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ISSN 2446-7014

BOLETIM
GEOCORRENTE

ANO 3 • Nº 65 • 8 DE DEZEMBRO DE 2017

O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal do Núcleo de NORMAS DE PUBLICAÇÃO


Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à Superintendência Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja
de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do NAC e submeta seu
(EGN). O NAC acompanha a Conjuntura Internacional sob o olhar artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo por
teórico da Geopolítica, a fim de fornecer mais uma alternativa para pares.
a demanda global de informação, tornando-a acessível a todos
Os textos contidos neste Boletim são de responsabilidade única
e integrando a sociedade civil aos temas de segurança e defesa.
dos autores, não retratando a opinião oficial da EGN ou da
Além disso, proporciona a difusão do conhecimento sobre crises e
Marinha do Brasil.
conflitos internacionais procurando corresponder as demandas do
Estado-Maior da Armada.
CORRESPONDÊNCIA
O Boletim tem como finalidade a publicação de artigos compactos
Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-
tratando de assuntos da atualidade sobre as dez macrorregiões do
Graduação.
globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África
Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de
Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e
Janeiro/RJ - Brasil
ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania;
TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: geocorrentenac@gmail.com
Ártico e Antártica, ademais, algumas edições contam com a seção
“Temas Especiais”.
Os textos do BOLETIM GEOCORRENTE poderão ser encontrados
O grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de
na home page da publicação:
diversas áreas do conhecimento, cuja pluralidade de formações e
<https://www.egn.mar.mil.br/boletimgeocorrente.php>
experiências proporciona uma análise ampla da conjuntura e dos
problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar
os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a
escalada de conflitos e crises em andamento, bem como seus
desdobramentos.

ESCOLA DE GUERRA NAVAL


SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
ÍNDICE
CONSELHO EDITORIAL
EDITOR RESPONSÁVEL
Leonardo Faria de Mattos (Egn)

EDITOR CIENTÍFICO
Francisco Eduardo Alves de Almeida (Egn)
AMÉRICA DO SUL

EDITORES ADJUNTOS Perspectivas eleitorais e a reeleição ilimitada: os casos da Venezuela e Bolívia..........Pág. 3


Reconfiguração do cenário político chileno: rupturas e continuidades..........................Pág. 3
Jéssica Germano de Lima Silva (Egn)
Luciane Noronha Moreira de Oliveira (Egn)
AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL
Noele de Freitas Peigo (Facamp)
________________________________________________________ Aquisições da Marinha Estadunidense Condicionadas à Reforma Tributária................Pág. 4
PEQUISADORES DO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
Adriana Escosteguy Medronho (Ehess) ÁFRICA SUBSAARIANA
André Figueiredo Nunes (Eceme)
Impasse Político-Institucional e os Riscos à Segurança de Guiné-Bissau....................Pág. 4
Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück) África além do entorno estratégico: a possível participação brasileira na MINUSCA...Pág. 5
Beatriz Mendes Garcia Ferreira (Ufrj)
EUROPA
Beatriz Victória Albuquerque da Silva Ramos (Egn)
Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (Ufrj) Alemanha entre uma grande economia e um fraco governo..........................................Pág. 6
Um grande passo para a autonomia europeia................................................................Pág. 6
Catharine Simões Lopes (Uerj)
Daniel Santos Kosinski (Universidade de Praga)
Dominique Marques de Souza (Ufrj) ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA
Ely Pereira da Silva Júnior (Uerj) A importância geopolítica do Iêmen para a Arábia Saudita.............................................Pág. 7
Felipe Augusto Rodolfo Medeiros (Egn) Um esperança para a Líbia..............................................................................................Pág.7
Franco Napoleão Aguiar de Alencastro Guimarães (Puc-Rio)
RÚSSIA & EX-URSS
Gabriela Mendes Cardim (Ufrj)
O Plano de Modernização Naval da Federação Russa em perspectiva.........................Pág. 8
Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (Uerj)
Gabriele Marina Molina Hernandez (Uff)
LESTE ASIÁTICO
Giulianna Bessa Reis Anveres (Puc-Rio)
Jéssica Pires Barbosa Barreto (Uerj) Coreia do Norte testa novo míssil intercontinental..........................................................Pág. 8
João Victor Marques Cardoso (Unirio) A busca da China pelo status de superpotência global: elementos marítimos...............Pág. 9
José Gabriel de Melo Pires (Ufrj)
Karine Fernandes Santos (Ufrj) SUL DA ÁSIA
Lais de Mello Rüdiger (Ufrj) Paquistão e Turquia estreitam laços de Defesa.............................................................Pág. 9
Larissa Marques da Costa (Ufrj)
Louise Marie Hurel Silva Dias (London School of Economics)
OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO
Luciane Noronha Moreira de Oliveira (Efn)
Mudança na Geopolítica da Oceania?...........................................................................Pág. 10
Luma Teixeira Dias (Ufrj)
Marcelle Siqueira Santos (Uerj)
Marcelle Torres Alves Okuno (Ibmec) ÁRTICO & ANTÁRTICA
Matheus Souza Galves Mendes (Egn) Reservas naturais marítimas na Antártica......................................................................Pág. 10
Pedro Allemand Mancebo Silva (Ufrj)
Pedro Emiliano Kilson Ferreira (Universidade de Santiago) Artigos Selecionados & Notícias de Defesa..........................Pág. 11
Pedro Mendes Martins (Uerj)
Philipe Alexandre Junqueira (Uerj) Referências...........................................................................Pág. 12
Rebeca Vitória Alves Leite (Ufrj)
Rita de Cássia Oliveira Feodrippe (Egn)
Stefany Lucchesi Simões (Unesp)
Taynara Rodrigues Custódio (Ufrj)
Thaïs Abygaëlle Dedeo (Ufrj)
Thayná Fernandes Alves Ribeiro (Ufrj)
Victor Eduardo Kalil Gaspar Filho (Puc-Rio)
Vinícius de Almeida Costa (Egn)
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (Ufrj)
Vivian de Mattos Marciano (Ufrj)
BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 65 • Dezembro | 2017

