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Universidade Federal do Rio de Janeiro

AVALIAÇÃO DA CODIGESTÃO NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS

Ingrid Roberta de França Soares Alves

2016
AVALIAÇÃO DA CODIGESTÃO NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS

Ingrid Roberta de França Soares Alves

Tese de Doutorado apresentada ao Programa


de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Engenharia
Civil.

Orientador(es): Claudio Fernando Mahler


Luciano Basto Oliveira
João Paulo Bassin

Rio de Janeiro
Junho de 2016
Alves, Ingrid Roberta de França Soares
Avaliação da Codigestão na Produção de Biogás/
Ingrid Roberta de França Soares Alves. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2016.
XIV, 153 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Claudio Fernando Mahler
Luciano Basto Oliveira
João Paulo Bassin
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 89-106.
1. Biogás. 2. Resíduos Sólidos. 3. Codigestão. 4.
Lodo de ETE. 5. Glicerol. I. Mahler, Claudio Fernando et
al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.

iii
Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família que,


através do seu apoio incondicional, ofertou
abrigo nos momentos de turbulência,
aconchego nos momentos de cansaço e
alegrias nos momentos de celebração,
compartilhando amor e felicidade.

iv
AGRADECIMENTOS

A Deus, minha força interior, por me fazer crer além do que eu posso ver,
transformando em possível o impossível aos nossos olhos.

A minha mãe, Ivana de França, ser iluminado de infinito amor, por tantos aprendizados
envolvidos em agraciadas palavras de apoio e incentivo, transformando os aparentes
desafios da vida em verdadeiras lições de fé.

Aos meus familiares, em especial ao meu irmão, Rodrigo França pelo apoio
incondicional, desde sempre, acreditando nas minhas escolhas.

Ao meu amor, André Nazareth, pelo companheirismo e dedicação, e que com a


paciência dos sábios, soube abdicar de preciosos momentos de convivência por
acreditar no nosso bem maior.

Ao meu orientador, prof. Claudio Mahler, pela oportunidade de ingressar no doutorado


com sua orientação, por todo apoio e incentivo durante a realização da pesquisa.

Ao meu orientador, Luciano Basto, pelas idéias sempre inovadoras, pelas inúmeras
contribuições e por toda parceria de anos estudando o tema em questão.

Ao meu orientador, prof. João Bassin, pelo apoio na realização dos experimentos, pelo
conhecimento compartilhado e pela preciosa contribuição na análise dos resultados.

A minha amiga e verdadeira irmã, Fabrícia Silva, por tantos anos de amor manifestado
em amizade, em especial, durante a realização deste trabalho, cuja contribuição foi
imprescindível, fazendo-se presente em força física e intelectual através do laborioso
trabalho diário.

Ao CNPq e à FAPERJ pelo apoio financeiro auxiliando na obtenção de equipamentos,


vidrarias e reagentes essenciais ao desenvolvimento da pesquisa.

A todos do Laboratório de Hidráulica do Instituto Militar de Engenharia (IME), em


especial ao prof. Marcelo Reis, Sgto Marcelo Dias e técnico Carlos pela
disponibilidade e parceria durante o desenvolvimento da pesquisa.

Ao Laboratório de Gases (LAGAS) do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em


especial, à Elba Soares, Felipe e Siller pelos ensinamentos e pela parceria na
realização dos testes iniciais de cromatografia gasosa.

Ao CENPES/Petrobrás pelo fornecimento do glicerol, à CEDAE, em especial à equipe


da ETE da Penha, pelas coletas das amostras de lodo e ao RU Central/UFRJ pelas
coletas das amostras de resíduos orgânicos.

A todos do Laboratório de Tecnologia Ambiental (LTA) da Escola de Química da


UFRJ, em especial, à profª Magali Cammarota, Verônica, Janaína e Eduardo pela
receptividade e pela enorme contribuição durante o período de realização das análises
com o microCG.

A todos alunos e funcionários do Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ e do


Laboratório de Controle de Poluição das Águas (LABPOL) pela convivência diária e
pelas contribuições individuais na área da engenharia civil e da química.

A todos amigos e companheiros de jornada que, de alguma maneira, apoiaram o


desenvolvimento dessa pesquisa e contribuíram para a realização desse trabalho, ao
IVIG e a todos do grupo Eco100, em especial ao Raul Garcia e Andreína Figuera.

v
"Quando dificuldades vencem minhas insistentes e
extenuantes tentativas de vencer; quando oprimido por
avalanches de irremediáveis; quando atacado por forças
incontroláveis; quando um despojamento se tornou
inevitável: alcanço a segurança na PAZ, no ato de
entregar-me a DEUS. Entrego, confio, aceito, agradeço."

Prof.Hermógenes

vi
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

AVALIAÇÃO DA CODIGESTÃO NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS

Ingrid Roberta de França Soares Alves

Junho/2016

Orientadores: Claudio Fernando Mahler


Luciano Basto Oliveira
João Paulo Bassin

Programa: Engenharia Civil

Atualmente ainda é evidente o descaso com o tratamento de resíduos urbanos


– em especial os resíduos orgânicos (RO) - e do lodo de estações de tratamento de
esgoto (LP), através de seu descarte inadequado, que acarreta riscos ao ambiente e à
saúde pública. Nessa pesquisa, avaliou-se a utilização do glicerol bruto oriundo da
produção de biodiesel em codigestão com esses resíduos com o objetivo de aumentar
a produção de biogás e metano e o aproveitamento energético dos efluentes do
saneamento. Foram realizados ensaios do potencial bioquímico de metano (BMP) em
misturas binárias (LP+glicerol e RO+glicerol) e mistura ternária (LP+RO+glicerol). Uma
redução de 54% a 92,7% foi observada na produção específica de metano pela adição
do glicerol ao resíduo orgânico em relação ao experimento controle (apenas RO). Por
outro lado, os experimentos com a mistura binária (LP e glicerol) e ternária (LP, RO e
glicerol) mostraram resultados positivos com relação à produção específica de
metano, que aumentou 70,4% para mistura binária com adição de 1% glicerol em
relação à amostra controle (somente LP). Para a mistura ternária, foram produzidos
485,79 m3biogás/tonSV e 352,20 m3CH4/tonSV, representando aumento de 45,4% em
relação à mistura de LP e RO, e acréscimo de 151,1% em relação à digestão
anaeróbia do LP, sem a ocorrência de interferências na estabilização do processo. Os
resultados demonstraram a viabilidade da codigestão para o tratamento de três
resíduos de elevado potencial poluidor com possibilidade do uso energético do metano
produzido.

vii
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

CODIGESTION EVALUATION THROUGH BIOGAS PRODUCTION

Ingrid Roberta de França Soares Alves

June/2016

Advisors: Claudio Fernando Mahler


Luciano Basto Oliveira
João Paulo Bassin

Department: Civil Engineering

Currently it is still evident the disregard for the treatment of municipal waste -
especially organic waste (OW) - and the sewage sludge (SL) from wsastewater
treatment plant (WWTP), through inappropriate disposal that creates risks to the
environment and public health. In this work, the use of crude glycerol derived from
biodiesel production in codigestion with the municipal wastes was evaluated with the
aim of increasing biogas and methane production and energy recovery from sanitation
effluents. Biochemical methane potential (BMP) tests were performed in binary
mixtures (SL + glycerol and OW + glycerol) and ternary mixture (SL + OW + glycerol).
A reduction of 54% to 92.7% was observed in the specifc methane production upon
addition of glycerol to the OW. On the other hand, the binary mixture with SL and
glycerol and ternary mixture (SL, OW and glycerol) showed positive results with
respect to the specific methane production, which increased 70.4% for mixture binary
with 1% glycerol in relation with the control sample (only SL). For the ternary mixture,
485.79 m3biogas/tonVS and 352.20 m3CH4/tonVS were produced, representing an
increase of 45.4% compared to the mixture of SL and OW and 151.1% compared to
the anaerobic digestion of SL, without interference in the process stabilization. The
results have demonstrated the feasibility of codigestion of three wastes showing high
pollution potential with associate use of the energy derived from methane.

viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... xi
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................xii
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1
1.1 Considerações Gerais .................................................................................... 1
1.2 Justificativa ..................................................................................................... 4
1.3 Objetivos......................................................................................................... 4
1.3.1 Objetivo Geral.......................................................................................... 4
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................... 5
1.4 Estrutura da Tese ........................................................................................... 5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................... 7
2.1 Potencial de Geração de Biogás dos Resíduos .............................................. 7
2.1.1 Fração Orgânica dos Resíduos Urbanos ...................................................... 8
2.1.2 Lodo de Estação de Tratamento de Esgoto ................................................ 14
2.1.3 Glicerol da Produção de Biodiesel .............................................................. 17
2.2 Digestão e Codigestão Anaeróbia de Resíduos ............................................ 26
2.2.1 Digestão Anaeróbia .................................................................................... 26
2.2.2 Codigestão Anaeróbia ........................................................................... 33
2.2.2.1 Misturas Binárias com Glicerol ....................................................... 35
2.2.2.2 Misturas Ternárias com Glicerol ........................................................... 38
3 METODOLOGIA .................................................................................................. 40
3.1 Caracterização dos Substratos ..................................................................... 40
3.2 Procedimentos Experimentais ...................................................................... 41
3.3 Métodos Analíticos ....................................................................................... 44
3.4 Análise de dados .......................................................................................... 45
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 48
4.1 Caracterização dos Substratos ..................................................................... 48
4.2 Mistura Binária com Lodo de ETE e Glicerol ................................................. 56
4.2.1 Caracterização Química.............................................................................. 56
4.2.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano ............................................... 59
4.3 Mistura Binária com Resíduo Orgânico e Glicerol ......................................... 65
4.3.1 Caracterização Química.............................................................................. 65
4.3.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano ............................................... 67
4.4 Mistura Ternária com Lodo de ETE, Resíduo Orgânico e Glicerol ................ 73
4.4.1 Caracterização Química.............................................................................. 73
4.4.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano ............................................... 75

ix
4.5 Estimativa Geral da Produção de Biogás e Metano na Codigestão de Misturas
Binárias e Ternárias ................................................................................................ 81
4.6 Estimativa do Potencial de Oferta Elétrica para Codigestão com Adição de
Glicerol .................................................................................................................... 85
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS .................... 87
5.1 Conclusões ................................................................................................... 87
5.2 Sugestões Para Pesquisas Futuras .............................................................. 88
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 89
ANEXO – Resultados das Análises de Cromatografia Gasosa.............................. 107

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Oferta mundial de energia em 2014. Fonte: Adaptado de MINISTÉRIO DE


MINAS E ENERGIA (2015). .......................................................................................... 7
Figura 2.2. Geração de glicerol no processo de produção de biodiesel. ..................... 18
Figura 2.3. Reações consecutivas de transesterificação de triglicerídeos. R1, R2, R3 e
R representam grupos alquilas. Fonte: RIVALDI et al. (2007). .................................... 19
Figura 2.4. Reação global de transesterificação de triglicerídeos. Fonte: RIVALDI et al.
(2007) ......................................................................................................................... 19
Figura 2.5. Fórmula estrutural do glicerol. ................................................................... 20
Figura 2.6 Representação Esquemática da Decomposição Anaeróbia. Fonte:
Adaptado de CHERNICHARO, 1993 e ALVES, 2008. ................................................ 28
Figura 3.1 Esquema geral das etapas de quarteamento e processamento das
amostras de resíduos utilizados nos ensaios. ............................................................. 40
Figura 3.2. Detalhamento dos volumes de trabalho, inóculo e substratos utilizados nos
experimentos .............................................................................................................. 43
Figura 3.3. Detalhamento do aparato utilizado para coleta do biogás no ensaios BMP.
................................................................................................................................... 44
Figura 4.1. Caracterização gravimétrica dos resíduos orgânicos utilizados como
substrato. .................................................................................................................... 48
Figura 4.2. Comportamento da geração de biogás na codigestão de lodo de ETE e
glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de produção específica
(NmL/gSV.dia-1). ......................................................................................................... 61
Figura 4.3. Comportamento da geração de metano (CH 4) na codigestão de lodo de
ETE e glicerol. (a) Produção específica (NmL CH 4/gSV) e (b) Taxa diária de produção
específica (NmL CH4/gSV.dia-1). ................................................................................. 61
Figura 4.4. Comportamento da geração de biogás na codigestão de resíduo orgânico e
glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de produção específica
(NmL/gSV.dia-1). ......................................................................................................... 69
Figura 4.5. Comportamento da geração de metano (CH 4) na codigestão de resíduos
orgânico e glicerol. (a) (a) Produção específica ano (NmL CH 4/gSV) e (b) Taxa diária
de produção específica (NmL CH4/gSV.dia-1). ............................................................ 69
Figura 4.6. Comportamento da geração de biogás na codigestão de lodo de ETE,
resíduo orgânico e glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de
produção específica (NmL/gSV.dia -1).......................................................................... 77
Figura 4.7. Comportamento da geração de metano (CH 4) na codigestão de lodo de
ETE, resíduo orgânico e glicerol. (a) Produção específica (NmL CH 4/gSV) e (b) Taxa
diária de produção específica (NmL CH4/gSV.dia-1). ................................................... 77
Figura 4.8. Comportamento do teor de metano produzido pela codigestão binária e
ternária ao longo dos experimentos. ........................................................................... 84

xi
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Valores médios de carboidratos, lipídeos e proteínas provenientes de


resíduos orgânicos...................................................................................................... 10
Tabela 2.2. Valores médios de carbono, nitrogênio e fósforo provenientes de resíduos
orgânicos .................................................................................................................... 11
Tabela 2.3 Rendimento de biogás para digestão anaeróbia de resíduos orgânicos. ... 12
Tabela 2.4. Composição típica do lodo bruto e digerido. ............................................. 15
Tabela 2.5. Valores médios de carboidratos, lipídeos e proteínas provenientes de
lodos de ETE. ............................................................................................................. 16
Tabela 2.6. Valores médios de carbono, nitrogênio e fósforo provenientes de lodos de
ETE. ........................................................................................................................... 16
Tabela 2.7. Rendimento de biogás para digestão anaeróbia de lodos de ETE ........... 16
Tabela 2.8. Percentual de pureza e pH no glicerol bruto. ............................................ 21
Tabela 2.9. Análises de macro elementos, carbono e nitrogênio do óleo e glicerol bruto
provenientes da soja. .................................................................................................. 24
Tabela 2.10. Valores médios de demanda química de oxigênio (DQO) e sólidos
voláteis para o glicerol bruto relatados na literatura. ................................................... 25
Tabela 2.11. Valores de carregamento de glicerol bruto em digestores anaeróbios. ... 36
Tabela 2.12. Produção de biogás pela codigestão de misturas binárias com glicerol. 37
Tabela 2.13. Produção de biogás pela codigestão de misturas ternárias com glicerol.39
Tabela 3.1. Detalhamento das etapas, substratos e amostras utilizadas nos ensaios
BMP. ........................................................................................................................... 42
Tabela 3.2 Parâmetros referentes à caracterização química das amostras ................ 45
Tabela 4.1. Percentuais de diferentes componentes presentes em resíduos
alimentares relatados na literatura (% peso seco)....................................................... 50
Tabela 4.2. Composição química de carboidratos, proteínas e lipídeos (%peso). ....... 50
Tabela 4.3. Caracterização química dos resíduos orgânicos do restaurante
universitário utilizados como substrato........................................................................ 51
Tabela 4.4. Caracterização físico-química dos resíduos orgânicos provenientes de
restaurantes citada na literatura. ................................................................................. 52
Tabela 4.5. Caracterização macromolecular e elementar dos resíduos orgânicos
provenientes de restaurantes conforme dados da literatura. ....................................... 53
Tabela 4.6. Caracterização química do lodo primário utilizado como substrato. ......... 54
Tabela 4.7. Caracterização química média para lodo primário relatada na literatura. . 55
Tabela 4.8. Caracterização química do glicerol bruto utilizado nos experimentos. ...... 56
Tabela 4.9. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
binária com lodo de ETE e glicerol. ............................................................................. 57
Tabela 4.10. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura
binária com lodo de ETE e glicerol. ............................................................................. 57
Tabela 4.11. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de lodo de
ETE e glicerol. ............................................................................................................ 60
Tabela 4.12. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de
mistura binária com lodo de ETE e glicerol. ................................................................ 63

xii
Tabela 4.13. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
binária com resíduo orgânico e glicerol. ...................................................................... 66
Tabela 4.14. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura
binária com resíduo orgânico e glicerol. ...................................................................... 66
Tabela 4.15. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de resíduo
orgânico e glicerol. ...................................................................................................... 68
Tabela 4.16. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de
mistura binária com resíduo orgânico e glicerol. ......................................................... 71
Tabela 4.17. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol. ............................................... 74
Tabela 4.18. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura
ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol. ............................................... 74
Tabela 4.19. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de lodo de
ETE, resíduo orgânico e glicerol. ................................................................................ 76
Tabela 4.20. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de
mistura ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol.................................... 79
Tabela 4.21. Produção de biogás e metano para amostras contendo lodo como
substrato ..................................................................................................................... 82
Tabela 4.22. Produção específica de biogás e metano pela adição de glicerol. .......... 83

xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AGV Ácidos Graxos Voláteis


BMP Potencial Bioquímico de Metano
CH4 Gás metano
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
CO2 Gás carbônico
DQO Demanda Química de Oxigênio
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
FORSU. Fração Orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos
GDL Gás do Lixo
H2S Gás sulfídrico
KWh Kilowatt hora
L Litro
L.dia-1 Litro por dia
L/kgSV Litro por kilograma de sólidos voláteis
L/gSV Litro por grama de sólidos voláteis
L/gSVrem Litro por grama de sólidos voláteis removidos
L/gSVad Litro por grama de sólidos voláteis adicionados
m3 Metro cúbico
m3/ t Metro cúbico por tonelada
m3 CH4/ tRSU Metro cúbico de metano por tonelada de resíduo sólido urbano
MJ Mega Joule
Mm3/dia Milhões de metros cúbicos por dia
Mt Bbs/ano Milhões de toneladas de biomassa base seca por ano
NmL Normal mililitros (0°C, 1013 hPa)
Nml/g Normal mililitros por grama (0°C, 1013 hPa)
NmL/g DQO Normal mililitros por grama da demanda química de oxigênio (0°C, 1013 hPa)
NmL/gSV Normal mililitros por grama de sólidos voláteis (0°C, 1013 hPa)
NmL/gSV.dia-1 Normal mililitros por grama de sólidos voláteis por dia (0°C, 1013 hPa)
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
ppm Partes por Milhão
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
ST Sólidos Totais
SV Sólidos Voláteis
t Tonelada
Vol. Máx. Volume máximo

xiv
1. INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Gerais

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), considerada um marco


regulatório para o setor de resíduos no Brasil, contribui para a solução de problemas
ambientais, sociais e econômicos. Na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos, a
PNRS estabelece a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização,
reciclagem, tratamento dos resíduos – preferencialmente, aliado ao uso de tecnologias
visando à recuperação energética – e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos, ou seja, quando demonstrada a inviabilidade para o aproveitamento dos
resíduos (PNRS, 2010).
Segundo dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS), a quantidade de resíduos coletados no Brasil no ano de 2014 foi
de 64,4 milhões toneladas (base úmida) ou cerca de 25,8 milhões de toneladas de
biomassa (base seca1) por ano (Mt Bbs/ano). Desse total, 58,5% ainda possui
destinação inadequada, considerando com destinação adequada os resíduos
depositados em aterros. Conforme composição gravimétrica média dos resíduos
sólidos urbanos (RSU) coletados no Brasil, onde cerca de 50% é de matéria orgânica,
aproximadamente 7,5 Mt Bbs de resíduos orgânicos ainda são destinadas
inadequadamente por ano no país (SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO
AMBIENTAL, 2016a).
Conforme o Inventário Energético de Resíduos Sólidos Urbanos (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2014a), o Brasil apresenta potencial de produção de
biometano através da recuperação do gás do lixo (GDL) em aterro de 1,86 milhões de
metros cúbicos por dia (Mm3/dia), sendo o potencial de oferta do biometano através da
digestão anaeróbia acelerada2 de 4,19 Mm3/dia. Esta última é apenas um pouco
menor que o consumo do setor residencial, comercial e cogeração juntos, que ficou
em 4,3 Mm3/dia.
Ainda no setor de saneamento, os resíduos provenientes de estações de
tratamento de esgotos (ETE), comumente denominados lodos de ETE, também
apresentam dificuldades no seu gerenciamento. Considerando que o tratamento de
esgoto atingiu apenas 40,8% da população urbana em 2014 (SECRETARIA

1
Teor médio de umidade de 60%.
2
A tecnologia de digestão anaeróbia acelerada requer o aproveitamento apenas do lixo orgânico, que
deve ser separado dos demais componentes e processado. Esta solução apresenta como coproduto um
composto orgânico que pode ser utilizado como biofertilizante (EPE, 2014).

1
NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2016b) a produção de lodo no Brasil foi
cerca de 1,11 Mt Bbs/ano, sendo a maioria não tratada.
Paralelo a isso, outra atividade responsável pela geração de quantidade
relativamente elevada de resíduos é a produção de biodiesel, que vem se
desenvolvendo rapidamente em todo mundo. No Brasil, atualmente, são adicionados
7% de biodiesel (B7) ao óleo diesel comercializado a qualquer consumidor, em todo o
território nacional. A Lei nº 613/2015 estabelece alta para 8% (B8) em 2017, teor que
aumentará 1% ao ano até atingir 10% em 2019, e autoriza, ainda, o Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) a elevar a mistura obrigatória para 15%, caso
testes validem a utilização dessa mistura em veículos e motores (MINISTÉRIO DE
MINAS E ENERGIA, 2016).
Para grupos de consumidores específicos, a lei faculta ao CNPE deliberar sobre
a adição voluntária de biodiesel ao óleo diesel em qualquer percentual acima do
obrigatório. É o caso do uso autorizado no transporte público, no transporte ferroviário,
na navegação interior, em equipamentos e veículos destinados à extração mineral e à
geração de energia elétrica, em tratores e demais veículos agrícolas (MINISTÉRIO DE
MINAS E ENERGIA, 2016).
Entre os resíduos resultantes da produção de biodiesel está o glicerol, que
consiste em um composto orgânico que equivale a 10% do total de biodiesel produzido
(HAZIMAH, OOI E SALMIAH, 2003). Sendo assim, o aumento da produção de
biodiesel estimulado pela legislação vigente também acarretará, por consequência,
aumento da quantidade de glicerol disponível no mercado.
Em contrapartida, as aplicações químicas e farmacêuticas tradicionais,
atualmente, são insuficientes para absorver a oferta, considerando que apenas no
Brasil foram produzidos cerca de 594.000 toneladas de glicerol (base úmida) ou
472.000 mil toneladas (base seca)3 no ano de 2015, o que equivale a um aumento de
aproximadamente 47% nos últimos cinco anos (ANP, 2016). Paralelo a isso, o glicerol
destaca-se como um cosubstrato ideal para codigestão de resíduos, devido à sua alta
produção de metano teórica (0.43 m3/CH4 kg), biodegradabilidade (≈100%) e pureza
(MATA-ALVAREZ et al., 2014).
Alternativas de tratamento de lodos de ETE em sua forma bruta, tais como a
codigestão com resíduos urbanos e glicerol em ambientes controlados ou digestores
anaeróbios, visando o aproveitamento energético do biogás – capaz de substituir
vários combustíveis fósseis aplicados em sistemas elétricos, térmicos e de transporte

3 3 3
Considerando a produção de 472.000 m de glicerol em 2015 (ANP, 2016). Massa específica 1,26 t/m e
teor médio umidade de 20%.

2
– poderiam reduzir os custos do tratamento do lodo nas ETEs e também os riscos
ambientais ligados a sua disposição final em aterros.
O princípio básico da codigestão consiste em equilibrar diversos parâmetros
em uma mistura de substratos selecionados. Esse equilíbrio envolve características
qualitativas e quantitativas dos resíduos provenientes de diferentes fontes. O caráter
quantitativo de um componente individual influencia indiretamente na qualidade da
mistura (MONTUSIEWICZ, LEBIOCKA e PAWLOWSKA, 2008).
O lodo de ETE se classifica como o segundo substrato principal para
codigestão anaeróbia, sendo a codigestão de lodo de ETE e da fração orgânica dos
resíduos sólidos urbanos a mais relatada quando comparado com outros cosubstratos,
tais como gorduras, óleos e graxas, frutas e resíduos vegetais, resíduos de
matadouros e resíduos industriais (MATA-ALVAREZ et al., 2014). Vários
pesquisadores têm estudado a codigestão anaeróbia de lodo de esgoto com a fração
orgânica de resíduos sólidos urbanos ou com resíduos agrícolas, observando melhoria
no rendimento da produção de metano (QIAO et al., 2011; ESPOSITO et al., 2012;
CABBAI et al., 2013; LIU, 2013).
Além de rendimentos mais elevados de biogás, devido a efeitos sinérgicos
positivos sobre os microrganismos, a codigestão apresenta outros benefícios, tais
como: diluição de substâncias tóxicas provenientes de qualquer um dos substratos
envolvidos; melhor equilíbrio de nutrientes; redução da deficiência de micro e
macronutrientes; melhor estabilidade do processo; aumento do conteúdo de umidade
exigido pelo digestor (MATA-ALVAREZ, MACÉ e LLABRÉS, 2000; MONTUSIEWICZ e
LEBIOCKA, 2011).
Aliado a isso, a codigestão também pode proporcionar aumento no rendimento
de metano, em especial com uso do glicerol como cosubstrato, com valores médios de
metano de 310 a 390 mL/gDQO-1 e de 700 a 920 mL/gSV-1, representando aumentos
de 50 a 280% na produção específica de gás quando comparado à digestão anaeróbia
do lodo (ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS, 2014; BABA et al., 2013;
FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS, 2010; NARTKER et al., 2014; RAZAVIARANI
e BUCHANAN, 2015; SILES et al., 2010).
Entretanto, poucos trabalhos estudaram a codigestão de três substratos ao
mesmo tempo (mistura ternária) incluindo o glicerol, nos quais foram relatadas
misturas ternárias contendo fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos com esterco
suíno e silagem de milho, e de esterco suíno com resíduos de peixe, e apresentaram
aumentos na produção específica de metano de 19,3% quando comparados com a
mistura binária do esterco e silagem de milho, sem adição de glicerol, e de até 64,8%

3
quando comparado à digestão anaeróbia do esterco suíno (ALVAREZ, OTERO e
LEMA, 2010; AMON et al., 2006).
Os estudos sobre misturas ternárias contendo glicerol como cosubstrato
mostraram valores significativos de produção de metano. Em contrapartida, não há
relatos da utilização do glicerol em mistura ternária contendo resíduo orgânico e lodo
de estação de tratamento de esgoto como cosubstratos. A utilização dessa mistura
para intensificar a produção de biogás e diminuir o tempo de residência se apresenta
como uma alternativa inovadora e promissora para o tratamento, simultâneo, de três
resíduos de elevados potenciais poluidores, aliada à possibilidade de aproveitamento
energético do metano produzido.

