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1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
silvia.matturro@hotmail.com .
2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, AECI (Leitora),
almusm@gmail.com
3
Escola Estadual de Ensino Médio CAIC Madezatti, Professora de Espanhol,
cristina.pacheco13@yahoo.com.br
4
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
alberi.figueredo@gmail.com
5
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
beatrisp@hotmail.com
6
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
caroliineroos@gmail.com
7
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
jadgarciar@gmail.com
8
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
jrs190207@gmail.com
9
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
luana.froehlich@hotmail.com
10
Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Letras Português Espanhol, CAPES (PIBID),
myrysoliveira@gmail.com
Resumo:
Este trabalho inter-relaciona sequências didáticas (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004),
literatura em aula de Espanhol como segunda língua (ACQUARONI, 2007;
ALBADALEJO, 2007; SANZ, 2006,2007; MARTINS, 2006; OCEM, 2006) e letramento
literário (SOARES, 1998). Através dele, apresentamos as atividades desenvolvidas pelo
Subprojeto Letras Espanhol na Escola de Ensino Médio CAIC Madezatti, situada em São
Leopoldo, Rio Grande do Sul, para abordar em sala de aula a obra El Ingenioso Hidalgo
Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes y Saavedra, no ano em que a sua
segunda parte completa o seu 4º Centenário. As sequências didáticas tiveram o objetivo de
despertar o interesse pela obra Don Quijote e por seu autor. Buscou-se, através delas,
desenvolver o espírito crítico dos alunos, fomentando a apropriação de conteúdos cujo foco
fosse a utilização de estruturas linguísticas em língua espanhola que permitissem agir no
mundo. Um outro objetivo foi preparar os alunos para a participação na gincana anual
promovida pelo CAIC, que tinha como tema o Don Quijote, e que envolveu todas as
disciplinas do currículo. As atividades desenvolvidas nas aulas levaram em consideração
os conteúdos previstos no Plano de Trabalho de Língua Espanhola da escola para cada um
dos anos. Foram produzidas três sequências didáticas diferentes, baseadas em fragmentos
do livro de Cervantes, e aplicadas em cada uma das turmas dos três anos do ensino médio.
Os primeiros anos envolveram-se com a caracterização e apresentação física e psicológica
de personagens do livro, como se estas vivessem na atualidade; os segundos anos
prepararam um vídeo, no formato de telejornal, com a apresentação de notícias atuais sobre
situações que poderiam despertar o desejo de justiça de Don Quijote; e os terceiros anos
elaboraram charges denunciando as injustiças que levam as pessoas a lutarem por seus
ideais. As tarefas realizadas em aula foram, paralelamente, proporcionando aos alunos o
conhecimento necessário sobre a obra para que eles pudessem realizar as tarefas previstas
para a gincana. A partir das atividades desenvolvidas foi possível concluir que a literatura é
um instrumento relevante para a formação do cidadão e que o diálogo entre o texto/autor e
o leitor em sala de aula promoveu não apenas o aprendizado significativo da língua
espanhola como também o letramento literário.
1. Introdução
2. Desenvolvimento
Buscando dar conta desses desafios, nos dispusemos a pensar em três sequências
didáticas, nas quais seriam trabalhados, para cada uma das séries, gêneros diferentes. Uma
sequência didática, segundo Schneuwly e Dolz (2004), é “uma sequência de módulos de
ensino, organizados conjuntamente para melhorar uma determinada prática de linguagem”.
(2004, p. 51). Em nosso caso, a prática de linguagem estaria relacionada a cada um dos
gêneros, já que esses textos são utilizados em situações contextualizadas de linguagem.
Através deles, seria possível trabalhar com os conteúdos, a estrutura e as configurações
próprias do texto, as três dimensões essenciais que, de acordo com Schneuwly e Dolz,
definem um gênero.
Uma vez definido que trabalharíamos com sequências didáticas, cabia pensar no
papel da literatura nesse contexto. Embora o livro de Cervantes nos assustasse pela
linguagem e dimensão, desde o princípio estávamos motivados a trabalha-lo em aula. No
início do ano, havíamos realizado uma análise dos livros didáticos adotados na escola e
constatado, na ocasião, a escassa presença que a literatura tem nesse material. Neles, os
fragmentos de textos literários são apresentados no final de algumas das unidades didáticas
que os compõem. Observando a prática docente, outra atividade prevista para o grupo
PIBID, percebemos que são essas partes do livro as que, na maioria das vezes, acabam
sendo relegadas a um segundo plano. Isso é um indicativo do quanto a literatura está
dissociada do aprendizado da língua, assumindo uma função de mero complemento em
sala de aula. Dito de outra forma, os aspectos linguísticos e socioculturais não estão
interligados no processo de ensino/aprendizagem. Acquaroni (2007) corrobora a
observação que fizemos, ao afirmar que, quando os autores do material didático deixam a
abordagem da literatura para o final da unidade, eles repassam para o professor a
dificuldade de incorporar esse tipo de texto ao desenvolvimento da aula. Como
consequência, a literatura acaba sendo deixada de lado na primeira dificuldade enfrentada,
seja ela de tempo, conhecimento ou programação. Desta forma, sentimos que, com o
desafio de abordar a obra cervantina, se apresentava uma excelente oportunidade para
poder explorar fragmentos de uma obra literária com o objetivo de que esta tivesse um
papel mais significativo na sala de aula. Esses fragmentos seriam o insumo para criar
atividades que propiciassem o desenvolvimento de aspectos linguísticos e socioculturais.
