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C APÍTULO 1

O Texto e o Contexto da Linguagem


na Escola

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33Compreender o que é língua e linguagem.

33Refletir sobre os gêneros orais e escritos na escola.

33Apresentar o conceito de gêneros discursivos: primários e secundários.

33Reconhecer a relevância da oralidade na aprendizagem das crianças, principalmente


nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

33Identificar a escola como um lugar de construção de leitura (leitor) e de escrita (autor).


Letramentos Múltiplos na Alfabetização

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

Contextualização

Queremos convidar você, caro leitor, a participar dialogicamente deste
primeiro capítulo. Sentimo-nos autoras à medida que pensamos em você,
nosso interlocutor. Fizemos algumas escolhas teóricas, trouxemos reflexões
práticas, ilustrações, comentários e, como resultado, produzimos um texto que
nos une em dialogia, de forma interativa. A interação pode acontecer através de
diferentes formas: este caderno, por exemplo, é uma maneira bem concreta de
se estabelecer a interação entre nós, os autores, e você, estimado acadêmico.
Poderemos refletir sobre os múltiplos letramentos na alfabetização também
através de gêneros literários, textos e imagens da Internet, brincadeiras, jogos,
planejamentos e uma infinidade de possibilidades de diálogo.

Iniciaremos nossos estudos procurando entender a concepção de


linguagem presente em pesquisas e documentos norteadores das práticas
de alfabetização e de letramento, ampliando nossa compreensão em torno
do ensino da língua materna e da aprendizagem de modo geral. Ter clareza
quanto à concepção de linguagem é fundamental não só para o entendimento
das teorias, mas também para validar a prática docente, pois acreditamos
que o professor do Ensino Fundamental, de modo especial dos anos iniciais,
deve buscar não somente os conhecimentos de sua área pedagógica, como
também os das ciências da linguagem e demais áreas. Por isso, abordaremos
os gêneros orais e escritos na escola, a relevância da oralidade (como um
resgate da fala e da escuta), a escrita, a leitura sob uma ótica discursiva, e o
ser-leitor.

Nossa expectativa é que você aceite o convite e sinta-se desafiado, à


medida que lê, a refletir teoricamente sobre sua prática docente.

Linguagem, um Conceito Fundamental para


os Múltiplos Letramentos
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é
Toda palavra serve
determinada tanto pelo fato de que procede de alguém,
como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui de expressão a um
justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. em relação ao outro.
Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. (BAKHTIN, 1992,
(BAKHTIN, 1992, p.113) p.113).

Comecemos este capítulo pensando na importância que tem a linguagem


em nossas vidas. É através dela que lemos e compreendemos o mundo e as
pessoas em nossa volta. Considerando isso, a nossa concepção de linguagem
e, consequentemente, de língua, também é essencial para a prática profissional

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Letramentos Múltiplos na Alfabetização

e para o nosso entendimento de fala, escuta, escrita e leitura, atividades nas


quais produzimos e atribuímos sentidos em seus diferentes usos sociais.

Observando a tira abaixo, trazemos à tona dois conceitos: o de língua e


de linguagem.

Figura 1 – Tirinha

Fonte: Disponível em: <www.vidasuporte.com.br>. Acesso em: 10 jun.2011.

Veja que interessante: a resposta do programador não corresponde


à pergunta de seu interlocutor. Um estava se referindo à linguagem de
programação e outro, à língua.

Você já parou para pensar qual é a diferença entre linguagem


e língua?

A gramática de Cereja e Magalhães (2009) explica muito bem a diferença


A linguagem é um entre linguagem e língua. A linguagem é um processo comunicativo pelo qual
processo comunicativo as pessoas interagem entre si. Pode ser verbal, falada ou escrita; e não verbal,
pelo qual as pessoas como a música, a dança, a fotografia, por exemplo. Há ainda as linguagens
interagem entre si. mistas, como as histórias em quadrinhos, o cinema, o teatro e os programas
de TV, que podem reunir diferentes linguagens, como o desenho, a palavra, o
figurino, a música, o cenário etc. Com o surgimento da era tecnológica, aparece

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

também a linguagem digital, que permite armazenar e transmitir informações


em meios eletrônicos.