1.2 Justificativa

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) aborda questões que


influenciam no desenvolvimento de oportunidades para a implantação de novas
técnicas de tratamento de resíduos. No setor de saneamento, ainda é evidente o
descaso com o tratamento de resíduos urbanos – em especial a matéria orgânica - e
do lodo de ETE (resíduo do tratamento de esgotos) através do descarte inadequado
que gera riscos ao ambiente e à saúde pública. Paralelo a isso, a busca por fontes
alternativas de energia, tais como a utilização de biocombustíveis, também tem como
consequência o aumento dos resíduos provenientes de seus processos produtivos,
como é o caso do glicerol oriundo da produção de biodiesel. A utilização do glicerol em
codigestão com lodo de ETE e/ou fração orgânica do lixo para aumento da produção
de biogás parece ser uma alternativa promissora no aproveitamento energético dos
efluentes do saneamento. Com isto, são mitigadas emissões de metano provenientes
da decomposição destes resíduos e, em virtude de seu aproveitamento energético, há
maior possibilidade de viabilizar financeiramente o empreendimento.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a codigestão de lodo de ETE,


resíduo orgânico e glicerol através da análise da produção de biogás e metano em
diferentes misturas binárias e ternárias.

4
1.3.2 Objetivos específicos

- Analisar a influência do glicerol como cosubstrato em misturas binárias e ternárias


através da codigestão com lodo de ETE e resíduo orgânico;
- Avaliar o efeito da adição de glicerol no tempo de estabilização das misturas através
da caracterização físico-química das amostras no início e no final dos experimentos;
- Avaliar a produção de biogás e de metano (CH4) nas misturas binárias e ternárias,
através do monitoramento do volume acumulado (NmL) e da taxa de geração diária
(NmL/dia), bem como da produção específica (NmL/gSV) e da taxa diária de produção
específica (NmL/gSV.dia-1) dos respectivos gases;
- Estimar o potencial de oferta elétrica para o setor residencial com a codigestão de
lodo de ETE, resíduos orgânicos e glicerol, utilizando o potencial de produção metano
da mistura considerada como maior relação de benefícios, além de indicar alternativas
de comercialização do gás produzido.

1.4 Estrutura da Tese

A presente Tese está divida em 5 capítulos. O Capítulo 1 aborda aspectos


gerais sobre o potencial de produção de biogás a partir de resíduos diversos, com
ênfase para a fração orgânica dos resíduos urbanos, lodo e glicerol. Os benefícios da
codigestão dos resíduos, a justificativa para a realização do trabalho e os objetivos
gerais e específicos do estudo estão também descritos nesse referido capítulo.
O Capítulo 2 consiste na Revisão Bibliográfica, onde são abordados a
definição, a geração, a caracterização de resíduos, incluindo fatores intervenientes no
processo de digestão anaeróbia e geração de biogás e o atual potencial energético
dos resíduos no Brasil. Além disso, o capítulo também apresenta algumas formas de
tratamento de resíduos, destacando a codigestão anaeróbia, bem como experimentos
para avaliar qualitativamente e quantitativamente o biogás produzido, a exemplo do
ensaio do potencial bioquímico de metano (Ensaio BMP).
O Capítulo 3 trata da Metodologia empregada na Tese e faz uma descrição
detalhada da caracterização dos substratos, etapas dos procedimentos experimentais
para os ensaios de mistura binária e ternária, bem como os métodos analíticos e de
análise de dados utilizados no desenvolvimento da pesquisa.
No Capítulo 4 os resultados obtidos ao longo dessa pesquisa serão
apresentados e discutidos Neste capítulo é abordada inicialmente a análise da
caracterização química inicial e final para os ensaios com mistura binária e ternária.

5
Em seguida, é apresentada a estimativa geral da produção de biogás e metano
analisando-se, de maneira geral, como as variáveis estudadas influenciaram a
produção específica dos gases através da codigestão de resíduos orgânicos, lodo e
glicerol e o balanço energético em digestores com base na utilização da mistura que
obteve resultado mais significativo.
Ao final da Tese, no Capítulo 5, são apresentadas as conclusões do trabalho,
formuladas com base na discussão dos resultados obtidos, indicando, também,
sugestões para futuras pesquisas.

6
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Potencial de Geração de Biogás dos Resíduos

A busca por fontes energéticas alternativas vem se intensificando em todo o


mundo, em decorrência dos impactos negativos acarretados ao meio ambiente e à
população pelas atuais formas de energia. Diversas são as fontes de energia
renováveis que podem diversificar ou incrementar a matriz energética atualmente
existente, como, por exemplo, a eólica, a biomassa (incluindo a oriunda do biogás), a
solar e a oceânica.
A mudança de postura do ponto de vista de energia, que visava principalmente à
sustentabilidade econômica, teve como principais determinantes a necessidade ou o
interesse estratégico de reduzir o uso de derivados do petróleo, promovendo a
substituição por outras matérias-primas e, consequentemente, a dependência
energética dos países em relação aos países exportadores de petróleo.
Além disso, a redução no consumo de derivados de petróleo está relacionada,
por um lado, à ameaça de escassez, à instabilidade de preços e à sua distribuição
desuniforme; por outro lado, à necessidade de diminuir o atual processo de mudanças
climáticas causadas pela atividade antrópica, especialmente pelas emissões de CO 2 e
CH4, gases promotores do efeito estufa (GALEMBECK, et al. 2008).
Segundo informações da Agência Internacional de Energia (IEA), dentro de
aproximadamente 20 anos cerca de 30% do consumo total de energia será a partir de
fontes renováveis (CIENBIO, 2013). De acordo dados da Resenha Energética
Brasileira referente ao ano de 2014 (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2015) as
energias renováveis representam cerca de 14% da matriz mundial, sendo a
participação da biomassa total em aproximadamente 10% (Figura 2.1).

Figura 2.1 Oferta mundial de energia em 2014. Fonte: Adaptado de MINISTÉRIO DE


MINAS E ENERGIA (2015).
7
O Brasil, como grande produtor rural, gera expressiva quantidade de biomassa
residual nos processos resultantes da colheita e processamento de produtos
agropecuários (cana, milho, arroz, algodão, madeira, carnes) e também nos resíduos
urbanos. Segundo aponta o Balanço Energético Nacional (EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA, 2015) referente ao ano de 2014, as fontes renováveis representam
74,6% da oferta interna de eletricidade no Brasil, que é a resultante da soma dos
montantes referentes à produção nacional mais as importações, essencialmente de
origem renovável. A geração hidráulica responde por 65,2% da oferta interna, seguida
do gás natural (13,5%) e da biomassa (7,3%), que inclui lenha, bagaço de cana
(através do etanol anidro e hidratado, para fins de transporte, e pela utilização do
bagaço para geração elétrica), lixívia e outras recuperações.
A biomassa hoje é vista por muitos especialistas como uma das alternativas
mais promissoras para o futuro energético sustentável. Isso se deve à maior
compreensão dos ciclos naturais da terra e dos impactos causados por combustíveis
fósseis. Hoje se sabe, com base em análises das tecnologias das fontes energéticas
alternativas renováveis, que somente a biomassa, utilizada em processos modernos
com elevada eficiência tecnológica, possui a flexibilidade de suprir energeticamente
tanto a produção de energia elétrica quanto o setor de transportes (HENRIQUES,
2009).
Ainda que os combustíveis líquidos venham sendo obtidos a partir de insumos
novos, a principal fonte para gerar energia da biomassa está nos resíduos, tanto por
representar baixo investimento em obtenção de combustível quanto por contar com
grande disponibilidade – ainda que requeiram uma adequada exploração (CORTEZ,
2008).
O Inventário Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2014a) identificou o potencial de geração de biometano
com os resíduos rurais de 90 Mm³/d, equivalente ao consumo nacional de gás natural
ou à importação de combustíveis fósseis para uso veicular. No tocante à
competitividade (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2014b), os custos de
produção obtidos somente justificam a aplicação veicular e a geração elétrica para
atendimento direto do consumidor final.

2.1.1 Fração Orgânica dos Resíduos Urbanos

Segundo dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações sobre


Saneamento - SNIS, a quantidade de resíduos coletados no Brasil no ano de 2014 foi

8
de 64,4 milhões toneladas, sendo 58,5% desse valor ainda com destinação
inadequada.
Considerando que, na composição gravimétrica média dos RSU coletados no
Brasil, cerca de 50% é de matéria orgânica, sua elevada biodegradabilidade vem se
tornando uma fonte de preocupação em aterros municipais, uma vez que produz
chorume e gases cuja dispersão causa variações estruturais no solo e poluição
ambiental. Os resíduos alimentares são resíduos orgânicos descarregados a partir de
várias fontes, incluindo plantas de processamento de alimentos e cozinhas comerciais
e domésticas, lanchonetes e restaurantes (BOUALLAGUI et al., 2005; KHALID et al.,
2011; KIRAN et al., 2014).
Há casos onde resíduos alimentares são incinerados com outros resíduos
municipais para geração de calor ou energia. Deve ser entendido que esses resíduos
contêm elevado nível de umidade, o que requer sua combustão em conjunto com
outros resíduos de baixa umidade e alto poder calorífico. Todavia, o cloro presente no
sal de cozinha e em outros produtos (PVC e organoclorados) é convertido em dioxina,
substância cancerígena, neste processo. Além disso, a incineração pode
potencialmente causar poluição do ar e perda de valores químicos dos resíduos
(KIRAN et al., 2014)
Por outro lado, a fração orgânica dos resíduos sólidos tem sido reconhecida
como um valioso recurso que pode ser convertido em produtos úteis por meio de
transformações mediadas por microrganismos. Existem vários métodos disponíveis
para o tratamento de resíduos orgânicos, embora a digestão anaeróbia pareça ser
uma abordagem mais promissora (LEE et al., 2009; YU e HUANG, 2009; LESTEUR et
al., 2010; KHALID et al., 2011).
A composição do biogás proveniente da decomposição de resíduos orgânicos
corresponde, em geral, a 55-70% de metano (CH4), 30-45% de dióxido de carbono
(CO2), e 2-4 ppm de sulfeto de hidrogênio (H2S) (VERMA, 2002; BRANCOLI, 2014).
Conforme ERSAHIN et al. (2011), 1 m3 de CH4 equivale a 1,43 KWh e o metano puro,
em condições normais de temperatura (0°C) e pressão (1 atm), possui poder calorífico
de 9,9 kWh/m3.
Segundo ROMERO-GÜIZA et al. (2016), a digestão anaeróbia é uma tecnologia
difundida para o tratamento de resíduos orgânicos, cuja implementação tem
aumentado ao longo dos últimos anos. Concepção dos digestores, funcionamento e
desempenho, bem como desvantagens do processo estão relacionados com a
natureza/origem do resíduo orgânico, que podem ser agrupadas em cinco categorias
diferentes: (I) lodos de esgoto; (II) esterco animal; (III) resíduos alimentares industriais,

9
incluindo resíduos de abatedouros; (IV) resíduos de colheita e culturas energéticas,
incluindo algas; e (V ) fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (FORSU).
O tratamento anaeróbio de resíduos orgânicos sólidos não é tão difundido como
o processo aeróbio, principalmente devido ao maior tempo necessário para atingir a
bioestabilização (FERNÁNDEZ, PÉREZ e ROMERO, 2010). O processo também é
sensível a níveis elevados de amônia livre resultante da degradação anaeróbia do
nitogênio proveniente dos componentes ricos em proteínas (FOUNTOULAKIS e
MANIOS, 2009). A diminuição da atividade específica de arqueas metanogênicas tem
sido relacionada com o aumento das concentrações de amônia (CHEN, CHENG e
CREAMER, 2008; KHALID et al., 2011).
Os resíduos alimentares são compostos principalmente de polímeros de
carboidratos (amido, celulose e hemicelulose), lignina, proteínas, lipídeos, ácidos
orgânicos, e uma menor parcela inorgânica restante (KIRAN et al., 2014). Segundo os
autores, a hidrólise de carboidratos em resíduos alimentares pode resultar na quebra
de ligações glicosídicas com liberação de polissacarídeos em monossacarídeos e
oligossacarídeos, que são mais propícios à fermentação. Dessa forma, resíduos
alimentares têm sido utilizados isoladamente como matéria-prima microbiana para o
desenvolvimento de vários tipos de bioprodutos de valor agregado, incluindo metano,
hidrogênio, etanol, enzimas, ácidos orgânicos, biopolímeros e bioplásticos (RAO e
SINGH, 2004; SHIN et al., 2008).
As Tabela 2.1 e Tabela 2.2 apresentam, respectivamente, valores médios da
composição macromolecular e elementar dos resíduos orgânicos, incluindo
alimentares, de restaurantes, domiciliares e frutas e vegetais citados pela literatura.

Tabela 2.1. Valores médios de carboidratos, lipídeos e proteínas provenientes de


resíduos orgânicos
Carboidratos Proteínas Lipídeos
Resíduos a a a Referência
(%) (%) (%)
Resíduos de
35,2b 12,9 15,2 QIAO et al.
Frutas e Vegetais
(2012)
Resíduos b
20,2 29,9 17,3
Alimentares
Resíduos
35,04 14,6 6,09
domiciliares
CABBAI et
Resíduos de
47,5 20,5 18,7 al. (2013)
restaurante
Resíduos de
34 13,9 5,9
Frutas e Vegetais
Resíduos KIRAN et
35,5 – 69 6,4 – 24,1 4,4 – 21,8
alimentares al. (2014)
a
%g/g sólidos voláteis (SV); b teor de fibras.

10
Tabela 2.2. Valores médios de carbono, nitrogênio e fósforo provenientes de resíduos
orgânicos
Resíduos C (%)* N (%)* P (%)* Referência
SIDDIQUI,
Resíduos orgânicos 57,5 3,3 n.i* HORAN e
KOFI (2011)
Resíduos de Frutas
13,4 1,7 0,3 QIAO et al.
e Vegetais
(2012)
Resíduos
45,7 1,4 0,7
Alimentares
Resíduos
37,6 2,75 n.i*
domiciliares
CABBAI et al.
Resíduos de
49,2 3,25 n.i* (2013)
restaurante
Resíduos de Frutas
39,5 2,4 n.i*
e Vegetais
Resíduos de Frutas DI MARIA et al.
48,2 1,31 6,20
e Vegetais (2014)
* %de sólidos totais (ST). n.i. = não informado.

O potencial de geração de biogás e teor de metano dos resíduos está


diretamente ligado à sua composição macromolecular e elementar. Uma forma de
availiar o potencial dos resíduos é atraves da utilização do ensaio do potencial
bioquímico de metano (ensaio BMP). Nos últimos anos, o interesse pelo ensaio BMP
aumentou, como mostra a grande variedade de trabalhos de pesquisa relacionadas ao
ensaio, sua metodologia e aplicação (HANSEN et al., 2004; ALVES et al., 2008;
ANGELIDAKI et al., 2009; RAPOSO et al., 2011; ELBESHBISHY, NAKHLA e HAFEZ,
2012).
O ensaio de BMP é mais adequado quando utilizado para elucidar quais os tipos
de substratos, a partir de uma variedade de substratos potenciais, têm o maior
potencial de biometano. Além disso, quando destinados à codigestão, os ensaios BMP
podem ser usados para estimar as ótimas razões entre os cosubstratos. Por último, os
resultados do ensaio BMP podem ser usados para determinar o grau de
biodegradabilidade anaeróbia de substratos, e, assim, os tempos de residência
requeridos para digestão completa (LABATUT, ANGENENT e SCOTT, 2011;
ELBESHBISHY, NAKHLA e HAFEZ, 2012).
Através de ensaios BMP, WALKER et al. (2009) encontraram o potencial de
geração de metano de 200 litros por kilograma de sólidos voláteis (L/KgSV) para
resíduos municipais, que corroboram com o valor estimado de 200m3 CH4/t RSU
relatado por ERSAHIN et al. (2011). Por outro lado, a literatura também relata que o

11
valor pode variar entre 200 e 400m3/t (MACIEL, 2003; HENRIQUES, 2009) tendo
VOGT et al. (2002) apresentado valores de 360 L/kgSV e 530 L/kgSV.
O potencial de geração de metano para resíduos orgânicos tende a ser maior do
que o valor médio de 200 m3/t RSU, uma vez que este podem conter compostos
inorgânicos (plásticos, vidros, metais, etc) misturados à matéria orgânica, dificultando
o acesso de nutrientes aos microrganismos, o que reflete na diminuição do potencial
de geração de biogás da digestão anaeróbia.
A variedade na composição macromolecular e elementar de diferentes tipologias
de resíduos orgânicos, conforme apresentado nas Tabela 2.1 e Tabela 2.2, refletem
na ampla faixa de valores de rendimento de metano, reportada por diversos trabalhos,
entre 234 e 645 L CH4/KgSV. A Tabela 2.3 sumariza a média de valores de
rendimento de metano para diferentes tipos de resíduos orgânicos.

Tabela 2.3 Rendimento de biogás para digestão anaeróbia de resíduos orgânicos.

CH4
Substrato Referência
(L/kgSV*)
BOUALLAGUI et al.
420
(2005)
Resíduos de frutas e vegetais 338 e 363 CABBAI et al. (2013)
JIANG, HEAVEN e
352
BANKS (2012)
350 FERRER et al. (2011)
365 CABBAI et al. (2013)
Resíduos domiciliares
ZHANG, BANKS e
456
HEAVEN (2012)
ZHANG, LEE e JAHNG
396
(2011)
FORSTER-CARNEIRO
Resíduos alimentares 440
et al. (2007)
410 ZHANG et al. (2014a)
399 MOON e SONG (2011)
675 CABBAI et al. (2013)
Resíduos de restaurantes 430 LEE et al. (2009)
390 NEVES et al. (2008)
Resíduos de cantinas 571 e 645 CABBAI et al. (2013)
Resíduos de padaria 476 CABBAI et al. (2013)
Resíduos de supermercados 234 CABBAI et al. (2013)
*SV = sólidos voláteis.

12
O elevado potencial de geração de biogás possibilita a viabilidade de utilização
desses resíduos para aproveitamento energético. Dados apresentados por KIRAN et
al. (2014), apontam que na Europa os resíduos alimentares estão obtendo maior valor
em aplicações como combustível ($200-400/tonelada de biomassa) em comparação
com o seu uso para a geração de energia elétrica ($60-150/tonelada de biomassa) e
alimentos para animais ($70-200/tonelada de biomassa). Isto é explicável pela relação
entre os preços dos energéticos substituídos e os alimentos.
Devido à inerente complexidade química, resíduos alimentares também podem
ser utilizados para a produção de materiais de alto valor, tais como ácidos orgânicos,
plásticos biodegradáveis e enzimas ($ 1000/tonelada de biomassa). No entanto, deve-
se notar que a procura do mercado para esses produtos químicos é muito menor do
que para os biocombustíveis (TUCK et al., 2012).
Conforme o Inventário Energético de Resíduos Sólidos Urbanos (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2014a) o Brasil apresenta potencial de produção de
biometano através da recuperação do gás do lixo (GDL) em aterro de 1,86 Mm3/dia,
sendo o potencial de oferta do biometano através da digestão anaeróbia acelerada de
4,19 Mm3/dia. Esta última é apenas um pouco menor que o consumo do setor
residencial, comercial e cogeração juntos, que ficou em 4,3 Mm3/dia.
No Brasil, o incentivo à utilização de novas tecnologias para tratamento de
resíduos ocorreu pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece o
fechamento de lixões no país e que somente os rejeitos (resíduos para os quais não
haja viabilidade técnica, ambiental e econômica para aproveitamento) poderão ser
dispostos em aterros sanitários – cujos custos são superiores aos dos lixões, além do
custo de transporte também ser maior e crescente. Com isto, as tecnologias de
aproveitamento energético de lixo voltam a ser avaliadas e, em função da alta
concentração de material orgânico, a alternativa de produção de biogás ganha maior
importância (ALVES, OLIVEIRA e MAHLER, 2012).
Ao buscar uma melhor qualidade no tratamento dos resíduos, estimular a
segregação e a correta destinação, priorizar a reciclagem de embalagens e gerar
condições favoráveis para a criação de consórcios intermunicipais, a PNRS aborda
questões de cunho sustentável ao processo de resíduos e influencia diretamente o
desenvolvimento de oportunidades para a implantação de novas técnicas de
tratamento.
O uso de formas de tratamento que também visem o aproveitamento energético
dos resíduos, levando em conta seu potencial de geração de biogás, podem se
apresentar como alternativas promissoras do ponto de vista ambiental e econômico,
como é o caso da digestão anaeróbia em biodigestores. Os resíduos do digestor -

13
quando constatada a inexistência de substâncias tóxicas - podem ser utilizados como
fertilizante ao final do processo, ou ainda, caso haja necessidade de dispor os resíduos
ao final do tratamento, há uma grande vantagem com a redução no volume de resíduos
quando comparado à quantidade inicial. O biogás possibilita diversas aplicações, tais
como cocção de alimentos, geração de energia em lampiões, geladeiras, chocadeiras,
fornos industriais, geração de energia elétrica e combustível veicular.

2.1.2 Lodo de Estação de Tratamento de Esgoto

Em uma típica estação de tratamento de águas residuárias uma significativa


quantidade de material sólido é coletado do assentamento (tratamento primário) e do
processo de lodos ativados (tratamento secundário). Estes são chamados
coletivamente de lodo de esgoto e devem ser tratados antes da sua disposição final,
para garantir a proteção do ambiente (RAMAKRISHNA e VIRARAGHAVAN, 2005).
Os lodos de ETE, também apresentam dificuldades no seu gerenciamento.
Considerando que o tratamento de esgoto atingiu apenas 40,8% da população urbana
em 2014 (MINISTÉRIO DAS CIDADES. SECRETARIA NACIONAL DE
SANEAMENTO AMBIENTAL – SNSA, 2016b) a produção de lodo no Brasil chegou a
cerca de 1,11 Mt Bbs/ano, sendo a maioria não tratada.
O gerenciamento dos lodos (adensamento, estabilização, condicionamento,
desidratação e disposição final) pode ser responsável por até 60% do custo total
associado com o tratamento de águas residuárias municipais. Como resultado, um
esforço significativo tem sido dedicado para minimizar a produção de lodos e
aperfeiçoar seu tratamento (WANG et al., 2008; BRISOLARA e QI, 2011; NGHIEM et
al., 2014; SEMBLANTE et al., 2014).
Entre as diversas opções disponíveis atualmente, a digestão anaeróbia é
provavelmente a tecnologia mais amplamente utilizada. Complementarmente,
crescente preocupação com a segurança energética, impactos ambientais e aumento
do custo de energia para o tratamento de águas residuárias têm restabelecido o
processo de digestão anaeróbia como uma das principais tecnologias de produção de
energias renováveis para o centro dos holofotes científicos (KHANAL et al., 2008;
IACOVIDOU, OHANDJA e VOULVOULIS, 2012).
Em particular, o uso da digestão anaeróbia para codigerir lodo de ETE com
outros resíduos orgânicos para melhorar tanto a produção de biogás como a qualidade
do biossólido tratado, foi proposto e implementado em várias estações de tratamento
de águas residuárias em todo o mundo (RATANATAMSKUL et al., 2011; CABBAI et

14
al., 2013; WANG et al., 2013; ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS, 2014;
NGHIEM et al., 2014). A digestão anaeróbia pode ser empregada em plantas de
tratamento já existentes, sem investimento de capital significativo.
Na maior parte das etapas do seu manuseio, o lodo de ETE é constituído de
mais de 95% de água, com uma concentração de sólidos da ordem de 0,25 a 12% do
lodo, em peso. Apenas por convenção, o lodo é designado por fase sólida, visando
distingui-lo do fluxo do líquido que está sendo tratado (METCALF e EDDY, 1991)
Segundo RAPOSO et al. (2011), o lodo primário é mais rico em lipídeos do que o
lodo secundário e este, por sua vez, possui mais nitrogênio. Durante o processo de
digestão, o lodo perde cerca de 2/3 de matéria orgânica. Após a digestão, os sólidos
presentes no lodo são constituídos por 45% de matéria orgânica e 55% de substâncias
minerais (BATISTA, 2015). A composição típica dos lodos primário e digerido é
mostrada na Tabela 2.4.

Tabela 2.4. Composição típica do lodo bruto e digerido.


Parâmetro Lodo Primário Lodo Digerido
Faixa Típico Faixa Típico
pH 5,0 – 8,0 6,0 6,5 – 7,5 7,0
Alcalinidade (mg/L em 500 -1500 600 2500 - 3000 3000
Ácidos
CaCO3)orgânicos (mg/L em 200 - 2000 500 100 - 600 200
Sólidos totais (ST)
Hac) 2-8 5 6 - 12 10
Sólidos voláteis (%ST) 60 – 80 65 30 – 60 40
Graxas e gorduras 6 - 30 - 5 - 20 18
Proteínas
solúveis em(%ST)
éter (%ST) 20 - 30 25 15 - 20 18
Nitrogênio (N, %ST) 1,5 – 4,0 2,5 1,6 – 6,0 3,0
Fósforo (P2O5, %ST) 0,8 - 2,8 1,6 1,5 – 4,0 2,5
Potássio (K2O, %ST) 0,0 – 1,0 0,4 0,0 – 3,0 1,0
Celulose (%ST) 8 - 15 10 8 - 15 10
Ferro* 2,0 – 4,0 2,5 3,0 – 8,0 4,0
Sílica (SiO2,%ST) 15 - 20 - 10 - 20 -
*exceto na forma de sulfeto

Fonte: Adaptado de BATISTA (2015).

A respeito dos valores médios citados por diferentes autores da composição


macromolecular dos lodos de ETE, observa-se que a média, considerando os valores
minimos e máximos, é em torno de 20%, 27% e 11% para carboidratos, proteínas e
lipídeos, respectivamente (Tabela 2.5).
Analisando a composição elementar, têm-se valores médios de 29% 3,4% e
3,6%, respectivamente, para carbono (C), nitrogênio (N) e fósforo (P), e a relação C/N
de cerca de 8,5 (Tabela 2.6).

15
Tabela 2.5. Valores médios de carboidratos, lipídeos e proteínas provenientes de
lodos de ETE.
Carboidratos Proteínas Lipídeos
Lodo a a a Referência
(%) (%) (%)
b
primário+ativado 21,5 14,4 20,0 QIAO et al. (2011)
primário+ativado 10,62 33,78 11,42 CABBAI et al. (2013)
ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL
primário+ativado 21,19 - 35,58 25,91 - 38,93 9,17 - 16,45
e MATA-ALVAREZ (2013)
ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL
digerido 29,7 24,65 2,52
e MATA-ALVAREZ (2013)
a b
% g/g sólidos voláteis (SV); teor de fibras

Tabela 2.6. Valores médios de carbono, nitrogênio e fósforo provenientes de lodos de


ETE.
C N P
Lodo C/N Referência
(%)* (%)* (%)*
primário 36,7 3,2 n.i 11,5 SIDDIQUI, HORAN e KOFI
(2011)
ativado 37,6 6,9 n.i 5,4 SIDDIQUI, HORAN e KOFI
(2011)
primário+ativado 37,7 3,56 n.i 10,6 CABBAI et al. (2013)

primário 19,7 3,66 3,60 5,4 DI MARIA et al. (2014)


* % de sólidos totais (ST). n.i= não informado

O potencial de geração de biogás e teor de metano dos lodos também está


diretamente ligado à sua composição macromolecular e elementar. O valor estimado
do potencial de geração de metano dos lodos de ETE está entre 188 a 214 NmL CH4/g
DQO, conforme levantamento realizado por ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-
ALVAREZ (2013), que analisaram a composição típica de amostras de sete lodos
coletados em diferentes estações de tratamento de esgoto. FONOLL et al. (2015)
analisaram o potencial de geração de biogás de lodo primário e ativado e encontraram
valores de 250 a 280 NmL CH4/gSV (Tabela 2.7).

