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SATO AGOSTIHO ETRE A FÉ E A RAZÃO: RACIOALISMO CRISTÃO


DE BASES EOPLATÔICAS E A COSTRUÇÃO DE UMA FILOSOFIA DA
HISTÓRIA “HUMAA”

Douglas Pinheiro Bezerra1


douglas_pb08@yahoo.com.br

A construção emblemática do “obscurantismo intelectivo” medieval não é por


todo verdadeira. Não obstante o (intolerante) controle social exercido pela Igreja
Católica, sob a feição de uma filtragem ideológico-pragmática da produção humana,
não seria um gesto responsável dizer que a religião teve o condão de cerrar as portas do
racionalismo durante aqueles cerca de dez séculos da nossa história. Mais do que se
resolver em questões de hermenêutica bíblica (e evitemos adentrar em aspectos de
“tendencionismo interpretativo”), o pensamento religioso não se mostrou um corpo
incompatível com o desenvolvimento da razão, ainda que tivesse que adaptar suas
condicionantes de desenvolvimento às circunstâncias de sua época: o racionalismo
religioso tem seu mérito.
Santo Agostinho é um pensador teológico que representa uma centelha
incandescente do período transicional entre o classicismo e o medievalismo. Sua obra
inaugura, com certa originalidade, um método de adaptação da filosofia grega para os
problemas da ideologia cristã (leia-se católica), além de trazer à tona categorias
filosóficas que vieram a ser rediscutidas séculos após, concernentes, sobretudo, à
ontologia e ao existencialismo. Como bem costumam repetir os estudiosos, Agostinho
filosofou na teologia e trouxe conceitos teológicos para a filosofia. Interessa-nos
começar dissertando sobre suas bases epistemológicas da Antiguidade.
Naquilo que podemos chamar de ponto alto de sua maturidade filosófica,
Agostinho soube agregar conceitos neoplatônicos à perspectiva criacionista: foi ali que
ele delineou o papel da razão na sociedade humana e a própria conjuntura filosófica.
Tomando por base a obra de Plotino, Agostinho aceita a ideia de Deus como núcleo
existencial e verdade última das coisas. A filosofia plotiniana ofereceu a chamada
“doutrina do Uno” ou filosofia da unidade do Ser, uma construção figurativa que
representava a unidade ontológica universal e o conceito de realidade última; isso
proporcionava categorias de dispersão que tendenciavam ao afastamento ou
aproximação do Uno, à medida em que nos eram apresentadas realidades aparentes e a

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Bacharelando em Direito (UFPB)
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materialidade2. O Uno produz movimento, mas nada o move, assim como ele encerra
qualquer sentido essencial (o “motor imóvel” de Aristóteles).
Promovendo uma linguagem de adaptação, o Uno se torna, para Agostinho, o
próprio Deus, existencial, essencial e atemporal. A criação se liga de forma umbilical ao
Criador porque Ele fornece o substrato das questões da existência. É dentro dessa
analogia neoplatônica que Agostinho analisa o problema do bem e do mal, rechaçando
sua antiga vertente maniqueísta – que afirmava o dualismo naturalístico do universo. O
desvio de conduta (e de ideias) – o pecado, no cristianismo, representa um contexto de
distanciamento da divindade, o que leva a crer que o problema do mal nada mais expõe
do que um gesto de autonomia humana que se contrapõe ao conteúdo benéfico de Deus,
a frase clichê “Não há mal, mas ausência de Deus no coração dos homens”. Por outro
lado, Agostinho também entende que a bondade é uma conseqüência da intervenção
divina, o que leva a conclusões obscuras sobre a funcionalidade de sua teoria.
Mas é no discurso da razão que Agostinho parece deixar mais evidente o
direcionamento da práxis humana cristã como vertente de reconhecimento da própria
“condição humana”. Segundo ele, a razão, para cumprir o seu papel de busca da
verdade, deve buscar Deus, recaindo na ideia de que o racionalismo deve se aliar a
questões de fé; onde ele não existe, predomina a fé: esse sincronismo interporia uma
espécie de limitação ética da razão3. O sujeito racional é um foco de limitação
permanente que jamais alcançará a verdade última das coisas, não superando as meras
verossimilhanças, o que justifica o apelo constante nos escritos agostinianos à
curiosidade filosófica moderada e à posição de submissão ao conhecimento divino.
Aqui surge uma questão interessantíssima: o pensar, como postulado da razão,
porquanto reconhecimento da dimensão existencial humana. Agostinho adianta em
séculos a famosa frase cartesiana “Penso, logo existo!”.
Um outro aspecto profundamente explorado por Santo Agostinho é o da
“interioridade”. E aqui, também, ele se apóia no neoplatonismo. Por questões de ligação