AMÉRICA DO SUL
Perspectivas eleitorais e a reeleição ilimitada: os casos da Venezuela e Bolívia
Adriana Escosteguy

A narrativa histórica de independência comum entre


Venezuela e Bolívia voltou a ser evocada nas últimas
declarações do presidente boliviano Evo Morales, em menção
referendo constitucional de 2016, método previsto em lei
para a revogação da proibição. A derrota fora acirrada (51,3%
de votos contra), mas histórica: fora a 1ª derrota eleitoral de
ao presidente venezuelano Nicolás Maduro. Para além da Morales em 10 anos.
reiteração do apoio comum e da recente colaboração para Na Venezuela, a revogação da proibição à reeleição
formação de militares venezuelanos na recém-inaugurada consecutiva fora conquistada em 2009, com a vitória do
(2016) Escola Militar Anti-imperialista da Bolívia, ambos referendo constitucional (54,36% dos votos) convocado
os presidentes buscam assegurar meios políticos e jurídicos pelo então presidente Hugo Chávez. Caberá à Assembleia
que permitam suas recandidaturas nas próximas eleições Constituinte – composta por maioria governista após a
presidenciais. contravertida vitória eleitoral em julho – a convocação das
Legisladores do Movimento para o Socialismo (MAS), eleições presidenciais, previstas para 2018. Em novembro,
partido da presidência boliviana, entraram em setembro o vice-presidente Tareck el Aissami declarou que Maduro
no Tribunal Constitucional (TC) com uma ação de pretende se recandidatar.
inconstitucionalidade dos artigos referentes à proibição da A proibição à reeleição ilimitada ao Executivo na América
2ª reeleição presidencial consecutiva, prevista no Regime do Sul fora interpretada como um avanço democrático
Eleitoral. O TC já havia garantido a 3ª candidatura de Morales histórico das legislações nacionais no século XX, por
nas eleições de 2015, dada a interpretação de que, tendo sido garantir a alternância administrativa e política. Ambas as
a Bolívia refundada com a Constituição de 2009, a vitória de administrações venezuelanas e a boliviana se depararam,
Morales em 2006 não seria contabilizada. Em novembro, o quando não à oposição, no caso de Morales, à pequena
TC foi favorável à ação do MAS, garantindo a recandidatura margem de vitória governista na matéria. Outrossim, ambas
de Morales para 2019. Classificada por opositores como as administrações vêm investindo em sua permanência no
ruptura democrática, tratou-se da reestruturação da estratégia Executivo, ainda que estas estejam submetidas ao escrutínio
governista após a derrota de Morales na convocação do de suas populações, em última instância.

Reconfiguração do cenário político chileno: rupturas e continuidades


Pedro Kilson

O Chile se encontra mediante um cenário de reconfiguração


das forças políticas, com a emergência de novos atores
e questionamento de uma histórica bipolaridade. Nesse
modificação da estrutura eleitoral no país, de um regime
eleitoral binomial, que privilegiava consenso e negociação
entre as forças, para um conhecido por proporcional
sentido, a implementação do governo da Concertación em moderado, permite a representação de novos grupos políticos,
1990, uma coalizão de centro-esquerda inserida no contexto como o Frente Amplio, liderado por Beatriz Sánchez.
de desmantelamento do regime militar por meio do Plebiscito As eleições de 2017 representam a consolidação de novas
de 1988, que viabilizou o desenvolvimento de um processo correntes de pensamento, que proliferaram tanto à esquerda
de transição democrática, possibilitou a conformação de um quanto à direita. O primeiro turno, no dia 19 de novembro,
cenário político dicotômico. A consolidação histórica de dois garantiu 36,64% dos votos para Piñera, candidato da direita,
eixos de poder opõe, de um lado, uma esquerda reformada pela coalizão Chile Vamos, 22,70% para o governista
e moderada, na qual se insere a atual presidente, Michelle Alejandro Guillier, apoiado por uma coalizão de partidos
Bachelet, vinculada à coalizão Nueva Mayoría, e uma de esquerda, e 20,27% para Beatriz Sánchez, candidata pelo
direita gradativamente mais independente dos acordos para a Frente Amplio, grupo que representa uma alternativa a uma
transição, representada pelo ex-presidente Sebastián Piñera. política binária. Embora Sánchez não tenha garantido sua
Dessa forma, o quadro político chileno impossibilitava participação no segundo turno, os resultados revelam um
a solidificação de projetos de governo que escapassem à gradual processo de transformação da lógica de poder, desde
hegemonia dos dois polos em questão. No entanto, uma o governo da Concertación.

