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Introdução
O grau de conicidade tido como ideal em preparos
O sucesso do tratamento com prótese fixa é de-
para coroas totais fixas é aquele que proporciona maior
retenção da restauração. A literatura recomenda uma
terminado por meio de critérios como a longevidade
variação em torno de 2o a 6o, porém estes valores são da prótese, estética, saúde pulpar e gengival dos
dificilmente obtidos na prática clínica, mostrando-se dentes envolvidos e satisfação do paciente1.
freqüentemente superiores à angulação recomendada. Para alcançar esses objetivos, o cirurgião-den-
Entretanto, conicidades maiores podem ser aceitáveis, tista deve saber executar todas as fases do trata-
visto que cada dente suporte tem características e ne- mento, tais como exame, diagnóstico, planejamento,
cessidades próprias de retenção. O objetivo deste estu- preparo e cimentação da prótese. O preparo dental
do foi mensurar a conicidade dos preparos para coroas deve preencher os princípios fundamentais: mecâ-
totais realizados pelos alunos da disciplina de Prótese
nicos (retenção; resistência ou estabilidade; rigi-
Fixa I do curso de Odontologia da Universidade Federal
do Maranhão, a partir de seu ângulo de convergência.
dez estrutural e integridade marginal), biológicos
Para tanto, selecionou-se um total de 64 dentes de re- e estéticos1. O conhecimento desses princípios deve
sina para manequim, preparados no período de 2005 a orientar a execução dos preparos coronários em pró-
2006. Esses corpos-de-prova foram agrupados de acor- tese parcial fixa (PPF) e é de extrema importância
do com o arco e o grupo dental: G1 - dentes ântero- para a preservação das estruturas de suporte, as-
superiores (n = 36); G2 - dentes ântero-inferiores (n = 2); sim como para a longevidade dos tratamentos rea-
G3 - pré-molares superiores (n = 7); G4 - pré-molares bilitadores.
inferiores (n = 4); G5 - molares superiores (n = 2); G6 A retenção em PPF é uma das grandes preo-
- molares inferiores (n = 13). Por meio do programa Au-
cupações na confecção de uma coroa total e, gene-
toCAD 2006, as imagens foram capturadas com uma
câmera de vídeo CCD acoplada a um estereoscópio,
ricamente, pode ser traduzida como sendo a força
mostrando-se o ângulo de convergência tanto no sen- necessária à remoção de uma restauração protéti-
tido vestibulolingual/palatino (VL/P) quanto mesiodistal ca da sua posição de assentamento sobre o dente
(MD). Os dados foram submetidos a uma análise de suporte preparado, no sentido contrário ao da sua
variância (p = 0,05). O G2 foi o grupo que apresentou inserção2-4. A estabilidade é considerada uma pro-
a menor média de conicidade no sentido VL/P (6,50o, priedade relacionada à retenção, pois mantém a
p < 0,05), e o G1, as maiores médias no sentido MD integridade do relacionamento entre restauração e
(44,18o, p < 0,05). Assim, conclui-se que as médias dos dente preparado e, sobretudo, da adaptação margi-
ângulos de convergência obtidas no presente estudo fo-
nal2.
ram maiores que as preconizadas na literatura.
A altura da coroa e a conicidade dos preparos
Palavras-chave: Prótese parcial fixa. Preparo prostodôn- influenciam na retenção da prótese5,6, sendo a altu-
tico do dente. Retenção. Coroas. ra da coroa diretamente proporcional à sua capaci-
dade retentiva e o ângulo de convergência, inversa-
Resultados
Como os graus de convergência no sentido MD
e VL/P apresentaram variâncias homogêneas (p >
0,05), foi possível a realização da análise de variân-
cia. As médias dos ângulos de convergência tanto
no sentido MD como no VL/P, assim como o desvio-
padrão e os resultados do teste estatístico de Tukey
Figura 2 - Desenho esquemático do preparo e mensuração do estão demonstrados na Tabela 1.
grau de convergência cervical
Tabela 1 - Teste de Tukey na comparação das médias
do grau de convergência nos sentidos mesiodis-
O ângulo de convergência incisal/oclusal foi me- tal e vestibulolingual
dido a partir do ponto médio da altura até os limites
MD do preparo. Este ponto foi projetado no sentido Sentido
Sentido
oclusal e um novo ponto médio foi obtido entre essas vestibulo-
mesiodistal
lingual
duas distâncias, representando um quarto da reta
Grupo n Média ± DP Tukey* Média ± DP Tukey*
para oclusal. O referido ponto também foi estendido
para as extremidades MD do preparo. Os dois pon- Dentes ântero- 36 44,18 ± 11,31 a 16,10 ± 6,74 abc
tos foram ligados formando uma reta de cada lado e, superiores (G1)
Dentes ântero- 2 42,00 ± 1,41 a 6,50 ± 3,54 c
das duas retas convergentes, mensurou-se o ângu- inferiores (G2)
lo para incisal/oclusal (Fig. 3). Esta mensuração foi Dentes pré- 7 24,29 ± 6,42 ab 22,71 ± 5,31 ab
realizada tanto para o sentido MD como para o VL/P molares
superiores (G3)
de cada preparo. Dentes pré- 4 30,50 ± 17,31 ab 14,25 ± 5,68 bc
molares
inferiores (G4)
Dentes molares 2 20,00 ± 2,83 b 20,50 ± 12,02 abc
superiores (G5)
Dentes molares 13 16,62 ± 6,73 b 29,00 ± 8,26 a
inferiores (G6)
*
Letras diferentes indicam p < 0,05.
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