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Oi! Aqui é a ostra (ou ostrinha, ou koda, ou natália).

Eu tenho vinte
anos, cabelo azul e muita coisa maluca na cabeça. Escrevo desde muito
cedo e sempre tive muitos sonhos a realizar e muito medo de coloca-
los em prática. Criar, dar forma, amor e sustentar o Ostras Voláteis
trouxe um conforto que há muito não encontrava na escrita. A paz de
tocar outras pessoas transcende e todos os dias sou mais feliz de poder
fazê-lo e realizar sonhos ao mesmo tempo.
Que tal deixar aqui uma arte sua? Pode ser um desenho, texto,
agradecimento, comentário, qualquer coisa! Depois, poste nas redes
sociais com a #suaostra e #ostrasvolateis <3
PRÓLOGO
A vida continua depois desse livro. E continua sendo o que sempre foi: amor,
dor, alegrias, tristezas, tudo misturado, as vezes no mesmo dia, em momentos
que até você mesmo para e se pergunta: que montanha russa é essa? Esse foi
um pedaço da minha. Mesmo que nem tudo aqui seja sobre mim, foi
integralmente sobre verdades, seja lá o que isso signifique. Depois desse livro
você ainda vai levantar de manhã, tomar um banho e café, ainda vai ir
trabalhar ou estudar e seguir sua vida. Eu ainda vou ter mil coisas pra fazer e
andar sempre atrasado (não seria eu se não fosse assim).
Você ainda vai se surpreender com um amor vindo de um lugar que parecia
inóspito, ainda vai se permitir abraçar por um que parecia ter virado as costas,
ainda vai se render a algo que talvez não tenha futuro, mas tem um presente
muito sólido.
E isso tudo, que pode ou não ser visto como uma história de amor (por quem,
exatamente?), agora pousa em suas mãos, vivo, sólido, bem longe do berço e
se aventurando pelo mundo.
A vida continua, eu só espero que não a mesma.

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39 AGRADECIMENTOS
hoje me senti brilhar.
O ostras me veio como ideia depois de um vasto tempo onde escrever e
assim, meio na certeza de que coisas simples mudam a gente e transformam
realizar sonhos pareciam pra mim coisas muito distantes, intocáveis. Veio
o sentir. fazem sentir.
como um sopro de esperança pra um corpo cansado, um carinho depois de
hoje eu sorri. meio sem entender enquanto saltitava na calçada e me olhavam
um dia infernal. Viver esse projeto transformou meus dias, transformou minha
torto e eu sorria torto de volta.
forma de ver o mundo. O contato com novas visões, com o carinho de pessoas
porque sim. sim.
que nem me conhecem, ouvir que o que eu digo toca outras pessoas é
e eu quis gritar porque tudo parecia muito certo e incrivelmente encaixado
gratificante demais e tem dias que ainda acordo sem saber direito como isso
mesmo que tudo seja essa loucura e que as vezes eu não consiga respirar.
tudo aconteceu e continua acontecendo.
mas hoje eu respirei.
devagar e pausadamente enquanto o sol fazia cosquinha na minha pele e a luz Agradeço ao Aril, por ser ombro fiel, cuidadoso e amoroso. Gabriela, por cada
parecia existir só pra embelezar mais o mundo. conversa, cada assunto novo e por ser uma amiga maravilhosa. Abraão, pela
e minha roupa parecia uma extensão de mim. força inigualável. Amanda, por ser carinho e afago. Mariana¹, por ser cuidado
e meu cabelo parecia uma extensão de mim. nesse porto violento que é a vida. Mariana², por sorrir comigo cada conquista
e eu parecia muito comigo mesma. e pular de cabeça nas minhas loucuras. Patrícia, pela calma e resiliência que
pareço. me ensinam mais do que todos os livros que jamais lerei. Cintia, por me
sorri para os vidros todos na cidade que faço de espelho. ensinar que, muitas vezes, entre o querer e o poder só falta um pulo e muita
sorri. coragem. Marana, por aguentar minhas loucuras e continuar me incentivando
parece que eu quis isso a vida inteira! a ir além. Yasmin, Igor, Jéssica e Giovanna por terem sido uma janela enorme
eu quis. de luz (mesmo sem saber) quando a porta pareceu ter sido trancada pra mim.
Debora e Lesley, por estarem por mim quando precisei e preciso. Aos meus
irmãos, por serem apoio e suporte. Amo vocês. Nick, por me mostrar que
estava tudo bem.

A todo mundo que acreditou em mim durante todo esse processo, a quem
segue a página, meus sinceros agradecimentos. Nada do que eu possa dizer é
suficiente: me salvar de desistir do meu sonho é algo tão grandioso quanto as
pessoas incríveis que tenho na minha vida.

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não existe uma armadura cem por cento, não existe fortaleza inquebrável ou
ser humano intocável
a derme da gente foi feita pra ser adentrada, destroçada e costurada de novo
no lugar.
às vezes realmente precisamos de algo que nos destrua para podermos ser
inteiros de novo, de uma forma melhor
tem dias que simplesmente não dá e você vai terminar a semana com a cabeça
apoiada no box durante o banho se perguntando onde foi que você errou
nessas horas vai parecer impossível se lembrar de um único acerto seu e o
mundo vai parecer uma série interminável de erros, e você vai se culpar por
ter se deixado ruir
mas espere
você se refaz
dia a dia, pouco a pouco
não vai ficar tudo bem no final porque não tem final, essas coisas são ciclos
(de cura e perda de cura e perda)
tem um livro chamado vidas secas onde a felicidade e a vida dos protagonistas
oscila entre a seca e a chuva a seca e a chuva e muitos sonhos e desejos dos
quais entendiam bem as pessoas do sertão nordestino narrado
os sonhos se misturam e completam aos ciclos de seca e chuva de nossas vidas
(e eles vem e vão como e quando querem)
não somos intocáveis, amor
ainda bem que não

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38 INTRODUÇÃO
tem dias que simplesmente não dá.
Esses contos não foram feitos contando uma história, mas dá pra contar uma
levantar da cama parece demais e sair de casa parece demais e mesmo
história a partir de outras histórias. Eu não sei como essa vai chegar em você.
quando tudo isso se torna uma execução minuciosamente planejada e bem-
A proposta é abstrata, você vai senti-la especialmente e de forma única,
sucedida, a gente se pega subitamente correndo pro banheiro da firma ou da
exatamente da sua forma. Em alguns você vai se perguntar se eu não estava
faculdade pra chorar um pouco sozinho e pedir uma paz sossegada e que traga
aí observando a sua vida (será?), outros não farão o menor sentido. No final,
alívio
será uma história que só você poderá dizer como sentiu, porque sentiu e como
a muralha que gastamos semanas construindo, meses, até anos, ela parece
foi ler. Essa é a melhor parte, acredito eu.
ruir devagarinho e bem na nossa testa, diante dos nossos olhos, mas longe
demais do alcance de nossas mãos. a fortaleza que nos propusemos ser Produzir esse livro foi uma decisão súbita e corajosa, como muitas ou quase
estremece a cada onda nova e ameaça se romper ao mais leve toque todas as coisas que fiz em relação a minha escrita até hoje. Agradeço pelo
isso acontece mesmo. como se tivessem nos negado o direito à fragilidade e apoio, por acreditar em mim e no meu trabalho, por sentir. Porque sentir é
nos orgulhássemos disso, vestimos armaduras e nos preparamos todos os dias muito bom, mas é melhor ainda quando compartilhado.
para um viver que se assemelha a uma guerra de proporções devastadoras,
como se seu território fosse um pais em estado de sítio
como se o primeiro a baixar a guarda merecesse a cruz e o fardo que carrega.
ao menor sinal de fraqueza os outros sete bilhões do mundo utilizariam as
melhores táticas militares e estaria feita a jogada que destruiria de vez seu
arranha céu impecável
não somos intocáveis, sabe
eu sei que não existe jeito certo de viver a vida e que muitas vezes essa
armadura é o que nos salva de um colapso mental, mas eu preciso repetir que
tudo bem ter um colapso mental
nós não somos programáveis e até mesmo programas estão sujeitos a falhas
um professor meu costumava dizer que mesmo num cenário hipotético em
que se acreditava ter coberto cem por cento dos testes possíveis em um
software, ele ainda estava sujeito a bugs

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às vezes eu lembro de você
não com o desespero e ânsia de antes, ou uma vontade egoísta e devoradora.
hoje é com calma. depois de você eu me sinto uma idosa mais sábia e
consciente. me sinto compreensiva. depois do que fomos parece que tudo que
me atinge me atinge com mais parcimônia, mesmo quando há devastação e
intensidade.
não pense que não sou grata: eu sou. por tudo, inclusive pelo fim.
você sabe o quanto eu desgosto a palavra culpa, então jamais usaria ela com
alguém que gosto tanto - sim, ainda gosto de você.
mas calma, tá tudo bem.
não é mais com a boca pronta pra te devorar não é mais com o pão a faca e o
queijo na mão.
é com a calma de uma velha amiga. com o cuidado de um antigo conhecido.
olhar de novo pra você é como retornar a minha cidade natal e rever pessoas
que não via desde a infância. é como tomar um café quente depois de um dia
cansado numa sexta feira sabendo que segunda é feriado.
é a paz de se sentar depois de saber que a tempestade passou e agora a chuva
que cai é mansa e paciente.
por isso, às vezes lembro de você.
lembrar do que fomos me traz a ciência de que podem vir coisas ainda mais
devastadoras e a minha resiliência vai me manter no lugar
eu vou terminar sentava na varanda, comendo um bolo de chocolate com
muita calda, tomando café e sorrindo a calmaria que me rodeia
às vezes eu lembro de você porque lembrar você me faz lembrar de mim
eu resisto, amor
eu to sorrindo a minha própria força
quem sabe um dia nos vemos de novo

