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Mas é claro que o sentido dominante é a vista. Desde logo, Jacinto do Prado Coelho o acentuou. E subtilmente notou
que essa «predominância» se deve a que «a vista é o menos sensual de todos eles» [os sentidos]. Assim como
mostrou que essa dominância leva a que se «sublinhe o ato de ver, não o objeto da visão: “Vejo.” “Vi como um
danado”.»
Manuel Gusmão, A Obra de Alberto Caeiro, Coleção «Textos Literários», Lisboa, Editorial Comunicação, 1986, pp. 47-48.
1. Linguagem em Caeiro
Às palavras procura transmitir Caeiro a inocência, a nudez da sua visão. Daí, algumas vezes, a simplicidade quase
infantil do estilo, as séries paratáticas, a familiaridade de algumas expressões, as imagens e comparações
comezinhas, realistas, caseiras ou de ar livre. Mas como podia Caeiro exprimir linguisticamente a infinita diversidade,
as incontáveis metamorfoses do mundo? A linguagem situa-nos numa esfera de abstrações: dá-nos conceitos
cómodos, insinua uma visão esquemática de acordo com os imperativos práticos da vida.
Jacinto do Prado Coelho, Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa, 8.a ed., Lisboa, Editorial Verbo, 1985, pp. 25-26.
2 Silogismos: raciocínio baseado em duas proposições (as premissas), das quais se deduz uma terceira (a conclusão)
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