Já a língua é um conjunto de sinais (grafemas, sons e gestos) e de leis Língua é um conjunto


combinatórias por meio da qual as pessoas de uma comunidade se comunicam de sinais (grafemas,
e interagem. A língua pertence a todos os membros de uma comunidade, por sons e gestos).
isso faz parte do patrimônio sociocultural de cada coletividade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa também


esclarecem esses dois conceitos da seguinte maneira:

A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada


para uma finalidade específica; um processo de interlocução
que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes
grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua
história. (...) Dessa perspectiva, a língua é um sistema de
signos histórico e social que possibilita ao homem significar
o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não
só as palavras, mas também os seus significados culturais
e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio
social entendem e interpretam a realidade em si mesmas.
(BRASIL, 2001, p. 22, grifos nossos).

Veja a seguir um texto curioso que nos remete à relação intrínseca de


uma comunidade com sua língua, mostrando que a língua reflete a história, a
cultura e a identidade de um povo:

BRASIL DE 180 LÍNGUAS

Além do português, há no Brasil aproximadamente 180


línguas indígenas, faladas por 225 etnias. Dessas línguas, 110 são
consideradas em extinção, pelo fato de serem faladas por menos
de 500 pessoas.

Estima-se que, em 1500, cerca de 6 milhões de índios


falavam 1078 idiomas. Hoje, a população indígena brasileira
chega, no máximo, entre 440 mil e 500 mil indivíduos. Atribui-se o
desaparecimento das línguas indígenas às pressões políticas do
colonizador e, posteriormente, às necessidades de sobrevivência
das populações indígenas.

Fonte: CEREJA, W. R; MAGALHÃES,T. C. Gramática


reflexiva. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009, p. 15.

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Para termos a clareza de qual concepção de linguagem adotamos, é


necessário, primeiramente, conhecer as concepções existentes, para depois
adequar nossa prática pedagógica, de modo coerente, ao que acreditamos ser
linguagem. Geraldi (2004, p.41) nos apresenta três concepções ao pensar no
ensino da Língua Portuguesa:

1. Linguagem como expressão do pensamento, na qual a


língua é concebida como a gramática tradicional.

2. Linguagem como instrumento de comunicação, que vê a


língua como código ou estrutura.

3. Linguagem como forma de interação, de dialogia. Há


uma valorização da discursividade, dos gêneros orais e
escritos, bem como do contexto social.

Koch (2006) procura explicar como entende língua, sujeito, autor, leitor e
texto, dentro de cada uma dessas concepções. Segundo a autora, na primeira,
a língua é entendida como representação do pensamento e o sujeito, nesse
caso, é psicológico, individual, dono de sua vontade, de seu dizer e de suas
É o autor que dá ações. O texto é um produto do autor, cabendo ao leitor captá-lo passivamente.
sentido ao texto. É o autor que dá sentido ao texto.

Já na segunda concepção, quando a língua é concebida como estrutura,


Koch (2006) mostra que o sujeito, por sua vez, é predeterminado pelo sistema
e o texto é visto como simples produto de codificação e decodificação. O
O leitor tem o leitor tem o foco no texto, em sua linearidade, reconhecendo o sentido
foco no texto, em das palavras e as estruturas do texto. O texto é um código que precisa ser
sua linearidade, decifrado e entendido.
reconhecendo o
sentido das palavras e
Segundo a mesma autora, se considerarmos a língua dialógica e, portanto,
as estruturas do texto.
interacional, como vimos na terceira concepção apresentada por Geraldi
(2004), os sujeitos têm um papel ativo: constroem-se e são construídos no
texto. A leitura passa a ser uma atividade interativa, altamente complexa, de
produção de sentidos, que leva em conta as experiências e os conhecimentos
do leitor. O leitor pode concordar, discordar ou complementar o que foi dito pelo
autor. Tanto um quanto o outro são interlocutores: pessoas que participam, por
meio do texto, de um processo de produção de sentidos. Há, portanto, uma
interação entre autor-texto-leitor.