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o que acontece com a matéria de um universo quando se choca com matéria
de outro?
as marcas são eternas, eu diria
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as suas são no meu como outras também serão um dia você me disse que as pessoas são como bombas nas vidas umas das
elas se misturam? se complementam? outras.
quanto de um universo cabe em outro? e eu nunca entendi muito bem porque sempre pensei que estar na vida de
a ciência exata talvez odeie essas indagações e as refute com maestria outra pessoa era sobre leveza. sobre fazer-se presente e ser transformação
mas não somos exatos, amor sutil. revolução silenciosa.
eu não tenho escrito muito porque eu talvez esteja numa concha esperando e mas você não foi sutil.
esperando foi explosão.
e esperando com direito a estilhaços espalhados por todos os lados.
alguém que se atrever a entrar e fazer bagunça implodindo, explodindo.
(por favor se atreva, por favor, por favor) a todo momento pura combustão.
e, se por vezes a poeira parecia baixar, era apenas pra voltar com mais força.
eu nunca entendi muito bem até ver você, sorrateiramente, ser bomba de
sentimentos.
e você explodia enquanto eu tentava entender sobre como a gente consegue
impactar com tanta força a vida de outra pessoa. destruindo estruturas até
então intactas. transformando.
eu nunca entendi muito bem.
até você.
zero a cem em menos de um segundo.
trem bala.
bala no meu coração

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uma linha infinita de ses transpassa toda a existência da humanidade e cada sabe, eu tenho escrito menos por sentir que me faltam experiências humanas
existência em particular, eu te disse você diria que é unicamente culpa minha essa parte se estivesse aqui
minha linha temporal é cortada por milhares de outras "falta buscar"
e se existem mesmo infinitos universos vivendo vidas paralelas à nossa você entonaria sem nem hesitar e emendaria que
eu diria que cada um deles é um possível futuro presente e passado as pessoas fazem os próprios momentos
e eu me indago neles sobre o que vivo hoje mas meus óculos estão sujos, sabe?
você entende? e às vezes eu preciso de alguém que seja meus olhos no mundo porque talvez
eu sei bem sobre a falta de controle que temos sobre as coisas eu tenha miopia
mas as vezes a consciência de tal fato me entorpece e eu perco o rumo por você segurou a minha mão por um tempo e depois soltou
um segundo pensando e tudo bem, baby, não existem ressentimentos
e se eu só preciso dizer eu tenho escrito menos porque as ideias que me saltavam
e se no dia que quebrei o pé na calçada o sorveteiro tivesse saído um minuto a mente quando do seu lado elas se calaram
mais tarde de casa ou resolvido andar por outra rota e não a que me salvaria e eu ainda não descobri como acordá-las sozinho
de ficar horas esperando ajuda o mundo que me parecia um arco-íris multicolorido de vez em quando me
e se parece naqueles tons pastéis bonitinhos em fotos, mas tão repetitivos
e se um garoto não tivesse um dia entrado num ônibus e se dado conta de que sabe?
sentir é bom e compartilhar sentir é melhor ainda eu tenho escrito menos porque muito da forma como vemos o mundo vem da
e se forma como somos tocados pelo universo
e se algoritmos programados por uma série de pessoas desconhecidas não e pessoas são universos enormes, amor
tivessem aleatoriamente ou de forma programada me colocado diante de depois da imensidão do seu, pouco parece chegar em mim
vídeos fotos textos saberes que transformaram a minha existência eu aprecio quando chega
e se e tudo bem se demorar, sabe? existem imensidões tão distintas quanto a sua
eu te digo eu sei muito bem sobre a falta de controle que eu tenho sobre as eu só preciso encontrar
coisas eu vejo muitas diariamente
mas às vezes mas você sabe, eu sou quieta e na calada eu fico esperando o momento certo
os e se me sobem a garganta como se fossem vômito eles me impedem de de deixar alguém tocar minha epiderme e se transcrever - mesmo que na
respirar maioria das vezes o toque nunca tenha sido sobre se permitir ser tocado
você entende?

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quando eu te conto que a sua vida que a minha vida é composta por uma série
35 de decisões que você jamais poderia tomar
por nunca nem terem sido suas
hoje eu não tenho nenhuma história pra contar.
eu ri um pouco porque é de praxe mas ainda assim te afetam com toda a força de uma faca afiada preparada
eu dormi no meio da tarde por pura exaustão especialmente para ti
eu dancei alegremente com pessoas importantes você entende?
e também fiquei um bom tempo olhando pra parede e pensando em nada quando eu te conto que viver às vezes é fácil
e hoje eu não tenho nenhuma história pra contar. mas existe o dia que eu deito e encaro o teto
nada excepcional aconteceu e o primeiro se pula
e eu sinto a vida se esgueirando por entre esses momentos rotineiros o segundo faz cambalhota
grudando nos meus ossos o terceiro me amarra as cordas
impregnando meus poros e me seguram todos eles por horas a fio
porque somos sim pontos brilhantes em meio a uma massa cinza estática
não somos? olhos vazios
temos mesmo esses dias que são só... dias e eu sou por um tempo um conjunto de todas as histórias que eu nunca fui e
e talvez se percam entre as minhas memórias e amanhã eu quase já não me jamais serei
lembre - eu que tenho essa péssima memória mas você também entende
. das conversas que tive hoje que diante da vastidão de possibilidades
. das pequenas dores que senti eu sou mesmo grata de estar vivendo esse momento singular
. do que me paralisou por um momento dessa minha existência plural
. dos detalhes aqui
eu vou inevitavelmente me esquecer com você?
e tudo bem
hoje eu não tenho nenhuma história pra contar por mais que eu tente
é tentar destrinchar o vazio
ou fotografar uma página em branco
porque nada foi fixado eu estou à deriva
hoje eu não tenho nenhuma história pra contar.
me desculpa.

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uma vez eu escrevi que o amanhã é um eterno perdão.
3 e é isso: amanhã cê tá perdoado. começa de novo. seja melhor.
a vida vai mexer com você
você conheceu alguém recentemente?
passou pelo processo todo de fatores externos vão te pressionar, mas no final
oi tudo bem no final
ao qual sua cor favorita? é você decidindo ser bom ou não
e o que fez de bom no seu dia hoje? persistir ou não
se pôs a desenhar os mapas todos das conexões com essa pessoa nova a chance de recomeçar é dada todo dia
as linhas jamais vistas todo
já sorriu até as bochechas doerem ao se dar conta de como as pessoas são santo
mesmo individuais? dia
e quando o santo bate, bate mesmo uma amiga minha me disse
e é sim delicioso quando as coisas simplesmente fluem "o futuro é pra gente e pra frente, então é pra frente que devíamos andar"
e dá pra se falar sobre uma teoria maluca logo depois de se falar do tempo e então guarda isso.
emendar falando da lua dos astros e de amor amanhã cê tá perdoado.
talvez isso nem faça sentido renasce.
você segurou a mão de alguém recentemente? (e talvez esse seja um texto sobre auto perdão)
não apenas num acaso
ou talvez apenas por acaso
os dedos de entrelaçaram num carinho que pareceu tocar muito mais que as
mãos
muito mais que o corpo
e correntes elétricas passaram pelo seu corpo
você se sentiu de novo com doze anos
e amar pareceu pra você um eterno ser adolescente
eternamente criança.
você tocou alguém recentemente?
e o mundo parou por alguns segundos
e nada pareceu mais igual embora tudo tenha continuado exatamente da
mesma forma
mas você não era mais o mesmo

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e que bom
34 que bom
e você voltou pra casa se perguntando
a minha mente que sempre foi muito acelerada hoje tem me pedido um
diálogo, uma conversa. quando
então chegue mais que vou contar alguns pensamentos meus. onde
outro dia uma pessoa me disse que tinha medo de ter sido má. ela temia e o porquê
quanto mais pensava sobre como tinha sido mais ela tinha a certeza de ter por quê?
sido má e isso a corroía por dentro. não se sabe porque
eu disse: calma. não se tem de saber
eu disse pelas mesmas razões que me trouxeram aqui, ao computador, pra esse sorriso
escrever desses momentos
disse calma porque tem outra forma de enxergar isso tudo. você o deu recentemente?
ela se enxergava como a soma de atitudes, que era negativa. ou talvez não deu pra alguém importante
fosse, eu não sabia da missa a metade, convenhamos. às vezes só estamos deu pra você mesmo?
com as lentes do óculos sujas. o mundo é também sobre pessoas e conectar-se.
ela enxergava seu passado como o passado de uma pessoa ruim perca-se.
e eu peço calma justamente pra pedir, por favor, pra desfocar do passado um
segundo
um segundo só.
não é só sobre você ter ou não sido mau (de propósito ou não)
chegado esse questionamento
não importa só se se foi mau ou não
o que foi feito foi feito. não há voltas, não há curvas
o agora é decisivo. quem você vai ser daqui pra frente
quem?
o amanhã é uma nova oportunidade
é mais uma chance de ser bom
você pode tomar ciência dos seus erros e persistir neles
pode piorá-los ainda mais
e pode ser alguém melhor apesar deles
e há de ser.

