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Cee ay Pe ee eee fete cat Cees Decrease wc ond oe ee eg ed cane ee ee a Co eu een are! Pere ee ete aay eee Pe ne ec age eet ere Eee ee uo ‘urrados do tipo “lugar de mulher é na cozinha” ‘sejam repetidos geracéo pds geracao, eee ey cuca) oe ee ee Cie ioe ee ‘mostrando que lugar de mulher é na historia, eee ee tt Cree eee Prenat es ard Aeon arc ee ae eae a Baa ena nner Sek POV Omet=ta) NA HISTORIA DO BRASIL PS ee ery Lon! MULHER NO IMAGINARIO SOCIAL BC ae ely MARY DEL PRIORE 8: (6 005.2 ooh POE NG Su ALN REPENSANDO A HISTORIA P o£ N S A ON A MULHER NA HISTORIA DO BRASIL MARY DEL PRIORE D D ° ° Cola: REPENSANDO A TSTORIA (ordenador: Jame Pinky Pra Ato Proto Gries # de Cpe Syso d Utes Cita Fao Tasos: Dee. Ihateet de Cope: Edouard Mane ‘Renato: Kowa Maia Cay Cun Ingresao eAcabamento Grea Crealo FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELA, BIBLIOTECA CENTRAL — UNICAMP san PRS S/n rio os ISON ss4506119 1 Mater — Period cola. 1. To, 1 Mater: Prod clo 35.409 810 3 1 eco: bei de 1988 4 Saar setembo de 184 Proibida a reproduc total ou pac Op intmtaes sero processador a fora dl, Todos 0s direitos reservados 8 EDITORA CONTEXTO (Eitora Pinsky Ltd.) Rus Acopiara, 199 ~ OS0N3-110-— Sto Paulo — SP Fone: (Oi) 82.5058 — Fax: (O11) 82 3561, ‘A Autora no Contexto. 1. Intocuo 2. tmagens 6a ner 3 As Grandes Desordens 4. Ser Mée na Conia 5, Conclus6es ‘Sugesttes de Leia. © Liter no Contesto A AUTORA NO CONTEXTO A autora deste tro 6 caroca de nascimento, mas paulista de coragéo. Para ola, fazer histria 6 uma paixdo, assim como um processo {de enamoramento @ prazer: do amor "a primeira vista" por um tema, & ‘sensapdo de aventura do "cacar” documentos e descob, de forma de- tetivesca, tramas e dramas histéricos, até maravlharse com os cend- ios do passado ou encantar-se com palavas fora de uso, que se es- ‘condem travessas, nas obras raras. Seu carinho pela matéra estende- 'e 20 gosto pelos arquivos, os papdis velhos e amarolados, a: manus- crits de letrinha midda e emberalhada, © a tudo 0 mais que além de transportaro histriador no tempo como um tapete magico, o incentive a constr histvia. Como boa lbvana, intressa-so muitisimo por artes plésticas © cenxerga So Paulo como uma grande tela de pintura abstato-geomé- tica. Os fins de tarde de oéu avermelhado canta o cinza dos arranha- ‘6us 0a fta bihante do rio, encantamna, DDornadiora do olhar para descobrir uma cidade mais bonita, gosta também de exercitar 0 corpo com espertes: joga gole, pratica aerdbica e equitacéo. Doméstica, possui “os trés flhos mais bonitos do mundo" com ‘quem gosta de compartir comida japonesa,livos de arte © video: clips. Doutoranda pela FFCHL/USP com uma tese $00 a condigio fe ‘minina no século Vil paulsta, ver cscutindo varias quest6es relat vas & sexualidade e sociablidade femininas em artigos publcados & ccongressos, E tambsim pesquisadora do Canto de Estudos de Demo- gral Histévica da USP, onde, junto com colegas, desenvolve uma in- Vestigacéo de dar égua na boca: uma histéria de crianca nas popule- (66s do passado brasileiro. ‘Aqui ela responda a algumas questées que Ihe formulas. 1. De algum tempo para cd os estudos sobre a mulher tém se amplia- 0 muito. Qual a razéo disso? A. O aumento de estudos sobre a mulher apenas acompanta 0 rmo- vimento mais amplo de apropriagdo que as mulheres tém feito de estorgos dentro da sociedad, da economia, da police intelec- tualidade, antes reservados aos homens. 