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O segundo turno ocorrerá em 17 de dezembro, refletindo presença da iniciativa privada e com baixas taxas de juros.
um quadro político marcado por dois projetos de governo Piñera fundamenta seu projeto de governo no acirramento
distintos. Guillier propõe reformas importantes, que na política migratória, problemática bastante presente na
incluem a questão do fim do endividamento estudantil sociedade chilena.
no ensino superior, por meio de um crédito estatal, sem a

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL


Aquisições da Marinha Estadunidense Condicionadas à Reforma Tributária
Victor Gaspar

N o início do mês de novembro, o Comitê do Congresso


Norte-Americano sobre Serviços Armados (HASC,
sigla em inglês) publicou seu projeto de gastos para o
aumenta o contingente das Forças, bem como proporciona
aumento de salário de 2,4% para os militares.
Em declaração, o deputado democrata do HASC, Adam
Ano Fiscal de 2018. A Administração Trump requisitou Smith (D-Wash), afirma que o esforço bipartidário é um passo
acréscimo de 8 navios à Marinha, mas os Comitês importante para fazer frente à ameaça global à democracia
autorizaram a construção de 14 no ano de 2018. A adição de imposta pelos russos bem como combater o terrorismo.
meios é orçada em US$ 6,3 bilhões a mais do que havia sido Afirma, também, que em virtude do elevado valor necessário
requisitado pela administração. para a concretização do projeto, dificilmente será possível
São destinados, no total, US$ 26,2 bilhões para a compra realizá-lo em sua plenitude. O Comitê de Apropriações do
de 14 navios, sendo os que estão acima da requisição Congresso ainda necessita chegar a um acordo sobre como
original: um Contratorpedeiro, dois Littoral Combat Ships, exatamente será destinada a verba.
um Navio Anfíbio e um Navio Multipropósito. Para os A aprovação da reforma tributária é necessária para
próximos anos, também foram autorizados 4 navios não- a concretização das adições à Marinha. A votação do teto
militares que incluem um navio quebra-gelo. Além disso, orçamentário está condicionada à reforma que planeja um
também foi autorizado o reparo dos Contratorpedeiros corte de tributação de US$1,7 trilhões. Caso falhem em
“Fitzgerald” e “John S McCain”, envolvidos em colisões em negociar a tempo, o orçamento de 2017 será congelado para
2017. A versão provisória do projeto destina verbas também o Ano Fiscal de 2018.
para equipamentos, mantimentos e treinamento de tropas,

ÁFRICA SUBSAARIANA

Impasse Político-Institucional e os Riscos à Segurança de Guiné-Bissau


João Victor Marques

E m 16 de novembro, em comemoração ao 53º aniversário


das Forças Armadas, o Chefe do Estado-Maior, General
Biaguê Na Ntan, afastou a possibilidade de intervenção
normalidade institucional do país, tendo, a partir deles,
escolhido um novo chefe de governo. Ainda assim, o
“consenso” em torno do primeiro-ministro Umaro Sissoco
militar na política nacional. A declaração, aparentemente é bastante frágil, evidenciado por uma marcha em direção
positiva, traz um relativo alívio para a comunidade à sede da presidência, no dia 16 de novembro, que reuniu
internacional, visto que a situação política guineense se componentes de 15 partidos políticos, tendo como principal
encontra em impasse desde 2015 (Boletins 15, 31 e 38). reivindicação a demissão de seu governo. Há pouco mais
Esta, arrastando-se entre as divergências internas no Partido de um ano no poder, Sissoco continua a governar sem
Africano pela Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde um orçamento formalmente aprovado, sob os pedidos de
(PAIGC), as atividades suspensas na Assembleia Nacional demissão e forte ceticismo sobre os Acordos de Conacri.
Legislativa e o baixo compromisso com a execução dos Além do impasse político-institucional, Bissau enfrenta
Acordos de Conacri. O histórico de intervenções militares fragilidade social, pobreza e baixa formação educacional,
e a imprevisibilidade política, contudo, não reduzem as elementos que, segundo o antropólogo Hamadou Boiro, do
preocupações acerca do pequeno Estado africano. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, contribuem para o
Os Acordos de Conacri, assinados em 2016, risco de radicalismo e de instrumentalização da comunidade
permanecem como principal marco para o retorno à islâmica por organizações extremistas. Isto reforça o que

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os parceiros da cooperação Sul-Sul afirmam, segundo a locais, apoiados pela Polícia Federal do Brasil em parceria
pesquisadora Adriana Abdenur: apesar de indispensáveis com a Agência Brasileira de Cooperação, revelam não
as iniciativas pela segurança, reforma e mediação, soluções apenas os meios pelos quais a cooperação Sul-Sul tem se
de longo prazo são também necessárias à economia e às articulado, mas também, o compromisso brasileiro com a
instituições estatais. paz e a segurança. Em via de contribuir com forças de paz
Embora as lacunas ao desenvolvimento possam para a missão das Nações Unidas na República Centro-
ser resolvidas apenas entre os guineenses, projetos de Africana, Brasília deve estar atenta à sustentabilidade de
cooperação como o Centro de Formação das Forças de seus projetos de cooperação em andamento, diante dos
Segurança da Guiné-Bissau e a capacitação de forças desafios e à imprevisibilidade política de Guiné-Bissau.

