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RELATÓRIO FINAL
De Iniciação Científica
PIBIC/UFRRJ
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AGOSTO/2016
Seropédica
AGOSTO/2016
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PROGRAMA: PIBIC
Nome do bolsista: Laryssa Owsiany Ferreira
Matrícula do Bolsista: 201234018-9
Nome do Orientador: Naara Lúcia de Albuquerque Luna
Grande Área: Ciências Humanas e Sociais
Período da bolsa: agosto 2015 – agosto 2016
Título do Projeto: Aborto e diversidade sexual: estatuto do nascituro, homofobia,
individualismo e conservadorismo no debate legislativo sobre direitos humanos na ALERJ.
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Sumário
Introdução ......................................................................................................................... 5
Metodologia ...................................................................................................................... 7
Resultados do Levantamento
1. ABORTO.
1.1 Discursos.........................................................................................................................42.
1.2 Proposições legislativas...................................................................................................49
2. DIVERSIDADE SEXUAL.
2.1 Discursos...........................................................................................................................61
2.2 Proposições legislativas....................................................................................................73
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Introdução
O projeto pretende elucidar o debate público sobre os direitos humanos no tocante a
reivindicações relacionadas ao aborto, incluindo aí o estatuto do nascituro, e à diversidade
sexual, identificando seus principais atores e os argumentos usados. Para tanto o projeto visa
verificar que tipos de argumentação é acionada no debate público: argumentos referentes à
ordem da natureza, com um discurso científico ou naturalizante, argumentos da esfera legal e
do direito, e argumentação religiosa e discutir a partir daí acusações de fundamentalismos. O
projeto também irá verificar que atores têm se posicionado na esfera pública. Entre os
aspectos contraditórios está a reivindicação de liberdade de escolha para os parceiros sexuais,
com o objetivo de constituir família, o que reforçaria uma instituição tradicional.
A denúncia da violência também se relaciona ao discurso dos direitos humanos no
caso de situações de homofobia. Existe um embate entre os movimentos pró-vida,
relacionados ou não a grupos religiosos e o movimento feminista no tocante à legislação sobre
o aborto no país. Os primeiros pretendem excluir os dois permissivos em que o aborto é legal,
já o movimento feminista tenta ampliar as possibilidades e defende que é um direito de
decisão das mulheres. Outro ator relevante é o Estado, que tem apresentado o aborto como
problema de saúde pública. Há uma disputa sobre quem seriam os sujeitos de direitos: os fetos
ou as mulheres?
Com respeito à diversidade sexual, existe um choque de moralidades entre uma
perspectiva que defende a família tradicional sob três ângulos, o biológico, o religioso e o
legal: é natural, foi criada por Deus, sua definição como composta de homem e mulher está na
Constituição. O lado que defende os direitos LGBTT afirma os direitos individuais de
escolha e acusa seus adversários de fundamentalistas, defendendo o Estado laico. As
principais trincheiras de disputa no Legislativo referem-se à lei anti-homofobia e aos
desdobramentos do reconhecimento da união civil de pessoas de mesmo sexo, quanto à
previdência e opções para a constituição de família (adoção, reprodução assistida). É
importante mapear esses atores, bem como a argumentação usada, ao criar sujeitos de direitos
ou vítimas, pontos estes que revelam valores fundamentais a serem analisados pela
antropologia com respeito à noção de pessoa.
Por outro lado, a análise desse quadro poderá informar estratégias de políticas públicas
referentes à saúde reprodutiva, mas também aos diretos referentes à diversidade sexual. Este
projeto tem alta relevância social e em termos de pesquisa cientifica porque tenta captar no
debate público disputas referentes a valores morais que vão definir acesso e restrição a
direitos. A partir desse embate, são definidas legislação e políticas públicas. Assim modelos
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de cidadania são criados e desfeitos. Também é oportunidade de avaliar como os atores
sociais obtêm ingerência sobre decisões relativas ao Estado.
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Metodologia
Indicações
Indicação é a proposição em que são solicitadas medidas de interesse público, cuja iniciativa
legislativa ou execução administrativa seja de competência privativa do Poder Executivo ou
judiciário. As Indicações se dividem em duas categorias: simples, quando se destina a obter,
do Poder Executivo ou Judiciário, medidas de interesse público que não caibam em Projeto de
Lei, de Resolução ou de Decreto Legislativo; legislativa, quando se destinam a obter do Poder
Executivo ou do Poder Judiciário o envio de Mensagem à Assembléia por força de
competência constitucional.
Foram mapeadas todas as proposições legislativas e os discursos que compreendem o
ano de 2015, e o primeiro semestre de 2016, fazendo uso de palavras-chave. As palavras-
chave utilizadas foram “aborto”, “nascituro”, “embrião”, “reprodução assistida” e
“fertilização in vitro”. E as referentes à diversidade sexual foram “LGBT”, “transfobia”,
“homofobia”, “gay”, “gays”, “homossexualismo”, “lésbicas”, “travesti”, “homossexualidade”,
“transgênero”, “parceria civil”, “união civil”, “opção sexual”, “orientação sexual”,
“homossexual”, “homossexuais”, “ideologia de gênero”. Foi analisado como as palavras-
chave apareciam nos levantamentos, de modo que pudesse ser entendido o que tais
proposições defendiam. Logo após foram mapeados os parlamentares de acordo, profissão,
partido, pertencimento religioso e posicionamento. As informações adicionais do perfil dos
deputados foram obtidas através do site da ALERJ, ou das redes sociais dos deputados na aba
biografia. Foi também verificado se há coincidência entre os atores que se engajam no debate
sobre aborto e no debate sobre diversidade sexual.
Os posicionamentos dos deputados foram classificados como pró-vida (quando em
seus discursos e/ou PLs ficou clara sua posição contrária à prática e a descriminalização do
aborto) e pró-escolha (quando o parlamentar nos discursos e/ou PLs se posiciona a favor da
autonomia da mulher sobre seu corpo e/ou quando defende a descriminalização do aborto).
Quando não ficou clara no discurso a posição do parlamentar sobre a questão do aborto, o
quesito posicionamento é dado como indefinido.
Os discursos sempre são citados seguidos do nome do autor e da data em que foram
proferidos. Houve opção por descrever dessa forma, pois se houver interesse em checar o
original no portal da ALERJ ( http://www.alerj.rj.gov.br/?AspxAutoDetectCookieSupport=1 )
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os arquivos originais são facilmente identificáveis através da busca por datas. Quanto as
proposições legislativas, sempre são citadas seguidas do nome do autor e do número da
proposição, o objetivo é o mesmo; facilitar a busca dos documentos originais no portal.
Pretende-se testar a hipótese criada a partir da pesquisa anterior “O estatuto do feto e
do embrião e os debates sobre direitos humanos no Brasil”, a de que há grande envolvimento
de atores religiosos, mas que também há atores sociais protagonistas de posições
conservadoras cuja identidade pública mais marcante não se refere à religião. Com isso, os
resultados do levantamento foram considerados segundo os temas e separados por ano e,
assim, para a análise foram organizados em tabelas de modo a dar prosseguimento à pesquisa
futuramente, já que, neste relatório parcial encontram-se apenas os primeiros resultados.
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Marco Teórico
BERGER, Peter. A dessecularização do mundo: uma visão global. Religião & Sociedade,
v. 21, n. 1, p. 9-23, 2001.
Peter Berger argumenta ser falsa a ideia de que vivemos em um mundo secularizado. A
ideia central da “teoria da secularização” encontrada no Iluminismo acredita que a
modernização leva necessariamente a um declínio da religião, tanto na sociedade quanto na
mentalidade das pessoas. É justamente essa ideia que o autor acredita estar errada “A tese de
que a modernidade leva necessariamente ao declínio da religião é, em princípio,
“valorativamente neutra”; isto é, pode ser afirmada tanto por aqueles que acham que isso é
bom quanto por aqueles que acham que é muito ruim” (p.11).
A modernização com certeza teve alguns efeitos secularizantes, mas ela também
provocou o surgimento de poderosos movimentos contrassecularização. Segundo o autor
existem duas estratégias possíveis para as comunidades religiosas em um mundo visto como
secularizado, são elas: rejeição ou adaptação. A luta da Igreja Católica com a modernidade
ilustra muito bem as dificuldades de tais estratégias. Na cena religiosa internacional, Berger
defende que são os movimentos conservadores/tradicionalistas que estão crescendo em toda
parte, e que a interação de forças secularizantes e contrassecularizantes é um dos temas mais
importantes para uma sociologia da religião contemporânea.
a modernidade, por razões muito compreensíveis, solapa todas as velhas
certezas; a incerteza é uma condição que muitas pessoas têm grande
dificuldade em assumir; assim, qualquer movimento (não apenas religioso)
que promete assegurar ou renovar a certeza tem um apelo seguro. (p.14)
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Os novos evangélicos deixam de lado muitas tradições que têm sido obstáculos a
modernização, como o machismo e também a obediência subserviente à hierarquia. Suas
igrejas, portanto estimulam valores e modelos de comportamento que contribuem para a
modernização. De acordo com o autor, não é ilusório acreditar que as congregações
evangélicas servem inadvertidamente como “escolas de democracia e de mobilidade social”
(p.20).
Existem exceções à tese da dessecularização; na Europa Ocidental a velha teoria da
secularização parece estar valendo. Houve uma crescente modernização em relação às crenças
expressadas em particular aquelas que poderiam ser chamadas de ortodoxas em termos
protestantes ou católicos, como dramaticamente em relação ao comportamento eclesial,
comparecimentos a celebrações, adesão a códigos de comportamento pessoal ditados pela
igreja, em particular quanto à sexualidade, à reprodução e ao casamento. A outra exceção a
tese da dessecularização é menos ambígua; existe uma subcultura internacional composta por
intelectuais em particular no campo das humanidades que é de fato secularizada. Embora seus
membros sejam poucos numerosos, são muito influentes, pois controlam as instituições
educacionais, os meios de comunicação de massa, e os níveis mais altos do sistema legal.
Questões importantes são colocadas nessa obra que têm a ver com a relação entre
ressurgência religiosa e alguns problemas que não são ligados a religião, como
desenvolvimento econômico, política internacional, por exemplo.
Para Berger seria ótimo poder afirmar que em toda parte a religião é uma força a
favor da paz. Infelizmente não é. É muito provável que no mundo moderno a religião com
mais freqüência fomenta a guerra, seja entre nações no interior das nações. Encaminhando-se
para a conclusão do texto, o autor trata de como instituições religiosas têm feito numerosas
declarações sobre direitos humanos e justiça social. Esse ponto, particularmente é um dos
motivos pelo qual escolhi este texto como marco teórico para esta pesquisa. Berguer afirma
que as declarações religiosas têm conseqüências políticas importantes, como por exemplo, nas
lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos.
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Existem distintos pontos de vista religiosamente articulados sobre a natureza dos
direitos humanos, isso também vale para as idéias sobre justiça social, “o que é justiça para
alguns grupos, é clamorosa injustiça para outros” (p.22). Às vezes fica claro que posições
assumidas por grupos religiosos baseiam-se em uma lógica religiosa, “a oposição de
principio ao aborto e a contracepção por parte da Igreja Católica é um caso claro” (p.22),
essa lógica permeou todo o desenvolvimento da presente pesquisa.
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certo utilitarismo, por exemplo, a igreja ideal de Socorro deveria preencher vários requisitos,
dentre eles: Proximidade entre o ponto de ônibus de sua casa e a porta da igreja; presença dos
dons carismáticos; ausência que um pastor que recolhesse dinheiro o tempo todo; que não
fosse uma gritaria. Além disso os autores chamam atenção para o fato de que a relação entre
individualismo e utilitarismo é intima, mas não linear. O texto afima que seguindo uma
tradição durkheimiana pode-se considerar que o utilitarismo, como doutrina tenha sido uma
das possibilidades ideológicas suscitadas pela ideologia individualista.
O artigo mostra descrições quanto ao pertencimento puramente social à igreja, e
também outras decorrentes de posturas adotadas por igrejas que já eram preocupações
existentes dos indivíduos antes da conversão. “O interesse de Ana pelo adventismo decorreu
justamente da postura adotada por essa Igreja em relação à saúde e o corpo” (Duarte et. al,
2006, p.33) De fato as prescrições alimentares são amplamente difundidas e exercidas pelos
membros das igrejas adventistas, mas não são, todavia, qualificadas como doutrina,
constituem atitudes a serem incorporadas para que se obtenha o equilíbrio físico, mental e
espiritual. O pressuposto da renúncia aqui não remete a uma postura dolorista, pelo contrário
“a religião ajuda a dizer não naturalmente” (Duarte et. al, 2006, p.34) O alimento que é
renunciado é aquele que não traz saúde ao corpo e consequentemente não traz ao espirito e a
mente. De acordo com os autores o papel institucional no caso da Igreja adventista para essa
informante seria o de oferecer tanto uma justificativa sistemática quanto um sistema
congregacional auxiliar na efetiva afirmação do seu ethos privado.
Há diversos relatos no texto que remetem à esfera da sexualidade e da reprodução. No
primeiro deles a informante diz considerar que na sua geração existiu uma falta de informação
sobre o corpo humano e a sexualidade e que continua existindo nos dias de hoje sob a forma
do ‘descontrole’.
A ideia de uma relação natural com a sexualidade se caracteriza,
nesse caso, pela subordinação a um papel de gênero tradicional, de mulher
mãe de família (...). É interessante quenesse relato, como em outros desse
meio social, a referência a natureza humana remeta mais aos seus erros, e as
suas limitações em relação ao controle racional, do que as suas virtudes.
(Duarte et. al, 2006, p.30)
Segundo os autores, talvez se possa descrever uma oposição entre uma ‘natureza no
homem’ e uma ‘natureza humana’ em que a primeira enfatiza o desejado equilíbrio e o
controle e a segunda uma fonte de erro, de perturbação e desequilíbrio.
No discurso de outra informante aflora com muita frequência a referência à natureza e
sua relação com a vida sagrada e profana. Ela delcara, já tendo afirmado que “Contra a
natureza ninguém pode, contra a natureza só Deus” (p. 32) Como parteira, rezadeira e
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transitando entre o Catolicismo e a Umbanda, a informante afirma que entre seus numerosos
casos de partos difíceis, apareceram alguns poucos relatos que a decisão abortiva se
apresentara, sobretudo para a preservação da vida materna. Seus constrangimentos a respeito
jamais se remeteram a esfera do sagrado, mas colocaram em cena certas dúvidas sobre o
sentido natural do humano principalmente em situações que se pudesse apresentar a
necessidade de sobrevivência de apenas um dos dois entes envolvidos. Sua ênfase sempre foi
em relação a força da natureza (ou ao curso da vida) e suas considerações morais e religiosas
sempre foram secundárias nesses casos.
Os exemplos a seguir são relatos de informantes encontradas em contexto médico-
hospitalar que se caracterizam por uma intensa vontade de superar o constrangimento físico
da esterilidade a disposição de fazê-lo pelo recurso à biomedicina. São dados da pesquisa de
Naara Luna sobre as novas tecnologias reprodutivas que ilustram muito bem a relação do
ethos privado com a religiosidade. Adelina, uma informante evangélica estava em dúvida se
deveria confiar em Deus ou “fazer o tratamento pela mão dos homens”, ou seja, recorrer a
fertilização in vitro para tentar engravidar. Mas se decidisse recorrer à reprodução assistida
ela não contaria ao pastor de sua igreja, pois seria censurada com o argumento: “Se eu sigo o
Deus do impossível, porque eu vou seguir o recurso humano? ” Geni, também evangélica
planejava fazer sua segunda fertilização in vitro pois não teve êxito na primeira, mas também
não pretendia contar à Igreja que estava fazendo o tratamento, embora orasse por isso. A
disposição de seguir um desejo que vem do coração é uma forma suficientemente forte para
confrontar as recomendações de sua religião.
Débora, uma informante católica praticante tentou engravidar de maneira natural sem
resultado. Frisando o alto grau de adesão das doutrinas católicas por parte dela e de seu
marido, Débora conta que antes de começar a fazer a investigação sobre infertilidade,
conversou com um padre que “deu a maior força”. Débora não critica a posição da igreja; ao
contrário ela sugere que a divulgação e a mídia a distorcem além disso ela faz objeções à
dinâmica existente no campo da reprodução assistida e critica a comercialização no campo
reprodutivo como um sinal de falta de ética, fundamentando suas opiniões no respeito à vida
humana, sobretudo no tocante aos embriões.
Está imbuída da convicção de que o embrião já é um ser vivo mesmo antes da
transferência, ou seja, de que já é um filho. Seu cuidado a esse respeito era
tão grande que contrariou os princípios de eficiência e descarte dos embriões
de ‘má qualidade’, aplicada na medicina reprodutiva, deixando claro que
queria a transferência de embriões independentemente da sua condição.
