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eei

suplemento

Março de 1969

HA ALGUM FUTURO PARA


o PROTESJANTISMO NA

AMÉRICA LATINA?
Rubem A. Alves

'
1. O Protestantismo Latino Americano: fim da situação proletária do mundo moderno. Esta con­
comunidade! tradição significava que o Protestantismo, prisio­
neiro do seu passado, não tinha os recursos para
O propósito dêste ensaio é explorar o tema : o responder criativamente à situação em que êle
futuro do Protestantismo na América Latina. Te­ se encontrava. E isto era prenúncio do seu fim.
ma que proponho apenas como hipótese de tra­ Ao escrever Tillich referia-se e dirigia-se à
balho. Realmente, as crises que no presente estão Europa. Não podemos, portanto, simplesmente
fraturando as igrejas Protestantes históricas em transferir a sua análise para a situação Latino
nosso continente nos levam a duvidar, seriamente, Americana. Antes de mais nada, não podemos
que o Protestantismo esteja a caminho de qual­ falar de "fim da era Protestante" num continente
quer futuro que possa ser descrito como de al­ que nunca a conheceu. "Era Protestante" é uma
guma significação positiva. Esta não é a primeira expressão que denota o poder criador do Protes­
Yez que alguém levanta esta interrogação. Creio tantismo para vitalizar uma civilização. Ora, o
qne Tillich foi o primeiro a formulá-la de forma que aconteceu no nosso continente é que o Pro­
clara. Perguntava êle: "Estaremos no fim da testantismo envelheceu muito antes de fecundá-lo
Era Protestante?" ("The End of the Protestant
Era?") 1 Tillich percebeu que havia uma pro­
funda contradição através do seu desenvolvimento Paul Tillich, "The End of the Protestant Era?"
histórico ( estratificação social, estrutura de pen­ emThe Protestant Era (The University of
samento e linguagem, etc.) e as exigências ,la Chicago ·Press, Chicago, 1962), p. 222.

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com aquilo que de mais criador êle possuía. En­ lica. Notemos, portanto, que a dialética entre co­
velheceu prematuramente. Ainda menino ficou se­ munidade e estrutura, antes ae'· ,ser um sintoma
nil. de senilidade é, ao contrário, • uma · evidência de
Que queremos dizer por senilidade Protestante ? um processo vital de rej uvenescimento. 3 Se, ao
Desejamos, com isto, indicar que o Protestantismo contrário, as estruturas triunfam sôbre a comu­
se acha dominado por um traço peculiar da psi­ nidade, desaparece a dialética que conduz à res­
cologia da velhice : a obcessão pelo passado e a surre1çao, e impõe-se uma relação em que a co­
sua preservação. Senilidade não é, realmente, nmnidade é reprimida pelo poder estrutural. Aqui,
uma simples categoria psicológica. Ela tem uma ao invés de serem expressão da liberdade da
dimensão teológica que Kolakowski descreve como comunidade, as estruturas são formas qu't"',.a mu­
sendo um estilo sacerdotal de vida. "O estilo nificam. Quando isto acontece as alternati,.ás que
sacerdotal de vida (priesthood) ", êle observa, "não se abrem à comunidade são : .' 'f
é simplesmente o culto do passado, tal como êle a) Ou viver sob repressão, den't'ro das estru­
é visto através dos olhos de hoj e ; êle implica, turas eclesiásticas dominantes.
antes de mais nada, na sobrevivência do passado b) Ou recusar-se a permanecer sob repressão,
sob uma forma inalterada. Não se trata, portanto, optando então pela liberdade, em dispersão.
de uma simples atitude intelectual frente ao Um grande número de evidências sugere ser
mundo mas, na realidade, de uma forma de exis­ esta a situação do Protestantismo Latino Ame­
tência do mundo, ou sej a, a continuação factual ricano .
de uma realidade que não mais existe." 2 Mas
como é possível que um mundo que não mais 2 . Comunidade : princípio do Protestantismo ?
existe continue a se fazer presente ? A resposta
é muito simples : o mundo morto se prolonga entre Histórica e teologicamente há bases bastante
os vivos através das estruturas que êle criou : sólidas para se afirmar que o Protestantismo
estruturas de pensamento, de linguagem, de comu­ nasceu como uma redescoberta da comunidade. E
nidade, de poder. Estruturas que um dia foram mais do que isto : que a comunidade (koinonia)
a expressão autêntica de uma comunidade que é a própria essência do Protestantismo. Seria
as criou a fim de expressar-se no seu mundo. possível então afirmar que, se há um princípio
Mas quando a comunidade que as criou e o mundo Protestante, éle é a comunidade. Guardamos o
para que foram criadas passaram e morreram, sentido duplo da palavra princípio : ( 1 ) como iní­
elas continuaram . E através da sua presença os cio histórico e (2) como idéia ou realidade que
homens continuam acorrentados a um mundo que se constitui na essência de algo. Se esta tese é
já morreu. A senilidade se caracteriza, portanto, verdadeira, teremos de concluir que o Protestan­
pelo fato de que a vitaliadde das comunidades tismo Latino Américano, na medida em que êle
humanas é dominada pela rigidez das estruturas coloca a comunidade em crise, se constitui na
herdadas , fazendo desta forma, com que o velh0 negação do princípio histórico e do princípio
triunfe sôbre o nôvo. Parece-nos ser esta a con­ teológico do Protestantismo. 4
dição mais característica do Protestantismo his­ Já foi lugar comum , aceito por Católicos e
tórico na América Latina : o triunfo dos critérios Protestantes, interpretar a Reforma como o ad-
estruturais sôbre a vitalidade das comunidades
humanas . 3 No ensaio " B elief is Being" , que aparece em
Note-se que não estamos sugerindo que exista The F1tt11re of Catho/ic Christianity ( Cons­
uma alternativa :. ou comunidade ou estrutura. table, London, 1966, p. 40 ) , Yvonne Lubock
Alternativa falsa e impossível porque nenhuma elucida a significação desta crise Católica ao
comunidade humana pode existir sem estrutura. afirmar que "qualquer que sej a o seu sentido
A dialética conmnidade-estrutiwa, em si mesma, uma coisa é certa : o velho Catolicismo or­
apresenta possibilidades fecundas de reforma e re­ todoxo como nós o conhecemos, morreu. É
juvenecimento. Quando, por exemplo, a vitalidade impossível prever sob que forma éle ressusci­
de uma comunidade encontra os meios para tomar tará ; mas cada cristão, neste período de tran­
nas suas mãos as estruturas petrificadas que as sição, viverá pela intensidade de sua es­
dominavam, estas últimas experimentam uma ra­ peran ça. l 1
dical transfiguração. Ou, para ser mais exato :
morte e ressurreição. Morrem como o prolonga­ 4 Devo a Tillich esta observação acêrca da
mento de um mundo passado e ressurgem agora contradição entre o "princípio Protestante" e
como corpo de uma comunidade que vive. Tenho, o desenvolvimento histórico das Igrej as Pro­
pessoalmente, a impressão de que é isto que testantes. Tillich, entretanto, vê o princ1p10
está ocorrendo em vários setores da Igreja Cató- mais em têrmos filosóficos, enquanto nós o
consideramos mais de uma perspectiva social.
2 Leszek Kolakowski, "The Priest and the Jes­ Os dois não se excluem. Na realidade a co­
ter", no livro editado por Maria Kuncewicz, munidade é a realidade que transforma as idéias
The Modern Polich Mind ( Grosset and Dunlap, em praxis. Se assim não fôsse, as idéias nunca
New York, 1 9 62) p. 3 2 6 . se transformariam em história.