Tabela 2.7. Rendimento de biogás para digestão anaeróbia de lodos de ETE

Rendimento de
Lodo Referência
CH4
ASTALS, NOLLA-
188 a 214 NmL
primário+ativado ARDÈVOL e MATA-
CH4/g DQOinicial
ALVAREZ (2013)
250 a 280 NmL
primário+ativado FONOLL et al. (2015)
CH4/gSV
*SV = sólidos voláteis.

16
O potencial de geração de biogás relatado anteriormente possibilita e torna
viável a utilização desses resíduos para aproveitamento energético. Alternativas de
tratamento de lodos de ETE em sua forma bruta, tais como a codigestão com resíduos
urbanos em ambientes controlados ou digestores anaeróbios, visando o
aproveitamento energético do biogás – capaz de substituir vários combustíveis fósseis
aplicados em sistemas elétricos, térmicos e de transporte – poderiam aumentar o
potencial de geração de biogás desses resíduos para geração de energia, reduzir os
custos do tratamento do lodo nas ETEs e também os riscos ambientais ligados a sua
disposição final em aterros.

2.1.3 Glicerol da Produção de Biodiesel

A produção de biodiesel vem se desenvolvendo rapidamente em todo mundo,


gerando uma quantidade relativamente grande de resíduos. O principal subproduto
orgânico da produção de biodiesel é o glicerol (100 kg de biodiesel rende
aproximadamente 10 kg de glicerol impuro, ou seja, cerca de 10 % do volume total
produzido) contendo 55 a 90% de pureza (ÁNGEL et al., 2009; NARTKER et al., 2014;
NGHIEM et al., 2014).
As aplicações químicas e farmacêuticas tradicionais hoje são insuficientes para
absorver a oferta de 472.000 m3 de glicerol geradas no ano de 2015, o que equivale a
um aumento de aproximadamente 47% nos últimos cinco anos (ANP, 2016). Paralelo
a isso, o glicerol destaca-se como um cosubstrato ideal para codigestão de resíduos,
devido à sua alta produção de metano teórica (0.43 m3 CH4 kg-1) e biodegradabilidade
(≈100%) (ASTALS, ARISO e GALÍ, 2011; MATA-ALVAREZ et al., 2014).
O glicerol é o nome comum do composto orgânico 1,2,3-propanotriol, descoberto
por Carl Scheele em 1779 durante a separação de uma mistura aquecida de PbO
preparada com óleo de oliva. Os seus sinônimos são glicerina, trihidroxipropano, glicil
álcool, gliceril e 1,2,3-trihidroxipropano (RIVALDI et al., 2007).
Na natureza, o glicerol existe em vegetais e animais em formas combinadas de
glicerina com ácidos graxos. Dentro do sistema metabólico de microrganismos, atua
como regulador de vários mecanismos bioquímicos intracelulares (LAGES, SILVA-
GRAÇA e LUCAS, 1999).
O glicerol constitui o maior subproduto gerado no processo de produção de
biodiesel via transesterificação de óleos vegetais ou gordura animal (triglicerídeos)
com álcool (metanol ou etanol), o qual gera ésteres e glicerol na presença de
catalisador. Embora em menor proporção, glicerol também pode ser obtido por meio

17
de síntese microbiana. A composição do glicerol bruto varia, dependendo da origem
da matéria prima e do processo de produção de biodiesel. A maioria dos excessos de
álcool (acima de 80%) se acumulará no glicerol, sendo o álcool recuperado para fins
de reuso (THOMPSON e HE, 2006).
O glicerol é gerado como um subproduto não apenas quando o biodiesel é
produzido quimicamente (Figura 2.2), mas também quando é manufaturado
enzimaticamente, bem como durante a produção de bioetanol (VICENTE et al., 2004;
YAZDANI e GONZALEZ, 2007).

Figura 2.2. Geração de glicerol no processo de produção de biodiesel.


Fonte: TN Sustentável (2013).

Conforme RIVALDI et al. (2007b), a reação de transesterificação é consequência


de um número de reações reversíveis e consecutivas (Figura 2.3). A primeira consiste
na conversão de triglicerídeos em diglicerídeos, seguida da conversão desses
diglicerídeos em monoglicerídeos, e finalmente de glicerídeos a glicerol, rendendo
uma molécula de éster de álcool para cada glicerídeo em cada etapa da reação
(Figura 2.4).

18
Figura 2.3. Reações consecutivas de transesterificação de triglicerídeos. R1, R2, R3
e R representam grupos alquilas. Fonte: RIVALDI et al. (2007).

Figura 2.4. Reação global de transesterificação de triglicerídeos. Fonte: RIVALDI et


al. (2007)

No final da etapa de transesterificação, o glicerol e ésteres formam uma massa


líquida de duas fases que são facilmente separáveis por decantação ou centrifugação.
A fase superior, mais leve ou menos densa, contém os ésteres metílicos ou etílicos
constituintes do biodiesel. A fase inferior ou pesada é composta de glicerol bruto e
impurezas.
As propriedades físicas do glicerol podem ser entendidas a partir da sua
estrutura molecular que permite uma série de ligações de hidrogênio: uma molécula de
água pode realizar até três ligações de hidrogênio, enquanto uma molécula de glicerol
pode realizar até seis dessas ligações. Além disso, a presença de um grupo OH ligado
a cada um dos três átomos de carbono faz do glicerol um potencial candidato para
uma grande variedade de reações químicas (FONTES e ALÇADA, 2010). A Figura 2.5
ilustra a estrutura molecular do glicerol.

19
Figura 2.5. Fórmula estrutural do glicerol.
Fonte: AGÊNCIA EMBRAPA DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA (2013).

O termo glicerol aplica-se geralmente ao composto puro, enquanto o termo


glicerina aplica-se aos produtos comerciais que contenham 95%, ou mais, de glicerol
na sua composição. A glicerina pode ser vendida na sua forma bruta, sem qualquer
purificação, ou purificada. O termo glicerina loira refere-se à amostra que foi
parcialmente tratada para remoção de impurezas. A glicerina purificada é classificada
em glicerina técnica ou farmacêutica (99,5% de glicerol) (FELIZARDO, 2003).
Na sua forma pura, o glicerol se apresenta como um líquido viscoso, incolor,
inodoro e higroscópico, com sabor doce, solúvel em água e álcool, insolúvel em éter e
clorofórmio. Apresenta diferentes aplicações na indústria de cosméticos, farmacêutica,
detergentes, na fabricação de resinas e aditivos na indústria de alimentos. Apesar de
diversas aplicações na forma pura, a utilização direta na sua forma bruta possui pouca
aplicabilidade (RIVALDI et al., 2007).
Produtores de biodiesel em grande escala refinam o seu glicerol bruto,
direcionando sua aplicação para indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética. Em
geral, glicerol é tratado e refinado, através de filtração, aditivos químicos e destilação à
vácuo fracionada, rendendo vários produtos comercializáveis com diferentes graus de
pureza. Para produtores de média e pequena escala, os altos custos de purificação do
glicerol bruto dificultam o seu beneficiamento, e, por conseguinte, a sua utilização ou
disposição final (THOMPSON e HE, 2006).
Segundo JENSEN et al. (2014), os componentes comuns no glicerol bruto
incluem glicerol, álcool, água, sais, metais pesados, ácidos graxos, mono- di- e tri-
glicerídeos que não reagiram e ésteres de metil (HU et al., 2012). A presença de
compostos inibidores tais como sais (provenientes do catalisador e/ou acidificação) e
metanol podem limitar os níveis de dosagens do glicerol (ROBRA et al., 2010;

20
CASTRILLÓN, ORMAECHEA e MARAÑÓN, 2013). Contudo, a inibição pela
sobrecarga é normalmente registrada como o maior risco para a estabilidade do
processo durante codigestão com glicerol (ASTALS, ARISO e GALÍ, 2011;
FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS, 2010).
A porcentagem de pureza no glicerol bruto varia em média de 65 a 70% (p/p),
embora em alguns casos a concentração de glicerol possua valores abaixo de 50%,
sendo a maior parte das impurezas constituídas de sabão formado pela reação de
ácidos graxos livres com excesso de catalisador (saponificação), que por sua vez,
conferem ao glicerol uma aparência viscosa e escura (RIVALDI et al., 2007;
SEQUINEL, 2013). A presença de catalisador no glicerol pode influenciar no pH,
tornando-o mais básico ou ácido, com valores entre 5 até acima de 10. A Tabela 2.8
apresenta valores médios desses parâmetros analisados no glicerol em diferentes
estudos relatados pela literatura.

Tabela 2.8. Percentual de pureza e pH no glicerol bruto.


Glicerol pH Referências
(%)
*
58 n.i NAKAMURA, KISHI e
IKEGAMI (2008)
n.i* 5 FOUNTOULAKIS PETOUSI
e MANIOS (2010)
n.i* n.i* SILES et al. (2010)
56-60 n.i* ROBRA et al. (2010)
49,4 n.i* CASTRILLÓN,
ORMAECHEA e MARAÑÓN
(2013)
47 n.i* BABA et al. (2013)
47 n.i* WATANABE et al. (2013)
50,6 10,7 ATHANASOULIA, MELIDIS
e AIVASIDIS (2014)
72,3 n.i* JENSEN et al. (2014)
66 n.i* JENSEN et al. (2014)
46,5 10,4 NARTKER et al. (2014)
80 8-9 NGHIEM et al. (2014)
n.i* 8 PANPONG et al. (2014)
*
n.i 9 RAZAVIARANI e
BUCHANAN (2015)
n.i 5,5 SILVESTRE, FERNÁNDEZ
e BONMATÍ (2015)
n.i 12,6 SILVESTRE, FERNÁNDEZ
e BONMATÍ (2015)
*n.i=não informado

A mistura formada pelas impurezas é conhecida como MONG, que é a “matéria


orgânica não glicerol”, constituída por ácidos graxos sob a forma de sabões de sódio e
potássio, com uma pequena quantidade de metanol (HANSEN et al., 2009).

21
A aplicação do glicerol na indústria está condicionada ao grau de pureza, que
deve ser igual ou superior a 95%. Para obter grau de pureza superior a 95% (p/p)
(grau alimentício ou farmacêutico), o glicerol deve ser submetido à destilação, que
requer um custo elevado (RIVALDI et al., 2007).
Por outro lado, o glicerol bruto contém elementos nutricionais, como fósforo,
enxofre, magnésio, cálcio, nitrogênio e sódio e que são factíveis de serem utilizados
pelos microrganismos para seu crescimento durante processos fermentativos
(THOMPSON e HE, 2006). Ainda segundo os autores, altos níveis de elementos (tais
como cálcio e fósforo) podem ocorrer comumente devido às condições do solo onde
as sementes foram plantadas.
O glicerol é considerado uma fonte de carbono simples e assimilável por
bactérias e leveduras sob condições aeróbias e anaeróbias para obtenção de energia
metabólica, como regulador do potencial redox e para reciclagem de fosfato inorgânico
dentro da célula. Uma vez que o glicerol é assimilado no interior da célula, numerosos
compostos são produzidos como consequência do metabolismo celular (1,3
propanodiol, etanol, ácido succínico, ácido lático, ácido cítrico, ácido acético,
polihidroxialcanoatos, hidrogênio, ácido graxo poliinsaturado ômega-3). (THOMPSON
e HE, 2006).
A estequiometria da degradação anaeróbia do glicerol pode ser sumarizada
como a seguir (ÁNGEL et al., 2009):

C3H8O3 + aNH3 bCH4+ cCO2 + dC5H7NO2 + eNH4HCO3

Segundo AMARAL et al. (2009), muitos microrganismos são aptos a metabolizar


o glicerol, tais como Citrobacter, Klebsiella, Enterobaster e Clostridium. Vale salientar
que esses gêneros bacterianos podem estar presentes nos resíduos e efluentes
urbanos, pois podem estar ligados a ambientes contaminados. Nesses
microrganismos, a assimilação do glicerol está estritamente ligada à capacidade de
sintetizar 1,3-propanodiol (1,3-PDO), principal intermediário para a produção de
polímeros, resinas e aditivos de importantes aplicações industriais (CHENG et al.,
2007).
Nos experimentos relatados por AMARAL et al. (2009), apenas glicerol puro foi
utilizado como fonte de carbono, pois os sais presentes no glicerol bruto exerciam um
efeito inibitório em muitos microrganismos. No entanto, também foi relatado o
crescimento de algumas cepas de Clostridium butyricum em glicerol bruto para
produção de 1,3-PDO (NAKAMURA e WHITED, 2003). Todavia, há estudos que

22
relatam o metabolismo fermentativo do glicerol para alguns microrganismos na
ausência da síntese de 1,3-PDO.
A degradação do glicerol ocorre com a conversão do 1,2,3 propanotriol a 1,3
propanodiol e, posteriormente, a ácido propiônico (WATANABE et al., 2013). A síntese
de ácido propiônico por células bacterianas imobilizadas em alginato de cálcio foi
reportado por BORIES et al. (2004), onde sob condições de alta concentração de
glicerol obtiveram-se concentrações de ácido propiônico de até 42 g/L. Klebsiella spp
tem sido relatada na degradação de glicerol a 1,3-PDO (NEMETH et al., 2003; WU et
al., 2008) e Desulfovibrio sp. e Pelobacter sp. na degradação de 1,3-PDO a ácido
propiônico (WATANABE et al., 2013).
Conforme FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010), o aumento adicional
de glicerol pode provocar um alto desequilíbrio no processo de digestão anaeróbia. Os
autores sugeriram que a adição extra de glicerol na matéria-prima (acima de 1 % v/v)
resultou em acúmulo de propionato nos reatores e consequentemente na instabilidade
do sistema.
JENSEN et al. (2014) relataram que o glicerol degrada-se rapidamente a
propionato, através do lactato, pela via acrilato. Os autores concluíram que o acúmulo
de propionato foi identificado como a principal causa da desestabilização do processo
de digestão anaeróbia quando se utiliza altas concentrações de glicerol como
cosubstrato, embora o glicerol por si só não seja tóxico ou inibitório. Esta conclusão
está de acordo com as suposições feitas por FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS
(2010), que relataram que a sobrecarga de glicerol resultou em inibição através do
acúmulo de ácidos graxos voláteis (AGV).
Para BABA et al. (2013), a produtividade de metano foi reduzida devido ao
acúmulo de AGV (propiônico, em particular) em cargas superiores a 30 L de
glicerol/30m3.dia-1, correspondendo a 1 ml de glicerol/L.dia-1 e 1,48 g DQO
glicerol/L.dia-1. Conforme WATANABE et al. (2013), a maioria dos estudos sobre a
digestão anaeróbia de glicerol tem utilizado cargas de aproximadamente 1,0 g
DQO/L.dia-1 (NAKAMURA, KISHI e IKEGAMI, 2008; ROBRA et al., 2010; ASTALS,
ARISO e GALÍ, 2011).
Uma diminuição na produção de metano associada aos níveis crescentes de
ácido propiônico em reator foi relatada por WATANABE et al. (2013), o que corrobora
outros relatos de que a produção de metano diminui quando se acumula propionato
(GALLERT e WINTER, 2008). Ainda segundo o autor, o pH ótimo para a degradação
propionato se encontra entre 6,8 e 7,3.
Em estudos sobre codigestão de lodo ativado e glicerol, ATHANASOULIA,
MELIDIS e AIVASIDIS (2014) identificaram aumento na concentração de ácido

23
propiônico após a adição de 4% (v/v) de glicerol. O aumento indicou que o glicerol é
convertido em ácido propiônico através de digestão anaeróbia. No entanto, quando se
adicionou 2% e 3 % de glicerol, as concentrações de ácidos graxos voláteis (AGV)
foram baixas, devido ao sistema de digestão em série, havendo o consumo total de
ácido propiônico no segundo digestor, evitando falha do sistema e mantendo
condições continuamente estáveis durante o processo de digestão anaeróbia.
Isto foi confirmado também por (HOLM-NIELSEN et al., 2007), onde os AGV não
foram detectados em baixas concentrações (<5 g/L) de glicerol. No entanto, quando o
teor de glicerol foi aumentado (4 g/L), houve tendências claras de sobrecarga
orgânica, o que refletiu no aumento da concentração de AGV durante a fermentação
(até 30 g/L).
A origem do glicerol proveniente do biodiesel pode refletir nas suas
características químicas, exercendo assim alguma influência quando em codigestão
com outros substratos. No Brasil, o principal insumo utilizado para o biodiesel é o óleo
de soja (ALVES, OLIVEIRA e MAHLER, 2012).
THOMPSON e HE (2006) utilizaram amostras de glicerol obtidas da
transesterificação em batelada de sete tipos de óleos, sendo utilizado metanol como
álcool da reação e metilato de sódio como catalisador. Para o glicerol bruto
proveniente de óleo de soja, a concentração de glicerol puro (% peso) foi de 67,8%.
Foram avaliadas também as concentrações de elementos e nutrientes encontrados no
óleo e no glicerol bruto proveniente da soja, conforme apresentado na Tabela 2.9.

Tabela 2.9. Análises de macro elementos, carbono e nitrogênio do óleo e glicerol bruto
provenientes da soja.
Parâmetros Óleo de Soja Glicerol Bruto
Cálcio (ppm) 3,1 ± 0,2 11,0 ± 00
Potássio (ppm) nd* nd*
Magnésio (ppm) 1,2 ±00 6,8 ± 0,2
Fósforo (ppm) 10,0 ± 0,9 53,0 ± 4,6
Enxofre (ppm) 22,0 ± 0,6 nd*
Sódio (%) nd* 1,20 ± 0,10
Carbono (%) 77,0 ± 0,00 26,0 ± 1,00
Nitrogênio (%) 0,22 ± 0,06 0,04 ± 0,03
Gorduras (%) 97 7,98
Carboidratos (%) 2,91 76,2
Proteínas (%) 0,09 0,05
Calorias (kJ/kg) 37,0 15,8
Cinzas (%) nd* 2,73
*Valores abaixo do limite de detecção correspondente ao método analítico. Os limites de detecção foram:
cálcio - 2, potássio - 40, magnésio - 0,2, sódio - 80, fósforo – 5 , enxofre – 15, carbono – 200 e nitrogênio
– 100. Fonte: Adaptado de THOMPSON e HE (2006).

24
Em relação aos resultados analíticos dos macroelementos, os níveis de carbono
nas amostras de óleo e glicerol foram de 77% e 26%, respectivamente, enquanto que
os níveis de nitrogênio nessas amostras foram de 0,22% e 0,04%, respectivamente. O
sódio, que foi quantificado como um íon, representa o catalisador (metilato de sódio
NaOCH3) utilizado na reação.
Como esperado, os óleos são na maioria gorduras, mais uma pequena
quantidade de carboidratos e proteínas. Dados nutricionais do glicerol bruto mostram
que é composto na maioria de carboidratos que poderiam ser misturados com
proteínas na refeição de animais, sendo utilizado como um suplemento, embora
questões de segurança alimentar ainda precisem ser melhor estudadas antes da
implementação dessa prática. As cinzas contidas no glicerol bruto consistem
principalmente de sódio do catalisador (THOMPSON e HE, 2006).
O alto teor de matéria orgânica encontrado no glicerol bruto é refletido nos
elevados valores da demanda química de oxigênio (DQO) e de sólidos voláteis (SV)
relatados pela literatura. Os trabalhos sobre a utilização do glicerol na otimização de
processos para geração de biogás de resíduos reportam valores médios entre 837 a
1760 g/L e 72,1 a 99,8% para DQO e sólidos voláteis, respectivamente (Tabela 2.10).

Tabela 2.10. Valores médios de demanda química de oxigênio (DQO) e sólidos


voláteis para o glicerol bruto relatados na literatura.

DQO SV (%) Referências


*
1217 g/Kg n.i NAKAMURA, KISHI e IKEGAMI
(2008)
1010 g/Kg n.i* Siles López et al. (2009)
1054 g/L n.i* SILES et al. (2010)
*
837 g/Kg n.i CASTRILLÓN, ORMAECHEA e
MARAÑÓN (2013)
1477 g/L 72,1 BABA et al. (2013)
1477g/L 72,1 WATANABE et al. (2013)
1000 g/L n.i* ATHANASOULIA, MELIDIS e
AIVASIDIS (2014)
1056 g/L 90 JENSEN et al. (2014)
912 g/L 90,5 JENSEN et al. (2014)
*
n.i 95 NARTKER et al. (2014)
1140 g/L n.i* NGHIEM et al. (2014)
*
1760 g/L n.i PANPONG et al. (2014)
1631 g/L 86,7 RAZAVIARANI e BUCHANAN
(2015)
1517 g/L 99,8 SILVESTRE, FERNÁNDEZ e
BONMATÍ (2015)
1070 g/L 95,4 SILVESTRE, FERNÁNDEZ e
BONMATÍ (2015)
*n.i=não informado

25
No Brasil, a maioria das plantas industriais de biodiesel não valorizam
efetivamente o glicerol. Segundo FREITAS (2016), o glicerol bruto produzido é vendido
para refinarias, e 50% é exportado para a China, a maior compradora mundial. O
preço do glicerol CIF (custo, seguro e frete) é de US$ 275,00 a tonelada, com frete em
torno de US$ 125,00. Considerando-se o valor do dólar de R$ 3,48 (cotação 14 de
junho/2016) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016), ex-import (sem impostos), o
custo da glicerina fica em torno de R$ 435,00/t. Por outro lado, o preço base do ácido
graxo em São Paulo é estimado R$ 1.400,00 a tonelada e se o custo do frete for em
torno de R$ 500,00, seu preço máximo será de R$ 900,00. Sendo assim, para atingir
um maior valor de venda para ser absorvido por segmentos como a indústria
farmacêutica e alimentícia, o glicerol ainda necessitaria do processo de purificação
para obtenção de outros subprodutos mais competitivos, como é o caso do ácido
graxo.
Sendo assim, ainda é preciso criar alternativas de utilização do glicerol bruto que
viabilizem seu aproveitamento, através do aperfeiçoamento das técnicas atuais ou
pelo emprego do glicerol bruto em consórcio com outros resíduos para geração de
recursos energéticos.

2.2 Digestão e Codigestão Anaeróbia de Resíduos

2.2.1 Digestão Anaeróbia

A digestão anaeróbia é um processo natural convertido em tecnologia


amplamente utilizada para tratar resíduos orgânicos uma vez que evita emissões de
compostos orgânicos voláteis, estabiliza matéria orgânica, produz um efluente com
boas qualidades fertilizantes e, de modo geral, recupera energia através da produção
de metano (FONOLL et al., 2015; ROMERO-GÜIZA et al., 2016).
Pode ser realizada em sistemas em batelada ou contínuo. No sistema em
batelada, a biomassa é adicionada no início do processo de digestão. No sistema
contínuo, a biomassa é constantemente adicionada ao reator. A digestão anaeróbia é
uma tecnologia de tratamento de resíduos que melhora a qualidade ambiental e
produz energia sustentável (CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014).
Na natureza, este processo ocorre em ambientes como pântanos, lagoas, lagos,
arrozais, fontes termais, oceanos e trato intestinal de humanos e animais
(ISSAZADEH et al., 2013). A digestão anaeróbia da matéria orgânica estabiliza sólidos
de águas residuárias, reduz agentes patogênicos e odores, e dimini os sólidos totais,

26
convertendo parte da fração de sólidos voláteis em biogás. Este processo resulta em
um produto que contém sólidos estabilizados, bem como algumas formas de
nutrientes disponíveis, tais como nitrogênio amoniacal (CHRISTY, GOPINATH e
DIVYA, 2014).
A digestão anaeróbia é um processo que ocorre em quatro estágios bioquímicos
fundamentais em que microrganismos degradam material biodegradável na ausência
de oxigênio. As etapas incluem hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese.
Durante a hidrólise, as bactérias hidrolíticas fermentativas convertem polímeros
orgânicos insolúveis em derivados solúveis. É um processo cinético de primeira ordem
que transforma compostos orgânicos complexos, tais como carboidratos, proteínas e
lipídeos, em componentes orgânicos simples (açúcares, aminoácidos e ácidos
graxos). (CHERNICHARO, 1993; CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014; NARTKER et
al., 2014).
A acidogênese é a fase seguinte, conduzida pelas bactérias acidogênicas, na
qual os orgânicos simples são convertidos a ácidos orgânicos ou ácidos graxos
voláteis (acético, fórmico, propiônico, butírico, lático, etc.) e etanol, além de gás
carbônico (CO2), hidrogênio (H2), e amônia (NH3). Em seguida, na fase de
acetogênese, as bactérias acetogênicas ou produtoras de hidrogênio, por sua vez,
convertem os produtos gerados pelas acidogênicas (ácidos voláteis maiores que
acetato) em acetato, H2 e CO2. As homoacetogênicas são caracterizadas por
possuírem um metabolismo quimiolitotrófico, e utilizam H2 e CO2 para produzirem
acetato. Esse grupo vem sendo enfatizado devido à importância do composto final
produzido, o acetato, que tem um papel importante como precursor do metano.
(CHERNICHARO, 1993; CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014).
As bactérias redutoras de sulfato são consideradas acetogênicas, produzem H2
e, na ausência de sulfato, utilizam substratos orgânicos, tais como lactato, e formam
acetato e H2, os quais são utilizados pelas arqueas metanogênicas. Entretanto, na
presença do sulfato, esses microrganismos podem inibir a metanogênese, competindo
pelo mesmo substrato (acetato, H2, CO2) que as arqueas metanogênicas para geração
de gás sulfídrico (H2S) (CHERNICHARO, 1993; CHRISTY, GOPINATH e DIVYA,
2014).
Ainda segundo os autores, na fase final da digestão anaeróbia ocorre a
metanogênese, onde acetato, H2 e CO2 serão convertidos em metano (CH4) e CO2. A
conversão do acetato é realizada pelas arqueas metanogênicas acetoclásticas – que
utilizam o acetato para produção de CH 4 – enquanto as hidrogenotróficas são
responsáveis pela utilização do H2 e CO2 para produção de CH4. Em condições de
baixa concentração de acetato, predominam as bactérias do gênero Methanothix

27
(hidrogenotróficas), já em alta concentração de acetato predominam as
Metanosarcinas (acetoclásticas). A via mais utilizada na metanogênese é a
acetoclástica, que corresponde a 70% da produção de metano. A produção de metano
é o fator condicionante da digestão anaeróbia, entretanto, abaixo de 20ºC, a hidrólise
pode limitar o processo para resíduos com alto teor de sólidos. A Figura 2.6 apresenta
o esquema geral da digestão anaeróbia.

Figura 2.6 Representação Esquemática da Decomposição Anaeróbia. Fonte:


Adaptado de CHERNICHARO, 1993.

