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Resumo
A indústria e o turismo expandem-se no litoral cearense, tendo por suposto um espaço
litorâneo abundante do nordeste brasileiro, desocupado e preservado. Entretanto, nem todo
lugar corresponde a tal suposto, que faz parte de ideologia de governo progressista que vê nas
atividades econômicas do capitalismo o fundamento para políticas públicas de intervenção no
espaço, visando dotá-lo de infra-estrutura econômica. Divulga-se e defende-se a idéia de que
tais investimentos, públicos e privados, venham trazer desenvolvimento regional.
Contraditoriamente, as políticas não surtem todos os efeitos esperados, inclusive, parte delas
chega a ser negativa. Para verificar tais supostos, analisa-se dois estudos de caso: na
localidade metropolitana do Pecém onde ocorreu expropriação de terras para instalar
indústrias; e na favela do Arpoador, no bairro de Pirambú na cidade de Fortaleza, capital do
estado do Ceará, sobre a requalificação de áreas metropolitanas para expansão do turismo.
Confirmando que as interferências políticas produziram efeitos controversos, por exemplo,
nem sempre conduzindo ao desenvolvimento esperado pelas pessoas do lugar e acompanhado
de mobilidade populacional, desemprego, aumento do custo de vida, escassez de terras
produtivas, especulação e valorização imobiliária. Constatou-se em Pecém que, algumas
comunidades pesqueiras e de pequenos agricultores mesmo resistindo capitulam a
transformação da terra em mercadoria ou a sua revalorização. A terra produtiva é
fragmentada e torna-se mercadoria, sofre especulação e valorização. Quanto à favela do
Arpoador em Fortaleza, verificou-se que o habitar urbano e metropolitano é requalificado
para fins de turistificação do espaço, sendo próprio à acumulação por espoliação, nos termos
de Harvey (2004). O espaço metropolitano reestruturado para o capital torna-se insustentável
para a reprodução da força de trabalho, que para ali permanecer desenvolve estratégias
próprias de mobilidade populacional.
Palavras-chave: urbanização, industrialização, turismo, mobilidade populacional,
expropriação de terras, especulação e valorização imobiliária.
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Economista, Prof. Dra. em Geografia, pesquisadora do Laboratório de Estudos de População (LEPOP) do
Mestrado Acadêmico em Geografia (MAG) da UECE. Av. Paranjana, 1700 – Serrinha, Fortaleza - CE - CEP:
60.740-000, Prédio da Pós-graduação em Geografia – 1º piso. Fone: (85) 3101.9965, http://www.uece.br/lepop
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ocorrido em Caxambu-MG, de
29/09 a 03/10/2008, promovido pela ABEP, na linha de pesquisa 33- urbanização e metropolização (demografia
intra-urbana e geodemografia)
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Urbanização litorânea nordestina: os casos de Pecém e do Arpoador-Ceará
Ana Maria Matos Araújo,
34
ammaluz@yahoo.com.br
Introdução
O processo de urbanização no Estado do Ceará acontece segundo ordem próxima que
sai de sua capital, da cidade de Fortaleza em direção ao litoral e ao interior cearense. Desde
meados dos anos 1980 que a urbanização intensificou-se, sendo mediada por cidades médias
e pólos regionais, agora também por pequenas vilas de pescadores e sedes de municípios
litorâneos.
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Economista, Prof. Dra. em Geografia, pesquisadora do Laboratório de Estudos de População (LEPOP) do
Mestrado Acadêmico em Geografia (MAG) da UECE. Av. Paranjana, 1700 – Serrinha, Fortaleza - CE - CEP:
60.740-000, Prédio da Pós-graduação em Geografia – 1º piso. Fone: (85) 3101.9965, http://www.uece.br/lepop
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ocorrido em Caxambu-MG, de
29/09 a 03/10/2008, promovido pela ABEP, na linha de pesquisa 33- urbanização e metropolização (demografia
intra-urbana e geodemografia)
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muitos não sejam portadores de documentos oficiais, com forte atuação de grileiros5 da terra
que se antecipam para repassar a terra para as imobiliárias. Na forma urbana, a propriedade
capitalista da terra apresenta-se mais organizada, visando o lucro máximo de vendas, sob
loteamentos. Em todos os casos os moradores muitas vezes saem prejudicados, expropriados
de suas terras, chegando mesmo a serem expulsos da sua própria comunidade, pois sem a
terra ficam proletarizados, mas não há mercado de trabalho suficiente para atender toda a
formação de trabalho livre, mesmo com as atividades capitalistas ali introduzidas tornam-se
reserva de trabalho com tendências a mobilidade do trabalho.