(Duarte et. al, 2006, p.36)
Além de Débora, Elenita cujo marido também era católico praticante também
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procurou um padre para se aconselhar. Elenita disse ao marido que se o padre falasse que tudo
bem, eles fariam a fertilização, foi indagada depois sobre o que faria se o padre tivesse sido
contrário e ela respondeu que não faria o tratamento. Depois de conversar com o bispo o
padre afirmou que seria pecado se ela tirasse uma vida (abortasse), o que ela estava
planejando era dar a vida.
O relato do caso de Bela ilustra uma postura de católicas não praticantes que optam
por uma fé e uma religiosidade individuais e critica a Igreja por ser uma instituição que não se
atualiza considerando suas orientações hipócritas. Cristiane, frequentadora de um terreiro
também “rejeitou a interpretação que lhe foi dada e que a fazia se sentir inferiorizada como
pessoa e como mulher” (p.39); afirmando que cada vez que falavam para ela que se ela não
engravidasse era porque Deus não queria ela se sentia inferior, e ela criou uma interpretação
própria segundo a qual Deus permitiu a existência da técnica, usá-la portanto não seria
contrariar a Deus. Andressa era membro da igreja Testemunhas de Jeová e afirmava que não
se sentia menos mulher por não ter filho, mas com certeza se sentia menos privilegiada
“porque filho é uma herança da parte de Deus”.
Embora o naturalismo já se insinue na apresentação do material sobre o subjetivismo
dadas suas relações empíricas constantes, segundo os autores é necessário ficar atento a
alguns pontos abrangentes que balizam as representações acerca da natureza estruturante do
humano. Uma informante evangélica laqueada em tratamento de fertilidade preferiu fazer
uma cirurgia que recuperasse suas trompas em vez de tentar a fertilização in vitro pra
engravidar, porque “natural é uma coisa mais segura”. Esse valor também prevalece em outra
fala de Débora (já mencionada anteriormente) que diz que “na questão da fertilização in vitro
se ouve de tudo: aluga-se barriga, vende-se óvulo, compra-se espermatozoide, ” segue
afirmando que isso é uma loucura e que é preciso ter ética e consciência de que se está
lidando com vida humana. Dizendo que o embrião tem que ser respeitado, “não é assim, que
você congela, descongela, joga fora, reaproveita. ” (Duarte et. al, 2006,p.42)
A categoria vida aparece sobretudo no contexto polêmico do aborto ou da chamada
‘redução de embriões’, englobando a categoria da natureza, ou mesmo se opondo a ela.
Pessoas se referem a não implementação de embriões como filhos perdidos. “Querendo ou
não é um filho, porque ele teve algum tempo de vida. Teve uns dias de vida no laboratório.
Teve não sei quantas horas de vida no organismo, mas teve. ” (Duarte et. al, 2006, p.43) Irene
acredita que tentava engravidar sem sucesso há quatro anos por um castigo de Deus por ela ter
interrompido outras vidinhas. Há uma tendência a remeter a vontade divina a um patamar
superior, e a as relações com o subjetivismo articulam três vontades: a da natureza, a divina e
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a humana.
O material de pesquisa desse capítulo cobre condições sociais muito diferentes: classes
populares, médias e elites. Na maior parte do material a experiência religiosa tende a ser um
efeito secundário do culto do eu. Quanto à escolha dos relatos, os autores privilegiaram os
casos que apresentavam uma maior proximidade com o campo explicito da religião. O artigo
conclui que o subjetivismo é mais preeminente nos segmentos superiores em correlação direta
com sua adesão à ideologia individualista. Os princípios estruturantes do subjetivismo e do
naturalismo, associáveis ao horizonte da cosmologia moderna, parecem se compor na
sociedade brasileira, com dois princípios ou ênfases mais diretamente hierárquicos: o da
preeminência de uma visão religiosa do mundo e o da primazia da referência ao valor da
família. Por fim, a plena compreensão dos fenômenos ditos religiosos na modernidade só
pode avançar à medida que forem incluídos no horizonte de análise os valores não
confessionais, presumidamente laicos que emolduram e colorem as estruturas da simbólicas
contemporâneas.
Este artigo visa analisar a atuação dos coletivos evangélicos na arena pública brasileira
nos dez primeiros anos do século XXI: “atuação marcada por embates não só no interior do
campo religioso, mas também em importantes movimentos sociais como o feminista e o das
comunidades gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTT). ” (Machado, 2012,
p.29) Considerando os propósitos do artigo de Machado, deve-se registrar que as propostas de
revisão da legislação existente no campo do aborto e a criação de novos direitos para gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais amplificaram a tensão já existente entre os
coletivos religiosos tradicionalistas e o governo, resultando num intenso “ativismo religioso
conservador”.
Machado defende o argumento de que os coletivos feministas e LGBTT
desempenharam nas últimas décadas um papel fundamental no processo de separação da
moralidade pública da moralidade religiosa. Trata-se de um fenômeno que produziu efeitos
contraditórios no campo confessional, favorecendo, por um lado, o surgimento de coletivos
religiosos mais liberais, como as chamadas Igrejas e, por outro, o reposicionamento das
estruturas eclesiásticas tradicionais com o reavivamento do ativismo conservador. As
feministas começaram a ocupar postos no aparelho do Estado, influenciando as políticas na
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área da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos, e os segmentos de gays e lésbicas se
constituíram como importantes atores políticos coletivos, obrigando a sociedade a debater
temas polêmicos, como: a descriminalização do aborto; a união civil entre pessoas do mesmo
sexo; a adoção de crianças por casais homoafetivos; a criminalização da homofobia; a
inclusão das cirurgias de readequação sexual entre os serviços do Sistema Único de Saúde e
etc.
Nos primeiros anos do século XXI, o debate sobre a presença das religiões na esfera
pública foi marcado pelas polêmicas em torno do Acordo Bilateral assinado em 2008 entre a
Santa Sé e República Federativa Brasileira e pelas discussões sobre as consequências da
participação dos evangélicos no poder legislativo para a política de ampliação dos direitos
humanos. Para se estudar as articulações da religião com a política no Brasil, Machado
defende que devemos analisar não só a maneira contraditória em que se deu o
desenvolvimento do liberalismo em nosso país, mas também os embates atuais em torno das
políticas públicas envolvendo feministas, gays, e líderes religiosos católicos e pentecostais.
A modernidade e o liberalismo político na sociedade brasileira resultaram de
uma combinação à primeira vista paradoxal dos valores igualitários de matriz
européia com os princípios hierárquicos destinados a garantir a exclusão
social e política de grande parcela da população nacional, contribuindo para a
formação de um fenômeno que manteve o terreno fértil para a intervenção
das instituições religiosas na esfera pública. (Machado, 2012, p.31)
1
Essa constituição seguiu o modelo norte-americano, secularizando os cemitérios públicos, instituindo o
casamento civil e o ensino leigo, e estabelecendo a liberdade de culto e de associação religiosa como direito
fundamental.
2
Com influência alemã, essa constituição acrescentou a possibilidade de colaboração entre as esferas
introduzindo mudanças como, por exemplo, a criação de feriados religiosos; o reconhecimento dos efeitos civis
do casamento religioso; a permissão da manutenção de cemitérios particulares; a inclusão da disciplina religiosa
nas escolas; e o serviço militar alternativo para os eclesiásticos.
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outro grupo religioso, dos auxílios financeiros, das isenções de impostos e das parcerias com
as agências governamentais.
É importante mencionar ainda que as estratégias dos atores religiosos para evitarem o
avanço das conquistas dos movimentos feministas e LGBTT não se restringem à política
institucional (partidos políticos, poderes Executivo e Legislativo). A tendência à
judicialização dos conflitos sociais, que a princípio favoreceria a ideologia dos direitos
humanos e os movimentos sociais, tem sido rapidamente assimilada pela instituição católica e
pelos grupos evangélicos, fenômeno que pode ser interpretado como um reconhecimento da
centralidade da esfera jurídica na contemporaneidade. Para a autora um bom exemplo dessa
situação foi o que ocorreu depois da posse da presidente Dilma Rousseff, quando o Supremo
Tribunal Federal (STF) “reconheceu legalmente as uniões entre pessoas do mesmo sexo,
decidindo que a partir de então as regras da união estável deveriam ser aplicadas também às
relações homoafetivas”. (Machado, 2012, p.43). Essa decisão do STF estimulou
homossexuais e lésbicas com intuito de legalizar suas uniões a procurarem os cartórios, mas
também gerou manifestações hostis dos atores religiosos individuais e coletivos.
A autora menciona que existe um consenso na literatura especializada em torno do
protagonismo da Igreja Universal do Reino de Deus, tanto na esfera política, quanto nos
meios de comunicação O rápido e grande crescimento dessa igreja, que com pouco mais de
três décadas de atuação na sociedade brasileira, conseguiu comprar e transformar a TV
Record na segunda maior emissora do país, em 2009, acabou fazendo também com que as
demais denominações revissem suas restrições tanto à mídia televisiva quanto à política
partidária. Como se pode perceber, as estratégias de ocupar as máquinas partidárias, trabalhar
as candidaturas por zona de atuação do candidato-pastor, assim como de oferecer assessoria
política para a montagem da plataforma e para a campanha eleitoral, não ficaram restritas à
IURD. Segundo a autora, pesquisas em vários Estados do Brasil indicaram que outras
denominações pentecostais seguiram a trilha aberta pela IURD e produziram cartilhas,
organizaram encontros para transmitir as orientações aos candidatos e para divulgar os
projetos políticos dos seus respectivos grupos. A criação do Fórum Evangélico Nacional de
Ação Social e Política (2002) e da Frente Parlamentar Evangélica (2003), nesse mesmo
período, revela a ampliação da capacidade de mobilização e organização dos parlamentares na
defesa dos interesses supradenominacionais, assim como o engajamento de novos sujeitos
coletivos e individuais no debate político.
A maioria dos evangélicos atua na Frente Parlamentar Evangélica e na Frente em
Defesa da Vida e tenta barrar qualquer iniciativa dos movimentos sociais que possibilite o
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desenvolvimento de uma moral sexual laica ou descolada da moral cristã. A autora se utiliza
de diversas pesquisas qualitativas e quantitativas realizadas no país e nos mostra que os dados
enfatizam “a importância do pentecostalismo na divulgação dos valores do individualismo
entre os setores populares, as afinidades entre o processo de autonomização feminina.”
(Machado, 2012, p.38). E quando se trata de temas que têm colocado os movimentos
feministas e LGBTT em posição de embate com os coletivos religiosos católicos e
evangélicos como homossexualidade e aborto, por exemplo, “observa-se que os pentecostais
tendem também a ser mais tradicionalistas que a população em geral. ” (Machado, 2012,
p.38)
O universo evangélico tem um caráter fragmentário o que acaba por pluralizar as
instituições religiosas e por gerar muita competição em torno dos fiéis e dos espaços sociais
que facilitam a socialização religiosa. Essa especificidade tem favorecido não só a expansão
do número de templos, pastores e fiéis, como também o lançamento de um grande número de
candidaturas de religiosos e leigos das mais diferentes estruturas eclesiásticas. Muitas
denominações interpretam a participação na política partidária e nas disputas eleitorais como
fundamentais à ampliação e ao fortalecimento de suas respectivas igrejas no campo
evangélico e frente ao grupo confessional hegemônico no país. A despeito das divergências
doutrinárias, a maioria dos pentecostais apresenta “posições mais liberais no plano da
contracepção que a Igreja Católica, aceitando o uso de camisinha, pílulas anticoncepcionais
e cirurgias femininas e masculinas para controlar a fertilidade” (Machado, 2012, p.46) A
liderança da IURD novamente se destaca nesse campo por suas posições públicas favoráveis
em relação ao aborto e ao uso de células embrionárias em pesquisas científicas.
No decorrer do artigo, Machado destaca o estado do Rio de Janeiro como um lugar
que se difere dos demais estados do país
se observa que a participação dos atores políticos evangélicos tende a ser
restrita ao poder legislativo, o Rio de Janeiro teve, a partir de 1998, três
políticos com essa identidade religiosa exercendo o cargo máximo na
administração executiva local: Anthony Garotinho (1989-2002), Benedita da
Silva (2002) e Rosângela Matheus (2003-2007). Além desses três
presbiterianos, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus,
Marcelo Crivella tentou trocar a cadeira que ocupava no Congresso Nacional
por um posto no poder executivo e participou de diversas outras disputas
eleitorais. (Machado, 2012, p.40)
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exemplo, distribuíram material impresso explorando esses temas. Todos eles receberam apoio
político de pastores evangélicos que em suas igrejas e nos meios de comunicação criticaram
veementemente a política sexual do governo federal e o Projeto de Lei 122, que prevê a
criminalização da homofobia.
A autora não deixa de destacar que no campo da sociedade civil atores religiosos
também influenciam a esfera da política de forma significativa; “o ator religioso que mais se
envolveu em conflitos com o movimento LGBTT do Rio de Janeiro sem dúvida alguma, o
pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo” (p.44) A
capacidade de influência desse pastor na opinião pública e nos lesgisladores é muito grande,
nos últimos cinco anos, esse pastor combateu sistematicamente na mídia eletrônica as
demandas de união civil e o PL 122, e em 2010, lançou mão de outdoors instalados nas
grandes avenidas da capital do estado para difundir suas opiniões com relação à sexualidade
humana e tentar influenciar as comunidades evangélicas naquele ano eleitoral. Malafaia
divulgou também na internet os endereços eletrônicos de todos os deputados estaduais e uma
sugestão de texto a ser enviado aos mesmos como forma de pressão, e as mobilizações
surtiram efeito.
Por fim, a autora conclui que a perspectiva da existência de múltiplas formas de
modernidade por entender que a mesma permite pensar as experiências de secularização como
processos em aberto de autonomização das esferas sociais, políticas e culturais, cujo
desenvolvimento depende das relações entre as instituições e os atores individuais e coletivos
existentes em cada configuração nacional. Ou seja, tal perspectiva nos permite pensar a
atuação dos grupos religiosos na esfera pública brasileira não como “um resquício do passado,
mas como uma via alternativa do processo de mutação e autonomização das esferas jurídicas,
culturais e políticas. ” (Machado, 2012, p.45) A valorização crescente da participação dos
atores religiosos nas disputas eleitorais, na política partidária e no legislativo, assim como uso
cada vez mais frequente por parte das estruturas eclesiásticas e seus integrantes dos
instrumentos jurídicos sugerem que os mesmos reconhecem a centralidade do Estado e da
esfera jurídica na vida social.
VITAL, Christina; LOPES, Paulo Victor Leite. Peça de uma disputa política e religiosa:
o material didático do programa Escola sem Homofobia, In: Religião e política: uma
análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs
no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll; ISER, Rio de Janeiro, 2013. P. 109-
149.
Página | 21
direitos humanos e direitos das mulheres. Ele apresenta resultados da pesquisa “Religião e
Política no Brasil: um estudo sobre a atuação de lideranças evangélicas no cenário político
nacional”, (FHB e ISER), realizada entre setembro de 2011 e agosto de 2012. O capítulo
resenhado trata de um episódio de repercussão nacional: o caso do “kit anti-homofobia” ou
“kit gay”, isto é, do material educativo, parte do Programa Escola Sem Homofobia, criado
pelo Ministério da Educação, destinado ao combate à homofobia nas escolas públicas.
Se nas eleições presidenciais de 2010 o aborto já havia sido um grande tema para o
embate entre “progressistas” e “conservadores”, a produção de um conjunto de materiais
educativos destinados à tematização e à prevenção ao bullying homofóbico nas escolas atingiu
o ápice do embate logo nos primeiros meses do mandato de Dilma Roussef.
Criado pela ECOS3, o material que ficou conhecimento popularmente como “Kit
gay”4, em função da designação pejorativa feita pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC – RJ)
consistia em:
1) um caderno de orientação para o educador, o “Caderno Escola
Sem Homofobia”; 2) uma série de seis boletins elaborados com uma
linguagem juvenil, voltado para a distribuição entre os estudantes; 3) um
cartaz de divulgação do projeto na escola, em que se estimulava que a
comunidade escolar procurasse ter mais informações sobre o projeto; 4)
cartas de apresentação para os gestores e educadores, apresentando o projeto
e indicado as melhores formas de tr’abalhá-lo; 5) e três vídeos educativos
que, acompanhados por suas respectivas guias de discussão, poderiam
funcionar como estimuladores, pontos iniciais de debate. A utilização e
distribuição do material, portanto, dependia da orientação do trabalho de um
educador anteriormente formado pelo programa Escola Sem Homofobia.