O vínculo entre esses aspectos ajudaria a evidenciar o quanto o ensino de uma língua deve
estar sempre aliado à cultura, já que a literatura é uma das formas de expressão artística de
um povo.
Ainda em relação aos temas universais, podemos dizer que eles suscitam discussões
valiosas em sala de aula, que propiciam a compreensão do mundo, promovem a formação
do aluno como futuro cidadão e sua inclusão na sociedade. As Orientações Curriculares
para o Ensino Médio (OCEM) afirmam ser de fundamental importância que os
professores, especialmente os de língua estrangeira, desenvolvam propostas de
ensino/aprendizagem que busquem promover letramentos múltiplos. Isso pressupõe,
segundo as OCEM (2006, p. 28), “conceber a leitura e a escrita como ferramentas de
empoderamento e inclusão social”. O conceito de letramento está vinculado à capacidade
de utilizar a leitura e a escrita para agir na sociedade. Infelizmente é possível constatar que
ainda há muitas pessoas incapazes disso, fato que desafia a escola a repensar o seu fazer
docente. Soares (1998) afirma que ainda se convive em uma sociedade em que há muitos
adultos incapazes de utilizar as ferramentas de leitura e escrita fora do ambiente escolar.
Cabe atentar que essa afirmação da autora está assentada nos resultados de uma pesquisa
realizada nos Estados Unidos. Que poderemos dizer nós a respeito disso, considerando o
Brasil?
A terceira aula foi reservada para que os alunos, já em seus grupos, elaborassem
uma apresentação sobre um dos personagens principais do livro. A tarefa consistia na
caracterização de dois integrantes do grupo como o personagem escolhido, um da mesma
forma como este era representado na obra e outro como ele seria na atualidade. Os outros
alunos do grupo deveriam apresentá-los, descrevendo suas características físicas,
psicológicas e suas vestimentas, argumentando sobre o motivo pelo qual o personagem dos
dias atuais foi representado daquela forma. Durante a aula, auxiliamos os grupos na
preparação dessa atividade.
Para que os estudantes pudessem falar sobre esse Quijote, foi necessário refletir a
respeito do que eles iriam dizer sobre o personagem. Para relatar uma situação,
necessitamos localiza-la no espaço-tempo e, em especial, quando participamos dela,
costumamos dizer o que nos provoca. Então, para que os alunos pudessem falar desses
tópicos, trabalhamos em aula as expressões de tempo e os estados de ânimo. A obra foi
explorada a partir de trechos do filme “Don Quijote”, do diretor Peter Yates, e da
utilização do capítulo VII do livro.
Planejamos uma sequência didática para ser aplicada em cinco aulas. Na primeira,
os alunos tiveram contato com os trechos do filme, e conheceram, a partir deles, o
personagem principal, além de outros como Sancho Panza, Dulcinea del Toboso, el Cura e
a sobrinha de Don Quijote. Os alunos trabalharam com o conteúdo gramatical “estados de
ânimo” e, a partir das atividades propostas, fizeram suposições sobre o que sentia cada um
desses personagens nas situações apresentadas. Nos surpreendemos com o efeito que o
filme provocou, revelando-se uma boa ferramenta para abordar a obra. Além de servir para
exercitar a compreensão auditiva, agradou a turma por ser bastante engraçado. Ainda nesta
aula, foram divididos os grupos para a realização do trabalho final: um telejornal.
Na terceira aula, apresentamos o capítulo VII da obra para que os alunos pudessem
reflexionar sobre as injustiças contra as quais Don Quijote lutou e contra as quais lutaria se
vivesse na atualidade. Abordamos o papel dos meios de comunicação na divulgação de
histórias de pessoas que fizeram algo de bom ou lutaram contra injustiças no Brasil ou no
mundo. Por isso, o tipo de trabalho final que deveriam desenvolver era uma produção de
um vídeo no formato de telejornal. Nele, os alunos apresentariam uma reportagem sobre
uma situação na qual encontrariam o Quijote na atualidade. A apresentação deveria conter
as estruturas e o vocabulário estudados em aula e os estudantes poderiam utilizar o material
de apoio disponibilizado. Para que eles pudessem escrever o roteiro que levaria à gravação
do vídeo, trabalhamos as características básicas do gênero telejornal. O final da aula ficou
reservado para que eles esboçassem as primeiras ideias. Nesta primeira produção,
surpreenderam-nos a riqueza de ideias verbalizada pelos alunos e a pluralidade de
concepções apresentadas sobre as atitudes Quijotescas.
A quarta aula foi reservada apenas para a escrita e correção do roteiro. No vídeo os
alunos deveriam demonstrar uma articulação entre o uso dos conhecimentos de língua
espanhola adquiridos e as reflexões sobre onde e em quem eles encontram o Don Quijote
na contemporaneidade. Na quinta aula, apresentaram os vídeos e uma cópia do roteiro.
Por sua vez, os bolsistas PIBID puderam aproximar-se mais das turmas, sentir-se
mais à vontade para participar em classe, tiveram maior autonomia e puderam perceber-se
como protagonistas da aula. A discussão fomentada por este trabalho, permeada pela
socialização de experiências e vivências, pela observação de aulas, buscou preparar os
bolsistas para que, no futuro, também compartilhem a docência, saibam trabalhar com
outros colegas e socializar saberes. A experiência de unir literatura, gramática,
representação, telejornal e charge, com o objetivo de que tudo isso viesse auxiliar os alunos
em uma gincana baseada na respeitada obra de Cervantes, foi um desafio que, se em um
primeiro momento gerou apreensão, também promoveu muitas aprendizagens nesse
caminho de formação de um futuro profissional.
Referências