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A psicanálise, para mim – se me permitem 2002, merece ser comentado. Havia re-
pulsional > revista de psicanálise >
mais esta outra confidência – seria o outro cém-defendido uma tese sobre o humor
nome do “sem álibi”. A admissão de um “sem e a sublimação na psicanálise, que me re-
álibi”. Se fosse possível. metera aos primórdios da concepção da
análise como “jogo” proposta por Fe-
ano XVI, n. 168, abr./2003
1> Antes de seguir adiante, no entanto, convém ressaltar que os problemas suscitados por Lacan (1964)
através da noção de “desejo do analista” não são estranhos aos problemas tratados por Ferenczi em seu
Diário clínico.
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ção maior recai sobre os processos psí- Diário clínico manifesta uma denúncia
quicos que ocorrem no psicanalista ao contra a prática corrente da psicanálise
longo das sessões, o que havia nomeado na época. A primeira frase nele escrita é:
de “higiene” ou “metapsicologia do analis- “A insensibilidade do analista”, seguida de
ta” (Ferenczi, 1928). Ou seja, Ferenczi não comentários a respeito da postura distan-
apenas indaga como se analisa mas, so- te e neutra adotada então pela maior par-
bretudo, como enfrentar as dificuldades te da comunidade dos psicanalistas. Aliás,
e as resistências que se impõem ao ana- este é não apenas o primeiro, mas um dos
lista no curso do seu ofício. principais temas tratados por Ferenczi: a
A primeira questão que se pode colocar insensibilidade do analista entendida
frente ao Diário clínico, portanto, é a de como uma forma de hipocrisia, uma recu-
que tipo de testemunho se trata. Não é, sa, por parte do psicanalista, dos próprios
percebe-se rapidamente, um mero relato afetos de amor e, sobretudo, de ódio, sus-
de casos – apesar de incluir uma série de citados nas análises. Convém notar que a
fragmentos clínicos –, tampouco um tra- noção de sensibilidade, oriunda do cam-
tado de técnica psicanalítica. Poderia ser po da estética, é empregada por Ferenczi
considerado o relato de uma análise: no seu sentido rigoroso como a capacida-
auto-análise – nos moldes de A interpre- de de afetar e de ser afetado pelo outro,
tação de sonhos (Freud, 1900), sendo e não no sentido coloquial, que poderia
que, no Diário, a auto-exposição é muitís- nos remeter às idéias de plácida benevo-
simo maior do que no sonho da injeção lência ou de compreensão ilimitada e
de Irma, por exemplo, já que Ferenczi passiva etc., que foram apressadamente
analisa o modo como é afetado “a quen- associadas a sua figura. A insensibilidade,
te” por seus analisandos durante e após ou a hipocrisia é, assim, a principal figu-
as sessões –; ou análise-mútua, segundo ra do álibi passível de ser empregado pe-
as associações apresentadas por Ferenczi los analistas para escapar das duras con-
a alguns de seus analisandos e por eles in- seqüências do ato analítico.
terpretadas. Ou ainda, poder-se-ia levan- Dessa maneira, ao longo do argumento
artigos
tir da exposição das próprias dificuldades abstinência, abandonado muito cedo por
encontradas por Ferenczi na condução da Ferenczi, seja pelo rígido apego à teoria e
análise de seus analisandos. No entanto, para ao intelectualismo, que resultou nas co-
ano XVI, n. 168, abr./2003
além de todas essas considerações, o Diário nhecidas caricaturas das “análises” que
clínico é, certamente, um dos mais impor- não souberam fazer mais do que reificar,
tantes testemunhos encontrados ao lon- por meio da racionalização, a miséria psí-
go da história da psicanálise, da busca e da quica e erótica dos analisandos que a elas
constituição, por parte de um analista, de se submeteram.