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Conforme a Enciclopédia Livre Wikipédia, Grileiro é o nome designado a pessoas que se apossam de terras de
forma ilegal por meio de documentos falsificados. O termo vem da técnica usada por tais pessoas, que colocam
escrituras falsas dentro uma caixa com grilos que deixam os documentos amarelados e roídos dando-lhes uma
aparência antiga e com isto mais verossímel. In <http://pt.wikipedia.org/wiki/Grileiro> [Acessado em 10/11/06]
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Esses foram os supostos e questionamentos iniciais que motivaram a realização da
presente pesquisa, que se apóia em dois estudos de caso: no distrito de Pecém na região
metropolitana e na favela do Arpoador, no bairro de Pirambú em Fortaleza, para verificar a
urbanização litorânea pela expansão capitalista no espaço. Em termos específicos, os
objetivos da pesquisa foram registrar os processos de resistência das populações praianas à
capitulação de suas terras, observando o processo de proletarização ou de mudanças nas
relações de produção, bem como as estratégias adotadas pelas famílias faveladas para
beneficiarem-se de políticas habitacionais diante do quadro de requalificação de áreas
urbanas.
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Essas situações de expropriação de terras e de formação de trabalhadores livres para o trabalho assalariado são
de difícil comprovação estatística, salvo mediante pesquisa direta. Entre 2000 e 2002, fez-se pesquisa direta em
Pecém, distrito do município de São Gonçalo do Amarante, sede do Complexo Industrial e Portuário do Pecém
(CIPP) para examinar a mobilidade da população metropolitana a partir deste mega projeto governamental em
apoio a iniciativa privada industrial. As informações e análises de Pecém ainda são bastante atuais e servem de
indicativo de processos similares que vem acontecendo em Caucaia, São Gonçalo do Amarante e em Aquiraz,
pelos mesmos usos capitalistas, para o lazer dos trabalhadores e, portanto, para reprodução de sua força de
trabalho, e para fins imobiliários ou para acumulação capitalista industrial e turística (ARAÚJO, 2002).
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incursão nas questões de terras, porque estavam sendo expulsas do lugar, por isso recorreram
ao apoio da Pastoral da Terra. Anteriormente, predominava na maioria das situações uma
letargia própria do cotidiano rural que é sem muita movimentação (FREHSE et. al., 1996).
Mesmo admitindo muitas razões para essa passividade, Lefebvre defende que elas
podem ser rompidas por uma “intervenção maciça que mudaria a situação.” Um movimento
para politizar esses problemas e os objetivos dessa construção: a revolução urbana! No caso
de Pecém, seria a organização e o movimento pelas terras. Com o CIPP, a fronteira do
capitalismo industrial perpassou o urbano e o rural, numa perspectiva de expansão de
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território metropolitano, ao mesmo tempo violenta e autoritária, imposta pela lógica racional-
burocrática do Estado.
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um morador de Gregório, eles foram tratados “não como proprietários, mas como se
tivéssemos invadido a terra deles” (O POVO, de 2/12/1996).
As dúvidas sobre o futuro cresciam com o valor das desapropriações7, muito abaixo
do mercado; com o desconhecimento das famílias para onde seriam transferidas e nas
desinformações gerais do projeto.
A pressão do Governo para retirar do lugar os desapropriados não foi a mesma para
reassentar as comunidades, o que levou mais de quatro anos para ser feita. A representante do
Conselho da Pastoral de Pescadores (CPP) declarava que o prazo para desocuparem era
inferior a vinte dias. Retiradas as famílias da área, em 2006, com a construção da obra, ainda
se tinha dúvida se a Siderúrgica seria instalada no lugar (O POVO, de 13/7/1997).
