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Introdução
Pesquisas recentes no campo da Performance Musical (eg. Galvão e Kemp, 1999; Deutsch,
1999, Silva, 2000; Porto, 2002; Martins; 2000), têm procurado demonstrar a importância da
compreensão dos modos de utilização do corpo por músicos profissionais, bem como em seu
processo de ensino aprendizagem. Destaca-se, entre estas, a pesquisa sobre o artista-atleta
realizada por Andrade e Fonseca (2000), onde é traçada uma reflexão sobre a utilização do
corpo na performance dos instrumentos de cordas. Ray (2001), por sua vez, ressalta a
importância dos aspectos físico, mental e técnico relacionados a tocar um instrumento, com
fundamentos emprestados das artes marciais, propondo a identificação e o domínio dos
elementos que interagem em uma performance artística. Tais estudos, sobre questões
corporais na prática musical, têm propiciado novas reflexões sobre este campo, propondo,
inclusive, modos mais eficazes de ação. Este texto tem o propósito de empreender uma breve
reflexão sobre a pesquisa em andamento: “O Corpo Participante: Uma Abordagem
Fenomenológica da Aprendizagem Musical”. Esta tem o propósito de contribuir para uma
visão do corpo como algo que pode e deve ser pensado e vivido de modo que exista uma
relação mais profunda entre o ser e o objeto, onde estes sejam unos e interativos, onde o corpo
seja mais que a tradução do fisiológico, e que se transforme em um corpo participante, por
meio da corporeidade e da motricidade. A aprendizagem, como conseqüência, é também parte
integrante neste processo, um processo consciente, que encontra sentido para aquele que a
vivencia. É necessário alcançar a consciência do fenômeno, e para tal, sentir, pensar e agir
intencionalmente na busca por um funcionamento normal das coisas. Este funcionamento
normal, segundo Merleau-Ponty (1999), deveria ser compreendido como um processo de
integração em que o texto do mundo exterior não seria recopiado, porém, constituído. O
indivíduo que surge a partir da apreensão da sensação na perspectiva dos fenômenos
corporais, por este preparado e ligado a um conjunto, seria dotado de um sentido. Espera-se
que ao encontrar este sentido, a aprendizagem da performance musical possa alcançar uma
perspectiva mais humana e menos mecanicista.
Kinaesthesia
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As questões relativas à aprendizagem motora também foram contempladas em pesquisa
realizada por Lage, Borem, Benda e Moraes (2002), que afirmam que a Aprendizagem
Motora seria de particular interesse para o instrumentista e para o professor de música, pois,
por meio da compreensão e da aplicação de conhecimentos que regem o movimento, poder-
se-ia buscar uma diminuição significativa dos erros de performance, bem como um controle
maior da variabilidade dos movimentos corporais. Os autores afirmam que restam ainda
muitas carências nas interfaces da Performance Musical com áreas como Medicina,
Psicologia, Física e Ciências do Esporte. A busca por respostas sobre questões relativas ao
corpo na performance tem propiciado o surgimento de grupos de estudo e pesquisa
interdisciplinares, normalmente compostos por profissionais de áreas, tais como Música,
Educação Física, Fisioterapia e Psicologia. Entre estes, podem ser citados: GEPM (Grupo de
Estudo e Pesquisa em Práticas Musicais, CEP-EMB, D. F.), GEPEM, (Grupo de pesquisa em
Performance Musical, na Universidade de Goiás), GEDAM (Grupo de estudo em
desenvolvimento e aprendizagem motora da UFMG), entre outros. O paradigma
multidisciplinar para a música gera não somente seus próprios questionamentos, mas, informa
e acelera o conhecimento na área a partir da interação de especialistas artísticos, os
pedagógicos, os biológicos, os médicos, os psicológicos, os filosóficos e os sociológicos no
planejamento e na realização da pesquisa (Povoas, 1999).
