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Nas palavras de Lefebvre (2001, p. 37-39) a ‘produção’ envolve não somente o sentido econômico
do termo, mas o “sentido da filosofia inteira: produção de coisas (produtos) e de obras, de ideias e
de ideologias, de consciência e de conhecimento, de ilusões e de verdades”.Porém, diz o autor,
“quem diz ‘produção’ diz também ‘reprodução’, ao mesmo tempo, física e social: reprodução do
modo de vida”.
“o espaço não é apenas parte das forças e meios de produção, constitui também um produto
dessas mesmas relações. Lefebvre observa que, além de haver um espaço de consumo ou, quanto
a isso, um espaço como área de impacto para o consumo coletivo, há também o consumo do
espaço, ou o próprio espaço como objeto de consumo” (GOTTDIENER, 1993, p. 129).
A cidade, segundo Lefebvre (2001, p. 85), retrata com clareza a dupla dimensão do conceito de
´produção´. Em primeiro lugar, diz o autor, a cidade “é o lugar onde se produzem as obras
diversas, inclusive aquilo que faz o sentido da produção: necessidades e prazeres”. Em segundo
lugar, concentra funções ligadas ‘a distribuição e ao consumo dos bens produzidos e ainda agrega
mediações de convergências entre o movimento da totalidade e suas partes.
A crise no processo de acumulação capitalista acirra as desigualdades socioespaciais,
conduzindo as relações sociais a um aumento da segregação espacial que se reflete no espaço
urbano.
(...) a sociedade, ao produzir-se, o faz num espaço determinado, com condição de sua existência, mas através
dessa ação, ela também produz, consequentemente, um espaço que lhe é próprio e que, portanto, tem uma
dimensão histórica com especificidade ao longo do tempo e nas diferentes escalas e lugares do globo. (Carlos, p.
53)
No capitalismo, a produção expande-se espacial e socialmente (no sentido que penetra toda sociedade),
incorporando todas as atividades do homem e redefinindo-se sob a lógica do processo de valorização do capital –
o espaço tornado mercadoria sob a lógica do capital faz com que o uso (acesso necessário à realização da vida)
fosse redefinido pelo valor troca. (Carlos, p. 60)
Hoje mesmo que boa parte da população não trabalhe nas indústrias, o ritmo dela, ligado a
fragmentação do trabalho, o tempo de produzir dado pela esteira que, com a mecanização do
trabalho promoveu a perda da consciência do mesmo, fez com que a aceleração do tempo
imposta por esse processo se incorporasse a vida cotidiana. A sociedade urbana englobou o
modo de produzir fordista e, em nosso cotidiano, mesmo não trabalhando em indústrias,
passamos a agir como se regulados pelo apito imaginário das fábricas: não temos tempo para
nada, nossa vida está regulada em tempos e horários dos quais parece que não podemos
escapar.
Mesmo no tempo do lazer, entendido como tempo do descanso produtivo, há a tendência de
ele ser programado socialmente- é o tempo do lazer transformado em mais uma mercadoria
que precisa se realizar em um determinado espaço criado para isso, em que a programação do
descanso é vendida e comprada como um produto que dará prazer: os pacotes de viagem, os
hotéis fazenda são exemplos desse tempo/espaço capturado e transformado em mais uma
mercadoria no mercado.
Nesse sentido temos uma transformação do espaço. Como aponta Ana Fani Carlos
(2004) ele passa de um espaço do consumo para o consumo do espaço, ou seja, se em um
primeiro momento ele era necessário para a produção de produtos (inclusive os industriais a
partir da instalação de uma indústria) que seriam consumidos na sociedade, agora ele é
produzido para ser consumido enquanto uma mercadoria, principalmente quando nos
referimos à atividade do turismo.