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TEATRO AMADOR EM BELÉM DO PARÁ

Destarte, uma das coisas que defendo ser fundamentais para pensar essa produção
teatral também como produtora de conhecimento queer é a defesa do amadorismo como
uma postura política e da experimentação incessante dos elementos da linguagem cênica.
Nesse sentido, a luta pela conquista do Teatro Experimental Waldemar Henrique na
década de 1970 é iluminadora e elucidativa.
Retomando o questionamento realizado anteriormente sobre como o teatro,
enquanto linguagem artística produtora de conhecimento, pode produzir conhecimento
queer, defendo que o amadorismo e a experimentação cênica, características tão
pungentes na década de 1980, podem ser compreendidas como características queer no
sentido de que vão de encontro com as convenções sociais aceitas pela linguagem do
teatro e estão diretamente ligadas ao discurso cênico sobre gênero e sexualidade destas
encenações.
Desde o surgimento do Teatro dos Estudantes (1941-1951), encabeçado pela
professora Margarida Schivasappa, passando pela trajetória do Grupo Norte Teatro
Escola do Pará (1957-1962), um dos mais importantes grupos de teatro do Brasil, até
chegarmos no engajamento político do Grupo Cena Aberta, o amadorismo, muito mais
do que algo degenerativo ou sintoma de imaturidade artística a ser superada, tem se
tornado característica inerente dos grupos teatrais da cidade ao longo do século XX e tem
se fortalecido como postura política para a conquista de direitos da classe teatral da cidade
de Belém. Nesse sentido, a produção teatral amadora em Belém tem se tornado uma
alternativa a cena dita profissional almejada pelos grupos teatrais pertencentes ao eixo
Centro-Sul.
Levado adiante por jovens e intelectuais apaixonados por arte, poesia e
esperançosos por mudanças políticas, o teatro na cidade tem encontrado fôlego no corpo
daqueles que não tiveram nenhuma formação regular em Artes Cênicas ou que a tiveram
tardiamente. Nossas conquistas teatrais encontram protagonismo também por estes
artistas amadores. O Serviço de Teatro da Universidade surge em 1962 a partir da
empreitada de Benedito Nunes e sua esposa Maria Sylvia Nunes que, juntos a outros
artistas, se reuniram com o então reitor da Universidade do Pará, José da Silveira Neto,
para reivindicar um curso de teatro vinculado a UFPA. Mais tarde, viria a se tornar o
Curso Técnico de Formação de Atores da Escola de Teatro e Dança do Pará. Adiante, a
luta política e as constantes provocações do Grupo Cena Aberta e de outros artistas da
cidade a Secretaria de Cultura do Estado marcariam, em 17 de setembro de 1979, a
inauguração do Teatro Experimental Waldemar Henrique.
Como podemos ver, chamar um artista paraense de amador está longe de ser uma
ofensa. Assim como os estudiosos queer se apropriaram de um termo com conotação
pejorativa para extrair dela a sua violência, os artistas paraenses, especialmente do teatro,
souberam encontrar a potencialidade política do que significa ser amador. Mas, o que
significa ser amador?

Produziu-se o termo amador para designar um teatro intelectual que se


propunha a pensar sobre a sua produção e sobre uma sociedade mais
democrática, contrapondo-se à ideia de profissional. Todavia, não nos
termos compreendidos hoje como imperfeito ou mal-feito. Amador
significava compromisso com a arte e a sociedade mesmo que
acarretasse desagradar o público, ou um fracasso de bilheteria. Os
entendimentos e desentendimentos gerados pelo debate aliaram o termo
amador à experimental. O diálogo passa a ser com a produção mundial
denominada teatro laboratório, teatro de vanguarda, teatro de pesquisa,
teatro moderno e performance (JANSEN, 2009, p. 89).