África além do entorno estratégico: a possível participação brasileira na MINUSCA


Vivian Mattos

O conflito étnico-religioso entre Sélékas e anti-Balakas


teve seu despertar em 2013, provocando a queda do
então presidente François Bozizé na República Centro
cooperação com os países lindeiros da África Ocidental,
pertencentes ao entorno estratégico brasileiro, além
de explorar novos campos de inserção, indo além dos
Africana (RCA). A guerra civil em RCA é encarada pelas documentos estratégicos. A possível participação brasileira,
Nações Unidas (ONU) como um dos mais violentos conflitos que precisa de aprovação no Congresso, enfrenta grande
da atualidade, considerando-se o nível de intensidade dificuldade de caráter logístico, considerando que a RCA não
das hostilidades e de brutalidade entre os combatentes. tem saída para o mar, além da crítica falta de infraestrutura
Ademais, devido sua posição geográfica central, RCA tem de transportes. O porto de Duala em Camarões, um dos
se apresentado como uma complexa crise humanitária, com maiores portos do Golfo da Guiné, e a rodovia transnacional
inúmeros deslocados internos e mais de 100 mil refugiados Lagos (Nigéria) –Mombaça (Quênia), apresentam-se como
nos países vizinhos. as melhores soluções logísticas. Mas o período das chuvas,
Com o escalar do conflito, a ONU, a França e a União de março a outubro, poderá dificultar as atividades, uma vez
Europeia intervieram militarmente com o propósito de que parte dessa rodovia não é pavimentada. A missão ainda
cessar o confronto e realizar uma transição pacífica de não começou, mas os desafios já se apresentam.
poder. Entretanto, no final de 2016 a
França encerrou a operação Sangaris
(2013), alegando sua conclusão e que
o caos em RCA havia chegado ao
fim. A retirada das tropas deixou um
vácuo de poder no país, coincidindo
com o aumento da violência contra
civis, enfraquecendo a iniciativa de
estabilização da paz.
Um ano após o término da
operação Sangaris, o Conselho
de Segurança das Nações Unidas
aprovou o adicional de 900 soldados
em RCA, solicitando a participação
de tropas brasileiras na Missão
Multidimensional Integrada das
Nações Unidas para a Estabilização
da República Centro-Africana
(MINUSCA). O pedido, segundo o
chefe de operações de paz das Nações
Unidas, se dá pelo desempenho e
expertise conquistada pelo Brasil
comandando a Missão no Haiti.
Como abordado no Boletim 59,
a possibilidade de atuação de tropas
brasileiras na MINUSCA apresenta-
se como uma oportunidade de Fonte: Wikipédia

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EUROPA

Alemanha entre uma grande economia e um fraco governo


Dominique Marques

N o último dia 19 de novembro, o líder do Partido


Liberal Democrata (FDP) alemão, Christian Lindner,
anunciou que estava deixando a mesa da coalizão. Isto gerou
refugiados, um tema recorrente e com influência no retorno
de partidos de extrema direita em muitos países, inclusive na
Alemanha (exemplo: Partido Alternativa para a Alemanha,
impacto na imprensa e nos governos vizinhos, que vacilam ou AfD).
em reconhecer a Alemanha como uma grande influência Além de ser a maior economia do continente, a
regional diante deste impasse na formação do governo de Alemanha representa uma das maiores populações dentre
coalizão para o próximo mandato do primeiro-ministro no os países membros da UE e possui uma posição geográfica
país. Pela primeira vez, em seu quarto mandato, o partido central na Europa, sendo esta usada recorrentemente como
de Angela Merkel, União Democrática Cristã (CDU), que uma chave para a estabilidade regional ao longo da história.
governa em conjunto com seu braço bávaro (SDU), não Se a crise dos refugiados, potencializada pela abertura das
conseguiu maioria das cadeiras no Parlamento, buscando portas alemãs sob o governo Merkel, continuar causando
assim, associações com o FDP e com o Partido Verde. desgaste na formação de um governo de coalizão, principal
Este conflito no governo alemão se configura como a ponto de discordância entre os partidos, ficará evidenciado
pior crise política na sua história moderna e a sua principal que a decisão talvez tenha sido precipitada e que Merkel
repercussão é a de que um governo fraco em Berlim gere não teve forças para gerir tamanha situação, podendo causar
um vácuo de poder na maior potência econômica europeia, um efeito dominó e uma retomada da extrema-direita na
o que, certamente, afetaria todas as relações interestatais Europa. Como uma possível convocação de novas eleições
da União Europeia (UE). Tal situação poderia estagnar a não está descartada, caso ocorra, existe a possibilidade de o
dinâmica do eixo franco-alemão em promover reformas, AfD sair fortalecido.
além de tornar mais complexa a resolução da questão dos

