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CHAMAS QUE ILUMINAM OS SÉCULOS

Lourenço Borges
(Membro da Sociedade Teosófica)

O martírio de Giordano Bruno, o grande e abnegado pensador em


quem até os adversários reconheciam "um dos mais excelentes e raros
engenhos, de admirável doutrina e saber", mereceu do cronista dos "Avisos"
de Roma, dois registros que documentam uma época:

"Sábado, 12 de fevereiro de 1600. Hoje pensávamos assistir a uma


soleníssima justiça, que não se sabe porque foi adiada; de um dominicano de
Nola, herético obstinadíssimo que, na quarta-feira, em casa do Cardeal
Madruccio, sentenciaram como autor de várias opiniões exageradas nas quais
se mostrou muito persistente, e assim ainda está, apesar de diariamente irem
os teólogos ter com ele... Se Deus não o ajudar, deseja morrer na obstinação
e ser queimado vivo

"Sábado, 19 de fevereiro - Quinta-feira pela manhã, no Campo dei Fiori, foi


queimado vivo aquele frade celerado dominicano de Nola, de quem já
falamos. Herético obstinadíssimo, tendo, por capricho, formado diversos
dogmas contra a nossa fé e em particular contra a Santíssima Virgem e os
Santos, quis irredutivelmente morrer neles o celerado; e dizia que morria
mártir e voluntariamente e que a sua alma subiria ao paraíso com a fumaça, e
agora estará vendo se dizia a verdade".

"Obstinação cega e celerada", eis o conceito dos dominadores do


século sobre o sacrifício do excelso filósofo, que preferiu morrer como vivera,
qual uma chama viva, a espargir ao seu redor o clarão sereno do
conhecimento e da compreensão.

A serviço da verdade percorrera a Europa — numa época


convulsionada pelas guerras religiosas resultantes da Reforma, e na qual
apenas se viam os primórdios do alvorecer da Ciência — buscando despertar
em todos a vida interior, essa "luz sobrenatural’, necessária a "mais alta
contemplação, que se alça acima da natureza" e que, segundo afirma,
distingue do mero teólogo crente o verdadeiro filósofo (1).

Em seus livros, como nos ensinamentos orais ministrados em todos os


centros cultos de então, Bruno condensou as duas grandes correntes
esotéricas da Idade Média — a filosofia neoplatônica, de que haviam sido
expoentes Marsilio Ficcino e Nicolau de Cusa e o hermetismo alquímico de
Raimundo Lulio.

Resumiu-as e uniu-as numa vibrante mensagem de renovação


espiritual, a que aliou as recentes teorias heliocêntricas de Copérnico. Assim,
não só desbastou o caminho para a ciência de nossos dias como procurou
estabelecer, num conhecimento verdadeiramente racional, os alicerces do
mundo moderno, que então estavam sendo lançados.
O ideal de sua vida, ele próprio o definiu para a posteridade, ao referir-
se a esse "algo que me enamora, aquilo porque sou livre, ainda que em
sujeição; contente no penar, rico na necessidade, e vivo na morte. Daí não
retirar, cansado, os pés do árduo caminho... Falando e escrevendo, não
disputo por amor pela vitória em si mesma... mas é por amor à verdadeira
sabedoria e estudo da verdadeira contemplação, que me esforço, me crucifixo
e me atormento". Com razão disse a respeito a Sra. Annie Besant: "Foi em vão
que o Vaticano colocou os seus livros no Index. Seus pensamentos se alaram
à imortalidade e agora se estão propagando pelo mundo: são a Teosofia". Um
estudo atento de sua obras demonstra que Bruno professava, com a imprecisa
terminologia filosófica da época, mas claramente expressos, os principais
ensinamentos teosóficos qual hoje os divulgamos.

E somente o conhecimento da Teosofia pode explicar as muitas


contradições aparentes de sua vida e de seus escritos, que tanto desnorteiam
seus biógrafos. É a chave de sua atitude eqüidistante entre a Igreja e as
Seitas Reformadas, e da compreensão e simpatia com que considera os dois
partidos, sem lhes poupar críticas candentes. É também a razão do contraste
entre o seu ponto de vista conciliador e tolerante, ao defrontar-se com a
Inquisição em Veneza e o Sínodo Calvinista em Genebra, quando não se
achava sujeito à tortura ou à morte, e da sua irredutibilidade ante o Santo
Ofício, em Roma, já sob essa dupla ameaça.

À luz deste critério, compreendemos melhor a atitude diferente com


que encararam a Inquisição em Roma esses dois grandes pensadores que
foram Bruno e Galileu. O sábio, mantendo embora a sua convicção — "E pur
se muove" — aceitou as exigências que lhe eram impostas, na ânsia de
ganhar tempo para prosseguir em suas pesquisas. Para Bruno o problema era
diverso. Conciliador e tolerante em tudo que dizia respeito às práticas do
Catolicismo, mostrou-se intransigente em relação às doutrinas que eram o
cerne de sua filosofia. Isto para que a idéia de uma submissão sua não viesse
anular ou enfraquecer o estimulo e as novas luzes que os seus ensinamentos
haviam trazido aos seus contemporâneos. Sua morte selou, assim, a sua obra
de apóstolo da verdade, reafirmando a grandeza do ideal a que servira. Daí a
serenidade de sua asserção de que morria "mártir e voluntariamente" e a sua
exclamação de condenado à morte: "Tremeis mais, ao ler-me a minha
sentença, do que eu ao ouvi-la".

