A
os 41 anos, Ed Motta já tem que ele “nunca tinha ouvido falar!”. Aí
PELA
LENTE
DO
AOR
Por PEDRO SÓ | fotos Marcos Hermes
Ed Motta abraça a música polida
e bem tocada da era de ouro das
FMs em um trabalho que amplia
sua presença internacional
alguns demônios apazigua-
dos. Como ele mesmo diz,
a vontade de “mostrar servi-
ço”, gravando discos instru-
mentais como Dwitza e Aystelum, passou.
Mas o conhecimento acumulado – a cole-
ção de vinis está pela casa dos 30 mil – e
o perfeccionismo ainda o atormentam. Na
verdade, estão um pouco piores. “Eu viro
a noite no hotel chateadaço. Porra, o show
não foi legal... Ah, se eu pudesse voltar lá
e fazer tudo de novo! Isso vem desde o co-
meço da carreira, e piorou, né? É batata,
cara: você vai cantar ‘Harlem Nocturne’ e,
se você não sabe a nota, os intervalos, é
uma coisa. Agora, se você sabe, a exigência
consigo mesmo é muito maior”, conta, an-
tes de entoar a melodia do standard.
Em seu décimo álbum de estúdio,
AOR, Ed abraça já a partir do título o
“album oriented rock”, sigla que designa
o som que dominou as FMs do mundo
quando ele era criança (ver texto na pá-
gina 42) e que, inegavelmente, marcou
afetivamente sua memória. Surpreenden-
temente, Ed diz que não tinha feito essa
ligação. “Mas emocionalmente é isso, né?
É a musica da minha infância, pô! E que
toca no rádio até hoje”, confirma, ligando
a jukebox humana e puxando “You Make
Loving Fun” (Fletwood Mac”, “Bluer
Than Blue” (Michael Johnson), “The
Captain Of Her Heart” (do grupo suíço
Double, já de 1985 = “é o neo AOR”), “I
Don’t Wanna Dance” (Eddy Grant)... “O
verniz AOR pode se apropriar de qual-
quer coisa, de vários gêneros.” Ao longo
de duas horas de entrevista, na sala de seu
apartamento, na zona sul do Rio, ele can-
tarola mais de 20 hits.
Ao lado de soul/funk, a sigla AOR eti-
quetava os discos mais pop – Poptical e os
dois volumes de Manual Prático... – de Ed
quando saíam no Japão. A opção por se
aprofundar no conceito surgiu a partir da
descoberta de um canal no YouTube cha-
mado de West Coast AOR. “E aí percebi
uma coisa: caramba, essa é a musica que
eu sempre fiz, desde sempre! Ele fugia do
lado rock de Foreigner, Styx, e ia se filiar
ao que eu catalogava como sunshine pop,
coisas que remontam lá ao Pet Sounds,
ED MOTTA com a [disco clássico dos Beach Boys, de 1966].”
mítica coleção de
cerca de 30 mil vinis
Além desses, vários artistas que Ed cur-
te desde criancinha – Stephen Bishop,
ao fundo: olhar para a
Christopher Cross, Doobie Brothers, Pa-
música de seus anos
formativos (1977-1983) ges, Gino Vanelli, Steely Dan – e outros
o lado colecionador falou alto: “Fui pra
cima disso com aquela loucura usual.
Quando eu descubro um negócio...”
Junto com isso veio também a percep-
ção de toda uma demanda pelo nicho
em lugares como Japão e Escandinávia.
“Não é saudável dizer isso, é melhor dei-
xar essa ilusão de que eles só pensam na
música brasileira, mas... Japoneses amam
AOR mais do que bossa.” A repercussão
internacional do disco tem sido excelen-
te, gerando frutos como uma recente tur-
nê pela Alemanha. No Brasil, porém, a
realidade é outra. “Eu faço bem menos
shows com banda como gostaria. O es-
quema solo resolve a minha vida, com
formato especial para empresas também:
é um show em que eu apresento cinco vi-
nhos, falo, toco, gastroluxo total [risos]...
Meio Barry Manilow, mas resolve a mi-
nha vida”, revela.
Mas luxo mesmo, musicalmente, foi
contar com o guitarrista americano David
T. Walker – “o cara da guitarra de ‘Let’s
Get It On’, autor daquele negócio do
Barry White” – solfeja a intro de ‘Love’s
Theme’... “O Paulinho Guitarra [guitar-
rista, fiel escudeiro de Ed] chorou quando
eu falei que ele tinha topado participar do
disco” (na faixa “Ondas Sonoras”).