Um grande passo para a autonomia europeia


Thaïs Dedeo

N o dia 12 de dezembro deste ano, os próximos quatro


satélites do sistema global de navegação por satélite
denominado Galileo, e conhecido como o “GPS europeu”,
militar. Assim, a UE busca se posicionar enquanto potência
espacial: quando o Galileo estiver em pleno funcionamento,
este será o maior concorrente do GPS, contando com uma
serão lançados pelo foguete "Ariane 5" a partir da base em maior precisão, indicando qualquer posição no globo com
Kourou, Guiana Francesa. Esse lançamento colocará em um desvio máximo de um metro e um serviço específico
órbita um total de 22 dos 30 satélites da constelação Galileo, de busca e salvamento, que poderá localizar navios em alto
programados para estarem completamente operacionais em mar.
2020. Além do Galileo, operando desde o final de 2016, De acordo com o autor britânico Richard North, o Galileo
estão em funcionamento os sistemas de navegação por será um meio para a UE assegurar a competitividade das suas
satélite Global Positioning System (GPS/norte-americano), empresas espaciais, aumentar a sua autonomia e reforçar o
GLONASS (russo) e Beidou (chinês). Japão e Índia também seu papel de ator global. O Galileo será não só concorrente
estão desenvolvendo seus próprios sistemas. como poderá complementar o GPS em operações da
Em 1999, a União Europeia (UE) começou a discutir Aliança Militar Transatlântica, porém a nível da UE haverá
o programa Galileo visando atingir maior autonomia pela primeira vez uma autonomia operacional neste quesito.
econômica (de aproximadamente 13%) e operacional vis- Apesar do Galileo ser um projeto europeu, contou com
à-vis aos Estados Unidos (EUA). Alguns especialistas investimentos chineses, russos, indianos e israelenses, o que
afirmam que o projeto foi criado após problemas de dará a outros Estados acesso a uma tecnologia antes detida
reconhecimento de terreno na Guerra do Kosovo vindos apenas pelos EUA. Portanto, percebe-se uma corrida pela
da dependência europeia face ao GPS. O Galileo é o único diminuição da assimetria de poder tecnológico que existe
desses sistemas que é de controle civil, apesar de já serem entre os EUA e os demais Estados.
discutidas mudanças na legislação permitindo seu uso

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ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA

A importância geopolítica do Iêmen para a Arábia Saudita


André Nunes

E m março de 2015, uma coalizão de Estados árabes


liderada pela Arábia Saudita deu início a uma
intervenção armada na guerra civil do Iêmen para restaurar
iemenita é encarada como um fator de maior ameaça para
os sauditas do que para os iranianos. Para Riad, do ponto de
vista marítimo, um Iêmen sob influência política e militar
o governo do então presidente Abd Rabbu Mansour Hadi, de Teerã pode se tornar um problema futuro para a reunião
deposto em virtude do conflito interno com os combatentes dos seus meios navais no Golfo de Áden, haja vista que os
Houthis zaiditas (ligados à vertente xiita do Islã). Desde sauditas possuem duas sedes de esquadra localizadas no
então, a situação iemenita tem sido analisada como um Golfo Pérsico e no Mar Vermelho, ambas dependentes da
conflito indireto entre a Arábia Saudita e o Irã, no qual Riad passagem pelos Estreitos de Bab el-Mandeb e Ormuz para
combate os houthis, financiados e armados pelo governo alcançarem o oceano aberto. Ademais, Arábia Saudita e
xiita de Teerã. Iêmen fazem fronteira terrestre e, de proximidades da região
O Iêmen possui importante valor geopolítico por sua limítrofe, os houthis têm disparado mísseis contra o território
localização geográfica na Península Arábica e proximidade saudita.
com o Chifre da África, constituindo a margem leste do A questão iemenita tem se mostrado um problema de
Estreito de Bab el-Mandeb, que liga o Mar Vermelho ao difícil resolução para a coalizão árabe e o assassinato do ex-
Golfo de Áden. Em Áden encontra-se o arquipélago das presidente Abdullah Saleh, anunciada no dia 4 de dezembro,
ilhas Socotra, de soberania iemenita, que, no período da surge como um novo desafio no conflito. Para a diplomacia
Guerra Fria, serviu de base soviética e que atualmente é de iraniana, entretanto, a influência sobre o Iêmen pode servir
interesse militar de países como a Arábia Saudita, Estados de barganha com a Arábia Saudita para tirar vantagem em
Unidos e Emirados Árabes Unidos. futuras negociações sobre a situação de outros Estados
Devido à proximidade geográfica, a guerra civil regionais como o Iraque e a Síria

