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ALBERTO CAEIRO

O fingimento artístico: Caeiro, o poeta «bucólico»

1. Caeiro, o poeta do campo


Alberto Caeiro, o primeiro do célebre trio de heterónimos a surgir, era um poeta do campo, sem estudos.
Reconhecido pelos outros como «Mestre», Caeiro pregava a perceção direta das coisas, sem filosofias:
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa. (de O Guardador de Rebanhos, XXIV)
Caeiro dizia-se «o único poeta da Natureza», mas a sua visão da natureza era idealizada, a apreciação que dela
fazia abstrata e a sua poesia quase pura filosofia. Falar de ver coisas diretamente implica já não estar a vê-las
diretamente. Caeiro foi um instante de nirvana poético, uma impossibilidade consubstanciada em versos
transparentes, belos e precisos como cristal. O próprio Pessoa ficou deslumbrado. Numa carta escrita a Côrtes-
Rodrigues, em 2 de setembro de 1914, garantiu: «Se há parte da minha obra que tenha um “cunho de sinceridade”,
essa parte é... a obra de Caeiro.» Dezanove anos depois, numa carta a João Gaspar Simões, classificou O
Guardador de Rebanhos como a sua melhor obra, que não poderia «jamais igualar, porque procede de um grau e
tipo de inspiração [...] que excede o que eu racionalmente poderia gerar dentro de mim».
Richard Zenith, Fotobiografias do Século XX — Fernando Pessoa, 3.a ed., Maia, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2013, pp. 99-100.

2. Caeiro, o homem instintivo


Ao «fingir» em Caeiro um homem instintivo que vive só para fora, levado pela mão das Estações, Pessoa obedecia
ao anseio profundo de fugir à viscosidade interior, de forçar as portas do «cárcere do Ser» em que se debatia,
apelando para o remédio radical: suprimir o eu, mero intervalo entre incoercíveis1, abolir o pensamento, dissonância
trágica do Universo, reintegrando o homem no seio da Natureza.
Jacinto do Prado Coelho, Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa, 8.a ed., Lisboa, Editorial Verbo, 1985, p. 189.

Reflexão existencial: Alberto Caeiro, o primado das Sensações

1. A primazia dos sentidos


Nesta aventura, o que se opõe ao conhecimento intelectual, à linguagem como nomenclatura, são pois os sentidos,
as sensações. Para além de serem pelos seus nomes genéricos referidos, as imagens desses sentidos surgem:
o tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato.
(Citei-as como repararam, desculpe-se a homenagem,
segundo a ordem do espantoso verso de Cesário Verde.)

Mas é claro que o sentido dominante é a vista. Desde logo, Jacinto do Prado Coelho o acentuou. E subtilmente notou
que essa «predominância» se deve a que «a vista é o menos sensual de todos eles» [os sentidos]. Assim como
mostrou que essa dominância leva a que se «sublinhe o ato de ver, não o objeto da visão: “Vejo.” “Vi como um
danado”.»
Manuel Gusmão, A Obra de Alberto Caeiro, Coleção «Textos Literários», Lisboa, Editorial Comunicação, 1986, pp. 47-48.

2. O (re)encontro com as coisas naturais


O que a poesia de Caeiro diz é a ficção de uma linguagem (realmente) nova, de um projeto de vida e de visão do
mundo. Trata-se de um projeto de (re)encontro com as coisas naturais e de adequação à sua realidade evidente e
opaca, à sua diversidade e permanente diferença. Este projeto implica dizer uma aceitação da aparência das
coisas, que é também uma descoberta delas, tais como se revelam nas sensações, e na medida em que os
sentidos se libertem das conceções comuns e herdadas, das palavras, das ideias, teorias, valorações e
imagens feitas, que ocultam a irredutível natureza dessas coisas. Assim, neste projeto, diz-se uma suspeita
intransigente em relação ao pensamento e à consciência, assim como em relação a toda a ação humana de

1 Incoercíveis: realidades que não se podem apreender na totalidade


1
intervenção no mundo. A filosofia e a ciência são recusadas, e a própria linguagem é suspeita de ser já uma
organização do modo de ver as coisas que falha a sua realidade e as oculta. Em última instância, um tal projeto
parece implicar uma espécie de anulação da subjetividade própria, como única maneira de aderir às coisas «do
mundo», como única maneira de realizar o sonho de se ser real como as coisas. É preciso denunciar, criticar as
ilusões da linguagem para encontrar as coisas, que são mudas e sem sentido. [...]
Em Caeiro, imagina-se o encontro e a descoberta da «eterna novidade do mundo», numa atitude de «pasmo
essencial», num presente absoluto, no fundo num tempo sem tempo que é o da visão «originária»: a visão em que
se vê tudo sempre da primeira vez, em que não há reencontros, mas encontros sempre novos e puros.
Manuel Gusmão, op. cit., pp. 66-68.

Linguagem, estilo e estrutura

1. Linguagem em Caeiro
Às palavras procura transmitir Caeiro a inocência, a nudez da sua visão. Daí, algumas vezes, a simplicidade quase
infantil do estilo, as séries paratáticas, a familiaridade de algumas expressões, as imagens e comparações
comezinhas, realistas, caseiras ou de ar livre. Mas como podia Caeiro exprimir linguisticamente a infinita diversidade,
as incontáveis metamorfoses do mundo? A linguagem situa-nos numa esfera de abstrações: dá-nos conceitos
cómodos, insinua uma visão esquemática de acordo com os imperativos práticos da vida.
Jacinto do Prado Coelho, Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa, 8.a ed., Lisboa, Editorial Verbo, 1985, pp. 25-26.

2. Estilo e estrutura em Caeiro


O ideal estilístico de Caeiro, mais de uma vez expresso nos seus poemas, requer a espontaneidade lisa, a palavra
direta, encostada à ideia, a formulação natural, viril e fluente, «como se escrever fosse uma coisa que lhe
acontecesse/como dar-lhe o sol de fora» [...]. No estilo, porém, [...] projeta-se a íntima contradição entre o Caeiro
filósofo antimetafísico, árido, avezado a esgrimir com conceitos, e o Caeiro instintivo que ele pretende ser, com a
frescura do seu visualismo, a virgindade radiante das suas experiências de camponês-poeta. O primeiro é quem
sobretudo tem em mira «a identificação, a definição com verbos existenciais e nomes predicativos» para ensinar o
que a Natureza é e o que nós devemos ser; não poupa as antíteses, os paradoxos, os silogismos 2 bem
desenrolados. O segundo acumula copulativas, emprega os termos pitorescos da fala popular, repisa os
demonstrativos neutros, atenua a aridez dos raciocínios com imagens e comparações caseiras ou de ar livre.
Jacinto do Prado Coelho, op. cit., pp. 124-125.

2 Silogismos: raciocínio baseado em duas proposições (as premissas), das quais se deduz uma terceira (a conclusão)
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