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eu celebro suas vitórias como se fossem minhas porque te ver vencer me eu tenho que dizer: eu tenho orgulho de você.
alegra por inteiro eu sei que trabalhou duro e sei que ainda está trabalhando duro e eu tenho
eu rio com seu riso como se viesse de mim porque você me passa a certeza de muito orgulho de você.
que existem coisas boas a se viver e ver todo. santo. dia.
eu me alegro com a sua existência como me alegro com as coisas mais simples uma amiga me diz sempre que pessoas boas estão destinadas as coisas boas,
porque sua simplicidade é imensa e eu sou apaixonada por ela, sabe? e eu acredito nela, e acredito que isso se aplica a você, se aplica a nós.
porque um dia eu aprendi sobre códigos e programações e me disseram que por vezes é difícil acreditar, mas acredite comigo.
a simplicidade faz coisas grandiosas quando eu olho pra você eu só vejo uma pessoa brilhante, alguém incrível,
que minha máquina é assim imensa em possibilidades por ser simples em que está destinado a brilhar no mundo.
princípio eu amo você. amo mesmo.
e eu sorri porque lembrei de você e estou aqui por você quando precisar, eu estarei.
eu sorri porque pensei na sua vastidão e no oceano que você me apresentou eu gosto de como conviver com você traz boas partes de mim à tona, isso é
e eu me sinto com você como a humanidade se sente em relação ao planeta - incrível e sou grato por isso.
95% das águas do mundo não foram exploradas, não sou capaz de definir outro dia eu me deparei com o post de uma amiga onde ela contava sobre
quanto de ti não conheço (quero ganhar minha vida conhecendo) algo incrível que está acontecendo na vida dela e de outras pessoas, e eu disse
quis contar pra você quando me disseram que coisas que eram fáceis de pra ela que o que eles fazem traz tanta alegria por sempre fazer a gente
programar e fazer eram difíceis e custosas de se interpretar e eu lembrei da lembrar de que arte é sobre pessoas.
sua voz dizendo sobre como nós somos pessoas, portanto, somos arte.
é difícil entender o mundo quando é fácil viver a vida lembre-se sempre disso, por favor.
ou nós somos arte.
é fácil entender o mundo quando é difícil viver a vida eu e você.
e eu quis beijar a sua boca porque aquilo parecia fácil no momento e depois lembre-se disso porque os dias escuros e difíceis virão, e você então declamará
eu quase ri porque as implicações realmente eram complicadas pro espelho essa certeza até que creia novamente, porque é uma verdade
e eu sei que você odeia minhas metáforas complicadas, mas eu queria bem você
simples é
pra ser bem grande arte
(eu te amo) e eu amo cada parte de você.
(talvez esse seja um texto sobre amor próprio)

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embaçadas que se misturavam, o que também fazia da gente muito
diferentes. Como pra você tudo isso fazia sentido? Eu quase não conseguia
acompanhar. Você respirava devagar.
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eu pensava em te beijar e acariciar a ponta dos seus dedos em dias difíceis de
E sempre. Sempre continuava. levantar da cama. eu te seguraria nos braços mesmo isso sendo fisicamente
"É interessante tentar observar o que funciona pra cada um. E como existem impossível e faria um berço de nós lutando contra o mundo.
extremos absurdos pra cada lado e como também existem pessoas muito te amar nunca seria errado, independente de quem tentasse dizer o contrário.
confortáveis no meio. E como na verdade tudo é muito turvo e se mistura seria sim muito certo sentir seus dedos entrelaçados aos meus e você
porque mesmo tentando ninguém cabe em caixas. Isso não te tira o ar? É sussurrando que me ama, me ama muito.
absurdo. A gente é volátil! Eu, você, o tio da padaria, a moça da floricultura, o me pedindo baixinho pra ficar mais um pouco e eu ficaria todo o tempo do
atendente do bar. Todo mundo. A cada segundo estamos mudando. Dentro mundo só pra te ver falando de novo e de novo de como ama meu sorriso
ou fora do ambiente controlado. Porque na verdade não existe controle, você eu sorriria o tempo todo só pra ouvir a sua voz
e eu sabemos bem. Isso não te desespera?" eu pensava em beijar o canto dos seus lábios e ver sua íris bem de perto e
E eu nunca soube bem como reagir a tudo que você falava porque era sempre repetir o quanto eu te acho tão tão linda
tudo despejado e sempre parecia a primeira vez e você era intenso como a quase linda demais pra ser real
melhor montanha russa e eu adorava cada segundo. E sim, isso me eu chamo a gente de um clichê ambulante porque até as histórias de amor
desesperava. Mas você falava com muita calma então nada fazia muito mais loucas no final são todas muito parecidas
sentido. eu gosto de sermos como um casal de livro
E continuava. E continuava. mesmo que um livro pouco vendido e definitivamente não um best-seller
"E você tornou isso tudo muito mais interessante, sabia? Eu vi em você parte mas tudo bem, nós somos sim muito bonitas na nossa singularidade
desse conceito que eu nunca tinha pensado antes. Você, ligava no 220v, e de novo sentir o seu toque é a certeza de que não importa quem diga que é
energética, não para. Você voa sem parar. Mas você tem seu próprio ambiente feio
controlado e leva ele com você. E agarra ele com todas as suas forças. Você nós somos sim toda a beleza
me mostrou ainda mais como tudo é mistura e como ninguém cabe em somos sim incríveis
caixas." e é amor nos cachos dos seus cabelos e nas minhas unhas coloridas por
Meu sorriso se desfaz um pouco. Mas você fala tão calmo. Parece não haver esmaltes escuros
defeitos ou problemas em nada disso. Eu vejo, mas você sempre diz como é amor quando eu visto uma blusa sua e prefiro ela em você, mas você até
nada é errado. Deus, como eu gosto de ouvir você. pausa pra dizer
E finalizava. 'você fica absurdamente linda nas minhas roupas'
"O ser humano é brilhante, querida. Brilhante! Isso não te fascina?" eu pensava em segurar a sua mão frente uma nevasca ou uma chuva torrencial
Você me fascina. e correr feito crianças
O resto é consequência.

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e no banho quente que viria depois, mas que não me salvaria da gripe "É que todo mundo é volátil. Sim, todos os termos da palavra. Todo mundo
e em você preocupada e brigona como uma mãe cuidadosa dizendo que eu pode voar. E todo mundo muda de forma fácil e frequentemente. E todo
sou mesmo louca de meter você nessas mundo pode voltar ao gás"
(mas depois eu te veria sorrir ao se lembrar. e seu sorriso iluminaria meu dia Lembro que da primeira vez que ouvi isso eu dei risada. E você me olhou muito
mesmo com tudo tentando atrapalhar) sério, porque você falava muito sério.
é sim amor deitar sob o céu estrelado numa noite bem fria, meio embriagadas Então eu suprimi o riso e fiz cara séria também. E você riu.
mas sua gargalhada gostosa cortar o ar gelado e inundar os meus ouvidos e E continuou.
transformar os meus sentidos "Todo mundo pode ser o que quiser. Sabe? A personalidade da gente é
a leveza de morar em você é muito certa inexplicavelmente mutável. Daí o três. Figurado. E isso é brilhante porque dá
e seu abraço é toda a certeza que eu preciso a possibilidade, veja que eu disse possibilidade, da gente nunca permanecer a
fica? mesma pessoa. E isso acontece geralmente. Para alguns mais que para outros.
Uma das formas mais fáceis de mudar é se permitindo voar. Porque 1) a gente
pode voar. Como dito no verbete - aí sua boca - e 2) voar traz muita
perspectiva. Mas também riscos. Muitos riscos."
E nessa hora você geralmente parava pra respirar e tomar uma água. Era
interessante observar como falar disso te esgotava e te dava energias em uma
contradição muito bonita de se observar.
E continuava.
"Na química uma vez me deparei com elementos que só podiam ser
administrados em ambiente controlado, ou reações indevidas aconteciam e
tudo dava errado. Vê, a gente é esse elemento. Mas a coisa é que não existe
o dar errado com seres humanos. Pra tudo há jeito. Algumas demandam mais
tempo e esforço que outras, mas pra tudo há jeito. E por isso voar é perigoso.
Liberta, dá perspectiva, faz vivenciar o novo e o novo é maravilhoso porque
abre portas, janelas, mundos inteiros. Mas... é bem longe do nosso ambiente
controlado. E para alguns viver é nunca sair desse ambiente e tá tudo bem.
Outros vivem e queimando sob o sol e tá tudo bem também. E há quem adore
ciclos infinitos de cura e queima e essa intensidade no viver é gritante e
absurda. É como eu gosto de viver, inclusive. Com o motor no máximo"
Lembro que nessa hora eu explodia por dentro porque eu me via muito em
você, mas também sabia que seus conceitos eram linhas confusas e