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Também com a tomada de conceitos platônicos, Plotino entende que a turbulência da materialidade não
oferece um “porto seguro” para a aferição da verdade – embora ele admita a impossibilidade de contato
com a realidade última, o Uno em essência. A verdade se busca no “mundo das ideias”, em detrimento do
“mundo sensível”; este, a materialidade, aquele, o Uno, o Intelecto e a Alma. (BÚSSOLA, Cario. Plotino:
a alma no tempo. Vitória: FCAA, 1990).
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“Se as entidades fundamentais não podem ser descobertas pela capacidade de investigação do homem,
elas devem ser aceitas com base na fé, e o papel da razão é construir estruturas baseadas na confluência
da fé (...) e da razão. Fundamentalmente, Deus cria o cosmo e é o último obstáculo a qualquer tentativa de
buscar comprovações lógicas da existência; portanto, a verdadeira sabedoria é a sabedoria cristã.”
(WAYNE, Morrison. Filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 68).
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ontológica, a “contemplação interior” (Plotino), a configuração da alma, oferece o mais


forte laço de conexão do ser humano com Deus. A alma se desenha pela confluência de
fatores externos, pelo mundo sensível, mas com ele não se confunde; daí a subjetividade
ser questão fundamental na filosofia agostiniana. Um traço marcante dessa
subjetividade é o da análise do tempo: a temporalidade é uma percepção individual
sensível acerca dos fatos (presentes, passados ou futuros) que nos são apresentados. E o
tempo também carrega consigo uma pretensão existencial derivada: ele é. Passado e
futuro não têm dimensão de existência porque “um já não existe mais e outro ainda não
veio” e mesmo o presente é uma expectativa acompanhada de frustração. O tempo é um
contexto humano. Deus não pertence ao tempo porque o tempo só existe a partir da
criação; o Criador é eterno, é um presente que não passa.
Séculos mais tarde, o iluminista Immanuel Kant veio a desenvolver também uma
teoria que entende o tempo como dimensão de preexistência de impressões ligadas ao
plano da sensibilidade e a faculdades subjetivas, tendo, portanto, um sentido interno. “É
possível tirar as coisas do tempo, mas não o tempo das coisas”.
Por fim, vale trazer a pretensão agostiniana de construir uma filosofia da
história. Certo de que não se tratava de uma filosofia da história cristã, mas de uma
filosofia cristã da história, inclusive pelas causas que impulsionaram a reflexão sobre o
tema4. Em “A Cidade de Deus”, Agostinho trava uma batalha persuasiva para mostrar
que, apesar das aparências que induzem a inclinamentos céticos, Deus é extremamente
atuante na história e determina seu rumo. Para ele, existe a cidade dos homens,
governada por interesses egoístas, e a cidade de Deus, voltada para a salvação: é um
desenho seu para mostrar de que forma a humanidade se comporta dentro de um
processo histórico que subsiste por meio da providência divina e aponta para um futuro
onde devem ser firmados os postulados do Criador – daí podermos insinuar a projeção
em linha reta do tempo e da história. O fato de Roma ter sido invadida pelos visigodos
não sugere a impotência ou mesmo a inexistência do Deus cristão, mas uma abordagem
factual em que os interesses mundanos se fazem transcender, não significando dizer que
Deus não tenha controle sobre eles.

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Roma foi saqueada por Alarico e os visigodos em 410, pouco tempo depois de o cristianismo ter sido
adotado como religião oficial do Império Romano. A crítica da época entendia que o abandono aos
antigos deuses romanos foi a causa do acontecimento. Profundamente irritado com os argumentos pagãos,
Agostinho vem a escrever “A Cidade de Deus” e, num esforço racionalizador, criar uma teoria historicista
cristã capaz de arrefecer a natureza daqueles argumentos. Para ele, os invasores (e todos os demais que
atuassem na conjuntura histórica contra as premissas divinas) seriam devidamente castigados por Deus.
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Agostinho foi um grande expositor de si próprio e testemunhou ao mundo sua


virada substantiva de apreciador dos desejos carnais a seguidor de uma “posição cristã”.
Temos motivos para afirmar a missão evangelizadora dessa sua empreitada expositiva,
bem como tentar extrair a conclusão de que ele desejava que, por meio da fé, cada ser
humano pudesse fazer parte daquela síntese histórica de desembocadura em uma cidade
eterna de Deus, talvez o maior grau de proximidade que a criatura poderia ter com a
verdade do Criador.
“Cada um é a sua consciência”.

João Pessoa, 3 de setembro de 2010.

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