Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
OS ERVAIS DE MBARACAYÚ
por
Paulo Cezar Vargas Freire 1
1 Arquiteto e pesquisador, associado efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e mestre em
História Social pela Universidade de Brasília. E-mail: pcvfreire@gmail.com. As palavras em guarani estão todas com
a grafia usada em tempos coloniais.
2 Digo, q. com todo cuidado he buscado su origen entre Indios de 80 y 100 años, y he sacado por cosa averiguada, q
en tiépo q estos viejos eran moços no se bevia, ni aun se conoscia, sino de un grã hechicero (MONTOYA, Antonio
Ruiz de. Conquista Espiritual Hecha por los Religiosos de la Compañia de Jesús, en las provincias del
Paraguay, Paraná, Uruguay, y Tape. Madrid: Imprenta del Reyno, 1639, p. 9).
3 Um dos pueblos das missões jesuíticas no Guayrá.
4 Especialmente, a lenda de Caá-Yari.
5 OBERTI, Federico. Historia y Folklore del Mate. Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 1979, p. 47-54.
6 Porongo, em quéchua, ou hy’a, hy’kua, ka’aygua, kaygua, em guarani. Curuguá era uma planta nativa de
todos los lados para que no llegue a la boca la yerba junto con el agua, lo que es muy perjudicial al estómago. Otros
so sirven, bien sea de un cañito de madera o de alguna cañita. Los indios que no hacen ningún uso de este cañito,
sorben involuntariamente una cantidad de yerba (DOBRIZHOFFER, Martin. Historia de los Abipones. Tradução
para o espanhol de Edmundo Wernicke. Resistencia: Universidad Nacional del Nordeste. v. I, (1784) 1970. De la
yerba paraguaya, su origen, preparacion, comercio y usos).
2
ao Brasil no século seguinte. O “chá dos jesuítas”, o mate cocido, feito com erva-mate e
açúcar queimado na brasa, ficou conhecido nesse mesmo tempo. 10
Os primeiros produtos do Paraguai que foram enviados para o rei da Espanha
consistiram em pães de açúcar, trementina da terra (ou yeí), 11 couros (de anta, de onça e
de veado), tecidos de algodão e adobados. Este termo se refere a especiarias, que
poderia incluir a erva-mate, porém, ela não foi especificada. Instruções de Juan Ortega
ao capitão Ruiz Díaz Melgarejo, em 1567, mencionam a circulação de erva no Guayrá.
O procurador das províncias de Guayrá relatou, em documento de 1603, que o comércio
de erva havia começado há mais de quarenta anos. 12
O consumo de erva sofreu dura oposição de autoridades coloniais a partir de
1595, que repetiam a argumentação utilizada para atacar o tabaco e o chocolate. O
tenente de governador Juan Caballero Bazán proibiu seu benefício nos ervais e o
trânsito pelo rio Jejuí. No ano seguinte, o governador Juan Ramírez de Velasco proibiu
os comerciantes ou qualquer outra pessoa trocar com índios martinetes por erva ou
tabaco, que adquiriam a custo baixo. 13 Os jesuítas chegaram a ameaçar com
excomunhão quem consumisse, produzisse ou vendesse erva. 14 Esta disposição tinha
como objetivo inibir a utilização do trabalho indígena pelos encomenderos. 15 Após a
queda de Guayrá, o consumo se estendeu ao Alto Peru, a Capitanía General de Chile e a
Presidencia de Quito. Junto com a coca, reinou entre os mineiros de Potosi. Enquanto a
coca raramente era consumida fora de grupos indígenas, o chocolate demorou a
difundir-se em setores mais pobres da sociedade colonial. Apesar de produzirem erva
nas missões do Paraná desde 1645, que comercializavam em Santa Fe, 16 mais de duas
décadas depois, a Congregação Provincial dos jesuítas, reunida em Córdoba, repetiu o
pedido da proibição do uso da erva, do tabaco e do chocolate. Essa proibição ao
10 ALLEMÃO, Francisco Freire. Quaes são as principaes plantas que hoje se acham aclimatadas no Brazil? In:
RHIGB, 1º trimestre de 1856, t. XIX, n. 21, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1898, p. 572-578.
