1. Pergunta de concurso: faça a distinção entre direito real e direito
pessoal.
Resposta:
Os direitos reais são dados pela lei. Os direitos pessoais são infinitos, não é possível determinar o número máximo de obrigações possíveis.
O direito real recai geralmente sobre um objeto corpóreo. Já o direito pessoal
foca nas relações humanas, no devedor. Logo o primeiro é um direito absoluto oponível contra todos (erga omnes); mas o segundo é relativo, a prestação só pode ser exigida ao devedor.
No direito real o poder é exercido sobre o objeto de forma imediata e direta.
Mas o direito pessoal advém de uma cooperação: de um sujeito ativo, outro passivo e a prestação.
O direito real concede a fruição de bens.
O direito pessoal concede o direito a uma prestação de uma pessoa.
O direito real tem caráter permanente. O direito pessoal tem caráter temporário (ao fim da prestação se extingue a obrigação).
O direito real possui o direito de sequela: o titular pode exigir o exercício do
seu poder a quem estiver com a coisa. No direito pessoal isso não é admitido, além disso o credor - se recorrer à execução forçada - terá um garantia geral do patrimônio do devedor.
Somente direitos reais podem ser adquiridos por usucapião.
2. Posse é direito real?
R: Não. Quanto a natureza jurídica da posse, sustenta Savigny que a posse é
ao mesmo tempo um direito e um fato. Considerada em si mesma é um fato; considerada nos efeitos que gera, isto é, usucapião e interditos, ela se apresenta como um direito. Trata-se, assim, de um direito sui generis.
3. Teorias da Posse. Qual a adotada pelo CC/02?
2 teorias: Subjetiva (Savigny): Para haver posse é preciso que haja o contato com a coisa (corpus) e o desejo de tomar a coisa para si (ânimus). Objetiva (Jhering): É preciso apenas o corpus. A teoria objetiva é a adotada pelo CC/02. No caso da usucapião, o CC utiliza a teoria subjetiva (exceção). 4. É possível haver posse sem contato físico? E contato físico sem posse? Sim. Ambas são previstas no nosso ordenamento jurídico. Posse sem contato com a coisa (exemplos): 1) Posse indireta (só se fala em posse direta e indireta quando existir um contrato entre as pessoas, ex: locação); 2) Constituto possessório (cláusula constituti): Pagamento e assinatura da escritura no Cartório. O vendedor decide transferir imediatamente a posse, mesmo o comprador não tendo tido contato com a coisa. Isso é possível quando houver a clásula constituti no contrato.
Contato físico sem posse (exemplos):
1) Flâmulo da posse: detenção de uma coisa por ordem de outro. Ex: Caseiro; motorista de uma empresa. Presença de subordinação; 2) Contato de uma coisa pública: Não há posse de bem público (CF e entendimento do STF e STJ); 3) Atos de mera tolerância.
5. O esbulhador tem posse direta ou indireta? Plena! Posse direta e
indireta só existe em virtude de contrato. Esbulho não é contrato!
6. Diferença entre constituto possessório e traditio brevi manu.
Normalmente, tais institutos são estudados em conjunto. Traditio brevi manu: Já estava na posse direta, foi feito um contrato e tornou- se proprietário da coisa, ou seja, é o contrário do constituto possessório, já que neste o adquirente não estava na posse.
7. Mera detenção é sinônimo de flâmulo da posse?
Mera detenção é gênero e flâmulo da posse é espécie.
8. É possível se falar em posse de bem público dominical?
Não.
9. Diferença entre ius possessionis e ius possidendi.
Direito de posse puro, não decorrendo da propriedade. Direito de posse decorrente da propriedade.
10. O que pode ser objeto da posse? Bens imateriais?
Apenas bens corpóreos. Pela teoria objetiva, só a posse quando há o contato, portanto, não há posse de bens imateriais, a exemplo dos direitos autorais.
11. O que é composse? Quais os direitos dos copossuidores?
Posse exercida sobre o mesmo bem por duas ou mais pessoas ao mesmo tempo. Ex: dois locatários em um apartamento. Eles estão exercendo, ao mesmo tempo, a posse direta. Dá direito de proteger a posse do todo. Ambos podem ajuizar ações possessórias para proteger todo o apartamento, no exemplo citado, tratando- se de posse pro indiviso (só é possível nela). Normalmente, a composse é pro indiviso. Pode, ainda, ajuizar ação possessória contra si mesmos.
12. É possível haver usucapião entre copossuidores?
Em regra, não. Mas, a jurisprudência do STJ e Cristiano Chaves tratam de uma exceção, quando um dos possuidores exclui os demais e estes não fazem nada.