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vento do individualismo. Harnack afirmava, não nente da ordem, e como conseqüencia da. subor­
sem um certo orgulho, que "aquilo que se deno­ dinação hierárquica e dependência funcional dos
mina de in·dividualismo Protestante e a que, com homen.s , a. ord�m se cons.tit1tia na lei objeti7;a das
justi ça, se atribui um alto valor, tem a sua raiz comu1iidades humanas. Era atrav ;s da lei que as
no fato de que o cristão, através do seu Deus, comunidades humanas se integravam no todo. A
é um ser independente, que não precisa de coisa cqnseqüência desta. filosofia é uma antropologia
alguma, que não está sob o domínio de lei alguma fechada.. Se o homem é uma função da ordell).
e nem depende de nenhum homem". 5 M-oderna­ total, e se esta .ordem, na sua perfeição, não se
mente, entretanto, há outros estudos que apontam abre, o homem, lógicamente, se fecha também ;
j ustam�nte na direção aposta e que insistem que, é um ser acabado, que encontra os seus limit�s
o que existe de único na Reforma, é o nôvo con­ nas estrut.u ras obj etivas que o passado lhe legou. ·
ceito de comimidade que então surgiu. A unici­ A Reforma rompeu esta visão do mundo por­
dade do nôvo conceito de comunidade se torna que, ao invés de experimentar o mundo como
evidente quando vemos que, para Lutero, ordem, ela passou a encará-lo como história. É
a) A igrej a é essencialmente "comunidade" ; preciso dizer uma palavra para explciar o sen­
b) O ,cristão só existe em comunidade, e tido de história, tal como o estamos usando. Ge­
c) Que o homem experimenta Deus como co­ ralmente - e êsse é o sentido mais comum -
munidade, ou seja, que Deus, históricamente, exis­ história se refere aos fatos passados da vida hu­
te como comunidade . Voltaremos a êstes pontos mana. História seria aquilo de que podemos nos
mais tarde. lembrar, uma função da memória. Aqui, entre­
Esta nova compreensão da comunidade não foi tanto, usaremos a mesma palavra com um sen­
simplesmente uma sociologia diferente. Antes de tido diferente. História será aquela maneira de
mais nada ela era nova, pois que implicava, real­ entender a experiência: humana não em função
mente, na negação de tôdas as pressupos1çoes de uma ordem divina, estática, terminada, mas
que dominavam a sociedade medieval. Ou sej a , como inacabada, aberta para o futuro. A histo·
através dela s e anunciava a descoberta de um ricidade do homem se ligaria, assim, não só à sua
mundo nôvo, uma nova experiência da vida, do capacidade de se lembrar do passado, mas tam­
mundo, do tempo. E apenas para orientar as nos­ bém à sua possibilidade de projetar-se para o
sas reflexões eu sugeriria que enquanto futuro, de cortar o cordão umbelicar que o man­
(a) a sociologia medieval toma a ordem como tinha seguro no ventre de uma ordem terminad1.
sua estrutura básica de referência. O homem descobre-se a si mesmo como diferente
(b) a sociologia da Reforma representa a des­ daquilo que as gerações anteriores lhe haviam ditn
coberta da história como maneira de experimentar acêrca dêle mesmo . Não fechado, terminado, mas
o mundo. aberto, incompleto, numa busca permanente. "Spe­
É necessário esclarecer o que estas duas afir­ ro, ergo sum,,.
mações taquigráficas significam. Antes de mais O processo pelo qual . surge uma nova visão do
nada temos de ter uma idéia clara da significação mundo não é muito simples. Uma .interpretação
da palavra ordem, que usamos para caracterizar positivista da história tenderia a pensar que o
o pensamento medieval . Ela se refere àquela progresso do pensamento humano é um movi­
estrutura unificada do universo na qual os anjos, mento na direção da obj etividade científica. Em
o cosmos, a igrej a, as estruturas políticas, os certo sentido isto é verdade : quando as ciências
homens, se articulavam como partes de uma sínte.se físicas estão em j ôgo. As coisas se complicam
total, da qual Deus era tanto a origem histórico­ um pouco quando o homem passa a se envolvzr
metafísica quanto o princípio de integração e fun­ existencialmente no obj eto que êle procura co­
cionamento. Por se originarem em Deus e .fun­ nhecer. 1':ste é o caso da história. K. Mannheim
cionarem em tôrno de Deus estas estruturas nos mostra que a compreensão do tempo de uma
eram sagradas, e por isto mesmo perma><entes. certa comunidade está intimamente associada aos
Tinham não só uma solidez ontológica como va­ s.eus desejos. Diz-nos êle : "1':sse desej o (da · CO­
lidez ética. A conclusão lógica que se tira desta munidade) é o princípi0 o,·ganizador que molda
ordem global é que a comunidade dos homens só até. a maneira pela qual experimentamos o tempo'' .
pode existir dentro (numa relação de subordina­ Kant fêz uma grande contribuição à teoria do
ção ao todo) e como parte da síntese. Isto signi­ conhecimento ao mostrar que a mente não é uma
fica que, por causa de caráter sagrado e perm<1- simples máquina de. retratos, passiva, a repetir
o . mundo. Ela é ativa, contribuindo -dinâmicamente
5 A. von Harnack, History of Dogma (Dover para . que percebamos o mundo como um · todo or­
Publ. N . Y . 1 96 1 ) v. VII, p. 2 1 2 . Troeltsch ganizado e que faz sentido. Para Kant o tempo não
o segue . Cf. The Social Teachings of the era algo objetvio, ali fora, independente da mente,
Christian Chiwches ( Harper Eros. TB, 1960) , Ao contrário, êle era. parte dos recursos com que
vol . II, p. 47 1 . Há bons motivos para tal in­ a raz.ão é . dotada .P ara poder organizar . e conhecer
terpretação. O Protestantismo influenciado por o mundo. Manheim nos abre novas perspectivas,
Kant, e depois o Existencialismo, têm um neste sentido, ao indicar que o próprio tempo
inegável teor indi viduali sta. não é uma categoria n1ental, "a priori " como