um espaço psicanalítico autêntico. Uma formulação de Ferenczi, encontrada
Ao mesmo tempo, é incontestável que o nas notas do dia 12 de abril de 1932, e que
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pretende ser uma autocrítica as suas pró- “espontaneamente” no setting, ou seja,
prias limitações como analista, se impõe como uma produção exclusiva do psiquis-
também no contexto do seu questiona- mo do analisando, sem que se considere
mento sobre o modo como Freud anali- suficientemente o modo como ela é efe-
sava e sobre o “estilo” de escuta adotado tivamente produzida pela própria oferta
então pela comunidade psicanalítica: “Ao de uma modalidade bastante específica de
invés de sentir com o coração, sinto com escuta. A contratransferência seria a
a cabeça. A cabeça e o pensamento ocu- reação “humana” (e indesejada) ao impac-
pam o lugar da libido” (Ferenczi, 1932, p. to sofrido pelo analista frente aos afetos
123). Ferenczi acreditava que a libido do do analisando. É o que se encontra em
psicanalista tinha um papel crucial na Freud, nas “Observações sobre o amor
promoção do acontecimento clínico, e transferencial” (1913), quando discute o
que o trabalho de análise só poderia que fazer com o apaixonamento de uma
ocorrer se promovesse um autêntico en- analisanda:
contro de afetos, o que propiciaria o “diá- ... a experiência de se deixar levar um pouco
logo de inconscientes”, para o qual o psi- por sentimentos ternos em relação à paciente
canalista deveria comparecer de corpo não é inteiramente sem perigo. Nosso contro-
presente.2 le sobre nós mesmos não é tão completo que
Idéia delicada e arriscada: analisar com o não possamos subitamente, um dia, ir mais
“coração” – a libido – e não com a “cabe- além do que havíamos pretendido. Em minha
ça” – retroalimentada pela razão teórica! opinião, portanto, não devemos abandonar a
Mas antes de rechaçá-la, seria preciso neutralidade para com a paciente, que adqui-
acompanhar o questionamento decisivo rimos por manter controlada a contratransfe-
promovido por Ferenczi acerca do saber rência (…) O tratamento deve ser levado a cabo
– freqüentemente excessivo – do psica- na abstinência. (Freud, 1913, p.214, grifo nosso)
nalista. É no sentido de um questionamen-
Os termos escolhidos são contundentes –
to do saber que compete ao psicanalista neutralidade, controle, abstinência – e
que se pode postular que, em Ferenczi, a vêm indicar que, no que concerne ao par
artigos
2> Idéia sugerida por Ferenczi e adotada por Freud (1912) nas suas “Recomendações aos médicos que
exercem a psicanálise”.
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na qual o problema passa a ser menos o de Ferenczi com Freud, da qual Ferenczi
dos “sentimentos ternos” que poderiam se queixava de que Freud produzira uma
causar um súbito incêndio no vínculo intensa idealização, ao impossibilitar o
transferencial, do que o dos sentimentos trabalho de luto por parte do analisando,
hostis experimentados pelo analista. pela desconsideração da transferência
No que se refere às ameaças da contra- negativa, no caso, a do próprio Ferenczi
transferência, logo o campo psicanalítico (cf. Sabourin, p. 183).