E por falar em resolver a vida, depois de
um tempo de separação, Ed reatou há um
ano com a mulher (com quem casou mui-
to jovem, aos 18), Edna Lopes, letrista de
quatro canções do disco. “Ela é meu norte.
A gente é simbiose completa: não tem filho,
não sai pra lugar nenhum, não frequenta
casa de ninguém. Só ficamos nós dois, em
casa, tipo casal de velhinhos ingleses.”
Confira a seguir os melhores momentos
da entrevista com Ed, que está lançando
AOR por seu selo Dwitza Music, em parce-
ria com a gravadora indie Lab 344.
O INSTRUMENTO FAVORITO
“A maioria das músicas deste disco eu
fiz no piano. O violão, ele está ali [aponta
para canto da sala], eu deixo ali. Nunca
pego o violão quando estou em casa, nun-
ca mesmo. Violão é quando eu vou viajar,
no quarto de hotel e tal. E pra ser bem sin-
cero, eu pego pouco o piano também. Eu
escuto mais disco do que faço música. Meu
Deus! Ouvir o dos outros é uma maravi-
lha, é a melhor coisa que tem, cara! Por
isso essa loucura aí [olha em direção às es-
tantes com quase 30 mil vinis]!”.
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VÍCIO EM VINIS
“Eu não sei o número da minha conta
de banco. Eu só sei o meu Paypal [risos].
Ontem eu estava na rua e esqueci a senha
do cartão. A Edna falou “ó, mais uma
vez, e o cartão vai ser cancelado”. Eu fui
em casa buscar o dinheiro. Porque se eu
ficar sem o cartão ferra tudo. Compro no
mínimo um disco por dia; no máximo, dez.
Todos os dias, é sagrado. E isso sóbrio. Se
beber uma garrafa de vinho, fodeu... Eu já
entro no eBay... Eu vou ao correio minima-
mente uma vez por semana. Sempre tenho
que ir lá pra pagar tributação de alguma
coisa que comprei pela internet. Desde
1995, desde que colocaram o primeiro
computador na minha casa, eu não tenho
controle pra isso, entende? Como assim?
Eu vou poder clicar e depois vai chegar
uma porrada de disco aqui!? Vou pagar
tantos por cento de imposto mas vou ter
tudo que eu sempre quis?! Bicho, então é
isso! Vou trabalhar pra isso (emite um rugi-
do)! E é sempre na ignorância, né?”
PROCESSO DE TRABALHO
“Antigamente eu separava em fitas, ago-
ra são três gravadores digitais diferentes
que uso para me organizar. Tem o grava-
dor para o pop, o gravador dos temas ins-
trumentais, e o das canções. Eu não sabia
que disco iria fazer, se seria um na linha
do 7 [musical que fez com Claudio Botelho
e Charles Muller], mais Broadway. Tinha
material também para um álbum instru-
mental, tipo Aystelum e Dwitza.
Mas já estava com as músicas do AOR...
Então comecei a trabalhar nelas, me em-
polguei. Fiquei muito tempo na tapeçaria
chinesa, no negócio de bolar os layers, as
camadas de harmonização, com as duas
guitarras, o meu Rhodes, o segundo piano,
cada um fazendo uma coisa, tudo aberti-
nho. Sem ser prolixo, o que é o mais difí-
cil. Podia botar um monte de nota atrás da
outra e fazer um monstro (ruge, imitando
um). A ideia era fazer algo rico, mas uma
coisa de riffzinho, aquela coisa West coast
da alegria na música, esse negócio [balan-
ça o pescoço pra frente] meio sunshine...”
SLOW AND GENTLE
“Hoje o luxo de uma produção é o tem-
po. O tempo vale ouro, e neste disco foi gas-
to o que se levava para fazer um Thriller [de
Michael Jackson] ou outro álbum do Chris-
topher Cross. Pô, ensaio, bicho, antes de
gravar, esquema Steely Dan total. Eles en-
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saiavam um mês antes de gravar, com varias
bandas... Depois pegavam a guitarra desse,
o piano daquele e no final ficava todo mun-
do puto com eles [risos]. No Brasil ninguém
faz assim. Quem foi chato assim ? Acho que
só Lincoln Olivetti.