Uma esperança para a Líbia


Karine Fernandes

S egundo dados da Organização Internacional para as


Migrações (OIM), neste ano, mais de 160 mil migrantes
chegaram à Europa por meio do Mediterrâneo e estimativas
acabam por confiar em atravessadores, os quais prometem
levá-los à costa do Mar Mediterrâneo e, de lá, até a Europa.
Mas a viagem acaba geralmente na Líbia, onde o tráfico de
de funcionários das Nações Unidas na Líbia apontam que seres humanos e o contrabando tornaram-se um comércio
outras centenas de milhares aguardam a travessia para o em expansão. A luta contra tais crimes na região ocupa há
continente. A OIM informou ainda que, desde o último muito tempo um lugar importante na agenda da ONU, mas
janeiro, quase 3 mil migrantes morreram durante a perigosa os avanços são pouco perceptíveis.
viagem marítima. Nesse sentido, a ministra italiana da A cooperação Itália e Egito tem chance de fazer com
Defesa Roberta Pinotti e o embaixador egípcio Hisham que a quantidade de imigrantes ilegais diminua. Estão hoje
Badr têm discutido, durante o último mês, formas de cerca de 20 mil pessoas nos centros de detenção em Trípoli
promover uma cooperação bilateral entre os dois países aguardando a deportação em condições precárias, com
para fortalecer e melhorar as relações entre ambos e em acesso escasso a água e comida. Se a situação na Líbia não
diversos outros campos, como no combate ao terrorismo, melhorar, a tendência é que mais pessoas tentem fugir pelo
extremismos e, principalmente, à imigração ilegal. mar ou pelo deserto do Saara, sendo este mais um motivo
Pinotti também salientou que a parceria seria decisiva para Egito e Itália se juntarem, já que, enquanto as rotas
a nível regional, com a gestão dos fluxos de imigração e legais para a Europa não se tornarem mais acessíveis, a
a luta contra os problemas vindos da Líbia. A esperança motivação de muitos jovens africanos para empreender a
de um futuro na Europa também leva muitos à fuga, que arriscada jornada ainda permanecerá grande.

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RÚSSIA & EX-URSS

O Plano de Modernização Naval da Federação Russa em perspectiva


Pedro Martins

N o dia 24 de novembro, foi lançada a corveta da nova


classe “Karakurt” de nome “Typhoon” da Marinha
russa. Essa é a segunda dessa nova classe lançada pela
em sua estrutura militar, voltada para criação de uma força
cujo emprego se tornasse mais adequado em situações de
conflito regional.
força russa como parte de seu programa de rearmamento Esse plano foi acompanhado por um aumento nos gastos
naval e entrará em comissionamento em 2018, junto com de defesa da Federação Russa: o orçamento passou de US$
a “Uragan”, primeira desse tipo e cujo lançamento se deu 57 bilhões, em 2008, para US$ 91 bilhões em 2015. No que
em julho de 2016. As duas corvetas serão empregadas se refere ao plano de modernização, o orçamento destinado
na Esquadra do Báltico, cuja sede fica no enclave de vai ser de US$ 280 bilhões, dos quais US$ 70 bilhões são
Kaliningrado. A Marinha planeja encomendar mais 9 direcionados para o programa de modernização naval.
corvetas dessa classe, sendo que, desse total, três têm como Apesar disso, o Kremlin tem tido dificuldades em executar
destino a Esquadra do Mar Negro, sediada em Sebastopol. os seus planos, uma vez que muitos dos estaleiros têm
Tais corvetas são parte do programa de modernização tecnologia defasada, mão de obra com baixa produtividade,
naval russa assim como da modernização das Forças problemas de governança e de corrupção, bem como falta
Armadas como um todo. Tal esforço foi empreendido pelo de acesso à tecnologia estrangeira de ponta.
governo do país após a guerra russo-georgiana de 2008. Na Dessa forma, a mudança na composição das forças
ocasião, o governo percebeu que a organização das forças navais russas, embora seja um passo necessário para a
militares, voltada para um combate de larga escala contra inserção internacional da Rússia no século XXI, deve
a Aliança Transatlântica, não mais servia aos interesses enfrentar problemas estruturais para que o país possa ter
e cenários de conflito que o governo russo previa como uma indústria de defesa desenvolvida o bastante a fim de
possíveis. Logo, Moscou começou a depreender mudanças garantir seus interesses no seu entorno estratégico.

LESTE ASIÁTICO

Coreia do Norte testa novo míssil intercontinental


Ely Pereira

N o dia 28 de novembro, pela primeira vez em dois meses,


o regime norte-coreano realizou o lançamento de um
novo míssil balístico intercontinental: o “Hwasong-15”,
das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, declarou que
os Estados Unidos são responsáveis pelo comportamento
agressivo de Kim Jong-un, uma vez que as medidas
que teria capacidade de atingir a maior parte dos territórios aplicadas pelo governo Trump provocam o norte-coreano. A
norte-americano e europeu. Especialistas alegaram que Rússia, assim como a China, defende que a via diplomática
o teste foi o mais promissor já executado pela Coreia do é o melhor caminho para solucionar o litígio. De outro lado,
Norte, o que despertou a preocupação dos países que se o Japão, a União Europeia e outros aliados norte-americanos
opõem ao regime. continuam se empenhando para alcançar a desnuclearização
Após o teste, a embaixadora dos Estados Unidos junto norte-coreana através da pressão internacional e de sanções.
às Nações Unidas (ONU), Nikki Haley, afirmou em uma Também é importante ressaltar o posicionamento do atual
reunião do Conselho de Segurança que as ações recentes presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que diferente de seus
de Kim Jong-un deixam os países mais próximos de uma dois antecessores, vem buscando ampliar o diálogo com o
guerra. Além de Haley, o presidente Donald Trump solicitou país vizinho desde que assumiu a presidência.
que os demais membros da ONU também se comprometam A falta de convergência dos países sobre como lidar
a aplicar sanções mais duras contra a Coreia do Norte, com a situação, sobretudo entre os membros permanentes
e que cortem todas as relações diplomáticas com o país. do Conselho de Segurança, parece impedir que uma
Trump também pediu a cooperação do presidente chinês, solução eficaz seja tomada para interromper a nuclearização
Xi Jinping, indicando que reconhece o papel da China na da Coreia do Norte. Enquanto isso, o futuro da península
resolução do conflito. coreana permanece incerto e a probabilidade de conflito,
O episódio ainda trouxe à tona a discussão sobre a apesar de baixa, continua presente.
eficácia das sanções aplicadas contra Pyongyang. O ministro