Para Lage et al (2002), a vocação interdisciplinar da performance musical, bem como sua
natureza artística, possibilita buscar, conjuntamente com outros campos, os desenvolvimentos
de seus aspectos científicos. A Educação Física, por se tratar de uma ciência que trabalha
diretamente com o corpo-humano encontra-se mais habituada a estes questionamentos. Esta
área torna-se, deste modo, uma grande aliada neste processo, já que tem como foco de
interesse o corpo humano. Este campo de conhecimento tem lançado o seu olhar sobre o
fenômeno humano buscando saber mais sobre ele procurando recuperar os significados
relativos nos conceitos implícitos ao ser-humano. Segundo Freitas (1999), o corpo humano
como corporeidade, é construído nas relações sócio-históricas trazendo a marca da
individualidade, não terminando nos limites que a anatomia e a fisiologia lhe impõem.
Estende-se por meio da cultura, das roupas e dos instrumentos criados pelo indivíduo e
confere-lhes um significado, passando, a sua utilização, por um processo de aprendizagem
construtor de hábitos. O Corpo humano superaria o corpo biológico do animal, atingindo a
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dimensão da cultura por ser um corpo capaz de fabricar, de conferir significados e de criar
hábitos, ele dilata-se no espaço e é um corpo dinâmico em suas relações no mundo.
Fenomenologia
Corpo-Instrumento
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um modo geral, um corpo que tem que se adaptar rapidamente a todos estes elementos. Esta
ação corporal é esfacelada, no próprio corpo fisiológico, na mente, enquanto possuidora de
processos cognitivos e na emoção, traduzida normalmente por tensão e ansiedade. Atribui-se
a este esfacelamento, todas as decorrências que possam surgir como aquelas que dificultam o
processo ensino-aprendizagem da formação do músico. A partir da descrição deste cenário, é
que se evoca a corporeidade, como elemento reintegrador do ser-humano em seu contexto
sócio-cultural.
O paradigma da corporeidade rompe com o modelo cartesiano, já que não haveria distinção
entre a essência e a existência, entre a razão e sentimento. O cérebro não seria o órgão da
inteligência, nem o coração seria a sede dos sentimentos, pois o corpo inteiro seria sensível. O
ser-humano deixou de ter um corpo para ser um corpo e, é com e por meio deste corpo que ele
pode aprender, agir e transformar o mundo, podendo ainda construir e recriar, planejar e
sonhar (Freitas, 1999). O professor, a partir do reconhecimento da corporeidade adquire um
outro olhar no processo ensino-aprendizagem da performance musical. É construído, entre
professor e aluno um processo intersubjetivo, onde se cria o canal da comunicação. Encarar o
aluno, como o proprietário maior de sua vivência, e atribuir a este ser, o papel de protagonista
do sentido daquilo que ele realiza, propicia uma outra dimensão neste processo. É, nessas
circunstâncias que se pode encontrar o sentido maior do fazer musical. Trata-se, segundo
Pokladek (2002), da intencionalidade da consciência, onde se considera a percepção como a
experiência original do corpo, com o mundo ao seu redor, o ser ao entrar em contato com o
objeto, com as coisas, entra em contato consigo mesmo, passando o corpo a ser considerado
como corporeidade, a matriz por onde passa o conhecimento, fonte dos sentidos e rede dos
significados existenciais, que se manifesta, que se expressa na dualidade do vivido onde
emergem significados não do que se pensa, mas do que se pode.
Conclusão
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currículo possibilita a adoção desta abordagem? Existiria uma cultura corporal entre músicos?
Como ela se realiza? A partir deste primeiro levantamento, poder-se-iam, posteriormente
encontrar metodologias adequadas que possibilitassem este tipo de tratamento filosófico-
pedagógico, por parte da escola, dos currículos, dos professores e dos alunos. São, com estas
intenções que se pretende, a partir desta pesquisa, explorar a relação entre o conceito de
corporeidade e o processo de ensino-aprendizagem da Performance Musical. A contribuição
científica que se espera alcançar ao final da pesquisa é de tornar o ensino-aprendizagem da
Performance Musical um processo mais consciente, e que possa ser considerado em sua
reflexão e prática a partir da perspectiva da corporeidade.
Referências