'A mulher ro s6 tem ocupado esparo em todas as éreas de produ- 80 © saber, como 0 tom feito com eficineia,fator que traz mais, luz as avidades que desenvoivem, Os estudos sobre mulher no Brasil refletem também o acompa- ‘nhamento que se faz &biblogratiaintemacional, esta sim plone fe de certa forma engajada com moviments intelectuaise polticos fm determinado momento. ‘Alvalmente, velo a produdo sobre ahistéria da mulher tendo como ‘mais nitido compromisso a paixéo de fazer a histéria de um seg- ‘mento cujo passado nos é bastante desconhecido. Paixéo de des- cobertas, pis. 2, Existe um ponto do vista feminino da histéria? R. O ponto do vista feminino da histvia talvez estejaretlotido na to- rmatica que hisloradores optam por abordar.. Subjetvismo? Talvez, ‘uma questéo ¢e infuigdo feminina: a histéra da sexualidade, do, corpo feminino, da casa, do trabalho doméstco, etc. espelharn as preacupagées © realidades de qualquer mulher, ontem ou hoje, na sua vida coliciana Greio que 0 trunfo desta histtia 6 0 de reconeliar mulher com um ‘ovo concelto de tempo na historia: 0 dias 8, De que forma voo8 ajuda a repensar a histéia com este texto? Fi Pretend, abviamente, repensar a histéria da muthor no Brasil Procurando compreender como e quando se formaram conceitos ‘deais para a mulher em nosso pais, refiro-me aos, qualificaivos {80 comumente invocados para roluar as mulheres: “mae”, Yonta” f@ “puta, 0 nosso abjetivo & esvaziar 0 peso @ a pecha que sigif- ‘eam mais e6tulos, permitindo & mulher exeroer, na prética, 08 SeUs, apéis sociais, onge de preconceitos.. ‘Alée de ajudar a mulher a repensarse, procuro tambsim suprir uma lacuna nos estudos sabre a Fistoia de nosso pals, onde os “burar 08" so muitos, ¢ 0s historiadores, poucos. _—_— 1 N-T R-O DU ¢ AO Gostaria do reunirneste lio dos intimos desconheigos. As on- tes e alguns sows objetosrlatvos a0 estoco da muiher na hist co Brasil Isto, porque 0 artesanato om avo Se consi o fazer ait ta da mulher bras, fom sgo costrado al all com alguns at ‘98, pequenostebalos © raras obras geal, azendo ao tra es- Coniotavel sensacao de que mats exiqus Go eas naravas sob a mulher no passado,s40 or documentcs quo. tim como prot ‘gonista ‘A mulher na istra do Basil om suis recoentemente sob a lun de esteredtpos,dandornos enledada lus80 66 imbiidade. AUlo- Saciicada,submissa soxual © matorlmente recisa com ‘go, 8 imagem da mulher de elite opdem-se a promiscuidade e a lascivia da mulher de classe subaltera, pivd da miscigenagao e das relagdes in- {ersricas que [ustiearam portato tom fsa coradade ene colnizadores colonzadoa, Para rome com a siencsa paisagem os estordtipos femins, fundaca na negasto dos pans histo Teorontados por mulores,fazs0 necessano raster a informaggo mas humice, acinhar a magom mais apagada e rexaminar o ds- Curso mais repels. assim podemos iberar as imagens femirinas do alhar que 26 a8 v8 contacts, pois pensar o “por qué” eo “para {0 co una histéna ca mulher trai Sign obandonar as pole Tzagée,e cexar emg a mesa. de tenses ene os papsis mas flnos v famines, viskmbrando aiém do sous conitos © compie- montarcades, 0 tecido mesmo da naratva atic. " MULHER E HISTORIOGRAFIA sobre ssmuiberesamesase tro doctat somite Desde que no século XIX a histra firou-se como uma discipli- na cientfia, ela tem dado a mulher um espaco cuidadosamente de- ‘marcado peias representardes e ideais masculinos dos hstoriadores ‘ue, até bem pouco temp0, a produziam com exclusividade. A primeira ‘mirada sobre as mulheres, se bem que obliqua © moralista, vem de Michelet, er 1858, no seu lio “La Femme". © conhecido histonador francés compreendia o movimento da histéria como uma resultante da Felago dos sexos, modulado elo conto latente entre a mulhernatu- reza © 0 homemicultura. A