A teoria que fundamenta essa última concepção é do russo Mikhail Bakhtin,


considerado filósofo da linguagem. Sugerimos a leitura do sexto capítulo de
seu livro Marxismo e Filosofia da Linguagem, que trata da interação verbal,
bem como o adendo Gêneros do Discurso, apresentado na obra Estética da
Criação Verbal.

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

BAKHTIN, Mikhail M.; VOLOSHINOV, N.V. (1929). Marxismo e


Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992. p. 110-127

BAKHTIN, Mikhail M. (1979) Os gêneros do discurso. In M. Bakhtin.


Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 4. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-269

A leitura destes textos é fundamental, pois sua teoria vem sustentando


academicamente muitas pesquisas e fundamentando documentos norteadores
como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), as
Propostas Curriculares Estaduais, o Programa de Formação Continuada de
Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento)
e também este Caderno, afinal, estamos falando em múltiplos letramentos,
considerando a diversidade de contextos nos quais estamos inseridos.

Para compreendermos o(s) múltiplos letramento(s), torna-se essencial


adotarmos uma concepção de linguagem e de língua que nos permita olhar
para além do texto, considerando também o contexto. Isso se refere não
somente à escrita, mas também à leitura, à fala e à escuta. O princípio que
rege a teoria de Bakhtin é o dialogismo, lembrando que tanto a fala quanto
a escuta têm grande importância na interação verbal. São as diferentes São as diferentes
linguagens e os variados contextos que darão origem à diversidade de linguagens e os
letramentos hoje conhecidos. variados contextos
que darão origem
Conforme Sobral (2005, p. 106), o dialogismo se faz presente nas obras à diversidade de
do círculo de Bakhtin de três maneiras distintas: letramentos hoje
conhecidos.
a) como princípio geral do agir – só se age em relação de
contraste com relação a outros atos de outros sujeitos: o
vir-a-ser, do indivíduo e do sentido, está fundamentado na
diferença;

b) como princípio da produção dos enunciados/discursos,


que advém de “diálogos” retrospectivos e prospectivos
com outros enunciados/discursos;

c) como forma específica de composição de enunciados/


discursos, opondo-se nesse caso à forma de composição
monológica, embora nenhum enunciado/discurso seja
constitutivamente monológico nas duas outras acepções
do conceito.

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Letramentos Múltiplos na Alfabetização

Simplificando, para Bakhtin, o dialogismo não rege somente


a linguagem, mas a vida, pois considera as relações entre falantes,
ouvintes, autores, leitores. Ninguém é sujeito passivo nestas
relações, pelo contrário, todos têm um papel ativo no diálogo oral
ou escrito. A comunicação não depende só de quem fala, gesticula
ou escreve, mas de quem ouve, vê ou lê.

Atividade de Estudos:

1) Concebendo a linguagem como interação, de natureza dialógica,


qual interpretação você faz da frase ilustrada por Ceó Pontual?

figura 2 – Frase ilustrada

Fonte: Disponível em: <http://frasesilustradas.wordpress.


com/page/15/>. Acesso em 12 jun. 2011.

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-


Exupéry (29 de junho de 1900, Lyon – 31 de julho de 1944, Mar
Mediterrâneo) foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra
Mundial, terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa
Marie Foscolombe.
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2) Qual é a concepção de linguagem que fundamenta os


Parâmetros Curriculares Nacionais? Como você entende o
trabalho docente que adota essa concepção?
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Gêneros Discursivos e Escola – que


Relação é essa?
Sabemos que durante muito tempo o ensino da língua tinha como objeto
suas normas, seu código e a consciência individual.