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De tudo que você me ensinou, me lembro fortemente de como você falava meu professor de estatística disse que somos um desafio à matemática.
das características das pessoas. Lembro bem porque pra você era muito tá bem, talvez ele não goste exatamente desses termos, mas gosto de como
simples e tudo se baseada na ideia de pessoas eram como elementos voláteis. soam poéticos.
Lembro de dizer: como se nossa existência fosse um desafio às leis naturais e ao fluxo.
"- Voláteis?" deixa eu te falar: em um cálculo probabilístico, quanto mais variáveis, menor
Sim, boba assim. Dá pra imaginar essa cena na cabeça como de um filme mal o valor final, dado que multiplicamos os valores.
feito. Parecia, na verdade. a função produto das curvas que finalmente nos colocaram sobre os mesmos
E você me ensinou que volátil não significa só uma coisa, mas muitas. E que pés, no mesmo lugar, no mesmo tempo espaço tende a zero no infinito
todos os significados faziam parte na explicação do seu conceito. Digo mas ainda assim eu tendi a você
conceito, porque você dizia também que na verdade tudo não passava de uma é engraçado como pra mim a definição do destino vem de uma matemática
das formas de encarar a vida e suas nuances. que tropeça nos próprios pés
Lembro de pedir repetidas vezes pra você me contar dos significados todos e tudo bem, meu professor realmente não ia gostar dessa definição.
de como se aplicavam. Pedia porque gostava de ouvir sua voz e admirava seus mas vê, eu aprendi que confiamos como confiamos na estatística porque ela
olhos brilharem ao explicar porque pra você o ser humano é brilhante e eu geralmente está certa.
gosto de ver a fé com a qual você encara a humanidade. e os cálculos provam isso com uma chance de acerto muito alta, tão alta que
Depois de um tempo você passou a andar com um recorte de dicionário do um erro só poderia ser
bolso porque eu gostava muito da forma como sua boca se mexia ao destino
pronunciar a palavra verbete. eu gosto de como soa poético dizer que estava escrito em algum lugar que a
E você começava gente ia se esbarrar e transformar a vida um do outro
"Vo-lá-til se não gosta de destino pode dar outro nome
(do latim, volatilis) [você sempre se embolava nessa parte nessa parte] mas não vou negar que coincidência talvez seja uma palavra fraca pra definir
adjetivo de dois gêneros esse encontro de corpos
1. Que tem a faculdade de voar pra definir como orbito em você
2. Relativo a aves a matemática explicitou os termos que te colocavam graficamente fora da
3. [Figurado] Que muda de forma fácil ou frequentemente minha vida
4. [Química] Que se pode reduzir a gás ou vapor" colocou nossas variáveis em sistemas isolados, provou como eram
E eu sorria muito grande ouvindo isso tudo e até fechava os olhos pra sentir independentes
cada palavra. t e n t o u estatisticamente comprovar que minha existência não seria tocada
E continuava. pela sua

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e aqui estamos mas te digo que energias transferem e transformam e ainda há tanto que a
em um universo vasto em milhões de planetas e estrelas tua pode fazer na minha
coexistindo eu estaria muito bem sem você, sim, se
te tocar é desafiar a ciência e eu sou cada dia mais apaixonado por essa mas, babe, não há se
sensação e sou tão grata por vivermos essa linha e não outra
se somos todos pintores de histórias, somos todos também quadros
deixa em mim sua obra de arte

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eu queria me fazer sentir na sua vida como uma brisa leve que balança seus hoje eu me perdi em você e eu senti que era meu fim e que não tinha mais
cabelos numa tarde quente e faria você se sentir grata volta. aquele estalo, sabe? quando eu senti minhas vias aéreas se fecharem e
porque eu me percebo muito distante de ti as vezes e não é por mal, meu bem, meu peito ardendo porque me faltou ar e ainda assim eu rezei baixinho
não é praquele momento nunca terminar.
por mim estaria eu contigo nos braços quando o desespero te acomete pra você nunca terminar.
por mim seria eu capaz de tocar seu rosto e limpar tuas lágrimas eu te olhei tanto e eu só pensava repetidas e repetidas vezes no quanto você
ou talvez seria quem te diria: chora e deságua, amor é linda e que eu queria gritar isso do mais alto prédio no mais potente
eu te contaria sobre as coisas químicas matemáticas e físicas mesmo sem megafone porque é injusto com o mundo que sua beleza não esteja em todos
entender todas elas os telões do planeta - mas faz meus olhos se sentirem os mais privilegiados
só pra te ver rindo em certo ponto e dizendo que já não entende mais nada desse mundo.
e depois te ouviria falar sobre a história a ciência e a filosofia enquanto me eu te olhei tanto e eu só queria que todo o movimento de rotação e translação
contava sobre as relações humanas e os meios de comunicação ou parassem pra eu me perder no teu olhar até meus poros explodirem porque
simplesmente me explicava sobre processos fotográficos eu não caibo mais em mim.
às vezes eu sou quem crê piamente em uma sintonia só nossa que existe e eu te desejei.
circula onde a sua capacidade de falar até se fazer entender está conectada e eu quis muito ganhar na loteria pra isso tudo ser mais fácil, mas você é minha
diretamente à minha de escrever até me esgotar o sentir sorte no amor e não se pode ter tudo.
em outros dias eu sou também quem teme o vazio que sinto ao não sentir o e eu vi você desejar o mesmo enquanto fingia não estar em desespero olhando
toque da sua mão e me ver incapaz de fazê-lo meu sorriso que não finda quando eu to com você.
mas mesmo nesses dias eu sento em muros eu sinto árvores eu respiro fundo eu queria ser consagrada pra falar de você pro mundo inteiro, mas eu derreto
e eu sou capaz de sentir sua energia me circulando me rodeando se mesmo é quando você me pede pra falar baixinho no seu ouvido tudo isso que
impregnando nos meus poros eu sinto no meu coração, que você quer guardar só pra você.
e me imagino te fazendo um carinho n'alma que eu não sei se tu sente, mas e eu adoro como você fala de mim e me diz que eu sou furacão, mas eu gosto
eu sinto em cada canto meu mesmo é de como eu sou calmaria quando você me olha.
você me falaria assustada nos dias frágeis sobre a complexidade do universo e eu queria eternizar isso tudo porque você mudou a minha vida e me fez
e eu te lembraria convicta dos dias em que você jura conquistá-lo acreditar em destino e duvidar das probabilidades e da ciência.
e sorriria gritante nos que jurasse que ele já é seu e eu não sou mais a mesma.
outro dia você me disse que eu estaria muito bem sem você porque as pessoas e eu estou apaixonada por você.
se curam
eu penso: talvez

54 19
mas eu me perco...
8 e a satisfação é momentânea, mas não passageira
a de encontrar amor e paixão em algo tão exato - logo eu, Jhonny, a rainha da
te conhecer foi meu melhor acaso.
a análise combinatória das variáveis do universo dizia que não. inconsistência
a estatística dizia que não. faz sentido?
a probabilidade era de não. o dia foi bom, mas cansativo como um porre, Jhonny, mas tem o amanhã que
e aqui estamos nós. vem com a força de um tornado me lembrar da sequência da vida
você foi a reta que o mundo jurava ser paralela a minha e é lindo, amor, é lindo
jurou errado.
a solução desse sistema de incontáveis variáveis gerou nosso ponto de
encontro e eu beijei a sua boca no que pareceu ser uma falha no espaço-
tempo.
como quem não tinha nada a perder.
te conhecer foi meu melhor acaso.
e você sabe da minha mania de pensar nos se e eu me perco neles às vezes
pensando nas possibilidades todas que indicavam que íamos morrer sem nos
conhecer.
mas aqui estamos nós.
e eu gosto quando tu me diz pra parar de buscar o inalcançável e apenas
aproveitar a ideia de que
o universo nos concedeu a dádiva de deslumbrar o fato de coexistirmos
e você dizia isso com um sorriso curto nos lábios
e eu beijei de novo a sua boca no segundo em que o sol se explodiu
mas você sabe eu penso muito nas combinações todas
e você repete que eu não sou máquina e nem as máquinas
e que perda de tempo é perder meu tempo
quando poderia
e beijei novamente a sua boca quando os planetas todos se alinharam
e te conhecer, acaso ou destino,
variáveis dizendo ou não,
foi o melhor.