Quando assino um arranjo, se aparece lá
‘arranjo de Ed Motta’, é um negócio sério.
Eu já vi como fazem por aí, mas, no meu
caso, tenho tudo na cabeça: o bumbo, a cai-
xa, o andamento. Agora, tem outra coisa:
aprendi a não sufocar, a não ser leonino...
O Chico Pinheiro foi muito importan-
te neste disco. Ele não participou, não
chegou no estúdio e improvisou; ele fez a
maioria das bases harmônicas junto com
o piano. Trabalhar com um cara assim,
“Compro no mínimo um disco por dia; no máximo,
dez. Todos os dias, é sagrado. E isso sóbrio.
Se beber uma garrafa de vinho, f@d*u”
que é compositor, junto, ali nos arranjos,
é outro nível.”
DISCO EM DUAS VERSÕES
“Eu sempre penso que minhas músicas
são em inglês, né? Pra mim, as músicas são
sempre em inglês [risos]. Depois é que fize-
mos as versões em português. Os parceiros
em português nunca escutaram nada do
Rob [Gallagher, autor das letras em inglês],
nem mesmo o nome das músicas. Foi uma
coisa trabalhosa cantar o disco duas vezes.
Porque são duas coisas completamente dife-
rentes, sem tradução. Interessante é que o
disco em inglês fica tecnicamente perfeito,
tudo claro. E a versão em português tem um
calor, uma coisa da língua que me agradou.”
UM SOM “LIMPINHO”
E CALCULADO?
“O AOR tem essa excelência do mun-
do polido e técnico, mas isso acontece em
outros gêneros. O reggae, por exemplo, se
desenvolve com grandes músicos de estú-
dio: aquilo que é tido como extremamente
espontâneo, roots e tal, é feito por caras
como Sly Dunbar, o Jeff Porcaro [baterista
do Toto] jamaicano. E nem por isso soa ma-
neirista ou mais frio.
Na verdade, todas as coisas feitas hoje
sob essa orientação do sujinho e da espon-
taneidade são fake, como o cara que se
desarruma diante do espelho, aquela coisa
milimetricamente desarrumada. O que soa
sujo agora na verdade é polido, trabalhado
para parecer sujo.”
FASE TRAMA
“As melhores coisas que eu vivi em
música, as mais gratificantes, foram na gra-
vadora Trama - o lugar onde fui mais res-
peitado como artista. O que João [Marcello
Com catálogo
japonês de discos
de AOR: “Japoneses
amam AOR mais do
que bossa nova”
Bôscoli] e André [Szajman] fizeram por
mim, nunca vou conseguir agradecer. Nes-
te business, é tudo muito difícil. É um mun-
do todo segmentadinho. Ou você faz uma
coisa ou faz outra: ou você é Paulo Moura
ou Lincoln Olivetti... E ficar brincando de
fazer um monte de coisa, flertar com algo...
sem ser exatamente daquela praia, é mal
visto. Eu tive a sorte de fazer estes dois dis-
cos – o Dwitza e o Aystelum – que, junto
com o que compus para musical 7, tiraram
um pouco da minha ansiedade de mostrar
serviço. O Dwitza é um disco “olha só
como eu sou o super-homem”, este novo
é o disco que eu fiz pra escutar. É o meu
disco que eu mais gosto de escutar, de ficar
tomando um vinho e ouvir.”
INFLUÊNCIAS E PASTICHES
“Como as pessoas não sabem como
são feitas as músicas e os arranjos, essa
história de dizer que é pastiche aparece...
Tem gente que trabalha com samplers , co-
lagens, e acha que todo mundo faz assim
também. Mas nem todo mundo é ladrão
de galinha [risos]. Apesar de obcecado
pela pesquisa jornalística sobre música,
eu componho a partir das minhas ideias.
Uma das coisas que mais aprendo com
minha coleção de discos é o que não fa-
zer. Grande parte dos artistas não escu-
tam música, não compram disco... Quem
vive na sua casa com 100 CDzinhos an-
corados, pode achar que eu tô copiando
de alguém... Mas isso, né? [risos] É o ser
humano, né?”