O biogás gerado pelo processo de digestão anaeróbia da matéria orgânica


consiste tipicamente em CH4 (60%), CO2 (40 %), vapor de água e quantidades traço
de H2S (CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014). O biogás é um gás inodoro e incolor
que arde com chama azul claro semelhante ao de gás GLP. Microrganismos de dois
domínios biológicos, as bactérias e as arqueas realizam este processo em condições
anaeróbias estritas (DUGBA; ZHANG, 1999).
Vários fatores podem influenciar na digestão anaeróbia e na produção de biogás
em digestores, tais como: temperatura, pH, umidade, natureza do substrato, teor de
carbono e de nitrogênio, inóculo, relação inóculo substrato (I/S), configuração do
digestor, carga orgânica aplicada e tempo de detenção hidráulica (TRH) (KHALID et
al., 2011; CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014).
Os microrganismos podem crescer em faixa de temperaturas mínima, ótima e
máxima. Na temperatura ótima, as enzimas microbianas estão na forma mais ativa,

28
enquanto que na temperatura mínima as enzimas trabalham com menor eficiência e,
portanto, a conversão da matéria orgânica complexa em subprodutos é mais
demorada. Na faixa máxima de temperatura, pode ocorrer a desnaturação das
proteínas (destruição do arranjo molecular) causando a morte celular. As arqueas
metanogênicas, por exemplo, são bastante sensíveis às mudanças bruscas de
temperatura e se desenvolvem naturalmente em temperaturas mesofílicas, de 30°C a
40°C, e termofílicas, de 50ºC a 60°C (CHEN, CHENG e CREAMER, 2008).
No processo de digestão anaeróbia, o pH deve estar compreendido entre 6,3 e
7,8, faixa na qual é observada maior eficiência da fase metanogênica. Na fase
fermentativa, a população microbiana tolera pH ácido ou alcalino. Dessa maneira,
quando ocorre desbalanceamento no sistema, tem-se o acúmulo de ácidos voláteis,
caso a alcalinidade proporcionada pelo bicarbonato não seja suficiente para a
neutralização. Nesse caso, ocorrerá queda do pH, provocando desbalanceamento e
prevalecendo a fermentação ácida sobre a metanogênese (CHEN, CHENG e
CREAMER, 2008).
Alguns fatores são utilizados para avaliar a estabilidade do digestor, tais como
pH, alcalinidade (parcial e total); ácidos graxos voláteis (AGV), relação ácidos voláteis
e alcalinidade total (AGV/AT); relação propionato/acetato, relação carbono e nitrogênio
(C/N) e até mesmo a relação entre demanda química de oxigênio e sulfato
(DQO/SO42-). Outros parâmetros são utilizados para avaliar o desempenho de
digestores tais como produção (volume CH4) e rendimento de CH4 (NmLCH4/gSV),
remoção DQO e remoção SV.
Segundo ESPOSITO et al. (2012), em protocolos para testes do potencial
bioquímico de metano (BMP), os principais parâmetros que afetam os resultados dos
experimentos são temperatura e pH, características físicas e químicas dos substratos,
intensidade de agitação e razão inóculo/substrato (I/S).
A natureza do substrato é definida pelos seus constituintes macromoleculares,
tais como teor de carboidratos, lipídeos e proteínas que refletem nos elementos
químicos tais como carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre (C,H,O,N,S).
Vale salientar que podem existir alguns componentes nos resíduos (metais e alguns
compostos orgânicos reclacitrantes, muitas vezes tóxicos) que não serão degradados
e, portanto, tornam-se concentrados no resíduo, interferindo no processo de digestão.
Entre os carboidratos, têm-se celulose, hemicelulose e lignina como
polissacarídeos bastante comuns em resíduos orgânicos vegetais. A digestão
anaeróbia dos materiais sólidos ligninocelulósicos e a acessibilidade dos
microrganismos hidrolíticos fermentativos ao material sólido constituem o passo
limitante (CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014).

29
Com base nisso, o processo anaeróbio apresenta algumas desvantagens, tais
como tempos de retenção elevados e baixos níveis de eficiência de remoção de
compostos orgânicos (KHALID et al., 2011). A composição química e a estrutura de
materiais lignocelulósicos dificulta a biodegradação dos resíduos sólidos orgânicos.
Tem sido documentado que a hidrólise da matéria orgânica complexa a compostos
solúveis é passo limitante de processos anaeróbios para resíduos com alto teor de
sólidos (MUMME et al., 2010; KHALID et al., 2011).
Consequentemente, há casos em que pré-tratamentos físicos, químicos e
enzimáticos são necessários para aumentar a solubilidade do substrato e acelerar a
taxa de degradação biológica de resíduos sólidos orgânicos (CHARLES, WALKER e
CORD-RUWISCH, 2009; KHALID et al., 2011)
Em relação aos lipídeos, segundo RAPOSO et al. (2011), o seu aumento pode
intensificar a produção de CH4 durante a digestão anaeróbia. Entretanto, elevada
carga de lipídeos aumenta a produção de ácidos graxos de cadeia longa, provenientes
da hidrólise lipídica, podendo acarretar em efeitos inibitórios na produção de metano.
Segundo EHRIG (1991), baseado em equações gerais da degradação anaeróbia
(estequiometria), a produção teórica de CH4 para os principais constituintes
bioquímicos é de 453 NmL de CH4/g de carboidrato, 509 NmL de CH4/g de proteína e
1.021 NmL de CH4/g de lipídeo.
Conforme ESPOSITO, et al., (2012), a faixa ótima da relação carbono/nitrogênio
(C/N) que permite uma biodegradação mais eficiente dos resíduos está entre 20:1 e
30:1. SILVESTRE, FERNÁNDEZ e BONMATÍ (2015) relatam que a faixa aceitável de
C/N para o processo de digestão anaeróbia encontra-se entre 15 e 30 enquanto outros
autores apontam para arqueas metanogênicas a relação ótima entre 16 e 19 (KIVAISI
e MTILA, 1998). Em estudos relatados por SIDDIQUI, HORAN e KOFI (2011) sobre
misturas com resíduos alimentares e lodo de esgoto com diferentes relações C/N (10,
15, 20 e 30), a maior produção de CH4 (50 a 70% do total) foi relacionada com a
relação C/N equivalente a 15.
Na literatura, dados experimentais demonstraram que a produção de metano
final, bem como as taxas de produção de metano, são dependentes dos tipos de
substratos e do inóculo. Grandes volumes de inóculo garantem alta atividade
microbiana, baixo risco de sobrecarga e baixo risco de inibição (ANGELIDAKI et al.,
2009). Alguns pesquisadores (RAPOSO et al., 2011) sugerem como obrigatória para
testes padronizados a razão inóculo/substrato (I/S) ≥ 2, considerando que esta nunca
foi reportada como inibidora.
NARTKER et al. (2014) e JENSEN et al. (2014) utilizaram a razão
inóculo/substrato (I/S) ≥ 2 com base na quantidade de sólidos voláteis para avaliar a

30
produção de biogás em misturas contendo lodo de esgoto e glicerol bruto. LI et al.
(2013) investigaram o potencial bioquímico de metano (BMP) e biodegradabilidade de
resíduos de cozinha, palha de milho e esterco de frango, sob condições mesofílicas
(37°C) em sistema batelada utilizando diferentes relações de inóculo/substrato (I/S).
Esses autores identificaram que a relação com teor de substrato 3 vezes maior do que
o inóculo acarreta em baixo desempenho no que tange à produção de metano.
CABBAI et al. (2013) realizaram testes BMP utilizando (I/S) igual a 3, a qual foi
escolhida para evitar qualquer efeito inibidor ligado à digestão anaeróbia da fração
orgânica de resíduos urbanos.
Como resultado da alta quantidade de ácidos graxos voláteis (AGV) produzidos
durante a digestão anaeróbia de resíduos de frutas e vegetais, é muito importante
monitorar a estabilidade do processo. Por outro lado, o comportamento dos AGV
fornece informação acerca do desempenho das etapas intermediárias da digestão
anaeróbia, sendo o ácido propiônico apresentado como parâmetro chave quando é
analisada a estabilidade da digestão anaeróbia. Por sua vez, a alcalinidade é a
capacidade do meio de neutralizar os AGV gerados durante o processo e, portanto,
mitigar as mudanças de pH (FONOLL et al., 2015).
De acordo com MATA-ALVAREZ, MACÉ e LLABRÉS (2000), para assegurar
condições estáveis, o digestor deveria ter alcalinidade total acima de 1,5 g CaCO3/L.
No entanto, para codigestão anaeróbia, alguns autores têm relatado instabilidade em
altos valores de alcalinidade (ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-ALVAREZ, 2012).
Dessa forma, é mais adequado avaliar a estabilidade da digestão anaeróbia
através da razão entre ácidos graxos voláteis e alcalinidade total (AGV/AT), onde:
AGV/AT ≤ 0,40 representa digestor estável, 0,40<AGV/AT<0,80 alguns sinais de
instabilidade e AGV≥0,80 instabilidade significante (FONOLL et al., 2015).
Para SILES et al. (2010), a estabilidade do processo de digestão anaeróbia foi
avaliada com base na relação acidez volátil/alcalinidade total (AV/AT) durante a
digestão anaeróbia de uma mistura de resíduos. Os autores encontraram valores para
a relação de AV/AT menores do que 0,30-0,40, indicando assim que o processo
operou favoravelmente, sem o risco de acidificação. Por outro lado, LANE (1984)
descreveu que para digestões estáveis é imperativo que uma proporção satisfatória
entre ácidos graxos voláteis (AGV) e alcalinidade seja mantida. Esta relação foi
descrita pela relação empírica: alcalinidade (mg/L) - 0,7 x AGV (mg/L), a qual não deve
fornecer valores inferiores a 1500 para que ocorra uma digestão balanceada.
Para RAZAVIARANI et al. (2013), a proporção de AGV/Alcalinidade permaneceu
abaixo de 0,03, 10 vezes menor do que os valores máximos de segurança de 0,3
relatados por SILES et al (2010). A proporção entre alcalinidade intermediária (AI) e a

31
alcalinidade parcial (AP) foi relatada por ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-
ALVAREZ (2012) como um parâmetro altamente sensível para avaliar a estabilidade
de um processo anaeróbio. Esta relação permaneceu abaixo de 0,4 para uma
operação estável, e não excedeu 0,4 em nenhum dos digestores até atingir 0,45 no
digestor teste com 180% DQO em relação à carga controle.
Em geral, é difícil recuperar a produtividade de metano quando reatores são
interrompidos por causa do acúmulo de AGV. No entanto, reatores metanogênicos
monitorados por BABA et al. (2013), sem nenhum excesso de AGV, puderam
permanecer estáveis ainda que interrompidos por um determinado período de tempo.
Nos experimentos em escala de campo, foi possível recuperar a produtividade de
metano mesmo com a ausência de aquecimento e de carregamento do reator por um
mês.
A digestão anaeróbia de lodo de esgoto é amplamente utilizada em plantas de
tratamento de esgotos para tratar e estabilizar o lodo com redução do seu volume
antes da disposição final ou do seu reuso (ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-
ALVAREZ, 2013). Tem sido estudada desde o início do século XX, e estudos
reportados por BUSWELL e NEAVE (1930) incluem análise de nitrogênio, ácidos
graxos, proteínas e fibras presentes no lodo, além da comparação entre os volumes
teóricos e experimentais de metano e de gás carbônico produzidos através do
processo.
A produção de metano e subsequente geração de energia renovável é um
significante benefício ambiental e social do processo. O potencial calorífico de 1 kg de
metano (55,5 MJ), principal componente do biogás, é equivalente ao de 1,2 kg de
diesel ou de 3,7 kg de madeira4. Nesse contexto, a digestão anaeróbia constitui uma
tecnologia ainda mais promissora no que se refere ao potencial energético obtido a
partir de seu principal produto, isto é, o biogás (ATHANASOULIA, MELIDIS e
AIVASIDIS, 2014).
A digestão anaeróbia é um método prático para degradar e estabilizar lodo de
esgoto primário antes de sua disposição final, convertendo, de forma sustentável,
resíduos em energia Para que um biodigestor anaeróbio de esgoto opere de forma
mais eficiente e econômica, a produção de biogás deve aumentar, o que pode ser
conseguido através de um processo de codigestão (NARTKER et al., 2014).
Uma vez que o glicerol bruto contém alta concentração de matéria orgânica,
grandes quantidades de CH4 podem ser geradas a partir de pequenos volumes de

4
Em volume, serão necessários 1,25 m³ de gás para 1,15 L de diesel, considerando a densidade dos
gases (0,716 kg/m³ de metano) e do diesel (0,85 kg/L).

32
glicerol por meio da digestão anaeróbia (WATANABE et al., 2013), e a maioria dos
estudos acerca da digestão anaeróbia de glicerol em biodigestores tem utilizado
cargas orgânicas de aproximadamente 1,0 g DQO/L.dia-1 (NAKAMURA, KISHI e
IKEGAMI, 2008; ROBRA et al., 2010; ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-
ALVAREZ, 2012).

2.2.2 Codigestão Anaeróbia

A codigestão anaeróbia (CoA) consiste de uma mistura de dois ou mais


substratos com características complementares, e tem provado ser uma opção viável
sob o ponto de vista técnico e econômico para aumentar a produção de metano em
digestores já existentes (HOLM-NIELSEN et al., 2007; NARTKER et al., 2014). O
cosubstrato pode fornecer nutrientes que estejam deficientes e, ao mesmo tempo,
proporcionar de maneira geral um efeito sinergético positivo no meio, conduzindo à
digestão estável e a melhorias no rendimento de biogás (JENSEN et al., 2014; MATA-
ALVAREZ et al., 2014; YADVIKA et al., 2004).
Na CoA, é importante escolher o melhor co-substrato e sua relação com o
inóculo com o objetivo de promover interações positivas. Melhorias na produção de
biogás são resultado principalmente do aumento da carga orgânica . No entanto, a
CoA também pode criar sinergia entre substratos, diluir compostos inibidores/tóxicos
e/ou aumentar a estabilidade do digerido (ASTALS, ARISO e GALÍ, 2011; FONOLL et
al., 2015).
De acordo com MATA-ALVAREZ et al. (2014), o lodo de esgoto se classifica
como o segundo substrato principal para a CoA. Historicamente, a CoA de lodo de
esgoto e da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (FORSU) é a mais relatada.
No entanto, entre 2010 e 2013, as publicações envolvendo o uso de gorduras, óleos e
graxas como co-substrato de lodo de esgoto tiveram aumento significativo, no
montante de 26% das publicações. No mesmo prazo, outros cosubstratos tais como
frutas e resíduos vegetais, resíduos de matadouros, glicerol e algas também têm sido
amplamente relatados.
Apesar do lodo de esgoto ser digerido sozinho na maioria das aplicações, o uso
de cosubstratos na digestão anaeróbia é uma tendência crescente para melhorar os
rendimentos de metano com vários benefícios associados. Quando lodo de esgoto é
combinado com cosubstratos orgânicos altamente concentrados, tais como resíduos
alimentares, resíduos agrícolas ou glicerol bruto da indústria de biodiesel, a produção

33
de biogás e remoção de matéria orgânica podem ser melhoradas sem sacrificar a
estabilidade do reator (ASTALS, ARISO e GALÍ, 2011; NARTKER et al., 2014)
Há uma capacidade não utilizada dos digestores de estações de tratamento de
esgoto, que é em média 30% (DI MARIA et al., 2014). O uso dessa capacidade extra
pela introdução de resíduos adicionais para conduzir a codigestão poderiam melhorar
a produção de biogás e a viabilidade econômica da planta (FONOLL et al., 2015).
Devido às altas quantidades de matéria orgânica facilmente biodegradável, resíduos
de frutas são ideais para serem misturados com lodo de esgoto, substrato que se
caracteriza pela quantidade relativamente baixa da razão carbono/nitrogênio e da alta
capacidade tampão (MATA-ALVAREZ et al., 2014).
Para LI et al. (2013), resíduo de cozinha, palha de milho e esterco de frango
podem ser utilizados como matérias-primas para a produção de biogás através do
processo de codigestão anaeróbia. Resíduo de cozinha contém mais prontamente
composições biodegradáveis e são facilmente convertidos em biogás, mas tem uma
baixa capacidade de tamponamento. Portanto, em uma proporção mais elevada de
substrato/inóculo (tal como 3,0), um baixo desempenho na produção de metano foi
encontrado. Palha de milho contém uma elevada percentagem de lignocelulose, que
não pode ser digerida rapidamente por bactérias anaeróbias, o que leva à baixa
produção de biogás e a longo tempo de digestão. Esterco de frango tem boa
capacidade de tamponamento, mas tem uma baixa relação C/N, que também leva a
digestão anaeróbia a ter desempenho reduzido.
Ainda segundo os autores, a codigestão desses resíduos podem aumentar o
rendimento específico de metano atribuído a uma proporção adequada de C/N e à
reduzida relação entre AGV Total/Alcalinidade Total. Além disso, para a produção de
metano comercial, a proporção entre substrato e inóculo no digestor deve receber
mais atenção, uma vez que uma proporção maior poderia influenciar
significativamente na eficiência de produção de biogás.
GÓMEZ et al. (2006), que trabalharam com codigestão de lodo primário e
resíduos de frutas e vegetais, observaram algumas flutuações na produção específica
de gás (0,3-0,6 Lbiogás/gSV) quando alteraram as condições da mistura e a carga
orgânica aplicada. DI MARIA et al. (2014) obtiveram boa produção específica de
metano (0,25 LCH4/gSV) quando codigeriram lodo de esgoto e resíduos de frutas em
um curto tempo de retenção hidráulico (10 dias). Todavia, a estabilidade do digestato
foi severamente afetada, comumente devido à presença de matéria orgânica
facilmente biodegradável.

34
2.2.2.1 Misturas Binárias com Glicerol

Entre os resíduos industriais, o glicerol, subproduto da produção de biodiesel,


destaca-se como um cosubstrato ideal para lodo de esgoto e suas vantagens
comparativas estão ligadas a (I) sua alta biodegradabilidade anaeróbia (~ 100%), que
significa um baixo impacto sobre o custo de gerenciamento de sólidos digeridos; (II)
ser um subproduto líquido, o que resulta em equipamentos mais simples para a
implementação da alimentação; e (iii) ser um resíduo altamente concentrado, que
permite aumentos significativos na taxa de carregamento (carga orgânica) do digestor
com um impacto mínimo no tempo de detenção hidráulica (TDH) (FOUNTOULAKIS,
PETOUSI e MANIOS, 2010; RAZAVIARANI et al., 2013; JENSEN et al., 2014).
Conforme FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010), experimentos com
codigestão aplicando-se glicerol a misturas de águas residuárias de matadouros,
resíduos sólidos urbanos, dejetos de suínos, silagem de milho e farelo de canola,
mostraram um aumento significativo na produção de metano. No entanto, com o
objetivo de manter um processo de digestão estável, houve uma concentração limite
de glicerol adicionada. Estes resultados demonstram que o glicerol pode ser aplicado
vantajosamente, mas uma estratégia de controle rigoroso é necessária para regular a
quantidade adicionada de modo a evitar o risco de sobrecarga orgânica.
Segundo BABA et al. (2013), a taxa diária máxima de carregamento de glicerol
bruto é um fator importante na eficácia de produção de metano, e o potencial de
carregamento permanece mais elevado se a carga de glicerol é aumentada de forma
mais gradual. A Tabela 2.11 apresenta valores médios de taxas de carregamento de
glicerol bruto relatados na literatura como sendo ideiais.
Segundo RAZAVIARANI et al. (2013), a proporção DQO solúvel/DQO total indica
o nível da alimentação de solubilização (material dissolvido) que afeta diretamente a
produção de biogás. Em seus experimentos, esta proporção foi de aproximadamente
0,98 no glicerol bruto, quase 14 vezes mais elevada do que no lodo de esgoto utilizado
no trabalho. O limite máximo de carga para glicerol bruto durante a codigestão
dependeu das características do substrato primário e do próprio glicerol.

35
Tabela 2.11. Valores de carregamento de glicerol bruto em digestores anaeróbios.
Sistema/
Substratos Carga Referência
Volume
Resíduo Orgânico e NAKAMURA, KISHI e
Batelada/1 L 10 g DQO/L
Glicerol IKEGAMI (2008)
Esterco bovino e CASTRILLÓN, ORMAECHEA
Batelada/1.75 L 0,04 L/L
Glicerol e MARAÑÓN (2013)
Esterco bovino e CASTRILLÓN, ORMAECHEA
Batelada/1.75 L 0,06 L/L
Glicerol e MARAÑÓN (2013)
Esterco bovino e -1
Contínuo/3 L 1,3 g VS/Ldia ROBRA et al. (2010)
Glicerol
1,275 g ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e
Contínuo/4 L esterco suíno -1
VS/Ldia MATA-ALVAREZ (2013)
Resíduo Orgânico e 1,2 g NAKAMURA, KISHI e
Contínuo/5 L-
Glicerol DQO/Ldia-1 IKEGAMI (2008)
3 Lodo de Esgoto e 1,48 g
Contínuo/ 50m -1 BABA et al. (2013)
Glicerol DQO/Ldia
Fonte: Adaptado de Baba et al. (2013).

ROBRA et al. (2010) propôs um cenário para a inibição das metanogênicas


devido à adição de glicerol ao esterco bovino em um digestor de 4 L sob condições
mesofílicas. Eles observaram que o aumento da adição de glicerina bruta de 5% para
10% (em peso) na alimentação do digestor não mostrou melhoria significativa na
produção de biogás, embora uma maior quantidade de glicerol tivesse sido utilizada.
Esta observação foi atribuída às altas concentrações de metanol e KOH no glicerol
que inibiram a biocenose, causando instabilidade do processo.
Os limiares de sobrecarga de glicerol em condições mesofílicas parece depender
do substrato principal com concentrações limitantes diferenciadas para lodo de esgoto
de 3 a 4% (FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS, 2010; ATHANASOULIA, MELIDIS
e AIVASIDIS, 2014; JENSEN et al., 2014; NGHIEM et al., 2014), 4% para esterco de
porco (ASTALS, NOLLA-ARDÈVOL e MATA-ALVAREZ, 2012) e 10% para esterco
bovino (ROBRA et al., 2010).
FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010), estudaram a adição de 1 e 3%
(v/v) de glicerol ao lodo de esgoto e concluíram que a adição de glicerol pode
aumentar os rendimentos de produção de biogás de 1106 ml CH4/dia para 2353 ml
CH4/dia, se não exceder 1% (v/v), concentração considerada ideal para a alimentação.
RAZAVIARANI et al. (2013) relataram que a adição prolongada de glicerol em
1,8% (v/v) pode desestabilizar a digestão anaeróbia. Os autores observaram ainda
que mais de uma semana da adição de glicerol contínua a 3% (v/v) ao lodo primário
poderia levar a uma grave deterioração no desempenho do digestor em relação à
produção de biogás e remoção de DQO ou SV. NGHIEM et al. (2014) investigaram a

36
aplicação de doses de glicerol de 0,63 e 3,0 % (v/v) em digestor piloto, e encontraram
que, em termos de produção de biogás por volume de glicerol adicionado, a dose mais
baixa (0,63 % v/v) foi mais eficaz.
Os resultados apresentados por ÁNGEL et al. (2009) mostraram uma
biodegradabilidade de cerca de 100%, com um coeficiente de rendimento de metano
de 0,306 m3CH4/kg glicerol quando foi utilizado glicerol acidificado e lodo granular.
Para ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS (2014), a biodegradabilidade de
misturas contendo 2 e 3% (v/v) de glicerol e lodo de esgoto foi estimada em valores
superiores a 88%, enquanto que o coeficiente de produção de metano foi de 0,8 L
biogás /gSVT removido. Além disso, a codigestão melhorou a produção de biogás de
3,8 a 4,7 vezes.
Em estudos de codigestão em mistura binária sem a utilização lodo de esgoto
como substrato, NAKAMURA, KISHI e IKEGAMI (2008) investigaram a produção de
biogás de resíduos orgânicos e glicerol bruto e encontraram valores de 550 e 560
NL/gDQO. SILES et al. (2010) relatam o valor de 310 mL CH4/g DQO para codigestão
de efluente da produção de biodiesel e glicerol. A Tabela 2.12 apresenta valores
médios da produção de biogás pela codigestão de misturas binárias com glicerol
relatadas na literatura.

Tabela 2.12. Produção de biogás pela codigestão de misturas binárias com glicerol.
Produção de
Substrato Refêrencia
biogás
FOUNTOULAKIS
2353 mL/dia PETOUSI e MANIOS
(2010)
358 mL CH4/g
BABA et al. (2013)
DQOrem
RAZAVIARANI e
0,9 LCH4/gSVad
BUCHANAN (2015)
Lodo ETE ATHANASOULIA,
0,8 Lbiogas/g
MELIDIS e AIVASIDIS
SVrem (2014)
NARTKER et al. (2014)
766 mL/gSV
3 NGHIEM et al. (2014)
1,3 m /L de glicerol
RAZAVIARANI e
0,7 LCH4/gSVad
BUCHANAN (2015)
NAKAMURA, KISHI e
Resíduo orgânico 560 mL/g DQO
IKEGAMI (2008)
Efluente da
produção de 310 mL CH4/g DQO SILES et al. (2010)
biodiesel

37
A utilização de glicerol bruto na digestão anaeróbia de lodo de esgoto em
estações de tratamento de efluentes pode ser considerada uma perspectiva
promissora à medida que aumenta significativamente a produção de metano. No
entanto, a taxa de alimentação deve ser baixa de modo a evitar condições de
sobrecarga (ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS, 2014).

2.2.2.2 Misturas Ternárias com Glicerol

A utilização de glicerol bruto como cosubstrato em misturas contendo dois


substratos também tem sido descrita na literatura, embora em menor número quando
comparada às misturas binárias, já que é necessário maior controle na concentração
dos compostos orgânicos de entrada do sistema para evitar casos de sobrecarga
mesmo com baixas doses de glicerol.
FOUNTOULAKIS e MANIOS (2009) utilizaram reatores para o tratamento da
fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos codigeridos com efluentes de
matadouros e de indústrias de fabricação de azeite. Foram produzidos 1400 e 2094
mL de CH4/dia na ausência e na presença de glicerol, respectivamente.
A suplementação de 6% de glicerina em estrume de suínos e silagem de milho
investigada por AMON et al. (2006) resultou em um aumento significativo na produção
de CH4 de 569 para 679 NL CH4/kg VS. Para ALVAREZ; OTERO e LEMA (2010), o
maior potencial de biodegradação (321 L CH4/kgDQO) foi alcançado nos experimentos
em batelada quando 11% de glicerol bruto foi adicionado à uma mistura composta de
84 % estrume de suíno e 5% de resíduos de peixe, enquanto que a maior taxa de
produção de metano (16,4L CH4/kgDQO.dia-1) foi obtida por uma mistura contendo
88% esterco suíno, 4% resíduos de peixe e 8% de glicerol. A Tabela 2.13 apresenta
valores médios da produção de biogás pela codigestão de misturas ternárias com
glicerol relatadas na literatura.