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30 9
sabe, Jhonny, eu às vezes me perco nos números quando me deparei com melancolia Lars von Trier fez parecer que o filme foi
por mais que eu repita que viver transpassa padrões e fórmulas, eu ainda me feito pra falar comigo.
perco então eu o senti. e esqueci que você estava ali comigo. senti.
me perco porque possuo uma paixão barata por eles, você sabe desesperadamente.
eu gosto mesmo das coisas que posso manter sob controle como um nó na garganta que se recusava a sair. como um bolo no estòmago
e de compreender fórmulas e aplicá-las em problemas vários que eu me recusava a vomitar.
eu gosto de desenhar soluções elegantes eu senti melancolia vindo. porque melancolia sempre vem. pra todos nós.
gosto da satisfação de um ponto final em um desenvolvimento trabalhoso eventualmente.
eu te contei outro dia sobre odiar cálculo porque minha lógica as vezes é falha senti.
mas amar métodos numéricos que me ensinam sobre formas alternativas enquanto me paralisava de medo e suava gelado. e sentia melancolia me
e você riu porque você não entendeu nada, Jhonny, e tudo bem dominando e me superando e tomando conta dos meus poros e me dizendo
(a vida é muito além disso, lembra?) para aceitar e conviver que melancolia existia e existe melancolia para todos
mas eu ainda me perco nós.
nas entrelinhas de cadernos sem linhas porque minha letra é um escândalo e há de vir.
que eu não consigo parar minha garganta fechava enquanto eu observava melancolia engolir os
eu me perco protagonistas enquanto poderia muito bem estar me engolindo - parecia
nas horas que passam sem que eu perceba no corpo que cansa antes de eu estar. eu sentia como se estivesse. desesperador. desesperador. desesperad
me dar conta e você apertou forte a minha mão. quente. forte. seu olhar estava muito sério
de que passou o dia para a tela, muito sério. eu lentamente parava de tremer. você parecia
e eu vivi nos números devorar melancolia enquanto melancolia devorava nós todos. como...?
mas entre o primeiro o segundo e o terceiro round de um dia complicado você sorriu. e melancolia subitamente pareceu muito menor e insignificante e
eu tirei uma fotografia de um céu poente alaranjado eu já não ligava de ser destroçada amanhã ou pra sempre desde que pudesse
eu dei bom dia boa noite e bom trabalho pra moça da loja que vendeu a minha gravar teus detalhes na minha mente hoje. melancolia podia me ter quando
janta quisesse, mas hoje não.
eu sorri pra um estranho hoje não.
conversei com meus amigos melancolia há de vir. mas hoje não.
reatei laços hoje você me esmaga o peito e você que me consome os poros e me faz faltar
reafirmei amores o folego e o ar e me desfaz os nós na garganta e os bolos no estômago e me
permeando e entremeio aos números diz: hoje não.

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porque melancolia é o fim de nós todos, mas o fim de nós todos não é hoje. Todos nós, Tom.
não é agora. E Summer, você me deu a maior rasteira de todas. Talvez sua falta de
agora você era um planeta muito maior que melancolia. e eu orbitava por compromisso exacerbada tenha causado alguns problemas pelo caminho, mas
você. gravitavelmente. hipnotizada. nada supera você dizer que simplesmente teve depois a certeza que as
muito maior que melancolia. dúvidas de antes não te deixavam ter. E essa foi pra você a definição de amor,
hoje não. e eu sorri. Porra, Summer.
me devora inteira antes do fim e me faz esquecer melancolia e o fim de nós Eu decidi ver 500 dias com ela esperando chorar ou rir, talvez, mas eu acabei
todos e desejar viver intensamente e fazer tudo valer a pena e sorrir aprendendo sobre amor a partir de um término. E eu talvez tenha até a
desesperadamente. audácia de discordar do narrador, e dizer que é sim uma história de amor.
me lembra que sou minha enquanto me faz sua. Amar é ensinar, afinal, e o que Tom deu a Summer e Summer deu ao Tom não
escreve uma nova bíblia na minha pele e me deixa realizar uma segunda tem preço.
impressão na tua. O amor existe enquanto estamos certos dele, e não precisamos sempre estar
melancolia, hoje não. certos sobre onde depositá-lo. Ele sobrevive apesar de ter sido exposto a
hoje. não. impurezas.
A gente sobrevive, apesar de.

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eu acabei de assistir 500 dias com ela. eu sei, um pouco atrasada pra festa. eu sempre te falei sobre como minha religiosidade é alheia a templos. de como
talvez tenha chegado a tempo da sobremesa, não sei. preciso dar minha gosto de sentir deus em locais diferentes e inusitados.
contribuição. quer dizer, eu cresci lendo sobre como summer era uma mulher você sorria.
desalmada e sem coração. isso gruda na sua cabeça, sabe? e sempre me me entendia, mas acho que talvez não totalmente.
passou pela cabeça o que diabos ela podia ter feito de tão cruel e insano a mas entendia.
ponto de ser literalmente praguejada. resolvi ver o filme. eu podia ter visto ele e eu repetia sempre sobre como deus pra mim era sentar num bosque entre
bem antes, mas nunca me pareceu a hora certa pra se ver o que prometia ser as árvores e sentir a brisa e o sol quentinho na pele.
um puta romance dramático e de chororô. daí hoje, atoa, férias, pensei: por deus pra mim era quando eu andava na rua com pressa e perdida e começava
que não? assisti. puta filme do caralho. eu só consigo pensar repetidamente uma chuva gostosa que me lavava a cabeça e os problemas todos pareciam
na Summer sentada com Tom, ele agora desacreditado no amor e ela crendo. infinitamente menores daí em diante.
"Você estava certo sobre o amor Tom, só não estava certo sobre mim". e era estranho porque eu via tanta gente buscando deus em coisas tão
Porra Summer. grandiosas e a grandiosidade disso tudo está em coisas tão simples.
Não vou desmerecer Tom e seu sofrimento, nem o invalidar. Cada um tem seu simplesmente.
tempo de se curar e se cuidar depois dos acontecidos, e tudo bem. Talvez está.
tenha faltado um pouco de clareza, talvez, da Summer, mas não faltou eu não sabia mais como falar disso tudo pra você porque já não sabia
honestidade. Eu tive uma pista sutil bem antes do Tom, que enxergou o que descrever as sensações todas absurdas que habitavam em mim.
ele queria ver. Não há culpa, também. Foi como tinha de ser. Devastou e já não sei.
mudou o Tom pra sempre, ensinou uma lição valiosa pra Summer. eu senti deus quando entrei em um ônibus lotado com muitas malas e tava
A gente nunca perde por tentar, sabe? tudo muito quente e todo mundo cansado e ainda assim mil mãos se
Caralho, Tom, cê tava certo sobre o amor. Só faltava ver que a gente as vezes prontificaram a me ajudar a descer todas as minhas coisas.
deposita amor nos lugares errados. Ou certos, mas apenas sorrindo.
momentaneamente. A eternidade é breve como um respirar, ou como um abertas.
verão. 500 dias com ela na cabeça e todas as marcas que vão durar a vida ajudando.
inteira - é muito bonito isso, engrandecer depois de alguém. eu senti deus.
Talvez não exista destino, Tom. Eu sou forçada a acreditar que existe, mas senti nas lagrimas que escorriam no meu rosto por aquele momento agraciado
talvez realmente não exista. Talvez a probabilidade esteja correta acima de e simples e que mudou completamente meu dia.
tudo e sejamos apenas mais ou menos sortudos de esbarrar com as pessoas mudou.
certas na hora certa – pra ter relacionamentos ou não que vão durar e, sabe, eu só to falando disso tudo porque eu finalmente entendi o que me
exatamente o que tem que durar. E vamos ficar bem, eventualmente. aconteceu outro dia enquanto conversávamos.

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e você me mostrou uma foto sua sorrindo e eu senti meus poros explodindo eu decidi ser honesto porque a honestidade atravessa meu peito e pode
e minha pele se descolando de mim e meu coração descompassado e minha chegar em outro peito que talvez sinta também a necessidade de ser honesto
garganta gritando no silencio. minha mente é solidão
eu entendi. é minha prisão e minha liberdade em uma medida confusa e esquisita e por
sabe? vezes dói
eu senti deus no seu sorriso. e como dói
eu sinto. segura a minha mão e confia, por favor, que sou sobreviver ao meu deserto
árido
segura a minha mão
e vamos.