PAULINHO GUITARRA
E ED AOS 6 ANOS
“É o músico que está há mais tempo
comigo, um cara muito importante na
minha musica, é um braço direito. A pri-
meira vez que trabalhei com ele foi no
Entre e Ouça (1992). Mas ele me atura
desde criança [Paulinho tocou na banda
Vitória Régia, de Tim Maia], bicho! Ele
me levava para o Tivoli Park [parque de
diversões que funcionou na Lagoa, zona
sul, entre os anos 70 e 90] com meus pri-
mos! O Tim deixava o carro com ele e o
Reginaldo Pi [pianista, também ex-Vitória
Régia], um jeep. Os caras pintavam lá na
Tijuca [zona norte do Rio, onde Ed mora-
va] e aí entrava aquele monte de moleque
no carro, uma farra. O Paulinho estava
lá na primeira vez em que subi no palco
na minha vida: foi em um show do Tim
Maia, em 1977, subi tocando violão. Eu
“Um passo à frente
em seu estilo”
O jornalista japonês Toshikazu
Kanazawa comanda o site
LightMellow.com, referência
em AOR desde o fim do
milênio passado, e se rende
ao trabalho de Ed Motta
Como você se ligou em AOR e como se
transformou em especialista no estilo?
O primeiro artista AOR que me chamou
a atenção foi o Airplay [grupo formado
pelo produtor canadense David Foster e o
cantor, compositor e guitarrista americano
Jay Graydon, com participação do Toto].
Já ouvia Boz Scaggs, Bobby Caldwell,
Toto e outros, mas não os encarava como
um gênero. No Airplay – e no AOR –,
encontrei a combinaçao perfeita de pop,
rock, jazz, soul, bossa e outras influências.
Por ter escutado esse tipo de som por
mais de 30 anos e também por ter me
esforçado para acumular informações,
vinis e CDs, passei a ser considerado
especialista. O guia de discos AOR Light
Mellow, lançado no Japão em 1999, me
tornou famoso entre fãs e colecionadores.
Mas eu costumo dizer que não sou um
“AOR freak”, não gosto cegamente de
tudo do gênero.
Por que, logo agora, em 2013,
o AOR voltou a ser valorizado
e ganhou visibilidade?
Acho que a maiora das pessoas quer
ouvir música realmente sofisticada e
tocada por seres humanos. Veja o caso
do Daft Punk: eles já eram sucesso
com música eletrônica para dançar,
mas aumentaram seu público depois
que trouxeram Nile Rodgers e Giorgio
Moroder. Não devemos nos esquecer
nunca do poder de uma boa melodia
e da música tocada ao vivo.
Ed Motta conseguiu algo
pessoal ou singular na visão
de AOR expressa no álbum?
Eu sabia que Ed tinha sido influenciado
pelo AOR, isso aparece em discos
anteriores. Mas fique surpreso por
ele ter dado este nome ao trabalho
e pela abordagem direta do som de
grupos como Steely Dan. Acho que Ed
realmente deu um passo à frente em
seu próprio estilo.
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Quando a qualidade dos músicos é soberana
Para DJ inglês aficionado por AOR, trabalho de Ed Motta redefine o gênero para os novos tempos
Por Mark ‘GV’ Taylor*
MARK ‘GV’
TAYLOR:
autor da
melhor
compilação
de AOR, na
opinião de
Ed Motta
C
inco anos depois de lançadas em 1967, as rádios FM já
eram a principal fonte para as pessoas tomarem sua dose
diária de música. No fim da década de 70, estavam no auge
do sucesso. Uma coisa que mudou de modo radical com a introdução
das transmissões em FM foi o conceito de tocar faixas dos álbuns,
e não apenas os singles pop voltados para o Top 40. Subitamente,
músicas mais longas do que os três minutos habituais e não
necessariamente com apelo comercial começaram a tomar o novo
formato de rádios com ondas de frequência modulada.
As FMs eram a plataforma de lançamento perfeita para as bandas
mais preocupadas em compor boas canções e tocar em nível mais
alto; grupos, em muitos casos, mais voltados para criar bons álbuns
do que para fazer hits – e encher linguiça no resto dos LPs, como era
o caso em muitas formações pop!
