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de Artéria Renal
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
tavam arteríolas com reflexo dorsal levemente aumentado Figura 3 - Aneurisma de artéria renal (transoperatório).
(KW:0-I).
Foram realizados exames laboratoriais (tabela 1) e
eletrocardiograma, além de nova arteriografia renal. O do Canal de Cálcio) e a retornar após quinze dias. Na con-
esquema terapêutico foi alterado para inibidor da ECA sulta subseqüente, observou-se significativa redução da
(enalapril 20mg/dia) e bloqueador do canal de cálcio pressão arterial (PA: 140/90mmHg), indicando-se
(amlodipina 10mg/dia). O eletrocardiograma não apre- redução das doses dos anti-hipertensivos e controle diário
sentou anormalidades. Através da arteriografia renal, foi da pressão arterial. Três meses após a aneurismectomia,
constatado que o AAR havia duplicado, medindo agora 6 os medicamentos hipotensores foram suspensos e a
centímetros de diâmetro (figura 2). Face ao risco de rup- paciente permaneceu normotensa após um ano de segui-
tura, a paciente aceitou a correção cirúrgica. mento. Realizou-se ecografia do aparelho urinário com
doppler colorido de artérias renais 19 meses após a cirur-
gia, que evidenciou rins de tamanho normal, com boa
Descrição do ato cirúrgico relação de espessura e definição entre as zonas paren-
quimatosas e sinusal e ausência de hidronefrose. Doppler
Foi realizada abordagem abdominal com incisão das artérias renais: AR direita: sístole 132cm/s; diástole
supra-umbilical transversa mediana até o flanco direito. 56,8cm/s. AR esquerda: sístole 150cm/s e diástole
Após a dissecção, identificou-se o aneurisma sacular na 55,5cm/s. As velocidades de fluxo medidas são sugestivas
artéria renal direita próximo ao hilo, estando firmemente de ausência de estenose em artérias renais.
aderido ao parênquima renal (figura 3). Confirmou-se
ausência de estenose distal. Obteve-se, então, veia safena
autóloga, a qual foi anastomosada com aorta término-lat- DISCUSSÃO
eral e com artéria renal distal término-terminal; após, pro-
cedeu-se a aneurismectomia. Ao final do reparo cirúrgico, Descreve-se caso de paciente negra apresentando
foi observado um bom fluxo pelo enxerto venoso com boa hipertensão renovascular, com 16 anos de evolução,
perfusão renal. A paciente manteve boa diurese durante decorrente de aneurisma de artéria renal direita. Estudos
todo a evolução transoperatória. demonstram que a hipertensão renovascular é rara na raça
Ao término do procedimento, foi transferida para negra12, porque a fibrodisplasia não costuma acometer
Unidade de Tratamento Intensivo, onde permaneceu por indivíduos desta etnia.
três dias. Os níveis pressóricos, no pós-operatório imedia- Cabe ressaltar que o tipo de AAR do presente caso
to, mantiveram-se elevados (PAM: 120mmHg) mesmo é o sacular, que se constitui na variedade mais comum,
fazendo uso de nitroprussiato de sódio. A paciente rece- porém geralmente com apresentação em faixa etária mais
beu alta hospitalar quatro dias após o reparo cirúrgico, elevada (média de 48 anos)13 e de etiologia ateroscleróti-
apresentando bom estado geral, porém permanecendo ca. Já o AAR do tipo fusiforme é tipicamente encontrado
hipertensa (PA: 160/100mmHg). Foi orientada a continuar em jovens hipertensos que são submetidos à angiografia
com esquema terapêutico (inibidor da ECA e antagonista renal para avaliação de hipertensão renovascular.
112 Hipertensão Renovascular
A ruptura é a complicação mais grave do AAR, cia); aneurismas sintomáticos; expansão do AAR demons-
sendo sua incidência ao redor de 14% a 30%4. A ocorrên- trado através da repetição da angiografia, tomografia
cia de aneurismas grandes e sem calcificações, como o computadorizada ou ultra-sonografia; e presença de
descrito, aumentam esse risco. A maioria das dilatações aneurisma em rim único. A paciente em questão apresen-
aneurismáticas renais relatadas na literatura apresenta tava quatro dos critérios para correção cirúrgica: HAS
tamanho médio de 1,7cm 5, portanto bem menores que o renovascular severa, AAR com 6cm de diâmetro, dupli-
AAR da paciente descrita, com 6cm de diâmetro. Além cação do seu diâmetro em 4 anos e idade fértil; portanto
disso, é importante considerar que a gestação corresponde trata-se de caso com inequívoca indicação cirúrgica.
a um período de maior risco de ruptura; a paciente em Estudo retrospectivo demonstrou que, dentre 71
questão concluiu duas gestações, com realização de cesa- pacientes portadores de AAR submetidos ao reparo cirúr-
riana na primeira (possivelmente devido à pré-eclâmpsia), gico, 83% apresentavam história de hipertensão anterior
e parto vaginal na segunda. A mortalidade por ruptura de ao procedimento. Nessa amostra, verificou-se cura da
AAR durante a gestação era de quase 100% antes de HAS em 25% dos casos, enquanto em 39% houve
1970. Atualmente, esse risco foi reduzido para 6% dentre redução dos níveis pressóricos7. No caso relatado, a
as pacientes que se submetem à cirurgia de emergência paciente manteve pressão arterial média de 120mmHg no
(geralmente nefrectomia). A mortalidade fetal encontra- pós-operatório imediato, em uso de nitroprussiato de
se em torno de 25% quando a ruptura ocorre no terceiro sódio. Foi verificada significativa redução dos níveis
trimestre, sendo 100% fatal no primeiro trimestre9. pressóricos no pós-operatório tardio, possibilitando a
A maioria dos casos de HAS renovascular em diminuição progressiva da dose de anti-hipertensivos, os
pacientes com AAR ocorre quando existe estenose con- quais foram suspensos três meses após a cirurgia, com
comitante da artéria renal (mais comum no tipo manutenção de níveis normais de pressão arterial. Um
fusiforme)12, achado este não verificado no presente caso. ano após a aneurismectomia, a paciente encontra-se assin-
A HAS foi atribuída à compressão do tronco arterial dis- tomática, normotensa e sem tratamento anti-hipertensivo,
tal ocasionada pela grande dilatação aneurismática. apesar de ter permanecido hipertensa por 16 anos.
Os critérios para indicação de reparo cirúrgico do Conclui-se que a hipertensão arterial secundária ao
AAR são3,12: aneurismas com diâmetro superior a 2cm; AAR é potencialmente curável. As repercussões prognós-
ausência de calcificações na parede da dilatação; acome- ticas dessa cura justificam a busca ativa de hipertensão
timento de mulheres em idade fértil, independente do renovascular em casos selecionados, que raramente pode
tamanho do aneurisma; ruptura (intervenção de emergên- estar associada ao AAR, como no presente caso.
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