Essa capacitação, como pudemos averiguar, também estava prevista desde a
sua proposta inicial. (VITAL; LOPES, 2013, p.110)
Esse material foi elaborado após diversas reuniões com técnicos do Ministério da
Educação, ativistas do movimento de LGBT, educadores de diferentes partes do Brasil e
testado junto a um grupo de professores de São Paulo, tinha como objetivo, tal como foi
apresentado no Caderno Escola sem Homofobia, “contribuir para desconstrução de imagens
estereotipadas sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, e promover como
ganho a convivência e o respeito em relação ao diferente”. Seu público-alvo, como indicado
no mesmo documento, era toda a “comunidade escolar e, em especial, alunas/os do ensino
fundamental (6º ao 9º ano) e do ensino médio”.
O material “não obteve imediatamente o apoio público de nenhum parlamentar.”
3
ONG paulista voltada à reflexão sobre sexualidade, gênero, idade e raça.
4
O Ministério da Educação pretendia distribuí-los em seis mil escolas de todo o Brasil. O material que, em 2010,
ganhou grande visibilidade antes de ter sido aprovado, começou a ser produzido em 2008, após a liberação de
uma emenda ao Orçamento Federal, obtida a partir de uma articulação da Associação Brasileira de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e seus aliados na Comissão de Legislação Participativa
(CLP), da Câmara Federal, no ano anterior.
Página | 22
(VITAL; LOPES, 2013, p.116.) Intercalando as falas de diferentes atores, Vital e Lopes
(2013) mostram como figuras públicas como Bolsonaro se aliaram à bancada evangélica para
formar um grupo de pressão política. Jair Bolsonaro procurou a imprensa, rádios
comunitárias, confeccionou panfletos que diziam “Querem na escola transformar seu filho de
6 a 8 anos em homossexual”, e em diversas oportunidade clamou por uma aliança entre a
bancada religiosa, e diz ficar feliz que isso tenha ocorrido porque ele não tinha condições de
segurar essa bandeira sozinho, afirmando que é “barra pesada”. Os próprios evangélicos
começaram a pressionar para que houvesse um posicionamento dos deputados a respeito do
assunto. Em conversa com o assessor de um de deputado membro da Frente Parlamentar
Evangélica ele contou aos autores que o parlamentar só agiu apenas para dar uma resposta à
“pressão” que vinha recebendo de sua “base eleitoral”.
A emergência do conflito se deu a partir de novembro de 2010, quando duas
audiências públicas foram realizadas no Congresso Nacional. O deputado Jair Bolsonaro
disse que tomou conhecimento do kit, porque o corredor das comissões fica no caminho de
seu gabinete, e ao ver a movimentação ele perguntou para o segurança se haveria alguma
passeata LGBT na Câmara, devido à vestimenta das pessoas que estavam ali presentes. No
discurso realizado em plenário, o deputado Jair Bolsonaro iniciou a sua fala revelando que o
kit gay é o “maior escândalo” que pôde presenciar “em vinte anos de Congresso”. Uma das
coisas que o deputado também considerou um absurdo foi a brincadeira de André Lázaro
sobre um dos vídeos que termina com uma cena de duas mulheres se abraçando. André
Lázaro diz que meses antes havia se discutido a possibilidade dessa cena ser de um beijo, e
ele brinca dizendo que discutiram sobre “quanto de língua entraria”
André Lázaro afirma que já previa que isso ia acontecer, pois não adianta fazer um
vídeo muito progressista pra ser guardado na escola, ele tem que ter um grau de
aceitabilidade. “Quando o Ministério da Saúde fala sobre esses assuntos, as pessoas
entendem que ele está falando de modo preventivo; quando a Educação fala, estão entendendo
que ela fala de um modo propagandístico”
Tanto no caso da polêmica do aborto, quanto no do material educativo, os autores
mostram que as relações políticas analisadas não se configuram em uma oposição binária
entre atores religiosos e não-religiosos, e que, além disso, o que se apresenta como central
(nos dois casos) são as tensões em busca da definição de uma política sexual no Brasil.
Entendemos que essa observação é fundamental porque o foco da
controvérsia aqui apresentada não se fixa a um embate entre valores
religiosos e seculares (...). Revelar que essa questão não está localizada, nem
delimitada entre os parlamentares evangélicos, não implica em reduzir a
importância que eles têm na condução dessa agenda. Se esses
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posicionamentos não devem ser pensados como religiosos, mas como
referentes a um campo conservador mais amplo que engloba as justificativas
religiosas, isso não significa que devemos fechar os olhos para quem, em
geral, entra nessa disputa em sua dimensão pública. É nesse contexto que
consideramos importante observarmos a atuação dessas figuras através da
reconstituição da sucessão de eventos. (VITAL; LOPES, 2013, p.119)
Por fim, o Programa Escola sem Homofobia após ser alvo de intensa mobilização de
setores conservadores, foi suspenso a partir de dois elementos: a desqualificação dele em si
(seu conteúdo, qualidade e público a que se destinava) e o aproveitamento de uma situação
política específica pelos seus adversários.
5
Ver metodologia.
6
Partido dos trabalhadores.
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Considerando a análise do campo legislativo, a autora destaca dois sujeitos sociais da
esfera religiosa que atuam no debate sobre aborto e se fazem presentes nos discursos: a
CNBB7 é citada diversas vezes nos discursos de parlamentares e a ONG Católicas pelo
Direito de Decidir acionando questões sobre o caráter laico do Estado brasileiro.
Em resumo, a autora mostra que na legislatura de 2003-2006, na Câmara dos
Deputados foram proferidos 278 discursos com as palavras-chave aborto, embrião e nascituro
e 58 proposições legislativas contendo as palavras-chave, das quais 22 eram projetos de lei.
Em relação a outras legislaturas, a proporção de menções à palavra embrião é a mais alta
encontrada, em função do debate legislativo da Lei de Biossegurança8 ; outro ponto de
destaque dessa legislatura diz respeito à concessão de liminar pelo ministro Marco Aurélio
Mello autorizando o aborto quando comprovada a gestação de anencéfalo (2004).
Os parlamentares que justificaram a posição pró-escolha em caso de gestação de feto
anencéfalico comparam o embrião sem cérebro à situação de morte cerebral, dizendo que “o
sofrimento da mãe seria vão, já que o filho não teria chances de sobrevivência e que essa
interrupção não consistiria em aborto posto que o embrião sem cérebro, tal como a pessoa
que sofre a morte encefálica, não possuiria expectativa de sobrevida”. Nove parlamentares se
pronunciaram contra a liminar que autorizava a interrupção da gravidez em caso de feto
anencefálico procuraram legitimar seus argumentos posicionando-se como médicos e usando
também de jargão técnico. Além disso, reforçaram que deveria ser respeitado o direito
incondicional a vida desde a fecundação. “Chamaram de eugenia a interrupção da gravidez
de anencéfalo, e disseram que essa pratica criaria seres privilegiados na sociedade. ” (Luna,
2014, p.89)
Em sua maioria, os projetos tinham perspectiva antiaborto de variados modos. Os
projetos de lei têm as seguintes estratégias:
aumentar a penalidade ou criar tipo penal (caso do crime hediondo e do
aborto eugênico), aumentar o controle social para evitar aborto ou uso de
práticas e substâncias consideradas abortivas (central de atendimento para
denúncias, registro da gravidez, orientação da gestante em serviço de aborto
legal para que leve a gravidez a termo, proibição da pílula do dia seguinte,
regulação de clinicas de reprodução humana) e estabelecer direitos ou
proteção para o nascituro. (Luna, 2014, p.91)
7
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
8
Lei que versava dentre outros temas sobre a autorização da pesquisa com células-tronco embrionárias, Data do
fim de 2003 à início de 2005.
Página | 27
significativa da frequência da palavra “embrião”, que foi citada em quase metade dos
discursos com as palavras-chave na legislatura anterior revela a importância do debate da Lei
de Biossegurança no quadriênio anterior. Para Luna, a análise dos projetos de lei da segunda
legislatura do governo Lula é mais complexa, pois, aumenta o número de projetos que
proporcionam direitos de assistência à gestante associados ao direito do nascituro e isso
sugere estratégias de controle social para afetar as decisões das mulheres em particular com
respeito ao aborto legal.
Outro ponto importante dessa legislatura é o Estatuto do Nascituro na proposta de
20079, que estabelece o direito inviolável a vida desde a concepção. O estatuto prevê outros
direitos civis:
direito a saúde, a alimentação, a dignidade, ao respeito, liberdade e a
convivência familiar, a pensão alimentícia se concebido em ato de violência
sexual, direito a receber doação, legitimidade para suceder, além de regras de
proteção ao nascituro. Outros projetos propõem direitos variados, como
estabelecer o estatuto de dependente no imposto de renda: direitos para o
nascituro quando o vírus HIV estiver presente na gestação; quando os pais se
separam; o direito do nascituro desde a fecundação de receber o seguro
DPVAT (referente a acidentes de transito), além de incluir a defesa do
nascituro e auxilio a maternidade no ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente. (Luna, 2014, p.98)
9
Autoria de Luiz Bassuma e Miguel Martini.
Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=443584>
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manifestam na defesa da autonomia feminina, pois na perspectiva feminista a mulher tem o
direito de decidir sobre o próprio corpo e o desenvolvimento da gestação. Contudo os valores
individualistas também se manifestam quando se identifica o embrião ou feto como um
sujeito dotado de direitos. Como se trata de uma relação hierárquica entre a mulher grávida e
o feto
na perspectiva feminista e pró-escolha, a mulher engloba o feto e tem
precedência sobre ele. Já na perspectiva pró-vida ou antiaborto, o feto
engloba a mulher, que e encarada como suporte para seu desenvolvimento e
não pode optar por interromper a gravidez, pois a vida sagrada é uma
totalidade maior. (Luna, 2014, p.105)
Por fim a questão principal no debate público sobre o aborto diz respeito a ambos os
lados considerarem a sacralidade da vida humana, sendo que o lado pró-escolha vai enfatizar
a vida da mulher, em contraste com a perspectiva pró-vida, centrada na proteção do feto. A
presença de valores e atores religiosos na esfera pública é feita em um processo que comporta
diversas tensões e contradições e não confirma uma perspectiva da secularização como
redução linear da presença do religioso no mundo.
O artigo apresenta várias abordagens sociológicas que permitem mostrar que nos
Estados Unidos, existem e persistem relações de parentesco que não se enquadram no modelo
de família nuclear e que se baseiam em relações biológicas e não-biológicas ultrapassando as
concepções jurídicas atuais. O tema do casamento gay não é idêntico ao do parentesco
homossexual embora segundo a autora, os dois temas vêm se confundindo bastante na opinião
popular americana. Esses pontos de vista se conectam de diversas maneiras:
Uma delas consiste sustentar que a sexualidade deve se prestar às relações
reprodutivas e que o casamento, que confere estatuto legal à forma da família,
ou, antes, é concebido de modo a dever assegurar essa instituição,
conferindo-lhe esse estatuto legal, deve permanecer como o fulcro que
mantém essas instituições em equilíbrio. (Butler, 2003, p.221)
O parentesco não é uma esfera completamente autônoma, se o entendemos como um
conjunto de práticas que estabelece relações de vários tipos que negociam a reprodução da
vida e as demandas da morte, então as práticas de parentesco são aquelas que emergem para
dirigir as formas fundamentais da dependência humana, que podem incluir o nascimento, a
criação das crianças, as relações de dependência e de apoio emocional, os vínculos de
gerações, a doença, o falecimento e a morte e etc. Na sociologia recente, as concepções de
Página | 29
parentesco têm se separado da hipótese do casamento, portanto não é possível separar as
questões de parentesco das relações de propriedade (concebendo pessoas como propriedade) e
das “ficções de laços sanguíneos assim como dos interesses nacionais e raciais que sustentam
esses laços.” (Butler, 2003, p.223)
Recentemente, o casamento se separa das questões de parentesco na medida em que
projetos de lei de casamento gay frequentemente excluem direitos à adoção ou as tecnologias
de reprodução enquanto direitos supostamente garantidos pelo casamento. Butler mostra que
na Alemanha, na França e nos Estados Unidos, propostas bem-sucedidas de casamento gay
nem sempre tem impacto direto sobre a legislação relativa a família, especialmente “quando
buscam como objetivo primário estabelecer o reconhecimento simbólico das relações
diádicas pelo Estado. ” (Butler, 2003, p.223)
Página | 30
O segundo ponto intitulado “A pobre criança e o destino da nação” afirma que nos
Estados Unidos, estamos acostumados a ouvir polêmicas conservadoras e reacionárias contra
a homossexualidade como não-natural, mas de acordo com Butler este não é exatamente o
discurso através do qual se instala a polêmica francesa. A autora cita Agacinski, uma filósofa
francesa que não considera que a família represente uma forma natural. Para Agacinski, o
Estado é forçado a reconhecer o casamento como heterossexual, não por causa da natureza ou
da lei natural, mas por algo chamado “ordem simbólica” (que corresponde a, e ratifica, uma
lei natural). Segundo as imposições dessa ordem, o Estado se vê obrigado a recusar o
reconhecimento de tais relações.
O Estado monopoliza os recursos de reconhecimento. Talvez a luta pelo
reconhecimento do casamento gay seja de certo modo, uma resposta à AIDS em que a
comunidade gay busca desautorizar sua chamada promiscuidade e uma forma de dizer que
eles são capazes de manter relações monogâmicas e saudáveis. De acordo com a autora, a
aprovação de tal prática deslegitima aquelas “vidas sexuais estruturadas fora dos vínculos do
casamento e das pressuposições monogâmicas. ” (Butler, 2003, p.239) Existem formas muito
significativas de perdas de direitos, as quais se tornam ainda piores pelos “apagamentos”
pessoais que ocorrem na vida cotidiana e pelas quais o relacionamento, invariavelmente, paga
caro. Apesar da busca da legitimação do Estado abrir um leque de problemas ela repara alguns
danos como o direito a visitar seu amante no hospital, o direito a assumir direitos executórios
caso ele entre em coma, por exemplo.
Podemos ver aqui o campo do dilema: de um lado, viver sem normas de
reconhecimento provoca sofrimento significativo e formas de
“desempoderamento” que frustram as próprias distinções entre as
consequências psíquicas, culturais e materiais. De outro, a demanda por
reconhecimento, que é uma demanda política muito poderosa, pode levar a
novas e odiosas formas de hierarquia social, a uma renúncia apressada do
campo sexual, e a novas maneiras de apoiar e ampliar o poder do Estado, se
não se institui um desafio crítico às próprias normas de reconhecimento
fornecidas e exigidas pela legitimação do Estado. (Butler, 2003, p.239-240)
Butler afirma que existem pelo menos dois lados dessa moeda e que isso não quer
dizer que ela resolve o dilema a favor de um ou de outro e sim que busca desenvolver uma
prática crítica que é devedora de ambos. Quanto a legitimação é crucial que:
Politicamente, mantenhamos uma relação crítica e transformadora em relação
às normas que governam o que irá ou não irá contar como aliança e
parentesco inteligíveis e reconhecíveis. Essa última envolveria também uma
relação crítica com o desejo de legitimação enquanto tal. Mas é também
crucial questionar a hipótese de que o Estado supre essas normas, pensando
criticamente sobre o que o Estado se tornou durante esses tempos ou, de fato,
como ele tornou-se um lugar para a articulação de uma fantasia que busca
Página | 31
negar ou superar aquilo que esses tempos nos trouxeram. (Butler, 2003,
p.242)
O uso de Édipo no texto estabelece uma certa concepção de cultura que tem
consequências um tanto estreitas para a formação de gênero e de arranjos sexuais e que,
implicitamente, retrata a cultura como um todo, uma unidade, que está implicada em
reproduzir a si própria e sua singular totalidade através da reprodução da criança.
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criação da criança. Significa algo mais ideal: que deve existir pelo menos um
ponto psíquico de referência para a mãe e para o pai e um esforço narrativo
para recuperar o genitor e a genitora, mesmo se um ou o outro nunca está
nem esteve presente. (Butler, 2003, p.246)
O discurso estruturalista das diferenças sexuais, concebido como troca de mulheres foi
ressuscitado no contexto dos atuais debates franceses quando diversas intelectuais, algumas
delas feministas, proclamaram que a diferença sexual é não apenas fundamental à cultura, mas
à sua transmissão, e que a reprodução deve permanecer uma prerrogativa do casamento
heterossexual e que devem ser impostos limites às formas viáveis e reconhecíveis de arranjos
de parentesco não-heterosexual.
A heterossexualidade hipostasiada é interpretada por alguns como sendo mais
simbólica do que social e, assim, operando como uma estrutura que encontra o campo do
próprio parentesco e que informa os arranjos sociais não importando suas aparências. A base
da alegação de que o parentesco tem sido sempre heterossexual parte do preceito de “aqueles
que entram nos termos do parentesco como não heterossexuais só farão sentido se assumirem
o papel de Mãe ou Pai. ” (Butler, 2003, p.251). Portanto, a variabilidade social do parentesco
tem pouca ou nenhuma eficácia em reescrever a lei simbólica fundadora e disseminada.