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minha mente é terra de ninguém. eu queria saber dizer como foi que isso tudo pode acontecer.
a minha incapacidade de comunicação segura minhas mãos e sela meus lábios eu, amante de coisas aceleradas, me vi pausa. assim, simples.
e meu momento mais sozinho é quando paro pra refletir no quanto não você veio, e o que era duzentos por hora agora é câmera lenta. como se a casa
compartilho com o mundo. fosse sua. só entrou, sentou no sofá, pegou o controle e desacelerou o filme.
uma vez alguém me disse que eu sou difícil demais de ler e complicada então eu aprendi a gostar das coisas em pausa.
complicada demais de entender porque eu sempre omito eu sempre omito porque você era minha pausa e eu aprendi a ser pausa e foi arrebatador. cada
porque tá tudo bem, amor. tá tudo bem. momento que durava uma eternidade e cada sorriso seu que eu via passar
eu converso comigo mesmo na minha mente e tento resolver as questões sem devagar, como se pra sempre. era pra ser pra sempre. mas não foi. e você foi.
a necessidade de regurgitá-las em alguém se foi.
às vezes em forma de texto mas a pausa ficou.
eu penso coisas de mim que não tenho coragem de expor, eu não desejo a e eu nunca gostei de pausas.
ninguém eu gostava de respirar o ar lentamente quando eu tinha você expirando junto
eu penso coisas de mim que jamais falaria por não desejar jamais ouvir de comigo.
outra boca gostava de ver o sol se pondo quando você dançava uma música qualquer ao
autodepreciamento não dói mais do que ouvir de outra boca meu lado
eu que vivo incentivando outras pessoas a se amar, as vezes sou um deserto eu nunca gostei de pausas.
seco e agora o mundo passa devagar e ele é cinza. e eu só queria reaprender a ver
e eu sei, amor, florescem coisas em mim as coisas na velocidade certa e aproveitar as coisas apenas o suficiente.
até o clima mais inóspito na verdade é habitável, basta apenas encontrar por só queria minha paz para dormir e conseguir ver o dia nascer e não lembrar
que(m) do seu jeito calmo, ouvir músicas sem pensar na tua voz e viver como se eu
a minha mente é terra do diabo. não estivesse transformada, mas eu estou.
antes fosse de ninguém, na verdade. daí quem sabe não chegassem os porque eu aprendi a gostar de pausas.
pensamentos que me destroem e corroem. eu nunca gostei de pausas.
eu decidi que falaria mais sobre as coisas que me atingem eu decidi ser bem
honesta na minha escrita então
perdoem
a falta
de amor

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Me disseram um dia que amar era sobre cair. O tempo tentou te apagar de mim.
Fall in love. Como quem joga alvejante em roupas brancas sujas demais na esperança de
Língua diferente, mas não menos sensata por isso. vê-las novamente radiantes, daquele branco de doer o olho.
Eu caí por você. Se amar é cair eu fechei os olhos abri os braços e pulei do Tentou te transformar na razão das minhas crises e tentou te demonizar
precipício desejando nunca tocar o chão. enquanto eu te transformava num anjo renascentista.
Assim, sem fôlego virgulas ou pausas. Pulei. Cai. Os meus lapsos de memória tentaram ser mais constantes ainda como se o
E te vi pulando logo depois também sem ar e com muito medo. meu físico temesse que suas marcas fossem permanentes.
Estávamos aterrorizadas. A vida tentou me jogar em caminhos distantes dos seus
Nos momentos lúcidos nos debatíamos em agonia, mas é muito difícil ter E as horas do dia parecem se encurtar pra te tirar de mim pouco a pouco
lucidez com você tão perto tentando tocar a minha mão. pouco a pouco
Tocou. Me sentiu e nos sentimos e eu quase esquecia o sufoco que me subia A rotina tentou te botar pra fora de casa quando montou meus horários e
a garganta toda vez que eu olhava pra baixo. padronizou as minhas rotas e uniformizou as minhas roupas e me disse
Não ver fim liberta e aprisiona. pra
Mas tu sumiu. Tu entrou em pânico tu enlouqueceu e tu, que havia pulado só não
com a roupa do corpo, abriu um paraquedas. pensar
Paraquedas? Paraquedas. Os livros tentaram me curar de você repetindo sobre a efemeridade das coisas
E eu continuei caindo e continuo caindo e a cada segundo te vejo mais longe O cosmo tentou suturar essa ferida tentando provar sua insignificância frente
porque tu se protegeu e eu continuo jogada. a continuidade do mundo
Eu pulei. Realmente só com a roupa do corpo sem saída de emergência sem As pessoas todas que continuaram as mesmas depois de ti tentaram induzir
tubos de oxigênio sem corda de segurança sem paraquedas. em mim a não necessidade de você
Sem paraquedas. Mas, veja, eu preciso.
E eu queria muito sentir o toque da sua mão tranquilizando o nó na minha Coexistir com você é uma dádiva que o contínuo espaço-tempo entre nós
garganta porque eu ainda olho pra baixo e não vejo fim. tenta, mas não consegue apagar
Não vejo mais libertação nisso.
Hoje eu não mais te vejo e eu me agonizo e me debato e não tem quem me
tome o rosto e me obrigue a controlar a respiração.
Respiro enlouquecida.
O horizonte te engole e eu o demonizo - queria eu te engolir inteira.
Queria. Eu. Te. Ter.
Eu pulei por você

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eu tenho medo do amanhã na mesma medida em que o espero como um
eterno recomeçar e mais uma chance de ser bom de novo
de melhorar de novo
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eu vi em você a bondade de uma nação inteira
eu vejo o amanhã como um eterno perdão você segurou bem forte a minha mão nos momentos desesperadores e um
obrigado nunca será suficiente
eu estou aqui por você, então
eu vi você enfrentar tempestades inteiras
eu vi você desafiar gigantes
eu vi você na fragilidade de uma criança
e eu te amei com a força de um tsunami
eu beijei seu corpo como um furacão beija uma cidade e a consome
(mas depois floresce de novo)
eu vi em você um coração do tamanho do mundo
e disposição pra transformar
obrigado por permanecer
obrigado por escolher ficar
eu amo o que você foi
deixa eu ter a chance de amar o que será.

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eu escrevi muitas histórias sobre nós porque você me prometeu que algum você me disse que a humanidade é um eterno ciclo de erros e aprendizado
dia seria fácil mostrá-las pro mundo repetidos e incansáveis e fatídicos e viu um arrepio me subir a espinha
e hoje eu me peguei encarando a parede e me perguntando se algum dia eu e quando a bile quis sair do meu estômago eu não soube dizer se odiava sua
fiz algo que não foi por você fala ou o que ela significava ou o quão real ela poderia ser ou não saber se ela
porque eu olho muito pra trás e eu já não sei mais onde eu tava antes de você o era
- e eu não quero eu não quero saber e eu chorei
porque eu temo muito olhar pra frente e ver seus passos longe dos meus. eu porque os dias que eu gastei tentando entender porque essa frase me cortou
temo te perder como faca afiada porque me fez sentir exposta porque me causou tanto medo
e eu sei da sua promessa de ficar apesar e através de tudo, mas eu não consigo e eu não soube dizer
me distanciar do fato de que as pessoas se cansam de mim e das inconstâncias eu não soube explicar sobre a bondade que vejo nas pessoas e como errar é
e das loucuras e eu tenho tanto medo de te perder sim intrínseco a nós mas também é o perdão e a evolução
por favor me perdoa se eu às vezes parecer distante é que quando eu me olho eu não soube traduzir como eu sinto em cada uma a capacidade de ser melhor
no espelho eu sequer me reconheço e tenho tanto medo de me sentir - pra si, pro mundo, pro amor
estranha a ti e eu não soube conciliar meu amor às pessoas com meu medo da dor
por favor me perdoa se às vezes eu não souber lidar com o meu sentir e potencial que podem causar - em mim, em si, no mundo
entende que eu acredito sim na transformação das coisas eu não sei
(e creio que meu amor por você transformará o mundo) e como eu chorei
eu escrevi muitas histórias sobre nós porque eu jurava pra mim que essa talvez por querer e tentar todos os dias restaurar a minha fé nas pessoas
fosse uma das formas de perpetuar o que eu sabia que não duraria e hoje eu eu chorei porque alguém um dia me disse que deus poderia ser um átomo em
sou saudade derramada aos prantos cada ser e eu poderia dizer pra você que isso pra mim é prova de que todos
talvez eu só queria sentir teu cheiro de novo podemos ser bons apesar de - e você riria e diria que isso seria como dizer que
sentir que você se importa de novo bondade é genética
daquela velha forma e eu gritaria desejando que fosse, por favor, que seja.
porque eu sei que no fundo nada mudou, mas tanto mudou e às vezes eu eu grito e rasgo minhas cordas vocais ao insistentemente tentar convencer o
tenho medo de voltar a ser a mesma de antes espelho de que ainda há pelo que acreditar - e eu consigo, eu juro que consigo
(quieta, calada, silêncio) e eu me desespero ao me ver tão frágil diante do mundo, mas tão forte diante
você me deu a voz de mim
eu tenho medo de usá-la. e eu me desespero ao me ver tão suscetível a erros
mas tão humana em cada poro
tão perdoável

