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Dilson Ingaricó
Secretário do Índio de Roraima e Assessor do Conselho do Povo Indígena Ingaricó
Virgínia Amaral
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
do Museu Nacional - UFRJ
Povos de fronteira?
Hidrelétricas e mineração
Sarik puk era pajé e pukkenak. No início do século XX, fundou a igreja do rio
Panari, para onde atraiu diversas famílias. Esta seria a origem da atual Manalai.
Enquanto viveu e liderou a comunidade ingarikó, Sarik puk opunha-se ao contato de
seu povo com os karaiwa (não indígenas). Entretanto, sabia que no futuro
construiriam ali, na Manalai, uma pista de pouso e uma escola. E dizia que, neste dia,
os Ingarikó começariam a perder sua cultura, pois, através da escola, o Estado os
transformaria em anzóis. Isto é, os instrumentalizaria a serviço de seus próprios
interesses.
Nos debates da conferência, um morador da Manalai resgatou o caso de Sarik
puk, do qual extraiu uma observação interessante: o mundo de Sarik puk já está em
extinção e os Ingarikó devem, agora, saber operar as armas deste novo mundo em que
adentraram. Não tem mais volta. É verdade que a escola pode enfraquecer a cultura
local, mas ela pode ser útil. O que o povo, com o auxílio dos professores, deve
perseguir é uma inversão dos papéis: fazer da escola um local onde os jovens
aprenderão a usar o Estado como seu anzol.