38
Tabela 2.13. Produção de biogás pela codigestão de misturas ternárias com glicerol.
Produção de
Substrato Referência
Biogás
Fração orgânica dos
resíduos sólidos urbanos + FOUNTOULAKIS e
2094 mL CH4/dia
efluentes de matadouros e MANIOS (2009)
fabricação de azeite
Esterco suíno + silagem de 679 NL
AMON et al. (2006)
milho CH4/kgVS
Esterco suíno + resíduos de 321 NL ALVAREZ, OTERO
peixe CH4/kgDQO e LEMA (2010)
Esterco suíno + resíduos de 16,4 L ALVAREZ, OTERO
peixe CH4/kgDQO.dia-1 e LEMA (2010)

Os resultados citados demonstram que o glicerol pode ser aplicado


vantajosamente, mas uma estratégia de controle rigoroso também é necessária para
regular a quantidade adicionada, devido ao risco de sobrecarga orgânica, já que vários
substratos com elevada carga orgânica são adicionados simultaneamente (AMON et
al., 2006; FOUNTOULAKIS e MANIOS, 2009; ALVAREZ, OTERO e LEMA, 2010).
Dessa forma, a codigestão de mistura ternária com lodo de esgoto, resíduo orgânico e
glicerol também podem se apresentar como técnica de tratamento de três resíduos de
elevados potenciais poluidores, com possibilidade de aproveitamento energético do
metano produzido.

39
3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização dos Substratos

Os substratos utilizados no presente trabalho consistiram de lodo de estação de


tratamento de esgoto (lodo de ETE), resíduo orgânico (RO) de restaurante
universitário e glicerol bruto (GL) proveniente da produção de biodiesel. Lodo de
esgoto digerido foi utilizado como inóculo nos experimentos. Todas as amostras foram
armazenadas a 4ºC antes do uso e submetidas à caracterização química.
O glicerol bruto (cuja origem é 40% gordura animal e 60% óleo vegetal de soja)
foi fornecido por uma usina de produção de biodiesel da Petrobras. A caracterização
química do glicerol bruto foi realizada pelo Laboratório de Biocombustíveis – LABIO,
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC.
O lodo primário foi proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto da Penha,
da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), localizada no município do Rio
de Janeiro. O lodo digerido utilizado como inóculo foi coletado de um digestor
anaeróbio.
Os resíduos orgânicos foram coletados do Restaurante Universitário (RU) –
unidade central, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, localizado no
campus cidade universitária, no município do Rio de Janeiro. Durante uma semana
foram coletados, diariamente, 10 kg de resíduos orgânicos e submetidos ao
quarteamento, até uma amostra final de 2,5 kg. (Figura 3.1).
Após cada caracterização, as amostras foram cortadas, trituradas em
processador (Philips Walita RI7630) com objetivo de aumentar a superfície de contato
para ação dos microrganismos (LESTEUR et al., 2010) e armazenadas no freezer até
a finalização de todas as caracterizações.

Figura 3.1 Esquema geral das etapas de quarteamento e processamento das amostras
de resíduos utilizados nos ensaios.

40
Antes do processamento, cada amostra final foi separada nas seguintes frações:
(a) Carne, Peixe, Aves; (b) Frutas, verduras, legumes e cascas; (c) Cereais e Grãos e
(d) Outros (adaptado de CHEN et al., 2006 e KIM, NAM e SHIN, 2011).
Após a conclusão da fase de caracterizações, todas as amostras foram
misturadas e uma solução mãe foi preparada. O resíduo orgânico foi diluído com água
destilada, misturado em liquidificador (Philips Walita RI7630), sendo obtida uma
solução mãe com concentração final de cerca de 135 gSV/L (adaptado NTAIKOU,
ANTONOPOULOU e LYBERATOS, 2010).
Com o objetivo de padronizar a concentração de substratos para todos os
ensaios e manter uma relação inóculo-substrato de 2:1, com base nos sólidos voláteis
(SV) (JENSEN et al., 2014; NARTKER et al., 2014), foram realizadas diluições no
inóculo e nos substratos (glicerol, lodo primário e resíduo orgânico). O glicerol foi
diluído cerca de 6 vezes e uma nova solução contendo 150 gSV/L foi armazenada
(adaptado de ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS, 2014). O lodo primário e a
solução mãe de resíduo orgânico foram diluídos para uma concentração final de 10
gSV/L, conforme sugerido por ALIBARDI e COSSU (2015).

3.2 Procedimentos Experimentais

Para estudo da codigestão de glicerol com lodo de esgoto e resíduo orgânico foi
utilizado o Ensaio do Potencial Bioquímico de Metano – Ensaio BMP (HANSEN et al.,
2004). Os ensaios foram realizados em duas etapas: ensaios com mistura binária e
ensaio com mistura ternária. Para mistura binária, foram realizados dois experimentos,
o primeiro contendo lodo primário (LP) e glicerol (GL), e o segundo com resíduo
orgânico (RO) e glicerol (GL).
Os ensaios em mistura ternária, por sua vez, consistiram na mistura de lodo
primário e resíduo orgânico (LP+RO), à qual foram adicionados diferentes volumes de
glicerol (GL). Para todos os ensaios foram utilizados os respectivos controles contendo
apenas lodo primário (LP) e resíduo orgânico (RO) (no caso de misturas binárias) e a
mistura entre esses últimos (LP+RO) (no caso de mistura ternária). Todas as amostras
foram analisadas em triplicata. A Tabela 3.1 apresenta o detalhamento das etapas,
substratos e amostras utilizadas nos ensaios BMP.

41
Tabela 3.1. Detalhamento das etapas, substratos e amostras utilizadas nos ensaios
BMP.
Etapas Substratos Amostras
LP.GL1%
Lodo Primário e
LP.GL3%
Glicerol
LP
Mistura Binária
RO.GL1%
Resíduo Orgânico e
RO.GL3%
Glicerol
RO
Lodo Primário, (LP+RO)GL1%
Mistura Ternária Resíduo Orgânico e (LP+RO)GL3%
Glicerol (LP+RO)

Assim como o lodo primário, a solução mãe de resíduo orgânico e o glicerol


foram diluídos para uma concentração final de 10 gSV/L, a mistura de lodo e resíduo
(LP+RO) consistiu na adição de volume iguais de cada substrato para também obter
uma concentração final de 10 gSV/L. Sendo assim, todas as amostras (LP), (RO) e
(LP+RO) apresentaram a mesma carga inicial, o que possibilita a comparação da
geração de biogás em relação às diferenças na composição química –
macromolecular e elementar – sem restringir apenas ao volume de carga total.
Foram utilizados frascos de vidro com volume total de 250 mL, sendo 100 mL de
headspace e volume de trabalho de 150 mL. Foi utilizado 100 mL de inóculo e o
volume total de substratos adicionados foi de 50 mL, de modo a obter a relação 2:1
inóculo-substrato também em relação ao volume (RAPOSO et al., 2011).
As concentrações de glicerol estudadas foram de 1 e 3% (v/v), dentro da faixa
proposta por NGHIEM et al. (2014). Na Figura 3.2 estão detalhados os volumes de
substratos e cosubstrato (GL) utilizados em cada ensaio.

42
Headspace
100 mL

Volume
Volume de
Total do
inóculo
Frasco
100 mL
250 mL
Volume de
1% glicerol (v/v): 0,5 mL GL+ 49,5 mL de LP ou RO
Trabalho Mistura
3% glicerol (v/v): 1,5 mL GL+ 48,5 mL de LP ou RO
150 mL Volume de Binária
Controle: 50 mL de LP ou RO
substratos
1% glicerol (v/v): 0,5 mL GL+ 49,5 mL de (LP+RO)
50 mL Mistura
3% glicerol (v/v): 1,5 mL GL+ 48,5 mL de (LP+RO)
Ternária
Controle: 50 mL de (LP+RO)
Figura 3.2. Detalhamento dos volumes de trabalho, inóculo e substratos utilizados nos
experimentos

Os frascos de vidro de 250 mL foram fechados com tampas de nylon acopladas


com manômetros de 1 kgf/cm2 e válvulas para injeção de N2 e saída do biogás
(ALVES, 2008). Todos os frascos contendo inóculo e diferentes substratos foram
submetidos a fluxo de N2 (pureza de 99,9%) durante 2 min, em seguida incubados a
37ºC, com agitação de 150 rpm.
A duração de cada ensaio foi de 20 dias e, durante esse período, as pressões de
cada frasco foram monitoradas diariamente. Com base nos valores das pressões,
foram obtidos os valores de biogás acumulado (NmL) e taxa de geração diária
(NmL/dia) nas Condições Normais de Temperatura e Pressão – CNTP.
O biogás foi coletado para análise da concentração (%) de metano (CH 4) através
de cromatografia gasosa (CG). A coleta das amostras foi realizada no primeiro e no
quinto dia e, posteriormente, a cada 5 dias, até o 20º dia (totalizando 5 coletas por
frasco), por meio de um sistema de seringas de 20 mL acopladas com torneiras de
três vias (Figura 3.3).

43
Figura 3.3. Detalhamento do aparato utilizado para coleta do biogás no ensaios
BMP.

3.3 Métodos Analíticos

As análises de Sólidos Totais (ST), Sólidos Voláteis (SV), Sólidos Suspensos


Voláteis (SSV), Demanda Química de Oxigênio (DQO), Carbono Orgânico Total
(COT), Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK), amônia total (Nessler), fósforo total, pH,
alcalinidade e ácidos graxos voláteis foram mensuradas de acordo com Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005). Os carboidratos
foram analisados utilizando o método Dubois (DUBOIS et al., 1956), utilizando glicose
como padrão. O nitrogênio orgânico foi calculada pela diferença entre o NTK e o
nitrogênio amoniacal. A proteína total foi estimada através da multiplicação nitrogênio
orgânico pelo fator 6,25 (HATTINGH, THIEL E SIEBERT, 1967).
As análises foram realizadas no Laboratório de Controle de Poluição das Águas
– LABPOL da UFRJ e também pelo Laboratório de Saneamento – LABSAN da
Universidade de São Paulo-USP. A Tabela 3.2 sumariza todos os parâmetros
analisados e os respectivos métodos utilizados.

44
Tabela 3.2 Parâmetros referentes à caracterização química das amostras
Parâmetro Unidade Método Referência
Ácidos graxos voláteis mg
Titulométrico SMEWW* 5560 C
(AGV CH3COOH/L
Alcalinidade mg CaCO3/L Titulométrico SMEWW* 2320 B
Amônia mg/L Espectrofotométrico SMEWW* 4500 - NH3 C
Carboidratos Totais mg/L Espectrofotométrico DUBOIS et al., 1956
Demanda Química de
mg/L Espectrofotométrico SMEWW* 5220 C
Oxigênio (DQO)
Fósforo Total mg/L Espectrofotométrico SMEWW* 4500-P C
Pirólise e detecção
Nitrogênio total mg/L por SMEWW* 4500-NTK B
quimiluminescência
pH -- Potenciométrico SMEWW* 4500 B
SMEWW* 2540 B,
Série de Sólidos mg/L Gravimétrico
2540 C, 2540 D.
* Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater

As concentrações de CH4 no biogás foram analisadas por cromatografia gasosa


através de Micro CG (Varian CP 4900), acoplado com coluna PPQ (10 mesh),
utilizando hélio como gás de arraste, e realizadas no Laboratório de Tecnologia
Ambiental da Escola de Química da UFRJ. No Anexo I estão detalhadas as áreas dos
picos dos gases obtidos pelas análises de cromatografia.
Nenhum ajuste de pH e alcalinidade foi realizado, considerando a capacidade
tampão do lodo de esgoto e também para verificar o comportamento do processo sem
qualquer interferência química. Nenhum meio mineral foi adicionado à mistura com a
hipótese de que a falta de micronutrientes e oligoelementos é compensada pelo
inóculo (CABBAI et al., 2013). Controles foram utilizados para obter a produção de
biogás residual do inóculo.

3.4 Análise de dados

Para os cálculos da geração de biogás através do ensaio do potencial


bioquímico de metano (ensaio BMP), foram necessários dados de pressão
atmosférica, obtidos no site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
(www.inmet.gov.br). As leituras das pressões e temperaturas diárias de cada frasco,
bem como das pressões e temperaturas atmosféricas permitiram a obtenção do
volume de biogás gerado nos frascos do ensaio BMP, calculado conforme as Equação
3.1aEquação 3.4 (HARRIES C. R., CROSS CJ e SMITH, 2001):

45
Equação 3.1 Volume de Biogás gerado entre T e T+1

Onde:
T: Tempo (dias)
PF (mbar): Pressão do Frasco em milibar
VUF (L): Volume Útil do Frasco em litros
TF (K): Temperatura do Frasco em Kelvin

Equação 3.2 Volume de Biogás Acumulado (mL)

Onde:
T: Tempo (dias)
VGA(mL): Volume de biogás acumulado do dia anterior em mililitros

Equação 3.3 Volume de Biogás Acumulado CNTP (NmL)

Onde:
TF (K): Temperatura do Frasco em Kelvin
Patm (mbar): Pressão Atmosférica em milibar

Equação 3.4 Taxa de Geração de Biogás (NmL/dia)

Dessa forma, o volume de biogás acumulado (mL) foi calculado e corrigido para
as Condições Normais de Temperatura e Pressão – CNTP, sendo então obtido o
volume de biogás em NmL. Este último, associado aos dias corridos, forneceu a taxa
de geração média de biogás (NmL/dia).
Para avaliar o desempenho do processo de codigestão, foram analisadas a
eficiência de remoção de sólidos voláteis (SV), uma vez que durante a digestão
anaeróbia os sólidos voláteis são convertidos a biogás (ATHANASOULIA, MELIDIS e

46
AIVASIDIS, 2014). Os percentuais de remoção de SV foram calculados com base nas
análises do conteúdo SV dos reatores antes e depois dos testes de codigestão (LI et
al., 2013b), confome Equação 3.5.

Equação 3.5 Percentual de remoção de sólidos voláteis

Onde:
SVi = total de sólidos voláteis no início do ensaio
SVf = total de sólidos voláteis no final do ensaio

47
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização dos Substratos

Todos os substratos utilizados na pesquisa (resíduo orgânico, lodo de ETE e


glicerol) foram previamente caracterizados. Os resíduos orgânicos foram submetidos à
caracterização gravimétrica e separados por frações: frutas e hortaliças (verduras e
legumes); grãos (leguminosas e cereais); carnes, aves e peixes; e outros (Figura 4.1)
para posterior caracterização química, já que as frações que compõem os resíduos
afetam diretamente a composição química macromolecular (teor de carboidratos,
proteínas, lipídeos) e elementar.
A Figura 4.1 ilustra as quantidades das frações encontradas nos resíduos
orgânicos (percentual em peso úmido) do restaurante universitário da UFRJ.

Figura 4.1. Caracterização gravimétrica dos resíduos orgânicos utilizados como


.substrato.

Foi observado que o maior percentual (57,4%) é atribuído à categoria de frutas e


hortaliças, seguida de restos de carnes, aves e peixes (26,3%), grãos (13,5%) e outros
elementos que não foram passíveis de identificação (2,7%).
Vale salientar que a fração de carnes e aves foi constituída, em grande parte,
pela gordura animal, seja como resíduo descartado pela cozinha do restaurante
durante o preparo dos alimentos, ou proveniente do resto das refeições. Tal fato é
corroborado por estudos realizados por GARCÍA et al. (2005) com resíduos de carne,
os quais foram constituídos por cerca de 70% de gorduras animais. Em contrapartida,
o percentual de carne sem gordura presente no resíduo também contribuiu para o alto
teor de proteína de 24%.
Para simular os resíduos de um restaurante universitário da Universidade do
Minho, Portugal, NEVES et al. (2008) utilizaram como componentes principais gordura

48
de carne de porco, seguida de couve branca, peito de frango e flocos de batata, para
representar lipídios, celulose, proteínas e carboidratos, respectivamente.
CABBAI et al. (2013) estudaram diferentes categorias de resíduos orgânicos
(padaria, supermercados, cantinas e restaurantes, frutas e vegetais e domésticos)
para avaliar o potencial de geração de biogás. Resíduos de cantinas e restaurantes
estiveram entre os mais heterogêneos, com cascas de vegetais, arroz, massas, pão e
carnes, entre outros.
Embora os trabalhos relatem a presença de diferentes frações nos resíduos de
restaurantes, não há valores percentuais relacionados à caracterização gravimétrica
que permitam a quantificação separada das frações. Em geral, os autores relataram
diretamente a caracterização química, na qual foram detalhadas a composição
macromolecular e/ou elementar. A composição macromolecular ou bioquímica
(carboidratos, proteínas, lipídeos) fornece dados quantitativos e qualitativos acerca do
material orgânico presente no resíduo passível de transformações bioquímicas para
geração de biogás através da digestão anaeróbia.
Segundo IACOVIDOU et al. (2012), carne, peixe, ovos e queijo são ricos em
proteínas e lipídeos, pão, batata e farinha são ricos em carboidratos, e legumes
frescos apresentam em sua composição carboidratos e proteínas (Tabela 4.1).
O percentual destes componentes pode variar amplamente, dependendo da
origem da matéria prima e/ou forma de cultivo. BELITZ, GROSCH e SCHIEBERLE
(2009) reportaram que, geralmente, vegetais são ricos em carboidratos, mas alguns -
como cogumelos, espinafre e brócolis - são ricos em proteínas. Frutas são ricas em
carboidratos, estando lipídeos e proteínas presentes em pequenas quantidades.
Os teores de carboidratos, lipídeos e proteínas, por sua vez, refletem na
composição elementar, isto é, no percentual de carbono, nitrogênio, enxofre, por
exemplo, conforme apresentado por STRAKA et al. (2007) (Tabela 4.2).

49
Tabela 4.1. Percentuais de diferentes componentes presentes em resíduos
alimentares relatados na literatura (% peso seco).
Resíduo Carboidratos Proteínas Lipídeos Referências
Carne e osso <1 70-75 23-30 STRAKA et al.(2007)

Ovo (incluindo BELITZ, GROSCH e


2 35 32 SCHIEBERLE (2009)
casca)

Peixe - 75,6 20,2 LU et al. (2009)


Leite em pó BELITZ, GROSCH e
37,7 26,5 27,4 SCHIEBERLE (2009)
integral
Leite BELITZ, GROSCH e
53 36 - SCHIEBERLE (2009)
desnatado
BELITZ, GROSCH e
Queijo - 25-35 20-45 SCHIEBERLE (2009)
BELITZ, GROSCH e
Legumesa 46-74 23-29 1,3-5 SCHIEBERLE (2009)
b
Vegetais
27,1 26,9 1,4 CARUCCI et al. (2005)
frescos
Frutas 83 4 2 CHRIST et al., 2000)

Pão 84 14 2 STRAKA et al. (2007)

Batata 99 1 <1 STRAKA et al. (2007)

BELITZ, GROSCH e
Arroz 76,3 7,4 0,8-2,4 SCHIEBERLE (2009)

Farinha 70 12 <1 STRAKA et al.(2007)


a
Excluindo soja, que é composta por 41% de proteína, 19,6% de lipídeo e 31,6% de
carboidratos. bPrincipalmente espinafre.
Fonte: Iacovidou et al. (2012).

Tabela 4.2. Composição química de carboidratos, proteínas e lipídeos (%peso).


C H N O S
Carboidratos 40 7 - 53 -
Proteínas
s 46 5 18,5 30 0,5
Lipídeos 76 12 - 12 -
Fonte: STRAKA et al. (2007)

Os resultados da caracterização química dos resíduos orgânicos provenientes


do restaurante universitário da UFRJ utilizados no presente trabalho estão descritos na
Tabela 4.3.

50
Tabela 4.3. Caracterização química dos resíduos orgânicos do restaurante
universitário utilizados como substrato.
Parâmetros Resíduo Orgânico
DQO (g/L) 93,9 1±0,01
ST (g/L) 140,3 ±3,87
SV (g/L) 135,9 ±0,09
SV (%) 96,9
pH 4,05
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 2310
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) <L.d.
P-Total (mg P/L) 939,1 ±4,7
N-NH4 (mg N/L) 200,7 ±1,27
NTK (mg N/L) 4210
Norg (mg N/L) 4009,3
Carboidratos (%SV) 43,5
Proteínas (%SV) 18,4
C (gC/L) 74,7
C (%) 53,3
N (%) 2,95
C/N 18
n.a. = não analisado. L.d. = limite de detecção.

Entre os parâmetros analisados, a obtenção do valor do carbono (C) foi realizada


conforme sugerido por LOURENÇO (2010), que considera que para estimar a correta
relação carbono/nitrogênio (C/N) dos materiais, deverá ser assumido o carbono
proveniente dos sólidos voláteis (SV). O autor afirma que para a grande maioria dos
compostos de origem biológica, o conteúdo em carbono representa de 45 a 60% da
fração de sólidos voláteis (SV). Para tanto, assumiu-se o percentual de 55%, de modo
que o teor de carbono foi obtido multiplicando-se o valor de SV por 0,55.
O teor de umidade dos resíduos foi obtido após a finalização das caracterizações
diárias, com o valor médio de 72,6%, dentro da faixa de 60,4 a 82% reportada por
outros autores (MORIN et al., 2003; GARCÍA et al., 2005; ZHANG et al., 2007; NEVES
et al., 2008; CABBAI et al., 2013; LI et al., 2013b)
O pH ácido (4,05) (Tabela 4.3) também está situado entre os valores reportados
na literatura, que variam de 4 a 4,6 (CABBAI et al., 2013; ELBESHBISHY, NAKHLA e
HAFEZ, 2012; LI et al., 2013a; MORIN et al., 2003). Este valor é característico dos
resíduos orgânicos recém-gerados, enquanto valores de pH mais elevados são
indicativos do processo de decomposição mais avançado.
O resultado de SV para os resíduos do restaurante da UFRJ foi de 96,9%
(Tabela 4.3), acima da faixa média citada por outros autores para resíduos de
restaurante, de 85,3 a 93,3% (CABBAI et al., 2013; CHENG et al., 2016; DE CLERCQ

51
et al., 2016; LI et al., 2013a; NEVES et al., 2008). A Tabela 4.4 sumariza os valores
médios de alguns parâmetros físico-químicos identificados por diferentes autores em
estudos com resíduos de restaurantes.
Em relação à composição macromolecular, que incluiu o teor de carboidratos
(43,5%) e proteínas (18,4%) (Tabela 4.3), os resultados se apresentaram dentro dos
valores citados por CABBAI et al. (2013) em experimentos com resíduos de
restaurante, os quais obtiveram 42,5% e 20,5% para carboidratos e proteínas,
respectivamente.

Tabela 4.4. Caracterização físico-química dos resíduos orgânicos provenientes de


restaurantes citada na literatura.
Parâmetro Valor/Unidade Referências
Umidade (%) 76,2 NEVES et al. (2008)
70(%) CABBAI et al. (2013)
73,7 (%) LI et al. (2013)
82(%) MORIN et al. (2003)
60,4 (%) GARCÍA et al. (2005)
69,1(%) ZHANG et al. (2007)
pH 4,00 CABBAI et al. (2013)
4,7 LI et al. (2013)
4,6 MORIN et al. (2003)
4,6 ELBESHBISHY, NAKHLA, HAFEZ
(2012)
DQO 327 (mg/g) NEVES et al. (2008)
1400 (mg/g) ZEIG et al. (1990)
113 (g/L) ELBESHBISHY, NAKHLA, HAFEZ
(2012)
SV 89,9(%) NEVES et al. (2008)
92(%) ZEIG et al. (1990)
93,3 (%) CABBAI et al. (2013)
86,3(%) LI et al. (2013)
90,84(%) CHENG et al. (2016)
85,6(%) GARCÍA et al. (2005)
85,3(%) DE CLERCQ et al.(2016)
AGV 8,4 (g/L) LI et al. (2013)
NTK 13 (mgN/g) NEVES et al. (2008)
1318 (mgN/L) CABBAI et al. (2013)
N-NH4 169,3 CABBAI et al. (2013)
P Total 0,36 (%ST) CABBAI et al. (2013)

Para o teor de carbono (53,3%) (Tabela 4.3), o resultado foi bem próximo ao
encontrado por (LI et al., 2013a), que através de estudos similares, relataram o teor de
52,9%. A Tabela 4.5 apresenta a média dos valores apresentados na literatura para a
composição macromolecular e elementar dos resíduos de restaurantes.

52
Tabela 4.5. Caracterização macromolecular e elementar dos resíduos orgânicos
provenientes de restaurantes conforme dados da literatura.
Parâmetros Valor/Unidade Referências
Carboidratos totais 42,5 (% g/gSV) CABBAI et al. (2013)
78.2 (%MS) REDONDAS et al. (2012)
63,9 YAN et al. (2011)
Proteínas 20,5 (% g/gSV) CABBAI et al. (2013)
16,9 (%MS) REDONDAS et al. (2012)
21,3 (%MS) YAN et al. (2011)
16,2 (%ST) LI et al. (2013)
31,35(%Peso úmido) CHENG et al. (2016)
27,5 (%Peso seco) GARCÍA et al. (2005)
Lipídeos 18,67 (% g/gSV) CABBAI et al. (2013)
4.9 (%MS) REDONDAS et al. (2012)
12,4 (%MS) YAN et al. (2011)
0,4 (%ST) LI et al. (2013)
30,54(%Peso úmido) CHENG et al. (2016)
C 49,20 (%ST) CABBAI et al. (2013)
52,9 (%) LI et al. (2013)
50,50 (%Peso úmido) CHENG et al. (2016)
50 MORIN et al. (2003)
46,48 (%Peso seco) ZHANG et al. (2007)
47,6(%MM) DE CLERCQ et al. (2016)
N 26,9 (%Peso seco) GARCÍA et al. (2005)
3,16 (%Peso seco) ZHANG et al. (2007)
3,44(%MM) DE CLERCQ et al.(2016)
Relação C/N 15,1 CABBAI et al. (2013)
20,3 CHENG et al. (2016)
22,8 MORIN et al. (2003)
14,8 ZHANG et al. (2007)

Os teores de carbono e nitrogênio refletiram na relação C/N de 18 (Tabela 4.3),


considerada também dentro da faixa de 14,8 a 22,8 reportada por outros autores
(CABBAI et al., 2013; CHENG et al., 2016; MORIN et al., 2003; ZHANG et al., 2007).
A caracterização química do lodo primário utilizado no presente trabalho como
substrato para codigestão de resíduos está detalhada na Tabela 4.6.