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eu era um minion numa grande empresa e eu seria inevitavelmente
substituída
eu temia ser assim em todo o resto
15
quando a gente se tocou, você sentiu amor?
você temeu o dia no físico e no espectro
não que seu buraco seria preenchido por outra pessoa eu sentia que eu tinha sido uma grande metáfora na sua vida
mas que não haveria mais buraco? daquelas que você lê em livros famosos e a professora leva pra sala de aula
eu sei que uma hora ninguém vai se lembrar de mim, nem de ninguém que eu em discussões onde cada um tem uma opinião e no final estão t o d o s errados
conheça seu coração sofreu descompasso?
e seremos apenas o que fomos outrora, pó, parte da matéria, composição do nessa dança (des?)ritmada da vida bailar com você foi de simples a complicado
universo em milissegundos
voltaremos no final parecíamos desconhecidos envergonhados numa aula de iniciantes
mas, em forró - não era pra ser sensual?
(como eu odeio a palavra mas seguida de vírgulas) eu te falei aquelas coisas bonitas todas e eu me nego a dizer que foram em
mas, vão
eu ainda tenho medo. porque valeu, né?
não importa se vão ou não lembrar de mim e você pode achar que esse sou eu remoendo coisas que deveriam ser
é inevitável esquecidas, mas se despreocupa:
mas, a gente tá desimpedido pro amor
mas, que pode descarrilhar sobre você na forma de outra pessoa
fosse o que fosse o -depois- e eu vou sorrir
eu queria ser capaz de me lembrar, eu queria ter sido alguém que pode cair no meu colo em forma de outro alguém
por mim e serei sim feliz
nada poderia me preparar pra noção de grandiosidade quando a gente se sentiu
gostam muito de me dizer que tudo tem propósito foi pra você poesia?
objetivo, funcionalidade você riria agora se pudesse me ouvir porque eu sei dessas respostas todas e
eu gosto de acreditar ou fingir me chamaria de ridículo por insistir em pedi-las
eu sou tão boa em fingir quando eu me des(entreguei) nas suas mãos
mas quando a porta se fecha eu sou fratura exposta a minha nudez máxima se fez
eu me suturo todos os dias sem anestesia o que você viu foi bonito?
eu vivo no limiar entre desejar morrer e temer o fim com todas as minhas podemos insistir na beleza de todas as almas
forças mas por vezes é difícil ver a minha no espelho
eu preciso parar de pensar, ou. olho no olho

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você me enxergou? eu sequer consigo me olhar no espelho as vezes porque eu tenho um
eu que as vezes sou invisível problema com a minha fisionomia
e tudo bem, amor, tudo bem você pode dizer que eu não tenho do que reclamar mas acho que todos temos
quando eu escrevo sobre você em algum ponto e em algum nível
você nota? eu não suportava olhar o espelho
outro dia uma garota me disse sobre os mil poemas que ela ainda havia de a ideia de me despedaçar com uma faca me ocorria minuto a minuto
escrever pra alguém que poderia ser amor na vida dela - mas não foi nada podia ter me preparado pro mar de pessoas
eu ainda tenho mil pra escrever sobre todas as nossas vírgulas e sobre o ponto eu nunca soube lidar com cruzamentos
final que dirá com cruzamentos lotados
porque babe você já foi à praia? já tentou boiar no mar? assim, deixando as ondas te
há beleza em nós mesmo após o fim. balançarem, o sol entrar de leve pelas suas pálpebras fechadas, sentir o calor
te inundando
a maré faz de você o que quiser, inclusive te afoga
o mar de pessoas me levava pra onde quisesse
eu não poderia sabe como lidar com a noção de grandiosidade
eu morava em prédio decrépito e esquisito numa rua comum de um bairro
comum de uma cidade atípica
eu trabalhava em um arranha-céu que do alto sussurrava pule
sussurrava
pule
eu tinha medo de me aproximar das janelas
mas as luzes, tão bonitas
eu nunca pulei.
eu costumava fazer horas extras quando podia não porque queria ganhar mais
foda-se o dinheiro
eu gostava de sentar próximo as janelas e olhar as luzes
era talvez o único momento em que eu me sentia completamente desalinhada
e desajustada, mas estranhamente pertencente
como se estivesse no lugar certo na hora certa e nada mais importasse
meu medo de grandiosidade nascia e morria no meu medo de ser descartável

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25 16
meus pulmões falharam e eu senti seu toque se perder no espaço Oi.
eu gosto da ideia de termos sido uma grande metáfora, sabe? talvez explique Me deixa dizer que você me mudou e ta complicado voltar a respirar. Me
o porquê de não ter dado certo - eu sempre tive medo da grandiosidade, afinal deixa.
você disse que seguraria a minha mão durante minha primeira visita a uma Me deixa dizer que você marcou coisas que você nunca viu e nunca tocou e
megalópole, mas nos esquecemos de quão rasas são promessas feitas no agora elas só me lembram o teu rosto e a tua presença - ou ausência. Me deixa
tempo gritar que mesmo sabendo que isso nunca foi sobre ganhar ou perder eu sinto
que te pedi de formas que me destroem - e perder o seu amor talvez seja a
o tempo não garante nada
menor delas.
então não é novidade eu te contar que não estava pronta eu nunca estaria
Me deixa.
pronta pro baque que foi pros sentimentos todos Me deixa contar sobre como hoje deitei na grama sob o céu muito azul e senti
eu sou muito pequena meu estômago doer porque sentia forte que agora eu só teria metade sua - e,
eu não sabia lidar com a grandiosidade de novo, sinto que me amar ou não nada tem a ver com isso.
eu não sei Me deixa.
nunca soube Me deixa sussurrar incômodos e dizer que não mais me reconheço no espelho
e em meio a lugares imensos e cheiros e lotados de gente e mais gente e que já não sei mais olhar ao redor e que já. não. sei.
eu simplesmente Me deixa.
me perdia Olha pra mim e me escuta quando digo que você não foi mas eu sinto você
eu entrava em crise dentro de hipermercados e tudo que eu queria era poder indo.
sentar Olha pra mim.
Me escuta implorar pra você não deixar eu me fechar por favor não deixa e
mas não há bancos na cidade acelerada
por favor me perdoa se algum dia eu te culpar por isso - é minha, minha culpa.
então eu tremia e continuava a empurrar o carinho
Por favor.
carregar as compras
Olha pra mim.
segurava o choro no ônibus Vê além do que eu mostro vê que to criando a casca - não da ferida, mas de
e ao fechar da porta eu era um colapso existencial mim.
uma falha no tempo Me enxerga. Mesmo sem mostrar nada em troca, lê as minhas entrelinhas e
um corte na pele do mundo me vê implorando pelo que era antes - não o amor, mas todo o resto.
uma rasura Olha pra mim.
um erro Vê como não me reconheço vê como não mais reconheço vê.
nada podia ter me preparado pra noção de grandiosidade Olha pra mim.
eu devia saber

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Me diz que não é só metade que to cultivando monstros.
Cospe isso na minha cara.
Olha pra mim.
24
O piano instrumental que toca me lembra você. Ironicamente, claro, porque
Não me deixa voltar pra lá. Não me deixa fechar meu livro a força. você os odeia. Appalachian Spring Suite. Não me pergunte de onde veio, não
Não. sei dizer.
Olha. Tô aqui pensando no seu toque suave e no calor dos seus lábios fazendo
poesia nos meus. Eu ainda te desejo.
Mas hoje mais calma, talvez. Paciente e ciente.
A música me coloca em stand by e me concentro em me recordar teu cheiro.
Consigo te imaginar sentada ao meu lado ouvindo essa música e me
praguejando mentalmente, maldita seja! Enquanto em tua mente correriam
mil informações e mil melodias - e eu seria pausa. E seria um estranhar gostoso
ver essa inversão de papéis.
A música acalma meu coração e me tira o foco. A imaginação entra em
desfoque e você volta a ser o que tem sido - um borrão.
Dou um sorriso sem graça pro que poderia ser uma expressão séria ou triste
ou feliz sua (ou minha? imaginação…), e eu nunca saberia, porque vejo teu
rosto manchado pelo tempo e pelas mágoas e as saudades que me consomem
no café no almoço e na janta.
A música faz meu coração bater, e me traz tanto a tona.
A irrefutável verdade de que sinto sua falta. De que ainda.
Eu poderia dizer que estou bem mas sabe eu cansei de ser boa omitindo.
Eu poderia dizer que estou viva mas eu sou apenas metáfora.
Eu poderia dizer tanto.
Mas, como esse instrumental, não digo uma palavra.
Sou melodia silenciosa.
Você ainda sabe me escutar?