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Kant pensava. Ao contrário : êle é filho dos nos­ certo produto. A diferença radical se encontra
sos desejos, porque são êstes que irão determinar na relação nova que esta situação-interpretação
a maneira pela qual o organizamos. "Como base implicava.
nesses propósitos e esperanças", continua Man­ Num estudo que fêz da natureza dos meios
nheim, "uma determinada mentalidade não só de comunicação, Marshall McLuhan chegou a uma
ordena os acontecimentos vindouros, mas também conclusão espantosa : que "o meio de comunicação
o passado." :nste fato é de grande importância é a mensagem". 7 Ao contrário da conclusão
para a compreensão da natureza dos grupos so­ mais evidente de que os meios de comunicação
ciais. "A estrutura íntima da mentalidade de um servem apenas como meios, isto é, <:orno instru­
grupo", continua o mesmo autor, nunca pode mentos para transmitir algo, êle afirma que o
ser melhor compreendida do que quando procura­ inverso é a verdade : que os meios são os fins.
mos entender suas concepções de tempo à luz E isto porque êles colocam o homem numa si­
de suas esperanças, aspirações e propósitos." 6 tuação global ou numa estrutura radicalmente
Abre-se aqui um caminho muito promissor para a nova que determina a sua interpretação total da
nossa exploração da natureza íntima das comu­ experiência. Assim, a própria interpretação da
nidades que se formaram na Reforma. mensagem óbvia que um certo meio de comuni­
Basta que olhemos superficialmente para as cação nos traz, já é condicionada pela estrutu�a
duas comunidades - Católica Medieval e Refor g lobal em que êste mesmo meio nos coloca. Ora,
mada - para verificar que uma diferença fun­ a pregação é um nôvo meie de comunicação ! É
damental as distinguia. A primeira constituia-se por isto que afirmamos que a sua importância
em tôrno da participação mecânica no sacramento se encontrava não no conteúdo consciente que ela
( que era idêntica à participação na ordem global) , podia comunicar mas na estrtura-interpretação
enquanto que a segunda reunia-se em tôrno da inconsciente que ela criava em volta daqueles
pregação. Ora, a pregação é uma certa articulação que a ouviam. A comunidade então, passa a se
da linguagem. Não é uma linguagem simplesmente constituir ( sem nos referirmos aqui aos elementos
descritiva, que retrata os fatos tais como êles ideológicos-teológicos conscientes) em função c!c
são ; não é uma linguagem excla1nativa, emociona! , uma situação-interpretação que condicionou a sua
que comunica os estados da subjetividade humana : maneira de experimentar o mundo.
nem é, ainda, a linguagem da mágica, que admite Estas observações sôbre a situação-interpreta­
ter poder para mudar o mundo (tal como acon­ çã.o como sendo aquilo que constituiu as novas
tecia com as fórmulas sacramentais medievais, u>tnta1i�laJi:.:s nos permitem ca1ninhar para a ::i.r­
instrumento para a transubstanciação ) . A prega­ ticulação consciente do seu pensamento . Passamos
�ão é uma linguagem que relaciona o presente a examinar a sua mensagem (linguagem, na sua
do ouvinte com um certo horizonte histórico pa�­ significação consciente) , depois de constatar que
sado . Ela deseja entender a situação tanto <lo qt1e êste nível ele significação tem suas raízes numa
fala quanto do que ouve, à luz da história. ti e,trutura-inconsciente a que denominamos situa­
uma linguagem histórica, portanto. Em outras pa­ ção-interpretação. Voltamos a Mannheim uma vez
lavras, é uma linguagem de interpretação. Note­ mais para esclarecer nosso ponto . "A psicologia
mos, portanto, q ue a primeira diferença quali­ moderna mostra que o todo ( Gestalt) é anterior
tativa entre as comunidades da Reforma e as às parte e que nossa compreensão destas no,;
comunidades Católicas medievais, é que as pri­ chega através do todo ; o mesmo sucede com a
meiras se constituíam naquilo que poderíamos compreensão histórica. Temos aqui, também, 0
chamar sitiiação-interpretação (situação hermenêu­ sentido de tempo histórico co-mo totalidade sign,i­
tica) , enquanto que nas segundas esta dimensão ficativa, que ordena os acontecimentos "anterior­
de memória desaparecia para dar lugar a uma mente" às partes . . . " 8
relação uni-dimensional com o presente. Sem de­ Indicamos atrás que a visão Católica do uni­
sejar, de forma alguma, ofender os meus irmãos verso entendia que o tempo histórico só tinha
católicos, e como uma contribuição crítica à in­ significação na medida em que o homem conse­
terpretação do seu próprio passado, parece-me guisse enchê-lo com ações ou coisas que fôssem
que tal relação se assemelha muito aquela q:.ie uma repetição ela ordem global. A atividade ética
Marcuse descreve, como típica da sociedade tec­ resumia-se na repetição do passado, tal como êle
nocrática : a pura participação, sacramental ou de se incorporara nas estruturas do mundo. O pas­
consumo (note-se que a mercadoria funciona como sado, por ser sagrado, deveria ser preservado
o sacramen�o do homem da sociedade de consumo) para o futuro. Ou melhor : o futuro deveria ser
conduz a uma relação de unidimensionalidade. a perpetuação do passado.
É preciso notar que a diferença crítica não se
encontra, fundamentalmente, na mensagem que a
pregação continha : como se a pregação fôsse ape­ 7 M. McLuhan, Understanding Media : The Ex­
nas um meio de con1 1micação que transmite um tensions of Man ( McGraw-Hill Book Co. New
York, Lonclon, Sydney, Toronto, 1965 ) , p. i.
6 K. Mannheim, Ideologia e Utopia (Editôra