53
Tabela 4.6. Caracterização química do lodo primário utilizado como substrato.
Parâmetros Lodo Primário
DQO (g/L) 38,7 ±0,1
DOC (mg/L) 334,4
ST (g/L) 41,1 ±1,0
SV (g/L) 22,3 ±0,6
SV (%) 54,2
SSV (g/L) 21,7 ±0,9
pH 6,52
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 2
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 960
em análise
P-Total (mg P/L) 15,2 ±0,1
N-NH4 (mg N/L) 83,7 ±0,4 ou
NTK (mg N/L) 476
Norg (mg N/L) 392,3
em análise
Carboidratos (%SV) 28,4
Proteínas (%SV) 11
em análise
C (%SV) 29,8
N (%SV) em 1,75
análise
C/N 17

O lodo primário, constituído pelos sólidos em suspensão removidos do esgoto


bruto no decantador primário, também pode apresentar algumas variações quanto às
suas características químicas. Em relação à composição macromolecular (Tabela 4.6),
o teor obtido para carboidratos (28,4%) apresentou-se acima dos 16% encontrado por
TANDUKAR e PAVLOSTATHIS (2015). Para as proteínas, o valor foi abaixo da faixa
citada por BATISTA (2015) para lodos brutos, de 20 a 30%. Entretanto, o teor de
nitrogênio (1,75%) mostrou-se dentro da faixa observada pelo mesmo autor, de 1,5 a
4,0%.
A relação C/N para o lodo primário (17) (Tabela 4.6) foi menor do que a do
resíduo orgânico (18) (Tabela 4.3), conforme o esperado em função da composição
dos materiais de origem. Os resíduos orgânicos apresentam maiores teores de
carbono que os lodos, e estes, por sua vez, um teor de nitrogênio proporcionalmente
maior em relação ao carbono. Demais parâmetros da caracterização química do lodo
primário encontrados por outros autores estão apresentado na Tabela 4.7.

54
Tabela 4.7. Caracterização química média para lodo primário relatada na literatura.
Parâmetros Valor/Unidade Referências
ELBESHBISHY, NAKHLA,
42,8 (g/L)
HAFEZ (2012)
DQO
TANDUKAR E
56,9 (g/L)
PAVLOSTATHIS (2015)
Umidade 92-98(%) BATISTA (2015)
60-80 (%) BATISTA (2015)
SV TANDUKAR E
77(%)
PAVLOSTATHIS (2015)
ELBESHBISHY, NAKHLA,
SSV 20 (g/L) HAFEZ (2012)
5-8 BATISTA (2015)
ELBESHBISHY, NAKHLA,
5
HAFEZ (2012)
pH TANDUKAR E
5,6
PAVLOSTATHIS (2015)
7,24 NARTKER et al. (2014)
2-200(mg HAc/L) BATISTA (2015)
ELBESHBISHY, NAKHLA,
Ácidos Voláteis - AV 1,7 (gDQO/L)
HAFEZ (2012)
TANDUKAR E
1,9 (gDQO/L)
PAVLOSTATHIS (2015)
500-1500(mgCaCO3/L) BATISTA (2015)
ELBESHBISHY, NAKHLA,
Alcalinidade Total - AT 2900 (mgCaCO3/L) HAFEZ (2012)
1,9 (g/L) NARTKER et al. (2014)
0,8-2,8 (%ST) BATISTA (2015)
P-Total (mg P/L) TANDUKAR E
2,8 (%ST)
PAVLOSTATHIS (2015)
ELBESHBISHY, NAKHLA,
80 (mgN/L) HAFEZ (2012)
N-NH4
TANDUKAR E
61 (mgN/L)
PAVLOSTATHIS (2015)
TANDUKAR E
NTK 1878 (mg N/L) PAVLOSTATHIS (2015)
8-15 (%celulose) BATISTA (2015)
Carboidratos TANDUKAR E
16%*
PAVLOSTATHIS (2015)
20-30 (%ST) BATISTA (2015)
Proteínas TANDUKAR E
37,4 (%ST)
PAVLOSTATHIS (2015)
TANDUKAR E
Lipídeos 24,6 (%ST)
PAVLOSTATHIS (2015)
N 1,5-4,0 (%ST) BATISTA (2015)
*expresso em glicose

A caracterização química do glicerol bruto utilizado no presente trabalho como


cosubstrato para codigestão de resíduos está detalhada na Tabela 4.8. Os resultados
encontrados também estão dentro dos valores médios anteriormente reportados para

55
DQO (912 a 1760 g/L) (JENSEN et al., 2014; PANPONG et al., 2014), SV (72,1 a
99,8%) (BABA et al., 2013; SILVESTRE, FERNÁNDEZ e BONMATÍ, 2015;
WATANABE et al., 2013), pH (5 a 12,6) (FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS,
2010; SILVESTRE; FERNÁNDEZ e BONMATÍ, 2015) e teor de glicerol puro (40 a
80%) (NARTKER et al., 2014; NGHIEM et al., 2014).

Tabela 4.8. Caracterização química do glicerol bruto utilizado nos experimentos.


Parâmetros Glicerol Bruto
Glicerol (%) 70%
pH 6,35
DQO 1023 g/L
Teor de água (%) 16,36
Teor de cinzas (%) 4,76
Cloretos (mg/l) 289,64
ST (kg/L) 1000,78
SV (kg/L) 947,79
SV (%) 94,78

De modo geral, os parâmetros da caracterização química dos substratos


(resíduos orgânicos, lodo de ETE e glicerol) estiveram dentro das médias relatadas na
literatura, indicando a viabilidade da utilização desses substratos para os experimentos
de codigestão e avaliação do potencial de geração de metano.

4.2 Mistura Binária com Lodo de ETE e Glicerol

4.2.1 Caracterização Química

As amostras do ensaio de codigestão de lodo de ETE (lodo primário – LP) com


glicerol foram caracterizadas quimicamente no início e no final do experimento,
quando foram analisados parâmetros relacionados à carga (demanda química de
oxigênio - DQO, sólidos totais - ST, sólidos voláteis - SV), estabilidade da digestão
anaeróbia (pH, alcalinidade, ácidos voláteis), além da composição elementar.
Os resultados referentes às caracterizações químicas das amostras iniciais e
finais estão apresentados nas Tabelas 4.9 e 4.10, respectivamente. A amostra LP
(controle) representa o lodo primário apenas com adição de inóculo e as amostras
LP.GL1% e LP.GL3% representam, respectivamente, as amostras com adição de 1 e
3% de glicerol.

56
Tabela 4.9. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
binária com lodo de ETE e glicerol.
Início do Ensaio
Parâmetros LP LP.GL1% LP.GL3%
DQO (g/L) 22,4 ±0,65 23,8 ±0,17 27,9 ±0,28
ST (g/L) 31,1 ±0,13 32,5 ±1,26 34,1 ±0,45
SV (g/L) 15,1 ±0,21 17,2 ±0,80 19,5 ±0,35
SV (%) 48,5 52,9 57,2
Ph 7,44 7,55 7,48
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 27 27 36
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 564 645 782
AV/AT 0,05 0,04 0,05
P-Total (mg P/L) 11,1 ±0,05 17,0 ±0,72 19,0 ±0,14
N-NH4 (mg N/L) 28,9 ±0,02 121,1 ±0,05 230,6 ±0,05
NTK (mg N/L) 469 476 586
Norg (mg N/L) 440,1 354,9 355,4
C (%) 26,7 29,1 31,5
N (%) 2,6 2,1 1,8
C/N 9,2 14,1 17,3

Tabela 4.10. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura


binária com lodo de ETE e glicerol.
Final do Ensaio
Parâmetros LP LP.GL1% LP.GL3%
DQO (g/L) 20,6 ±0,04 22,3 ±0,03 25,8 ±0,08
ST (g/L) 29,8 ± 1,49 30,8 ±0,43 33,9±1,14
SV (g/L) 11,7 ±0,27 14,6 ±0,09 17,4 ±0,46
SV (%) 39,3 47,4 51,3
Ph 7,24 7,16 7,02
Ácidos Voláteis – AV (mg CaCO3/L) 25 51 60
Alcalinidade Total – AT (mg CaCO3/L) 798 972 1098
AV/AT 0,03 0,05 0,06
P-Total (mg P/L) 9,7 ±0,14 13,8 ±1,01 18,5 ±0,05
N-NH4 (mg N/L) 75,5 ±0,02 135,6 ±0,03 212,1 ±0,06
NTK (mg N/L) 476 476 531
Norg (mg N/L) 400,5 340,4 318,9
C (%) 23,3 26,1 28,2
N (%) 3,4 2,3 1,8
C/N 6,8 11,3 15,7

De acordo com dados de DQO e SV (Tabela 4.9) e considerando 20 dias de


duração do teste para cada amostra, as cargas iniciais para as amostras LP, LP.GL1%
e LP.GL3% foram, respectivamente, 1,37, 1,69 e 1,89 gDQO/L.dia-1, e 0,75, 0,86 e
1,14 gSV/Ldia-1. O pH inicial foi de 7,44, 7,55 e 7,48, respectivamente, para LP,

57
LP.GL1% e LP.GL3% (Tabela 4.9) e não apresentou diferença com a adição de
glicerol.
Os valores de todas as amostras estiveram dentro das faixas consideradas
ideais para a digestão anaeróbia. A literatura reporta que a metanogênese em digestor
anaeróbio ocorre de forma eficiente no pH de 6,5 a 8,2, enquanto que a para a
hidrólise e acidogênese a faixa ideal de pH é entre 5,5 a 6,5 (KIM, HAN e SHIN, 2003;
LEE et al., 2009; KHALID et al., 2011). NARTKER et al. (2014) em estudos com
codigestão de lodo de esgoto e glicerol, reportaram o pH médio de 7,34 para o início
dos experimentos.
No final do ensaio (Tabela 4.10), houve diminuição do pH para todas as
amostras quando comparado com os valores iniciais. Em contrapartida, os valores de
7,24, 7,16 e 7,02 obtidos, respectivamente, pelas amostras LP, LP.GL1% e LP.GL3%,
se apresentaram dentro da faixa ótima de 6,6 a 7,8 reportada por Razaviarani et al.
(2013) para processo anaeróbio estabilizado.
Nos estudos desenvolvidos por JENSEN et al. (2014) também ocorreram
mudanças de pH por apenas 0,1 unidades, mesmo com a dose mais alta de glicerol,
indicando que a capacidade de tamponamento é suficiente para absorver os ácidos
adicionais produzidos durante a codigestão com glicerol. No entanto, em estudos de
codigestão de lodo de esgoto e glicerol, NARTKER et al. (2014) relataram diminuição
do pH, de 7,12 para 5,98, do início ao fim dos ensaios BMP.
A relação ácidos voláteis/alcalinidade (AV/AT) para todas as amostras, no início
e no final do experimento (Tabelas 4.9 e 4.10) se manteve ≤ 0,40, dentro da faixa de
digestores estáveis, segundo sugerido por FONOLL et al. (2015). RAZAVIARANI et al.
(2013) realizaram experimentos com lodo de esgoto e glicerol onde a proporção de
AV/AT permaneceu abaixo de 0,03, 10 vezes mais baixa do que os valores máximos
de segurança de 0,3 relatados por SILES et al. (2010).
A relação C/N da amostra contendo apenas lodo (LP) apresentou baixo valor
inicial (9,2) (Tabela 4.9), próximo à relação C/N de 10 encontrada por SILVESTRE,
BONMATÍ e FERNÁNDEZ (2015) e ao citado por IACOVIDOU, OHANDJA e
VOULVOULIS (2012) entre 6 e 9 para lodo de esgoto. Conforme MATA-ALVAREZ et
al. (2014), o lodo de ETE é caracterizado pela relação C/N relativamente baixa e a
elevada capacidade de tampão. Portanto, se assimila bem a cosubstratos com
grandes quantidades de matéria orgânica facilmente biodegradável e com valores
baixos de alcalinidade.
O adequado balanço na relação C/N foi obtido através da adição de glicerol nas
amostras iniciais, que pode ser visto com as maiores relações C/N de 14,1 e 17,3 para
as amostras contendo 1% e 3% de glicerol, respectivamente (Tabela 4.9).

58
Alguns estudos têm sido realizados com o objetivo de otimizar a codigestão
anaeróbia com base na razão C/N. Por exemplo, WU, YAO e ZHU (2010) observaram
o melhor desempenho da codigestão anaeróbia quando uma mistura de esterco suíno
e palhas de cereais apresentou C/N de 20. PANICHNUMSIN, NOPHARATANA e
AHRING (2010) codigerindo polpa de mandioca e esterco suíno, relataram o
rendimento máximo de metano quando a matéria-prima continha uma relação C/N de
33; enquanto, ZHANG et al., (2014) encontraram uma ótima relação C/N de 16, para o
tratamento de esterco bovino e fração orgânica de resíduos sólidos.
Comparando os valores de DQO e SV iniciais (Tabela 4.9) e finais (Tabela 4.10),
é possível verificar que houve diminuição da carga ao final do experimento, o que
também refletiu na diminuição de teor de carbono (%) das referidas amostras. Os
percentuais de remoção para as amostras LP, LP.GL1% e LP.GL3% foram de,
respectivamente, 8,0% 6,3% e 7,5% para DQO e, respectivamente, de 22,5% 15,1%
10,8% para SV.
A baixa remoção dos sólidos voláteis também foi relatada por FOUNTOULAKIS,
PETOUSI e MANIOS (2010), os quais observaram que a codigestão de lodo de ETE e
glicerol não acarretou remoção de sólidos voláteis, mas aumento da concentração de
17,9 g/L no início dos experimentos para 23,7 g/L no final dos testes. Segundo os
autores é provável que a fonte de carbono orgânico adicional (adição de glicerol) tenha
aumentado o crescimento da biomassa ativa, acarretando aumento da quantidade
total de sólidos voláteis, e refletindo na alta taxa de produção de biogás.
Isto é suportado por trabalhos anteriores, nos quais o efeito de glicerol em
codigestão anaeróbia com água residuária de processamento de batata em um reator
UASB foi investigado (MA et al., 2007). Os autores encontraram uma diferença de 3 g
SV/L no reator UASB após a suplementação com glicerol.

4.2.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano

Os resultados da geração de biogás e de metano (CH 4) obtidos no ensaio de


codigestão de lodo de ETE e glicerol estão descritos na Tabela 4.11, através do
volume acumulado (NmL), da produção específica (volume acumulado por grama de
sólidos voláteis removidos – NmL/gSV), da taxa de geração máxima diária (NmL) e da
máxima produção específica por dia (NmL/gSV.dia-1) após os 20 dias de
monitoramento.

59
Tabela 4.11. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de lodo de
ETE e glicerol.
Produção de Biogás
Taxa máx. (%)
Vol.máx. Produção Taxa Max.
produção aumento
Amostra acumulado Específica geração
específica em relação
(NmL) (NmL/gSV) (NmL/dia)
(NmL/gSV.dia) ao LP*
LP 91,56 183,11 18,06 36,13 --
LP.GL1% 124,94 320,35 19,65 50,38 74,9
LP.GL3% 210,45 553,82 35,81 94,24 202,5
Produção de CH4
LP 70,13 140,26 11,81 23,63 --
LP.GL1% 84,66 238,98 13,36 34,26 70,4
LP.GL3% 149,21 392,66 12,46 32,79 179,9
*em relação à produção específica

De acordo com a Tabela 4.11, foi observado um aumento da produção de biogás


e metano das amostras LP.GL.1% e LP.GL3% quando comparados o volume
acumulado e a produção específica com a amostra controle (LP). A produção
específica de biogás foi acrescida em 74,9% e 202,5%, respectivamente, para as
amostras contendo 1 e 3% de glicerol. Em relação à produção específica de CH 4, os
aumentos foram de 70,4% e 179,9%, respectivamente, para as amostras com 1% e
3% de glicerol.
O mesmo comportamento pode ser observado com taxas máximas de geração
diária de biogás, as quais foram superiores para as amostras contendo 1 e 3% quando
comparadas à amostra controle (LP). A adição de 3% aumentou cerca de 2 vezes a
taxa máxima de geração diária (NmL/dia) (Tabela 4.11). Para ATHANASOULIA,
MELIDIS e AIVASIDIS (2014), a adição de 2% de glicerol ao lodo ativado representou
aumento de 3,9 vezes na produção diária de biogás. FOUNTOULAKIS, PETOUSI e
MANIOS (2010) e RAZAVIARANI et al. (2013) obtiveram máxima produção de biogás
durante a codigestão com adição de 1% (v/v) e 1,1% (v/v) de glicerol, mostrando um
aumento na produção diária de 113% e 87%, respectivamente.
A taxa máxima de produção específica de biogás (NmL/gSV.dia -1), obteve
acréscimo de 39,4% e 160,8%, respectivamente, para as amostras com 1% e 3% de
glicerol (Tabela 4.11). Já em relação à produção de metano, houve aumento das taxas
máximas de produção específica (NmLCH4/gSV.dia-1) das amostras com 1 e 3% de
glicerol, quando comparadas com a amostra controle (LP), com aumentos de,
respectivamente, 45% e 38,8%.
Entretanto, para a condição LP.GL3% os valores da taxa máxima de produção
específica de CH4 foram menores do que a LP.GL1%, o que pode indicar alteração no

60
comportamento da produção de metano por inibição da digestão anaeróbia, em virtude
da adição da maior quantidade de glicerol (3%).
A produção de biogás e CH4 é frequentemente expressa em mL de biogás ou
CH4 em condições normais de temperatura e pressão (CNTP), ou seja, NmL por
volume de material orgânico adicionado ou por material orgânico removido (na base
de SV ou DQO) (RAPOSO et al., 2011).
Com base nisso, as Figura 4.2 e Figura 4.3 ilustram, respectivamente, o
comportamento da geração de biogás e de metano através do volume acumulado e da
taxa de geração diária em termos da produção específica de biogás (NmL/gSV) e de
metano (NmLCH4/gSV), durante os 20 dias de monitoramento.

Figura 4.2. Comportamento da geração de biogás na codigestão de lodo de ETE e


glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de produção específica
(NmL/gSV.dia-1).

Figura 4.3. Comportamento da geração de metano (CH 4) na codigestão de lodo de ETE


e glicerol. (a) Produção específica (NmL CH4/gSV) e (b) Taxa diária de produção
específica (NmL CH4/gSV.dia-1).

61
Quando analisado o comportamento da geração de biogás (Figura 4.2) foi
observado aumento da produção específica e da taxa de geração diária das amostras
contendo 1 e 3% de glicerol, quando comparadas à amostra controle (LP), durante
todo o período do experimento.
Em contrapartida, quando analisado o comportamento da geração de CH 4
(Figura 4.3), foi constatado um período inicial de inibição na amostra contendo 3% de
glicerol (LP.GL3%), não sendo identificado teor de CH 4 através das análises de
cromatografia gasosa (CG) no primeiro e quinto dia. Tal fato pode indicar sinais de
instabilidade no processo de digestão anaeróbia devido à carga inicial dada pela
adição da maior concentração do glicerol (3%).
Por outro lado, após o período inicial de inibição, uma possível adaptação da
comunidade microbiana refletiu no crescimento gradual da produção de metano nos
dias seguintes de monitoramento (Figura 4.3). BABA et al. (2013), operando um
biodigestor em regime de escala real, identificaram que após o carregamento de
glicerol, o pH decresceu e ácido acético, propiônico e butírico foram detectados.
Embora tenha ocorrido uma provável inibição inicial no ensaio BMP, o sistema
em batelada não permitiu a coleta de amostra nesse período para análise do teor de
ácidos voláteis e verificação da estabilidade do processo. Por outro lado, a
concentração de glicerol adicionada no início do experimento foi abaixo dos valores
considerados fortemente inibidores (tais como 5 g/L) (HOLM-NIELSEN, SEADI e
OLESKOWICZ-POPIEL, 2009)
Sendo assim, é provável que tenha ocorrido a adaptação da microbiota, com
posterior produção de CH4 nos dias seguintes de monitoramento (Figura 4.3). CABBAI
et al. (2013) e JENSEN et al. (2014) relataram que em alguns casos a capacidade de
tamponamento do lodo pode ser suficiente para absorver os ácidos voláteis adicionais
produzidos durante a codigestão com glicerol.
Em estudos com lodo de ETE e glicerol, ATHANASOULIA, MELIDIS e
AIVASIDIS (2014) identificaram que a adição de 3% de glicerol acarretou aumento na
concentração de ácido propiônico. No entanto, os autores trabalharam em digestores
em série, onde houve consumo total de ácido propiônico no segundo digestor e a falha
do sistema foi evitada.
Vale salientar que relatos de inibição na produção de metano pela adição extra
de glicerol ao lodo de ETE são comuns na literatura, já que o glicerol é convertido
principalmente a 1,3-propanodiol e posteriormente a ácido propiônico, CO 2 e
hidrogênio (JITRWUNG e YARGEAU, 2011; WATANABE et al., 2013).
FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010) constataram uma diminuição
significativa da produção de biogás no digestor alimentado com lodo de esgoto

62
suplementado com 3% de glicerol bruto em decorrência do baixo valor de pH oriundo
do acúmulo de ácidos voláteis.
Houve aumento das cargas iniciais (em base DQO e SV) para as diferentes
amostras devido à adição de glicerol (Tabela 4.12). Para LP.GL1% e LP.GL3%, a
carga em gDQO/L.dia-1 aumentou, respectivamente, 6,25% e 25%, já em gSV/L.dia-1
a carga foi elevada em 13,2% e 28,9%, respectivamente, com adição de 1% e 3% de
glicerol ao lodo primário.

Tabela 4.12. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de


mistura binária com lodo de ETE e glicerol.
Parâmetros LP LP.GL1% LP.GL3%
-1
Carga gDQO/L.dia 1,12 1,19 1,40
(%) aumento carga
-1 - 6,25 25
gDQO/L.dia
Carga gSV/L.dia-1 0,76 0,86 0,98
(%) aumento carga
-- 13,2 28,9
gSV/L.dia-1
Inicial 7,44 7,55 7,48
pH
Final 7,24 7,16 7,02
Inicial 0,05 0,04 0,05
AV/AT
Final 0,03 0,05 0,06
C/N (inicial) 9,2 14,1 17,3
Produção Específica
de Biogás 183,11 320,35 553,82
(NmL/gSV)
Produção Específica
de Metano 140,26 238,98 392,66
(NmLCH4/gSV)

(%) aumento de CH4 -- 70,4 179,9


CH4 (%)* 75 75,8 71,4
*teor médio

Em estudos desenvolvidos por SILVESTRE, BONMATÍ e FERNÁNDEZ (2015), o


aumento das cargas orgânicas aplicadas (gDQO/L.dia-1) pela adição de glicerol foram
de 27 a 31%. RAZAVIARANI e BUCHANAN (2015) avaliaram a adição de glicerol ao
lodo de esgoto para aumento de 30, 50 e 100% da carga orgânica aplicada, o que
representou em volume de glicerol, respectivamente, 1,25, 1,35 e 2,72%.
Com relação ao aumento das cargas de sólidos (gSV/L.dia-1), foram obtidas
melhorias no rendimento de metano em ambas concentrações de glicerol testadas (1 e
3%), elevando em 70,4% e 179,9% a produção específica (Tabela 4.12). Pela adição
de glicerol ao lodo de esgoto, NARTKER et al. (2014) observaram que o aumento de
25% da carga de sólidos proporcionou o aumento de 82% na produção de metano.

63
Para a relação C/N de 14,1 e 17,3, a produção de metano foi de 238,98 e 392,66
LCH4/gSV, respectivamente, para as amostras contendo 1 e 3% de glicerol (Tabela
4.12).
De acordo com KHALID et al. (2011), diferentes fontes de carbono são utilizadas
por diferentes grupos de microrganismos. As proteínas atuam como fonte de
nitrogênio, que são normalmente convertidas a amônio na digestão anaeróbia. Na
forma de amônio, o nitrogênio contribui para a estabilização do pH. Microrganismos
assimilam o amônio para produção de novas células, entretanto, altas concentrações
podem ser inibitórias para a metanogênese. Dessa forma, a relação entre os
elementos C/N pode afetar significativamente o desempenho do processo e a
quantidade de metano produzida durante a codigestão.
As relações C/N obtidas com adição de 1 e 3% de glicerol estiveram dentro da
faixa ótima de 15 a 30 para crescimento e atividade da biomassa anaeróbia
(MSHANDETE et al., 2004) e entre 16 a 19 para um ótimo desempenho das
metanogênicas, conforme sugerido por alguns autores (KIVAISI; MTILA, 1998).
SILVESTRE, FERNÁNDEZ e BONMATÍ (2015) estudaram relações C/N de 50 e
87, em experimentos de codigestão de lodo de ETE e glicerol e obtiveram,
respectivamente, produção de metano de 325 e 275 NmLCH 4/gSV, o que representou
aumentos de 30,5% e 10,4%, respectivamente. BOUALLAGUI et al. (2009) reportaram
aumento de 8,1% na produção específica de biogás quando diminuíram a razão C/N
de 34 para 28.
A adição de 1% de glicerol acarretou em produção específica de cerca de 240
NmLCH4/gSV (Tabela 4.12), o que correspondeu ao aumento de cerca de 70% para
codigestão de lodo primário e glicerol quando comparado à amostra controle.
RAZAVIARANI e BUCHANAN (2015) identificaram a melhor eficiência no processo
para 1,35%(v/v) de glicerol com incremento de 121% na produção específica de
metano.
No entanto, RAZAVIARANI et al. (2013) mostraram uma diminuição considerável
na produção de metano quando a proporção de glicerol bruto adicionado foi maior do
que 2 % (v/v) na mistura inicial. Da mesma forma, FOUNTOULAKIS, PETOUSI e
MANIOS (2010) encontraram um processo instável com alta concentração de ácidos
voláteis no efluente quando o teor de glicerol foi de 3 % (v/v).
A adição de 3% de glicerol acarretou um período inicial de inibição (Figura 4.3),
entretanto, após esse processo, a produção específica de metano foi de cerca de 390
NmLCH4/gSV, o que correspondeu ao aumento de cerca de 180% para codigestão de
lodo primário e glicerol quando comparado à amostra controle (Tabela 4.12).

64
A quantidade relativa de glicerol a ser adicionada é altamente dependente das
características dos resíduos principais (SILVESTRE, BONMATÍ e FERNÁNDEZ,
2015). O glicerol tem uma alta taxa de degradação e, por conseguinte, grandes
quantidades de ácidos voláteis são disponibilizados rapidamente para o meio (MATA-
ALVAREZ, MACÉ e LLABRÉS, 2000).
Por esta razão, o teor de alcalinidade do substrato é importante para evitar uma
queda do pH que pode afetar de forma adversa a atividade metanogênica. É provável
que no experimento de codigestão com 3% de glicerol a capacidade de tamponamento
do lodo tenha sido suficiente para concentração de ácidos voláteis, fazendo com que
não tenha ocorrido colapso total do sistema após o período de inibição inicial.
Os resultados apresentados por ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS (2014)
também não indicaram sinais de sobrecarga irreversíveis no sistema pela adição de 2
% e 3% de glicerol em misturas com lodo de esgoto, com aumento de 3,8 e 4,7 vezes
na produção de biogás, respectivamente. Por outro lado, um colapso total foi
identificado quando 4% de glicerol foi adicionado ao lodo.
Sendo assim, os resultados dos ensaios com glicerol bruto se apresentaram
como perspectiva promissora para testes de codigestão com lodo de estações de
tratamento de esgoto, uma vez que aumentou significativamente a produção de
metano. No entanto, as taxas de alimentação precisam ser controladas para evitar
condições de sobrecarga.