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23 17
eu cortei meu cabelo quando eu não cabia mais na minha imagem de ontem Ainda sinto seu cheiro. E, sabemos bem, eu estou delirando. Mas me recuso
e mecha a mecha eu fui me desfazendo como se desfaziam meus cachos afirmar isso em voz alta, me recuso admitir - isso talvez leve seu cheiro
molhados embora, e, por deus!, eu preciso de algo para me agarrar.
escorrendo pelos dedos da moça impiedosa com a tesoura A sua imagem eu já vejo até mesmo nas portas de vidro, ou atrás do meu
meus ombros ficavam mais leves e o cabelo que ia levava embora o passado reflexo no espelho, parada na cozinha, deitada ao meu lado no sofá e me
assim contando uma bobeira qualquer que pra você é grande. Seria grande pra mim
parecendo simples também.
só parecia é fato porque a vida continuava, mas uma nova imagem de mim E embora eu não saiba mais dizer quantas dessas memórias são reais e o que
podia ser uma nova pessoa e talvez estou inventando por puro desejo desesperado, eu me agarro a tudo isso com
só talvez as forças que tenho restantes.
pudesse então ter uma espécie de recomeço Ironia, talvez, seja que você tenha me devolvido essa capacidade. A de viver
eu não temia a falta de comprimento ou os olhares sonhando e imaginando, digo. Assim, leve, ignorando o fato da vida estar
eu não temia quem pudesse falar correndo no tic-tac do relógio enquanto inspiro e expiro o ar adocicado que
porque já falavam me rodeia.
eu não temia nada que aquelas mechas não pudessem levar embora Eu poderia mentir, mas nunca menti pra você. Onde eu olho tem você. E você
não pudessem rasgar de mim ao cair todas ao chão iria rir agora, se pudesse, e dizer que isso te lembrou uma música. E eu
não mais eu completaria: “É claro que lembrou”.
não Eu persigo sombras suas pela cidade, revisito onde andamos juntas, visito
mais sozinha lugares que eu gostaria de te levar. Talvez, de certa forma, te leve
eu comigo. E sorrio pro nada imaginando seus comentários enquanto me olham
essa tesoura não corta só meus cabelos torto sem entender, porque, veja bem, amor, eles não me entendem.
ela me tira amarras Nem eu, convenhamos.
ela me liberta de monstros E eu sei como é perigoso andar nessa corda bamba de vontades que ando
junto com meu cabelo vai embora quem eu era todos os dias. Eu sei como é. Sei como posso cair, me estirar no chão daqui de
vai embora o ontem cima desses 170 andares de você. Mas e?
eu me desprendo de quem eu era Talvez um dia me cure da sua perda.
eu to me desprendendo de você Espero nunca me curar de você.
cê tá livre.
voa.

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você também pensou em beijar a minha boca? eu não consegui levantar da cama hoje cedo. eu tinha aula. tinha aula as oito
quando suas linhas se desembaraçaram das minhas tinha aula as dez e tinha coisas pra resolver a tarde. eu tinha. tenho aula agora
quando suas poesias se tornaram sobre outra pessoa as cinco, nessa eu vim. foi difícil, é difícil.
quando teu olhar se desmagnetizou do meu eu queria ter levantado da cama hoje cedo mas tudo parecia demais. viver
você também pensou em voltar e se perder nesse furacão? parecia demais. as expectativas de um futuro pareciam demais, ou de menos,
quando as virgulas se tornaram pontos dependendo do ponto de vista.
quando os verbos mudaram do presente ao passado eu me vi um fracasso.
quando suas avenidas passaram a levar a outras moradas que não a minha porque tudo parecia estar mais encaixado pras outras pessoas e tudo parecia
você também pensou em cortar caminho pela floresta? fazer mais sentido pras outras pessoas e eu sei falam eu falo o tempo todo não
quando a reabilitação ficou impossível se compare, mas é tão mais fácil falar que fazer.
quando a desintoxicação quase me matou tão mais fácil.
quando o traficante te ofereceu outra dose de mim eu odeio a sensação de estar no meu próprio corpo e odiá-lo. eu odeio a
você pensou em voltar a ser usuário? sensação de sentir que minha mente é uma prisão mais do que salvação. odeio
quando os prédios ficaram altos demais a sensação de saber que jamais alguém botará a mão tão fundo em mim a
quando a vista ficou comprometida ponto de me desvendar.
quando o meu amor por cidades grandes venceu meu medo de insignificância eu queria ter levantado da cama hoje cedo, mas a mera perspectiva de me
você pensou em me reconsiderar? deparar com outras pessoas com o dia a dia e com o futuro me sufocaram.
quando eu me vi mais uma a mera perspectiva de me reconhecer incapaz me sufocou.
quando tu se viu mais um eu não consegui levantar da cama hoje cedo e eu perdi aulas eu perdi
quando o mundo continuou mundo conteúdo dum curso que não sei por que faço num lugar que não sei por que
quando as pessoas continuaram elas mesmas existo.
quando nos vimos pessoas outras no espelho e tudo dói.
você pensou? como dói.
eu peço perdão por desapontar tão grande por falhar tão grande por desistir
tão fácil por não ser o que você esperava. peço mas não peço.
eu queria, mas não consegui.
sigo tentando.

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Você me contou uma vez sobre como Kant falava do juízo de beleza. De como a gente não pode salvar o mundo.
ele é natural e desinteressado. Por consequência, puro. eu te segurava nos meus braços remendando como podia e o que podia, mas
Essa última parte foi fala minha. tudo em mim gritava que era hora é hora de ir embora.
E foi cômico porque enquanto você falava eu só lembrava do seu sorriso e de é hora de abrir mão.
como gostar dele parecia simplesmente fazer parte de mim. não se pode salvar o mundo.
Sem porquês. eu chorava com a crueldade das coisas e das curvas eu chorava porque há a
E mais cômico ainda porque você é a moça dos porquês todos e eu quem mais hora de partir e eu não queria partir, mas não havia opções
os refuta. Só sinto. nunca houve
Natural e desinteressadamente. eu pensava no bem que eu podia fazer se apenas
Só pensava nos seus olhos bem pequenos, até mesmo quando você estava se
seria. Lindos. apenas
E em como você é muito maior que a soma de todas as partes que eu poderia mas não.
perder a vida enumerando, e como isso é absurdo. é hora de partir.
Absurdo e tudo bem amor, salvar o mundo é um fardo bem maior do que nós todos
Enquanto você falava mil coisas passavam na minha cabeça, como sempre, e aguentamos e é por isso que ele fica um pouco nos ombros de cada um
eu queria ser capaz de falar de todas elas, mas não posso. coletivamente, quem sabe?
E é clichê que eu tenha terminado fazendo isso sobre você, mas eu sou clichê, eu tocava onde eu podia tocar
que pena. eu mexia onde eu podia mexer
Ou não. e sempre sempre há a hora de ir embora. é importante saber ou começa a
No final talvez eu só queira te arrancar um sorriso e te ouvir falando que sou doer demais e o ciclo não se rompe.
fofinha, boba e babaca. existe a hora de ir embora. repete comigo: existe.
Tudo verdade. nada é pra sempre, mesmo que dure muito tempo existe a hora de ir.
Talvez a beleza disso tudo esteja no fato de que eu poderia bater o pé e exigir e tudo bem, amor. não deixa de ter sido bonito por isso. não deixa de ser sido
de ti mil coisas. Insensato, mas poderia. verdade.
E, apesar de ser extremamente impulsiva, meu consciente e o subconsciente é hora, viu?
e o cérebro todo escolhem não. fique bem, até mais.
Te deixar livre foi minha decisão natural e desinteressada. a gente (não) se vê por aí.
Deixei.

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eu te falaria sobre como eu era a Alaska de formas inimagináveis e como eu
20 tinha medo de estar paralisada e eu tinha medo de não mais me mexer e como
odeio perguntas do tipo o que quando onde e porque e ao mesmo tempo eu
te diria sobre como me imobilizo e me recuso eu me recuso a me mover.
te ouviria falar sobre a inevitabilidade do fim com um olhar desesperado e um e você choraria comigo essa dicotomia dolorosa a qual me submeto e o mundo
leve arrepio e eu sorriria de te observar atingir esse estado de êxtase. se submete e todo mundo se submete e a gente se consolaria. e doeria, mas
eu veria você falar que Alaska era transcendental, e, deus, eu explodiria, a gente acordaria amanhã, e é isso que importa.
porque é sim, querida, é sim. e no final, você sorriria e diria: eu não te entendo.
eu falaria com uma paixão saudosa de tudo que me toca como se eu não e eu, feliz, retrucaria: você nunca me entende.
repasse tudo na minha cabeça a cada minuto, como se não pensasse demais, e tudo bem, querida, tudo bem.
como se não quisesse demais, como se não soubesse.
eu suspiraria desesperada pensando na morte de nós todos e na morte de
minha querida Alaska e no antes e depois que marca cada um de nós, esse
grande acontecimento, o nosso divisor de águas particular.
eu sentiria muito porque a vida não é como um livro e eu não podia começar
de novo e encontrar Alaska viva e sentir de novo tudo, mas de formas
diferentes, porque já sou outra.
mas graças, a vida não é um livro, e eu posso sentir o novo e desejar o novo e
viver o novo e pensar demais e tá tudo muito bem e sempre bem.
eu choraria com você quando você se desse conta da interminalidade dos
sofrimentos e de como são coexistentes conosco e como são uma das coisas
inevitáveis que nos ligam e nos humanizam.
eu te abraçaria e repetiria: ainda tá tudo bem, você sabe, certo? porque o
sofrimento nos dominou ontem e vai nos dominar amanhã e na verdade não
estamos atados a ele, mas convivendo com e apesar de, e isso é bonito, vê? é
bonito.
eu te faria sorrir falando sobre os arco íris que pospõe a dor e Alaska te
deixaria atônita pensando sobre o labirinto de sofrimento e você repetiria a
pergunta universal: como sair dele?
e, no final, saberíamos bem que tudo é sobre como lidar com as curvas e
corredores sem saída, com os obstáculos, com a escuridão e com o excesso de
luz. era tudo sobre enquanto estávamos perdidos.

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