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A busca da China pelo status de superpotência global: elementos marítimos


Rita Feodrippe

E m discurso de abertura proferido durante o 19º


Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês,
ocorrido em outubro deste ano, o secretário-geral do partido
Suas atividades marítimas, portanto, representam
as ambições estratégicas do país em se tornar uma
superpotência. O fortalecimento no cenário global permite
e presidente da China, Xi Jinping, apresentou ambição que Pequim abandone a tradicional postura burocrática e
estratégica expansiva para a ascensão de seu país como um cautelosa assumida nas últimas décadas, adotando presença
líder global. afirmativa nas áreas econômica e política.
As palavras são corroboradas pela decisão de se A grande estratégia chinesa pressupõe que as potências
construir uma força naval de primeira-classe, de forma que devem ser responsáveis no processo decisório internacional,
a China se transforme numa potência marítima capaz de incorporando elementos de hard e soft power. Este esforço
prover segurança nacional, além de garantir seus direitos de tem como exemplos: por um lado, a base naval em Djibouti,
soberania e interesses territoriais e internacionais. reveladora do interesse chinês por uma esquadra de águas
Embora a "Iniciativa Cinturão e Rota" pretenda azuis; e, por outro, a participação da China em operações de
diversificar os canais de comércio, ressaltando a importância paz das Nações Unidas, a partir do emprego de tropas em
da conectividade terrestre, o país depende das vias marítimas países como Congo, Sudão do Sul e Mali.
para manter seus fluxos de importação e exportação. No Assim, a reconfiguração geopolítica das relações
contexto de globalização, os mares se tornam cada vez internacionais está associada às pretensões chinesas de
mais relevantes como conectores econômicos e espaços de transformação do sistema internacional em seu benefício
projeção política. como primeira superpotência (ultrapassando os Estados
Um dos desafios da China em termos navais é a Unidos). Nesta conjuntura, o ambiente marítimo se
contestação da hegemonia norte-americana, cujo domínio apresenta como tabuleiro para manobras e ações de poder
marítimo se construiu no último século a partir de uma que fortaleçam os objetivos de Pequim na construção de um
perspectiva à qual a atual estratégia chinesa se assemelha. novo consenso, centrado no Pacífico.

SUL DA ÁSIA

Paquistão e Turquia estreitam laços de Defesa


Rebeca Leite
No dia 24 de novembro, os ministros da Defesa do significativamente influenciada pela semelhança religiosa,
Paquistão e da Turquia se reuniram em Ankara com o cultural e político-ideológica. A cooperação bilateral ganhou
objetivo de fortalecer os acordos de cooperação. Durante impulso em 1988, com a criação do Grupo Consultivo
o encontro, ambos os países concordaram em explorar Militar da Turquia (MCG, sigla em inglês), a fim de
possibilidades no âmbito da indústria de Defesa, a partir de incentivar a troca de treinamentos militares e organizar a
joint ventures e assistência mútua no desenvolvimento de atuação conjunta entre os países. Já em 2003, foi criado o
novas tecnologias. High Level Military Dialogue (HLMD, sigla em inglês),
Ainda na ocasião, como parte da ampliação da fórum para discussão de projetos relacionados à Defesa.
cooperação já existente para uma parceria estratégica, Com o ambiente geopolítico cada vez mais hostil no
Paquistão e Turquia assinaram documentos importantes: Sul da Ásia, o Paquistão precisa sustentar e aprofundar
uma carta de intenção de aquisição de quatro Corvetas seus laços com países com os quais possui tradicionalmente
turcas da classe “Ada” pelo Paquistão; e um memorando parcerias estáveis, como a Turquia. A mesma tem se
de colaboração no campo de aviação, assinado pelos órgãos colocado favorável às reivindicações paquistanesas na
Pakistan Aeronautical Complex (PAC) e Turkish Aerospace Caxemira e demonstrado apoio ao Paquistão na guerra do
Industries (TAI). Relatórios apontaram, ainda, o intuito Afeganistão. Também do ponto de vista regional, pode-
paquistanês de despender cerca de US$ 1,5 bilhão para se observar a busca de Islamabad pela paridade de meios
renovar seus helicópteros de ataque do tipo “Bell AH-1F” militares convencionais, uma vez que a Índia testou,
e “AH-1S Cobra” (fabricação norte-americana), que estão recentemente, um míssil de cruzeiro lançado de um avião
desgastados, pelos “30 T-129s” da Turquia. de combate. Assim, a celebração de tais acordos sugere uma
A relação entre Paquistão e Turquia é histórica e resposta à escalada do dilema de segurança na região.