4.3 Mistura Binária com Resíduo Orgânico e Glicerol

4.3.1 Caracterização Química

As amostras do ensaio de codigestão de resíduo orgânico com glicerol foram


caracterizadas quimicamente no início e no final do experimento, e analisados
parâmetros relacionados à carga (demanda química de oxigênio - DQO, sólidos totais
- ST, sólidos voláteis - SV), estabilidade de digestores (pH, alcalinidade, ácidos
voláteis), além da composição elementar.
Os resultados referentes às caracterizações químicas das amostras iniciais e
finais estão apresentados nas Tabelas 4.13 e 4.14, respectivamente. A amostra RO
(controle) representa o resíduo orgânico com adição de inóculo e as amostras
RO.GL1% e RO.GL3% representam, respectivamente, o controle com adição de 1 e
3% (v/v) de glicerol.

65
Tabela 4.13. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
binária com resíduo orgânico e glicerol.
Início do Ensaio
Parâmetros RO RO.GL1% RO.GL3%
DQO (g/L) 25,1 ±0,09 26,4 ±0,06 30,9 ±0,06
ST (g/L) 26,3 ±0,32 28,9 ±0,31 33,7 ±0,39
SV (g/L) 14,2 ±0,38 17,0 ±0,26 21,4 ±0,19
SV (%) 54,0 58,8 63,5
pH 7,13 7,22 7,01
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 87 91 96
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 568 641 841
AV/AT 0,15 0,14 0,11
P-Total (mg P/L) 8,8 ±0,17 20,9 ±0,21 31,2 ±0,39
N-NH4 (mg N/L) 124,7 ±0,46 176,2 ±0,04 189,9 ±0,15
NTK (mg N/L) 476 476 476
Norg (mg N/L) 351,3 299,8 286,1
C (%) 29,7 32,3 34,9
N (%) 2,47 1,76 1,34
C/N 12,0 18,4 26,0

Tabela 4.14. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura


binária com resíduo orgânico e glicerol.
Final do Ensaio
Parâmetros RO RO.GL1% RO.GL3%
DQO (g/L) 23,4 ±0,03 25,8 ±0,06 29,3 ±0,07
ST (g/L) 25,5 ±0,50 27,5 ±0,09 32,5 ±0,19
SV (g/L) 12,7 ±0,10 13,7 ±0,15 17,4 ±0,09
SV (%) 49,8 49,8 53,5
pH 7,02 6,94 6,95
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 42 150 186
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 941 1105 1235
AV/AT 0,04 0,13 0,15
P-Total (mg P/L) 24,3 ±0,10 23,7 ±0,50 24,0 ±0,37
N-NH4 (mg N/L) 336,1 ±0,55 322,7 ±0,05 451,7 ±0,05
NTK (mg N/L) 531 476 586
Norg (mg N/L) 194,9 153,3 134,3
C (%) 27,4 27,4 29,4
N (%) 1,53 1,12 0,77
C/N 17,9 24,5 38,2

As cargas iniciais para as amostras RO, RO.GL1% e RO.GL3%, considerando


20 dias de duração do experimento, foram, respectivamente, 1,26, 1,32 e 1,55
gDQO/Ldia-1, e 0,71, 0,85 e 1,07 gSV/Ldia-1 (Tabela 4.13). O pH inicial de 7,13, 7,22
e 7,01, respectivamente, para RO, RO.GL1% e RO.GL3% esteve, para todas as

66
amostras, dentro da faixa considerada ideal para a metanogênese de 6,5 a 8,2 (KIM,
HAN e SHIN, 2003; LEE et al., 2009; KHALID et al., 2011).
Os valores obtidos para o pH de 7,02, 6,94 e 6,95, respectivamente, para as
amostras RO, RO.GL1% e RO.GL3% (Tabela 4.14), se apresentaram dentro da faixa
ótima de 6,6 a 7,8 reportada para processo anaeróbio estabilizado (RAZAVIARANI et
al., 2013).
A relação AV/AT para todas as amostras, no início e no final do experimento
(Tabela 4.13 e Tabela 4.14) se manteve ≤ 0,40, dentro da faixa de digestores estáveis
(FONOLL et al., 2015). No entanto, quando estabelecida comparação entre as
amostras com 1 e 3% de glicerol no final do experimento, verificou-se valores maiores,
em decorrência do aumento dos ácidos voláteis.
A relação C/N da amostra contendo apenas lodo (RO) apresentou valor inicial de
12 (Tabela 4.13). SILVESTRE, BONMATÍ e FERNÁNDEZ (2015) realizaram estudos
com diferentes frações orgânicas de resíduos urbanos e encontraram relações entre
14 e 21. CABBAI et al. (2013), para resíduos de restaurante, obtiveram a relação C/N
de 15,1. De acordo com a Tabela 4.13, através da adição de glicerol nas amostras
iniciais, as relações C/N foram aumentadas para 18,4 e 26, para as amostras
contendo 1% e 3% de glicerol, respectivamente.
Quando comparado os valores de DQO e SV iniciais (Tabela 4.13) e finais
(Tabela 4.14), é possível verificar que houve diminuição da carga ao final do
experimento, o que também refletiu na diminuição de teor de carbono (%) das
referidas amostras. Os percentuais de remoção para as amostras RO, RO.GL1% e
RO.GL3% foram de, respectivamente, 6,78%, 2,27% e 5,18% para DQO e,
respectivamente, de 10,56, 19,41% e 18,69% para SV.

4.3.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano

Os resultados da geração de biogás e de metano (CH4) obtidos no ensaio de


codigestão de resíduo orgânico e glicerol estão descritos na Tabela 4.15, através do
volume acumulado (NmL), da produção específica (volume acumulado por grama de
sólidos voláteis removidos – NmL/gSV),da taxa de geração máxima diária (NmL) e da
máxima produção específica por dia (NmL/gSV.dia-1) após os 20 dias de
monitoramento.

67
Tabela 4.15. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de resíduo
orgânico e glicerol.
Produção de Biogás
Taxa máx. (%)
Vol.máx. Produção Taxa máx.
produção diminuição
Amostra acumulado específica de geração
específica em relação
(NmL) (NmL/gSV) (NmL/dia)
(NmL/gSV.dia) ao RO*
RO 154,98 704,44 23,45 106,59 --
RO.GL1% 181,49 349,03 28,52 54,84 50,5
RO.GL3% 250,44 170,37 41,51 28,24 75,8
Produção de CH4
RO 114,06 518,47 11,49 52,23 --
RO.GL1% 123,96 238,39 14,29 27,47 54,0
RO.GL3% 55,35 37,65 14,50 9,87 92,7
*em relação à produção específica

De acordo com a Tabela 4.15, observa-se um aumento da produção de biogás e


metano das amostras RO.GL.1% e RO.GL3% quando comparados o volume
acumulado (NmL) e a taxa de geração máxima (NmL/dia) com a amostra controle
(RO). Em relação ao biogás, a adição de 1% de glicerol aumentou 17,1% e 21,6%,
respectivamente, o volume acumulado e a taxa de geração diária. A adição de 3%
desse cosubstrato, por sua vez, refletiu no acréscimo do volume acumulado e da taxa
de geração diária de 61,7% e de 77%, respectivamente.
O aumento no volume acumulado de metano foi identificado apenas na amostra
contendo 1% de glicerol, que obteve volume 8,7% e geração diária 24,4% maiores do
que a amostra controle. Com a adição de 3% de glicerol ao resíduo orgânico, foi
verificada diminuição da produção de metano, apesar da taxa de geração diária
máxima ter sido próxima ao obtido pela amostra RO.GL1%.
Embora todas as amostras com adição de glicerol tenham apresentado aumento
no volume acumulado e taxa de geração diária de biogás, os valores da produção
específica (NmL/gSV) foram inferiores quando comparados à amostra controle.
NGHIEM et al. (2014) relataram o mesmo comportamento, embora em experimentos
contendo lodo de ETE e glicerol, onde a amostra contendo maior concentração de
glicerol adicionado ao lodo obteve maior valor acumulado (NmL), no entanto, menor
produção específica (NmL/gSV).
A produção específica de biogás foi reduzida em 50,5% e 75,8%,
respectivamente, para as amostras contendo 1 e 3% de glicerol. Em relação à
produção específica de CH4, os valores foram reduzidos em 54% e 92,7%,
respectivamente, para as amostras com quantidades adicionadas 1% e 3% de glicerol.
RAZAVIARANI e BUCHANAN, (2015) identificaram que a adição de 2,72% de glicerol
diminuiu em 32% a geração de biogás através da codigestão com esse cosubstrato.

68
A taxa de geração máxima específica (NmL/gSV.dia-1) foi diminuída em 48,6% e
73,5%, respectivamente, para as amostras com 1% e 3% de glicerol (Tabela 4.15).
Em relação à produção de metano, os valores foram inferiores em, respectivamente,
45% e 81,1%, para amostra RO.GL1% e RO.GL3%. Esses resultados indicam
alteração no comportamento da produção de metano por inibição da digestão
anaeróbia, em virtude da adição de glicerol ao resíduo orgânico.
As Figura 4.4 e Figura 4.5 ilustram o comportamento da geração de biogás
através do volume acumulado e da taxa de geração diária em termos da produção
específica de biogás (NmL/gSV) (Figura 4.4) e de metano (NmLCH4/gSV) (Figura 4.5)
durante os 20 dias de monitoramento.

Figura 4.4. Comportamento da geração de biogás na codigestão de resíduo orgânico e


glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de produção específica
(NmL/gSV.dia-1).

Figura 4.5. Comportamento da geração de metano (CH4) na codigestão de resíduos


orgânico e glicerol. (a) (a) Produção específica ano (NmL CH4/gSV) e (b) Taxa diária
de produção específica (NmL CH4/gSV.dia-1).
69
Quando analisado o comportamento da geração de biogás (Figura 4.4) foi
observada diminuição da produção específica e da taxa diária de produção específica
para as amostras contendo 1 e 3% de glicerol durante todo o período do experimento.
Paralelo a isso, com relação à geração de CH4 (Figura 4.5), também foi constatado o
mesmo comportamento, com a adição de dois períodos de inibição na amostra
contendo 3% de glicerol (LP.GL3%), não sendo identificado teor de CH 4 através das
análises de cromatografia gasosa (CG) no primeiro e no décimo quinto dias.
RAZAVIARANI e BUCHANAN (2015) comentaram que em seus testes de
codigestão não houve colapso total do sistema devido à sobrecarga, entretanto, uma
inibição gradual da produção de metano foi acarretada pela adição do glicerol. Na
adição de 3%, provavelmente, o acúmulo de ácidos voláteis, gerados pela degradação
dos resíduos, aliado ao propionato adicional produzido pela degradação do glicerol,
pode ter gerado instabilidade no processo de digestão anaeróbia com a maior
concentração do glicerol. No entanto, o sistema em batelada não permitiu a coleta de
amostra nesse período para análise do teor de ácidos voláteis e da alcalinidade que
possibilitariam avaliar a estabilidade do processo.
Em geral, resíduos orgânicos possuem compostos rapidamente biodegradáveis,
sendo, portanto, mais facilmente convertidos em biogás. No entanto, apresentam
baixa capacidade de tamponamento (LI et al., 2013a). A ausência de um substrato
com boa capacidade de tamponamento, tal como o lodo de ETE, pode ter dificultado a
adaptação da microbiota, o que acarretou em menor produção de metano com a
adição de glicerol, ao contrário dos resultados apresentados na codigestão de ETE
com glicerol.
Por outro lado, a concentração de glicerol adicionada no início do experimento
foi abaixo dos valores inibidores anteriormente relatados de 5 g/L (HOLM-NIELSEN,
SEADI e OLESKOWICZ-POPIEL, 2009), o que provavelmente também pode ter
contribuído para que não tenha ocorrido colapso total do processo devido à
sobrecarga. Aliado a isso, os valores da relação AV/AT abaixo de 0,4 (Tabela 4.13)
também indicaram a estabilidade do processo (FONOLL et al., 2015) para todas as
amostras.
Em testes reportados por FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010) e
ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS (2014) foi identificada a inibição da produção
de metano pela adição de 3% glicerol (v/v) ao lodo de ETE, com aumento da
concentração de ácido propiônico acarretando queda do pH do meio.
A Tabela 4.16 apresenta os parâmetros de estabilidade e desempenho dos
frascos BMP (digestores) com suas respectivas amostras. O aumento da carga
orgânica aplicada (gDQO/L.dia -1), promovida pela adição de 1 e 3% glicerol foi,

70
respectivamente, de 4,7 e 23%, e de 19,7 e 50,7% para as cargas de sólidos
(gSV/L.dia-1), acarretando diminuição da produção específica de CH 4 em 47,4% e
81,1%. (Tabela 4.16). Com base na razão C/N, as relações de 18,4 e 26
corresponderam a produção de metano de 238,39 e 37,65 LCH 4/gSV,
respectivamente, para as amostras contendo 1 e 3% de glicerol (Tabela 4.16).

Tabela 4.16. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de


mistura binária com resíduo orgânico e glicerol.
Parâmetros RO RO.GL1% RO.GL3%
-1
Carga gDQO/L.dia 1,26 1,32 1,55
(%) aumento carga
-- 4,7 23,0
gDQO/L.dia-1
Carga gSV/L.dia-1 0,71 0,85 1,07
(%) aumento carga
-- 19,7 50,7
gSV/L.dia-1
Inicial 7,13 7,22 7,01
pH
Final 7,02 6,94 6,95
Inicial 0,15 0,15 0,11
AV/AT
Final 0,04 0,13 0,14
C/N (inicial) 12,0 18,4 26,0
Produção Específica
de Biogás 704,44 349,03 170,37
(NmL/gSV)
Produção Específica
518,47 238,39 37,65
de Metano
(NmLCH4/gSV)
(%) diminuição CH4 -- 47,4 81,1
CH4 (%)* 69,4 66,1 41,3
*teor médio

As relações C/N obtidas com adição de 1 e 3% de glicerol estiveram dentro da


faixa ótima de 15 a 30 para crescimento e atividade da biomassa anaeróbia
(MSHANDETE et al., 2004), e a RO.GL1% esteve entre 16 a 19 para um ótimo
desempenho das metanogênicas conforme sugerido por alguns autores (KIVAISI e
MTILA, 1998). De acordo com GUERMOUD et al. (2009) e LEE et al. (2009), a relação
C/N de 20-35 pode fornecer nitrogênio suficiente para o processo de digestão
anaeróbia de resíduos de frutas e vegetais. WEILAND et al. (2006) e BOUALLAGUI et
al. (2009) sugeriram uma relação C/N entre 22 e 25 ideal para a degradação
anaeróbia do resíduo orgânico.
Em relação ao biogás, a produção específica para adição de 1% de glicerol foi
de 349,03 NmL/gSV (Tabela 4.16). NAKAMURA, KISHI e IKEGAMI (2008) reportaram
que com adição de glicerol ao resíduo orgânico a produção de biogás foi de 520

71
NmL/gDQO, no entanto, os testes foram realizados em condições termofílicas (55ºC)
na proporção de resíduos e glicerol de 5:1.
A produção específica de biogás e metano para a amostra contendo apenas
resíduo orgânico (RO) foi de 704,44 NmL/gSV e 518,47 NmLCH 4/gSV,
respectivamente (Tabela 4.16). Demais valores reportados por LI et al. (2013), ZHANG
et al. (2007) e PARK et al. (2016) para o potencial de geração de CH4 de resíduos de
restaurantes estiveram na faixa de 430 NmLCH 4/gSV a 522,9 mLCH4/gSV. CABBAI et
al. (2013) estudaram diversas frações orgânicas dos resíduos urbanos, encontrando
valores de 644 e 675 NmLCH4/gSV para resíduos de cantina e restaurante. LI et al.
(2013), através de testes com resíduos de cozinha de restaurante, obtiveram valores
de 683 NmL/gSV para produção de metano e 1142 NmL/gSV para biogás.
Testes de codigestão contendo lodo de ETE e glicerol são mais frequentemente
reportados, já que o balanço de nutrientes proporcionado pela mistura de substratos
complementares favorece a digestão anaeróbia, com benefícios para o rendimento de
metano. A adição de glicerol ao resíduo orgânico torna a questão do carregamento
inicial um fator determinante para evitar sobrecargas, o que gera a necessidade de
testes com concentrações ainda menores, já que os dois substratos são mais
facilmente convertidos a ácidos voláteis quando comparados ao lodo de ETE, embora
o glicerol tenha biodegradabilidade ainda maior – aproximadamente 100% (JENSEN et
al., 2014) – em virtude da sua composição química (1,2,3-propanotriol), quando
comparado aos resíduos orgânicos, de composição mais complexa (carboidratos,
lipídeos e proteínas).
A utilização de análises microbiológicas como ferramenta para entendimento do
processo de codigestão contendo glicerol como cosubstrato é uma importante
alternativa utilizada por alguns autores. WATANABE et al. (2013) afirmaram que a
degradação do ácido propiônico (intermediário da digestão do glicerol) é acelerada na
presença de metanogênicas hidrogenotróficas (metanogênicas utilizadoras de
hidrogênio - H2), pois atuam na estimulação da degradação do ácido propiônico
através do consumo de H2. Por meio de imagens de microscopia eletrônica de
varredura os autores revelaram que na maior carga orgânica testada (2,17 g
COD/L.dia-1) houve abundância de metanogênicas hidrogenotróficas e,
consequentemente, a conversão de glicerol a metano.
RAZAVIARANI e BUCHANAN (2015) analisaram a composição de
metanogênicas em reatores identificados com sobrecarga pela adição de glicerol
(100% de aumento na carga inicial) e metanogênicas hidrogenotróficas foram citadas
como o grupo essencialmente dominante de arqueas presente no meio digestor.

72
Em condições normais, a via mais utilizada na metanogênese é a acetoclástica,
que responde a 70% da formação de metano (CHRISTY, GOPINATH e DIVYA, 2014).
O acúmulo de ácido acético e ácido propiônico pode contribuir para uma inibição das
sintróficas (acetogênicas) oxidantes do propionato, bem como uma ineficiente
utilização do acetato pelas metanogênicas acetoclásticas (KARAKASHEV,
BATSTONE e ANGELIDAKI, 2005). Na presença de inibidores, tais como ácidos
graxos voláteis, o acetato é oxidado pelas acetogênicas a H 2 e CO2, com formação de
metano ocorrendo via metanogênicas hidrogenotróficas (ZIGANSHIN et al., 2010).
Tais considerações podem auxiliar a inferir que o volume do biogás com a
adição de 3% glicerol ao resíduo orgânico (250,44 NmL) quando comparado ao baixo
volume de CH4 de (55,35 NmLCH4) (Tabela 4.15) tenha ocorrido, possivelmente,
devido à produção de CO2 e H2 em maior quantidade, aumentando o volume do
biogás, mas diminuindo o percentual de CH4 no mesmo.

4.4 Mistura Ternária com Lodo de ETE, Resíduo Orgânico e Glicerol

4.4.1 Caracterização Química

A caracterização química das amostras do ensaio de codigestão de lodo de ETE,


resíduo orgânico e glicerol foi realizada no início e no final do experimento, com
relação aos parâmetros relacionados à carga (demanda química de oxigênio - DQO,
sólidos totais - ST, sólidos voláteis - SV), estabilidade de digestores (pH, alcalinidade,
ácidos voláteis), além da composição elementar.
Os resultados estão apresentados na Tabela 4.17 e Tabela 4.18. A amostra
(LP+RO) (controle) representa o lodo primário e o resíduo orgânico apenas com
adição de inóculo e as amostras (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3% representam,
respectivamente, as amostras com adição de 1 e 3% de glicerol.
As cargas iniciais para as amostras (LP+RO), (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%
considerando os dados de DQO (Tabela 4.17) e os 20 dias de duração do teste,
foram, respectivamente, 1,29, 1,41 e 1,72 gDQO/L.dia-1. Já as cargas em SV foram,
respectivamente, 0,75, 0,84 e 1,10 gSV/Ldia -1.

73
Tabela 4.17. Caracterização química das amostras no início do ensaio de mistura
ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol.
Início do Ensaio
Parâmetros (LP+RO) (LP+RO).GL1% (LP+RO).GL3%
DQO (g/L) 25,7 ±0,25 28,1 ±0,29 34,3± 0,08
ST (g/L) 26,6 ±0,25 28,9 ±0,30 35,9±0,82
SV (g/L) 14,9 ±0,16 16,7 ±0,22 22,1 ±0,43
SV (%) 56 57,8 61,6
pH 7,32 7,48 7,13
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 88 78 75
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 613 580 792
AV/AT 0,14 0,13 0,10
P-Total (mg P/L) 22,07 ±0,38 23,99 ±0,08 25,65 ±0,17
N-NH4 (mg N/L) 77,7 ±0,05 130,9 ±0,08 226,8 ±0,62
NTK (mg N/L) 531 421 421
Norg (mg N/L) 453,3 290,1 194,2
C (%) 30,8 31,8 33,8
N (%) 3,04 1,74 0,88
C/N 10,1 18,3 38,4

Tabela 4.18. Caracterização química das amostras no final do ensaio de mistura


ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol.
Final do Ensaio
Parâmetros (LP+RO) (LP+RO).GL1% (LP+RO).GL3%
DQO (g/L) 21,6 ±0,01 22,3 ± 0,02 26,9 ± 0,03
ST (g/L) 24,1 ±0,20 30,8 ±0,70 36,1 ±0,48
SV (g/L) 12,3 ±0,16 14,5 ±0,24 20,2 ±0,42
SV (%) 51,0 47,1 56
pH 7,04 7,07 7,05
Ácidos Voláteis - AV (mg CaCO3/L) 45 168 84
Alcalinidade Total - AT (mg CaCO3/L) 980 1286 1246
AV/AT 0,05 0,13 0,07
P-Total (mg P/L) 19,6 ±0,08 20,1 ±0,21 19,3 ±0,05
N-NH4 (mg N/L) 159,6 334,3 ±0,02 343,3 ±0,03
NTK (mg N/L) ±0,01
421 531 586
Norg (mg N/L) 261,4 196,7 242,7
C (%) 28,1 25,9 30,8
N (%) 2,12 1,36 1,2
C/N 13,3 19 25,7

O pH inicial foi de 7,32, 7,48 e 7,13, respectivamente, para (LP+RO),


(LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%. Os valores de todas as amostras estiveram dentro
das faixas consideradas ideais para a digestão anaeróbia, de 6,5 a 8,2 (KHALID et al.,
2011; MATA-ALVAREZ et al., 2014; NARTKER et al., 2014).

74
No final do experimento, houve diminuição do pH para todas as amostras
quando comparado com os valores iniciais. Entretanto, os valores de 7,04, 7,07 e 7,05
obtidos, respectivamente, pelas amostras (LP+RO), (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%
(Tabela 4.18), se apresentaram dentro da faixa ótima de 6,6 a 7,8 reportada por
RAZAVIARANI et al. (2013) para processo anaeróbio estabilizado.
Isto indica que a presença do lodo na mistura ternária contribuiu com a
capacidade de tamponamento e, mesmo com a dose mais alta de glicerol adicionado
ao resíduo orgânico, foi suficiente para absorver os ácidos adicionais produzidos
durante a codigestão com glicerol (JENSEN et al., 2014). Aliado a isso, a relação
AV/AT, foi considerada dentro da faixa de digestores estáveis ≤ 0,40 (FONOLL et al.,
2015; SILES et al., 2010) para todas as amostras, no inicio e no final do experimento
(Tabela 4.17 e Tabela 4.18).
A adição de glicerol elevou a relação C/N, de 10,1 na amostra controle (LP+RO)
para 18,3 e 38,4, respectivamente, nas amostras (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%
(Tabela 4.17), atingindo valores próximos à faixa de 15 a 30 para atividade da
biomassa anaeróbia (MSHANDETE et al., 2004; SILVESTRE, FERNÁNDEZ e
BONMATÍ, 2015).
Quando comparado os valores de DQO e SV iniciais (Tabela 4.17) e finais
(Tabela 4.18) foi possível verificar que houve diminuição das cargas ao final do
experimento, o que também refletiu na diminuição de teor de carbono (%) das
referidas amostras. Os percentuais de remoção para as amostras LP, (LP+RO)GL1%
e (LP+RO)GL3% foram de, respectivamente, 15,9%, 20,6% e 21,6%, para DQO e,
respectivamente, de 17,4%,13,2% e 8,6%, para SV.
Por outro lado, a baixa remoção dos sólidos voláteis com a adição de glicerol
pode ser explicada conforme sugerido por alguns autores (MA et al., 2007;
FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS, 2010) em experimentos de codigestão, onde
é provável que a fonte de carbono orgânico adicional (adição de glicerol) tenha
aumentado o crescimento da biomassa ativa, acarretando aumento da quantidade
total de sólidos voláteis e por consequência baixo valor de remoção, por outro lado, a
biomassa ativa contribui com a maior geração de biogás.

4.4.2 Avaliação da Produção de Biogás e Metano

Os resultados da geração de biogás e de metano (CH 4) obtidos no ensaio de


codigestão de lodo de ETE e glicerol estão descritos na Tabela 4.19, através do
volume acumulado (NmL), da produção específica (volume acumulado por grama de

75
sólido volátil removido – NmL/gSV),da taxa de geração máxima diária (NmL) e da
máxima produção específica por dia (NmL/gSV.dia-1) após os 20 dias de
monitoramento.

Tabela 4.19. Produção de Biogás e CH4 no ensaio BMP para codigestão de lodo de
ETE, resíduo orgânico e glicerol.
Produção de Biogás
Taxa de Taxa de (%)
Vol.máx. Produção
Geração Produção aumento em
Amostra acumulado Específica
Máxima Máxima relação ao
(NmL) (NmL/gSV)
(NmL/dia) (NmL/gSV.dia) (LP+RO)*
(LP+RO) 136,09 340,22 32,96 82,39 --
(LP+RO)GL1% 160,31 485,79 33,91 102,15 42,8
(LP+RO)GL3% 224,05 746,85 49,75 165,85 119,5
Produção de CH4
(LP+RO) 96,89 242,24 22,64 56,60
(LP+RO)GL1% 116,23 352,20 22,75 68,95 45,4
(LP+RO)GL3% 158,41 528,02 31,20 103,98 118,0
*em relação à produção específica

De acordo com a Tabela 4.19, foi observado um aumento da produção de biogás


e metano das amostras (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3% quando comparados ao
volume acumulado e à produção específica da amostra controle (LP+RO). A produção
específica de biogás foi acrescida em 42,8% e 119,5%, respectivamente, para as
amostras contendo 1 e 3% de glicerol. Em relação à produção específica de CH 4, os
aumentos foram de 45,4% e 118%, respectivamente, para as amostras com
quantidades adicionadas de 1% e 3% de glicerol.
O mesmo comportamento pode ser observado com taxas máximas de geração
diária de biogás e metano, onde a adição de glicerol também elevou os valores obtidos
pelas amostras contendo 1 e 3% quando comparadas à amostra controle (LP+RO)
(Tabela 4.19).
Para (LP+RO)GL3%, o aumento foi cerca de 51% para o biogás e 38% para o
metano (Tabela 4.19). FOUNTOULAKIS e MANIOS (2009), em estudos de codigestão
da mistura ternária com resíduos de fabricação de azeite, abatedouros e glicerol (1%
v/v), obtiveram aumento de 152% na taxa de geração diária de metano. A taxa de
geração máxima de metano, em relação à produção específica (NmL/gSV.dia -1), foi
acrescida de, respectivamente, 45% e 83,71%, para (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%.
As Figura 4.6 e Figura 4.7 ilustram o comportamento da geração de biogás
através do volume acumulado e da taxa de geração diária em termos da produção
específica de biogás (NmL/gSV) (Figura 4.6) e de metano (NmLCH4/gSV) (Figura 4.7)
durante os 20 dias de monitoramento.