mulher, ressalva Michelet, s6 teria papel benéico neste processo se dentro do casamento e erquanto currin- ‘800 papel de mae. Ao fur da benfazeja estera da vida prvada cu, 20 Uusurpar 0 poder poiico como faziam as addloras eas feliceras, elas tomavarm-se um mal. [Na segunda metade do século XIX, 0 s6x0 individual, masculing ‘ou feminio, tem importéncia relativa para os bistoriadores, mas. a ‘questo do matrircado absorve o debate antropolégico. Engels entéo ‘ tla enquanto mulher venal surge ro quadro da polarizagéo entre vida conjugal e vida extraconjugal. A primeira, "boa", a sagunda, “ma @ pe- ccaminosa". As esposas, pudicas e castas, as merettizes um mal obscu- 19 tenebroso, Em 1732, Raphael Bluteau esclarecia no seu Vocabulério Port ‘quez @ Latino: Pecam as meretizes contra a natureza porque fazer ‘venal a formosura que a prépria natureza hes dou. Ofendem a si pro prias,feitas alvo de toda a impudicia @ prjudicam a ptria porque oF- inariamente se fazem estéreis © se so fecundas do origem a uma ignominicsa posterdade”. Com a mesma preocupagéo do autor do Casamento Perfito, que associa adomos & devassiééo, Bluteau tam- bbém percebe na beleza algo Wransgressivo @ por isso revoluciondtio. A esterlidade, invooada a seguir no seu discurso, 6 negativa pois contra: fia 0s pressupostos ofcais de aumentar o contingente branco e domi rnador para as tarefas da. colonizacdo. A ilegitimidade, por sua vez, compromete a ordem do Estado metropoitano na medida em que 0 ‘equlbio da dominagéo colonial pode ser quebrado pelo incremento de “bastardos" @ mestcos, colacados polo préprio sistema, nas fim. bias da marginalidade ‘social. Prossegue Bluteau: "A meretriz é um composto monstrucso; olhos de serpente, maos de harpia, aspecto de “Medusa, lingua de spide, iso sardénicn,légrimas de crocodilo, cor 80 de tira, voz de sere, atevida @ tomeréria acomete os perigos, incontinent ¢ lasciva se deleita nos vicios, impia e sacllaga dodica 20 apeite 08 sentidos que havia de consagrar a Deus; vive de artiicios © ‘mata com enganos: foge para que a persigam;poleja para ser vencida, nega para ser mais desejada; se a tocares se dissolverd e delxaré 0 cdo encoberto de impuidicas cinzas..”. ‘Téo,sedutora quanto aterradora, esta é a imagem que invacira © imaginario erucito dos pregadores do século XVII, alheios contudo 4 "volhacarias e manganagens",atrbutos mais prosaicos das prostiti- tas brasleras. Os manuais de confssio como 0 de Arceniaga, provi ‘nem em 1794 os confitentes, contra “as mulhores profanas, que se ‘apresentam nas Tuas, Nos-passeis, nas visitas com trajs indecentos €@ desonestos.. para que as vojam com todo adomo © compostura que 4 neers oes etc nn Rp tecien screen Pe ecco picerer cna a eee orn oe eee eee Sa Seo oe 4 aquelas @ ia com outras, ou elas vinham me buscar. Raro era o dia em ie pe coerce ea een ee ee ee Reeser eee ee Se ea isos ates am ee Serer BE aaa Bieler ae ee eres Se peers anr ces oe See cccce ere See em, Renee se ee ae See ee ee See ee ae eet ere ccc eres ie occas cer Bove erat ee 25 ‘mulher 6 pretaxto para mostrar que so mal usada, pode acarretar ma: les fisicos insupoctaveis, Para "evitar aroubos © diminuir Impetos’ ‘nasso médico recomendava: "vinagte forte embebido em seis ongas de ‘qua de tonchagem misturado com duas claras de ovo". Numa outra receita bem pouco ortadaxa aconselhava que se “untasse as solas dos ‘sapatos com esterco de manceba @ Franco, méico pauista do século XVI, in a para combalor 0s encantos das prositulas, "fomécios fomados da classe dos amargosos". Ervas dcidas como a losna deviam ser ma ggadas varias vezes ao dia “junto