O termo “album orientated rock” (AOR – em português, algo como
“rock centrado em álbuns”) foi cunhado por Mike Harrison, atual editor
da revista Talkers, quando ele era diretor de programação na KPRI
em San Diego, entre 1973 e 1975. Logo a sigla passou a ser usada
para descrever estilos de música que, no começo, incluíam soul, folk,
jazz, rock e blues. Mas lá pelo fim dos anos 70, o AOR passou a ser
dominado por formações roqueiras, com soul, blues e folk sendo
42 BILLBOARD brasil | junho 2013
Pepitas e
pedradas
Confira o playlist de AOR
tinha, sei lá, bicho, seis anos... Era aquela obrigação no mundo da música de ir no selecionado pelo expert
coisa, ‘o menino já toca, então bota ele simples. E o simples é perseguido de ma- inglês Mark ‘GV’ Taylor
lá’... E eu já cheguei assim: ‘Ó, você têm neira meio calhorda. Um violão e uma
Ambrosia
que tocar mais baixo pra não me atrapa- moringa... um pandeiro e um violão... Tá “Biggest Part Of Me”
lhar [risos] Eu sabia tocar duas músicas... faltando coisa aí, né? [risos]. Robert Byrne
Uma era ‘Felicidade’, do Lupicínio. Foi a Hoje, tecnicamente, o pagode salva a mú- “No Love In The Morning”
lentamente limados dos playlists das rádios. Ironicamente, alguns dos primeira aula do professor de violão, logo sica brasileira. Esses caras – o grupo Pixote, Steely Dan
maiores nomes sob esta etiqueta, como Doobie Brothers e Boz Scaggs, vi que, se eu invertesse o acorde, tirasse o o Exaltasamba, o Belo –, não costumo escu- ”The Fez (W.T.F. Is A Fez? edit)”
sempre se valeram de um element de blue-eyed soul (o soul branco). dedinho... dava pra tocar Led Zeppelin.. tar, mas sempre que vejo, acho muito mais Ned Doheny
“Think Like A Lover”
O novo lançamento de Ed Motta continua a grande tradição do AOR [começa a cantarolar ‘Over The Hills And honesto que qualquer banda jovem tocando
em um aspecto: a qualidade da gravação e dos músicos é soberana, e Far Away’]. Esse acorde é incrível [pega o rock’n’roll ou pop... Conceitualmente, musi- Player
“Baby Come Back”
tão importante quanto as canções. Vale lembrar que muitos dos nomes violão e toca um pouco, percebe que está calmente, em tudo que você imaginar.”
Steve Kipner
clássicos associados com o auge do AOR (Steely Dan, Toto, Doobie desafinado]... Um dos motivos de eu não “Knock The Walls Down”
Brothers e Michael Sembello) atraíam os melhores músicos de estúdio ficar no violão.. Que coisa irritante [risos]! POLÊMICAS NA WEB Leo Sayer
de então e tomavam emprestados seu talento e habilidade. “Eu fiz uma brincadeira achando que “Easy To Love (La Homage
A homenagem de Ed ao som AOR também mantém a extrema atenção “A MÚSICA BRASILEIRA PECA aquela porcaria [grupo de Facebook] era Rodeo Drive Ride Edit)”
aos detalhes, com tempo dispendido e árduo empenho nos estúdios para POR SER COMPORTADA” fechada. Pensava mesmo. Aí, já viu, né? O Crosby, Stills And Nash
“Dark Star”
obter exatamente o som planejado. Ed trouxe músicos convidados da “Eu disse isso ao defender uma dupla babaca aqui dançou legal. Mas as brincadei-
mais alta qualidade para trazer magia aos trabalhos – entre os de cantores que se apresentou no progra- ras que a gente faz ao vivo são infinitamen- Jaye P. Morgan
“Let’s Get Together”
colaboradores ilustres estão David T. Walker (desde os anos 60 presente ma The Voice [Paulinho Loureiro e Breno te piores. As críticas que os artistas fazem
Gino Vannelli
nos discos de muitos dos maiores nomes da indústria) e Bluey, o band Lima]. A música brasileira tem pouco veladamente ao trabalho um do outro são “People Gotta Groove”
leader do grupo de jazz/soul Incognito. O percussionista Laudir de Oliveira risco, tem tradicionalmente um editorial muito piores. Só que a onda agora é esse James Walsh Gypsy Band
– também veterano como session musician, presente em gravações do de música clássica. A excelência dela é bom mocismo cínico. Grande parte das “I’ve Got The Feeling”
Chicago entre o começo dos anos 70 até 1981 – e o vibrafonista Jota muito ligada à música clássica: a flauti- pessoas que critico e que me criticaram de F.C.C.