Geraldi (2004) foi o precursor da ideia do texto como unidade de ensino,


com a publicação do livro “O Texto na Sala de Aula”, organizado como material
de apoio aos professores. De um ensino baseado em regras e exceções, cujo

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Letramentos Múltiplos na Alfabetização

foco era a análise da língua e a gramática, passou-se ao ensino procedimental,


estudando o uso da língua na leitura e na escrita, relacionando também a
gramática ao texto. Na prática, esse ensino foi assumindo um caráter mais
cognitivo, e o texto ainda não fora tomado realmente como unidade de ensino,
assim como defendia o autor, e sim visto como um pretexto para ensinar
estrutura textual, tipologias, coesão, coerência, por exemplo.

Recentemente nas Só recentemente nas práticas escolares brasileiras a língua passou a ter
práticas escolares uma dimensão mais discursiva, tendo como base o aporte teórico bakhtiniano,
brasileiras a língua em que os gêneros discursivos passam a ser instrumentos de ensino. Essa
passou a ter uma mudança traz muitas implicações para a prática docente, exigindo novas
dimensão mais posturas em relação “ao modo de pensar e ao modo de fazer esse ensino”
discursiva. (ROJO; CORDEIRO, 2004, p.12). É nesse aspecto que os gêneros orais e
escritos tornam-se o foco de ensino, dando espaço às práticas de letramento,
pois há uma valorização dos usos sociais da leitura e da escrita.

Você deve estar se perguntando: afinal, o que são gêneros


discursivos? Para Bakhtin (2003) são os tipos relativamente
estáveis de enunciado, havendo dois tipos: os gêneros primários
e os secundários. Cada gênero, seja oral ou escrito, é produzido
e entendido dentro de um determinado contexto social, ao
qual Bakhtin chama de campo de atividade humana. Assim,
dependendo do lugar (campo de atividade humana) onde o
gênero for produzido, terá características próprias e singulares.
Isso acontece com a linguagem de um modo geral, por exemplo:
se estamos conversando entre amigos, nosso vocabulário é mais
informal, porém se estivermos em sala de aula, apresentando um
trabalho, nossa fala será mais científica e formal. No primeiro caso,
estaremos empregando um gênero primário, fruto do cotidiano e,
no segundo, um gênero secundário, mais elaborado, produzido em
campos políticos, científicos, artísticos etc.

A escola é o lugar legitimado socialmente para trabalhar a passagem do uso


adequado dos gêneros primários aos secundários. “[...] os gêneros primários
são o nível real com o que a criança é confrontada nas múltiplas práticas
de linguagem” (SCHNEUWLY et al., 2004, p.30). A criança vai aprendendo
na escola que os gêneros são diferentes entre si, e de que é preciso usá-
los com adequação. Os gêneros primários servem como instrumentos para
a elaboração dos gêneros secundários, assim a criança começa do simples
ao complexo, do real ao científico. O professor precisa ter essa clareza ao
trabalhar com os gêneros na escola.

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

Schneuwly et al. (2004) são pesquisadores que se preocupam em explicar A criança vai
como é possível pensar e aplicar os gêneros orais e escritos na escola aprendendo na escola
didaticamente. Uma das possibilidades para isso é o trabalho realizado através que os gêneros são
de sequências didáticas. “Sequência didática é um conjunto de atividades diferentes entre si, e
escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual de que é preciso usá-
oral ou escrito” (SCHNEUWLY et al., 2004, p.97), e tem a finalidade de ajudar los com adequação.
Os gêneros primários
o aluno a dominar melhor um gênero, escrever ou falar de uma maneira mais
servem como
adequada numa dada situação de comunicação.
instrumentos para
a elaboração dos
Adaptação das sequências às necessidades dos alunos
exige, da parte do professor: gêneros secundários,
• analisar as produções dos alunos em função dos objetivos assim a criança
da sequência e das características do gênero; começa do simples ao
• escolher as atividades indispensáveis para a realização da complexo, do real ao
continuidade da sequência; científico.
• prever e elaborar, para os casos de insucesso, um trabalho
mais profundo e intervenções diferenciadas no que diz
respeito às dimensões mais problemáticas. (SCHNEWLY et
al., 2004, p.111)