com algum exercicio penoso, como Ccavae Gom uma enxada,viaar @ 96, dormir em tébua du- imagens de Mesiusas © harpias, e sob | remédios de castiade, & preciso ouvir suas vozes nos process0s que '8e moveram na oolGnia contra as “mal procedidas”, cnfundinco sob 0 ‘otulo de prosttuias, as mulheres que usassem seus corpos em desa- ‘oro com as précicas intitucionais, Deslocadas dos bordéis, como se ‘usava na Europa, © & mercé dos casamentos intavels consagrados pelas condigdes de vida do perioco, compreendemos melhor as prost- «== Nas eidades colonia, as "mal procedidas" ganham suas vidas "tas gob-0 pana se fundo da. pobreza, onde 0 merotrcioera.um ofcio. tes nas.e casas de comércio,alé esbarrar na repress onstage iment antabuse sans aieares co daze. ‘2u uma forma de trabalho, igada A mais imediata sobrevivincia. No _periigca de autordades ou da vizinhanca, incomodados com su caso das capitanas ricas, uma possibidade de mobilidade social {988 © aruacas. Normaimente as mulheres alugavam quartos, ou ca ‘Aiguns olhares que nos ajudam a elucidaro sentido do meretricio. ‘585, ¢ misturavam 0 ocasionaloficio do meretricio com outras ativda- nesta época 840 lancados por suas ferrenhas opositoras. Na So™ das como costura, avagem de roupas, venda de alimentos em tabulei- Paulo de 1769, Ana Francisca de Paula acusa seu mando de "viver 195, Yenda de mercadorias em relalho e prestagdo de pequenos serv- solctando meretrizes para escandalosamente eom elas passaro tem- gos. Domingas Femandes em Sao Paulo, 1758, 6 acusaca de". iver po”. Iqualmente injuiada por seu marido preter-la “por mulheres que -—_‘Meeiizmente © desonesta...que é consentidora que em sua casa se ‘vem meretizmente", a "matrona grave e honesta’, Maria Clara de desonestem mulheres... com outras chamadas Martina, Higénia, Jo- ‘Sao José, na mesma dade em 1799, denuncia-o por inctéla a0 _sala.e Narcisa moravarn em suas casas alugadas a Luiz Tavares". "Vi- ‘acompanar "a batuques e bailes desonestos...com pessoas de baixa ‘yor de suas excomungadas torpezes’, insste 0 acusador,@ de “come estera e vida licenciosa @ dopravada..”. O meretricio no seré aqui, {Bf Com varios homens na mesma casa que tem a porta aberta para Portento, uma instiuigdo bem comportada que visa a paciicacdo de ee detestvl im". Violéncias contra donzelas e esposas, mas sim-uma opeao além do Na mesma cidade, em 1752, Joana Mavia Leite, “vulgarmente ‘casamento, Para os homens, estar na Companhia de prostitutas em hecida como Joaninha’, 6 acusada de sor “publica meretriz fazendo “casas de aloouce” ou similares sigifcava ter um espaco altemativo & to torpe estado modo de vida, de sorte que nao sé esté pronta a sexualidade conjugal, aoresido de outros aspectos de lazer como 0 quantos a procurdo, mas ainda inita 0s que no a buscar, para com jogo, a bebida, a musica e 0 eniretenimento facil. Nas captanias do fender @ Deus... Sul, 0s espagos destes “Wvatos” serdo os ranchas de beira de estrada, Das derivaoGes que vidas ferininas poderiam ter, um exemplo & ‘construdos quando da estruturagéo do comércio intracapitanias pelo na. Delgada da Siva, que em 1781 6 acusada de “tor se separado Morgado de Mateus, ‘S2u marido e viver com escéndalo concubinada com um soldado de regiment, e assstindo numa casa de alcouce © prostiu¢so". Da se- paragao & prosivigdo Arma fz toda a tajetra condenada pela le- jn. Outto exempl de price hatredoxa confundida com mertico & 0 Ge Maria Jesus Peo uigada como peostiuta om 1757, porque“. 440 contumaz no pecado do concibinato...