11 É o nome popular de terebentina, um líquido incolor obtido por destilação de uma resina retirada geralmente de
Asunción, 12/02/1603, em AGI-Charcas 48, apud GARAVAGLIA, Juan Carlos. Mercado Interno..., op. cit., p. 38.
13 OBERTI, Federico. Historia..., op. cit., p. 189. Martinetes era o termo em español para o artesanato feito com
penas.
14 Esta yerba y tambien el peten que es tabaco solia ser antiguamente tan odioso el tomarlos en esta tierra que tenian
por hombre infame a quien lo tomaba y estaba prohibido con descomunion sino era a los que lo hacian por
enfermedad con liçencia del medico: pero despues concorrieron los cabeças en esta ciudad, el uno administrador de
este obispado, y el outro Teniente general de governador los quales se dieron a este viçio tan sin rienda que todo el
pueblo se fue tras ellos en todos estados y son muy raros los que no tienen este viçio (DOBRIZHOFFER, Martin.
Historia de los Abipones..., op. cit.).
15 GARAVAGLIA, Juan Carlos. Reflexiones en torno a la Yerba Mate (Ilex Paraguariensis). In: Suplemento
Antropológico. Asunción: CEPAG/ Universidad Católica “Nuestra Señora de la Asunción”, v. XXII, n. 1, Jun, p. 7-
27, 1987.
16 Ibidem, p. 8 e 14.
3
17 MACERA, P. Instrucciones para el manejo de las haciendas jesuítas de Perú (séc. XVII-XVIII). In: Nueva
Crónica, v. II, fascículo 2º, Lima, p. 62, apud: GARAVAGLIA, Juan Carlos. Reflexiones…, op. cit., p. 16.
18 Criada sete anos antes. La Paz ou Porco, La Plata, Potosí e Chicuito eram suas principais cidades.
19 He tenido por bien que el dicho Gobierno se divida en dos: que el uno sea del Río de la Plata agregandole las
ciudades de la Trinidad, puerto de Buenos Aires, la Ciudad de Santa Fe, la ciudad de San Juan de Vera de las
Corrientes, la ciudad de la Concepción del Río Bermejo; y el otro Gobierno se intitule de Guayrá, agregandole por
cabeza de su Gobierno la Ciudad de la Asunción del Paraguay y la de Guayrá,Villa Rica del Espíritu Santo, y la
Ciudad de Santiago de Jeréz.
20 Rio Azul, na língua guarani.
21 A população do pueblo de Mbaracayú passou por uma acentuada mestiçagem nos quase 140 anos de sua existência,
o que explica as citações das fontes que a consideraram como vila de espanhóis.
22 SÚSNIK, Branislava. Los Aborigenes del Paraguay: Etnohistoria de los Guaranies, Epoca Colonial. Asunción:
Museo Etnografico “Andres Barbero”: Escuela Técnica Salesiana, v. II, 1979-1980, p. 32-33.
23 Cf. Súsnik, no triângulo formado pelos rios Itanará e Curuguaty e pelas serras de Mbaracayú (SÚSNIK, Branislava.
Dispersión Tupi-Guaraní Prehistórica: Ensayo Analítico. Asunción: Museo Etnográfico “Andres Barbero”, 1975,
p. 104).
4
FIG. 01. Mbaracayú. Figura elaborada pelo autor deste artigo a partir das folhas 8 e 9 da Carta do Estado de Mato
Grosso e regiões circunvizinhas (RONDON, Cândido Mariano da Silva, 1952).
yerbales de Villa-Rica, de Yuti y de Caazapá, en piraguas y garandumbas chicas y grandes (MOLAS, Mariano
Antonio. In: La Revista..., op. cit., t. X, p. 52-69, 1866).
30 GARAVAGLIA, Juan Carlos. Mercado Interno..., op. cit., p. 101-102 e 109.
6
31 MÍGUEZ, Eduardo. História Económica de la Argentina. Buenos Aires: Sudamericana, 2008, p. 148.