76
Figura 4.6. Comportamento da geração de biogás na codigestão de lodo de ETE,
resíduo orgânico e glicerol. (a) Produção específica (NmL/gSV) e (b) Taxa diária de
produção específica (NmL/gSV.dia -1).

Figura 4.7. Comportamento da geração de metano (CH4) na codigestão de lodo de


ETE, resíduo orgânico e glicerol. (a) Produção específica (NmL CH4/gSV) e (b) Taxa
diária de produção específica (NmL CH4/gSV.dia-1).

Quando analisado o comportamento da geração de biogás (Figura 4.6), foi


observado aumento da produção específica e da taxa diária de produção das
amostras contendo 1 e 3% de glicerol durante todo o período do experimento. Quando
analisada a geração de CH4 (Figura 4.7) para a amostra contendo 1% de glicerol, o
comportamento foi similar à amostra controle, com estabilização anterior ao período da
amostra contendo 3% de glicerol.
Foi constatada inibição da codigestão anaeróbia na amostra (LP+RO)GL3%, não
sendo identificado teor de CH4 através da análise de cromatografia gasosa (CG) no

77
quinto dia de teste. Tal fato pode indicar sinais de instabilidade no processo de
digestão anaeróbia possivelmente devido ao acúmulo de ácidos voláteis
proporcionados pela adição do glicerol em maior concentração (3%), uma vez que é
convertido principalmente a 1,3–propanodiol e posteriormente a ácido propiônico
(WATANABE et al., 2013).
Por outro lado, após a parcial inibição, uma possível adaptação da comunidade
microbiana, refletiu no crescimento gradual produção de metano nos dias seguintes de
monitoramento (Figura 4.7). Embora tenha ocorrido uma provável inibição, o sistema
em batelada não permitiu a coleta de amostra nesse período para análise do teor de
ácidos voláteis e verificação da estabilidade do processo.
Aliado a isso, os valores da relação AV/AT abaixo de 0,4 no final do ensaio
(Tabela 4.18) também indicaram a estabilidade do processo (FONOLL et al., 2015)
para todas as amostras. É provável que a presença do lodo na mistura ternária tenha
contribuído com a capacidade de tamponamento do sistema, podendo em alguns
casos ser suficiente para absorver os ácidos voláteis adicionais produzidos durante a
codigestão com glicerol (CABBAI et al., 2013; JENSEN et al., 2014).
NGHIEM et al. (2014) reportaram aumento na taxa de fluxo de biogás no
momento da adição de 3% de glicerol, no entanto, após o mesmo ser adicionado, uma
instabilidade do sistema foi constatada. Em estudos com lodo de ETE e glicerol,
ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS (2014) identificaram que a adição de 3% de
glicerol acarretou aumento na concentração de ácido propiônico que, através de
digestores em série, pode ser totalmente consumido, evitando assim a falha no
sistema.
Quando analisados os parâmetros de estabilidade e desempenho das garrafas
BMP (digestores) com suas respectivas amostras (Tabela 4.20), houve aumento das
cargas iniciais (em base DQO e SV) para as diferentes amostras, devido à adição de
glicerol (Tabela 4.20). Para (LP+RO)GL1% e (LP+RO)GL3%, a carga em gDQO/L.dia-1
aumentou, respectivamente, 9,3% e 33,3%, já em gSV/L.dia -1 a carga foi elevada em
12% e 46,7%, respectivamente, com adição de 1% e 3% de glicerol ao lodo primário.

78
Tabela 4.20. Parâmetros de estabilidade e desempenho dos digestores no ensaio de
mistura ternária com lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol.
Parâmetros (LP+RO) (LP+RO)GL1% (LP+RO)GL3%
-1
Carga gDQO/L.dia 1,29 1,41 1,72
(%) aumento carga
-1 -- 9,3% 33,3%
gDQO/L.dia
-1
Carga gSV/L.dia 0,75 0,84 1,10
(%) aumento carga
-1 -- 12% 46,7%
gSV/L.dia
Inicial 7,32 7,48 7,13
pH
Final 7,04 7,07 7,05
Inicial 0,14 0,13 0,10
AV/AT
Final 0,05 0,13 0,07
Inicial 10,1 18,3 38,4
C/N
Final 13,3 19 25,7
Produção Específica
de Biogás 340,22 485,79 746,85
(Nm/gSV)
Produção Específica
de Metano 242,24 352,20 528,02
(NmLCH4/gSV)

(%) aumento CH4 -- 45,4 118


CH4 (%)* 74,8 72,9 70,3
*Teor médio

Com relação aos aumentos das cargas em SV, foram obtidas melhorias no
rendimento de metano nas concentrações de glicerol testadas. O aumento de 12% na
carga, proporcionado pela adição de 1% de glicerol, elevou em 45,4% a produção
específica de CH4. Para o acréscimo de 46,7% na carga (3% de glicerol) o aumento na
produção específica de metano foi de 118% (Tabela 4.20).
Com base na relação C/N, o valor de 10,1 obtido pela amostra controle
(LP+RO) foi uma pouco abaixo do valor previamente reportado por KIM et al. (2003)
de 12,7, que foi favorável para produção de metano através da codigestão de resíduos
orgânicos e lodo de esgoto. Para as demais amostras, as relações de 18,3 e 38,4
corresponderam à produção de metano de 352,20 e 528,02 NmL/gSV,
respectivamente, para as amostras contendo 1 e 3% de glicerol (Tabela 4.20).
SILVESTRE, FERNÁNDEZ e BONMATÍ (2015) obtiveram produção de metano de
325NmL/gSV utilizando a relação C/N de 50, o que representou aumento de 30,5% em
experimentos de codigestão de resíduo orgânico e lodo de ETE.
A relação C/N no material orgânico desempenha um papel crucial na digestão
anaeróbia. Os nutrientes desequilibrados são considerados como um importante fator

79
limitante digestão anaeróbia de resíduos orgânicos. Para a melhoria da nutrição e
razão C/N, a codigestão de misturas orgânicas é empregada (CUETOS et al., 2008).
KHALID et al. (2011) cita que a codigestão de resíduos de peixe, águas
residuárias de matadouros e lodos ativados com resíduos de frutas e vegetais facilita o
balanceamento da relação C/N. Segundo o autor, sua maior vantagem está no
tamponamento da carga orgânica inserida e produção de amônia anaeróbia a partir do
nitrogênio orgânico, o que reduz as limitações na digestão dos resíduos de frutas e
vegetais.
De acordo com GUERMOUD et al. (2009) e LEE et al. (2009), a relação C/N de
20-35 pode fornecer nitrogênio suficiente para o processo de digestão anaeróbia de
resíduos de frutas e vegetais. A relação C/N entre 22 e 25 foi sugerida por WEILAND
et al. (2006) e BOUALLAGUI et al. (2009) como ideal para a degradação anaeróbia de
resíduos orgânicos.
A adição de 1% de glicerol proporcionou produção específica de cerca de 352,20
NmLCH4/gSV (Tabela 4.20), o que correspondeu ao aumento de cerca de 45% para
codigestão ternária de lodo primário, resíduo orgânico e glicerol quando comparado à
amostra controle. FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010) e RAZAVIARANI et
al. (2013) obtiveram máxima produção de biogás durante a codigestão com adição de
1% (v/v) e 1,1% (v/v) mostrando um aumento na produção diária de 113% e 87%,
respectivamente. RAZAVIARANI e BUCHANAN (2015) identificaram a melhor
eficiência no processo para 1,35%(v/v) de glicerol com incremento de 121% na
produção de metano.
A adição de 3% de glicerol acarretou uma inibição parcial (Figura 4.7),
entretanto, após esse processo, a produção específica de metano foi de cerca de
528,02 NmLCH4/gSV, o que correspondeu ao aumento de 118% para codigestão de
lodo primário, resíduo orgânico e glicerol quando comparado à amostra controle
(Tabela 4.20).
Segundo SILVESTRE, FERNÁNDEZ e BONMATÍ (2015), a quantidade relativa
de glicerol a ser adicionada é altamente dependente das características dos resíduos
principais. O glicerol tem uma alta taxa de degradação e, por conseguinte, grandes
quantidades de ácidos voláteis são disponibilizados rapidamente para o meio (MATA-
ALVAREZ; MACÉ; LLABRÉS, 2000). É provável que capacidade de tamponamento do
lodo primário presente na mistura com 3% de glicerol a tenha sido suficiente para
evitar o acúmulo de elevada concentração de ácidos voláteis que poderia afetar de
forma definitiva atividade metanogênica, com sobrecarga total do sistema após a
inibição.

80
ATHANASOULIA, MELIDIS e AIVASIDIS (2014) também não indicaram sinais
de perda total da capacidade de geração de biogás do sistema pela adição de 2% e
3% de glicerol em misturas com lodo de esgoto, obtendo, respectivamente, aumento
de 3,8 e 4,7 vezes na produção de biogás.
Em contrapartida, um colapso no sistema foi identificado quando 4% de glicerol
foi adicionado ao lodo. RAZAVIARANI et al. (2013) mostraram uma diminuição
considerável na produção de metano quando o glicerol bruto adicionado foi maior do
que 2 % (v/v) da mistura inicial. FOUNTOULAKIS, PETOUSI e MANIOS (2010)
também encontraram um processo instável com alta concentração de ácidos voláteis
no efluente quando o teor de glicerol foi de 3 % (v/v).
Em experimentos com mistura ternária, a suplementação de 6% de glicerina ao
esterco suíno e silagem de milho investigada por AMON et al. (2006) resultou em um
aumento de 19,3% na produção de CH4, de 569 para 679 NL CH4/kg VS. Para
ALVAREZ; OTERO e LEMA (2010), o maior potencial de biodegradação (321 L
CH4/kgCOD) foi alcançado nos experimentos em batelada quando 11% de glicerol
bruto foi adicionado à uma mistura composta 84% de esterco suíno e 5% de resíduos
de peixe, enquanto que a maior taxa de produção de metano (16,4L CH 4/kgDQO.dia-1)
foi obtida pela mistura contendo 8% de glicerol, 88% de esterco suíno e 4% de
resíduos de peixe.
Dessa forma, a utilização do glicerol bruto na codigestão ternária de lodo de
ETE, resíduo orgânico e glicerol se apresenta como alternativa promissora para
estações de tratamento de esgoto, uma vez que também aumenta significativamente a
produção de metano, assim como observado para a mistura binária de lodo de ETE e
glicerol. No entanto, é importante que as taxas de alimentação sejam controladas para
que condições de sobrecarga sejam evitadas.

4.5 Estimativa Geral da Produção de Biogás e Metano na Codigestão de


Misturas Binárias e Ternárias

Os testes BMP se mostraram como uma ferramenta experimental para o estudo


da utilização do glicerol na codigestão com lodo de ETE e resíduos orgânicos,
apresentando um excelente indicativo da produção de biogás e metano, permitindo
revelar dados de acréscimo na produção específica com adição de glicerol.
Vale salientar que, embora promissores, os resultados podem, ainda, ser
maiores se obtidos através de experimentos em sistemas contínuos. JENSEN et al.
(2014) sugerem que doses máximas de glicerol sejam preferencialmente estudadas e
confirmadas em sistemas contínuos, já que é possível melhorar a adaptação da

81
microbiota com acréscimo gradual das doses. NGHIEM et al. (2014) reportaram
rendimento de biogás no sistema contínuo duas vezes maiores do que os obtidos nos
ensaios BMP, embora ainda menores do que os valores sugeridos pela modelagem
numérica.
Com relação aos resultados de mistura binária com resíduo orgânico, não foi
verificado aumento na produção específica de metano (NmLCH 4/gSV) pela adição do
glicerol, quando comparado com a amostra controle (RO). Por outro lado, os
experimentos de mistura binária com lodo de ETE e glicerol e mistura ternária
contendo lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol, mostraram resultados positivos
com relação ao aumento da produção específica de metano.
Sendo assim, a presença do lodo primário foi fator importante para a garantia da
estabilidade do sistema, provavelmente devido à sua capacidade de tamponamento do
meio, que não permitiu que o acúmulo de ácidos voláteis, tais como o propiônico –
produto da degradação anaeróbia do glicerol - acarretasse sobrecarga e consequente
colapso do sistema.
Como o lodo de esgoto é caracterizado pela relação C/N relativamente baixa e
elevada capacidade tampão, o mesmo pode ser combinado a cosubstratos com
grandes quantidades de matéria orgânica facilmente biodegradável e com valores
baixos de alcalinidade, como é o caso do resíduo orgânico, caracterizado também pela
alta relação C/N. Em muitos casos, a codigestão de lodo de esgoto pode também levar
à diluição de alguns compostos indesejados presentes no lodo, tais como metais
pesados, produtos farmacêuticos e/ou agentes patogênicos (CABBAI et al., 2013;
MATA-ALVAREZ et al., 2014).
Quando comparados os valores da produção específica de metano com as
relações C/N para todas as amostras contendo lodo primário (LP), foi verificado o
aumento de carbono, primeiramente, pela adição do resíduo orgânico (LP+RO), e,
posteriormente, pela adição do glicerol (Tabela 4.21)

Tabela 4.21. Produção de biogás e metano para amostras contendo lodo como
substrato
Produção Produção
(%) (%)
específica de específica de
Amostra C/N aumento aumento
biogás CH4
biogás* CH4*
(NmL/gSV) (NmLCH4/gSV)
LP 9,2 183,11 140,26 -- --
LP+RO 10,1 340,22 242,24 85,8 72,7
LP+RO.GL1% 18,3 485,79 352,20 165,3 151,1
LP+RO.GL3% 34,4 746,85 528,02 307,9 276,5
*em relação ao LP

82
De acordo com a Tabela 4.21, foram observados aumentos na produção
específica de biogás e metano com o acréscimo do teor de glicerol. Através da
codigestão de lodo primário e resíduos orgânicos (LP+RO) houve aumento de 72,7%
na produção de metano, quando comparado com o lodo primário (LP). A adição de 1%
e 3% de glicerol permitiu o aumento de, 165,3% e 307,3% na produção de biogás, e
151,1% e 276,5% na produção de CH4, o que também destaca o efeito positivo gerado
pela combinação dos três substratos (lodo primário, resíduo orgânico e glicerol).
Com a padronização da concentração inicial de todas as amostras controle (LP,
RO e LP+RO) para 10 gSV/L, em todos os ensaios (conforme descrito no capítulo 3),
foi possível realizar uma comparação da eficiência da produção específica de metano
entre os experimentos de mistura binária e ternária. Na Tabela 4.22 as amostras dos
diferentes experimentos estão agrupadas conforme adição de glicerol (1 e 3%) ou
ausência de glicerol, denominadas controle (apenas lodo primário, resíduo orgânico ou
lodo primário+resíduo orgânico).
Na produção específica de metano para os experimentos controle (LP, RO e
LP+RO), o maior valor foi obtido pelo RO (518,47 NmL/gSV) (Tabela 4.22) e o lodo
primário em codigestão com os resíduos orgânicos obtiveram aumento de 72,7% na
produção de metano quando comparado ao controle (LP).

Tabela 4.22. Produção específica de biogás e metano pela adição de glicerol.


Produção Produção
Adição (%)
específica de específica de
de Amostra médio
biogás CH4
glicerol de CH4
(NmL/gSV) (NmLCH4/gSV)
LP 183,11 140,26 75
Controle RO 704,44 518,47 69,4
LP+RO 340,22 242,24 74,8
LP.GL1% 320,35 238,98 75,8
1% RO.GL1% 349,03 238,39 66,1
(LP+RO).GL1% 485,79 352,20 72,9
LP.GL3% 553,82 392,66 71,4
3% RO.GL3% 170,37 37,65 41,3
(LP+RO).GL3% 746,85 528,02 70,3

Valores semelhantes foram observados por PARK et al. (2016), com produção
de metano de 522,9 NmL/gSV para codigestão de resíduos orgânicos e aumento na
produção específica de metano de 72%, quando comparado com o lodo primário. Os
autores sugeriram a seguinte ordem de acessibilidade de substrato: resíduo orgânico
> lodo primário > lodo ativado > resíduos sépticos. CABBAI et al. (2013) estudaram
variações nas frações orgânicas das misturas com lodo de ETE e obtiveram

83
acréscimos de 18 a 47% na produção de metano pela codigestão quando comparados
com a digestão anaeróbia do lodo de esgoto.
Para encontrar o melhor resultado entre todos os testes realizados com adição
de glicerol, NARTKER et al. (2014) sugerem que seja considerado o equilíbrio entre as
quantidades de gás produzido (NmL/gSV), o teor de metano produzido (%) e a
quantidade de glicerol necessária para obter esse enriquecimento.
Sendo assim, as maiores quantidades de biogás com adição de glicerol foram
geradas pelas amostras (LP+RO).GL1% e (LP+RO).GL3%, entre elas, o maior teor de
metano foi para a amostra contendo 1% de glicerol. Para essa amostra também foi
obtida a melhor relação entre a produção de metano versus quantidade de glicerol
utilizada (1%), além de apresentar estabilidade na produção de metano durante todo o
período de monitoramento do experimento, ao contrário do teste com a adição de 3%
desse cosubstrato.
Através da análise dos teores de metano gerados ao longo dos experimentos, é
possível verificar que a adição de 3%, em todas as amostras, acarretou diminuição e
instabilidade da concentração de CH 4 quando comparadas com suas respectivas
amostras controle (Figura 4.8). A adição de 1% se apresentou como o melhor
resultado, com teores de CH4 estáveis e próximos ao controle tanto para os testes de
mistura binária contendo lodo de ETE e glicerol, como para a mistura ternária (lodo de
ETE, resíduos orgânico e glicerol).

Figura 4.8. Comportamento do teor de metano produzido pela codigestão binária


e ternária ao longo dos experimentos.

A adição de glicerol na codigestão anaeróbia, em mistura binária contendo lodo


de ETE e mistura ternária com lodo de ETE e resíduo orgânico, levou ao aumento na
produção específica de biogás e metano, em especial para mistura ternária contendo
1% de glicerol (LP+RO).GL1%, que produziu 485,79 NmLbiogás/gSV e 352,20
NmLCH4/gSV (Tabela 4.22), sem interferências na estabilização do processo. Esse

84
resultado representa a viabilidade de aplicação da inovadora técnica no tratamento de
três resíduos de elevado potencial poluidor com possibilidade de uso energético do
metano produzido.

4.6 Estimativa do Potencial de Oferta Elétrica para Codigestão com Adição de


Glicerol

Para estimar o potencial de oferta elétrica para a codigestão, foi considerado o


potencial de produção de metano de 352,20 NmLCH4/gSV da amostra (LP+RO)GL3%,
indiciada como maior relação de benefícios.
Considerando que a amostra controle (LP+RO) produziu 242,24 NmLCH4/gSV, o
adicional de metano gerado pelo glicerol foi de 109,96 NmLCH4/gSV. Sendo assim, a
cada kg de SV podem ser produzidos 109,96L de CH 4.
Com base no valor produzido de 110 m³ CH 4/t e no valor de venda do gás para
Usinas Termo Elétricas (UTE) de R$ 0,40/m³ (GÁS NATURAL FENOSA, 2016) seria
possível arrecadar R$ 44/t de glicerol. Se o gás natural veicular (GNV) é vendido a R$
1,60/m³ seria possível arrecadas R$ 176/t de glicerol. Se a gasolina substituída é
comercializada a R$ 4/L, equivalente a 1 m³ de gás, seria possível arrecadar R$ 440/t
de glicerol. Se o gás residencial é comercializado a R$ 5/m³ (GÁS NATURAL
FENOSA, 2016) é possível arrecadar R$ 550/t de glicerol.
Considerando a produção em esgoto e lixo, por pessoa, que corresponde à
média de 1,5 kg/dia de lixo - sendo 0,9 kg/dia de fração orgânica e 200 L de esgoto
(com 0,02% de sólidos) – relacionada aos potenciais médios de geração de metano
dos resíduos orgânicos (350m3/t) e do esgoto (200m3/t), os valores de metano
produzidos por dia por cada pessoa é de 0,315 m3/dia e 0,04 m3/dia, para resíduos e
esgoto, totalizando a geração média de 0,355 m3/dia por pessoa.
Se a mistura ternária com adição de 1% (v/v) de glicerol, avaliada como a maior
relação de benefícios, proporciona aumento na produção de metano de cerca de
45,4%, o ganho com a codigestão é de 0,16 m3/dia, totalizando a geração média de
0,52 m3/dia por pessoa, ou seja, 15,6 m3/mês.
Se relacionada à produção de um domicílio com 3 pessoas, o valor é de 46,8
3
m /mês que, se convertidos em energia elétrica (0,26 m³/kWh), representam 180
KWh/mês. Considerando que o consumo médio de energia por domicílio (3 pessoas) é
167KWh/mês (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2015b), há um excedente de
7,8%. Portanto, como a codigestão ternária incrementa 45% na oferta, pode-se
constatar que ela é decisiva para a autossuficiência do setor residencial.

85
Para estimar a disponibilidade de glicerol para aplicação na codigestão e
aproveitamento energético, foi considerado que as soluções (10gSV/L) de lodo e
resíduo possuem concentração de 1% de sólidos voláteis, logo, foram diluídas
separadamente em 99 partes de água e a solução de glicerol (1%) foi misturada na
proporção 1:99.
Os 900 g resíduos orgânicos/dia por pessoa, com 60% de umidade, equivalem a
360 g/dia por pessoa em base seca. Considerando o teor médio de sólidos voláteis de
90%, o valor é de 324 gSV/dia por pessoa. Este material, diluído em 99 partes de
água, representaria 32,4 kgSV/dia por pessoa (ou, como a predominância é de água,
32,4 L/dia por pessoa).
O lodo corresponde a 200L/dia por pessoa com 0,02% de sólidos, ou 40 g/dia
por pessoa em base seca. Considerando o teor médio de sólidos voláteis de 70%, o
valor é de 28 gSV/dia por pessoa. Este material, diluído em 99 partes de água,
representaria 2,8 kgSV/dia por pessoa (ou, como a predominância é de água, 2,8 L/dia
por pessoa).
Sendo assim, a soma das produções diárias equivale a 35,2 litros por pessoa.
Isto representará 99% da nova mistura. Assim, a solução de glicerol será de 355,6 mL/
por pessoa. A população brasileira de 200 milhões de habitantes demanda, portanto,
4,66 Mt/ano.
A produção total anual de glicerol é de 475.000 toneladas e sobram 250.000
toneladas (saldo da exportação). Como o teor de biodiesel atingirá 10% em 2020, caso
a exportação não aumente, haverá mais 200.000 t/ano, totalizando disponibilidade de
450.000 t/ano, próximo a 10% da demanda. Vale lembrar que, atualmente, apenas
parte do esgoto brasileiro é coletada e uma fração disto é tratada (cerca de 40%) por
sistemas químicos e biológicos. A ampliação do atendimento requererá a identificação
de outras substâncias que promovam o mesmo tipo de aprimoramento.

86
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

5.1 Conclusões

As caracterizações gravimétricas dos resíduos e químicas dos substratos


(resíduos orgânicos, lodo de ETE e glicerol), e os testes BMP se mostraram
importantes ferramentas experimentais para avaliação qualitativa dos substratos com
utilização do glicerol na codigestão, apresentando um excelente indicativo da
produção de biogás e metano, pois permitiram revelar dados de acréscimo na
produção específica com adição de glicerol.
Com relação aos resultados de mistura binária com resíduo orgânico, não foi
verificado aumento na produção específica de metano pela adição do glicerol, com
diminuição de 54% a 92,7% em relação ao experimento controle (somente resíduo
orgânico), o que indicou inibição no processo de digestão anaeróbia dos resíduos
orgânicos nas diferentes quantidades de glicerol testadas.
Os experimentos de mistura binária (lodo de ETE e glicerol) e mistura ternária
(lodo de ETE, resíduo orgânico e glicerol), mostraram resultados positivos em relação
ao aumento da produção específica de metano, de 70,4% para mistura binária e de
45,4% para ternária, com adição de 1% de glicerol.
Dessa forma, a presença do lodo primário foi fator importante para a garantia da
estabilidade do sistema, provavelmente devido à capacidade de tamponamento do
meio, que não permitiu que o acúmulo de ácidos voláteis, tais como o propiônico –
principal produto da degradação anaeróbia do glicerol - acarretasse sobrecarga e
consequente colapso do sistema.
A adição de glicerol na codigestão anaeróbia, em especial para mistura ternária
contendo 1% de glicerol, produziu 485,79 m3biogás/tonSV e 352,20 m3CH4/tonSV,
representando aumento de 45,4% em relação à mistura de lodo primário e resíduo
orgânico, e acréscimo de 151,1% em relação à digestão anaeróbia do lodo primário,
sem interferências na estabilização do processo, o pode representar a viabilidade da
aplicação da inovadora técnica no tratamento de três resíduos de elevado potencial
poluidor com possibilidade uso energético do metano produzido.
Em relação à estimativa do potencial de oferta de energia elétrica para a
codigestão ternária, o incremento de 45% na produção de metano, relacionado ao
consumo médio de energia por domicílio, pode permitir ao setor residencial atingir a
autossuficiência energética.
Sendo assim, a utilização do glicerol bruto pode ser uma perspectiva promissora
em estações de tratamento de esgoto combinado ao tratamento de resíduos, uma vez

87
que aumenta significativamente a produção de metano. A adição de glicerol pode ser
otimizada em sistemas contínuos, entretanto, doses elevadas podem acarretar
acúmulo de ácidos, instabilidade da digestão anaeróbia e sobrecarga do sistema.

5.2 Sugestões Para Pesquisas Futuras

- Realizar testes em sistemas contínuos, proporcionando melhor adaptação da


microbiota às concentrações de glicerol adicionadas e, por conseguinte, maiores
acréscimos na produção específica de biogás e metano;

- Através de sistemas contínuos, executar frequente monitoramento das variáveis de


estabilidade (pH, alcalinidade e ácidos voláteis) e desempenho do digestor (produção
de metano) permitindo, assim, melhor entendimento do processo de codigestão, em
especial no indicativo de sinais de instabilidade e/ou possíveis sobrecargas
acarretadas pela adição do glicerol;

- Avaliar a produção de biogás e metano em escala piloto, para determinação do efeito


escalonamento, com adaptações nas concentrações de substratos e inóculo que
permitam melhores condições de funcionamento do digestor para posterior aplicação
em campo em sistemas de codigestão binária e/ou ternária contendo glicerol como
cosubstrato;

- Verificar a viabilidade da utilização do metano produzido em escala piloto para


geração de energia elétrica e gás veicular, através de um balanço entre energia de
entrada (agitação, bomba de circulação, aquecimento, por exemplo) e energia de
saída (metano produzido) para verificação da energia excedente, que pode ser
aplicada, entre outros casos, como combustível para o caminhão que realiza o
transporte das matérias-primas (glicerol e/ou resíduo orgânico) até a estação de
tratamento de esgoto.

88
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ANEXO – Resultados das Análises de Cromatografia Gasosa

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