Globo, Rio de Janeiro, 1 954) , p. 195 . S K. Mannheim. op. cit. p. 1 9 5 .
O valor da experiência existencial de Lutero transformação estrutural na medida em que sua
foi que ela revelou o conteúdo emotivo dêste perspectiva do mundo e do tempo se alteram.
passado que deveria ser preservado. Como conse­ Ao compreender o tempo corno livre para o
qüência do fato de o ponto de referência para homem o homem se descobre como livre para
a interpretação da experiência humana ser, para tempo. A teologia da história dá à luz uma an­
o Catolicismo, a lei ( isto é, conformidade com as tropologia da liberdade : Aqui se localiza a per­
estruturas) , o passado era experimentado . funda­ manente preocupação de Lutero com a liberdade,
mentalmente como dívida (por conter a transgres­ como a determinação fundamental do homem cris­
são da lei) . O passado era uma experiência trau­ são. 1 0
m ática, o início de uma neurose que dominava Tóda esta atividade interpretativa existe em
a civilização com um senso permanente de culpa. função de uma linguagem. Repetimos o que i a
Conseqüentemente o conteúdo emotivo do futuro dissemos : a linguagem não é u m simples meio
era mêdo, por conter irresolvida a problemática que comunica certa mensagem. A própria estru­
do passado. O padrão de repetição obcessiva do tura da linguagem é a mensagem, porque ela
passado, implícito nas exigências da lei implicava articula os elementos inconscientes que subj azem
numa eternalização de uma neurose coletiva. a esta nova experiência. Nela, realmente, estru­
A situação-interpretação a que nos referimos tura inconsciente e explicitação consciente vão pa­
significou um deslocamento do ponto de referência ralelamente. Muito embora, como freqüentemente
para a compreensão da situação humana. O ponto acontece com o neurótico, a formulação consciente
de referência se move dos limites da ordem domi­ seja uma tentativa de repr·imir a estrutura in­
!lante e se localiza nos horizontes bíblicos. Mas conciente.
êstes horizontes ofereciam uma radical rein­ Mas o advento de uma nova linguagem é o
terpretação do conteúdo do passado. Não mais advento de uma nova realidade social. A lingua­
dívida ou lei, mas promessa. Aqui está a razão gem é um fato social . Ela existe como "criação' ' ,
por que para a Reforma a polêmica entre lei e como expressão d o esfôrço dos homens no sen­
graça era uma luta de vida ou morte ! Esta era tido de compreender a sua experiência como sêres
a essência da Palavra ( e portanto o segrêdo da hwmanos. Por isto que a linguagem une e separa .
interpretação) : promessa. Ora, o que caracteriza "A linguagem cria simultâneamente compreensão
a promessa é que ela não tem a sua realidade em e incompreensão, ela liga e ela separa", comenta
si mesma ela aponta para um futuro onde o Ebeling. 1 1 Porque a linguagem é o homem.
prometido se transformará em cumprimento. O E ao ser articulada ela ou revela que os in­
intérprete é forçado a uma imediata deslocação terlocutores participam numa mesma interpretaçã'.:l
de sua atenção ao ouvir, do passado, uma pro­ de suas vidas e de seus mundos, descobrindo-se
messa. Se o passado promete é porque êle não é assim como companheiros numa aventura comum,
a coisa prometida. Não é aquilo que deve ser
µreservado . Xão é lei . Desloca-se a atenção para
o tempo de cumprimento : para o presente e para 9 Indicamos atrás que a situação-interpretação
o futuro. Esvazia-se o passado e com isto a cons­ é essencialmente histórica. Ela nem toma em
ciência se abre para o tempo do cumprimento. consideração seres metafísicos e nem usa a
Ora, o que é que êste horizonte passado prome­ história como ponto de partida para a cons­
tia ? Na linguagem dos reformadores : êle oferecia trução de uma metafísica. É neste contexto
o "perdão dos pecados", ou seja, u1na reinter­ que podemos entender a oposição de Lutero
pretação do passado que eliminava seu conteúdo aos teólogos escolásticos que pretendiam ter
emotivo como culpa. Perdão dos pecados é liber­ o segrêdo para um mundo acima do nosso, e
tação do passado . Mas isto só é possível porque a sua obstinação em manter todo o universo
o horizonte que determina a interpretação, ao de discurso teológico dentro de limites his­
invés de ser lei ou ordem, é amor e graça : Jesus tóricos. Já em 1 5 1 8 êle assim formulou as teses
Cristo. 9 A libertação do passado significa, por 19 e 20 para a disputa de Heidelberg : "Aquêle
outro lado, a libertação do padrão de repetição que contempla a parte invisível de Deus, por
obcessiva do passado no presente e no futuro. No­ meio da percepção das coisas que foram feitas
ta-se, então, que as dimensões de tempo, dantes (cf. Rom. 1 . 20 ) , não pode ser propriamente
fechadas por culpa e mêdo, se abrem agora diante chamado teólogo. Mas antes aquêle que perce­
do homem. E o homem, por sua vez, se abre aCJ be a parte visível de Deits, as "costas de
tempo. Isto é parte daquilo a que nos referimos Deus ( Ex. 3 3 . 23 ) , ao contemplar os sofrimen­
antes como a experiência do mundo como his­ tos e a cruz."
tória.
A atividade interpretativa trazia consigo, por­ 10 Cf. "The Freedom of a Christian", em There·e
tanto, uma reinterpretação, da parte do homem, Treatises (fortress Press, Philadelphia) ,
de sua própria condição. Reinterpretar o mundo 1960, p. 262.
é reinterpretar-se. O interprete descobre a impos­
sibilidade de uma relação obj etiva com o tempo 11 G. Ebeling, The Natitreof Faith ( Fortress
em que êle se acha, porqu êle mesmo sofre uma Press, Philadelphia, 1 96 1 ) , p. 1 87.