Pesquisas antropológicas recentes não definem mais o parentesco como a base da
cultura, mas o concebem como um fenômeno cultural complexamente interligado a outros
fenômenos culturais, sociais, políticos e econômicos. Para Butler, invocar todo esse aparato
teórico não serve só para questionar as normas fundadoras da heterossexualidade, mas
também para indagar se a “cultura” pode ser considerada como um tipo de campo ou terreno
auto-suficiente. Existe uma "ruptura" do parentesco tradicional que desloca o lugar central das
relações biológicas e sexuais, e confere à sexualidade um domínio separado do parentesco,
permitindo também que um laço durável seja pensado fora da moldura conjugal e abrindo o
parentesco a um conjunto de laços comunitários que são irredutíveis à família.
O parentesco perde rapidamente suas especificidades em termos da economia
global, por exemplo, quando se consideram as políticas internacionais de
adoção e inseminação artificial. Pois as novas ‘famílias’, nas quais as
relações de filiação não se baseiam na biologia, são, às vezes, condicionadas
por inovações da biotecnologia ou pelas relações de commodities
internacionais e do comércio de crianças. (Butler, 2003, p.255)
Página | 33
simplesmente significa que o complexo que tem seu nome assume uma variedade de formas
culturais e que ele não será mais capaz de funcionar como uma condição normativa da
própria cultura. ” (p.256) A psicanálise não precisa ser associada exclusivamente ao momento
reacionário no qual a cultura é compreendida como tendo por base numa heterossexualidade
irrefutável.
Esse artigo analisa algumas das principais tendências no trabalho desenvolvido pelo
feminismo na Colômbia, México e Brasil para enfrentar a contramobilização conservadora na
área dos direitos das mulheres, com ênfase nas formas organizativas, marcos discursivos e
estratégias implementadas relacionadas ao sistema político-legal.
No Brasil, em 2004, a ANIS (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e
Gênero) apresentou uma ação legal (ADPF) ante o Supremo Tribunal Federal
que conduziu a legalização do aborto em casos de anencefalia em 2012
(Brasil, 2004)5. Na Colômbia, em 2005, a Women’s Link apresentou uma
acao de inconstitucionalidade perante a Corte Constitucional que levou a
liberalização da lei penal sobre o aborto em tres circunstancias, em 2006
(Colombia, 2006)6. Em 2007, a Assembleia Legislativa da Cidade do México
aprovou uma reforma que refletiu a demanda e o enquadramento
desenvolvido por organizações feministas (Asamblea Legislativa del Distrito
Federal, 2007)7, e que foi apoiada pela Suprema Corte de Justica da Nacao
em 2008, depois de um processo sem precedentes de participação de atores
sociais ante a Corte, no qual as organizações feministas tiveram um papel
fundamental (Mexico, 2007). (Ruibal, 2014, p.113)
A análise das estratégias feministas, assim como sua relação com o ativismo
conservador, se realiza seguindo três das principais referências analíticas desenvolvidas no
campo da teoria dos movimentos sociais: o modelo da mobilização de recursos, a perspectiva
dos marcos culturais e a teoria do processo político. Esses enfoques permitem à autora a
possibilidade de distinguir analiticamente as dimensões organizativa, discursiva e contextual,
respectivamente, da ação coletiva. A teoria dos movimentos sociais permitiu que a autora
analisasse a interação entre um movimento social e seu campo opositor (neste caso, a
interação entre feminismo e mobilização conservadora) como uma dinâmica entre movimento
e contramovimento. Com efeito, o enfoque sociológico sobre os movimentos sociais inclui a
ação coletiva orientada à mudança social em um sentido tanto progressista como conservador,
e considera aos contramovimentos como movimentos sociais. Ruibal define um
contramovimento como um tipo particular de movimento que se desenvolve como resposta ou
reação à mudança social proposta pelo movimento inicial. Nem todos os movimentos
enfrentam contramovimentos organizados, mas, quando isso acontece e persiste no tempo,
Página | 34
ambos os movimentos se influenciam mutuamente. A controvérsia entre direitos reprodutivos
versus aborto é um caso paradigmático desse tipo de interação.
De acordo com a autora a principal oposição ao avanço dos direitos reprodutivos, e do
direito ao aborto na América Latina se encontra na mobilização de fundamentalismos
religiosos, ou do chamado ativismo conservador, representando um desafio para o processo
democrático e para a realização de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e
dos direitos cidadãos nesse campo.
O movimento conservador tem como suas principais pautas a defesa do modelo de
família “natural” e do papel tradicional da mulher, e a consequente oposição aos direitos
sexuais e reprodutivos. Nesse contexto, o aborto representa na América Latina “a fronteira do
direito de decidir” (Lamas apud Ruibal, 2014) e aparece como a última instância de
capacidade das mulheres para tomar decisões sobre sua vida reprodutiva. Alguns dos marcos
regulatórios sobre aborto mais restritivos do mundo se encontram na América Latina:
Dada a histórica influência da Igreja Católica assim como a mais recente das
igrejas evangélicas, nos sistemas políticos latino-americanos, na maioria dos
casos, a mobilização conservadora tem logrado que seus reclamos nessa área
em particular se traduzam em leis e políticas públicas. (Ruibal, 2014,p.112)
10
O projeto foi aprovado pela Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados em 2013 e se encontra em
tratamento por parte de outras comissões correspondentes. Esse projeto define que a vida humana começa na
concepção e se propõe eliminar o direito ao aborto em todas as circunstancias, incluídas aquelas previstas pela
lei.
Página | 37
primeiro tipo de argumento, apesar de ser fundamental na luta pelo direito ao aborto na
América Latina, não coloca os direitos das mulheres no centro da questão do aborto, nem
consegue capturar a demanda feminista pela liberdade reprodutiva. Isso quer dizer que
segundo a autora uma das formas que o feminismo latino-americano encontrou para enfrentar
os fundamentalismos e poder fazer avançarem reformas tem sido em alguns casos a
moderação de seu discurso11 e de suas demandas. Os casos estudados permitem que Ruibal
conclua que o campo do conservadorismo religioso na América Latina é a principal força que,
através de novas formas organizativas na sociedade civil, assim como de sua influência como
poder de fato sobre o Estado, bloqueia o avanço dos direitos sexuais e reprodutivos e em
particular do aborto
MISKOLCI, Richard. Pânicos morais e controle social: reflexões sobre o casamento gay.
Cad. Pagu, Jun 2007, nº.28, p.101-128, Jun 2007.
11
Entre as estratégias de “suavização” do discurso encontram-se, por exemplo, a redesignação do termo ‘aborto’
renomeado como ‘antecipação voluntaria do parto’, dentre outros.
Página | 38
desviada e passível, portanto, de controle médico-legal. Por trás dos temores de degeneração
sexual residia o medo de transformações profundas em instituições como a família.
Considerava-se que a então chamada “inversão sexual”
Constituía uma ameaça múltipla: à reprodução biológica, à divisão
tradicional de poder entre o homem e a mulher na família e na sociedade e,
sobretudo, à manutenção dos valores e da moralidade responsáveis por toda
uma ordem e visão de mundo. Essas razões levaram os saberes psiquiátricos e
as leis a colocarem o homossexual no grupo dos desviantes, ao lado da
prostituta, do criminoso nato e daquele que talvez fosse seu parente mais
próximo: o louco. (Miskolci, 2007, p.105)
Faz sentido que o movimento gay e lésbico se volte para o Estado, dada sua
história recente: a tendência recente para o casamento gay é, de certo modo,
uma resposta à AIDS e, em particular, uma resposta envergonhada, uma
resposta na qual a comunidade gay busca desautorizar sua chamada
promiscuidade, uma resposta na qual parecemos saudáveis e normais e
capazes de manter relações monogâmicas ao longo do tempo” (Butler, apud
Miskolci, 2007, p.109).
Página | 39
No início da década de 1980, com o surgimento da AIDS, antigos pânicos sexuais
foram reavivados. A própria síndrome chegou a ser denominada “peste gay”, o que
contribuiu para que a compreensão social desse grupo se desse por meio de um problema de
saúde pública. O autor acredita que esses certos pânicos morais marcaram não só “a criação
da homofobia contemporânea como moldaram a reação dos movimentos sociais a essas
estratégias de deslegitimação social de gays e lésbicas. ” (Miskolci, 2007, p.110) . Os
primeiros países a concederem a parceria civil a pessoas do mesmo sexo o fizeram na década
de 1980, sob a justificativa de que esse direito incentivaria a constituição de relações estáveis
e coibiria o avanço da epidemia de AIDS.
O número de pessoas que se sente ameaçada por esse “pânico” tende a concordar que
existe algo que precisa ser feito, a respeito desses indivíduos e de seu comportamento. O algo
a ser feito aponta para o fortalecimento do aparato do controle social, ou seja, novas leis ou
até mesmo maiores e mais intensas hostilidades e condenação pública a determinado estilo de
vida. Ao invés de tratar ou prender, a sociedade encontra meios de controlar aqueles cujos
estilos de vida supostamente ameaçam a normalidade social:
Se o passado foi marcado pelo poder disciplinar tão bem descrito por
Foucault, em nossos dias prevalece uma forma de poder baseada no controle.
Conquistas como a do movimento anti-psiquiátrico, a despatologização de
certos comportamentos assim como sua descriminalização são resultado
desse processo de substituição da disciplina pelo controle. (Miskolci, 2007,
p.113)
Qualquer que seja a perspectiva teórica privilegiada, a análise sociológica dos pânicos
morais provê ferramentas e conceitos úteis para a compreensão de um fenômeno da sociedade
contemporânea: o comportamento coletivo diante das pressões por mudança social que se
intensificaram e parecem mais rápidas a cada dia. A partir do exposto surgem questões
difíceis de responder como: “Quem se beneficia com o pânico moral?”, “Quem ganha se um
determinado assunto é reconhecido como um perigo para a sociedade?”, ao longo do texto
também aparecem os seguintes questionamentos: “Será o casamento gay o antídoto para o
estigma ou a resposta socialmente esperada? Não será o casamento uma forma renovada de
controle social resultante da culpabilização de gays e lésbicas pelas transformações sociais
profundas pelas quais passamos nas últimas décadas? ”
Para Miskolci, provavelmente o casamento gay alteraria para melhor a concepção
vigente da diversidade sexual como algo benigno para a sociedade, mas é uma tarefa
intelectual refutar os argumentos homofóbicos contra a parceria civil entre pessoas do mesmo
sexo; e é necessário questionar as razões do estreitamento do debate a favor ou conta o direito
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à herança, acesso a seguro saúde e declaração de imposto de renda conjunta que foram
mecanicamente associados à suposta necessidade de institucionalização das relações e,
portanto, do reconhecimento do Estado da legitimidade de uniões.
Por fim, mas não por menos, ao assumir que a intimidade gay e lésbica é
igual à hetero nos deparamos com a heterossexualidade compulsória em sua
segunda geração. Se indivíduos homoorientados não podem mesmo se tornar
heterossexuais, então, a ordem social encontrou um meio de fazê-los viver
como se fossem. (p.123)
Assim, o direito à parceria civil corre o risco de se tornar uma norma e a única
maneira de legitimar a sexualidade. Pior, esse debate tende a reduzir a sexualidade ao
casamento e este como o único meio para a aquisição de legitimidade social. O
reconhecimento legal das vidas sexuais de casais formados por pessoas do mesmo sexo só
torna “respeitáveis” aqueles que se igualam ao modelo heterossexual monogâmico.
Página | 41
Resultados do Levantamento.
ABORTO
Discursos
2015 (Janeiro à Dezembro de 2015)
No ano de 2015 foram proferidos 10 discursos contendo a palavra-chave aborto,
nenhum resultado contendo as palavras-chave embrião, reprodução assistida e fertilização in
vitro. Em 100% dos casos que a palavra nascituro apareceu, a palavra aborto já havia sido
encontrada nos mesmos documentos. Os discursos são melhor exemplificados no quadro
abaixo, onde foram organizados segundo parlamentar, partido, profissão, e número de
discursos realizados no período.
12
Presidente da CPI de combate ao aborto.
A definição de religião como “Cristão” é dada pelo próprio deputado em sua página no facebook.
13
Vice-presidente da CPI de combate ao aborto.
Página | 42
Fonte: ALERJ/ 2015
Pró-escolha
Indefinido
Pró vida
Dos 10 discursos, 7 dizem respeito à CPI de combate ao aborto. A CPI foi criada em
fevereiro para investigar a prática do aborto no estado, o comércio de produtos e as clínicas
que fazem o procedimento. Os trabalhos começaram em 17 de março. O deputado Jânio
Mendes (PDT) em seu relatório final diz que o desafio da CPI era “discutir e analisar
friamente as mais variadas razões que ceifam vidas de mulheres, vidas uterinas e vidas
humanas, de mulheres jovens, adolescentes ou maduras, vitimadas por essa indústria”
Discursos pró-vida.
O discurso proferido pelo Deputado Márcio Pacheco (PSC) em 30/06/2015 versa
sobre o que ele nomeia como “cartel” existente no Rio de Janeiro. Através da CPI de combate
ao aborto constatou-se que remédios direcionados para a rede hospitalar são desviados, de
forma contrabandeada para uso abortivo. Em seu discurso ele diz que “estão sendo vendidos
na Rua Uruguaiana, na Central do Brasil. Os remédios que deveriam ser usados apenas
pelos hospitais do Rio de Janeiro e clínicas especializadas estão sendo desviados, e assinm,
sendo usados de forma irresponsável por meninas, provocando-lhes graves problemas.”
Neste mesmo discurso, o deputado termina dizendo quais serão os futuros combates que eles e
seus pares enfrentarão na ALERJ:
O combate que vamos fazer a partir de agosto: tiramos do Sistema
Estadual de Educação o termo ‘ideologia de gênero’. Agora, nossa luta é
retirar do Plano Estadual de Educação, que virá para esta Casa em agosto.
Certamente, com a participação dos Deputados vamos mostrar que a
ideologia de gênero não colabora com iniciativa de fortalecer a infância, a
criança, a educação e a família.
Em outro discurso realizado no dia 05/11/2015 Márcio Pacheco (PSC) alega que no
nosso país existem 90 mil famílias querendo adotar um recém-nascido. Não há justificativa
nenhuma para se autorizar o aborto no País.
O discurso proferido por Thiago Mohamed (PMDB) no dia 07/04/2015 e o proferido
por Jânio Mendes em 28/10/2015 também versa sobre a CPI de combate ao aborto. Essa CPI,
em sua primeira audiência, ouviu a Delegada Titular da Corregedoria de Polícia, Adriana
Página | 43
Mendes, que expôs como foi feita a Operação Erodes14, que resultou na prisão de 75 pessoas
envolvidas em clínicas de aborto. Dentre as pessoas, foram presos 10 médicos, dois já
haviam sido presos antes pelo mesmo “crime”; ambos os deputados dizem que seu objetivo
nos discursos citados é demonstrar imensa indignação, pois o Conselho Regional de Medicina
não havia cassado os registros desses médicos, nem ao menos suspendido; Thiago Mohamed
segue dizendo que “o que revolta mais ainda é vermos um médico que se formou, fez um
juramento para salvar vidas, acabar com vidas em uma clínica de aborto.”
A CPI do Aborto da ALERJ aprovou no dia 28/10/2015 por seis votos contra um o
relatório final (já mencionado) do deputado Jânio Mendes sobre o assunto. O único deputado
a votar contra o relatório Jânio Mendes foi Paulo Ramos (PSOL) alegando a baixa
participação de mulheres no processo com apenas uma deputada integrante e duas depoentes,
entre as dezesseis ouvidas. E segue afirmando que a CPI não analisou dados sobre a
quantidade de internações de mulheres na rede pública de saúde em decorrência de abortos
espontâneos ou induzidos ou de óbitos de mulheres causados pela falta de acesso a métodos
abortivos gratuitos e legais.
Discursos pró-escolha.
O deputado Flávio Serafini (PSOL) compartilha de um posicionamento muito próximo
ao de Paulo Ramos afirmando no dia 27/10/2015 que “a criação dessa Comissão
Parlamentar de Inquérito, errou ao aprovar um tema como esse para uma CPI, não dando
centralidade à questão da saúde das mulheres” Já a deputada Márcia Jeovani (PR), única
deputada a integrar a CPI, defende que o objetivo da comissão não foi discutir o aborto em si,
mas apenas as clínicas clandestinas ilegais. Para ela “a CPI não tratou de ser a favor ou
contra o aborto, mas sim de evitar que muitas mulheres morram nas mãos de quem nem é
médico fazendo aborto” Flávio Serafini discorda desse posicionamento, pois afirma que a
questão do aborto é indissociável da questão da saúde das mulheres. Para ele o relatório final
da CPI acaba derrapando para um caminho que não é o da promoção da saúde e sim o da
criminalização das mulheres e da criminalização dos profissionais da saúde.