Moraes também marcam presença brasileira em duas faixas. nha tá toda escritinha lá, todo mundo do- volta pegaram pesado como se eu fosse um “Women”
Os espíritos do grupo Steely Dan (para os fãs, deuses do AOR) e do bradinho... O cara que mais me influen- Hitler. Noventa por cento delas é gente que Rick Bowles
provável produtor de maior sucesso no gênero, David Foster (conhecido ciou como cantor foi Stevie Wonder... me procurava porque queria meu aval ou al- “Your Loss”
na indústria por seu perfeccionismo), permeiam todo o disco – e isso é Mas o brasileiro não está habituado com gum favor. Mas eu sou assim: fico em casa, Rudy Norman
“Back To The Streets”
um grande elogio! Tanto a banda quanto Foster sempre trabalharam a história da firula vocal. Ela está incor- não faço lobby, não vou vou ver o show que
Boz Scaggs
além do esperado para ter certeza de que o som do disco reproduz porada feito o sushi: muita gente gosta, não tenho vontade de ver. E venho de uma
“Gimme The Goods (Northern

exatamente a qualidade do que foi trabalhado. E isso acontece também mas também tá assim de gente que fala época da música mal educada, sem. Não es- Rascal Easy Street edit)”
na mais nova obra de Ed Motta. O brasileiro serve à mesa sua sempre “ai, peixe cru!”. Desde Nevermind The tou nessa do bom moço, do politicamente Rupert Holmes
presente vibe soul, além da boa ideia de apresentar as canções em Bollocks [disco dos Sex Pistolos, de 1976, correto. Eu tenho minhas opiniões. Então, “Philly”
português e também em inglês – o que esperamos que exponha o marco zero do punk], que existe essa tal tudo bem, são ossos do orifício [risos]...” Chicago
“Life Is What It Is”
trabalho a mais pessoas mundo afora. Os destaques são “Flores Da Vida
Real”, “SOS Amor”, “Ondas Sonoras, “Marta”, “1978” e, pagando tributo Kenny Loggins
“I’ve Got the Melody

ao R de AOR, até um jingle curto em formato de vinheta radiofônica. (Deep In My Heart)”
Nos últimos anos, o gênero AOR tem recebido reapreciação crítica,
Bill LaBounty
com toda uma cena dos anos 70 e 80 começando a receber o crédito “Todas as coisas feitas hoje sob essa orientação do “Dream On”

que merece – tanto pela produção da época, quanto pelo legado às sujinho e da espontaneidade são fake, como o cara Brooklyn Dream
gerações posteriores. “Music, Harmony And Rhythm”
que se desarruma diante do espelho, aquela coisa
Novos fãs e seguidores estão descobrindo esta música, e o AOR classic
vem influenciando bandas jovens e fazendo seu som avançar. Na internet,
milimetricamente desarrumada. O que soa sujo agora Em AorDisco.blogspot.com, você
encontra outros playlists na mesma vibe
brotam espaços como o blog AOR Disco, dedicados ao estilo original, na verdade é polido, trabalhado para parecer sujo.” e escuta versões exclusivas de remixes
mas com remixes de faixas clássicas direcionados para as pistas de hoje
e também com novos artistas com interpretações próprias. Há todo um
cenário saudável emergindo novamente, seja no culto a clássicos dos
anos 70 e 80, ou em lançamentos atuais como o AOR de Ed Motta, um
disco que redefine o gênero para a era moderna.
* O inglês Mark ‘GV’ Taylor começou como fã de northern soul, tornando-se
colecionador de disco music e jazz fusion já no fim da década de 70. Desde os
anos 90, atua como DJ e apresentador de rádio tocando soul, disco, jazz e música
brasileira, mas nos anos 2000, redescobriu os sons de AOR que foram trilha da
sua infância. Foi responsável pelas coletâneas Blue Brazil e The Best of Blue Brazil
Stanley Kalopitas
(Blue Note Records) e, em 2011, Americana – Rock your soul (BBE Records), com
AOR na mistura - um volume 2 está em produção.
Atualmente, Mark comanda uma festa chamada Reference Point, em Piccadilly,
Londres, e toca regularmente em outros eventos no Reino Unido e em países
europeus como Espanha e Noruega.