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ot1 ela revela · a sua irreconciliação e opos1çao, e estruturas, a questão já estava fechada há muito
o caráter contraditório das suas interpretaçõe3 tempo. "Onde está o Bis.ia ali está a Igreja",
dC' sua experiência. O que, naturalmente implica ou sej a, a igreja se encontra onde se encontram
no conflito entre as duas comunidades a que êlcs, as estruturas legadas pelo passado. Ora, tais es­
respectivamente, pertencem. truturas não ofereciam problema alguma. Pelo con­
A nova interpretação e a sua linguagem nos trário : eram a grande certeza . Ali estavam elas,
colocam, assim , no meio de uma nova comunidade. visíveis de todos os lugares, presentes em tôdas
Muito mais que um conglomerado de pessoas : as esferas da vida. Como corpo do Espírito Santo
· há uma dimensão de interioridade, de comunhão, elas eram, naturalrnenle, o limite e a forma da
derivada da linguagem comum que se fala, e ela comunidade.
experiência comum em que se localizam. Os in­ Ora, Lutero descobriu que a santificação das
divíduos, como mónadas, se quebram , para dar estruturas conduzia a uma ética de repetição obces­
lugar às pessoas. Articula-se uma antropologia siva do passado que tinha como resultado a per­
do homem como ser aberto. Abertura que é de­ petuação da culpa e do mêdo, corno conteúdos
rivada dêste constante j ôgo de relações humanas. permanentes da experiência humana. A liberdade
Relações que não permanecem na superfície mas era assim destruída tanto de forma objetiva quan­
que determinam mudanças fundamentais nos ho­ to subj etivamente : o tempo se fechava para o
mens. A comunidade, nas palavras de Lehmann, homem e o homem se fechava para o tempo. Por
é um local de "transubstanciação" humana : por­ outro lado, êle viu com grande clareza que o
que, "por amor, somos transformados uns nos Espírito Santo é o Espírito da liberdade. Duas con­
outros" ( Lutero) . 12 clusões de inestimável valor crítico. Primeiro, por­
Esta nova realidade comunitária é a maneira que elas permitiam que se concluisse que urna
por que Jesus Cristo se dá aos homens. Nas estrutura que perpetua o problema do cativeiro
palavras de Lutero, comunidade é sacramento. Vi­ não é expressão do Espírito de Cristo mas anks
ver em comunidade é experimentar transcendência. do anti-Cristo. Em segundo lugar, se "onde está
Lutero concordaria com Buber, quando êste se o Espírito, ali está a liberdade", pode-se concluir
refere à realidade ontológica da esfera da relação que a igreja se encontra onde se forma uma
que liga o eu a um tu, como o "local" da presença comirnidade determ inada pela liberdade. Conse­
de Deus, ou como o forma porque os homen� qi:enteme11 te, não podemos começar a procurar a
experimentam Deus ( Das wischenmenschliche 1 � ·igreja segii·i ndo os critérios dita.dos pelas estrn­
Aqui encontramos "Cristo existindo como comu­ turas herdadas. Temos de partir, ao contrário,
nidade" (Bonhoeffer) . das marcas éticas qite o Espírito estampa sôbre
Esta "interpretação" da significação da comu­ a. comunidade que sua liberdade cria..
nidade tem uma importante conseqüência par.a a Duas teologias da história estão em conflit0.
articulação da relação entre comunidade e estru­ A teologia Católica, que entendia que Deus cons­
tura. Se na Igreja Medieval as estruturas eram trói a cidade eterna através da igrej a, e a teo­
a lei da comunidade, agora elas perdem sua den­ logia Protestante que afi rmava que Deus constrói
sidade ontológica e a sua validez ética . Passam a a sua comunidade através da história . Na pri ­
ser entendidas antes como funções da comnidade, meira o Espírito é imanente às estruturas, que
como instrumentos de sua liberdade. Passam a ter a um tempo o monopolizam e se absolutizarn. Na
o caráter de evento : subordinadas, funcionais, segunda o Espírito é livre, e aos homens compete
provisários, abertas para o futuro. É muito ins­ permanecer numa atitude de busca permanente,
trutivo o fato de haver Lutero se recusado a de . abertura em relação ao nôvo, na procura
incluir as estruturas da igreja como parte de sua da comunidade que o Espírito, através de sua
essência, como Calvino fêz. Isto corrobora as liberdade, cria. Aqui está o que separa Erasm0
oi:>servações que fizemos atrás. Ist0 significa qne de Lutero. Enquanto o primeiro já achou a igreja
as estrutras têm de estar permanentemente sube­ e pretende simplesmente reformá-la, o segundo
tidas à dialética de morte e reesurreição que a de-Jxa as estruturas na busca da comunidade da
comunidade lhes impõe, não lhes sendo permitido liberdade.
nunca cristalizar-se.
* * *
3 . O nde está a conmnidade !
Teologicamente estas conclusões significam que
Para o Catolicismo Medieval o problema ela a comunidade (koinonia) não pode ser compre­
comunidade era um problema resolvido. É bem endida sob uma perspectiva de continuidade his­
verdade que esta ou aquela comunidade poderia tórica. A razão é clara. Indicamos atrás que a
ter necessidade de certos reaj ustes interiores. Mas essência da comunidade é uma função da situa­
do ponto de vista da relação entre comunidade ção-interpretação em que ela se encontra. A con­
tinuidade temporal não garante a continuidade
12 Vale a pena seguir o pensamento de Lutero desta essência. A sucessão temporal pode garanti7
no seu Tratado acêrca do A ben çoado Sacra­ a continuidade de elementos naturais, e é, assim,
m e11/o. um elemento de suma importância para a inter-