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A indenização proposta pelo governo para as terras urbanas e rurais desapropriadas, algumas com
investimentos realizados pela população ao longo de sua história, era injusta e desvalorizada em relação ao
preço de mercado. Para se ter idéia, um lote urbanizado em Pecém valia no mercado imobiliário cerca de R$ 11
mil reais e estava sendo avaliado pelo Estado para fins de desapropriação por R$ 300,00, quer dizer uma perda
relativa de 97%. Na área rural, por exemplo, o hectare fora avaliado em R$ 50,00 e cada coqueiro em R$ 4,00.
Isto é, algo fora da realidade de mercado e de qualquer negociação de valor, justificando a indignação popular
com as ‘ofertas’ do governo (DIÁRIO do NORDESTE, 8/4/1997).
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Seguindo a linha de raciocínio de Lefebvre (1999b, p.166), as razões ideológicas da
passividade-ação emergem do planejamento praticado pelo Estado, técnico-burocrático, que
se mostra cego diante da complexidade do fenômeno urbano e da sociedade urbana. A
cegueira básica consiste em trabalhar na elaboração dos planos e projetos com o espaço
abstrato, aquele do campo da geometria, excluindo o espaço vivido. O retorno técnico ao
espaço vivido é feito apenas para projetar essa abstração, que não consegue apreender a
realidade em sua totalidade e complexidade.
Pecém, antes de todo esse processo de expropriação, era uma simples Vila de
pescadores artesanais e de pequenos agricultores, posseiros e moradores de sítios urbanos de
lazer, que se contrapõe ao CIPP, como território portuário regional e industrial metropolitano,
atendendo a lógica de reprodução ampliada do capital mundial.
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A pesca tradicional ainda é realizada sistematicamente em viagens diárias em pequenas
embarcações, ou em viagens de dormida, de até dois dias, nos barcos maiores, intercaladas
por períodos de repouso em terra, para uma consecutiva jornada. Nunca trabalham aos
domingos e feriados, bem como às segundas-feiras tiram para manutenção das embarcações e
de seus equipamentos de pesca. Quando doentes, também, se resguardam até restabelecerem
as forças para o trabalho. Mesmo que algum membro da família caía doente, o pescador pode
ausentar-se do trabalho para substituir a dona de casa que trata da pessoa adoentada.
Esse tipo de relação e de produção dos trabalhadores locais já vinha se fazendo com
mudanças, mas não sob tantos conflitos como os que se instalaram ali com o segundo
movimento de urbanização do lugar. A primeira mudança no lugar foi apontada pela atuação
da valorização imobiliária e dos veranistas. Muitos trabalhadores dedicados à própria
sobrevivência venderam suas terras e empregaram-se como trabalhadores domésticos ou
como caseiros, moradores de segunda residência dos veranistas.
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medida8. De 2.085 trabalhadores ocupados na obra, em 2001, apenas 26,8% (ou 604)
residiam no próprio lugar. Havia 25,9% que se deslocavam diariamente entre Pecém,
Fortaleza e Caucaia, além dos que migraram do interior do estado (11,1%) e de outras regiões
do país (8,6%).
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No sentido de preparar mão-de-obra disponível (ou em reserva) para as atividades que estavam sendo iniciadas
no lugar a partir do Porto e na perspectiva do Complexo Industrial, a Secretaria de Trabalho e Ação Social do
Estado (SETAS), somente em dois anos, entre 1998 e 1999, chegou a capacitar 1.731 trabalhadores. Com o
mesmo objetivo, de disponibilizar trabalhadores para o capital, o SINE/IDT cadastrou, em único mês (em junho
de 1996, bem antes das obras do porto), 1.677 trabalhadores procedentes das vizinhanças, sobretudo de Caucaia
e São Gonçalo do Amarante, mas também de Paracuru e Paraípaba, esses dois últimos municípios fora da região
metropolitana, mas na fronteira do CIPP (SINE/IDT, 1996).
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Após onze anos de projeto, a siderurgia de Pecém começou a ser construída neste ano (2006), após toda a
instalação de infra-estrutura do Complexo.