@ por continuar nos seus topes epetites” ’ procaredade das condigdes mates de vida que empurravam as mulheres para est oo, surge no processo de Jana Pedrosa, em 1754, Mogi das Cruzes no fz vida com seu mado. ese) a mui tos anos a desamparu.. que a dita tem por ofcio andar buscando homens passageios por todas as vendas.” Milo comum no quacko de pobreza da colénia cram mies, pais e mardos consentrem na prostiigdo de suas fihas e esposas, assim como o faziam Francisca, ari, om tu, ou Joana Ribera, em Alisa, em 1758, ue exploravarn ‘2 2s fihas. A primeira “viendo do que elas gankam por suas ‘orpezas, acompanhando a Sua fiha que va fora do casa a seu mau tro.” A segunda, "..ndo 55 so desonesta com uns e outos pibica @ escandalosament, mas também serve de alot & sua fia sok tora por nome Ana. enregando-aa todos que com ela se querem de- sonestar’. Em Minas Gera, nal do cio da mineracéo, Felipa, rota mina ".consetia que sua fiha Teresa, parda fora, tvesse tats ic tos com homens devido a sua extrema pobreza". Na mesma époce © capitaia, Ana Free, parda fora, 6 infamada de consent que Sua {ha se desonest com alguns homers ‘And Jorge, morador na Vila Rica do Carmo, em 1730, 6 roces- <2 por “consent que sua mulher se desoneste com wérios homens @ sua filha com Matheus Pare, © que na sua casa se fagam dansas @ folguedos, © andar sua mulher descompost, angando-se ro #0 & vista da gente, sem manios.". Bahia como demais captaias no & excepto. L4, 0m 1811, Aqda de Saniarém "6 consentidora que sua f- tha Fonda viva apatada do mario @ faca mal do i. Também, "a ‘me de Mati, mulher de Dionisio, é consent que sua fiha aca vida mere” Maes efihas formam um grupo doméstico que se sustenta com 8 prostituio, soja ela dissimulada ou nao. ‘A prosiula, caregada de preconcelios, como a herdamos hoje, nasce do confi ante ida imposta de que havia uma mulher com permisdo insituconal para anstredir(meretrz de bore), a5 real dade da colnia que inentvavam por razbes de sbrevvéncia, a in- fragbes de qualquer mulher. | ' (Os processes deixam claro @ confuséo de papsis, pols “mal pro- odidas", concubinérias contumazes, mées alcoviteras, vagabundas ‘casionais misturavam-se as meretizes de ofc, num jogo dado Bela pobreza e miséria sexual. Embora raramente condenadas polos Trbunais ecisidstcos, alm de ponas pocuniarias © excomunhdes, as rmeretrizes tomaram-s0 alvo de um discurso que as acusava de “causar males fscos... propagar a céltica ou a venérea’,e de serem finalmen- {80 "patbulo onde jovens iam dar garote & sade” ‘A ineficiéncia das punigbes préticas nos fazem pensar que o dis- curso erudito tomava-se uma forma de reafimar a iferiordade femini- na 20 culpablizar a mulher infatora. As prostituta, muito a propésito, ao incentivar as brigas entre as mulheres “puras” e “impuras". Nos prooessos de divécio do séeulo XVIl,"matronas graves © honestas ‘queixavar-se entre lamentos e desprezo, dos espacosinvertidos © i= dioos onde se afinavam 0 sexo, a musica, a bebida e 0 dvertimento, (ue se thes era vedado @ se thes opunha. As esposas, peroebendo & Polaridade de vidas tdo diversas, reforcam em seus depoimentos as, Cearacteristicas "da baixa esfera e depravagdo” que acompanhavem as Prostitutas, valorizando-se enquanto “mulheres puras e de ber-iver”. ‘A existéncia da casa de aloouce, onde pululavam viandantes, marginals, foros @ desclassiicados reforcava 0 sou oposto, a casa de famtia, ©’consttua-se no espago onde prostituas teriam impressas nas suas cames, alé 0s ss0s, as marcas de suas misérias © 0s indi- ces de seus destinos. 