Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
OpenEdition
Press
Arte e vida social | Alain Quemin, Glaucia Villas Bôas
O campo literário
francês
Estrutura, dinâmica e formas de politização
Gisèle Sapiro
Traduction de Germana Henriques Pereira de Sousa
Résumé
A partir da teoria dos campos de Pierre Bourdieu e dos estudos
empíricos realizados sobre os escritores na França, este artigo apresenta
os princípios estruturantes do campo literário francês do final do
século até o início dos anos de 1970. O campo literário francês é
estruturado em torno de duas oposições principais: “dominantes” versus
“dominados” e “autonomia” versus “heteronomia”. A interseção dessas
duas oposições permite identificar quatro figuras ideal-típicas de
escritores: os “notáveis”, os “estetas”, os “vanguardistas” e os “escritores
populares”, que se distinguem tanto por suas concepções da literatura
como por seus lugares de sociabilidade e pelas formas de seu
http://books.openedition.org/oep/1467 1/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
Note de l’éditeur
Traduzido do francês por Germana Henriques Pereira de Sousa.
Texte intégral
1 O conceito de campo, cunhado por Pierre Bourdieu, destina-
se a evitar uma dupla armadilha. Contra a ideologia
romântica do criador incriado, que encontrou sua máxima
expressão na noção sartriana de “projeto criador”, e que
fundamenta a abordagem puramente hermenêutica das
obras, Bourdieu lembra que os produtores não escapam às
restrições que regem o mundo social. Uma sociologia da
literatura baseia-se na pergunta: “Mas quem criou os
criadores?” (Bourdieu, 1984, p. 207-221), ou seja, por quais
processos se forma o valor simbólico das obras. No entanto,
contra a sociologia marxista, que reduz a obra às
características sociais de seu público ou de seu autor, e
contra a abordagem econômica, que se interessa apenas
pelas condições materiais da produção e do consumo da
indústria do livro, Pierre Bourdieu afirmou que não se pode
dar conta dos universos culturais sem se considerar sua
relativa autonomia e propriedade principal, que é a crença.
2 A autonomização de um campo literário, com sua lógica e
suas próprias regras, com relação aos poderes políticos,
econômicos e religiosos, é um processo histórico que requer
três condições (Bourdieu, 1971). A primeira tem a ver com o
processo, descrito por Max Weber, de diferenciação e
especialização das atividades sociais, com os progressos da
divisão do trabalho: a autonomização do campo literário é o
resultado do surgimento de um corpo de produtores
especializados, habilitados a fazer um julgamento estético
sobre os produtos artísticos e de fixar seu valor simbólico.
Essa condição é atendida na França desde o século , que
viu o “nascimento do escritor” (Viala, 1985). A segunda
condição, que é a existência de instâncias específicas de
consagração, é preenchida desde essa época com a
http://books.openedition.org/oep/1467 2/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
http://books.openedition.org/oep/1467 3/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
http://books.openedition.org/oep/1467 4/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
http://books.openedition.org/oep/1467 12/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
A dinâmica do campo
25 De acordo com Pierre Bourdieu, a dinâmica dos campos
resulta em lutas competitivas entre os seus membros para o
monopólio do capital específico. É a própria definição de
literatura que está no coração dessas lutas do campo literário
para a apropriação do poder simbólico. A estruturação do
campo em torno dos polos que acabamos de apresentar
permite entender melhor a configuração e as questões das
querelas literárias que têm agitado o campo literário francês
no século .
26 A luta entre dominantes e dominados no campo é, como
vimos, uma das dinâmicas de mudança mais comuns. No
entanto, nos períodos fundadores ou nos períodos de
regressão da autonomia, como em tempos de crise nacional,
as lutas entre o polo autônomo e o heterônomo superam as
divisões geracionais e as querelas propriamente estéticas.
Nesses períodos, os escritores situados no polo autônomo do
campo literário, quer sejam dominantes, como os estetas, ou
dominados, como os vanguardistas, são muitas vezes
atacados por seus concorrentes situados no polo
heterônomo, que se aproveitam da situação para tentar
questionar as suas demandas por autonomia e sujeitar a arte
para fins extraliterários, sejam morais, políticos, sociais ou
econômicos.
http://books.openedition.org/oep/1467 13/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
http://books.openedition.org/oep/1467 15/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
http://books.openedition.org/oep/1467 16/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
Notes
1. Por exemplo: Louis Bertrand, Hitler (Fayard, 1936); Henry Bordeaux,
Images du Maréchal Pétain (Sequana, 1941); René Benjamin, Mussolini
et son peuple (Plon, 1937) e Le Maréchal et son peuple (Plon, 1941).
2. É o que faz Jean Paulhan em seu ensaio Les Fleurs de Tarbes [As
flores de Tarbes], ou La Terreur dans les Lettres [O terror nas Letras]
(Gallimard, 1941). A acusação foi feita também contra o grupo Tel Quel
(Forest, 1995, p. 299).
5. “Loti, Barrès, France, marquons tout de même d’un beau signe blanc
l’année qui coucha ces trois sinistres bonshommes: l’idiot, le traître et le
policier. Avec France, c’est un peu de la servilité humaine qui s’en va.
Que ce soit fête le jour où l’on enterre la ruse, le traditionalisme, le
scepticisme et le manque de cœur.” [Nossa tradução].
10. “(...) lui-même mal foutu, scrofuleux, l’air penché d’un pot de
chambre trop plein.” [Nossa tradução].
http://books.openedition.org/oep/1467 22/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
11. “tout [...] est trouble, vil, faux, satanique, dégénéré, empuanti.”
[Nossa tradução]
14. “(...) pour mieux faire triompher l’individualisme du fond, pour que
croissent en dignité les monstres qui s’y tiennent cachés.” [Nossa
tradução]
17. “(...) fut dominée par la sensualité, les cas pathologiques, l’indécision
des caractères, l’attirance de la misère physiologique et morale et la
dégradation humaine qui se traduit par la curiosité bienveillante des
milieux crapuleux ou interlopes.” [Nossa tradução]
Auteur
Gisèle Sapiro
Directrice de recherche au CNRS –
Directrice d’études à l’EHESS –
Centre européen de sociologie et
de science politique, Paris
Germana
Henriques Pereira de Sousa
http://books.openedition.org/oep/1467 23/24
02/01/2018 Arte e vida social - O campo literário francês - OpenEdition Press
(Traducteur)
© OpenEdition Press, 2016
http://books.openedition.org/oep/1467 24/24