saberia absorver parte da concepção de Nesse sentido, Ferenczi não considera
contratransferência como algo inevitável, que a contratransferência seja a mera rea-
não mais como “falha humana” (Freud, ção afetiva, no analista neutro, das mani-
1913), porém agora sob um novo álibi. A festações afetivas do analisando, que po-
contratransferência deixaria de ser inde- deriam assim ser apropriadas “objetiva-
sejada para se tornar parte integrante do mente” como guia para a interpretação;
tratamento, uma espécie de bússola afe- tampouco apenas a reação humana inde-
tiva através da qual o analista poderia te- sejada que vem comprometer o bom an-
cer suas interpretações com precisão cien- damento das análises e que, por isso, de-
tífica (cf. Heimann, 1950). Assim, a contra- veria ser evitada a todo custo. A contra-
transferência passaria a ser concebida, transferência abrangeria tanto a expres-
grosso modo, como a reação afetiva do psi- são dos afetos oriundos dos próprios in-
canalista aos afetos experimentados pelo vestimentos transferenciais do psicanalis-
analisando na situação transferencial, ta quanto as resistências e os pontos ce-
como se o analista funcionasse efetiva- gos nele suscitados pelo impacto dos afe-
mente tal qual uma tábula rasa, cuja neu- tos a ele endereçados; mas, além disso,
tralidade permitiria transformar, imedia- abrangeria também a expressão de afetos
tamente, o modo como é afetado em sa- inéditos suscitados no encontro analítico,
ber sobre o funcionamento psíquico do precisando, como um último recurso em
analisando.3 muitos casos, ser desvelada, isto é, ser
A concepção encontrada no Diário não é “confessada”4 ao analisando,, para que o
artigos
isso diz respeito à experiência de análise riência afetiva do analista por uma pseu-
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do objetividade científica, por meio da da de 13/12/1931, censurando a sua “técni-
qual a dimensão do acaso e da incerteza ca do beijo” e advertindo-o ironicamente
próprias da concepção de análise como para as conseqüências da sua difusão
jogo de forças é esmaecida por uma su- (Ibid.).
posta garantia atribuída à “boa análise” do O que nos importa, nesse episódio, é a
analista. leitura efetuada por Ferenczi do modo
Nesse sentido, o Diário clínico poderia ser como esse material foi trabalhado na res-
considerado o adendo de Ferenczi às pectiva análise. Em um primeiro momen-
“Observações sobre o amor transferen- to, tratara o constrangimento que se se-
cial” de Freud, agora com o enfoque guiu “com uma total ausência de afeto”
sobre a metapsicologia do analista; uma (Ibid.), ou seja, de modo neutro, como
espécie de “Observações sobre o amor (e mandava o figurino. O resultado foi o re-
o ódio) contratransferenciais”.5 crudescimento das atuações da analisan-
da, que “começou a ridicularizar-se”, re-
Quem seduz quem? lata Ferenczi (Ibid., p. 34), “de um modo
Como vimos acima, Freud advertira, nas por assim dizer ostentatório, em seu
suas “Observações sobre o amor transfe- comportamento sexual (nas reuniões
rencial” que, ao expressar-se afetivamen- mundanas, ao dançar)”. Apenas quando
te, o psicanalista poderia ir mais além do Ferenczi pôde expressar o modo como
que havia pretendido, suscitando assim a fora afetado pelo episódio, abandonando
questão dos limites de e para uma análi- a “falta de naturalidade da sua passivida-
se. O caso Clara Thompson – a analisan- de” – e podemos imaginar o quanto lhe
da à qual Ferenczi se refere como Dm. no custou essa “indiscrição” de Dm. –, a atuação
Diário clínico – pode contribuir para essa cedeu, dando lugar à compreensão de
reflexão. que se tratava aqui de uma “repetição da
Clara Thompson, uma psicanalista norte-ame- situação pai-filha”, na qual o pai sedutor
ricana em análise didática com Ferenczi, invertera a situação caluniando a filha
aproveitava das liberdades concedidas (Ibid.).. Desse modo, os afetos não recu-
artigos
para beijá-lo. Em certa ocasião, ela co- sados do analista, expressos na análise,
menta com outros analistas em formação permitiram transformar uma atuação em
com outros didatas: “Quanto a mim, pos- uma repetição diferencial, possibilitando
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5> Foi efetivamente D. W. Winnicott (1947) quem soube extrair dessas reflexões o que elas têm de mais
precioso.
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Dm. e se perguntar qual a sua implicação O que se segue são algumas associações
nessa atuação; em última instância, quem de Ferenczi à respeito da sua relação com
seduz quem? O que pretendia “papai Fe- as mulheres e, como era de se esperar,
renczi” com a sua postura de relaxamen- uma revisão da sua relação com a própria
to e de laissez-faire radical? mãe. Conclusão:
As exigências da paciente de ser amada corres-
Quem analisa quem? pondiam a exigências análogas que me eram
O nascimento da análise mútua feitas por minha mãe; concretamente, em meu
A experiência da análise mútua também foro íntimo, eu detestava portanto a paciente,
tem a sua “Anna O.”: a analisanda apelida- apesar de toda a gentileza aparente; eis o que
da de R.N. no Diário. No dia 5 de maio de ela sentia e ao que reagia, com a mesma
1932, Ferenczi relata uma situação que inacessibilidade que tinha também, por fim,
pode ser considerada o nascimento da forçado o pai criminoso a soltá-la.
