2012.

RDH - 2011 - Sustentabilidade e Equidade um Futuro Melhor para todos - PNUD. Disponível em: ‹http://hdr.
undp.org/en/media/HDR_2011_PT_Complete.pdf>. Acesso em: 16 out 2012.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. O PIB da Bahia: 30 anos em Análise.


Série de Estudos e Pesquisas. Salvador: SEI, nº 72, 2006.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Economia Brasileira e Baiana no pós-


Real. Revista Bahia Análise & Dados. Salvador: SEI, nº 4, v. 16, 2007.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Revista Conjuntura & Planeja-


mento. Salvador: SEI, 2008.

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