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pretação da esfera da natureza. Mas a esfera Uma segunda conclusão é que só podemos co­
da interpretação é histórica, e não natural. Ela nhecer a essência de uma comunidade presente
depende fundamentalmente de uma opção de ca­ se a descrevermos. Sua essência se revela fenome­
ráter existencial, como Mannheim indica. nológicamente.
O que acontece freqüentemente com a sucessão A descrição fenomenológica das comunidades
temporal é que ela esconde inversões radicais nas eclesiais nos permite classificá-las em dois tipos
essências de comunidade. O Antigo Testamento fundamentais:
se refere a êste processo ao indicar que a co­
munidade que outrora fora noiva tornou-se pros­ 1. Comunidades de essência messiânico-proféti­
tituta; boa videira se degenera, produzindo uvas ca, orientadas para o futuro, e
bravas. E, como conseqüência, nas palavras de 2. Comunidades de essência sacerdotal, voltadas
Oséias, a comunidade que uma vez fôra povo de para o passado.
Deus não mais pode pretender sê-lo: "Não soi3
1nais o meu povo". Tipologia inspirada no permanente conflito entre
sacerdotes e profetas, que encontramos no Velho
:Êste processo de queda e degeneração pode ser Testamento. Semelhante, igualmente, àquela qu�
compreendido do ponto de vista da dialética entre Bergson usa no seu livro As Duas Fontes de
comunidade e estrutura. Moralidade e Religião, ao se referir às religiões
dinâmicas e às estáticas. Paralela, ainda, aos dois
a. Num primeiro momento a comunidade cria
tipos de mentalidade que Mannheim descreve :
estruturas que a expressem e que funcionem como
me11talidade utópica e mentalidade ideológica.
instrumento da sua liberdade.
Vejam quão ambíguo é o fenômeno "igreja".
b. Mas as estruturas, urna vez criadas, corno A que nos referimos quando pronunciamos êste
todos os produtos do trabalho humano, adquirem nome? As comunidades voltadas para o passado?
uma certa independência. Deixam de ser instru­ Como cobrir duas essências irreconciliáveis com
mentos para ser limites. Funcionem agora corno um mesmo nome? Mais ingênuo ainda é pensar
"a continuação factual de uma realidade que não que será possível reconciliar as duas comunidades
mais existe" (Kolakowski), ou seja, transformam·· que se opõe, numa síntese ecumênica. Essências
se em ídolos. O movimento da liberdade chega a0 contraditórias não se reconciliam. Porque, nas pa­
fim. lavras de Agostinho, elas são formas comunitárias
:Êste processo pode ser descrito corno meta­ de "diferentes amores". Como reconciliar o amor
ao futuro com a preservação do passado?
morfose regressiva : a borboleta se transforma em
lagarta. As estruturas abertas para o futuro, corno