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Tal organização contrapõe-se à dos trabalhadores assalariados ou prestadores de
serviço contratados por tempo determinado, cuja jornada fixa de trabalho requer assiduidade
e pontualidade, além de produtividade. E é nessa contradição que surgem os conflitos.
“[...] Eu tenho uma leitura muito interessante sobre a postura do trabalho, que as
pessoas não tinham esse negócio de acordar, ter um horário correto. Olha, nos locais
aonde eu convivi e trabalhei, eu traduzo onde tem uma origem indígena mais forte
em termos culturais, eles não entendem aquela história que tem de trabalhar de
segunda a sexta, eles dizem, não, hoje não acordei saudável para o trabalho mais a
sua carteira assinada é de segunda a sexta” (Coordenação do GTP).
Além de indicar controvérsia, esses depoimentos confirmaram as avaliações dos
empresários em relação ao desempenho das pessoas contratadas no Pecém. Por exemplo,
sobre os ajudantes e vigilantes, eles oscilaram suas opiniões, mostrando péssima ou alta
satisfação com aqueles trabalhadores. Isto sugere que não se pode generalizar uma conclusão,
mas considerar critérios diferenciados dos empresários. Chama a atenção, inclusive, o fato de
que, as empresas com seleção própria ainda sentem dificuldades em contratar pessoal que
satisfaça às suas exigências.
Por sua vez, as faltas de interesse e de disposição declinam para outras questões,
relativas à própria motivação salarial ou mesmo outras razões de ordem cultural, na
perspectiva do trabalhador. Do lado do empresário, sua experiência e compreensão do mundo
permitem-lhe um referencial conceitual que, geralmente, desfavorece a população
trabalhadora e local.
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De qualquer modo, percebe-se um contraditório que reforça a interpretação de que as
relações de produção com temporalidades diferentes convivendo e produzindo conflitos. As
diferenças surgindo na organização do trabalho local, entre as relações familiares e por conta-
própria, opondo-se ao regime capitalista.
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Apesar desse tipo de comportamento dos moradores de Pecém diante dos empregos,
isto não significava ou significa que eles desvalorizem o trabalho, pois ao contrário teciam
muitas expectativas com o Porto. Acreditam inclusive que as necessidades de migração das
novas gerações diminuirão:
“A mudança com o porto foi trabalho. Trás trabalho pra gente. Para o filho da
gente, que vai aparecer [o trabalho]. Com as indústrias que vão vir. Vai ser bom
para os jovens que não tem trabalho aqui, que às vezes quer ir pra outro canto e fica
aqui mesmo. Não vai. Não sai daqui, fica aqui”(Pescador 1, Vila de Pecém).
Tal processo, ainda em curso, pois o complexo industrial ainda está por se realizar, a
partir da siderurgia, já produziu conflitos e resistências dos moradores do Pecém, pela
desapropriação de seus territórios, pela identidade com o lugar, mostrando-se mais do que um
conflito de classes sociais e de interesses econômicos, sobretudo um “abismo histórico”
(MARTINS, 1997, p.15).
A instalação do CIPP aconteceu sob “pressão hábil e brutal do Estado,” tal como
ocorria na acumulação primitiva e hoje se faz na acumulação por espoliação (HARVEY,
2004). O processo conflituoso de expropriação de terras trouxe conseqüências desastrosas:
houve ruptura de comunidades para introduzir infra-estrutura, crimes ambientais, agravando a
especulação sobre as terras do entorno e dificultando o acesso das classes trabalhadoras a
esses espaços. A atuação do governo estadual também esteve presente na formação da reserva
do trabalho e nas mudanças nas relações de trabalho.
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A Favela do Arpoador Areia está localizada no bairro do Pirambú, na porção litorânea
a oeste de Fortaleza. Este bairro constituiu-se um território de permanente luta e resistência
frente à valorização imobiliária e aos constantes processos de desapropriação realizados pelo
Estado (incluindo ações municipais e estaduais). Conforme se apreende de vários estudos
locais, a expansão urbana parte do centro da cidade em direção ao litoral leste, pois de certo
modo é controlada no oeste litorâneo, pela resistência popular a expropriação de suas terras:
Pirambu era considerado ‘um prolongamento do Arraial Moura Brasil, tanto
territorial quanto no sofrimento do povo’, embora a luta de seus moradores fosse
mais intensa pela posse da terra. Desde 1948, possuía uma sociedade feminina para
lutar contra ameaça de expulsão dos moradores do bairro e a favor das melhorias
urbanas. A maioria de seus habitantes não pagava aluguel, pois suas palhoças
situavam-se em terrenos pertencentes à marinha [...](JUCÁ, 2003, p.49).