análise mútua. O processo analítico en- A análise mútua fornece aparentemente a
contrava-se estagnado, e R.N. demandava solução. Deu-me a ocasião para dar livre cur-
cada vez mais de Ferenczi, o que o con- so à minha antipatia. A conseqüência disso foi,
duzira a uma “superperformance” – au- curiosamente, que a paciente apaziguou-se,
mento do número de sessões semanais, sentindo-se justificada... (Ibid., p. 137)
levar a analisanda nas suas viagens de fé- Finalmente, ao avaliar a quem caberia o
rias, sessões aos domingos... Essa atitude mérito pela experiência inédita, Ferenczi
teria favorecido o surgimento de material considera que caberia
referente à história infantil, mas chegara
a um ponto em que a cada final de sessão ... antes de tudo à paciente que, em sua situa-
a analisanda, em crise, o segurava por ção precária de paciente, não se cansou de lu-
quase uma hora mais. tar pelo seu legítimo direito; entretanto, isso
A situação tornou-se insustentável, e Fe- de nada teria servido se eu próprio não tives-
renczi relata que se viu obrigado a “bater se me submetido ao sacrifício inabitual de cor-
em retirada”, o que teve importantes con- rer o risco de, enquanto médico, aceitar a
experiência de me confiar a uma doente certa-
artigos
a) Limite de tempo
b) Nenhum relaxamento (segundo a opinião tuada por Ferenczi configura uma crítica
dos pacientes) explícita ao modelo de formação psicana-
(...) lítica e, sobretudo, à análise didática, ain-
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6> A noção de espaço intermediário (Zwischending ) entre sujeito e objeto aparece em Ferenczi (1928a,
p. 7) quando relaciona o interesse da criança por seus excrementos com a capacidade infantil de estabe-
lecer relações simbólicas entre seu corpo e os objetos do mundo.
7> Para uma demonstração rigorosa, seria preciso um longo desvio pela descrição dos processos
introjetivo e de simbolização em Ferenczi, que o leitor pode encontrar em “Humor e sublimação na psica-
nálise” (Kupermann, 2002, cap. 2.4).
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rumo a uma estética da clínica coincide gem da regra da associação livre, mas, na
com o abandono da busca da definição percepção de Ferenczi (1928, 1930), as
de um “lugar” que pudesse ser ocupado análises careciam desse relaxamento. Jus-
pelo psicanalista junto ao psiquismo do tamente desse período data o resgate da
analisando. De outra maneira, Ferenczi noção de “tato” e a formulação das no-
vai sendo levado a abandonar a concep- ções de “empatia”, “acolhimento”, “bene-
ção de uma tópica que seria ocupada volência” e “benevolência materna” para
pelo analista como objeto de investimen- definir a postura clínica do psicanalista, e
to do analisando na transferência, em di- o “lugar” do analista foi identificado ao de
reção a uma tentativa de definição do tra- uma mãe amorosa e complacente,
balho do analista segundo uma concep- exageradamente passiva frente aos movi-
ção econômica, referente ao encontro mentos afetivos – amor ou ódio – dos
afetivo que tem vez nas análises. analisandos, sempre pronta a atender as
Vejamos: Ferenczi ficou (injustamente) suas demandas amorosas infantis.