O PSOL-RJ em sua página oficial no Facebook elaborou uma nota referente ao
relatório final da CPI, afirmando que o relatório propõe verdadeiros retrocessos e falsamente
protege a vida. Segundo a nota do PSOL o relatório da CPI aponta para o caminho de maior
criminalização das mulheres, essencialmente aquelas pobres e negras que estão morrendo
14
Todas as informações sobre a Operação Herodes estão disponíveis no site da ALERJ (www.alerj.rj.gov.br )
Página | 44
todos os dias com a ilegalidade do abortamento. Trata-se de potencializar o sofrimento da
mulher que aborta, de regredir nos direitos do próprio abortamento com respaldo na lei. A
nota traz dados de que só no ano de 2013 foram mais de 800 mil abortos ilegais realizados no
Brasil, de acordo com um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
“Não se trata de ser a favor ou contra o aborto. Quem quiser tem todo direito, seja por que
for, de ser contra o aborto. Isso é uma questão pessoal, de fé, de opinião. Mas defender a
criminalização, a prisão, a morte das mulheres que interrompem a gravidez é uma questão
coletiva, de saúde pública. E é papel do Estado garantir a vida dessas mulheres”
O discurso de Waldeck Carneiro (PT) proferido no dia 22/10/2015 versa sobre uma
visita a um CIEP no Catete, mas aqui será classificado como pró escolha pois, a palavra
aborto é encontrada num aparte solicitado pela Deputada Enfermeira Rejane, em que ela
justifica a ausência da Deputada Tia Ju que se encontrava em Brasília dizendo que era preciso
falar da importância de uma aprovação do PL 5069/13, em Brasília, na CCJ ainda, que impede
as mulheres vítimas de violência de serem atendidas no SUS com a pílula do dia seguinte.
“Então, isso é um retrocesso às mulheres, em nosso Estado. A pílula do dia seguinte é uma
prevenção, não é aborto. Infelizmente, ainda temos um Congresso Nacional que está atrasado
milênios em relação à luta das mulheres.” A respeito desse mesmo tema o Deputado Marcelo
Freixo no dia 29/10/2015 discursa sobre os acontecimentos do dia anterior15:
Ontem foi um dia de rebeldia feminina no Rio de Janeiro. Um dia muito bom
e muito importante para a democracia brasileira e para o Rio de Janeiro.
Milhares de mulheres tomaram as ruas do Rio e se manifestaram nessa
imensa crise de representatividade que estamos vivendo. É muito importante
que isso aconteça. Esse é o Rio de Janeiro que reconheço, com o
protagonismo feminino do início ao fim na organização, nos documentos, no
protesto.
Que isso se repita muitas, muitas e muitas vezes, porque alimenta nossos
sonhos, alimenta nossa utopia.Que bom que as mulheres deram a devida
resposta ao Projeto de Lei 5069/13, do Deputado Federal Eduardo Cunha,
que representa um dos maiores retrocessos da nossa república e de todos os
tempos.
15
No dia 28/10/2015 foi realizado no Rio de Janeiro o ato “Mulheres contra Cunha” que reuniu milhares de
pessoas, principalmente mulheres protestando a aprovação do Projeto de Lei (PL) 5069/13.
Página | 45
as Casas legislativas no nosso país à antiga casa grande com “senhores patriarcais, machos
héteros, donos de suas mulheres, das suas filhas e de tanta gente. Acham que o exercício de
legislar é o de controlar corpos, pessoas e sonhos”. Outro ponto que merece destaque nesse
discurso é a menção ao tema da redação do ENEM de 201516, e a hashtag “Meu primeiro
assédio” criada pela ONG Think Olga17.
Jorge Felipe Netto (PSD) proferiu um discurso no 21/05/2015 sobre Segurança no Rio
de Janeiro, e a palavra aborto aparece em sua fala no seguinte trecho:
A segurança é uma questão tão multidisciplinar que tem até tese do Dubner e
do Levitch, dizendo que nos Estados Unidos, por exemplo, o fator tolerância
zero não teve a menor ingerência na segurança, que foi o fator de legalização
do aborto.
16
O tema era “A persistência da violência contra mulher na sociedade brasileira”.
17
Think Olga é uma ONG que trabalha com empoderamento feminino. Essa hashtag contou com mais de cem
mil relatos e a média de idade com que meninas sofreram seu primeiro assédio é menos de 10 anos.
Página | 46
Fonte ALERJ/ 2016
Pró-escolha
Indefinido
Pró vida
Discursos pró-vida.
O primeiro discurso proferido no ano, dia 25/02/2016 é de autoria do deputado Jânio
Mendes (PDT) em que é mencionado uma matéria que foi destaque no jornal O Globo. Na
matéria o trabalho exercido pela equipe médica do Hospital universitário da UFF é
parabenizado pela busca de especialização na área de Neurologia e no tratamento da
Síndrome de Guillain-Barré, que associada à zika causou várias mortes no Estado. O deputado
afirma que também é importante registrar que foi de uma universidade pública federal do
Estado da Paraíba que tivemos o alerta para com a epidemia de microcefalia de uma
complicação do vírus zika grave doença que acomete as mulheres e afeta diretamente a vida
uterina. O aborto aqui aparece no seguinte trecho do discurso “Alguns aloprados de plantão
tentam associar a microcefalia a uma oportunidade, a uma janela para a legalização
do aborto. Fato que repudiamos. ”
Discursos pró-escolha.
O deputado Flávio Serafini (PSOL) no dia 31/05/2016 aborda em seu discurso o
recente caso de estupro coletivo18 ocorrido no Rio de Janeiro, apresentando uma moção de
repúdio ao Delegado Alessandro Thiers pois a postura do delegado foi de questionar a
conduta dessa menina, sem nenhuma forma de acolhimento. E depois fez perguntas sobre a
trajetória pregressa da menina, como sobre se ela já havia participado de sexo grupal e outras
perguntas sobre a conduta sexual da menina, querendo representar aquela situação não como
de violência, mas querendo construir um perfil que desabonasse a vítima da violência do seu
lugar de vítima. O deputado afirma que é necessário desconstruir esse tipo de atitude das
instituições públicas e traz dados de que “no Estado do Rio de Janeiro, 15 mulheres são
estupradas por dia. No Brasil, são mais de 500 mil estupros por ano. ” E faz um longo
discurso sobre a cultura do estupro enraizada no país, citando por exemplo como cenas de
estupro são sensualizadas e banalizadas nas novelas. Além disso Flávio Serafini menciona
18
Uma jovem de 16 anos, foi violentada por 33 homens no Morro do Barão na Zona Oeste do Rio de Janeiro no
dia 21/05/2016. O caso repercutiu em todo Brasil, pois o ato foi filmado e disseminado nas redes sociais via
internet. Disponível em: < http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/vitima-de-estupro-coletivo-no-rio-
conta-que-acordou-dopada-e-nua.html> Acesso em: 10/08/2016.
Página | 47
dois casos emblemáticos referentes a essa banalização:
Quando vemos um parlamentar dizer para uma Ministra que não a estupraria
porque ela não mereceria, estamos vendo a banalização da prática do estupro
colocada nessa situação como uma situação de merecimento. 19
19
O parlamentar mencionado é Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Em 2014, o deputado afirmou na Câmara que a sua
colega deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada, porque ela era feia e não fazia seu tipo.
Recentemente dia 21/06/2016 Bolsonaro virou réu na corte do STF acusado de injúria e apologia ao crime por
causa desse episódio relatado no discurso de Flávio Serafini. Disponível em: <
http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/06/bolsonaro-vira-reu-por-falar-que-maria-do-rosario-nao-merece-ser-
estuprada.html> Acesso em: 10/08/2016
20
A subcelebridade mencionada é Alexandre Frota. No dia 25/02/2015 no programa de televisão Agora é tarde
exibido pela rede Bandeirantes, o ator contou em tom de piada o episódio em que fez uma mãe de santo desmaiar
ao forçá-la a manter relações sexuais sem o seu consentimento; “ela não falou nada, então pensei: vou comer”.
Plateia achou graça e aplaudiu a atitude. Disponível em: < http://www.revistaforum.com.br/2015/03/02/em-
rede-nacional-frota-confessa-estupro-e-povo-aplaude/> Acesso em:10/08/2016
21
O PL 1316/2015 já citado anteriormente seria votado por seis representantes da Comissão no dia 18/05/2016.
Mas a Comissão de Constituição de Justiça da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) retirou da ordem
do dia, o projeto de lei que obrigaria os médicos e profissionais de saúde a alertarem a polícia sempre que uma
mulher chegasse a uma unidade pública com complicações pós-aborto, mesmo que tivesse sido espontâneo.
Durante a sessão do dia 18/05/2015, um grupo feminista levou cartazes com os dizeres "aborto não deve ser
crime", "meu corpo, minhas regras" e "aborto seguro é um direito das mulheres". Disponível em:
http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-05-18/comissao-da-alerj-retira-da-pauta-projeto-de-lei-sobre-
aborto.html Acesso em: 10/08/2016
Página | 48
O deputado ainda apresenta outros dados, afirmando que são 500 mil estupros por ano
no Brasil; são mais de 15 por dia só no Estado do Rio de Janeiro. “Se deixarmos que projetos
como esse, que criminaliza inclusive o aborto legal, iremos fazer com que continue a
subnotificação dos estupros no Brasil. ”
Esse Projeto de Lei que tenta criminalizar o aborto legal é perverso porque
ele faz com que uma mulher que sofreu um estupro e tem direito a fazer
um aborto legal e seguro, tenha que se submeter a um delegado. Ele faz com
que uma mulher, que passou por um aborto espontâneo e necessitou procurar
um serviço de saúde, tenha que procurar também uma delegacia
Atualmente, menos de 10% dos estupros que chegam na rede de saúde, chegam à
delegacia porque as mulheres não se sentem à vontade para ir e prestar depoimento. Segundo
o deputado, a conduta desse Delegado ilustra bem o porquê.
O último discurso realizado no primeiro semestre de 2016 é de autoria de Wanderson
Nogueira, proferido no dia 1/06/2016 que versa sobre a imensa crise econômica que o Estado
do Rio de Janeiro tem enfrentado. O deputado cita as escolas ocupadas, a segurança pública
falida, às vésperas de um grande evento mundial como as Olimpíadas. Afirma que é
impossível estar empolgado diante de um Governo Federal que tem sete ministros
investigados pela operação Lava Jato; outros suspeitos de inúmeros crimes em um governo
ilegítimo, em um governo que faz uma pauta conservadora; em que a Secretária dos Direitos
da Mulher é contra a descriminalização do aborto.
Proposições Legislativas
22
Projeto de Lei: O projeto de lei ordinária é destinado a regular as matérias de competência do Poder
Legislativo com a sanção do Governador do Estado. Projeto de Resolução: Todas as matérias de competência
privativa da Assembléia Legislativa, que não prevêem envio ao Executivo para sanção do Governador, são
objeto de projeto de resolução e de projeto de decreto legislativo. Proposta de Emenda à Constituição: A
Constituição pode ser emendada por proposta (I) de, no mínimo, um terço dos membros da Assembléia
Legislativa (24 deputados); (II) do Governador do Estado; e (III) de mais da de mais da metade das Câmaras
Página | 49
posicionamento, profissão e tipo de proposição legislativa.
Institui multa
Formado em Projeto de lei contra o agressor,
Renato Cozzolino PR Administração. PL Nº:462/2015 como instrumento
de inibição da
violência contra a
mulher no Estado.
Dispõe sobre o
PT Professor da monitoramento
Waldeck Carneiro Faculdade de Projeto de lei eletrônico de
Educação PL Nº:1054/2015 agressores por
violência
/UFF
doméstica e
familiar contra a
mulher.
Garante a
Animador Projeto de lei prioridade de
Tio Carlos SD Cultural PL Nº:53/2015 vagas nas escolas
para crianças e
adolescentes cujas
mães encontram-
se em situação de
violência
doméstica
Ensino Disponibiliza
Superior Projeto de lei exemplares da Lei
Maria da Penha
Lucinha PSDB Incompleto. PL Nº:187/2015
para consulta da
Municipais, manifestada pela maioria dos membros de cada uma delas. Indicações: é a proposição em que são
solicitadas medidas de interesse público, cuja iniciativa legislativa ou execução administrativa seja de
competência privativa do Poder Executivo ou judiciário.
Página | 50
população, em
local visível e de
fácil acesso.
Institui o
Filho de Projeto de lei Programa de
Carlos Minc S/PARTIDO família Economista PL Nº:1255/2015 Prevenção à
judia. Epilepsia e
Assistência
Integral às
Pessoas com
Epilepsia.
Torna obrigatório
incluir no
Dr. Deodalto DEM Católico Médico Projeto de lei protocolo padrão
PL Nº:405/2015 de pré-natal o
exame de sangue
para detectar o
uso de drogas
lícitas e ilícitas.
23
Filho de Romildo Ribeiro Soares, o missionário RR Soares dono da Igreja Internacional da graça de Deus,
que possui mais de três mil templos espalhados pelo Brasil e de diversos programas de TV. Disponível em:<
http://filipesoares.com.br/> Acesso em:10/08/2016.
Página | 51
Dispõe sobre a
Evangélico Ensino Médio Projeto de lei publicação no
Nivaldo Mulin PR Completo PL Nº:1009/2015 “site” oficial do
governo estadual,
de dados relativos
à condição da
mulher no Estado
Marcelo Freixo PSOL - Profº História Dispõe sobre a
Ana Paula Rechuan PMDB Médica licença às
Enfermeira Rejane PCdoB Enfermeira Proposta de Emenda funcionárias
Tia Ju PRB Pedagoga Constitucional públicas em caso
de perda
Martha Rocha PSD Delegada PEC Nº: 16/2015
gestacional e
Daniele Guerreiro PMDB Assistente nascimento
Flávio Serafini PSOL social prematuro.
Profº Sociologia
Comissão Requerimento Solicita a
Parlamentar de - - Nº: 54/2015 prorrogação da
Inquérito CPI do aborto.
FONTE: ALERJ/2015
Pró-escolha
Indefinido
Pró vida
Posições indefinidas.
No projeto de resolução PR n°41/2015 de autoria do Deputado Dica (PMDB) é
concedida uma medalha de mérito ao Doutor Sidney Cesar Silva Guerra. A palavra aborto
nesse projeto de resolução só aparece devido à anexação do Curriculum Lattes desse médico
referindo onde é mencionado um artigo publicado pelo mesmo intitulado “A visão do
enfermeiro sobre a assistência prestada à mulher que provoca um aborto. ”
O projeto de lei PL nº 1013/2015 de autoria da deputada enfermeira Rejane (PCdoB),
Página | 52
o projeto de lei PL n°462/2015 do deputado Renato Cozzolino (PR), o projeto de lei PL
nº1054/2015 de autoria do deputado Waldeck Carneiro (PT), o projeto de lei PL n° 53/2015
do deputado Tio Carlos (SD) e o projeto de lei PL nº187/2015 da deputada Lucinha (PSDB)
versam de uma forma geral sobre violência contra mulher no estado do Rio de Janeiro, e
aparecem aqui nesse como posição indefinida pois a palavra aborto só aparece no seguintes
trecho da legislação citada em todos os projetos: “a violência sexual é entendida como
qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, (...) que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação”. É necessário afirmar que os deputados possuem suas próprias posições, sejam
elas pró-vida ou pró-escolha podendo ser mencionadas ao longo do relatório, mas nesse caso
específico são classificadas como indefinidas pelo motivo mencionado.
No projeto de lei (PL n°1255/2015) do deputado Carlos Minc (sem Partido) é
instituído o programa de prevenção à epilepsia e assistência a pessoas epiléticas no Estado, a
palavra aborto aparece apenas no seguinte trecho: “A gestante com epilepsia terá
acompanhamento especializado durante o pré-natal, no parto e durante o período de
recuperação prescrito pelo médico que a assistir. No mesmo sentido, receberá igual tratamento
aquela que vier a sofrer aborto. ”
O projeto de lei PL n°: 1009/2015 de autoria de Nivaldo Mulin (PR) dispõe sobre a
publicação no site oficial do governo do Rio de Janeiro de dados relativos à condição da
mulher no estado. Dentre os dados publicados que deverão ser atualizados semestralmente
devem constar o número de mortes de mulheres durante a gestação, parto puerpério, aborto
espontâneo ou provocado e etc.