ferramentas de um sujeito livre, expressões de uma 4. Em busca da com1midade ou o fttlltro do Pro-
testantismo na América Latina.
atitude de fé, transformam-se em estruturas vol­
tadas para o passado, Cárceres de uma consciência
Por isto mesmo parece-me que a tarefa mais
cativa que teme a liberdade, prisioneira das pe­
importante que temos diante de nós no momento
quenas certezas já alcançadas. Consciência que,
(falo como Protestante) é levantar novamente a
nas palavras de Bultrnann, "vive para impedir
pergunta: Onde está a Igreja? Pergunta que
o advento do futuro.''
implica num juízo sôbre as estruturas que criaram
Estas reflexões nos conduzem a urna conclu­ a crise da comunidade. Se perguntamos é porque,
são que, tanto do ponto de vista metodológico ou a perdemos de vista, ou ainda não a achamos.
quanto de conteúdo, é absolutamente fundamental Mas, se perguntamos, é porque a queremos en­
para se libertar a compreensão da igreja da camisa contrar. Temos de descobrir a comunidade cujas
de fôrça estrutural, entendendo-a, então, segundo marcas éticas e cuja linguagem exibam uma har­
novas linhas : a comunidade (koinomia) não pode monia com a opção pelo futuro e com o horizonte
ser compreendida se tomamos como nosso ponto histórico donde derivamos a interpretação da nossa
de partida a continuidade temporal daquela ins­ situação humana.
tituição (ou instituições) históricamente chama­ Se a comunidade refere suas interpretações a
das de igrejas. E isto porque a essência da co­ Jesus de Nazaré, determinando desta forma a
munidade não pode ser compreendida se analisa­ sua essência, temos de encontrar nela aquela "ética
da da perspectiva do tempo natural. O nome igreja de ínterim" que Schweitzer descreveu como típica
designa estruturas que se perpetuam através de de Jesus Cristo, aquela atividade que busca tornar
um processo de continuidade temporal, enquantu o futuro presente, atividade de parteira que força
que a essência da comunidade é um evento que o mundo a dar à luz um "nôvo céu e uma nova
depende de uma opção existencial e de uma ati­ terra".
vidade interpretativa. A origem das "igrejas" nada
nos garante sôbre o seu hoje; o seu amor ontem E a sua linguagem, por outro lado, tem de ser
nada nos garante sôbre o seu amor agora. expressão daquela experiência de abertura, <le

