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Por um Ecumenismo Cultural nos Museus

Cícero Antônio Almeida


Museólogo e Professor da UNI-Rio, Rio de Janeiro

Ao escolher para as comemorações do Dia Internacional dos Museus em 2005


o tema “Museus: pontes entre culturas”, O ICOM propõe uma das mais eficientes
metáforas na busca pela integração das culturas, papel que os museus devem cada
vez mais se engajar. As pontes são, tecnicamente falando, construções que visam à
ligação entre as margens opostas de uma superfície líquida. Levam de um lado ao
outro, e cada extremidade torna-se, simultaneamente, ponto de chegada e ponto de
partida; “chegar e partir são dois lados da mesma viagem”, como na letra da música
consagrada pela voz de Milton Nascimento. As pontes proporcionam, portanto, a
aproximação e o respeito entre as margens, tornando-se instrumentos fundamentais
de integração.

Então, como construir pontes, como ligar as extremidades separadas? Uma


ponte não é construção movida pelo desejo unilateral de uma das suas margens, à
exceção daquelas edificadas para o domínio do “outro lado”. Uma ponte é resultado
de uma complexa negociação, que mede os benefícios e os prejuízos resultantes da
troca entre as margens. Para tanto, as duas “pontas” devem se conhecer e se
respeitar, devem aceitar as diferenças, devem interagir, sem preconceitos e sem
desconfianças. As duas margens devem, sobretudo, se desejar.

Sabemos que estabelecer “pontes” entre margens diferentes é ainda um


caminho difícil e até utópico, se considerarmos as profundas distinções entre as
diversas partes do planeta. Recentemente foi veiculado na televisão brasileira um
documentário em que crianças palestinas e judias que vivem em Jerusalém eram
convidadas a estabelecer um rápido relacionamento, um convívio de poucos dias.
Muita desconfiança marcou os primeiros passos entre a garotada que, depois de
muito convencimento, resolveu aceitar o desafio (e seus pais também, pois que
eram, no início, o maior obstáculo). Os diálogos travados pelas crianças durante os
encontros, mostraram claramente que os ódios assentados por anos de lutas eram
“aprendidos”, e não naturais. Livres das diferenças que insistem em marcar suas
vidas, aqueles meninos queriam mesmo era brincar, jogar bola, ouvir música,
conversar. Bastaram algumas tardes de convívio para que, ao retornar às suas
famílias, aqueles meninos compreendessem a importância do diálogo, e do
conhecimento mútuo.

O próprio conceito de raça foi impiedosamente esmagado pela ciência,


especialmente nas pesquisas sobre o segredo do código genético humano. Já
sabemos hoje que não existem diferenças genéticas que possam sustentar
afirmações sobre diferenças étnicas ou raciais, pois que os códigos genéticos
humanos têm semelhança em sua totalidade. O que a sabedoria e a sensibilidade
humanista afirmava há milênios recebeu, enfim, o atestado científico.

Mas a “naturalização” do ódio persiste, muitas vezes movida pelos mais


obscuros interesses. Em sua A Arte de Amar, Ovídio sentenciava: Ignoti nulla cupido
(não se deseja o que não se conhece). Em seu aforismo, Ovídio nos convida a
refletir sobre o profundo impacto que o conhecimento do outro pode nos causar,
levando mesmo ao desejo, à admiração. O convite à reflexão do ICOM coloca em
pauta o papel exercido pelos museus nesse contexto. Devemos nos perguntar: os
museus podem desempenhar o papel das “pontes” que sonhamos para revelar a
diversidade cultural e assegurar o convívio respeitoso entre os diferentes povos? Eis
o nosso desafio.

Assistimos na recente trajetória dos museus algumas mudanças


fundamentais, demandadas pela sociedade, especialmente reforçando sua finalidade
social. Foi emblemática, principalmente para a museologia latino-americana, a
“Mesa Redonda de Santiago do Chile” (1972) e seu conceito de “Museu Integral”, ou
seja, um museu preocupado com a totalidade dos problemas da sociedade, com a
inclusão cada vez maior da diversidade das expressões culturais e dos problemas
sociais em suas rotinas.

Resgatando as teses de Santiago do Chile, nos anos 80 foram formulados


conceitos como “museologia comunitária”, “museu aberto”, “museu de vizinhança”
ou “ecomuseu” — que refletiam o que se convencionou chamar de “nova
museologia” —, que buscavam aprofundar ainda mais a aproximação dos museus
com a sociedade. O museu rompeu com a imagem do prédio que servia de abrigo e
conservação de coleções e passou a se preocupar com a “musealização” como uma
qualidade distintiva dos testemunhos materiais da humanidade, preservados ou não
dentro de suas salas. A preocupação da Museologia deslocou-se do “objeto” para o
“sujeito” e a sociedade a qual ele pertence, valorizando a cultura não apenas
entendida como traço de erudição, mas como marca da trajetória humana,
transformação contínua da realidade, registro eloqüente de identidade dos povos.

Os museus, que até então abrigavam uma idéia plasmada de cultura, onde
imperavam conceitos generalizantes e até abstratos, passaram a refletir os
processos culturais de maneira endógena, a partir dos desejos de reconhecimento
de pequenas comunidades, que lutavam pela sua própria sobrevivência cultural. Os
museus comunitários são a expressão viva deste movimento, e estão em sendo
criados em diversas partes do planeta, certamente uma das mais fortes tendências
da museologia contemporânea.

Hoje, mais um desafio se coloca. A afirmação de identidades culturais


consideradas minoritárias deve continuar a encontrar abrigo nos museus sendo, no
entanto, este um ponto de partida, e não o ponto de chegada. Ai entra a imagem
metafórica da ponte, para possibilitar a capilaridade necessária para a circulação de
idéias e de valores, aceitando diferenças, propondo o que poderíamos chamar de um
“ecumenismo cultural”, ou seja, uma maior disposição à convivência e ao diálogo. A
expressão vem do grego oikoumenikós, ou seja, “relativo a toda a terra habitada”.

Os museus devem usar todos os recursos que possuem, suas poderosas


ferramentas de comunicação, para promover “travessias” até outras “margens”,
combatendo o tráfego dos ódios, desilusões e preconceitos, que não são,
infelizmente, novidade na história das civilizações, muito pelo contrário. Devem se
valer do crescimento das “pontes” tecnológicas — realidade virtual, Internet —,
sistemas avançados de comunicação. Devem ousar nesse campo, dar um passo
além das teses de Santiago e da Nova Museologia. A Museologia comunitária deve
estender suas possibilidades ao contraponto, ao reconhecimento das diferenças, à
inclusão de novas “margens” desse extenso rio que é a riqueza e a diversidade
humana. As afirmações identitárias de grupos sociais, por mais legítimo que seja o
desejo de revelação ao mundo exterior, não podem estar acima do interesse
comum, oikoumenikós, e devemos perceber isso antes que façamos de nossos
museus territórios estéreis, apartados, divididos, onde o outro é sempre nosso
antagonista.

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