A proposta de emenda constitucional (PEC nº: 16/2015) de autoria coletiva dos
deputados Marcelo Freixo, Ana Paula Rechuan, enfermeira Rejane, tia Ju, Martha Rocha,
Daniele Guerreiro e Flávio Serafini dispõe sobre a licença às servidoras e funcionárias
públicas em caso de perda gestacional e de nascimento prematuro especificando que “o
período de licença à gestante, nos termos do inciso XII deste artigo, em caso de perda
gestacional, será de 30 (trinta) dias, em caso de aborto não criminoso, e de 120 (cento e
vinte) dias (...)”.
Posições pró-vida.
Página | 53
O projeto de lei PL nº 48/2015 de autoria do Deputado Carlos Minc (S/Partido) dispõe
sobre a proibição do uso de papéis termo-sensíveis que contenham Bisfenol-A (BPA) em sua
composição; dentre os efeitos maléficos dessa substância se encontra o fato de que ela
provoca aborto, além de síndrome do ovário policístico, restrição ao crescimento intra-uterino
e causa diversos outros riscos à saúde no geral.
O projeto de lei de PL nº: 229/2015 de autoria da Comissão Parlamentar de Inquérito
24
dispõe sobre a proibição da participação em concursos públicos para a rede estadual de
saúde de médicos e profissionais de saúde indiciados anteriormente por praticar o crime de
aborto. Na justificativa do projeto é mencionado claramente um argumento pró-vida
exemplificado pelo seguinte trecho:
24
CPI instituída pela resolução nº05 /2015
25
A SAF é o transtorno mais grave do espectro de desordens fetais alcoólicas (fetal alcohol spectrum disorders –
FASD) e constitui um complexo quadro clínico de manifestações diversas que podem ocorrer em quem cuja mãe
consumiu bebida alcoólica durante a gestação. Os efeitos decorrem da interferência na formação cerebral, em
especial na proliferação normal e migração dos neurônios que não se desenvolvem completamente em certas
estruturas e podem acarretar alterações congênitas, anomalias do sistema nervoso central, retardo no crescimento
e prejuízos no desenvolvimento cognitivo e comportamental. Fonte: PL nº 953/2015.
Página | 54
prematuro, aborto, morte fetal e uma série de deficiências físicas, comportamentais,
cognitivas, sociais e motoras, além de outras dificuldades ao longo da vida. Outro projeto em
que a palavra aborto aparece de modo semelhante é no PL nº405/2015 de autoria do deputado
Dr. Deodalto (DEM) que cria a obrigatoriedade de incluir no pré-natal um exame de sangue
que detecte o uso de drogas lícitas e ilícitas por parte da gestante.
Posições pró-escolha.
O projeto de lei PL nº: 1232/2015 do deputado Flávio Serafini (PSOL) institui a
política estadual de combate a violência obstétrica. A violência obstétrica nesse projeto de lei
é descrita como:
Posições pró-escolha.
A deputada Enfermeira Rejane (PCdoB) é relatora de um parecer em nome da
comissão de defesa dos direitos da mulher ao projeto de lei PL nº:751/2015 de autoria do
deputado Felipe Soares (PR). O PL em questão proíbe a venda no Estado do Rio de Janeiro de
bebidas alcóolicas e cigarro para mulheres gestantes, pois é cientificamente comprovado que
aumenta o risco de aborto natural. O parecer da relatora Enfermeira Rejane (PCdoB) afirma
Página | 56
que o projeto de lei tem por objetivo proporcionar maior proteção ao feto, mas em
contrapartida apesar de todos os seus malefícios amplamente conhecidos, o álcool e a nicotina
são consideradas drogas lícitas, portanto,
Não há que se fazer distinção entre homens e mulheres no momento de sua
aquisição, sendo invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas (art. 5º, X, CFRB/88), portanto, não é razoável exigir que a
mulher passe pelo constrangimento de ter que informar ao comerciante e a
todos que se encontram no estabelecimento comercial se ela se encontra ou
não em período gestacional.
1 WALDECK CARNEIRO
PT
1 ENFERMEIRA REJANE
PCdoB
Página | 57
Posições indefinidas.
A proposta de emenda constitucional (PEC nº:26/2016) de autoria do deputado Flávio
Serafini PSOL, faz alterações na redação da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
ampliando as regras previstas também aos empregados públicos. O texto refere-se aos
diversos tipos de licença (paternidade, maternidade, por saúde, serviço militar e etc), e a
palavra aborto aparece aqui no seguinte trecho: “O período de licença à gestante, nos termos
do inciso XII deste artigo, em caso de perda gestacional, será de 30 (trinta) dias, em caso
de aborto não criminoso”.
O projeto de autoria de Marcos Muller (PHS) PL nº: 1834/2016 institui a semana
estadual de conscientização sobre os direitos das gestantes no Rio de Janeiro. Integrando o
calendário oficial de eventos do Estado, a semana do dia 15 de agosto dedicada à divulgação
dos direitos relacionados à saúde das gestantes e dos bebês, tais como assistência humanizada
à mulher durante a gestação, pré parto, parto e puerpério, além dos direitos trabalhistas e
sociais.
No PL nº:1913/2016 fica instituído no calendário do Estado do Rio de Janeiro Semana
Estadual de Conscientização sobre o "X FRAGIL ou Síndrome de Martin-Bel", a ser
celebrado anualmente a partir do dia 7 de setembro. Em resumo a síndrome do X Frágil é
uma condição genética que causa debilidades intelectuais, problemas de aprendizado e de
comportamento, além de diversas características físicas peculiares. Ainda que ocorra em
ambos os gêneros26, afeta mais frequentemente os meninos e geralmente com grande
severidade. A Síndrome do X Frágil é a forma mais comum de deficiência intelectual
moderada a grave, sendo a síndrome de Down, a primeira entre todas as causas,
diferenciando-se por ser a síndrome de Down uma mutação. A síndrome do X Frágil é um
evento que possui semelhanças com outras doenças, por isso requer diagnóstico diferencial de
deficiência intelectual e está entre as indicações mais frequentes para a análise de DNA, a
consulta genética e diagnóstico pré-natal. As palavras-chave se encontram presentes no PL
pois, o diagnóstico pré-natal da síndrome do X Frágil pode ser feito no embrião, do qual uma
célula é retirada para análise dos genes. Casais com histórico da doença submetem-se a
procedimento de fertilização in vitro para que os embriões gerados sejam analisados.
A única forma possível de prevenir o advento da síndrome é por
meio de aconselhamento genético. Uma análise do histórico familiar e testes
26
Seria mais apropriado que a palavra usada aqui fosse sexos (biológico), mas o PL utiliza-se da palavra
gêneros. Por isso, a opção por mantê-la.
Página | 58
genéticos para detectar quais mulheres na família carregam a mutação
genética da síndrome do X Frágil. Casais com histórico familiar de síndrome
do X Frágil podem submeter-se a procedimentos de fertilização in vitro e
terem seus embriões geneticamente analisados, é o que chamamos de
diagnóstico genético pré-implantacional (PDG).
Posições pró-vida.
O projeto de lei PL nº: 1761/2016 de autoria do deputado Marcos Muller (PHS)
institui a política estadual de proteção ao nascituro no Rio de Janeiro. De acordo com o PL
caberá ao Estado desenvolver programas de métodos naturais, abordando a prevenção da
gravidez precoce, os direitos do nascituro e o planejamento familiar; capacitar profissionais de
saúde e respectivos agentes públicos para fornecer apoio psicológico, médico e social para
gestantes; implantar programas que amparem as jovens vítimas de abuso sexual; incluir, nas
escolas públicas, atividade curricular objetivando a discussão e a consciência dos direitos do
nascituro e, finalmente, promover ações e campanhas de conscientização contra a violência
sexual e o aborto. Além disso, em sua justificativa consta os seguintes trechos:
Nascituro é um feto. No Direito é grande a controvérsia se tal feto pode ser
considerado um ser humano quanto à sua personalidade jurídica (pois ter
‘vida’ não é sinônimo de ter ‘vida humana’) e sobre quais direitos tal feto
possui, se é que possui.
O outro projeto de lei (PL nº:1907/2016) de autoria deputado Zito (PP) cria a política
de proteção aos direitos da pessoa com síndrome do X frágil. A lei visa estimular à inserção
da pessoa com a Síndrome do X Frágil no mercado de trabalho, observadas as peculiaridades
da deficiência e as disposições da Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (estatuto da
Criança e do Adolescente); assegurar a formulação de políticas públicas voltadas para as
pessoas com a síndrome; estimular a pesquisa cientifica e a capacitação de profissionais
especializados no assunto, dentre outras diretrizes.
Página | 59
Tabela de posições pró-vida por partido a partir dos discursos e das
proposições legislativas.
PP 1 ZITO
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DIVERSIDADE SEXUAL
Discursos
Página | 61
Átila Nunes PMDB Umbandista Jornalista / 1 Invasões e depredações
advogado de terreiros de
umbanda na Baixada
Fluminense.
Paulo Ramos PSOL 1 Comemoração dos 50
anos da Rede Globo.
Fonte: ALERJ/2015
Posições favoráveis.
Posições indefinidas
Posições contrárias.
Posições indefinidas.
No discurso realizado por Jânio Mendes (PDT) no dia 24/06/2015 sua fala se direciona
a “atender uma lacuna de uma lei do Deputado Carlos Minc que criminaliza
administrativamente a homofobia no Estado prevendo punições”. Defendendo que o
parlamento deve ser o espaço do entendimento e da compreensão de que o direito de um vai
até onde o do outro se inicia, o deputado diz que não tem o direito de invadir e nem de agredir
qualquer pessoa devido à sua religião seja ela de matriz africana, de origem asiática,
protestante ou espírita.
Onde há equívoco, tanto do lado dos que defendem a sua implantação, quanto
do lado daqueles que passam a defender que não haja necessidade de, neste
Estado, haver uma legislação que venha a dizer claramente que no Rio de
Janeiro não há espaço para a homofobia, não há espaço para a intolerância,
que há a necessidade do respeito às diferenças, do convívio harmônico. E
onde não houver harmonia no convívio, que haja um Estado forte o
suficiente, com uma legislação eficaz, para policiar. Isto é o Estado do
respeito às liberdades, às garantias individuais.
Segue dizendo que “temos que condenar toda a prática, porque a intolerância não é
apenas de um lado; não está associada, única e exclusivamente, à agressão a um segmento
religioso. A intolerância está, também, associada e relacionada quando um segmento
religioso não aceita o outro, não aceita a diferença, a diversidade. ” O deputado também diz
se posicionar com a mesma clareza que se posiciona contra aqueles que tentam impor nos
planos municipais de educação os princípios da ideologia de gênero.
Wanderson Nogueira (PSOL) no dia 17/06/2015 profere um dos discursos mais
Página | 62
polêmicos27 do levantamento referentes ao Estado laico. O deputado afirma que “a
generalização desgraça a democracia. ” Fazendo uso do seguinte exemplo: “Se a menina que
foi apedrejada, foi atacada por um evangélico, logo, todos os evangélicos apedrejaram a
menina. Não vamos generalizar. Foi a atitude de uma pessoa, que se diz daquela religião.
Não foi a religião que atacou a pessoa”. Segue dizendo que assim como há bons pastores, há
maus pastores; há bons padres, maus padres. E nem por isso devemos generalizar a religião
católica, a evangélica e não devemos generalizar nada nesta vida. Absolutamente nada. O
deputado “implora” que não haja uma discussão religião versus orientação sexual, mas que
haja uma discussão humana, em todas as suas manifestações, em todos os seus direitos pois o
Brasil está se tornando um país que discrimina, que tudo segrega. Defende que a discussão
não é religiosa, e não é de causa LGBT: a discussão é humana, é na relação humana. Isso é o
mais importante. “Não podemos retroceder e temos que avançar como sociedade. ”
Luiz Paulo (PSDB) no dia 6/05/2015 diz que o objetivo de seu discurso é prestar
esclarecimentos às pessoas que opinaram sem ler o conteúdo do projeto de lei (PL
Nº 2374/2013) que dispõe sobre o direito à objeção de consciência e que foi mal interpretada.
“Para os efeitos desta lei, considera-se objeção de consciência a possibilidade de recusa por
um indivíduo da prática de um ato que colida com suas convicções filosóficas, éticas, morais
e religiosas, por imperativo de sua consciência. ” O deputado diz que ouviu tanta bobagem e
de quem deu entrevista e não leu dando os seguintes exemplos:
Ora, imagine que um médico esteja de plantão e possa ter a mais
forte convicção religiosa. Entra uma mulher sangrando, que tem que fazer
uma curetagem ou morre. Não tem lei maior que a lei da vida, que está
inscrita na Constituição: ele tem que atender.
28
A cena descrita pelo deputado ocorreu durante uma performance na Marcha das Vadias no Rio de janeiro em
Julho de 2013, e não na parada LGBT.
29
As três referências feitas à parada LGBT em discursos foram contrárias a uma performance considerada
desrespeitosa. A performance descrita nos discursos se refere a transexual crucificada durante a parada LGBT de
São Paulo. Disponível em:< http://antigo.brasildefato.com.br/node/32222> Acesso em: 10/08/2016.
Página | 64
vimos fazendo aqui, daquilo que nos foi designado a praticar nesta Casa”. No final desse
balanço o deputado afirma que a partir de agosto o combate será para tirar do Sistema
Estadual de Educação o termo “ideologia de gênero”.
Agora, nossa luta é retirar do Plano Estadual de Educação, que virá para esta
Casa em agosto. Certamente, com a participação dos Deputados vamos
mostrar que a ideologia de gênero não colabora com iniciativa de fortalecer a
infância, a criança, a educação e a família.
Segue dizendo que a Revista Caras é “a expressão da mais perversa elite, do desprezo
pela situação vivida pela maioria esmagadora da população ” e aponta o jornalismo da TV
Globo como o seu “principal eixo nazifacista”
Waldeck Carneiro (PT) em seu discurso no dia 27/10/2015 manifesta suas “efusivas
congratulações” à comissão organizadora do ENEM pelo tema30 da redação; no edital já se
dizia que, qualquer pronunciamento atentatório aos direitos humanos resultaria na anulação da
30
Persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.
Disponível em: < http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/noticia/2015/10/enem-2015-traz-violencia-contra-
mulher-no-brasil-no-tema-da-redacao.html> Acesso em: 10/08/2016
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prova. O deputado segue afirmando que não se espanta com “a posição de Deputados como o
Marcos Feliciano, como o Deputado Jair Bolsonaro, porque há os que acreditam que jogar
pedra em negro, que dar pancada em gay, que bater em mulher são coisas tradicionais”
Waldeck Carneiro (PT) em outro trecho do discurso diz que a desigualdade contra a mulher é
gritante e é absolutamente inaceitável.
A deputada Martha Rocha (PDT) no dia 2/06/2015 discursa a respeito de uma pesquisa
31
publicada em um jornal que afirma que meninas levam a escola mais a sério do que os
meninos; meninas estudam mais horas por semana do que meninos; investem maior parte de
horas livres em leitura; e hoje, passam mais tempo na escola ao longo da vida. Já os garotos,
empregam com mais facilidade as fórmulas de matemática em sua realidade, e demonstram
doses maiores de autoconfiança, mas têm uma relação mais distante e displicente com a
escola. A deputada acredita que sem dúvida ao examinar esse tema, a pesquisa falou não
apenas das questões do sexo, mas também da etnia, da idade, da orientação sexual. Ela
também chama a atenção para a falta de representatividade de mulheres em diversas
instâncias, principalmente na ALERJ que na atual legislação conta somente com 9 deputadas.
O foco do discurso de Átila Nunes (PMDB) no dia 4/02/2015 são os sucessivos casos
de invasões e depredações em alguns terreiros de Umbanda na Baixada Fluminense e no Rio
de Janeiro, sendo que um dos mais emblemáticos aconteceu no Catete. O deputado demonstra
indignação quanto a esses casos de intolerância religiosa: “Nós estamos caminhando, se
observarmos bem, para um tipo de intolerância que transborda da religiosa para a
intolerância à orientação sexual, à procedência nacional. ” No decorrer do discurso faz uma
comparação com o cenário mundial, citando os casos no Oriente Médio; onde jornalistas são
decapitados e pessoas são queimadas vivas:
Em que está se transformando o Rio de Janeiro? Em que está se
transformando este País? Dividir o País? Católicos, espíritas, evangélicos?
Qual o próximo passo? Milícias radicais? Vamos queimar todos os católicos,
vamos queimar os umbandistas? Qual o próximo passo?
31
A deputada não menciona em qual jornal.
32
Barbárie é o termo utilizado pelo próprio deputado.