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OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO


Mudança na Geopolítica da Oceania?
Thayná Fernandes

A Oceania é estrategicamente relevante para países como


China, Estados Unidos, Rússia e Japão, conforme
já tratado em edições anteriores do Boletim. Enquanto a
geográfica) e, por fim, escassez (menor a quantidade, maior
a competitividade).
Em recente estudo publicado pelo Institute for Strategic,
Austrália possui acordos de Defesa com os Estados Unidos Political, Security and Economic Consultancy, estima-
e se volta estrategicamente às regiões Sul, Sudeste e Leste se que, juntas, tais regiões insulares da Oceania tenham
Asiático; a Nova Zelândia, se preocupa sumariamente uma Zona Econômica Exclusiva de aproximadamente
com a proteção de sua Zona Econômica Exclusiva e 20 milhões de Km². Apesar de seus recursos pesqueiros e
com a Antártica. Apesar de os EUA serem os principais minerais serem relevantes para os Estados do entorno, os
investidores, é a China o maior parceiro econômico desses mesmos estão ameaçados pelas mudanças climáticas, sua
dois países, deixando-os receosos quanto a se posicionarem desregulamentação e exploração ilegal; e pela dependência
mais assertivamente diante das ações de Pequim sobre seu de combustíveis fósseis, como óleo diesel.
Mar do Sul. Embora a pauta ambiental seja um bom álibi, são os
Não somente de Canberra e Wellington é feita a interesses geopolíticos que movem as ações nessa região:
Oceania: outros quinze países insulares compõem o com grandes projetos de infraestrutura, empréstimos a
continente, dentre os quais Papua Nova Guiné, Nauru, Fiji baixos custos e o incentivo à migração de seus trabalhadores,
e Ilhas Salomão. A relevância de tais territórios se dá por a China vem ganhando espaço nestas ilhas. Além disso,
seus recursos minerais e marítimos, fato que se encaixa na o distanciamento norte-americano e as ações políticas
discussão acerca da geopolítica dos recursos estratégicos. tomadas por Austrália e Nova Zelândia em relação a alguns
De acordo Ana Esther Ceceña, um recurso é considerado desses países insulares tornam muito mais interessante aos
estratégico segundo diferentes aspectos: essencialidade (de mesmos que concedam seus recursos a Pequim. Assim,
que forma e para que é utilizado), massividade (volume por ora, na disputa pela influência na Oceania, a China
de produção), vulnerabilidade (quantidade e localização permanece à frente.

ÁRTICO & ANTÁRTICA


Reservas naturais marítimas na Antártica
Stefany Simões

D ia 30 de novembro, entrou em vigor a área marinha


protegida do Mar de Ross (MPA, Marine Protected
Area), aprovada na Convenção para Conservação dos
este tendem a acontecer com cada vez mais frequência,
segundo pesquisadores da WWF - World Wildlife Fund. Tal

Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR), que


ocorreu em outubro de 2016. O movimento, liderado pelos
Estados Unidos e pela Nova Zelândia foi aprovado por
25 países e pela União Europeia, e resultou em uma área
marítima protegida de 1,55 milhões de Km², onde 1,15
milhões são áreas de pesca proibida. Essa reserva, planejada
para durar 35 anos, visa proteger animais como baleias,
pinguins e focas.
Neste ano, na mesma reunião anual da CCAMLR, era
esperada a criação de uma nova área de proteção, após o
incidente onde foram registradas as mortes de mais de
40.000 pinguins na Terra Adélia, território de reivindicação
francesa na Antártica, descoberto em 1840. A causa de tal
fatalidade foi um fenômeno de acúmulo de gelo maior do
que o normal, dificultando o acesso dos animais à comida.
Com as mudanças climáticas, eventos inesperados como Fonte: Newshub

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acontecimento iniciou um debate sobre a necessidade de desprendimento da plataforma de gelo Larsen C preocupam
criação de novas áreas de preservação ambiental, tanto para o meio científico, gerando questionamentos sobre os avanços
prevenir que novos desastres ecológicos aconteçam como estarem acontecendo em ritmo menor que o necessário. É
para permitir a recuperação da área. importante ressaltar, também, que a área protegida do Mar
A aprovação de reservas marinhas é considerada de Ross ainda não abrange as principais áreas de pesca no
politicamente um avanço no panorama antártico, continente, abrindo brechas para novos incidentes.
mas a catástrofe da morte dos pinguins-de-Adélia e o

ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

• INTERNATIONAL CRISIS GROUP • DAVID D. KIRKPATRICK


Time for Concerted Action in DR Congo In Snub to U.S., Russia and Egypt Move
Toward Deal on Air Bases
• PRANAB BARDHAN
China’s Solitary Development Model • CARMEN GONZÁLEZ ENRÍQUEZ
La protección a los refugiados en el
• ROBERT SKIDELSKY mundo
Inconvenient Truths About Migration
• A.T. KEARNEY
• SARAH LADISLAW Technological change and geopolitical risk
Energy and Development dominate top predictions for 2018

• LYLE J. GOLDSTEIN • DEFENSE INDUSTRY DAILY STAFF


Russia Isn't Going Away in Ukraine Britain’s Future Frigates: Type 26 Global
Combat Ships
• CHRISTIAN BUEGER AND CHRONIS KAPALIDIS
Policy forum: the future of maritime
security

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