Segundo os mesmos autores, ao escolhermos o gênero a ser trabalhado


na escola, devemos tomar o cuidado para que nossa decisão didática não
o simplifique. Lembremos que cada gênero é produzido numa esfera social
diferente e, quando trazido para dentro da escola, não pode perder suas Cada gênero é
características, nem se distanciar demasiadamente de seu contexto real, produzido numa esfera
ou seja, ao trazermos o gênero para a sala de aula, o tornamos um material social diferente e,
quando trazido para
didático, devendo haver o cuidado para não distanciá-lo de sua função social.
dentro da escola,
Cabe a nós propormos aos alunos situações de comunicação que oportunizem
não pode perder
a construção de sentidos e o domínio do gênero escolhido.
suas características,
nem se distanciar
Se optarmos em trabalhar uma receita culinária, o ideal é primarmos pelo demasiadamente de
espaço adequado: cozinha ou refeitório, termos os ingredientes necessários seu contexto real.
e aplicarmos o modo de fazer para que o produto final possa ser saboreado
e compartilhado. Assim a função social da receita é compreendida, embora a
cozinha da escola não seja a mesma da sua casa, ou do restaurante.

São infinitas as possibilidades do trabalho com os gêneros, podendo-


se optar por contos, parlendas, canções, adivinhas, trava-línguas, relatos,
entrevistas, fábulas, peças de teatro, na oralidade, por exemplo. Já na escrita
é possível explorar embalagens, cartazes, quadrinhos, convites, receitas,
Vale ressaltar que é
manual de instrução, poemas, poesias, textos literários e científicos etc. Vale
necessário adequar
ressaltar que é necessário adequar os gêneros às suas funções sociais, os gêneros às suas
mesmo que tenhamos nossos objetivos pedagógicos em vista. funções sociais,
mesmo que tenhamos
nossos objetivos
pedagógicos em vista.

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Letramentos Múltiplos na Alfabetização

Através do trabalho com os gêneros, podemos enfocar a fala, a escuta,


a leitura e a escrita como habilidades de uma competência discursiva. Para
tanto, o professor dos anos iniciais deve apropriar-se de alguns conceitos e
conhecimentos mais específicos da Língua Portuguesa. Por essa razão,
estamos trazendo para este Caderno conceitos de linguagem, língua,
gêneros discursivos (orais e escritos), sequência didática, dialogismo, leitura,
dentre outros que ainda surgirão no decorrer dos próximos capítulos, porque
assumimos uma concepção de linguagem como forma de interação, em que o
contexto social também é considerado. Isso explica o valor dos gêneros orais
e escritos como instrumentos de ensino e aprendizagem.

Utilizaremos o gênero entrevista para que você conheça um pouco mais


as ideias do psicólogo suíço Bernard Schneuwly, complementando o que já
estudamos até agora.

ENTREVISTA COM BERNARD SCHNEUWLY

O psicólogo suíço Bernard Schneuwly diz que os professores


precisam de material didático para trabalhar com leitura e escrita

Você pode não conhecê-lo pelo nome, mas o trabalho do


suíço Bernard Schneuwly, professor da Universidade de Genebra,
já deixou de ser novidade há algum tempo, principalmente para
quem leciona Língua Portuguesa. Suas ideias sobre gêneros
e tipos de discurso e linguagem oral estão nos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Desde a década de 1980, o psicólogo
de 49 anos, doutor em Ciências da Educação, pesquisa como a
criança aprende a escrever. Os estudos resultaram na criação
de sequências didáticas para ensino de expressão escrita e
oralidade. Os conceitos presentes nesse material didático se
difundem aos poucos no Brasil. Schneuwly vem colaborando com
a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em trabalhos
na área e pesquisadores da instituição estão publicando uma
coleção com sequências didáticas inspiradas no modelo suíço.
A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à
revista NOVA ESCOLA.

O que seus estudos propõem de novo no ensino da língua?

Bernard Schneuwly - Colocamos a questão da comunicação


no centro do ensino da língua materna. Esta é a mudança mais

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Capítulo 1 O Texto e o Contexto da Linguagem na Escola

significativa: dar às crianças mais possibilidades de ler, de


escrever textos, de aprender gramática e ortografia em função da
comunicação.