Na ocasião da estreia de Quarto de Empregada, no Teatro da Paz, os integrantes


do Cena Aberta, Luís Otávio Barata, Margaret Refskalefski e Zélia Amador de Deus,
deram uma entrevista ao jornalista Augusto Barata, irmão de Luís Otávio, que foi
veiculada no jornal O Liberal, no dia 05 de setembro de 1976 e defenderam a relevância
do teatro amador paraense. Barata aponta que o teatro amador possui uma “relativa
autonomia” em relação a conjuntura econômica, autonomia esta que o teatro dito
profissional não possui.
Embora a cena amadora de Belém do Pará tenha sido incansavelmente estudada
por pesquisadores paraenses como característica fulcral de uma poética teatral política e
questionadora, coloca-la no seio da existência de um Teatro Queer é uma atitude ousada
e que nos obriga a elucidar algumas questões. Uma delas, é a necessidade de dilatar a
própria noção de queer, no que se refere a esta produção teatral, não somente para a
discussão cênica de gênero e de sexualidade, mas também para a forma como os
elementos da linguagem são utilizados. Ou seja, o queer no teatro se trata tanto da forma
quanto do conteúdo, haja vista que as duas coisas estão profundamente entrelaçadas e se
autoconvocam. Destarte, o Teatro Queer é queer não só porque subverte noções clássicas
de gênero e de sexualidade, mas também porque subverte formas tradicionais dos usos
dos elementos da linguagem.
Enquanto grande parte da produção teatral do Brasil está conectada a uma
perspectiva profissional, ou seja, é formalmente especializada e está submetida aos
interesses da demanda do mercado, a cena amadora de Belém está concentrada em uma
poética subversiva e engajada com a sociedade. Isso não quer dizer que o teatro
profissional não tenha seu engajamento político, mas que sua “relativa autonomia”, como
aponta Barata, é menor em relação aos amadores.
A necessidade por uma cena teatral com estas características talvez tenha surgido
da consciência desses artistas de que é mais difícil fazer teatro em Belém do que em
muitos outros Estados do país, seja pela dificuldade de acesso, seja por ser uma região
amazônica ou por estar do lado de fora dos grandes centros econômicos e culturais do
país. Todavia, isso tem contribuído para uma cena com maior personalidade e mais
autônoma.
De certa maneira, percebo que a tomada do amadorismo como postura política e
aqui queer proporcionou ao teatro contemporâneo paraense a construção de uma
“personalidade forte”, onde os artistas confrontavam de forma incessante e publicamente
a Secretaria de Cultura do Estado por políticas culturais mais amplas e irrestritas, haja
vista que estas eram escassas e limitadas, onde não haviam locais para ensaios e para as
apresentações dos grupos teatrais, se limitando somente ao Teatro da Paz que permaneceu
anos fechado para reformas logo após a temporada de Quarto de Empregada (1976), além
da falta de editais de fomento cultural, os grupos de teatro da cidade, principalmente o
Cena Aberta na pessoa de Luís Otávio Barata, não se cansavam de questionar e organizar
a classe para as melhorias nessa área.
Em 1988, na ocasião da temporada de Genet – O Palhaço de Deus (1987), no
Teatro Experimental Waldemar Henrique, o Cena Aberta publicou uma nota de repúdio
denunciando para a cidade o estado do teatro reivindicando uma melhoria na qualidade
dos instrumentos de som e de luz do espaço e cobrando a eleição do diretor do Waldemar
Henrique através de votação direta pela classe artística paraense.

Lamentável que a pose e a influência do senhor Secretário de Cultura


não corresponda um verdadeiro questionamento das sofridas condições
atuais do nosso teatro amador. Peçonhenta e malfada função essa, em
nosso Estado, por onde nunca passam verdadeiros e bons
administradores. Após um ano à frente da Secult, na administração do
senhor João de Jesus Paes Loureiro nada aconteceu que, de fato,
pudesse significar, ainda que remotamente, melhoria para os que fazem
teatro amador em Belém (Diário do Pará, 26 de março de 1988).
Isso resultou em uma resposta-defesa de Rafael Costa, no Diário do Pará, apenas
cinco dias depois que após citar grandes personagens da história do teatro em Belém do
Pará, como Margaria Schivasappa, Benedito Nunes e Maria Sylvia Nunes, atacou a pouca
idade dos artistas do Cena Aberta e defendeu o comprometimento e conhecimento
cultural tanto de Paes Loureiro quanto seu antecessor no cargo de Secretário de Cultura,
Acyr Castro (Diário do Pará, 31 de março de 1988).
A antiga FETAPA – Federação de Teatro Amador do Pará, criada em 1975, se
tornou a FESAT – Federação Estadual dos Atores, Autores e Técnicos de Teatro, em
1979, e foi esta Federação que organizou uma mini mostra de teatro para selecionar o
espetáculo que iria representar o Pará no Festival Brasileiro de Teatro Amador, no ano de
1988, em Brasília, outro episódio marcante do amadorismo como política que envolveu
o Cena Aberta.
Os espetáculos que foram exibidos para a apreciação de um júri selecionado para
escolher o representante foram A Cidade do Ontem, do Grupo Gafe Cultural, A Casa da
viúva Costa, da Escola de Teatro da Universidade, Cínicas e Cênicas, do Grupo Gruta e
Genet – O Palhaço de Deus (Diário do Pará, 23 de março de 1988).
O Festival Brasileiro de Teatro Amador foi promovido pela CONFENATA –
Confederação Nacional de Teatro Amador e ocorria de dois em dois anos. Um dos mais
importantes festivais de teatro do país, esta edição ficou marcada por trazer grupos de
outros países da América Latina, como Chile, Nicarágua, Argentina e Cuba.
Em março do mesmo ano, o Diário do Pará comunica que o espetáculo escolhido
como representante do Pará no Festival foi Genet – O Palhaço de Deus:

A Fesat encerrou domingo seu mini-festival de teatro para escolha do


espetáculo que irá representar o Pará no Festival de Ilhéus, na Bahia. E
o fez magistralmente, com a re/criação do universo ficcional de Jean
Genet, pondo no palco do Waldemar Henrique a teatralidade total
inventada por Luís Otávio Barata para reviver o poeta de “Pompas
Fúnebres” (Diário do Pará, 29 de março de 1988).