13. Hoje se fala em função social da posse? Cite uma consequência de
sua utilização. Sim. Para Norberto Bobbio, devemos perceber os institutos jurídicos não pelo que são, mas para que servem. Macro princípios do Código Civil: Operabilidade; eticidade e sociabilidade. Este último traz a noção de função social dos institutos de direito civil, inclusive a função social da posse. O juiz, em um conflito, decidirá a favor daquele que tem a melhor posse, ou seja, ao que dá a melhor função social à posse.
14. O melhor exemplo é a chamada desapropriação judicial indireta.
15. Diferença entre posse justa e posse injusta.
É justa a posse que não é injusta. Posse injusta: violenta, clandestina (às escuras) ou precária. A posse injusta pode se tornar justa, exceto quando ela for precária.
16. Posse injusta: violenta, clandestina ou precária. Esta última nunca
se convalida. 17. A posse violenta, enquanto durar a violência, é detenção, para a maioria da doutrina. Por outro lado, há quem defenda que, após passar um ano e um dia, a posse torna-se justa (posição minoritária).
18. Posse de boa-fé e posse de má-fé. Diferença. Consequências: frutos
(o de boa-fé tem direito a todos, menos os produtos/ o de má-fé só tem direito a ser ressarcido com as despesas que teve para colher)., responsabilidade civil e benfeitorias (o de boa-fé tem direito a ser indenizado pelas úteis e necessárias. Pode levantar as voluptuárias, se possível. Tem direito de retenção, até a notificação. / O de má-fé só deve ser indenizado pelas benfeitorias necessárias. Não tem direito de retenção).
19. É IMPORTANTE diferenciar posse nova e posse velha: posse nova é
a de menos de ano e dia. Posse velha é a de ano e dia ou mais. Não confunda com ação de força nova e ação de força velha. Essas ações dependem do tempo em que foram ajuizadas, a partir da turbação/esbulho. Se ajuizadas antes de ano e dia, são de força nova. Veja-se que alguém com posse velha pode ajuizar, sem problemas ação de força nova e vice-versa. Ação possessória nova é aquela ajuizada com menos de ano e dia depois de ter conhecimento que seu direito de posse foi violado. Ação possessória velha é aquela ajuizada com ano e dia ou mais depois de ter conhecimento que seu direito de posse foi violado. O interdito proibitório é sempre de força nova, pois visa evitar uma possível violação da posse.
20. Vamos falar na tutela da posse. O que é o desforço imediato?
Também chamado de desforço incontinenti. É a legítima defesa da posse. Ex: Retirar as pessoas da própria propriedade de maneira moderada e imediata. Obs: Será ato ilícito se tal ação for tardia, ou seja, não for imediata.
21. Interditos possessórios. O interdito proibitório é sempre de força
nova. Espécies: Reintegração de posse; manutenção de posse e interdito proibitório. A RP ocorre quando há esbulho (alguém retira o direito de posse); A MP ocorre quando há turbação (perturbação da posse); O IP serve para impedir o esbulho ou a turbação. Visa uma tutela inibitória.
Obs: Ação de força velha: rito ordinário;
Ação de força nova: Pode haver liminar.
22. Exige-se a condição de POSSUIDOR (e não mero detentor) para a
propositura dessas ações. Se for proprietário, mas não tiver a posse, terá que ajuizar ação petitória e não possessória. A legitimidade passiva é do esbulhador/turbador ou do terceiros que recebeu a posse sabendo do vício. O herdeiro também pode ser sujeito passivo, pois ele CONTINUA a posse anterior. Já o legatário só pode ser sujeito passivo se soubesse do vício que pairava sobre o bem recebido. 23. E quando o esbulhador é o Poder Público? Neste caso, o juiz converte a ação em desapropriação indireta se já houve destinação para o imóvel. Caso contrário, cabe possessória, com um detalhe sobre a liminar: só pode ser concedida se intimada a Fazenda.
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de
turbação e reintegrado em caso de esbulho.
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção,
ou a perda da posse, na ação de reintegração.
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será
deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir
mandado de manutenção ou de reintegração.
24. Duas características das ações possessórias: dúplices e fungíveis.
Fungível: Entra com uma ação, mas o juiz pode receber como outra. Dúplice: Caso o autor perca a ação, perde também a posse.
25. A imissão na posse é ação possessória?
Não. Serve para entrar na posse, ou seja, não tem posse, mas quer tê-la.
26. Não posso discutir propriedade na possessória.
Para o STF e STJ, na ação possessória só se discute posse e não propriedade.