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ee1
.
suplemento

Março de 1969

"ser inacabado", que se gera concomitantemente a linguagem definitiva das comunidades Protes­
com a experiência do mundo como história. tantes. E ao aprenderem uma língua morta, os
homens morreram. Deixaram de ser vozes para
Quando falamos de linguagem referimo-nos a serem ecos. Comv a mulher de Lot, tentaram
algo bastante delicado para os Protestantes da viver uma vida fotoelétrica. E desde então nunca
América Latina. E isto porque estamos colhendo mais puderam mover-se (Lehmann).
os frutos amargos que alguns "consolidadores" da
Reforma inadertidamente semearam (a começar Não são poucos os Protestantes que concluiram
por Mellachton). Pressionados pela Igreja Católica que para achar a comunidade é necessário sair
que reclamava para si as marcas da igreja de das estruturas eclesiásticas tradicionais. Repete-se
Lristo, por causa da continuidade temporal de a experiência da Reforma. Somos, realmente, maus
suas estruturas, êstes reformadores tiveram a idéia estudantes de história ...
(que julgaram brilhante) de substituir a continui­ Haverá um futuro para o Protestantismo? So­
dade estrutural pela doutrina correta, como marca mente se compreendermos que as estruturas que
da verdadeira igreja. Assim, diziam êles aos Ca­ se chamam Protestantes são, em grande medida,
tólicos, o que importa não é a continuidade, as resportsáveis pelo eclipse das comunidades Pm­
mas o fato de que nós somos aquêles que possuem testantes. Estas ficaram invisíveis de sorte que
as idéias certas. O que fizeram, realmente, foi temos de sair à sua busca.
simplesmente substituir uma estrutura por outra.
Onde está a Igreja? Ou a encontramos como
Ambas as formulações terminaram por "engarra­
far" o Espírito - embora em duas garrafas de um remanescente, oprimido, dentro das estruturas
eclesiásticas, confiando ainda nas possibilidades
côres diferentes. A eclesiologia da liberdade me­
tamorfoseou-se regressivamente numa nova ecle­ de Reforma, ou como povo espalhado, ovelhas
siologia estrtural, similar à Católica. Para o Pro­ dispersas, ansiando por novas estruturas comuni­
testantismo as conseqüências foram funestas. O tárias que sejam expressões e instrumentos de
processo de interpretação que determinava uma amor e liberdade. Ovelhas oprimidas, ovelhas per­
linguagem sempre jovem, enriqueceu-se. Escre­ didas (Ez. 34. 16).
veram-se "confissões" que afirmavam ser a inter­ O futuro do Protestantismo 1;1os apresenta, as­
pretação correta da Bíblia. A atividade interpre­ sim, duas possibilidades. Ou 'se perpetuam as
tativa, processo dialético . permanente, foi substi­ estruturas historicamente batizadas como Protes­
tuída por uma condificação da interpretação, sob tantes, mas que são, na sua essência, uma ressur­
a forma de proposições verdadeiras. O crente não reição do Catolicismo medieval, ou os grupos
mais se encontra numa situação-interpretação; êle reprimidos e dispersos se descobrem para cons­
recebe, como pílula já pronta, a interpretação tituir uma comunidade que expresse as marcas
correta que lhe foi legada. O passado eternalizou­ éticas da liberdade e do amor, frutos do Espírito
se assim numa linguagem morta que passou a ser de Deus.

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