Página | 66
Wanderson Nogueira (PSOL) inicia seu discurso nesse dia parabenizando todas as famílias e
afirmando que para ele família é: “a união de duas pessoas, ou mais, ligadas pelo afeto, pelo
amor. Por isso, parabéns a todas as famílias”. Segue dizendo que ele é uma pessoa que
coloca abaixo o conservadorismo. “Para mim, o mais importante da sociedade é o amor e,
por não cultuarmos o amor, estamos tão atrasados. O amor é o fundamento essencial,
principal da vida, como diz a música do Lulu Santos: Consideramos justa toda a forma de
amor”. E que sonha com o dia em que o Estado não precise proteger A, B ou C, porque todos
estarão sendo vistos como iguais; “com o dia em que a sociedade não precise defender as
mulheres, não precise defender os negros, não precise defender os homossexuais, os
bissexuais, os transexuais, porque haverá um pé de igualdade, mas, infelizmente, nós não
vivemos nessa sociedade ainda. ” Para o deputado é papel fundamental do Estado cuidar
daqueles que são invisíveis, daqueles que, muitas vezes, enfrentam tudo e todos para que
possam ter o direito básico, que é a felicidade. “A Constituição norte americana é muito feliz,
quando, em um de seus artigos, diz que todos têm direito à felicidade. ”
Página | 67
Audiência pública
para discutir o
PME em Niterói
Debate sobre
Waldeck Carneiro PT 1 gênero na
sociedade Brasilera
se mostra
fundamental.
Fonte: ALERJ/2016
Posições favoráveis.
Posições indefinidas
Posições contrárias.
Página | 68
que recebem o seu 13º salário parcelado, que enfrentam escassez de vários bens públicos, o
motivo é que seu dinheiro está sendo usado para patrocinar “evento de casamento
homossexual e paradas gays. ”
Bolsonaro (PSC) concedeu um aparte ao deputado Pedro Fernandes (PMDB) que
afirmou que “o Secretário foi infeliz nas suas declarações e errou” em sua opinião, pois é de
conhecimento geral que também existe o casamento feito para heterossexuais promovido pela
própria Secretaria de Assistência. Mas ele concorda que “não podemos nos permitir fazer um
evento nesse sentido, nesses valores, enquanto o pagamento dos servidores está sendo feito de
forma parcelada por toda a dificuldade que vimos encontrando. ”
O segundo discurso no dia 17/02/2016 foi proferido pelo deputado Marcelo Freixo
(PSOL) e ele o inicia afirmando que era a primeira vez que estava se pronunciando sobre o
Secretário, “não fiz isso em nenhum outro momento, porque a escolha do Secretariado é uma
escolha que cabe ao Governador. ”
Em nenhum momento fiz pré-julgamento por qualquer orientação religiosa de
qualquer Secretário, por isso não me pronunciei, não fiz questionamento, não
duvidei da capacidade do Deputado de forma preconceituosa, ou seja,
anterior a qualquer atitude.
Freixo (PSOL) afirma que por inúmeras vezes, mesmo sendo oposição ao Governo
Cabral, fez elogios aos programas LGBT do Governo. O Secretário Ezequiel Teixeira, do
Partido da Mulher Brasileira, cancelou todos os programas LGBT, para o deputado a ideia de
que tem uma crise econômica não justifica a ação do secretário. Além disso, Ezequiel Teixeira
(PMB) concedeu uma entrevista dizendo “Eu não creio só na cura gay. Não. Creio na cura
do câncer e na cura da Aids, sabe por quê? Porque eu sou fruto do milagre de Deus também.
” Para Freixo, o Secretário de Direitos Humanos em pleno século XXI quando afirma
acreditar na cura gay é absolutamente incompatível com o cargo que exerce e defende que a
responsabilidade não é do Secretário pois:
Ele mesmo disse uma coisa importante: “Fui eleito Deputado Federal com
essas convicções. Fui convidado para estar aqui. Todos os que me chamaram
sabiam das minhas convicções”. Quero dizer que o Secretário tem razão. Por
isso minha fala não é contra o Secretário. É contra o Governador que o
nomeou, porque não poderia, a não ser que fosse nomeado para a Secretaria
Antidireitos Humanos, uma secretaria de violação dos direitos humanos, uma
secretaria pela homofobia. Aí, poderia colocar o Secretário, que defende
claramente essa linha, que acredita na cura gay, que trata o homossexual
como um doente.
Ele tem todo o direito. Estou questionando a sua nomeação para uma política
que ele não tem condições de defender. Ele, em seus discursos, viola a
essência da defesa dos direitos humanos. Quero dizer que se ele acha que é
fruto do milagre de Deus, a sua nomeação é uma aberração da política do
Governo do PMDB.
Ele tem todo o direito. Estou questionando a sua nomeação para uma política
que ele não tem condições de defender. Ele, em seus discursos, viola a
essência da defesa dos direitos humanos. Quero dizer que se ele acha que é
fruto do milagre de Deus, a sua nomeação é uma aberração da política do
Governo do PMDB.
33
Ezequiel Teixeira é pastor. Em 1989, fundou a Associação Missionária Vida Nova, com o primeiro templo
localizado em Irajá, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Ao longo dos anos a igreja tornou-se referência na região
e, em seguida, na esfera nacional. Ezequiel passou a fazer inúmeras palestras e conferências por todo o Brasil e
no exterior. Hoje, são mais de 70 templos em várias nações. Ezequiel Teixeira apresenta programas de rádio e
TV há vários anos, e tem como característica a mensagem profética e a ousadia no mundo espiritual. Escreveu
diversos livros. Dentre eles, “Projeto Ari” e “Alianças Erradas”.
Fonte: Texto informado pelo próprio Ezequiel em suas redes sócias, na aba biografia.
Disponível em: < http://www.ezequielteixeira.com.br/> Acesso:11/08/2016.
Página | 70
sem Homofobia, uma política pública reconhecida internacionalmente que foi implementada
em 2007, alegando que é por conta da crise do Estado. Wanderson Nogueira (PSOL) também
cita em seu discurso uma notícia que ganhou os jornais na mesma semana da entrevista do
secretário:
Não é apenas a chamada ideologia do gênero que tenta barrar, que tenta solapar um
debate tão fundamental e esse estupro coletivo acabou de nos revelar, acabou de atirar contra
a nossa cara a importância de aprofundarmos esta discussão afirma que existe uma violência
brutal neste país que se abate principalmente sobre mulheres, negros, pobres e a comunidade
LGBT.
Flávio Bolsonaro (PSC) no dia 19/04/2016 inicia dizendo que seu objetivo era
discursar sobre a crise do estado e o não pagamento dos pensionistas, mas ao chegar na
ALERJ foi surpreendido com as calúnias dos deputados Wanderson Nogueira (PSOL) e Paulo
Ramos (PSOL). Logo depois disse que pensando melhor, não foi surpreendido “porque já
espero que alguma besteira sairá da boca deles”.
Quando eu ouço Paulo Ramos e Wanderson Nogueira falando aqui, eu penso:
eles são do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade. Já começa errado,
porque ou é socialista, ou defende a liberdade. As duas coisas, não dá. (...).
Página | 71
Nós pegamos aí a origem do socialismo e não precisa ir tão longe, vamos
aqui na Alemanha de Hitler. Qual era o partido do Hitler? Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães. Então, já percebemos uma origem do
PSOL e do PT aqui no nosso País.
Cada um é responsável pelo que faz da sua vida, ninguém tem nada a ver
com isso, muito menos o Estado, mas os militantes LGBT, raivosos, são
muito bem remunerados também para fazerem a baderna que fazem. Contra
esses, sim, temos que ir para o debate e para o uso da lei pelas suas atitudes
mais agressivas. Então, eles cospem em Bolsonaro e sou obrigado a ouvir o
Deputado Paulo Ramos dizer que ele fez certo, que agiu como deveria agir.
O deputado diz que ter que assistir ao filho dele vir aqui e proferir um monte de
mentiras na defesa do “papai” é inadmissível; pois são mentiras que a direita, “cada vez mais
boçalizada, cada vez mais imbecilizada não se cansa de repetir; mentiras que visam atacar a
esquerda e jogar fumaça no debate ideológico.”
Página | 72
Jair Bolsonaro, repudiamos veementemente as suas ações, defensor da
tortura, fascista, homofóbico. Companheiro Jean Wyllys, entendemos que a
reação do oprimido não deve ser confundida de forma nenhuma com a ação
dos opressores, por isso, declaramos a nossa solidariedade a você e
repudiamos esses fascistas que não passarão
E conclui citando que uma das empresas usadas para lavar dinheiro por Eduardo
Cunha (PMDB) se chamava Fé em Jesus, e a empresa que usava para ocultar seu patrimônio
se chamava Jesus.com. “Ele, talvez o mais notório corrupto da História recente do Brasil se
escondia por trás do debate religioso para não deixar transparecer a sua forma verdadeira
forma de fazer política centrada na corrupção. ” Utiliza-se desse exemplo para afirmar que o
Estado tem que ser laico para garantir que as diferentes formas de pensar e as diferentes
formas de fé se desenvolvam com liberdade.
Proposições Legislativas
2015 (janeiro a dezembro de 2015)
Página | 73
PARLAMENTAR PARTIDO RELIGIÃO PROFISSÃO PROPOSIÇÃO TEMA DA
LEGISLATIVA PROPOSIÇÃO
Professor de Projeto de Concede a Medalha
Flávio Serafini PSOL Sociologia Resolução Tiradentes e o
PR Nº: 157/2015 respectivo Diploma à
Transexual Gilmara
Cunha, ativista da
causa LGBT em espaço
de favelas
Flávio Serafini PSOL Professor de Projeto de lei Estabelece o
Sociologia Nº:1003/2015 acolhimento da
população LGBT em
situação de privação de
liberdade no âmbito do
sistema penitenciário
do estado.
Carlos Minc SEM PARTIDO Inclusão dos itens
"orientação sexual",
Comte Bittencourt PPS
Projeto de lei "identidade de gênero"
Flávio Serafini PSOL Profº Sociologia e "nome social" nos
PL Nº: 436/2015
Marcelo Freixo PSOL Profº de História boletins de ocorrência
emitidos pelas
Zeidan PT autoridades policiais no
Estado do Rio de
Janeiro.
Garante a livre
Geógrafo Projeto de lei manifestação na rede
Carlos Minc SEM PARTIDO PL Nº: 297/2015 mundial de
computadores e
penaliza a
divulgação de atos
atentatórios aos
Direitos Humanos.
Assegura às pessoas
Zeidan PT Projeto de lei que mantenham união
Jornalista/Psicóloga Nº: 55/2015 estável homoafetiva o
direito à inscrição,
Página | 74
como entidade familiar,
nos programas de
habitação popular.
Determina a fixação de
Projeto de lei cartazes, visíveis ao
Átila Nunes PSL Umbandista Nº:98/2015 público, de advertência
sobre a proibição da
doação de sangue por
pessoas com tatuagem
permanente ou
‘piercing’ pelo prazo de
um ano.
WandersonNogueira PSOL Ementa de Dispõe sobre o direito
(Autor) proposição à visita dos presos e da
Marcelo Freixo PSOL Professor de PL nº: 226/2015 entrega de material de
(relator) História higiene pessoal.
Projeto de lei
Dr Sadinoel PMB Advogado Nº: 707/2015 Institui o procedimento
a ser adotado
instituições de ensino
no Estado do Rio de
Janeiro em caso de
prática de bullying.
Rafael do Gordo PMDB Superior incompleto Projeto de lei Altera a lei 3686/01
Edson Albertassi PMDB Radialista Nº:749/2015 para beneficiar os
adotantes de crianças
ou adolescentes com
idade igual ou inferior
a 17 anos.
Página | 75
Jorge Filippe Neto DEM Estudante de Direito proposição PL Nº: 55/2015.
(Relator) PL Nº:55/2015
Fonte ALERJ /2015
Posições favoráveis.
Posições indefinidas
Posições contrárias.
Página | 76
jornalista Aguinaldo Silva, através do Projeto de Resolução PR nº:01/2015 de autoria do
deputado Bernardo Rossi (PMDB). Como parte da justificativa, ao descrever a trajetória do
escritor é mencionado que na década de 1970, editou o primeiro jornal gay do país, O
Lampião, um tablóide semanal que teve vida curta.
No projeto de lei PL Nº 436/2015 de autoria dos deputados Carlos Minc (sem partido),
Marcelo Freixo (PSOL), Comte Bittencout (PPS), Flávio Serafini (PSOL) e da deputada
Zeidan (PT) aparecem todas as palavras-chave buscadas no portal com raras exceções. O
projeto estabelece os parâmetros para a inclusão dos itens "orientação sexual", "identidade
de gênero" e "nome social" nos boletins de ocorrência emitidos pelas autoridades policiais no
Estado do Rio de Janeiro, Nesse sentido, o projeto contempla o tema da diversidade sexual de
forma ampla, pois traz dados alarmantes em sua justificativa referentes ao Relatório sobre
Violência Homofóbica no Brasil da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, que apontam em média 27,34 violações de direitos humanos de caráter
homofóbico por dia no Brasil.
A indicação nº: 1116/2015 de autoria da deputada enfermeira Rejane (PCdoB) pede
que seja encaminhado um ofício ao governador do estado Luiz Fernando Pezão, solicitando a
implantação de uma Delegacia Policial Especializada em Crimes Raciais e Delitos de
Intolerância, com a finalidade de melhor combater os crimes de homofobia, etnia,
preconceito e descriminação, sobretudo religiosa, principalmente contra as religiões de
origem africanas, em local central e de fácil acesso para a população fluminense.
Carlos Minc (sem partido) é autor do projeto de lei PL nº 297/2015 que regulamenta o
artigo 22 da constituição estadual que tem o objetivo de garantir a livre manifestação na rede
mundial de computadores e penaliza a divulgação de atos atentatórios aos direitos humanos. A
diversidade sexual aparece no projeto especificamente no seguinte trecho:
Qualquer material escrito, imagens ou qualquer outro tipo de representação
de ideias ou teorias que promovam, explicite ou incite a violência
contra gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis;
Página | 77
Lésbicas: denominação específica para mulheres que se relacionam afetiva e
sexualmente com outras mulheres;
Página | 79
promovam a prática de discriminação de pessoas em virtude de sua orientação sexual,
religião, cor, raça, etnia ou se tratar de pessoa com deficiência. O projeto de lei PL nº
434/2015 de autoria do deputado Luiz Martins (PDT) considera de utilidade pública estadual
o Instituto Vida Real pois, presta serviços assistenciais, sem discriminação de etnia,
gênero, orientação sexual ou religiosa, bem como a pessoa com deficiência.
Átila Nunes (PSL) é autor do projeto de lei PL nº:98/2015 que determina a fixação
obrigatória de cartazes que esclareçam sobre a proibição de doação de sangue por pessoas
com tatuagens permanentes e/ou piercings pelo prazo de um ano. Segue afirmando que a
doação de sangue deve ser voluntária e altruísta e a “orientação sexual (heterossexualidade,
bissexualidade, homossexualidade) não deve ser usada como critério para seleção de
doadores de sangue, por não constituir risco em si própria”.
O projeto de lei PL nº: 707/2015 de autoria do deputado Dr Sadinoel (PMB) institui
procedimentos que devem ser adotados por instituições de ensino no estado do Rio de Janeiro
em caso de prática de bullying. A instituição de ensino, que tomar conhecimento de denúncia
da utilização de expressões ofensivas e preconceituosas que revelem intolerância racial,
religiosa, sexual, política, cultural e socioeconômica que envolva estudantes sob a sua
responsabilidade, deverá instaurar imediatamente os procedimentos administrativos previstos
na lei.
Os deputados Rafael do Gordo (PMDB) e Edson Albertassi (PMDB) são autores do
projeto de lei PL nº 749/2015 que altera a lei nº 3686/2001, visando beneficiar os adotantes de
crianças ou adolescentes com idade igual ou inferior a 17 anos. O art.1º da Lei 3686, de 24 de
outubro de 2001, passou a vigorar incluindo em sua redação que:
Adotar uma criança é mais do que um gesto de caridade, adotar é um ato de
amor e de responsabilidade. A adoção é uma forma de constituir uma família,
independente de raça, credo, orientação sexual ou ideologia política,
possibilitando à criança e ao adolescente a chance de crescerem amparados .
Filipe Soares (DEM) é autor do projeto de lei PL nº 108/2015 que obriga que os
serviços empreendidos por hotéis, albergues, pousadas, motéis ou qualquer tipo de
hospedagem, só poderão ser cobrados após a prestação efetiva do serviço. A proposta visa
garantir um serviço digno pois, os estabelecimentos cobram antecipadamente por um serviço
que não prestou e nem prestará por motivos os mais diversos, inclusive preconceito contra os
hóspedes. O deputado na justificativa desse projeto de lei evoca que há uma necessidade em
compreender o que a carta política de 1988 dispõe sobre preconceito, estereótipo e
Página | 80
discriminação. O deputado afirma que:
O preconceito se localiza na esfera da consciência afetiva dos indivíduos e,
por si só, não fere direitos. Aliás, embora violando as normas do bom senso e
da afetividade, o preconceito não implica necessariamente em violação de
direitos. Isto porque ninguém é obrigado a gostar, por exemplo, do portador
de deficiência, do homossexual, do idoso, do crente, do pobre, do índio ou
do afro-brasileiro.