Depois de seis anos de masmorra e de constante assédio, os


Inquisidores resolveram que somente lhe seria exigida a retratação de oito
ensinamentos extraídos de suas obras. Quais foram esses pontos, nunca foi
divulgado e ainda hoje o segredo é zelosamente guardado pela Igreja,
interessada em que o mundo não soubesse exatamente porque idéias o
filósofo dera a vida. O que a respeito se sabe provém de dois Decretos do
Tribunal, anteriores um ano à condenação, e cujo contexto pode ser copiado
por ocasião da Revolução Romana de 1849. Deles constam a exigência de
retratação quanto apenas às oito proposições colhidas em suas obras e à
declaração de que essas proposições eram "em verdade, heréticas, não
porque hoje a Igreja as tenha declarado tais, mas porque sempre assim as
consideraram os antigos padres e a Sé apostólica". Em outras palavras, os
oito pontos fatídicos não diziam respeito às questões teológicas da época de
Bruno e sim a outras que remontavam aos primórdios do Cristianismo.
Da análise das obras do filósofo e de suas declarações nos registros da
Inquisição de Veneza, Felice Tocco, o melhor de seus biógrafos, buscou
recompor estes pontos da condenação, atribuindo esta: à rejeição dos dogmas
(1) da Trindade, (2) da Encarnação do Verbo e (3) do Espírito Santo e (4) aos
seus conceitos sobre a divindade do Cristo; sobre a (5) necessidade, (6)
eternidade e (7) infinidade da Criação; e (8) sobre a transmigração das
almas. É evidente, porém, que dos pontos enunciados acima, o segundo e o
terceiro já se acham contidos no primeiro e os quinto, sexto e sétimo se
referem ao mesmo assunto.

No entanto, é possível, partindo das mesmas fontes e pelo mesmo


método, realizar a reconstituição desses pontos, o que é do maior interesse,
pois, deste modo, chegaremos também a uma súmula sintética da parte
essencial da filosofia de Bruno. Para tanto, bastará ter em mente três fatos: a
referência já citada do Decreto Inquisitorial; a contida no contexto do Aviso
de Roma, transcrito no início deste artigo, considerando a heresia de Bruno
ofensiva à Santa Virgem e aos Santos; e, finalmente, as suas simpatias e
concepções pagãs, a que a maioria dos autores não dá valor tendo-as como
meramente retóricas.

Dessa maneira, podemos chegar a todo um octólogo de cujos itens há


farta corroboração nos escritos do filósofo e que provavelmente foi a síntese
suprema de sua obra, que ele se recusou a renegar e que firmou com a glória
de sua morte.

Enunciamo-lo, a seguir, referindo, para cada item, a interpretação que


lhes dariam os juizes do Santo Ofício:

1º) A unidade da Vida Divina, cujos aspectos de expressão não devem ser
considerados como entidades distintas (o que foi entendido como rejeição ao
dogma da Santíssima Trindade);

2º) a necessidade, eternidade e infinidade da Criação universal, pela Vida


Divina Una (abandono do mito da Criação segundo a letra do Genesis);

3º) a transmigração das almas ou reencarnação (rejeição das doutrinas das


penalidades eternas e da ressurreição da carne);

4º) a sua concepção da divindade de Cristo, concebida como mera expressão


plena da Vida Divina inerente ao homem, divinizando, assim, a sua própria
natureza humana (rejeição da Encarnação do Verbo e do Criador que se fez
homem);

5º) o valor e a eficácia divina que atribui às religiões pagãs (rejeição da


missão divina exclusiva do Cristianismo e da condenação das demais
religiões);

6º) a equiparação, ao Cristo, dos fundadores das demais religiões, apesar de


considerar Àquele como "sumo pastor único não só de uns como de todos os
povos" (negação da preeminência divina do Cristo e blasfêmia de considerá-
Lo ‘um mago");
7º) a existência dos deuses ou homens divinos e perfeitos e seu amparo ao
progresso humano (rejeição da tutela e governo espiritual da Igreja e de sua
Congregação dos Santos; e reafirmação de um politeísmo mitológico
efemerista);

8º) a possibilidade, para o homem, de se juntar aos deuses e de se elevar até


eles, unindo-se ao Nume ou Deus interior, que é a sua verdadeira natureza,
por meio da contemplação e de uma vida de entusiasmo heróico (rejeição do
domínio das mentes e das almas pela Igreja e por seu padrão canônico de
santidade, tendo por requisitos absoluta devoção e submissão).

Estas oito proposições são, em verdade, síntese fiel dos ensinamentos


de Giordano Bruno, segundo os seus escritos, alguns dos quais reafirmou ante
a Inquisição em Veneza e de que dificilmente aceitaria retratar-se. Ao mesmo
tempo, correspondem às referências contemporâneas e, pela sua significação
grandiosa, justificam o empenho do filósofo em mantê-las e proclamá-las com
sacrifício da própria vida.

Não se poderia também condensar melhor, em umas poucas


proposições, os ensinamentos da Teosofia ou Sabedoria Divina, qual
professada em Alexandria, nos primeiros séculos da nossa era, pelos filósofos
neoplatônicos e sobretudo por esta outra mártir da verdade que foi Hypatia.

Em verdade, razões de sobra assistiam a Giordano Bruno, quando, em


uma de suas obras, afirmava, profético, que, a serviço da verdade, a morte
em um século significa a vida nos demais séculos.

Nota.

(1) Diálogo IV, "Della Causa, Principio e Uno". (Voltar.)

FIM

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