As aulas de gramática devem ser dadas em função dos textos?

Schneuwly - É essencial ensinar as crianças a ler e a produzir


textos. Quando começam a estudar elas têm de realizar essas
tarefas e, de maneira geral, não se dá importância suficiente à
questão. Isso não significa deixar de dar também um pouco de
gramática à parte. É possível fazer isso analisando sentenças
complexas extraídas dos próprios textos. Há ainda uma outra
maneira, mais forte na Suíça: pedir que os estudantes escrevam
sentenças que depois são usadas para análise e aprendizado.

Quanto tempo da aula deve-se dedicar à gramática?

Schneuwly - Em meu país, e eu sei que aqui acontece o


mesmo, cerca de 70% ou 80% do ensino da língua corresponde
à gramática e ortografia e apenas 20% ou 30% à leitura e escrita.
Temos trabalhado para chegar a um equilíbrio. Além disso, acho
que há gramática demais nas séries iniciais e de menos nas finais.
Na Suíça, depois do ensino elementar, os estudantes aprendem
apenas literatura. Mas há problemas gramaticais complexos que
poderiam ser estudados por jovens de 16, 17, 18 anos.

Por que há um peso maior em ortografia e gramática?

Schneuwly - Porque é mais fácil dar aulas sobre esses dois


temas. Existem livros didáticos e dicionários disponíveis. No
entanto, muitos educadores não sabem o que fazer no momento
de trabalhar leitura e escrita. Eles precisam de material para isso.

É o trabalho que o senhor vem desenvolvendo na Suíça?

Schneuwly - Sim. Em 1990 houve uma demanda oficial do


governo para que o grupo de pesquisa do qual faço parte criasse
um material que ajudasse a ensinar expressão escrita e oralidade.
Ao mesmo tempo os docentes diziam, em congressos, que
precisavam lecionar comunicação, mas não tinham métodos. O fato
de os professores terem pedido mudanças foi muito importante.
Era sinal de que eles estavam prontos para adaptar-se. Mais do
que se tivesse havido uma imposição.

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Letramentos Múltiplos na Alfabetização

Como é o material?

Schneuwly - São quatro volumes. Um destinado para 1ª e 2ª


séries, um para 3ª e 4ª, outro para 5ª e 6ª e o último para 7ª ,
8ª e 9ª. Em todos eles há uma apostila que deve ser usada pelo
aluno e outra pelo professor, escrita para que ele possa usá-la sem
dificuldade, com apenas um dia de treinamento. São cerca de 40
sequências didáticas para diferentes tipos de texto: científico, ficção
científica, histórias de aventuras, crítica literária, entre outros.

A oralidade também é trabalhada?

Schneuwly - Sim. As crianças a desenvolvem ao fazer uma


entrevista, participar de um debate ou expor um tema para uma
plateia, por exemplo.

Recursos como esses conseguem mudar o trabalho do


docente? Ou ele precisa de mais formação?

Schneuwly - Esse é um problema importante e sua solução


deve levar um longo tempo. Há dois pontos envolvidos. Um é a
formação inicial. A nova geração tem uma educação melhor e
consegue trabalhar da maneira que propomos com mais facilidade.
Por outro lado, há a necessidade de formar aqueles que já estão na
ativa, que são numerosos. Com o material em mãos, a capacitação
pode se dar na teoria e na prática.

Como as sequências são usadas?

Schneuwly - A criança entra em contato com vários


gêneros de texto que serão vistos novamente no futuro. Na
primeira vez que estuda entrevista, por exemplo, ela está no 4º
ano. Nessa fase, conhece técnicas simples e vai entrevistar um
funcionário do colégio. Ela prepara o questionário, mas aprende
que, se formular as questões espontaneamente, conseguirá
melhor resultado. Uma folha pode ser levada com a relação de
perguntas de um lado e, no verso, palavras-chave. A consulta
será feita só se houver problemas. Outra dica é perguntar
algo sobre o que o entrevistado acabou de falar, e não apenas
emendar uma questão da lista na outra.

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