Apesar da resistência comunitária, aos poucos, o bairro do Pirambú vem sendo
valorizado, mantendo pequeno reduto de resistência e de permanência na área de antigos
pescadores. Este é o caso particular de Arpoador, um espaço favelado que resiste a mudanças
de relações e de atividades. Ali ainda é predominante a pesca artesanal, mesmo que a praia
esteja quase desaparecendo pelos constantes avanços do mar e os trabalhadores sejam
forçados a outras opções de vida.
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SANTOS, Maria Francineila Pinheiro dos; DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. TENTATIVA DE
HOMOGENEIZAÇÃO DA PAISAGEM LITORÂNEA DE FORTALEZA In http://www.igeo.uerj.br/VICBG-
2004/Eixo1/e1%20%20237.htm [Acessado em 26/07/06].
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da paisagem litorânea para o turismo, bastante valorizada, subjetiva e objetivamente, em
termos da acumulação. O valor dos terrenos na costa leste de Fortaleza chega a representar
cerca de 60% dos investimentos11. Esta é a fatia a conquistar com esses espaços
desapropriados e colocados à disposição da iniciativa privada sem custos, uma acumulação
por espoliação, nos termos de Harvey (2004). Isto porque a expropriação dessas famílias de
seu habitar tem conseqüências sociais e territoriais desastrosas, mas sendo do interesse
capitalista passa-se por cima de tudo.
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O déficit habitacional, provocado pela falta de uma política pública e pela constituição
de novas famílias, é apontado como as principais razões para que essas famílias tenham
passado por dificuldades para se instalarem ainda mais precariamente na área, realizando uma
segunda ocupação sobre território com intervenção governamental. De algum modo, essa
população já fazia outros movimentos pelo território do bairro, ficando evidenciado pelas
várias mudanças de residências (55,1% com 2 até 5 domicílios). Mas o caráter provisório do
material construtivo sugere que eles sairão mais uma vez, sendo beneficiados ou não por
política governamental.
Nesse reduto de luta pelo espaço urbano, encontram-se famílias que vieram de fora e
até de municípios vizinhos, sobretudo, permanecendo em apenas uma moradia. Mas os
recém-chegados são essencialmente da vizinhança. Quase toda população ali residente têm
mais de 10 anos em Fortaleza, e somente 20% nasceram em outro município.
Conclusões
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A valorização imobiliária de determinados espaços é dada pelas condições urbanas do
bairro tornando o lugar altamente atrativo em termos de investimentos privados e domésticos,
ao contrário, os territórios sem infra-estrutura são desvalorizados e ocupados pela população
trabalhadora. Contraditoriamente, os lugares altamente valorizados às vezes tornam-se
inviáveis à acumulação capitalista ampliada, requerendo investimentos do Estado em espaços
de reserva, aqueles deficitários das mínimas condições de sobrevivência, porém habitado por
significativas parcelas da população. A política urbana é requerida para dotá-los de infra-
estrutura, requalificando-o para novas atividades, reestruturando-os e deslocando
compulsoriamente antigos usuários.
Por sua vez, a população trabalhadora na iminência de ser deslocada para uma
periferia ainda mais distante que provavelmente lhe desarticulará os processos e as relações
que lhes dão relativa sustentação, desencadeia processos de resistências, de lutas e estratégias
de manutenção dos territórios. Afinal, o espaço do habitar, além da moradia, envolve acesso
ao trabalho e, principalmente, a organização do movimento de resistências dos trabalhadores.
Isto é, a sociedade civil se apropria e luta pelo espaço como instrumento de cidadania e de
inserção sócio-territorial.
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com o projeto CIPP, distribuir pedaços separados de uma área de vinte mil hectares, entre
grandes capitalistas, fragmentando o espaço em lotes industriais.
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Referências bibliográficas
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