Quanto ao estereótipo, o deputado Felipe Soares (DEM) diz que o termo deve ser
claramente distinguido do preconceito, pois pertence à categoria das convicções, ou seja, de
um fato já estabelecido. “Uma vez ‘rotulados’ os membros de determinado grupo como
possuidores desta ou daquela ‘virtude’, as pessoas deixam de avaliar os membros desses
grupos pelas suas reais qualidades (virtudes) e passam a julgá-los pelo ‘rótulo’. E cita dentre
seus exemplos: “todo negro é ladrão; toda mulher não sabe dirigir (...)”
Sugere a criação de
uma Delegacia
Indicação especial de
Tio Carlos SD Animador cultural Legislativa repressão aos
crimes por
Nº: 142/2016
discriminação
racial , religiosa, e
orientação sexual.
Milton Rangel DEM Igreja Empresário Dipõe sobre a
Mundial do proibição de
poder da fé. lecionamento de
Samuel Malafaia DEM Assembléia Engenheiro qualquer temática
de Deus mecânico relacionada a
Projeto de lei
Dr. Deodalto DEM Católico Ginecologista ideologia de
Nº: 1615/2016 gênero.
Tia Ju PRB IURD Pedagoga
Flávio Bolsonaro PSC Católico Advogado
Carlos Macedo PRB Bispo da Jornalista
IURD
Filipe Soares DEM Igreja Publicitário
Internacional
da Graça.
Página | 81
Nivaldo Mulim PR Evangélico Empresário
Martha Rocha PDT Delegada
Ana Paula Rechuan PMDB Cardiologista
Projeto de lei Cria a polítcia
Daniele Guerreiro PMDB Formada em Serviço
estadual de
social Nº: 1909/2016
empoderamento da
Márcia Jeovani PR Empresária mulher.
Zeidan PT Católica Jornalista e
psicóloga
Enfermeira Rejane PCdoB Enfermeira
Cidinha Campos PDT Jornalista/radialista
Lucinha PSDB superior incompleto
Estabelece multa e
- manda retirar do ar
Assembléia toda e qualquer
Legislativa do Projeto de lei veiculação
publicitária
Estado do Rio de Nº: 1844/2016
misógina, sexista
Janeiro34 ou estimuladora de
agressão e violência
sexual no estado.
Veda que seja
tipificado como
Wanderson obsceno o ato
Nogueira PSOL Apresentador Projeto de lei humano praticado
por pessoa de
esportivo Nº: 1490/2016
qualquer gênero de
não cobrir o corpo
da cintura para
cima em público no
estado .
Altera a lei
5.645/10 para
Projeto de lei instituir a semana
Enfermeira Rejane PCdoB Enfermeira Nº: 1894/2016 de divulgação e
respeito ao direito
ao processo
transexualizador
no estado.
Fonte ALERJ 2016
Posições favoráveis.
Posições indefinidas
Posições contrárias.
34
Projeto de lei de autoria de todos os deputados que compõem a casa.
Página | 82
Posições favoráveis à diversidade sexual.
Página | 84
Tabela de posições favoráveis à diversidade sexual a partir dos discursos e
das proposições legislativas.
BERNARDO ROSSI
PMDB RAFAEL DO GORDO
4 EDSON ALBERTASSI
ANA PAULA RECHUAN
MARTHA ROCHA
THIAGO PAMPOLHA
PDT 4 LUIZ MARTINS
TÂNIA RODRIGUES
1 ENFERMEIRA REJANE)
PCdoB
1 LUIZ PAULO
PSDB
1 ÁTILA NUNES
PSL
DEM 1 JORGE FELIPPE NETO
SD 1 TIO CARLOS
O projeto de lei PL nº: 1615/2016 de autoria dos deputados Milton Rangel, Samuel Malafaia
(DEM), Dr. Deodalto (DEM), Tia Ju (PRB), Flávio Bolsonaro (PSC), Carlos Macedo (PRB),
Filipe Soares (DEM) dispõe sobre a proibição de lecionar de qualquer temática relacionada à
ideologia de gênero. Para os efeitos dessa proibição todos os Planos Municipais de Educação
devem adequar-se às exigências da lei. O projeto também proíbe a utilização de qualquer
meio pedagógico (livros, cartilhas, filmes) que contenham direta ou indiretamente reflexões
sobre ideologia de gênero ou orientação sexual.
1 JÂNIO MENDES
PDT
2 MÁRCIO PACHECO
PSC FLÁVIO BOLSONARO
MILTON RANGEL
FELIPE SOARES,
DEM 4 SAMUEL MALAFAIA
DR.DEODALTO
2 TIA JU
CARLOS MACEDO
PRB
A tabela acima nos traz dados muito importantes. Todos os deputados que se
posicionaram contra a diversidade sexual, sem exceção são religiosos. Jânio Mendes (PDT) é
católico; os dois deputados do PSC mencionados, Márcio Pacheco e Flávio Bolsonaro
também são católicos. O DEM é o partido com maior número de deputados contrários a
diversidade, dentre eles Milton Rangel (Igreja Mundial do Poder da fé), Felipe Soares (Igreja
Internacional da Graça) e Samuel Malafaia (Assembléia de Deus) são evangélicos e Dr.
Deodalto é católico. O restante dos posicionamentos desfavoráveis é do PRB, em que ambos
deputados mencionados, Carlos Macedo e Tia Ju são evangélicos da Igreja Universal do
Reino de Deus.
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Considerações finais.
35
Disponível em: /http://www.stimepa.org.br/noticias/1281/diap-congresso-eleito-e-o-mais-conservador-desde-
1964.html . Acesso: 11/08/2016.
36
Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,congresso-eleito-e-o-mais-conservador-desde-
1964-afirma-diap,1572528> Acesso em: 11/08/2016
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O aumento de militares, religiosos, ruralistas e outros segmentos mais identificados
com o conservadorismo refletem, segundo o diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz, esse
status de conservadorismo extremo. Em entrevista à Revista EXAME37, Antônio Augusto
Queiroz, diretor do Diap afirma que a tensão criada pelo debate de pautas como a legalização
do casamento gay e a descriminalização do aborto deve se acirrar no Congresso, agora com
menos influência de mediadores tradicionais, que não conseguiram se reeleger. Segue
afirmando que "no caso da Câmara, muitos dos parlamentares que cuidavam da articulação
(para evitar tensões) não estarão na próxima legislatura. Algo como 40% da 'elite' do
Congresso não estará na próxima legislatura, seja porque não conseguiu se reeleger ou
disputou outros cargos. Houve uma guinada muito grande na direção do conservadorismo".
O levantamento do Diap mostra que o número de deputados ligados a causas sociais
caiu, drasticamente, embora os números totais ainda estavam sendo calculados na época em
que essa declaração foi feita. A proporção da frente sindical também foi reduzida quase à
metade: de 83 para 46 parlamentares segundo os dados. O Diap também estimava um
aumento consistente de policiais e militares eleitos. Queiroz previa que o aumento de
parlamentares com este perfil deve chegasse a 30%. Outro dado que o gráfico aponta é pro
total de mulheres eleitas, a deputada Martha Rocha (PDT) em uma fala descrita nesse
relatório chama a atenção para a baixa representatividade de mulheres na política afirmando
que na ALERJ são apenas 9.
Ainda de acordo com a entrevista concedida à Revista EXAME o diretor do Diap
afirma que junto com a redução desses grupos, “o aborto, o casamento entre pessoas do
mesmo sexo e a descriminalização das drogas - temas que permearam os debates no primeiro
turno da disputa presidencial - têm poucas chances de serem abordados pelo Congresso
eleito, que tomará posse em fevereiro de 2015”
O Fórum Rio 38
em uma matéria intitulada “Governismo, crise econômica e religião: o
primeiro semestre de 2015 na ALERJ” mostra a força dos evangélicos no Legislativo
Fluminense afirmando que dentre os 83 projetos de leis aprovados no primeiro semestre de 2015,
foi instituído no calendário oficial do Estado o Dia da Caminhada Presbiteriana, o Dia da Força
Jovem Universal (IURD), o Dia dos Ministros de Louvor e dos Grupos de Louvores das Igrejas
Evangélicas do Rio de Janeiro, além disso um projeto de lei da Deputada Enfermeira Rejane, do
37
Disponível em:< http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/diap-congresso-eleito-e-o-mais-conservador-desde-
1964> Acesso em: 11/08/2016.
>38 O fórum Rio é uma plataforma digital colaborativa, organizada por dois urbanistas sociais, uma cientista
social e uma consultora de comunicação da anistia internacional. Tem como objetivo contribuir para o debate
sobre políticas públicas dando visibilidade aos territórios raramente presentes na imprensa.
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PCdoB, partido que historicamente se opunha à influência da religião no Parlamento, tinha como
objetivo instituir a semana sócio-evangélica de Angra dos Reis no calendário oficial, e o projeto
551/2015, do deputado Marcos Muller (PHS), tinha como objetivo à instituição do dia estadual
da escola bíblica.
De acordo com o pesquisador Alexandre Alves mencionado também nessa matéria do
Fórum Rio o avanço das bancadas evangélicas não é novo e acompanha o crescimento do
número de fiéis destas igrejas, que se organizam para defender seus interesses. “Há uma
tendência dos fiéis a seguir a orientação dos seus líderes religiosos sobre o voto nas eleições,
como mostram as votações expressivas de pastores. Os evangélicos já entenderam a
importância de terem representação nas instituições”, afirma.
O Forúm Rio39 também conta com a opinião do sociólogo Clemir Fernandes,
pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER). Para ele, os projetos de datas
comemorativas propostos por bancadas religiosas, tanto de evangélicos quanto de representantes
de religiões de matriz africana, surgem com a “perspectiva de compensar os feriados de tradição
católica, ao invés de questionar a legislação que favoreceu a Igreja Católica”. E no que diz
respeito às pautas ligadas ao movimento LGBT, o pesquisador acredita que “dentro do
pensamento predominante nestas bancadas, as lutas dos grupos LGBT por direitos são
entendidas como pautas já amparadas pela legislação atual, e que estas reivindicações seriam
uma busca por privilégios. Outro equívoco”.
É possível concluir através deste relatório que a afirmação do diretor do Diap de que o
aborto e o casamento homoafetivo eram temas que dificilmente seriam abordados na atual
legislatura não se concretiza. Em sua declaração ele afirma que os temas não teriam sequer
espaço para discussão. Talvez pensasse na perspectiva da expansão de direitos. Pelo contrário,
os temas não saíram da pauta e inclusive tiveram certo protagonismo, por exemplo, no caso da
ALERJ foi instituída uma CPI de combate ao aborto. A proporção conservadora na ALERJ
não é tão avassaladora como no Congresso Nacional. Pelo contrário, há certo equilíbrio entre
os discursos pró-vida e pró-escolha, há uma maioria de proposições pró-vida e indefinidas
apesar de muitos deputados declaradamente religiosos. Já no levantamento sobre diversidade
sexual, há uma predominância de posições favoráveis tanto nos discursos como nas
proposições legislativas, isso vai contra a maré do Congresso Nacional e mostra uma reação
dos políticos alinhados a essas causas no estado do Rio de Janeiro. Apesar do certo equilíbrio
das posições pró-vida e pró-escolha é importante frisar que a proporção antiaborto é bem mais
39
Disponível em: <http://www.forumrio.org/ultimas/governismo-crise-economica-e-religiao-um-resumo-do-
primeiro-semestre-de-2015-na-alerj/> Acesso em: 11/08/2016.
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forte do que a antidiversidade.
Em resumo foram analisados todos os discursos e todas as proposições legislativas do
ano de 2015 e do primeiro semestre de 2016, totalizando 13 discursos (6 pró-vida, 5 pró-
escolha e 2 indefinidos) e 24 proposições legislativas (9 pró-vida, 3 pró-escolha e 12
indefinidas) referentes à temática relacionada ao aborto; e 19 discursos, dentre eles, 10
favoráveis à temática da diversidade, 6 contrários e 2 com posições indefinidas) e 24
proposições legislativas sendo 22 delas favoráveis à diversidade sexual e apenas 2 contrárias.
Todos os discursos e as proposições legislativas referentes à temática relacionada ao
aborto foram permeados pela CPI instaurada na ALERJ sobre o tema. A CPI de combate ao
aborto é o foco principal de posicionamento tanto dos parlamentares favoráveis quanto dos
contrários a descriminalização. Os deputados pró-escolha construíram sua oposição contra
argumentando os resultados obtidos nas operações da comissão parlamentar de inquérito.
Não há posicionamento indefinido nas proposições referentes à temática da
diversidade sexual, e há uma predominância das posições favoráveis. Algumas posições são
sutis e o combate ao preconceito contra a orientação sexual não é o foco principal vindo
acompanhado do combate ao preconceito de raça, etnia, credo, classe social no texto das
proposições; mas outras são claramente militantes pela ampliação de direitos da população
LGBT. Os discursos contrários à diversidade sexual versam sobre o mesmo tema, o episódio
da modelo transexual crucificada durante a parada LGBT de São Paulo, além desse fato a
outra temática protagonista nas posições conservadoras foi o combate a chamada ideologia de
gênero nos Planos Municipais de Educação (PME).
Alguns ‘modelos de cidadania’ são criados e desfeitos em função do grande
engajamento de atores com posições conservadoras. Durante a pesquisa constatou-se também
que apesar de haver atores sociais protagonistas de posições conservadoras cuja identidade
pública mais marcante não se refere à religião, é possível identificar que concepções
religiosas ajudam a fomentar uma linha de ação no mandato político dos deputados. Há
também uma grande coincidência entre os atores que se envolvem tanto no debate sobre
aborto quanto no debate sobre diversidade sexual.
Geralmente os parlamentares que são pró-vida também são os mesmos que condenam a
homossexualidade; e os parlamentares que são pró-escolha são amplamente mais favoráveis a
diversidade sexual no geral, a exemplo dos deputados do PSOL que são protagonistas tanto no
debate em prol da diversidade quanto no debate sobre a descriminalização do aborto. É possível
justificar essa afirmação através do levantamento apresentado e do engajamento dos deputados
do PSOL Flávio Serafini, Marcelo Freixo, Paulo Ramos, Wanderson Nogueira demonstrado no
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decorrer do relatório. O PSOL é o partido com o maior número de deputados com posições
favoráveis ao aborto e à diversidade sexual, esses dados foram exemplificados nas tabelas
apresentadas no decorrer do relatório.
Da mesma forma, os deputados Jânio Mendes (PDT) e Márcio Pacheco (PSC) ambos
são católicos da Renovação Carismática, e são protagonistas do engajamento conservador em
ambas as temáticas. O DEM é o partido com mais deputados de posição conservadora
apresentados neste relatório, e todos os deputados do DEM que tiveram certo protagonismo no
debate possuem um forte pertencimento religioso.
Por meio do levantamento e análise dos discursos e das proposições legislativas foi
possível concluir que candidatos inseridos em determinado grupo religioso costumam
defender pautas específicas. Exemplo disso, é a tabela apresentada em que todos os deputados
que se posicionaram contrários a diversidade sexual, sem exceção são religiosos. Nas tabelas
detalhadas foram mapeadas as profissões dos parlamentares, mas não foi possível identificar
uma frequência de posicionamento de acordo com elas, do modo como foi possível constatar
regularidades quanto ao pertencimento religioso.
Dentre os argumentos acionados no debate público, o questionamento sobre o Estado
laico se mostra fundamental, além disso, o tópico dos direitos humanos no tocante a
reivindicações relacionadas ao aborto, incluindo aí o estatuto do nascituro, e o embate entre os
movimentos pró-vida, relacionados ou não a grupos religiosos e o movimento feminista no
tocante à legislação são muito presentes nos argumentos utilizados pelos deputados. Com
respeito à diversidade sexual, existe um choque de moralidades entre uma perspectiva que
defende a família tradicional sob três ângulos, o biológico, o religioso e o legal: é natural, foi
criada por Deus, sua definição como composta de homem e mulher está na Constituição. A
denúncia da violência também se mostra presente e se relaciona ao discurso dos direitos
humanos no caso de situações de lesbo/homo/bi/trans fobia. O debate público acerca de
aborto e diversidade sexual na ALERJ é pautado em disputas referentes a valores morais que
são capazes de definir acesso e restrição a direitos através de legislações e políticas públicas.
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Paticipação em eventos durante o período de vigência da bolsa.
(Eventos realizados a partir de Setembro de 2015 até o presente momento)
Participante
Ouvinte
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Referências Bibliográficas
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21, n. 1, p. 9-23, 2001.
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MACHADO, Maria das Dores Campos. Religião, cultura e política. Religião e Sociedade,
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LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll; ISER, 2013, p. 109-149.
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