conhecido pela aplicação da chamada Mas o princípio de relaxamento só en-
“técnica ativa”, no início dos anos 1920 (cf. controu a sua verdadeira vocação a par-
Ferenczi, 1919, 1921). A idéia era, através tir da concepção de “análise pelo jogo”,
de proibições e injunções formuladas ao formulada em “Análise de crianças com
analisando, levar ao extremo o princípio adultos”, de 1931. Se no período de expe-
de abstinência ou de frustração propos- rimentação da técnica ativa o analista pe-
to por Freud de modo a incrementar sua cava pelo excesso de intervenção, duran-
angústia, obrigando assim a retomada do te o período no qual vigorou o princípio
fluxo associativo nas análises estagnadas, de relaxamento, a passividade exagerada
fixadas no gozo do amor de transferên- e a falta de reação do analista terminou
cia. Nesse momento, o “lugar” do analis- sendo percebida pelos analisandos como
ta era identificado, como pretendia Freud distanciamento, ausência e falta de impli-
(1937), com o de um “substituto paterno” cação. A novidade, então, foi a tentativa
cuja função principal seria a de represen- de dialogar com a criança que compare-
artigos
ódio por parte dos analisandos já analista pudesse utilizar uma linguagem
siderados e da conseqüente interpreta- apropriada para o diálogo com o infantil,
ção da transferência, a técnica ativa ter- a chamada “linguagem da ternura” (Fe-
ano XVI, n. 168, abr./2003
minou por produzir uma submissão cada renczi, 1933), em oposição à “linguagem da
vez maior (cf. Ferenczi, 1926). paixão” do adulto submetido à lucidez
Isso o levou a abandoná-la, e a formular unidimensional, cuja característica era a
o “princípio do relaxamento”, ou laissez- univocidade dos enunciados, presente
faire, ao lado do princípio de abstinência também na prática interpretativa da
freudiano. Claro que a idéia de “liberda- psicanálise tradicional. Desse modo, a
de” (laissez-faire) já se encontrava na ori- cena analítica passaria a ser verdadeira-
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mente ocupada por um teatro lúdico, no nálise efetivamente sem álibis e sem tan-
qual analista se encontraria intimamente tos semblantes? Em um contexto cultural
implicado e incluído, o que permitiria no qual Deus – ou o Pai – está efetiva-
promover a “neocatarse” – uma referên- mente morto, e não por acaso o paradig-
cia de Ferenczi ao fato de que, com a ma da ciência positivista se encontra em
análise pelo jogo, a “outra cena” atuada crise, não seria a figura de um analista-
pelas histéricas nos primórdios da criança, órfão de certezas e de garantias
psicanálise, quando da utilização do mé- prévias – e capaz de brincar, criar, entris-
todo catártico, havia sido reconstituída, tecer-se e rir junto daquele de quem se
ganhando novos sentidos. dispôs a tratar – bastante adequada para
Assim, não se tratava mais, para o analis- os desafios encontrados pela psicanálise
ta, de se posicionar nem como substitu- na contemporaneidade?
to paterno, nem como substituto mater-
no, mas de favorecer a emergência, no Referências
setting analítico, da palavra-ato, da pala- D ERRIDA , Jacques. Estados-da-alma da
vra acompanhada da carga afetiva que psicanálise. São Paulo: Escuta, 2001.
lhe permite ressignificar a existência do FERENCZI, Sándor (1919). Dificuldades técnicas de
sujeito em análise; ou seja, de mais uma uma análise de histeria. In: Psicanálise III.
vez “soltar as línguas” – é essa a expres- São Paulo: Martins Fontes, 1993.
são utilizada por Ferenczi (1933) – na ex- _____ (1921). Prolongamentos da técnica ati-
periência psicanalítica, criando modos de va. In: Psicanálise III. Op. cit.
subjetivação inéditos. _____ (1924). As fantasias provocadas. In:
Finalmente, na anotação do dia 13 de Psicanálise III. Op. cit.
março de 1932, Ferenczi extrai a conclu- _____ (1926). Contra-indicações da técnica
são radical da sua concepção de “análise ativa. In: Psicanálise III. Op. cit.
pelo jogo”, proposta no ano anterior em _____ (1928). Elasticidade da técnica psica-
“Análise de crianças com adultos”. O título nalítica. In: Psicanálise IV . São Paulo:
é “Análise de duas crianças”: Martins Fontes, 1992.
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