Assim, o Cena Aberta começou a se organizar para arrecadar fundos financeiros


para levar o espetáculo para Capital incluindo uma festa no rancho “Quem são eles” ao
lado de Walter Bandeira e Nego Nelson. A Secult colaborou com as passagens e com uma
pequena ajuda de custos para os atores, conforme reportagem do Diário do Pará, que
também aponta auxílio da Estacon Engenharia e do Governo do Estado.
Foi a segunda participação do Cena Aberta no Festival que iria acontecer na cidade
de Ilhéus, na Bahia, mas que acabou ocorrendo em Brasília porque a cidade não conseguiu
se preparar para sediar o evento. A participação anterior foi com o espetáculo Theastai
Theatron, que discutirei mais adiante.
A notícia da seleção de Genet – O Palhaço de Deus, que lotou o Waldemar
Henrique todos os dias em Belém e foi amplamente elogiado pelos críticos da cidade, foi
comemorada e divulgada incansavelmente por vários jornais (Diário do Pará, 29 de março
de 1988; 24 de junho de 1988; O Liberal, 05 de abril de 1988, 01 de junho de 1988, 25
de junho de 1988, 07 de julho de 1988; A Província do Pará, 19 e 20 de junho de 1988,
25 de junho de 1988). No entanto, após a apresentação do dia 12 de julho de 1988, na
Sala Martins Penna, a recepção do publicou brasiliense surpreendeu pela negatividade e
resistência ao tema.
Na Revista Palco, inteiramente dedicada a edição do Festival, a recepção hostil é
bem clara:

Não podemos deixar de citar o polêmico espetáculo Genet – O Palhaço


de Deus, apresentado pelo Grupo Cena Aberta, do Pará, que é um caso
à parte. Um caso à parte por ser um grupo experiente, com pessoas bem
informadas, com antecedentes saudosos e que caiu no vacilo de
construir um espetáculo pernóstico e espevitado, simplesmente isso. A
obra de Genet é ousada, transgressora dos padrões machistas e
inquietadora aos poderosos criadores dos conceitos e preconceitos.
Enquanto isso, o espetáculo é tão somente a reunião de situações ditas
marginais, sem nenhum aprofundamento crítico ao que leva a estas
situações, e de resultado cênico muito desagradável pelo excesso de
apelações tais como nudismo e atos sexuais (MOREIRA, 1988, p. 22).

Esta recepção negativa no Festival de Teatro Amador, lugar onde supostamente


se pode falar sobre temas que talvez no círculo profissional seja complicado novamente
repercutiu na imprensa paraense (Diário do Pará, 16 de julho de 1988, 21 de julho de
1988, 26 de julho de 1988; O Liberal, 24 de julho de 1988, 19 de agosto de 1988; A
Província do Pará, 15 de julho de 1988).
Surpreendeu a classe paraense que em um Festival de Teatro Amador onde
estavam grupos de teatro da América Latina que vinham de ditaduras como Cuba,
Nicarágua e Chile tenham sido os mais “puritanos” e “moralistas de cueca” (Diário do
Pará, 21 de julho de 1988). As críticas, segundo atores do espetáculo, vinham mais de
outros artistas de teatro do que propriamente do público.
Por fim, o movimento de teatro amador em Belém do Pará culminou com a criação
da Mostra anual de Teatro Amador, em 1979, promovida pela FESAT, que teve mais de
dez edições onde diversos espetáculos eram apresentados e discussões eram realizadas
entre a classe teatral para diagnosticar o estado das políticas culturais na cidade.
[falar sobre experimentalismo]
Se a produção teatral amadora da cidade acabou por ser contrapor ao modo de
operação do establishment teatral, a cena experimental surge como sinônimo, a partir da
década de 1980, para se complementar a ela e para fortalecer este discurso quer se quer
autônomo e político. Mas, afinal de contas, o que as cenas amadoras e experimentais da
cidade possuem de queer? O Queer se refere a uma injúria, uma violência para aqueles
corpos que confundem os códigos cartesianos de gênero e de sexualidade. O Queer é
aquilo que causa um estranhamento, um ruído na paisagem bucólica do binarismo sexual
e de gênero e também, quando se refere a arte, nos elementos da linguagem.

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