3 AS “GRANDES DESORDENS” “eu Sio Cora ose Bepoe Acoso Cones do mey Sone Jesus Cs “eospesso mo SioGprane pea nseaSarksase omnia waa ue he tga ola som soe’ ext nem sosegar so emg wa. Gracia para corsa passa qve doa et ene Saher aprars (tno visage Sa i ao ro Pard 1765-176) MULHERES CONCUBINADAS Em 1828 escreve o visjante Hercule Florence em seu didi: ‘as mogas filas de pais pobres nem sequer pensam em casament, Nao thes passa pola cabeca a possiblidade de arranjarem um marido ‘sem 0 engodo do dote, como ignoram os meios de uma mulher po- der viver do trabalho honesto e perseverante, sdo facilmente arasta das A vida lcenciosa’. O viajante da expedicgo Langsdort acabara de ‘captar uma evidéncia antiga e renitente da vida colonial: as complexas ‘amas de relacionamento humano to facilmente contundidas com in disciplina sexual. Destas, fol 0 concubinato a mais disseminada nos séculos XVII e XVI eportanto, fonte de permanente preocupagao para a lgeeja Desejosa de implantar no Brasil o projeto de dtuséo da f6 cat ca através de familie instiicionalmente constituidas, a lgreja ka per seguir de forma brilhante no discurso, © desastrada na prética, 0 que ‘8 Consttugses do Aroebispado da Bahia defniram em 1707 como “a ita conversagéo de horrem com mulher por tempo considerve’ 0 "Este nebuloso critério referiase a adultérios e concubinatos, mance bias, amasamentos e demais formas de convivaidade sexual © con Jugal que noo sagraco matrinona Bastardo de uma tradigfo medieval inttuleda popularmente02- ro "easamento por jr", 0 concabinalo era relalivamente tolrado alo cero enquanto assim concebigo:". sr marido e mulher 6 viver fomo mardo e mulher. parinando da mesma casa, da mesma mesa @ do mesmo lio Esta formula de cosamento costumoto era acola na medida que tercamenta, ou de fato,pojetava-se para 0 uO 0 c3- famento sacramento, Desclpa au ndo para o contol da ge, a Teahdade & que indies caals assim conttulds aravescavam toda Uma vida sem a béng80 ofclal dos pares, recorendo @ esta Unica tonto por meco das penas oo infemo. Em Séo Paulo, 1798, Manuel Goncalvez de Aguiar, pardo e es- cravo, levando em conta “qe anda hi muitos anos concibinado, © como se acha de uma idade de ollentae tance anos e a concubna or pero dos sessont...no miservel estado co pecado e que a morte O poderd aparnar wo mesmo, ped Hesnga a seu senhor para casa 8", Um outo processo paulsta de 1748 acusa os réus de a quinze Ou dezeseeis anos viverem amancebados.. sem 6° apertaem do pe- ado". Em Santo Amaro, 0 igo, azendo jus & Vado do casamen- to por jres,batiza em’ 1706.2 “Ama, filha de Goncalves Morais © Francisca da Siva, salts... por sera dita Francisca, “sua mulher do futur, pos esto prdximos dese casa’. Stisapes como estas revelam as mulheres do perfodo colonial contrrias 8s pécicas que condenavam as praicas Sexuais fra do matimério,e imunes 8 ameagas de excomunho que costumavarn compara tis condenacées. As quase insuperévelsdiculdades de adem fnanceira para 0 casamento, fossem custos da carméria ou de does, aiclonads a mobildade espacial dos homens, resultant das disperivas alvdades econdmices Ga cldna, deeavem nestesanan- Jps uma possibiidade de vida sexal familiar para amos os sexos faramente desporigada, Esclsstea Siqua, na, So Paulo selecer- tsa, embora tenha Udo coiscadoo seu dito &comunhdo,". viva fit muoe anos concibinada com José Furtado’. Esclarece o poco "Estes hi mals'de um ano que prncpiavam a cspensarse de Umm Padimenio que tintam para casar e eperando eu com ees me Tos onderam que por fala de dni ndoo fazer’. Outos entraves Que SBfoutassem o casamento, tas como o preconceio canta a mulher de ‘x, ou 0s “parentesoos expt, conideragos pel ge "ime Incest", no ameagavam absolutamente os concubinatos. 3

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